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Mycobactérias
São bastonetes aeróbios delgados que crescem em cadeias retas ou ramificadas, imóvel, não
formador de esporos e não produtor de toxinas, que pode ter aparência frisada e mede
aproximadamente 2 a 4 μm de comprimento. Possui crescimento lento (tempo de duplicação de
18 a 24 horas), que pode persistir no meio intracelular por períodos prolongados.
As micobactérias dispõem de uma parede celular cérea característica, composta por glicolipídios
e lipídios incomuns, como o ácido micólico, tornando-as acido resistentes, o que significa que
elas irão reter os corantes, mesmo com tratamento de uma mistura de ácido e álcool. São
fracamente gram-positivas.
● O microrganismo é identificado em amostras clínicas como bacilo álcool-ácido resistente
(BAAR). O M. tuberculosis pode ser corado com carbolfucsina por técnicas de alcalinização
(Kinyoun) ou pelo calor (Ziehl-Neelsen).
● Além disso sua cápsula serosa externa que as torna mais resistentes à destruição; o bacilo
da tuberculose pode persistir em lesões necróticas e calcificadas antigas e manter sua
capacidade de reiniciar a proliferação.
● São aeróbios estritos, que proliferam em ambientes ricos em oxigênio. Isso explica sua
tendência de causar doença dos lobos superiores ou das partes mais altas do lobo inferior
do pulmão, onde a ventilação e a concentração de oxigênio são mais altas.
Tuberculose
Doença pulmonar e sistêmica crônica causada principalmente por M. tuberculosis , que é a
principal causa infecciosa de morte em todo mundo.
epidemiologia
Aproximadamente, 10,4 milhões de pessoas estão infectadas em todo o planeta. Isso não inclui as
pessoas com infecção latente por Mycobacterium tuberculosis.
➔ A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 9 milhões de novos casos de TB
ocorrem a cada ano em todo o planeta.
➔ Com a introdução dos antibióticos na década de 1950, os EUA e outros países ocidentais
presenciaram um declínio duradouro no número de infecções, até meados da década de
1980. A partir de então, o índice de infecção tem aumentado, principalmente entre
pacientes infectados pelo HIV.
➔ A tuberculose é mais comum entre indivíduos nascidos em países com incidência alta da
infecção e entre os residentes de instituições com aglomerações de alto risco, inclusive
unidades correcionais, serviços de tratamento de adictos e abrigos para pessoas sem lar.
APG 16 SOI III
➔ 56% dos casos de TB ocorreram em cinco países: Índia, Indonésia, China, Filipinas e
Paquistão. Em todo o mundo, 65% dos casos de TB ocorrem em homens; a prevalência da
doença tem um pico em adultos jovens, com consequências econômicas importantes.
➔ A infecção pelo HIV apresenta um efeito profundo sobre a epidemiologia da TB,
promovendo e acelerando a progressão da infecção para a TB ativa, bem como sobre a
reativação e a reinfecção.
etiologia
A TB pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo
Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M.
pinnipedi e M. caprae.
● Em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, conhecida também
como bacilo de Koch (BK).
● Em alguns locais, o M. bovis pode ter especial relevância como agente etiológico da TB e
apresenta-se de forma idêntica ao M. tuberculosis, com maior frequência da forma
ganglionar e outras extrapulmonares. A ocorrência é mais comum em locais que
consomem leite e derivados não pasteurizados ou não fervidos de rebanho bovino
infectado; em pessoas que residem em áreas rurais e em profissionais do campo
● Outras micobactérias como o complexo Mycobacterium avium-intracellulare (MAI) são
muito menos virulentas. Essas micobactérias raramente causam doença, exceto nos
indivíduos gravemente imunossuprimidos, inclusive pacientes infectados pelo HIV. Em
geral, o complexo MAI é transmitido pela ingestão de alimentos ou água contaminada.
fisiopatologia
A infecção refere-se à presença de bactérias no corpo, que pode ser sintomática (doença ativa)
ou não (infecção latente).
Imunidade inata
APG 16 SOI III
manifestações clínicas
A tuberculose pode ser divida em dois grupos:
1. Tuberculose primária: ocorre com a primeira infecção
2. Tuberculose secundária: ocorre em um indivíduo previamente infectado por M.
tuberculosis
PRIMÁRIA
Na maioria das pessoas, a infecção primária é contida; todavia, em outras, a tuberculose primária é
progressiva. As manifestações clínicas podem ser insidiosas, com o paciente apresentando-se
irritadiço, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência. Nem sempre a tosse está presente. o
exame físico pode ser inexpressivo
SECUNDÁRIA
É o padrão de doença que surge em um hospedeiro previamente sensibilizado. Pode ocorrer logo
após a tuberculose primária; todavia, mais comumente, aparece meses a anos após a infecção
inicial, geralmente quando a resistência do hospedeiro está enfraquecida.
Origina-se mais comumente da reativação de uma infecção latente, mas também pode resultar
de reinfecção exógena em caso de redução da imunidade do hospedeiro ou quando um grande
inóculo de bacilos virulentos sobrecarrega o sistema imune do hospedeiro. A reativação é mais
comum em áreas de baixa prevalência, e a reinfecção desempenha um importante papel em
regiões de alto contágio.
APG 16 SOI III
transmissão
O M. tuberculosis é transmitido por via aérea, de uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea, que
elimina bacilos no ambiente (caso fonte), a outra pessoa, por exalação de aerossóis oriundos da
tosse, fala ou espirro.
● As gotículas exaladas (gotículas de Pflüger) rapidamente se tornam secas e
transformam-se em partículas menores (<5-10 μm de diâmetro).
● Essas partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos, podem
manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos,
onde podem se multiplicar e provocar a chamada "primo-infecção".
A probabilidade de uma pessoa ser infectada depende de fatores exógenos. Entre eles, pode -se
citar a infectividade do caso-fonte, a duração do contato e o tipo de ambiente partilhado.
diagnóstico
Exame microscópico direto - baciloscopia direta
Permite detectar de 60% a 80% dos casos de TB pulmonar em adultos, em crianças a
sensibilidade é diminuída devido a dificuldade de obtenção de uma amostra de qualidade.
É indicada quando:
➔ sintomas respiratórios
➔ suspeita clínica e radiológica de TB, independente do tempo de tosse
➔ para acompanhamento e controle de cura em casos pulmonares
Deve ser realizada em duas amostras: uma do primeiro contato com a pessoa e outra no dia
seguinte, independente do resultado anterior.
● Caso houver achados clínicos e radiológicos e as amostras derem negativas, pode ser
solicitadas amostras adicionais
APG 16 SOI III
Radiografia de tórax
A radiografia do tórax é o método de escolha na avaliação inicial e no acompanhamento da TB
pulmonar. Nela podem ser observados vários padrões radiológicos sugestivos de atividade de
doença, como cavidades, nódulos, consolidações, massas, processo intersticial (miliar), derrame
pleural e alargamento de mediastino
● A radiografia de tórax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita clínica de TB
pulmonar. Juntamente com as radiografias de tórax, sempre devem ser realizados exames
laboratoriais (baciloscopias, cultura e/ou teste rápido molecular) na tentativa de buscar o
diagnóstico bacteriológico.
● O exame radiológico em pacientes com diagnóstico bacteriológico tem como principais
objetivos excluir outra doença pulmonar associada, avaliar a extensão do acometimento e
sua evolução radiológica durante o tratamento.
APG 16 SOI III
tratamento
Os objetivos do tratamento são erradicar todos os bacilos da tuberculose do paciente infectado,
ao mesmo tempo que se evita o desenvolvimento de resistência significativa aos fármacos.
● O bacilo tem taxa elevada de mutação e tende a adquirir resistência a qualquer fármaco.
Por isso, os pacientes com tuberculose em atividade usam esquemas com vários
fármacos
ISONIAZIDA
Mecanismo de ação:
➔ A isoniazida é ativado pela KatG (catalase-peroxidase micobacteriana)
➔ Atinge as enzimas InhA (enzima transportadora de acilredutase) e a KasA cujas são
essencias para a síntese de ácido micólico (importante componente da parede celular
bacteriana)
➔ Administrado via oral e rapidamente absorvida
➔ Principal efeito adverso é a hepatite
RIFAMICINAS
Mecanismo de ação:
➔ Bloqueia a transcrição do RNA, interagindo com a subunidade β da RNA- polimerase
DNA- dependente da micobactéria [
➔ Administração via oral. A distribuição ocorre para todos os órgãos e líquidos do organismo
➔ Reacções adversas mais comuns são náuseas, êmese e urticária
PIRAZINAMIDA
A pirazinamida é ativada por condições acídicas que provavelmente predominam nas margens
das cavidades necróticas da TB, onde células inflamatórias produzem ácido láctico.
Parte do fármaco inicial se difunde para o interior do M. tuberculosis, onde uma nicotinamidase
(pirazinamidase) desamina a pirazinamida, transformando-a em ácido pirazinóico (POA), que em
seguida é transportado para o meio extracelular por uma bomba de efluxo.
➔ Em um meio extracelular acídico, uma fração de POA– é protonada a POAH e penetra no
bacilo.
➔ O equilíbrio Henderson-Hasselbach favorece progressivamente a formação de POAH, sua
homeostase por meio da membrana bacilar e seu acúmulo no interior do bacilo, conforme
o pH do meio extracelular cai até atingir o pKa do ácido pirazinóico, tais condições
acídicas também potencializam a morte do microrganismo.
➔ Embora o mecanismo real de morte microbiana ainda seja desconhecido, um dos quatro
mecanismos propostos é: Inibição do ácido graxo sintase tipo I levando à interferência
na síntese do ácido micólico.
➔ A pirazinamida é convertida em ácido pirazinóico – a forma ativa do fármaco – pela
pirazinamidase micobacteriana, codificada pelo pncA.
➔ O ácido pirazinóico interrompe o metabolismo da membrana celular das micobactérias
e abala sua função de transporte.
➔ A pirazinamida é um importante fármaco de primeira linha em conjunto com a isoniazida e
com a rifampicina nos esquemas de série curta (i.e., 6 meses) como agente de
“esterilização” ativo contra os organismos intracelulares residuais que podem provocar
recidiva.
ETAMBUTOL
Inibe as arabinosil-transferases das micobactérias, que são codificadas pelo óperon emb CAB.
As arabinosil-transferases estão envolvidas na reação de polimerização do arabinoglicano, um
componente essencial da parede celular das micobactérias.