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PNEUMONIAS E TUBERCULOSE

MECANISMOS DE DEFESA PULMONARES, COM


RELAÇÃO ÀS DEFESAS IMUNES INATAS E
ADAPTATIVAS
Mudanças abruptas na direção do
fluxo de ar nas passagens nasais podem
aprisionar patógenos potenciais. A epiglote
e o reflexo da tosse impedem a introdução
de matéria particulada nas vias aéreas in-
feriores. O epitélio respiratório ciliado impele
a camada de muco sobrejacente em dire-
ção à boca. Nos alvéolos, a imunidade ce-
lular, os fatores humorais e a resposta infla-
matória defendem contra infecções do trato
respiratório inferior.
O ar que penetra com partículas em O próprio muco contém componentes
suspensão está sujeito à turbulência nas antimicrobianos como lisozima e anticorpos
passagens nasais e então a mudanças ab- de IgA secretora. Fumantes crônicos de ci-
ruptas de direção quando a corrente aérea garros têm depuração ciliar diminuída se-
é desviada por meio da faringe e ao longo cundária a dano aos cílios e, por isso, com-
dos ramos da árvore traqueobrônquica. pensam por meio do reflexo da tosse para
Partículas maiores que 10 mm são eliminar material aspirado, excesso de secre-
aprisionadas no nariz ou na faringe; aquelas ções e corpos estranhos. Bactérias que atin-
com diâmetros de 2 a 9 mm são deposita- gem os bronquíolos terminais, duetos alveo-
das no lençol mucociliar; somente partículas lares e alvéolos são desativadas principal-
menores alcançam os alvéolos. M. tubercu- mente por macrófagos alveolares e neutrófi-
losis é um exemplo de bactéria que é depo- los. A opsonização do microrganismo por
sitada diretamente nas vias aéreas inferiores complemento e anticorpos aumenta a fago-
por meio da inalação de pequenas partícu- citose por essas células.
las veiculadas pelo ar. Bactérias aprisiona- Deficiência em qualquer nível das de-
das nas vias aéreas superiores podem colo- fesas do hospedeiro aumenta o risco de de-
nizar a orofaringe e, subsequentemente, ser senvolver pneumonia. Crianças com fibrose
transportadas para dentro dos pulmões por cística têm atividade ciliar deficiente e são
"microaspiração" ou por aspiração franca predispostas a desenvolver infecções sino-
através de uma epiglote aberta (p. ex., em pulmonares recorrentes. Pacientes com neu-
pacientes que perdem a consciência após tropenia, adquirida ou congênita, também
ingestão excessiva de álcool). são suscetíveis a infecções pulmonares com
O epitélio respiratório tem proprieda- bactérias gram-negativas e fungos.
des especiais para combater a infecção. As A estimulação antigênica de células
células epiteliais são cobertas por cílios em T leva à produção de linfocinas que ativam
movimento revestidos por uma camada de macrófagos com atividade bactericida am-
muco. Cada célula tem cerca de 200 cílios pliada. Pacientes infectados com HIV têm
que batem até 500 vezes por minuto, mo- contagens de linfócitos T CD4 reduzidas e
vendo a camada de muco para cima em são predispostos a uma variedade de infec-
direção à laringe (MCPHEE, 2011). ções bacterianas (inclusive mico bacteria-
nas) e fúngicas (MCPHEE, 2011).
PNEUMONIAS: DEFINIÇÃO E ALTERAÇÕES
HISTOLÓGICAS NO TECIDO PULMONAR
O termo pneumonia é utilizado para
definir qualquer infecção pulmonar. A apre-
sentação clínica pode ser aguda e fulmi-
nante ou crônica. O espectro de alterações
histológicas nas pneumonias pode variar
desde exsudação alveolar fibrinopurulenta,
observada nas pneumonias bacterianas
agudas, infiltrados intersticiais mononuclea-
res, em pneumonias virais e atípicas, e gra-
nulomas e cavitação em pneumonias crôni-
cas (Robbins, 2013).
A: Defesas inatas contra infecção:
• 1. A remoção de microrganismos do
pulmão normal depende do contato PNEUMONIAS AGUDAS X CRÔNICAS
com a camada de muco e remoção
através do aparelho mucociliar; PNEUMONIA AGUDAS
• 2. fagocitose por macrófagos alveo- O início geralmente é abrupto, com
lares que podem degradar os micror- febre alta, calafrios, dor torácica pleurítica
ganismos e removê-los dos espaços e tosse produtiva mucopurulenta; alguns pa-
aéreos por migração ao longo do cientes podem ter hemoptise (Robbins, 2013).
aparelho mucociliar; As infecções agudas pelo M. pneumo-
• 3. fagocitose e degradação por neu- niae manifestam-se, na forma de faringite,
trófilos recrutados por fatores macro- traqueobronquite, doença reativa das vias
fágicos. respiratórias/sibilância ou síndrome respira-
• 4. O complemento sérico pode entrar tória superior inespecífica (Harrison, 2017).
nos alvéolos e ser ativado pela via
alternativa gerando a opsonina C3b, PNEUMONIA CRÔNICA
que aumenta a fagocitose. A pneumonia crônica é frequente-
• 5. Microrganismos, incluindo aqueles mente uma lesão localizada e ocorre em pa-
fagocitados, podem alcançar os lin- cientes imunocomprometidos, com ou sem en-
fonodos drenantes iniciando as res- volvimento dos linfonodos regionais. Tipica-
postas imunes (Robbins, 2013). mente, há uma inflamação granulomatosa
bacteriana (p. ex., M. tuberculosis) ou fún-
B: Mecanismos adicionais operam após o gica. A disseminação do microrganismo cau-
desenvolvimento da imunidade adaptativa. sador e a piora da doença são comuns em
• 1. A IgA secretada pode bloquear a pacientes imunocomprometidos, como aque-
aderência do microrganismo ao epi- les com doenças debilitantes, regimes imuno-
télio do trato respiratório superior. supressores ou infecção pelo vírus da imuno-
• 2. Os anticorpos séricos (IgM, IgG) es- deficiência humana (HIV). A tuberculose é de
tão presentes no fluido que recobre longe a mais importante entidade no espec-
os alvéolos no trato respiratório infe- tro das pneumonias crônicas (Robbins, 2013).
rior e ativam o complemento mais efi-
cientemente pela via clássica, ge- DEFINIÇÃO DOS SEGUINTES TIPOS DE
rando C3b (não mostrado). Ademais, PNEUMONIA, ACERCA DA FORMA DE INFECÇÃO
IgG é opsonizante.
• 3. O acúmulo de linfócitos T é impor-
tante no controle de infecções por ví- PNEUMONIA ADQUIRIDA EM COMUNIDADE
rus e outros microrganismos intracelu- A maioria das pneumonias agudas
lares. PMN, célula polimorfonuclear. adquiridas em comunidade apresenta etio-
logia bacteriana. Não incomumente, a infec-
ção bacteriana sobrepõe-se a uma infec-
ção viral das vias aéreas superiores. O início
geralmente é abrupto, com febre alta, cala-
frios, dor torácica pleurítica e tosse produ-
tiva mucopurulenta (Robbins, 2013).
Alguns pacientes podem ter hemop- As não encapsuladas podem causar
tise. S. pneumonie (isto é, pneumococos) é a uma forma de pneumonia com alto risco de
causa mais comum de pneumonia aguda morte em crianças, frequentemente após in-
adquirida em comunidade; portanto, a fecção respiratória viral. Os adultos sob
pneumonia pneumocócica é discutida como risco de desenvolver infecções incluem
protótipo desse subgrupo. aqueles com doenças pulmonares crônicas,
• Streptococcus pneumoniae; como bronquite crônica, fibrose cística e
• Haemophilus influenzae; bronquiectasia. H. influenzae é a causa bac-
• Moraxella catarrhalis; teriana mais comum de exarcebação aguda
• Staphylococcus aureus; da DPOC. Antigamente, a variante encap-
• Legionella pneumophila; sulada do H. Influenzae tipo b constituía im-
• Enterobacteriaceae (Klebsiella pneu- portante causa de epiglotite e meningite su-
moniae); purativa em crianças, porém a vacinação
• Pseudomonas spp. contra tal microrganismo na infância tem di-
minuído significativamente o risco.
PNEUMONIA NOSOCOMIAL
Bastonetes gram-negativos perten- MORAXAELLA CATARRHALIS
centes a Enterobacteriaceae (Klebsiella M. catarrhalis vem sendo reconhecida
spp., Serratia marcescens, Escherichia coli) e como causa de pneumonia bacteriana, es-
Pseudomonas spp. S. aureus (usualmente re- pecialmente em pessoas idosas. É a se-
sistente à meticilina) (Robbins, 2013). gunda causa bacteriana mais comum de
exarcebação aguda de DPOC em adultos.
PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO Juntamente com S. pneumoniae e H. influen-
A pneumonia por aspiração ocorre zae, a M. catarrhalis constitui uma das três
em pacientes debilitados ou naqueles que causas mais comuns de otite média em cri-
aspiram conteúdo gástrico enquanto se en- anças (Robbins, 2013).
contram em estado de inconsciência (p. ex.,
após uma convulsão) ou durante episódios STAPHYLOCOCCUS AUREUS
repetitivos de êmese. Tais pacientes apre- S. aureus é uma importante causa de
sentam reflexos da deglutição anormais que pneumonia bacteriana secundária em crian-
facilitam a aspiração. A pneumonia resul- ças e adultos hígidos após doenças respi-
tante é, em parte, química devido aos efei- ratórias (p. ex., sarampo em crianças e influ-
tos irritantes do ácido gástrico e, em parte, enza em adultos e crianças).
bacteriana. Embora se acredite que haja A pneumonia estafilocócica está as-
predomínio de bactérias anaeróbias, estu- sociada à alta incidência de complicações,
dos recentes têm demonstrado que as aeró- como abcesso e empiema pulmonar. A pneu-
bias são mais predominantes. monia estafilocócica em associação à en-
A pneumonia por aspiração é comu- docardite estafilocócica direita constitui
mente necrosante, apresenta evolução clí- uma séria complicação do abuso de drogas
nica fulminante e é uma causa de óbito fre- intravenosas. É também importante causa de
quente em pessoas predispostas à aspira- pneumonia nosocomial (Robbins, 2013).
ção. A formação de abcesso é uma compli-
cação comum nos pacientes que sobrevi- KLEBSIELLA PNEUMONIAE E LEGIONELLA PNEU-
vem. Ao contrário, a microaspiração ocorre MOPHILA
em muitas pessoas, especialmente aquelas A Klebsiella pneumoniae é a causa
com refluxo gastroesofágico, podendo exar- mais frequente de pneumonia por bactérias
cebar outras doenças pulmonares; entre- gram-negativas. A pneumonia relacionada
tanto, não leva à pneumonia (Robbins, 2013). à Klebsiella frequentemente acomete pes-
soas debilitadas e malnutridas, em particular
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS INFECÇÕES os alcoólatras crônicos.
CAUSADAS PELOS SEGUINTES PATÓGENOS O esputo espesso e gelatinoso é ca-
racterístico, pois o microrganismo produz um
polissacarídeo capsular abundante e vís-
HAEMOPHILUS INFLUENZAE cido que o paciente pode ter dificuldade
As formas encapsulada e não encap- em expelir pela tosse (Robbins, 2013).
sulada são importantes causas de pneumo-
nias adquiridas em comunidade.
A L. pneumophila é o agente etioló- Nas infecções pneumocócicas pulmo-
gico da doença dos legionários, um epô- nares, ambos os padrões de pneumonia po-
nimo das formas epidêmicas e esporádicas dem ocorrer; a broncopneumonia é mais
de pneumonia causada por esse microrga- prevalente nos extremos de idade. Indepen-
nismo. A febre de Pontiac é uma infecção do dentemente da distribuição da pneumonia,
trato respiratório superior, autolimitante e re- os lobos inferiores ou o lobo médio direito
lacionada com a infecção por L. pneu- estão frequentemente envolvidos, uma vez
mophila, porém sem os sintomas pneumôni- que as infecções pulmonares pneumocóci-
cos. A L. pneumophila prolifera em ambientes cas usualmente são adquiridas pela aspira-
aquáticos artificiais, como torres de resfria- ção da microbiota nasofaríngea (20% dos
mento de água e nos canos do sistema do- adultos hospedam S. pneumoniae na gar-
méstico de abastecimento de água potável. ganta). Antes da descoberta dos antibióti-
Acredita-se que o modo de transmissão seja cos, as pneumonias pneumocócicas envol-
por inalação de microrganismos aerossoliza- viam a quase totalidade ou 100% dos lobos,
dos ou aspiração de água contaminada. evoluindo através de quatro estágios: con-
A pneumonia por Legionella é comum gestão, hepatização vermelha, hepatização
em pessoas com alguma condição predis- cinza e resolução. A antibioticoterapia pre-
ponente, como doença cardíaca, renal, imu- coce altera ou para a progressão típica.
nológica ou hematológica. Os receptores No primeiro estágio denominado con-
de órgãos transplantados são particular- gestão, o(s) lobo(s) afetado(s) está(ão) pe-
mente suscetíveis. A pneumonia por Legio- sado(s), vermelho(s) e úmido(s); histologica-
nella pode ser muito severa, frequentemente mente, observa-se congestão vascular com
necessitando de hospitalização; pacientes fluido proteináceo, neutrófilos disseminados
imunossuprimidos podem ter taxa de fatali- e muitas bactérias nos alvéolos.
dade de 30-50%. O diagnóstico rápido é Em alguns dias, sobrevém o estágio
facilitado pela demonstração de antígenos de hepatização vermelha caracterizado
de Legionella na urina ou por um teste de por lobos pulmonares com consistência he-
anticorpo fluorescente positivo nas amostras pática; os espaços alveolares estão preen-
de esputo; o cultivo é a modalidade de chidos por neutrófilos, eritrócitos e fibrina. No
teste diagnóstico-padrão. Testes baseados próximo estágio, denominado hepatização
em PCR podem ser utilizados em secreções cinza, os pulmões estão secos, cinza e firmes,
brônquicas nos casos atípicos (Robbins, 2013). uma vez que os eritrócitos foram lisados e o
exsudato fibrinossupurativo persiste no inte-
CARACTERÍSTICAS FISIOPATOLÓGICAS DA rior dos alvéolos.
O exame do esputo mediante a colo-
INFECÇÃO POR STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE ração de Gram é um importante passo no
SEUS ESTÁGIOS. diagnóstico da pneumonia aguda. A pre-
As infecções pneumocócicas ocorrem sença de numerosos neutrófilos contendo di-
com maior frequência em subgrupos de pa- plococos tipicamente gram-positivos em
cientes: com doenças crônicas concomitan- forma de lança é uma boa evidência de
tes, como CHF, DPOC ou diabetes; com de- pneumonia pneumocócica; entretanto, resul-
feitos imunoglobulínicos adquiridos ou con- tados falso-positivos podem ocorrer com tal
gênitos (p. ex., síndrome da imunodeficiência método, uma vez que o S. pneumoniae faz
adquirida [AIDS]); e com função esplênica parte da microbiota endógena. O isola-
diminuída ou ausente (p. ex., anemia falci- mento de pneumococos de cultura microbi-
forme ou após esplenectomia). O último ológica do sangue é mais específico. Du-
grupo apresenta a maior probabilidade, rante as fases iniciais da doença, as culturas
uma vez que o baço contém a maior cole- microbiológicas do sangue podem ser posi-
ção de fagócitos e, portanto, é o principal tivas em 20-30% dos pacientes com pneu-
órgão responsável pela remoção dos pneu- monia. Sempre que possível, a sensibilidade
mococos sanguíneos. O baço é também um aos antibióticos deve ser determinada. Va-
importante órgão na produção de anticor- cinas antipneumococos contendo polissa-
pos antipolissacarídeos; tais imunoglobuli- carídeos capsulares dos sorotipos mais co-
nas são predominantes na defesa contra muns de bactéria estão comercialmente dis-
bactérias encapsuladas (Robbins, 2013). poníveis; sua eficácia comprovada dita sua
utilização em pessoas sob risco de infecção
pneumocócica (Robbins, 2013).
ETIOPATOGENIA E EVENTOS DA incomumente, pode levar à tuberculose pri-
mária progressiva. Essa complicação ocorre
em pacientes imunocomprometidos ou com
TUBERCULOSE PRIMÁRIA
diminuição inespecífica das defesas do hos-
A tuberculose primária é uma forma de
pedeiro, como a má nutrição em crianças e
doença que se desenvolve em pacientes
a idade em idosos. Certos grupos raciais,
não expostos e, portanto, não sensibilizados.
como os inuítes, também são mais propensos
Pessoas idosas e pacientes profundamente
ao desenvolvimento de tuberculose primária
imunossuprimidos podem perder a sensibili-
progressiva. A incidência de tuberculose pri-
dade ao bacilo da tuberculose e desenvol-
mária progressiva é particularmente alta em
ver tuberculose primária mais de uma vez.
pacientes HIV-positivos com grau avançado
Cerca de 5% desses pacientes novamente
de imunossupressão (isto é, contagem de lin-
infectados adquirem doença siginificativa.
fócitos T CD4+ abaixo de 200 células/mL).
As principais consequências da tu-
A imunossupressão resulta em inabili-
berculose primária (1) estão relacionadas
dade de montar uma reação imunológica
com a indução de hipersensibilidade e au-
mediada por linfócitos T CD4+ capaz de
mento da resistência; (2) os focos de cica-
conter o foco primário; uma vez que a hiper-
trização podem portar bacilos viáveis por
sensibilidade e a resistência são quase sem-
anos, talvez por toda a vida, e portanto
pre fatores concomitantes, a ausência de re-
constituir o ninho para a reativação poste-
ação de hipersensibilidade tecidual resulta
rior em condições de comprometimento da
na ausência dos granulomas caseosos ca-
função imune do hospedeiro; e (3)
racterísticos (tuberculose não reativa).

TUBERCULOSE SECUNDÁRIA
A tuberculose secundária é um pa- Também pode surgir após a reinfec-
drão de doença que surge em hospedeiros ção exógena devido à queda na proteção
previamente sensibilizados. A tuberculose se- proporcionada pela doença primária ou
cundária pode surgir logo após a primária, devido à inoculação de um grande inóculo
porém, mais comumente, surge da reativa- de bacilos virulentos. Independentemente
ção de lesões primárias dormentes muitas da origem do microrganismo, poucos paci-
décadas após a infecção inicial, particular- entes (menos de 5%) com a doença primária
mente quando há queda na resistência do desenvolvem tuberculose secundária subse-
hospedeiro (Robbins, 2013). quente (Robbins, 2013).
Classicamente, a tuberculose pulmo- Ultimamente, entretanto, bacilos tu-
nar secundária localiza-se no ápice de um berculosos podem ser identificados. A mais
ou ambos os lobos superiores. A razão é comum metodologia para o diagnóstico da
obscura, porém pode estar relacionada com tuberculose continua sendo a demonstra-
a alta pressão parcial de oxigênio nos ápi- ção de organismos ácido-resistentes em es-
ces. O bacilo incita uma resposta tecidual carros por colorações ácido-resistentes ou
rápida e marcada que tende a não se res- pelo uso de rodamina auramina fluorescente.
tringir ao foco. Como resultado dessa loca- Culturas convencionais para mico-
lização, os linfonodos regionais apresentam bactérias requerem 10 semanas, mas ensaios
envolvimento menor nos estágios iniciais da radiométricos que detectam metabolismos
doença quando comparada à tuberculose micobacterianos são capazes de fornecer o
primária. Por outro lado, a ocorrência de resultado em duas semanas. Amplificação
cavitação na forma secundária é rápida, in- por PCR pode ser realizada no meio líquido
duzindo à erosão das vias aéreas e disse- positivo, bem como nos cortes de tecidos
minação aerógena. Tais alterações tornam- para identificar micobactérias. Entretanto, a
se uma importante fonte de infecção, uma cultura permanece a modalidade diagnós-
vez que agora o paciente produz esputo tica padrão porque pode identificar ocasi-
com bacilos. A tuberculose secundária deve onais casos de PCR negativa e também per-
sempre ser uma importante consideração em mite teste de suscetibilidade a drogas.
pacientes HIV-positivos e que apresentem Multirresistência a drogas (MRD) é de-
doença pulmonar. É importante destacar finida como resistência da micobactéria a
que, embora exista um risco aumentado de duas ou mais drogas primárias usadas para
tuberculose em todos os estágios da AIDS, o tratamento da tuberculose. É agora mais
as manifestações estão relacionadas com o comumente relatada, e a WHO estima que
grau de imunossupressão. 50 milhões de pessoas ao redor do mundo
A tuberculose secundária localizada podem estar infectadas com micobactérias
pode ser assintomática. Quando as manifes- multirresitentes (Robbins, 2013).
tações aparecem, elas são geralmente insi-
diosas no começo, com desenvolvimento
gradual de sinais e sintomas sistêmicos e lo-
cais. Manifestações sistêmicas provavel-
mente relacionadas com a liberação de ci-
tocinas por macrófagos ativos (p. ex., TNF e
IL-1) frequentemente aparecem cedo no
curso da doença e incluem mal-estar, ano-
rexia, perda de peso e febre. Comumente,
ocorre febre de baixo grau. Com o envolvi-
mento pulmonar progressivo, aumenta a
quantidade de escarros, que inicialmente se
apresenta mucoide e mais tarde purulento.
Quando a cavitação está presente, o es-
carro contém bacilos tuberculosos.
Alguns graus de hemoptise estão pre-
sentes em cerca da metade de todos os ca-
sos de tuberculose pulmonar. A dor pleurítica
pode resultar da extensão de infecções das
superfícies pleurais. Manifestações extrapul-
monares de tuberculose dependem do sis- EUDIANE ZANCHET
tema do órgão envolvido (p. ex., salpigite
tuberculosa pode se manifestar com infertili-
dade, meningite tuberculosa com dor de ca-
beça e déficits neurológicos, doença de
Pott com dor nas costas e paraplegia).
O diagnóstico de doença pulmonar é
baseado, em parte, no histórico e nos acha-
dos radiográficos e físicos de consolidação
ou cavitação nos ápices dos pulmões.
REFERÊNCIAS
KASPER, Dennis L; HAUSER, Stephen L; JAMESON, J Larry; FAUCI, Anthony S; LONGO, Dan L;
LOSCALZO, Joseph. Medicina interna de Harrison. 19ª Ed. Porto Alegre: Mc Graw-Hill, 2017.

KUMAR, Vianay, et al. Robbins, Patologia Básica. 9ª Ed. Rio de Janeiro : Elsevier, 2013.

MCPHEE, Stephen J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à Medicina Clínica. 5. ed.


Porto Alegre : AMGH, 2011.

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