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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................... 3
2. Junção neuromuscular ............................................. 6
3. Anatomia do músculo esquelético ....................10
4. Mecanismo geral da contração...........................17
5. Mecânica muscular .................................................23
6. Contração na musculatura lisa ...........................28
7. Fadiga muscular........................................................29
Referências Bibliográficas .........................................33
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 3

1. INTRODUÇÃO proteínas que geram mudanças de


configuração, proporcionando assim,
A força muscular é um conjunto de
uma contração rápida e voluntária.
forças cuja origem está no tecido
A ação dessa força é consequência
muscular. Fisiologicamente, nes-
da transformação de energias, como
se tecido, acontecem interações de
descrito:

FLUXOGRAMA. FORÇA MUSCULAR

Energia
química
= Energia térmica + Energia térmica

Biofísica: fundamentos e aplicações. DURÁN, J. E. R. São Paulo: Prentice (2003)

Nesse processo, o músculo trans- qual T é o rendimento do trabalho, C é


forma energia química em traba- a carga e D a distância do movimento
lho e calor, onde a sua contração é contra a carga. A energia necessária
medida pela alteração da força exer- para se realizar trabalho é derivada
cida em seus pontos fixos ou pelo de reações químicas nas células mus-
seu simples encurtamento das fibras culares durante a contração.
musculares. Sendo assim, a muscu-
latura transmite uma resposta à es- SE LIGA! A contração muscular é um
timulação para o meio ambiente por processo extraordinário que permite a
meio de movimentos. geração de força para mover ou resistir
a uma carga. Em fisiologia muscular, a
Quando o músculo se contrai contra força produzida pela contração muscular
uma carga, ele realiza trabalho. Isso é chamada de tensão muscular. A con-
significa que a energia é transferi- tração, a geração de tensão pelo mús-
culo, é um processo ativo que necessita
da do músculo para a carga externa, de energia fornecida pelo ATP, já o rela-
para levantar um objeto até a maior xamento é a liberação da tensão que foi
altura ou para superar a resistência produzida durante a contração.
ao movimento.
Em termos matemáticos, o trabalho é Do ponto de vista morfológico, po-
definido pela equação: T = C x D, na de-se diferenciar entre músculo
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 4

esquelético, músculo cardíaco e O músculo cardíaco é encontrado


músculo liso. Esses três tipos de apenas no coração e movimenta o
músculo apresentam pecularida- sangue pelo sistema circulatório. Os
des no mecanismo de contração. A músculos esquelético e cardíaco são
maioria dos músculos esqueléticos classificados como músculos estria-
está unida aos ossos do esqueleto, o dos, devido ao padrão alternado de
que capacita esses músculos a con- bandas claras e escuras observado
trolarem os movimentos corporais. na microscopia óptica.

FLUXOGRAMA. CLASSIFICAÇÃO DE MÚSCULOS

Esquelético Estriado

MÚSCULOS Liso

Cardíaco Estriado

Adaptado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada.


SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

A contração muscular esquelética contração-relaxamento é explicado


envolve uma série de eventos celu- pela teoria dos filamentos deslizan-
lares, que tem início na junção neu- tes da contração muscular.
romuscular através da conversão de
um sinal químico (a acetilcolina libe- SE LIGA! Nos músculos intactos, um
rada pelo neurônio motor somático) único ciclo de contração-relaxamento é
em um sinal elétrico na fibra mus- chamado de abalo muscular.
cular. Seguido da etapa de acopla-
mento excitação-contração, que
é o processo onde os potenciais de
ação musculares produzem um si-
nal de cálcio, o qual, por sua vez, ati-
va o ciclo de contração-relaxamento.
Por fim, no nível molecular, o ciclo de
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 5

FLUXOGRAMA. CONTRAÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA

Acoplamento
excitação-contração

Eventos na junção
Sinal de Cálcio
neuromuscular
Teoria dos filamentos
deslizantes
Ciclo de
contração-relaxamento
Abalo muscular

Adaptado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada.


SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

A unidade básica de contração em


um músculo esquelético íntegro é a
unidade motora, formada por um
grupo de fibras musculares que tra-
balham em conjunto e pelo neurônio
motor somático que inerva essas fi-
bras. Quando o neurônio motor so-
mático dispara um potencial de ação,
todas as fibras musculares daquela
unidade motora se contraem.

SE LIGA! Embora um neurônio motor


somático inerve diversas fibras muscu-
lares, cada fibra muscular é inervada por
apenas um neurônio motor.
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 6

Um músculo pode possuir


muitas unidades motoras de
diferentes tipos MEDULA ESPINAL

Neurônio 1
Neurônio 2
Neurônio 3
Nervo
motor

LEGENDA

Unidade motora 1
Fibras
musculares Unidade motora 2
Unidade motora 3

Figura 1. Estrutura de unidade motora. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee
Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

2. JUNÇÃO anatômica quanto funcionalmente.


NEUROMUSCULAR Sabe-se que as vias motoras somáti-
cas são constituídas por um neurônio
As vias motoras somáticas, que con-
único que se origina no SNC e proje-
trolam a musculatura esquelética,
ta seu axônio até o tecido-alvo, que
diferem das vias autonômicas tanto
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 7

é sempre um músculo esquelético e No terminal axonal há muitas mito-


são sempre excitatórias. Diferente- côndrias que fornecem trifosfato de
mente das vias autonômicas, que po- adenosina (ATP), a fonte de energia
dem ser excitatórias ou inibidoras. que é usada para a síntese de trans-
A sinapse entre um neurônio motor missor excitatório: a acetilcolina
somático e uma fibra muscular es- (ACh).
quelética é chamada de junção neu- O receptor nicotínico da acetilcolina
romuscular. Assim como todas as medeia a neurotransmissão pós-si-
outras sinapses, a junção neuromus- náptica na junção neuromuscular e
cular tem três componentes: o termi- nos gânglios autônomos periféricos.
nal axonal pré-sináptico do neurônio Sabe-se que o receptor nicotínico no
motor, contendo vesículas sinápticas adulto é composto por cinco peptíde-
e mitocôndrias, a fenda sináptica e os: dois peptídeos α, um peptídeo β,
a membrana pós-sináptica da fibra um peptídeo γ e um peptídeo δ.
muscular esquelética.

ACh Na+

ACh
Exterior

Interior

Figura 2. Receptor nicotínico de acetilcolina.


Fonte: Farmacologia básica e clínica. Katzung.
Na+ 13. ed. Porto Alegre (2017)

A ativação de receptor nicotínico cau- receptores nas subunidades α-β e δ-α


sa despolarização da célula nervosa que determina a abertura do canal.
ou da membrana da placa terminal O movimento subsequente de sódio
neuromuscular, devido a ligação de e de potássio através do canal está
duas moléculas de acetilcolina aos
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 8

associado a uma despolarização gra- essa mudança de voltagem é denomi-


duada da membrana da placa motora, nada potencial da placa motora.

K+
Na+ ACh

K+ Na+

Canal fechado Canal aberto


Figura 3. Abertura do receptor nicotínico de acetilcolina. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SIL-
VERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

Se o potencial for pequeno, a permea- o potencial da placa motora for gran-


bilidade e o potencial da placa motora de, a membrana muscular adjacente
normalizam-se, dessa forma, não há é despolarizada e ocorre propagação
propagação de um impulso da região de um potencial de ação ao longo de
da placa motora para o restante da toda a fibra muscular.
membrana muscular. Entretanto, se

+20

Potencial de
membrana
da fibra
muscular em
mV
-80 2
ms

Tempo
Figura 4. Potencial de ação muscular. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee
Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 9

Em relação aos aspectos quantita- efeitos devastadores sobre todo o


tivos dos potenciais musculares, o corpo. Sem a comunicação entre o
potencial de repouso da membra- neurônio motor e o músculo, os mús-
na é de cerca de -80 a -90 milivolts culos esqueléticos responsáveis pe-
nas fibras musculares esqueléticas, o los movimentos e pela manutenção
mesmo das grandes fibras nervosas da postura enfraquecem, da mesma
mielinizadas. A duração do potencial forma que os músculos esqueléticos
de ação é de 1 a 5 milissegundos no envolvidos na respiração.
músculo esquelético, cerca de cinco
vezes mais prolongado que nos gran- SE LIGA! A miastenia grave é a doença
des nervos mielinizados. A velocidade mais comum da junção neuromuscular,
de condução é de 3 a 5 m/s, cerca de a patologia é caracterizada pela perda
1/13 da velocidade de condução nas dos receptores de acetilcolina.
grandes fibras nervosas mielinizadas
que excitam o músculo esquelético. FLUXOGRAMA. MECANISMO NA JUNÇÃO
NEUROMUSCULAR

SE LIGA! A magnitude do potencial da


placa motora está diretamente relacio- Potencial de ação
nada com a quantidade de acetilcolina atinge o terminal axonal
liberada.
Abertura de canais de Ca+
dependentes de voltagem
No músculo esquelético, o influxo re-
sultante de sódio que despolariza a fi- Fusão das vesículas sinápticas e a
bra muscular, dispara um potencial de liberação de Ach na fenda sináptica
ação que leva à contração da célula
muscular esquelética. A ação da ace- Receptor nicotínico liga-se
tilcolina na placa motora terminal do a duas moléculas de Ach

músculo esquelético é sempre excita-


tória, produzindo contração muscular. Abertura do canal permite
a passagem de Na+ e K+
Não há inervação antagonista com
a função de relaxar os músculos es-
Influxo de Na+
queléticos. Em vez disso, o relaxamen-
to ocorre quando os neurônios motores
somáticos são inibidos dentro do SNC,
Despolarização da fibra muscular
impedindo a liberação de ACh sobre
as células musculares esqueléticas.
Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem
A interrupção da transmissão sináp- integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto
Alegre (2017)
tica na junção neuromuscular tem
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 10

3. ANATOMIA DO assim como um nervo é um conjun-


MÚSCULO ESQUELÉTICO to de axônios. Cada fibra muscular
esquelética é uma célula longa e ci-
Os músculos trabalham em conjunto,
líndrica, que pode possuir até várias
como uma unidade. Um músculo es-
centenas de núcleos distribuídos pró-
quelético é um conjunto de células
ximos da superfície da fibra.
musculares, ou fibras musculares,

SAIBA MAIS!
As doenças adquiridas que afetam o tecido muscular esquelético incluem doenças infeccio-
sas, como a gripe, que provocam fraqueza e dores, e o envenenamento por toxinas, como
as produzidas no botulismo (Clostridium botulinus) e no tétano (Clostridium tetani). A toxina
botulínica atua diminuindo a liberação de acetilcolina pelo neurônio motor somático.

As fibras de cada músculo estão or- endoplasmático modificado que en-


ganizadas com seus eixos mais lon- volve cada miofibrila e é formado por
gos dispostos em paralelo. Cada túbulos longitudinais com porções
fibra muscular esquelética está en- terminais alargadas, chamadas de
volvida por tecido conectivo. O teci- cisternas terminais.
do conectivo também envolve grupos
de fibras musculares adjacentes, as
TERMO EQUIVALENTE
quais formam conjuntos, chamados TERMO GERAL
NO MÚSCULO
de fascículos. Fibras colágenas e Célula muscular Fibra muscular
elásticas, nervos e vasos sanguíneos Membrana plasmática Sarcolema
dispõem-se entre os fascículos. Citoplasma Sarcoplasma
A membrana plasmática de uma fibra Retículo endoplasmático Retículo
muscular é chamada de sarcolema, modificado sarcoplasmático

e o citoplasma é chamado de sarco- Tabela 1. Terminologia das células musculares. Fonte:


Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVER-
plasma. As principais estruturas in- THORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)
tracelulares dos músculos estriados
são as miofibrilas, que são feixes
extremamente organizados de prote- As cisternas terminais são adjacen-
ínas contráteis e elásticas envolvidas tes e intimamente associadas a uma
no processo de contração. rede ramificada de túbulos transver-
sos, também chamados de túbulos
Os músculos esqueléticos também T. O conjunto formado por um túbu-
contêm um extenso retículo sar- lo T e pelas duas cisternas terminais
coplasmático, que é um retículo
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 11

associadas a cada um de seus lados,


constitui uma tríade. Os túbulos T SE LIGA! Sem os túbulos T, os poten-
permitem que os potenciais de ação ciais de ação alcançariam o centro da fi-
bra somente pela condução do potencial
se movam rapidamente da superfície
de ação pelo citosol, um processo mais
para o interior da fibra muscular, de lento e menos direto, que retardaria o
forma a alcançar as cisternas termi- tempo de resposta da fibra muscular.
nais quase simultaneamente.

Os túbulos T conduzem
O retículo
os potencias de ação
sarcoplasmático
para o interior da fibra
armazena Ca+ Sarcolema
muscular

Tríade Filamento grosso Filamento fino Cisterna terminal


Figura 5. Túbulos T. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto
Alegre (2017)

Cada miofibrila é composta por diver- tropomiosina e troponina; e duas


sos tipos de proteínas organizadas proteínas acessórias gigantes, a titi-
em estruturas contráteis repetidas, na e a nebulina.
chamadas de sarcômeros. As proteí- A miosina é uma proteína motora
nas das miofibrilas incluem a proteína com capacidade de produzir movi-
motora miosina, que forma os fila- mento. Há várias isoformas de mio-
mentos grossos; os microfilamentos sina em diferentes tipos de músculo,
de actina, que formam os filamen- as quais influenciam a velocidade de
tos finos; as proteínas reguladoras
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 12

contração do músculo. Cada molécu- contém um sítio de ligação para a


la de miosina é composta de cadeias actina.
proteicas que se entrelaçam, forman- No músculo esquelético, cerca de 250
do uma longa cauda e um par de moléculas de miosina unem-se para
cabeças. formar um filamento grosso. Cada
A cauda do filamento grosso asseme- filamento grosso está organizado de
lha-se a um bastão de consistência modo que as cabeças da miosina fi-
rígida, mas as projeções que formam quem agrupadas nas extremidades
as cabeças da miosina possuem uma do filamento e a região central seja
região elástica em dobradiça (móvel), formada por um feixe de caudas da
no ponto onde as cabeças se unem à miosina.
cauda. A região em dobradiça permi- A actina é a proteína que forma os fi-
te o movimento das cabeças em tor- lamentos finos da fibra muscular. Uma
no do ponto de fixação. molécula isolada de actina é uma pro-
Cada cabeça de miosina possui duas teína globular (actina G). Normalmen-
cadeias proteicas: uma cadeia pesada te, várias moléculas de actina G poli-
e uma cadeia leve, menor. A cadeia merizam para formar cadeias longas
pesada é o domínio motor capaz de ou filamentos, chamados de actina F.
ligar o ATP e utilizar a energia da li- No músculo esquelético, dois políme-
gação fosfato de alta energia do ATP ros de actina F enrolam-se um no ou-
para gerar movimento. Como o domí- tro, como um colar de contas duplo,
nio motor funciona como uma enzi- para formar os filamentos finos da
ma, ele é considerado uma miosina- miofibrila.
-ATPase. A cadeia pesada também
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 13

Mitocôndrias

Retículo sarcoplasmático
Filamento Filamento
Núcleo
grosso fino

Túbulos T

Miofibrila
Sarcolema

Banda A
Miofibrila Sarcômero

Miofibrila

Linha M
Banda I Zona H

Componentes de
Uma miofibrila
Titina

Disco Z Linha M Disco Z


Ligações cruzadas
de miosina

Filamentos grossos Filamentos finos


Linha M

Titina

Troponina Nebulina
Cabeças
da
miosina
Cauda da
miosina
Tropomiosina
Molécula de actina G

Figura 6. Estrutura da fibra muscular esquelética. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVER-
THORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

Na maior parte do tempo, os filamen- de actina G tem um único sítio de li-


tos grossos e finos de cada miofibrila, gação à miosina. Cada cabeça da
dispostos em paralelo, estão conec- miosina tem um sítio de ligação à ac-
tados por ligações cruzadas de mio- tina e um sítio de ligação ao ATP. As
sina, as quais atravessam o espaço ligações cruzadas formam-se quando
entre os filamentos. Cada molécula as cabeças de miosina dos filamentos
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 14

grossos se ligam à actina dos filamen- banda I, banda A, zona H e linha


tos finos. M. Em um arranjo tridimensional, as
moléculas de actina e de miosina for-
SE LIGA! As ligações cruzadas têm dois
mam uma treliça de filamentos finos
estados: um estado de baixa energia e grossos dispostos em paralelo e so-
(músculos relaxados) e um estado de brepostos. Os filamentos são manti-
alta energia (contração muscular). dos no lugar por suas ligações às pro-
teínas do disco Z (filamentos finos) e
Cada sarcômero é constituído pe- da linha M (filamentos grossos).
los seguintes elementos: discos Z,

FLUXOGRAMA 5. ESTRUTURA DE UM SARCÔMERO

Sítio de ligação dos


Disco Z
filamentos finos (actina)

Região ocupada somente


Banda I
por filamentos finos

Local de sobreposição
SARCÔMERO Banda A
entre a actina e a miosina

Região ocupada somente por


Zona H
filamentos grossos (miosina)

Sitio de ligação dos filamentos


Linha M
grossos (miosina)

Fonte: Biofísica da contração muscular.


https://www.slideshare.net/larissedalla/aula-biofsica-da-contrao-muscular 

O alinhamento adequado dos fila- Possui duas funções: estabilizar a po-


mentos dentro de um sarcômero é sição dos filamentos contráteis e fa-
assegurado por duas proteínas: titina zer os músculos estirados retornarem
e nebulina. A titina é uma molécula ao seu comprimento de repouso, o
elástica muito grande, sendo a maior que ocorre devido à sua elasticidade.
proteína conhecida, composta por A titina é auxiliada pela nebulina, uma
mais de 25 mil aminoácidos. proteína gigante não elástica que
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 15

acompanha os filamentos finos e se no alinhamento dos filamentos de ac-


prende ao disco Z. A nebulina auxilia tina do sarcômero.

A nebulina auxilia
Disco Z no alinhamento da Actina Disco Z
actina
Linha M

A titina proporciona Miosina


elasticidade e estabiliza a
miosina
Figura 7. Titina e nebulina. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed.
Porto Alegre (2017)

SE LIGA! Distrofias musculares: em


certas doenças genéticas há ocorrên-
cia de lesão do citoesqueleto. Assim, na
distrofia muscular dos tipos Duchenne
e Becker, a proteína distrofina está le-
sionada, de modo que os pacientes de-
senvolvem uma fraqueza progressiva.
Nas distrofias miotônicas, igualmente
hereditárias, existe um erro de formação
de algumas proteínas de canais iônico,
de modo que a musculatura é incapaz
de transformar adequadamentte em
contrações os potenciais de ação que
chegam.
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 16

FLUXOGRAMA. ESTRUTURA DA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA

MÚSCULO
ESQUELÉTICO

Tecido conectivo Fascículos musculares Vasos sanguíneos Nervos

Compostos por
fibras musculares

Sarcolema e Túbulos T Sarcoplasma Vários núcleos

Retículo
Miofibrilas Mitocôndrias Grânulos de glicogênio
sarcoplasmático

Sarcômeros

Filamentos finos Filamentos grossos

Troponina Miosina

Actina Titina

Tropomiosina Nebulina

SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana:


uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre (2017)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 17

4. MECANISMO GERAL DA ao lado um do outro, que é o proces-


CONTRAÇÃO so contrátil. Após fração de segun-
do, os íons cálcio são bombeados de
O ínicio e a execução da contração
volta para o retículo sarcoplasmático
muscular ocorrem nas seguintes eta-
pela bomba de Ca+ da membrana,
pas: os potenciais de ação cursam
onde permanecem armazenados até
pelo nervo motor até suas termina-
que novo potencial de ação muscular
ções nas fibras musculares e em cada
se inicie; essa remoção dos íons cál-
terminação, o nervo secreta pequena
cio das miofribilas faz com que a con-
quantidade das substância neuro-
tração muscular cesse.
transmissora acetilcolina. A acetilco-
lina age em área local da membrana
da fibra muscular para abrir múltiplos Mecanismo molecular da
canais de cátions. contração muscular
A abertura dos canais permite a di- Quando o músculo contrai, os fila-
fusão de grande quantidade de íons mentos grossos e finos deslizam uns
sódio para o lado interno da membra- sobre os outros e os discos Z aproxi-
na das fibras musculares. Isso causa mam-se à medida que o sarcômero
despolarização local que, por sua encurta. A banda I e a zona H, que são
vez, produz a abertura de canais de as regiões onde não há sobreposição
sódio, dependentes da voltagem. Isso de actina e de miosina no estado de
desencadeia o potencial de ação na repouso, praticamente desaparecem.
membrana.
Apesar do encurtamento do sarcô-
O potencial de ação se propraga por mero, o comprimento da banda A
toda a membrana da fibra muscular permanece constante. Essas modifi-
do mesmo modo como o potencial cações são consistentes com o des-
de ação cursa pela membrana das lizamento dos filamentos finos de ac-
fibras nervosas. O potencial de ação tina sobre os filamentos grossos de
despolariza a membrana muscu- miosina, à medida que os filamentos
lar, e grande parte da eletricidade finos se movem em direção à linha M,
do potencial de ação flui pelo centro no centro do sarcômero. Esse proces-
da fibra muscular. Fazendo com que so deu origem ao nome da teoria dos
o retículo sarcoplasmático libere filamentos deslizantes.
grande quantidade de íons cálcio
A teoria dos filamentos deslizantes
armazenados nesse retículo.
também explica como um músculo
Os íons cálcio ativam as forças atra- pode ser capaz de contrair e gerar
tivas entre os filamentos de misoina força sem necessariamente produzir
e actina, fazendo com que deslizem um movimento.
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 18

I A I

Z Z

Relaxado
I A I

Z Z

Figura 8. Sarcômero durante contração. Fon-


te: Tratado de fisiologia médica. HALL, John
Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall.
Contraído 13. ed. Rio de Janeiro. (2017)

tempo. O movimento de força se repe-


SE LIGA! De acordo com a teoria dos fila- te muitas vezes ao longo de uma con-
mentos deslizantes, a tensão gerada em tração. As cabeças de miosina ligam-
uma fibra muscular é diretamente propor-
-se, empurram e soltam as moléculas
cional ao número de ligações cruzadas de
alta energia formadas entre os filamentos de actina várias vezes, à medida que
finos e grossos. As ligações cruzadas da os filamentos finos se movem em di-
miosina movem os filamentos de actina. O reção ao centro do sarcômero.
movimento das ligações cruzadas da mio-
sina fornece a força que move o filamento
de actina durante uma contração. SE LIGA! A energia necessária para a
geração do movimento de força é obti-
da através do ATP. A miosina conver-
Um sinal de cálcio inicia o movimen- te a energia da ligação química do ATP
to de força, produzido quando as li- na energia mecânica necessária para
o movimento das ligações cruzadas. A
gações cruzadas da miosina mudam miosina é uma ATPase que hidroliza o
de conformação, movendo-se para a ATP, formando ADP e fosfato inorgânico
frente e empurrando os filamentos (Pi). A energia liberada nesse processo
de actina em direção ao centro do é capturada pela miosina e armazenada
como energia potencial no ângulo for-
sarcômero. Ao final do movimento de mado entre a cabeça da miosina e seu
força, cada cabeça de miosina solta-se eixo longitudinal. Nessa posição, diz-se
da actina, inclina-se para trás e liga-se que as cabeças da miosina estão “en-
gatilhadas”, ou prontas para disparar o
a uma nova molécula de actina, ficando movimento de força. A energia poten-
pronta para dar início a um novo ciclo. cial armazenada nas cabeças engatilha-
das transforma-se na energia cinética
Durante a contração, nem todas as ca-
do movimento de força que desloca a
beças de miosina se soltam ao mesmo actina.
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 19

O íon cálcio “liga” e “desliga” duran- actina-miosina fracas, de pouca for-


te a contração muscular através da ça, porém a miosina fica impedida de
troponina (TN), um complexo ligante completar o seu movimento de força.
de cálcio constituído por três proteí- Antes que a contração possa ocorrer,
nas. A troponina controla o posiciona- a tropomiosina deve ser deslocada
mento de um polímero proteico alon- para a posição “ligada”, o que libera a
gado, a tropomiosina. Em um músculo porção restante do sítio de ligação à
esquelético no estado de repouso, a miosina presente na actina.
tropomiosina enrola-se ao redor dos A mudança entre os estados “liga-
filamentos de actina e cobre de forma do” e “desligado” da tropomiosina é
parcial todos os sítios que permitiriam regulada pela troponina. Quando a
a ligação da miosina na actina. contração é iniciada em resposta ao
Essa é a posição de bloqueio da cálcio, uma das proteínas do comple-
tropomiosina, ou posição “desliga- xo – a troponina C – liga-se reversi-
da”. Ainda podem ocorrer ligações velmente ao Ca+.

A B ↑ Ca+ no citosol

Troponina Actina G A tropomiosina desloca-


se, expondo o sítio de
ligação presente na
molécula de actina G

Cabeça da A actina
miosina é
Tropomiosina
movida

Movimento de
força

Figura 9. Troponina e tropomiosina. (A) Estado relaxado. A cabeça da miosina está engatilhada. A tropomiosina blo-
queia de forma parcial todos os sítios de ligação presentes na molécula de actina. A miosina interage de modo fraco
com a actina. (B) Início da contração. O cálcio promove o início da contração. Fonte: Fisiologia humana: uma aborda-
gem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

O complexo cálcio-troponina C deslo- formem ligações cruzadas fortes, de


ca a tropomiosina, afastando-a com- alta energia, e executem o movimento
pletamente dos sítios de ligação à mio- de força, puxando o filamento de acti-
sina na actina . Essa posição “ligada” na. Esses ciclos de contração ficam se
permite que as cabeças da miosina
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 20

repetindo enquanto os sítios de liga- Durante um breve período da fase


ção estiverem expostos. de relaxamento, no qual a actina e
a miosina não estão ligadas, os fila-
SE LIGA! Para que o relaxamento mus-
mentos do sarcômero deslizam de
cular possa ocorrer, as concentrações volta às posições originais. Esse pro-
citoplasmáticas de Ca+ precisam dimi- cesso conta com a ajuda da titina e
nuir. Pela lei de ação das massas , o Ca+ de outros componentes elásticos do
desliga-se da troponina quando há uma
redução do cálcio citosólico. músculo.

Acoplamento excitação-contração
A combinação dos eventos elétricos e
FLUXOGRAMA. MECANISMO MOLECU- mecânicos que ocorrem em uma fibra
LAR DA CONTRAÇÃO MUSCULAR
muscular é chamada de acoplamento
excitação-contração (E-C). O acopla-
mento E-C envolve quatro eventos
Elevação do Ca+ citosólico
principais: a acetilcolina é libera-
da pelo neurônio motor somático,
depois a acetilcolina leva à geração
Ligação do Ca+ à troponina
de um potencial de ação na fibra
muscular, então o potencial de ação
Complexo Ca-troponina muscular desencadeia a liberação de
desloca a tropomiosina cálcio pelo retículo sarcoplasmáti-
co e o cálcio liga-se à troponina, dan-
Afasta sítio de ligação da do início ao processo de contração.
miosina na actina G

Miosina liga-se fortemente à actina

Conclui o movimento de força

Filamento de actina é movido.

Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem


integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed.
Porto Alegre (2017)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 21

Potencial
de ação

Liberação do canal de Ca+ (aberto)

Retículo
Receptor Ca+ sarcoplasmático
DHP

Ca+

Repolarização

Ca+

Calsequestrina
Liberação do canal de
Ca+ (fechado)
Figura 10. Acoplamento excitação-contração do músculo esquelético. Fonte: Tratado de fisiologia médica. HALL, John
Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall. 13. ed. Rio de Janeiro. (2017)

Quando os canais dependentes de Normalmente, os potenciais da placa


ACh se abrem, ocorre o fluxo de Na motora sempre atingem o limiar, le-
e K através da membrana plasmáti- vando à geração de um potencial de
ca. Entretanto, o influxo de Na supera ação muscular. O potencial de ação
o efluxo de K, pois a força motriz do desloca-se pela superfície da fibra
gradiente eletroquímico é maior para muscular, e para o interior dos túbulos
o Na. A adição efetiva de carga posi- T, devido à abertura sequencial de ca-
tiva despolariza a membrana da fibra nais de Na dependentes de voltagem.
muscular, gerando um potencial da
placa motora (PPM).
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 22

No músculo esquelético, exclusiva-


SE LIGA! O processo é similar à con- mente, esses receptores de DHP es-
dução dos potenciais de ação nos axô- tão acoplados mecanicamente aos
nios, embora os potenciais de ação do
canais de Ca+ do retículo sarcoplas-
músculo esquelético sejam conduzidos
mais lentamente do que os potenciais mático adjacente. Estes canais de
de ação dos axônios mielínicos. liberação de Ca+ do retículo sarco-
plasmático são conhecidos como re-
ceptores de rianodina (RyR).
No nível molecular, a transdução
do sinal elétrico em um sinal de cál- Quando a despolarização produzida
cio necessita de duas proteínas de por um potencial de ação alcança um
membrana. A membrana do túbu- receptor de DHP, o receptor sofre uma
lo T contém uma proteína sensível à alteração conformacional. Essa alte-
voltagem, um canal de cálcio do tipo, ração conformacional causa a aber-
chamado de receptor de di-hidro- tura dos canais RyR para a liberação
piridina (DHP). de Ca+ do retículo sarcoplasmático. O
Ca+ armazenado flui para o citosol, a
favor do seu gradiente eletroquímico,
iniciando o processo de contração.
Para finalizar uma contração, o cál-
cio deve ser removido do citosol.
O retículo sarcoplasmático bombeia
o Ca+ de volta para o seu lúmen uti-
lizando uma Ca-ATPase. À medi-
da que a concentração citosólica de
Ca2+ livre diminui, o equilíbrio entre o
cálcio ligado e o não ligado é alterado,
e o cálcio desliga-se da troponina.
A remoção do Ca+ permite que a tro-
pomiosina volte à sua posição inicial
e bloqueie o sítio de ligação à mio-
sina presente na molécula de actina.
Com a liberação das ligações cru-
zadas, a fibra muscular relaxa, com
a ajuda de componentes elásticos do
sarcômero e do tecido conectivo do
músculo.
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 23

FLUXOGRAMA. ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO

Neurônio
Potencial de Alteração
somatomotor libera
Influxo de Na+ ação muscular conformacional no
ACh na junção
penetra no túbulo T receptor DHP
neuromuscular

Abertura dos Liberação de Ca+ liga-se à Ligação entre


canais RyR Ca+ do retículo troponina actina e miosina

Redução do Ca+
Cabeças da Filamento de actina Bombas de
citosólico desfaz a
miosina executam o desliza em direção ao cálcio bombeiam o
ligação entre o
movimento de força centro do sarcômero Ca+ de volta ao RS
Ca+ e a troponina

Tropomiosina As cabeças Filamentos


volta a recobrir o da miosina são de volta para a
sítio de ligação liberadas posição de repouso

Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada.


SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

5. MECÂNICA MUSCULAR deslizantes, e, portanto, pouca gera-


ção de força.
A tensão gerada por um músculo é
diretamente proporcional ao nú-
mero de ligações cruzadas entre os CONCEITO! O termo mecânica refere-
-se a como os músculos movem cargas
filamentos grossos e finos. Se as fi- e como as relações anatômicas entre
bras iniciarem a contração com o sar- músculos e ossos maximizam o trabalho
cômero muito alongado, haverá pou- que os músculos podem realizar.
ca sobreposição entre os filamentos
grossos e finos e, consequentemente,
No comprimento ideal do sarcôme-
poucas ligações cruzadas. Isso signi-
ro, os filamentos iniciam a contração
fica que no início da contração haverá
com numerosas ligações cruzadas
pouca interação entre os filamentos
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 24

formadas entre os filamentos grossos Variação normal da contração


e finos, permitindo que a fibra gere a
força máxima durante aquele abalo.
Se o sarcômero for mais curto do
Tensão durante a
contração

Tensão do músculo
que o comprimento ideal no início da Aumento da tensão
contração, os filamentos finos e gros- durante a contração

sos estarão demasiadamente sobre-


postos antes de a contração iniciar.
Consequentemente, os filamentos Tensão antes
da contração
grossos só poderão movimentar os
filamentos finos por uma distância
muito curta, antes que os filamentos ½ Normal 2x

finos de cada uma das extremidades normal normal


Comprimento
do sarcômero comecem a se sobre-
por. Essa sobreposição impede a for- Figura 11. Relação do comprimento muscular com a
tensão tanto antes quanto durante a contração mus-
mação das ligações cruzadas. cular. Fonte: Tratado de fisiologia médica. HALL, John
Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall. 13. ed. Rio
Se o sarcômero estiver tão encurta- de Janeiro. (2017)
do a ponto de os filamentos grossos
ficarem muito próximos aos discos Z,
a miosina será incapaz de encontrar A tensão produzida por um único
novos sítios de ligação para a forma- abalo é determinada pelo compri-
ção das ligações cruzadas, e a tensão mento do sarcômero, um único aba-
diminuirá rapidamente. lo não produz a força máxima que
uma fibra muscular pode desenvol-
ver. Pode-se aumentar a força gera-
SE LIGA! Assim, o desenvolvimento de
tensão de um único abalo muscular é
da pela contração de uma única fibra
uma propriedade passiva que depende muscular ao aumentar a frequência
do grau de sobreposição dos filamentos de potenciais de ação sobre a fibra.
e do comprimento do sarcômero. Um potencial de ação muscular típico
dura de 1 a 3 ms, ao passo que a con-
tração muscular pode durar 100 ms.
Se os potenciais de ação sequen-
ciais estiverem separados por longos
intervalos de tempo, haverá tempo
para a fibra muscular relaxar comple-
tamente entre os dois estímulos sub-
sequentes. Todavia, se o intervalo de
tempo entre os potenciais de ação for
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 25

reduzido, a fibra muscular não terá resultando em uma contração mais


tempo para relaxar completamente vigorosa . Esse processo é denomi-
entre os dois estímulos subsequentes, nado somação.

Fase de
Período de Fase de
contração
latência relaxamento
Tensão

10-100 ms

Tempo
Figura 12. Geração de tensão durante um abalo muscular. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SIL-
VERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

Se os potenciais de ação continuarem


a estimular a fibra muscular repetida- SE LIGA! É possível aumentar a tensão
mente a curtos intervalos de tempo gerada por uma única fibra muscular ao
mudar a frequência dos potenciais de
(alta frequência), o período de rela-
ação que a estimulam. Os potenciais de
xamento entre as contrações diminui ação musculares são desencadeados
até que a fibra muscular atinja um es- pelo neurônio motor somático que con-
tado de contração máxima, denomi- trola a fibra muscular.
nado tetania.
Existem dois tipos de tetania: na te- Tipos de contração
tania incompleta, ou imperfeita, a
Dependendo da localização de um
frequência de estimulação da fibra
músculo e do tipo de movimento exe-
muscular é submáxima e, consequen-
cutado, a força muscular produzida
temente, a fibra relaxa levemente en-
pode ser vista como resultante de
tre os estímulos. Na tetania completa,
componentes que atuam especifica-
ou perfeita, a frequência de estimula-
mente no movimento de uma parte
ção é alta o suficiente para que não
do corpo. A força muscular F terá um
haja tempo de a fibra relaxar. Em vez
componente estabilizador E. Quando
disso, a fibra atinge e mantém a ten-
o segmento ósseo AC se movimenta
são máxima de maneira sustentada.
no sentido anti-horátio, em torno da
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 26

articulação A, tanto o componente R evidente que esse efeito do múscu-


como o ângulo de tração aumentam, lo deve-se ao tipo de movimento do
enquanto o compomente E diminui. É segmento ósseo.

B B B B B B B B

C C C
O O O O O O O O
R R R

F F F
E E E
F F F F F F
R R R R R
I I I
C C C C C C C
A A A A A A A A
E E E E E E

Figura 12. Força muscular. Músculo com origem O e inserção I, atuando sobre os ossos AB e AC, R e E são respectiva-
mente os componentes roteador e estabilizador da força muscular F. quando o osso AC muda para posição AC’, o ângulo
de tração da força F aumenta. Fonte: Biofísica: fundamentos e aplicações. DURÁN, J. E. R. São Paulo: Prentice (2003)

Com isso, o trabalho muscular corres- final é vísivel e excêntrica quando


ponde à superficie sob a curva força- há um alongamento das fibras, ainda
-comprimento. Ele pode ser calculado que haja contração, isso é superado
através da eqeuação de Hill: E = A + pela resistência encontrada.
a.ΔL + f.ΔL, onde A = calor da ativa- As contrações que geram força sem
ção, ΔL = comprimento do músculo, mover uma carga são chamadas de
a.ΔL = produto do calor de contração contrações isométricas, ou contra-
a, pela distância percorrida, f.ΔL = ções estáticas. Quando o músculo
trabalho realizado pela força f exerci- é estimulado, ele desenvolve tensão,
da pelo músculo no espaço L. porém a força criada não é suficiente
Sabe-se que os músculos são capa- para mover a carga. Nas contrações
zes de gerar força para produzir mo- isométricas, os músculos geram for-
vimento, porém os eles também são ça, sem encurtamento significativo.
capazes de gerar força sem movi- Quando os sarcômeros encurtam nos
mento. Qualquer contração que gere primeiros estágios de uma contra-
força e movimente uma carga é uma ção, os elementos elásticos sempre
contração isotônica. As contrações são estirados. Esse estiramento dos
isotônicas podem ser de dois tipos: elementos elásticos permite que as
concêntrica quando há encurtamen- fibras mantenham um comprimen-
to das fibras musculares e o trabalho to relativamente constante, mesmo
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 27

quando os sarcômeros estão encur- ao máximo, se o sarcômero produzir


tando e gerando tensão. uma força igual à carga, o músculo en-
Se o músculo não for capaz de produ- curtará, realizando uma contração iso-
zir força adicional para mover a carga, a tônica e movendo a carga. Na contra-
contração será isométrica. Após os ele- ção isométrica : E = A e na contração
mentos elásticos terem sido estirados isotônica : E = A + a.ΔL + f.ΔL.

excêntrica concêntrica isométrica

Figura 13. Tipos de contração. Fonte: disponível em https://bit.ly/36tcqZf

FLUXOGRAMA 9. TIPOS DE CONTRAÇÃO

Gera força

Isométrica Não movimenta carga

Sem encurtamento
Tipos de
contração
Gera força e
movimenta carga

Encurtamento das
Isotônica Concêntrica
fibras musculares

Excêntrica Alongamento das fibras

Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada.


SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 28

6. CONTRAÇÃO NA ligada aos ossos e opera com peque-


MUSCULATURA LISA na variação de comprimentos.
Embora a musculatura esquelética Em um mesmo órgão, as cama-
seja o principal componente da mas- das de músculo liso podem estar
sa muscular total de nosso organis- dispostas em diferentes direções.
mo, as musculaturas lisa e cardíaca A contração de diferentes camadas
são mais importantes para a manu- modifica a forma do órgão. A maioria
tenção da homeostasia. dos músculos esqueléticos, no entan-
to, dispõe-se de modo que sua con-
Com relação a alguns princípios re-
tração encurta o músculo.
lativos ao músculo esquelético, apli-
cam-se ao músculo liso, os seguintes: Quando um único abalo é comparado
a força que é criada pelas ligações entre os distintos tipos de músculo, o
cruzadas formadas entre actina e músculo liso contrai e relaxa muito
miosina, permite a interação entre mais lentamente do que o músculo
os filamentos deslizantes. E a contra- esquelético ou cardíaco
ção do músculo liso, assim como nos O músculo liso utiliza menos ener-
músculos esquelético e cardíaco, é gia para gerar e manter um deter-
iniciada por um aumento das con- minado grau de tensão. Os músculos
centrações citosólicas de Ca+ livre. lisos podem produzir força rapida-
Entretanto, na maior parte dos de- mente, mas também possuem a ca-
mais aspectos, a função do músculo pacidade de reduzir a velocidade da
liso é mais complexa do que a função miosina-ATPase para que as ligações
do músculo esquelético. cruzadas possam ciclar mais lenta-
Tendo como diferenças, em nível te- mente à medida que a força é man-
cidual e celular: os músculos lisos tida. Como resultado, a utilização de
precisam operar em uma faixa de ATP é menor, em relação ao músculo
comprimento. Esse músculo é en- esquelético. O músculo liso tem me-
contrado principalmente nas pare- nos mitocôndrias do que os músculos
des dos órgãos ocos e dos tubos, a estriados e depende mais da glicólise
maioria dos quais expande e contrai para a produção de ATP.
durante o enchimento e o esvazia- O músculo liso pode manter as
mento. O músculo liso presente em contrações por longos períodos
órgãos como esse precisa funcionar sem fatigar. Essa propriedade per-
de maneira eficiente ao longo de uma mite que órgãos, como a bexiga uri-
grande faixa de comprimentos mus- nária, mantenham tensão em res-
culares. Em contrapartida, a maio- posta a uma carga contínua; também
ria dos músculos esqueléticos está permite que alguns músculos lisos
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 29

se mantenham tonicamente contra- elementos contráteis não estão or-


ídos, mantendo a tensão na maior ganizados em sarcômeros.
parte do tempo. No músculo liso, os

Esquelético

Cardíaco Liso
Tensão

Tempo (s)
Figura 14. Duração de um abalo muscular nos três tipos de músculos. Fonte: Fisiologia humana: uma abordagem
integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)

A contração do músculo liso pode fato de a fibra muscular estar usando


ser iniciada por sinais elétricos, o metabolismo aeróbio ou anaeróbio,
químicos ou ambos. A contração pela composição do músculo e pelo
muscular esquelética sempre come- nível de condicionamento do indiví-
ça com um potencial de ação na fibra duo. Embora muitos fatores diferen-
muscular. E o músculo liso é contro- tes possam estar associados à fadiga,
lado pelo sistema nervoso autônomo. os fatores que causam a fadiga ainda
Além disso, o músculo liso não apre- são incertos.
senta regiões receptoras especiali-
zadas, como as placas motoras ter- CONCEITO! O termo fisiológico fadiga
minais, encontradas nas sinapses do descreve uma condição reversível na
músculo esquelético. Em vez disso, qual um músculo é incapaz de produzir
os receptores são encontrados sobre ou sustentar a potência esperada.
toda a superfície celular.
Os fatores que têm sido propostos
7. FADIGA MUSCULAR como exercendo um papel crucial
na fadiga estão associados aos me-
É influenciada pela intensidade e pela canismos de fadiga central, origina-
duração da atividade contrátil, pelo dos no sistema nervoso central, e de
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 30

fadiga periférica, que se originam em não atingirá o limiar necessário para


qualquer local entre a junção neuro- disparar um potencial de ação na fi-
muscular e os elementos contráteis bra muscular, resultando em falha na
do músculo. contração.
A maior parte das evidências experi- Esse tipo de fadiga está associado a
mentais sugere que a fadiga muscular algumas doenças neuromusculares,
surge de uma falha no processo de mas provavelmente não seja um fa-
excitação-contração da fibra mus- tor importante durante o exercício
cular, mais do que de uma falha nos normal. A fadiga que ocorre dentro
neurônios de controle ou na transmis- da fibra muscular (fadiga periférica)
são neuromuscular. A fadiga central pode ocorrer em diferentes pontos.
inclui sensações subjetivas de cansa- No exercício submáximo prolongado,
ço e um desejo de cessar a atividade. a fadiga está associada à depleção
As causas neurais da fadiga podem das reservas de glicogênio muscular.
surgir tanto de falhas de comunica- Em suma, a fadiga muscular é um
ção na junção neuromuscular quanto fenômeno complexo, com múltiplas
de falhas dos neurônios de comando causas que interagem umas com as
do SNC. Consequentemente, o po- outras.
tencial da placa motora do músculo

FLUXOGRAMA. CAUSAS DE FADIGA

Acúmulo de H+,
Efeitos psicológicos
Pi e lactato

Depleção: de ↓ Liberação do
ATP e glicogênio neurotransmissor
CAUSAS
DE FADIGA
↓ Interação Ca-troponina ↓ Ativação do receptor

Mudança no potencial de
↓ Liberação de Ca+
membrana do músculo
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 31

FLUXOGRAMA. MECANISMO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR

Potenciais de
Secreção de Abertura canais
ação nas fibras
acetilcolina de cátions
musculares

Difusão de Abertura de
Despolarização
íons sódio canais de sódio

Reticulo
Potencial de Despolariza a
sarcoplasmático
ação na membrana membrana muscular
libera cálcio

Deslizamento
dos filamentos de
miosina e actina

Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada.


SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 32

MAPA RESUMO: BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR

CONTRAÇÃO MUSCULAR

Eventos na junção
Definição Classificação
neuromuscular

Processo que Acoplamento Ciclo de


permite geração de Estriado Liso Sinal de Cálcio
excitação-contração contração-relaxamento
força para mover ou
resistir uma carga
Teoria dos filamentos
Esquelético
deslizantes

Cardíaco Abalo muscular

Tipos de contração Mecanismo

Potenciais de ação
Isométrica Isotônica
nas fibras musculares

Concêntrica Secreção de acetilcolina

Despolarização da Deslizamento dos filamentos


Excêntrica Difusão de sódio
membrana muscular de miosina e actina
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 33

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Tratado de fisiologia médica. HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall. 13. ed.
Rio de Janeiro. (2017)
Biofísica: fundamentos e aplicações. DURÁN, J. E. R. São Paulo: Prentice (2003)
Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto
Alegre (2017)
Fisiologia do Músculo Esquelético. Disponivel em: http://ole.uff.br/wp-content/uploads/si-
tes/358/2019/09/Fisiologia-do-Sistema-Muscular-1.pdf
IBRAHIM, F. H. Biofísica Básica. 2ed. (2010)
HENEINE. I, F. Biofísica Básica. São Paulo; atheneu (2006)
Biofísica: fundamentos e aplicações. Hirata, Mário H. Revista Brasileira de Ciências Farma-
cêuticas (2004)
BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 34

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