Você está na página 1de 12

PNEUMONIA

a intervenção precoce são os pontos fundamentais


DEFINIÇÃO
para reduzir a mortalidade.
O termo “pneumonia” pode ser definido sob dois
pontos de vista diferentes. Pelo enfoque PNEUMONIA ADQUIRIDA NA
histopatológico, pneumonia significa COMUNIDADE
preenchimento do espaço alveolar por
DEFINIÇÃO
infiltrado necroinflamatório – os alvéolos
encontram-se totalmente ocupados por leucócitos O Consenso Brasileiro de Pneumonia Adquirida na
(geralmente neutrófilos) e exsudato purulento, Comunidade (PAC) define esta entidade da
contendo debris celulares, neutrófilos e bactérias. seguinte maneira:
Neste aspecto, a pneumonia deve ser diferenciada
da “pneumonite” ou “alveolite”, lesão caracterizada • Pacientes sem história de internação > 48h
por um infiltrado inflamatório localizado nos últimos 90 dias. Obs.: Existem alguns
principalmente (mas não exclusivamente) nos autores que consideram > 72 horas de
septos alveolares, que representam o interstício do internação.
órgão. • Pacientes sem história de uso de ATB
intravenoso, quimioterapia ou tratamento para
Sob o ponto de vista clínico, quando o médico usa úlcera de pressão nos últimos 30 dias;
o termo “pneumonia”, está se referindo à infecção • Pacientes NÃO oriundos de unidades
aguda do pulmão. Usando este conceito, especiais de internação prolongada (ex.:
consideramos pneumonia todo e qualquer asilos, home care);
processo inflamatório agudo do parênquima
• Pacientes que não se encontram sob
pulmonar decorrente da infecção por algum
tratamento em clínicas de diálise.
micro-organismo (bactéria, vírus ou fungo).

Em outras palavras, pneumonia é uma doença EPIDEMIOLOGIA


inflamatória aguda, de causa infecciosa que A pneumonia adquirida na comunidade (PAC)
acomete os espaços aéreos e é causada por vírus, constitui a principal causa de morte no mundo,
bactérias e fungos. Pode ser dividida em com significativo impacto nas taxas de morbidade.
pneumonia adquirida na comunidade (PAC) e Apesar da vasta microbiota respiratória, da ampla
pneumonia adquirida em ambiente hospitalar. Esta disseminação de agentes potencialmente
última acomete indivíduos hospitalizados por 2 patogênicos, do fenômeno da globalização e da
ou mais dias nos últimos 90 dias, pacientes ocorrência de epidemias virais, o Streptococcus
provenientes de asilos ou casas de saúde, pneumoniae permanece como a bactéria de maior
pacientes em diálise e paciente que receberam prevalência de PAC dentre os agentes etiológicos.
ATB por via endovenosa, quimioterapia ou
tratamento de escaras nos últimos 30 dias A incidência de PAC varia de 5 a 11 casos por
1.000 indivíduos/ ano. Esta incidência varia muito
EPIDEMIOLOGIA nas diferentes faixas etárias, sendo maior em
crianças pequenas, menores que 5 anos e
Segundo dados do SIH (Sistema de Informações
lactentes, e em idosos. O Brasil encontra-se
Hospitalares do SUS), a pneumonia é uma das
entre os 15 países com maior número estimado de
principais causas de internação no Brasil
pneumonia. A mortalidade da PAC varia de menos
(perdendo apenas para parto/puerpério, não
de 1% para casos ambulatoriais, 12% para casos
considerados doença). O sexo masculino foi
que necessitam de internação, e pode chegar a
predominante, e a maioria dos casos ocorreu nos
40% nos casos que necessitam de UTI.
meses de outono-inverno, em particular nos
extremos de idade (menores de 5 anos e maiores Os principais fatores de risco são: nutrição
de 65 anos). insuficiente, baixo peso ao nascer, cartão vacinal
desatualizado, desmame precoce, poluição e
Dados do Data SUS, apontaram a pneumonia
aglomerações, além de presença de
como causa mortis de 886 casos de óbitos infantis
comorbidades, como: DPOC, diabetes e doenças
no Brasil no ano de 2016. O diagnóstico correto e
cardiovasculares.
Período onde ocorre
o início da
progressão do
sistema de defesa e
posteriormente o
declínio da mesma.
CLASSIFICAÇÃO S. pneumoniae: diplococo
gram positivo
Quando praticamente todo (ou quase todo) um
lobo pulmonar é consolidado, surge o termo Bactérias H. influenzae: cocobacilo
Pneumonia Lobar, sendo que cerca de 90-95% piogênicas gram negativo
dos casos de pneumonia lobar comunitária têm o aeróbica (quadro M. catarrahalis: diplococo
Streptococcus pneumoniae como patógeno. É clínico típico) gram negativo
importante ressaltar, entretanto, que a pneumonia K. pneumoniae: bastonete
lobar não é o tipo mais comum de pneumonia, gram negativo
mesmo no caso do pneumococo. S. aureus: coco gram positivo
O achado mais típico da pneumonia bacteriana é S. pyogenes: coco gram
definido pelo termo Broncopneumonia, positivo
caracterizado pela presença de múltiplos focos P. aeruginosa: bastonete
coalescentes de consolidação alveolar, gram negativo
distribuindo-se na região peribrônquica. Cada Bactérias Peptostreptococcus sp
um desses focos ocupa o volume aproximado de anaeróbicas da
Fusobacterium nucleatum
um ácino ou lóbulo pulmonar. O próprio cavidade bucal
“pneumococo”, o Staphylococcus aureus, e as Prevotella sp
bactérias Gram negativas costumam acometer o Pseudomonas aeruginosa
pulmão desta forma. Vale ressaltar que se a Mycoplasma pneumoniae
coalescência dos focos broncopneumônicos
Germes atípicos Chlamydia pneumoniae
atingir um grande volume, o infiltrado pode
transformar-se em uma pneumonia lobar ou Legionella pneumophila
sublobar. Influenza
Vírus Parainfluenza
ETIOLOGIA
Adenovírus
Em até 50% dos pacientes com PAC, não se sabe
Mycobacterium tuberculosis;
qual germe causou a patologia. Pneumococo é um Hystoplasma capsulatum;
diplococo gram positivo, sendo o microorganismo Paracoccidioides braziliensis;
mais frequentemente isolado (30-45%) e a causa Outros Cryptococcus neoformans;
principal de pneumonia comunitária, em todas as Pneumocystis jiroveci (HIV
idades, e em pacientes de todas as faixas de risco. positivo); Chlamydia psittaci
(psitacose); Coxiella burtnetii
(febre Q).

FISIOPATOLOGIA

Na grande maioria dos casos, o microorganismo


causador da pneumonia atinge os alvéolos
pulmonares através da microaspiração do
material proveniente das vias aéreas
superiores (orofaringe, nasofaringe). Ou seja,
para infectar o pulmão, o agente primeiro precisa
colonizar o epitélio faríngeo e depois ser aspirado
para as vias aéreas inferiores.

O conceito de colonização é bem diferente do


conceito de infecção. As bactérias que se
multiplicam na superfície do epitélio das vias
aéreas superiores não entram em contato com o
meio interno do organismo e, portanto, não
provocam resposta imunológica nem sequer.
fundamentais de uma infecção. Sendo assim,
dizemos que esses micro-organismos são
simplesmente colonizadores, componentes da - Disseminação hematogênica: Podem ocorrer
flora local. As principais bactérias que compõem em situações capazes de gerar embolias sépticas,
esta flora não são capazes de infectar indivíduos como em osteomielite, endocardite e tromboflebite
imunocompetentes, recebendo a denominação séptica, provocadas principalmente pelo S.
saprófitas. Os agentes que podem eventualmente aureus. Em menor frequência, a disseminação
causar infecção e doença no ser humano são pode se dar a partir de um episódio de bacteremia.
denominados patogênicos. A colonização das vias
aéreas superiores por bactérias patogênicas - Disseminação por contiguidade: Não é uma via
geralmente é transitória, durando semanas. habitual de desenvolvimento de PAC. Ela pode
ocorrer a partir de focos infecciosos na parede
A aspiração de secreções da orofaringe permite torácica, no mediastino ou no andar superior do
a passagem de uma grande quantidade de abdome.
microorganismos até as vias aéreas inferiores. O
número de bactérias aspiradas vai depender da - Reativação local: Em pacientes
densidade da população bacteriana na secreção imunodeprimidos, especialmente com redução da
orofaríngea e do volume de material aspirado. Em imunidade celular, deve-se considerar a
um adulto saudável, a densidade da população possibilidade de reativação local de um patógeno
bacteriana na secreção orofaríngea varia de 107 a que permanecia em estado latente. Isto pode
109 UFC/ml, de tal forma que a aspiração de ocorrer, por exemplo, com o bacilo da tuberculose,
somente 0,001 ou 0,0001ml implica na passagem o citomegalovírus, o Pneumocystis. carinii.
de um inóculo de 104-5 microorganismos para a
árvore respiratória. A ocorrência da pneumonia depende muito da
competição entre a bactéria e as defesas do
A idade avançada e determinadas afecções hospedeiro. Para ocorrer pneumonia uma ou mais
debilitantes, como DPOC, diabetes mellitus e das seguintes situações tem que estar presente:
alcoolismo, podem modificar a flora colonizadora (1) contato do alvéolo com um agente de alta
por reduzir a quantidade de fibronectina do epitélio, virulência; (2) contato do alvéolo com um
permitindo a exposição de receptores das células grande inóculo de bactérias; (3) defeito nos
epiteliais para agentes gram-negativos aeróbios. mecanismos de defesa do hospedeiro.
Assim, bactérias como Haemophilus influenzae,
Moraxella catarrhalis e Klebsiella pneumoniae As defesas naturais do aparelho respiratório
começam a sobressair e colonizar as vias aéreas conseguem manter as vias aéreas infraglóticas
superiores (e eventualmente as inferiores) destes estéreis, apesar de uma grande concentração de
pacientes. Por esse motivo, este grupo de bactérias na faringe, cavidade oral e nasal. As
indivíduos tem propensão à infecção respiratória partículas infectantes medindo mais de 2 micra
por Gram-negativos. geralmente são depositadas no muco do epitélio
traqueobrônquico e então conduzidas pelo
Menos comumente, o germe atinge os alvéolos movimento ciliar das células epiteliais até a
por inalação de aerossol contaminado do orofaringe, onde são deglutidas. O reflexo da tosse CILIADAS
ambiente (Legionella). Os aerossóis são e outros reflexos epiglóticos podem eliminar
provenientes de secreções de animais, de outros, abruptamente uma grande quantidade dessas
expelidos por espirro, tosse ou fala. Quanto menor partículas. A secreção de IgA específica é um
a partícula de aerossol, maior o tempo que ela importante meio de defesa das vias aéreas
permanece suspensa no ar e, também, maior a superiores contra agentes infecciosos. Uma
chance de atingir os alvéolos e, eventualmente, pequena quantidade desta imunoglobulina
provocar pneumonia. Os aerossóis transportam, também pode ser encontrada nas vias aéreas
na maioria das vezes, um inóculo pequeno de inferiores.
microrganismos, menor do que as secreções
aspiradas. Como a ventilação é maior nos lobos As partículas infectantes muito pequenas, com
inferiores, a pneumonia por essa via patogênica é menos de 2 micra, conseguem atingir os
mais comum nas bases pulmonares. Seu principal bronquíolos terminais e os alvéolos, estruturas
exemplo é a PAC por micoplasma. desprovidas de cílios. Entretanto, o surfactante
alveolar é rico em substâncias de efeito
Existem outras maneiras menos comuns de antibacteriano, como IgG, IgM, complemento,
disseminação da PAC: fibronectina, lisozimas e proteínas ligadoras de
ferro. Podendo assim ter um mecanismo de defesa ativo
A fibronectina é uma família de glicoproteínas de
elevado peso molecular chegando a 5% de
carboidratos e que se liga a receptores proteicos
da membrana celular chamados, que serão as
integrinas. Liga-se também à matriz extracelular.
Os anticorpos antibacterianos específicos agem ATENÇÃO!! Quanto mais idoso e mais debilitado
de duas formas: (1) o IgM ativa o sistema for o paciente por alguma doença de base, mais o
complemento capaz de destruir a bactéria pelo quadro clínico se afasta do que foi descrito acima!
seu poder lítico; (2) o IgG reveste a superfície A febre pode estar ausente ou, se presente, ser
bacteriana, permitindo o seu reconhecimento mais baixa (38-38,5ºC).
pelos fagócitos alveolares. No interior dos
alvéolos encontram-se alguns macrófagos, O quadro clínico atípico de pneumonia se parece
responsáveis pelo primeiro ataque fagocítico às com uma virose respiratória prolongada. O
bactérias. principal agente é o Mycoplasma pneumoniae,
incidindo geralmente numa faixa etária jovem,
Se a virulência do agente for alta, ele consegue se acima dos cinco anos e abaixo dos quarenta anos
multiplicar mesmo na presença de macrófagos de idade. Ao contrário da pneumonia bacteriana
alveolares. Algumas bactérias podem se proteger típica, a instalação é subaguda (tempo de início
do sistema humoral (anticorpos, complemento) médio dos sintomas = 10 dias), abrindo com
pela liberação de exotoxinas e pela presença de sintomas gerais de uma síndrome gripal: dor de
uma cápsula polissacarídica, como no caso do garganta; mal-estar; mialgia; cefaleia; tosse seca;
pneumococo. A defesa contra este tipo de germe febre entre 38-39ºC. A tosse costuma piorar após
depende muito da presença de anticorpos a primeira semana, passando a ser o principal
específicos contra os antígenos capsulares (o que sintoma; às vezes persiste por várias semanas.
pode ser obtido com a vacina antipneumocócica Costuma ser uma tosse seca, que atrapalha o
polivalente). Quando os macrófagos não sono do paciente, mas também pode mostrar-se
conseguem conter a proliferação bacteriana, produtiva. Neste caso, a expectoração geralmente
passam a servir de mediadores da resposta é branca, mas em 30-50% dos casos é descrita
inflamatória, liberando citoquinas, como o TNF- como purulenta.
alfa, a IL-1 e fatores de quimiotaxia para
neutrófilos, como o IL-8, o C5a e o leucotrieno B4. EXAM ES COMPLEMENTARE S
Estes fatores, chamados quemoquinas, também
A radiografia de tórax auxilia na avaliação de
são liberados pelas células do endotélio e do
gravidade, identifica comprometimento multilobar,
epitélio alveolar. Os neutrófilos então são
sugere etiologias alternativas, identifica condições
recrutados no local, desencadeando e
associadas e permite monitorização da resposta
perpetuandoo processo inflamatório agudo.
ao tratamento.
M ANIFESTAÇÕES CLÍNIC AS A radiografia de tórax típica costuma evidenciar a
O quadro clínico da pneumonia típica é presença de infiltrado intersticial pulmonar.
representado pela pneumonia pneumocócica, Este infiltrado, no caso da pneumonia bacteriana,
caracterizado por: doença hiperaguda (2-3 dias), geralmente é do tipo alveolar broncopneumônico:
com uma história de calafrios com tremores, múltiplas condensações lobulares coalescentes. A
seguidos de febre alta (39-40ºC), dor torácica presença do broncograma aéreo caracteriza o
pleurítica e tosse produtiva com expectoração infiltrado alveolar, pois os alvéolos em volta do
purulenta ou até esverdeada. brônquio estão preenchidos de exsudato,
contrastando com o ar em seu interior. Algumas
O exame físico pode revelar prostração, taquipneia vezes, podemos ter uma grande área de
(FR > 24 ipm), taquicardia (FC > 100 bpm) e consolidação alveolar, constituindo a pneumonia
hipertermia (TAx > 38ºC). Os achados positivos no lobar ou sublobar.
exame do aparelho respiratório podem variar
desde simples estertores inspiratórios até uma A radiografia de tórax não deve ser usada para
síndrome de consolidação e/ou de derrame determinar Existem padrões radiológicos
pleural. A síndrome de consolidação é sugestivos de alguns agentes etiológicos. A
caracterizada pela presença do som bronquial pneumonia lobar quase sempre é causada pelo
(sorpo tubário), aumento do frêmito toracovocal, pneumococo, apesar de que pode eventualmente
submacicez, broncofonia e pectorilóquia fônica. A surgir evolutivamente de uma pneumonia
síndrome do derrame pleural é identificada pela estafilocócica ou por Gram-negativos. Um tipo
abolição do murmúrio vesicular e do frêmito especial de pneumonia lobar – a “pneumonia do
toracovocal, submacicez e egofonia. lobo pesado” – é causada pela Klebsiella
pneumoniae (pneumonia de Friedlander),
geralmente em alcoólatras ou diabéticos. O lobo pode mostrar hiponatremia leve a moderada em
comprometido costuma ser o superior, e na alguns casos. A hiponatremia grave e a elevação
radiografia observasse abaulamento da cisura das enzimas hepáticas são mais comuns na
(pelo edema lobar inflamatório). A formação de pneumonia por Legionella pneumophila. O
cistos com paredes finas, geralmente múltiplos, aumento agudo das escórias renais sugere sepse
denominados pneumatoceles, é comum na grave ou nefrite intersticial pelo antibiótico
pneumonia por Staphylococcus aureus. São utilizado. A gasometria arterial depende da
decorrentes da passagem de ar para o interstício gravidade e extensão da pneumonia, bem como da
subpleural, através de pequenas roturas reserva cardiopulmonar prévia do paciente. Os
bronquiolares e revertem completamente com o achados mais frequentes são a hipoxemia e a
tratamento medicamentoso da pneumonia, sem a alcalose respiratória. O encontro de hipoxemia
necessidade de drenagem. grave (PaO2 < 60 mmHg), acidose metabólica
ou respiratória são importantes sinais de mau
A tomografia computadorizada, por sua vez, prognóstico. A dosagem da proteína C reativa é
auxilia na detecção de complicações, em situações um marcador inflamatório e tem valor prognóstico.
na qual a radiografia é normal e a clínica A manutenção de níveis elevados ou redução
exuberante e para diferenciar infiltrado inferior a 50% do valor inicial sugerem pior
pneumônico de massas pulmonares. prognóstico ou risco de complicações. O impacto
do seu uso no diagnóstico é indefinido. A pró-
Já a USG auxilia principalmente na suspeita de
calcitonina é outro marcador inflamatório e
derrame pleural, permitindo a localização precisa
apresenta correlação prognóstica melhor que a
para a coleta desse líquido. Além disso, em DP
proteína C reativa. Estudos sugerem que
com altura superior a 5 cm, estimado pelo recesso
pacientes com níveis inferiores a 0,1 mg/L
posterior em RX de tórax obtida em projeção
descartam pneumonia, não necessitando de
lateral em ortostatismo, ou no caso de derrame
antibioticoterapia. Por outro lado, valores acima de
loculado, deve-se considerar a realização de
0,25 mg/L tornam pneumonia provável, sendo
toracocentese para afastar empiema ou derrame
indicada a antibioticoterapia. A prócalcitonina pode
parapneumonico complicado. Essa conduta está
ainda ajudar a decidir o tempo da
fortemente indicada para aqueles derrames que
antibioticoterapia. Queda de seus níveis em 90%
ocupem mais que 20% de um hemitórax.
indica interrupção do tratamento.
Além disso, devem ser solicitados exames, como:
hemograma, gasometria arterial (sat < 92%), DIAGNÓSTICO
proteína C reativa, ureia, creatinina (escore de O diagnóstico de pneumonia comunitária
gravidade), sódio e potássio, transaminases e geralmente é feito pelo quadro clinico-
bilirrubinas (suspeita de sepse) e glicemia. laboratorial em conjunto com a radiografia de
Pacientes que não precisam de exames adicionais tórax nas incidências PA e perfil. O exame de
(além do radiografia de tórax): escarro pode revelar dados que corroboram o
diagnóstico e sugerem o agente etiológico.
• Idade < 50 anos;
Exames invasivos e semi-invasivos (ex.:
• Ausência de alterações marcantes no exame
broncofibroscopia) não devem ser solicitados de
físico;
rotina, mas podem ser necessários em casos
• Classificados como PORT 1;
selecionados.
• Ausência de comorbidades associadas, como:
insuficiência cardíaca, câncer, insuficiência Aí está a grande dúvida: vale a pena solicitar um
renal, doença hepática e doença exame de escarro de um paciente com suspeita de
cerebrovascular. pneumonia? Apesar de ser um exame
relativamente barato, a espera de um resultado
Os exames laboratoriais inespecíficos geralmente poderia retardar o início da antibioticoterapia e,
revelam uma leucocitose neutrofílica entre além disso, como destacaremos adiante, nem
15.000-35.000/mm3, com desvio para esquerda. sempre podemos confiar neste exame. A
O hematócrito, os índices hematimétricos e as recomendação atual é a procura do agente
plaquetas costumam estar normais no início do etiológico somente se houver motivo para
quadro. A leucopenia pode ocorrer e é considerada acreditar que o resultado possa alterar o
um importante sinal de mau prognóstico. A antibiótico que você selecionou
bioquímica na maioria das vezes está normal, mas
empiricamente. Por exemplo: pneumonia sem hospitalar ou UTI — quanto à necessidade de
critérios de gravidade, com apresentação típica, investigação etiológica, quanto à escolha do
em adulto jovem, sem comorbidade = pneumococo antibiótico e sua via de administração.
(não há necessidade de lançar mão de
propedêutica diagnóstica cara e invasiva para Primeiramente, podemos fazer algumas perguntas
tentar confirmar um dado que já tem alta que auxiliam a nossa conduta: 1) inabilidade de
probabilidade pré-teste). Assim, na PAC, em manter nutrição oral, 2) má adesão ao
especial nos casos que serão tratados em regime tratamento, 3) doenças mentais, 4) história de
ambulatorial, a escolha do antibiótico é empírica, abusos de substâncias, 5) comprometimento
com base nos agentes mais frequentemente cognitivo ou funcional, 5) preocupação com
identificados em estudos epidemiológicos, moradia e outras condições, 6) sat < 90% em ar
eventualmente com algum ajuste em função de ambiente, 7) patógeno grave, 8) doença com
fator de risco específico ou situação rápida evolução. Se a resposta for sim para
epidemiológica (influenza aviária, Legionella, qualquer uma das perguntas, o paciente necessita
tuberculose e etc.). Segundo a ATS/IDSA, nos ser internado. Caso a resposta seja não,
pacientes que serão internados, deve-se colher realizamos os escores para avaliação da
hemoculturas e escarro (Gram + cultura) se gravidade.
houver indicação. Pacientes com pneumonia
O escore PSI é um escore de gravidade da
grave deverão ser avaliados por hemocultura,
doença que avalia o prognóstico quanto à
cultura do escarro (aspirado endotraqueal se
mortalidade em 30 dias e podem ser usados para
for intubado) e dosagens de antígenos
identificar pacientes de baixo risco que, são,
urinários para Legionella pneumophila e
portanto, candidatos ao tratamento ambulatorial.
Streptococcus pneumoniae.
Esse estudo abrange 20 variáveis que incluem:
características sociodemográficas, doenças
Situação Exames adicionais associadas, alterações laboratoriais, radiológicas
Tratamento Desnecessários e do exame físico e compreende duas etapas. Na
ambulatorial primeira, são avaliadas características
Tratamento em Gram e cultura de escarro; demográficas, de história e de exame físico. Se
enfermaria Duas hemoculturas; nenhum dado desta etapa for positivo, o paciente
é definido como classe I de risco e não necessita
Sorologia;
de maior exploração complementar. Entretanto, se
Antígeno urinário; na primeira etapa existir algum dado positivo,
Toracocentese. passe-se para a segunda etapa. Cada um dos
Tratamento em Todos os exames acima + dados avaliados recebe uma pontuação e, em
UTI broncoscopia ou aspirado função do total de pontos atingidos, os pacientes
traqueal com cultura são separados em 5 classes.
Em duas situações precisamos de exames
complementares:

- Pacientes sem resposta ao tratamento


empírico → hemocultura e cultura do escarro.

- PAC severa com necessidade de UTI →


hemocultura, cultura do escarro e antígenos na
urina para Legionella e Pneumococos.

CONDUTA

Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser


sempre avaliados quanto à gravidade da doença,
cuidado que tem impacto direto na redução da
mortalidade. Os escores de prognóstico
disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a
predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão
quanto ao local de tratamento — ambulatorial,
para o manejo adequado deste grupo de
pacientes. Para isso, os pacientes com a
presença de um critério maior ou de dois
critérios menores devem ser encaminhados para
UTI.

Critérios maiores
Choque séptico, necessitando de
vasopressores
Por ser mais prático que o PSI e apresentar
rendimento comparável, o CURB-65 tem sido Insuficiência respiratória aguda + Indicação
preferido na avaliação de pacientes que podem ser de ventilação mecânica
tratados ambulatorialmente. As vantagens do Critérios menores
CURB é que é um exame de execução rápida, Hipotensão arterial
pode ser feito a beira do leito, possui aplicabilidade
Relação PaO2/FiO2 < 250
imediata e facilidade de uso como critério
apropriado para estratificação da gravidade no Presença de infiltrado multilobular
nível de atenção primária e na emergência. No TRAT AM ENTO DA PNEUMONIA
entanto, a sua principal desvantagem é que não
considera comorbidades prévias do paciente. Bem, agora que já sabemos onde o paciente vai
ficar, como é o tratamento da pneumonia adquirida
• Confusão mental: ECG ≤ 8; na comunidade? Como já conversamos, o
• Ureia > 50 mg/dL; tratamento inicial para a maioria dos pacientes
• R frequência respiratória ≥ 30 ipm; permanece empírico antibiótico deve ser escolhido
• B PAS < 90 e PAD ≤ 60; de acordo com o quadro clínico do paciente.
• 65 idade > 65 anos.
Geralmente, não é necessário identificar o
Para cada um desses critérios, o paciente recebe patógeno para tratar paciente com PAC. No
um ponto. A partir desses pontos, eles são entanto, é necessário realizar cobertura para
divididos de acordo com a necessidade de patógenos atípicos de forma rotineira.
tratamento.
TRAT AM ENTO EMPÍRICO DA PAC NO
AM BULATÓRIO

Para pacientes acompanhados no ambulatório, a


primeira pergunta que devemos fazer é se o
paciente apresenta comorbidades associadas,
ou se possui fator de risco para pneumococo
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e resistente, como: uso de antibióticos nos
Tisiologia (SBPT) sugere uma abordagem últimos três meses ou se ele vive em regiões de
interessante, que além do CURB-65, inclui outras alta prevalência de pneumococo resistente aos
avaliações: macrolídeos.

• Doenças associadas; Caso o paciente seja previamente hígido e sem


• Curb-65; fator de risco para pneumococo resistente deve ser
• O sat O2; prescrito: 1) macrolídeo (azitromicina,
• R radiografia de tórax com sinais de gravidade; claritromicina e eritromicina), ou 2) beta
• Social; lactâmicos.
• Cognitivo;
Caso contrário, pode ser prescrito: 1) macrolídeo
• Fatores socioeconômicos;
+ betalactâmico (amoxicilina em doses altas,
• O medicação via oral.
amoxicilina-clavulanato, ceftriaxone). Em caso de
Há indicação de admissão à unidade de terapia alergias, pode ser recomendado o uso de
intensiva quando há uma probabilidade maior de fluoroquinolona respiratória (levofloxacin,
deteorização do quadro clínico ou alto risco de moxifloxaxin).
morte. Por isso, a internação em UTI é mandatória
Tratamento PAC ambulatorial CONSIDERAÇÕES GERAIS
Sem Beta Amoxicilina ou Nos pacientes com PAC e choque séptico
comorbida lactâmicos amoxicilina+clavulonato 7 persistente (após ressuscitação volêmica
des ou dias
Ou agressiva), podemos utilizar a proteína C ativada
fator de Azitromicina 3-5 dias ou
risco Macrolídeos (drotrecogina alfa ativada) dentro das primeiras
Claritromicina 7 dias 24h de internação (reduz a mortalidade por reduzir
Com Beta 5-7 dias a inflamação na sepse).
comorbida lactâmicos +
des ou macrolídeos A pneumonia comunitária deve ser tratada por sete
fator de a dez dias em quadros clínicos brandos e dez a
risco catorze (alguns autores citam 21) dias em casos
Em caso Quinolona Moxifloxacino, mais graves. A tendência atual é diminuir estes
de alergias levofloxacino ou tempos. Para isso, algumas regras devem ser
gemifloxacino 5-7 dias obedecidas. O paciente deve estar afebril por, no
TRAT AM ENTO EMPÍRICO DA PAC NA mínimo, três dias. A pneumonia por micoplasma ou
ENFERM ARIA clamídia deve ser tratada sempre por duas
semanas (catorze dias).
Para os pacientes internados em enfermaria, deve
ser prescrito: 1) macrolídeo + betalactâmico ou Critérios para conversão de antibioticoterapia
2) fluoroquinolona respiratória ou 3) beta intravenoso para oral:
lactâmico (se excluído legionella).
• Deglutição adequada para comprimidos,
capsulas ou líquidos;
Tratamento PAC enfermaria
• Sinais vitais estáveis por mais e 24 horas:
Beta lactâmicos Cefalosporina terceira geração ▪ Temperatura ≤ 38ºC;
+ macrolídeo (ceftriaxone ou cefotaxima) ou
▪ FC ≤ 100 bpm;
ampicilina/sulbactan + azitromicina
ou claritromicina por 7-10 dias. ▪ FR ≤ 24 ipm;
▪ PAS ≥ 90 mmHg.
Quinolona Moxifloxacino, levofloxacino ou
gemifloxacino 5-7 dias Critérios para alta hospitalar
Betalactâmico Cefalosporina terceira geração
(se excluído (ceftriaxone ou cefotaxima) ou • Critério para conversão do antibiótico para via
legionella) amoxicilina/clavulonato 7-10 dias oral;
• Estado mental basal;
TRAT AM ENTO EMPÍRICO DA PAC NA UTI
• Nenhuma evidência de anormalidade aguda
Para pacientes internados na UTI, devemos nos na doença de base ou laboratorial que
perguntar se existe risco de infecção por necessite continuar internado;
Pseudonomas aeruginosa. • Oxigenação adequada em ar ambiente ou
menos de 2 L/minuto de oxigênio (PaO2 > 60
Havendo risco de infecção por pseudonomas, o mmHg ou saturação de oxigênio > 92%), e a
tratamento é baseado em 1) betalactâmicos +
• basal para pacientes com hipoxemia crônica.
fluoroquinolona ou 2) betalactâmicos +
macrolídeo.

Tratamento PAC UTI


Betalactâmico + Cefalosporina terceira geração
macrolídeo (ceftriaxone ou cefotaxima) ou
ampicilina/sulbactan + azitromicina
ou claritromicina por 7-10 dias.
Betalactâmico + Cefalosporina terceira geração
quinolona (ceftriaxone ou cefotaxima) +
quinolona respiratória 7-14 dias
SEPSE comuns. No entanto, em metade dos casos, não
se detecta o microorganismo causador.
DEFINIÇÃO
FISIOPATOLOGIA
Sepse é uma síndrome clínica caracterizada por
anormalidades fisiológicos, biológicas e A resposta normal do hospedeiro à uma infecção é
bioquímicas causadas por uma resposta um processo complexo que localiza e controla a
inflamatória desregulada a uma infecção. É invasão bacteriana, enquanto se inicia um
uma condição grave que pode levar a disfunção de processo de reparação do tecido lesado. Envolve
múltiplos órgãos e óbito. a ativação da circulação e fixação de células
fagocíticas, assim como a produção de
EPIDEMIOLOGIA mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios.
A sepse resulta quando a resposta a infecção
A incidência de sepse é aumentada no inverno, se torna generalizada e ataca tecidos normais
talvez por conta da elevada prevalência de distantes do sítio da infecção.
infecções respiratórias. Os principais fatores de
risco que podem estar relacionados com o A sepse ocorre quando a liberação de mediadores
aumento das taxas de sepse são: idade avançada pró-inflamatórios em resposta a infecção excede a
(≥ 65 anos), imunossupressão, infecção por fronteira do sítio local, levando a uma resposta
patógenos multidrogas resistentes (MDR), generalizada. Quando um processo similar ocorre
internação em UTI, infecções nosocomiais, em resposta a uma lesão não-infecciosa, o
história de hospitalização prévia, pneumonia, processo é referido como SRIS.
bacteremia, diabetes, obesidade, neoplasia e
fatores genéticos. A sepse pode ser conceitualizada como uma
inflamação intravascular maligna. Maligna
O Brasil tem uma taxa extremamente alta de morte porque é incontrolável, sem regulação e
por sepse em UTIs, superando até mortes por autossustentada. Intravascular porque o sangue
acidente vascular cerebral e infarto nessas espalha os mediadores que geralmente estão
unidades. Segundo levantamento organizado por confinados a interações célula-a-célula dentro do
pesquisadores da Universidade Federal de São espaço intersticial. Inflamatória porque todas as
Paulo (Unifesp) e do Instituto Latino Americano de características da resposta séptica são
Sepse (ILAS), a cada ano morrem mais de 200 mil exageradas em comparação a resposta
pacientes adultos nas UTIs em decorrência da inflamatória normal.
síndrome. A estimativa é sombria, 55,7% dos
pacientes internados com sepse vão a óbito. Ainda não se tem uma justificativa aceita de
porque a resposta o sistema imune que se mantém
ETIOLOGIA localizada, algumas vezes se dissemina além do
local lesionado. A causa aparentemente é
Sepse pode se originar de praticamente qualquer multifatorial e pode incluir efeitos diretos da
organismo infectante. Portanto, a gama de invasão do microorganismo e efeitos diretos de
apresentações da síndrome é muito largo e várias suas toxinas, liberação exagerada de
vezes entre geográfica regiões. Sepse pode se mediadores inflamatórios e ativação do
originar de locais da comunidade ou resultar de sistema complemento. Nesse contexto, uma
uma estadia no hospital ou em outro resposta anti-inflamatória pode reduzir os efeitos
estabelecimento de saúde. tóxicos da resposta inflamatória intensa, porém
pode comprometer a proteção do indivíduo da
Cerca de 80% dos casos de sepse tratados no
infecção. Além do mais, alguns indivíduos podem
hospital surgem na comunidade, sendo o sítio mais
ter uma susceptibilidade genética maior para
comum de infecção o pulmão (64% dos casos),
desenvolver sepse.
seguido do abdômen (20%), corrente sanguínea
(15%) e tratos geniturinários (14%). Entre os mediadores pró-inflamatórios, merecem
destaque o TNF-a e IL-1. Ambas podem causar
Um estudo relatou uma prevalência quase igual de
febre, hipotensão, leucocitose, indução de outros
infecções bacterianas gram-positivas e gram-
mediadores e ativação simultânea da coagulação
negativas entre pacientes com sepse, embora
e fibrinólise. Quanto ao sistema complemento,
infecções por bactérias gram-positivas sejam mais
existe evidência de que a inibição da cascata do
sistema diminui a inflamação e melhora a • Hipotensão: responsiva à reposição com
mortalidade em modelos animais. cristaloides;
• Creatinina > 2mg/dL;
A lesão celular disseminada pode ocorrer quando
• Lactato elevado;
a resposta imune se espalha além do sítio local da
• Bilirrubina total > 4mg/dL;
infecção ocasionando sepse. O mecanismo exato
• Débito urinário < 0,5Ml/kg/h em menos de 2
da lesão celular não é compreendido, no entanto,
horas;
alguns mecanismos propostos incluem isquemia
• Plaquetas < 12.000 mm³;
tecidual (insuficiência de oxigênio em relação a
• PaO2 < 250 sem pneumonia ou PaO2 < 200
necessidade do mesmo), dano citopático (lesão
com pneumonia;
celular direta por mediadores pró-inflamatórios ou
seus produtos) e alteração na taxa de apoptose. O • INR > 1,5.
mecanismo de falência orgânica na sepse pode se
O Choque Séptico, por sua vez, é definido quando
relacionar com a diminuição da utilização de
o paciente está em um quadro de Sepse Grave e
oxigênio associado a uma disfunção mitocondrial
apresenta uma hipotensão não responsiva à
em vez de ou adicionalmente uma baixa
administração de volume, se fazendo necessário
distribuição de oxigênio aos tecidos.
administrar vasopressores para conseguir manter
A lesão celular, originada pela liberação excessiva sua pressão arterial.
de mediadores pró-inflamatórios e anti-
inflamatórios, geralmente progride para a SEPSIS 3
disfunção orgânica. Nenhum sistema ou órgão No ano de 2016 ocorreu o Third International
está protegido das consequências da sepse. Consensus Definitions for Sepsis and Septic
Shock, o famoso Sepsis-3, que atualizou a forma
SEPSIS 2 com que avaliamos os quadros de Sepse,
A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica realizando mudanças importantes como a retirada
(SIRS/SRIS) é uma condição em que o corpo dos critérios de SIRS para definição de Sepse e
apresenta uma reação inflamatória exacerbada e também a extinção do termo “Sepse Grave”.
isso pode ser identificado caso o paciente
Assim, sepse deixa de ser apenas o processo
apresente 2 ou mais dos seguintes critérios:
infeccioso com inflamação generalizada e passa a
já envolver evidências de disfunção dos órgãos.
• Temperatura > 38ºC ou < 36ºC;
Ou seja, representa a combinação de infecção
• FC > 90 bpm;
suspeita ou comprovada + disfunção orgânica
• FR > 20 ipm;
ameaçadora à vida.
• Leucócitos > 12.000 cels/mm³ ou < 4.000
cels/mm³ ou > 10% bastões. Assim, criou-se o Sequential Organ Failure
Assessment (SOFA), um critério que consegue
A síndrome da resposta inflamatória sistêmica não
avaliar a disfunção orgânica através de uma série
é utilizada como critério de sepse, já que é
de dados de cada um dos sistemas orgânicos,
bastante inespecífico, podendo estar presente em
como vemos na tabela abaixo:
muitos pacientes com: pancreatite aguda,
vasculites, TEP, queimaduras, pós-operatório.

A sepse, na verdade, é uma SIRS proveniente de


um processo infeccioso, e quando a gente entende
isso, fica mais fácil de concluir que para podermos
definir que um paciente está em Sepse, nós vamos
precisar ter pelo menos 2 dos critérios da SIRS e
mais um foco infeccioso (seja ele suspeitado ou
comprovado).

Já a Sepse Grave consiste em um quadro de


Sepse associado a sinais de hipoperfusão tecidual
ou de disfunção orgânica, devendo apresentar,
portanto, um ou mais dos seguintes achados:
Para a sepse está presente o paciente deve
apresentar um aumento de 2 pontos no escore M ANIFESTAÇÕES CLÍNIC AS
SOFA. Ou seja, o que define é o aumento de 2 Pacientes que apresentam suspeita ou diagnóstico
pontos, então se o paciente tiver alguma condição de sepse apresentam-se tipicamente com
de base que confira alguma pontuação no SOFA, hipotensão, taquicardia, febre e leucocitose. Nos
ele só terá evidência de disfunção orgânica se casos mais graves, pode ter ainda sinais de
crescer 2 pontos em relação a essa pontuação choque (pele fria e cianose) e desenvolver
prévia. disfunção de órgãos (oligúria, injúria renal aguda,
alteração do estado mental). Além disso, é
No entanto, o SOFA acaba sendo uma escala
importante salientar que as manifestações são
muito complexa e pouco prática na hora de avaliar
inespecíficas como outras várias condições
um paciente. Foi justamente por isso que se criou
(pancreatite, síndrome da angústia respiratória
o que chamamos de quickSOFA (qSOFA), uma
aguda).
versão simplificada – mas com valor preditivo
similiar ao do SOFA - em que só iremos avaliar se Sinais e sintomas específicos de uma fonte
o paciente possui 3 critérios: infecciosa (tosse e dispneia podem sugerir
pneumonia, dor e exsudato purulento em um
• Hipotensão sistólica: PAS ≤ 100mmHg;
ferimento cirúrgico pode sugerir um abscesso
• Alteração do estado mental: GCS < 15
subjacente) podem coexistir com a síndrome
• Taquipneia ≥ 22 ipm.
séptica, até para ajudar no diagnóstico do foco
A presença de pelo menos 2 desses parâmetros é infeccioso.
um indicativo de situações que podem apresentar
Hipotensão arterial (PAS < 90 mmHg, PAM < 70
disfunção orgânica, o que se faz necessário
mmHg ou diminuição da PAS > 40 mmHg),
confirmar por meio do SOFA.
temperatura > 38,3ºC ou < 36ºC, frequência
Diante de todas essas alterações, o conceito de cardíaca > 90 bpm, frequência respiratória >
Choque Séptico acaba mudando por tabela, de 20ipm, sinais de diminuição da perfusão orgânica
modo que para definirmos que o paciente está com (pele quente e corada) podem estar presentes nas
um quadro desses, ele deve apresentar sepse, fases iniciais da sepse. Como essa síndrome
necessita de vasopressores para manter a tende a progredir para choque, a pele pode se
pressão arterial média (PAM) ≥ 65mmHg, como tornar fria e pálida por conta do redirecionamento
também deve apresentar uma hiperlactatemia, do fluxo sanguíneo para os órgãos essenciais.
o que corresponde a um lactato sérico superior Outros sinais de hipoperfusão incluem alteração
a 2mmol/L (18mg/dL). do estado mental, obnubilação ou agitação, além
de oligúria ou anúria. Diminuição ou ausência dos
ruídos hidroaéreos podem estar presentes nas
fases finais de hipoperfusão.
ACHADOS LABORATORIAIS antes de iniciar a antibioticoterapia, contudo,
sem retardar o início da mesma!
Os achados laboratoriais são inespecíficos e
podem estar associados as anormalidades por Com relação à antibioticoterapia, o ideal é que
conta da causa da sepse, da hipoperfusão tecidual ela aconteça por 7 a 10 dias, sendo que deve ser
ou da disfunção orgânica. Pode apresentar iniciada com uma droga de amplo espectro – até
leucocitose (> 12.000) ou leucopenia (< 4000), porque o resultado da hemocultura deve demorar.
número normal de leucócitos com ≥ 10% de formas No entanto, é imprescindível que uma vez tendo
jovens (denominando desvio à esquerda), definido o patógeno, o espectro do medicamento
hiperglicemia (glicose plasmática > 140 mg/dL) na seja reduzido, a fim de evitar o desenvolvimento de
ausência de diabetes, PCR com aumento de 2x do microrganismos cada vez mais resistentes.
valor de referência, hipoxemia arterial (PaO2/FiO2
< 300), oligúria aguda (débito urinário < 0,5 Já no que tange à reposição volêmica, o indicado
mL/kg/h por pelo menos 2h apesar da é que ela seja iniciada imediatamente em todo
ressuscitação volêmica), elevação de creatinina > paciente com sepse e/ou hipotensão e
0,5 mg/dL, coagulopatias (RNI > 1.5 ou TPPa > hiperlactatemia, sendo que essa deve ser feita
60s), trombocitopenia (plaquetas < 100.000), através da infusão de, no mínimo, 30mL/kg de
hiperbilirrubinemia (> 4 mg/dL), hiperlactemia cristaloides por cerca de 3h. Em cima disso, a
(lactato sérico > 2mmol/L). gente percebe que provavelmente a reposição
volêmica nós não vamos conseguir concluir dentro
O aumento de lactato sérico > 2mmol/L pode ser daquele intervalo de 1h de que falamos lá no início.
uma manifestação de hipoperfusão orgânica na Contudo, o que não pode acontecer é a gente
presença ou ausência de hipotensão, além de ser concluir esse intervalo com a pressão sanguínea
um importante fator para a avaliação inicial do ainda baixa, de modo que nesses casos está
paciente, já que lactato elevado é sinônimo de pior indicado o uso de drogas vasopressoras para
prognóstico. Um lactato sérico > 4 mmol/L é manter a pressão arterial média (PAM) ≥ 65mmHg.
consistente com choque séptico, apesar de não
ser diagnóstico. Outros achados laboratoriais que
estão associados com sepse de maior gravidade
são: trombocitopenia e aumento de RNI,
bilirrubinas e creatinina.

TRAT AM ENTO

A Campanha de Sobrevivência à Sepse (CSS)


definiu, em 2018, que a abordagem de um
paciente com Sepse deve se dar de forma imediata
e aí, o ideal é que em 1h a gente consiga
estabelecer uma conduta baseada em 4 passos:

O lactato em si não mede diretamente a perfusão


tecidual, no entanto, se o paciente tiver em
uma hiperlactatemia (> 2mmol/L), isso pode ser
um indicativo de hipóxia, então aqui na sepse a
gente vai utilizar essa medida para guiar a
reposição volêmica que veremos mais adiante.

A hemocultura é o exame que vai nos dizer o


agente causal da Sepse e, com isso, qual é a
terapia medicamentosa indicada para o paciente –
por isso que ele é tão importante para nós! Mas
atenção com uma coisa: a administração de
antibióticos (que é o próximo passo da nossa
conduta) pode agir em minutos e provocar
alterações no resultado do exame, de modo que a
amostra para hemocultura deve ser colhida

Você também pode gostar