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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................... 3
2. Características.............................................................. 5
3. Líquidos e gases......................................................... 6
4. Fluxo................................................................................ 8
5. Biofísica da circulação.............................................11
Referências bibliográficas .........................................16
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 3

1. INTRODUÇÃO outros fenômenos em seres vivos, é


necessário o conhecimento de alguns
Os organismos vivos são formados
conceitos de fluidos e dinâmica dos
de sólidos, gases e principalmen-
fluidos. As bases destas noções se-
te líquidos. Nos seres humanos, por
rão introduzidas neste supermaterial.
exemplo, cerca de 60% de sua massa
é constituída de fluidos intracelulares
e intersticiais, além de plasma. Pressão e densidade
Muitos são os conceitos de fluidos, O termo fluido abrange tanto líqui-
incluindo: substâncias que se defor- dos quanto gases, que são substân-
mam continuamente quando subme- cias que não possuem forma definida,
tidas a uma força de cisalhamento; como os sólidos, podendo adquirir a
substâncias que, quando em repou- forma dos recipientes que os contêm.
so, não oferecem resistência a uma Quando submetidas a forças apro-
força de cisalhamento; e partículas priadas, essas substâncias fluem, isto
sem formato próprio, fracamente liga- é, uma camada desliza em relação às
das, com certo grau de movimento ou adjacentes. As forças que mantêm
ainda que se deformam sem desinte- as moléculas ligadas nos fluidos são
gração de massa (escoamento). menores do que as que interligam as
moléculas nos sólidos.
CONCEITO! Tensão de Cisalhamento Devido ao fato das forças de ligação
A tensão de cisalhamento ou tensão entre as moléculas de um gás serem
tangencial é um tipo de tensão gerada menores que aquelas que agem em
por forças aplicadas em sentidos opos-
tos, porém em direções semelhantes.
um líquido, o gás ocupa o volume to-
tal do recipiente que o contém e é al-
Um líquido não opõe resistência a forças
aplicadas tangencialmente; sob a ação tamente compressível, ao passo que
de tal força (força de cisalhamento), o lí- o líquido possui um volume definido e
quido flui ou escoa. Os gases também é praticamente incompressível.
não se opõem com resistência a forças
de cisalhamento. Pressão e densidade são duas gran-
dezas essenciais para entender o
comportamento dos fluidos. A noção
Para se entender, por exemplo, o efei- de pressão é frequentemente con-
to da variação da pressão externa so- fundida com a de força. Embora a
bre a fisiologia humana, a passagem pressão seja definida a partir da força,
de gases dos alvéolos do pulmão elas não significam a mesma coisa. A
ao sangue e vice-versa, a filtragem pressão (P) é a relação entre a inten-
efetuada pelos rins e pelo fígado, o sidade de uma força (F) aplicada e a
transporte da seiva nas árvores e área (A) sobre a qual ela atua: P = F/A.
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 4

A densidade é uma medida da rela- se ocorresse um bloqueio nesse sis-


ção entre a massa (m) e o volume (V) tema de drenagem, a pressão ocular
de um corpo: ρ = m/V. Assim como a aumentaria comprimindo a artéria re-
pressão, a densidade nos fornece a tiniana e isso poderia restringir a cir-
informação sobre como a massa se culação sanguínea na retina, provo-
distribui no volume. cando a visão tunelada ou até mesmo
Para descrever o comportamento dos a cegueira.
fluidos, precisamos de grandezas que A essa situação se dá o nome de
estejam aptas a fornecer informações glaucoma. Nessa condição, a pres-
em cada ponto do espaço que eles são intraocular pode aumentar até
ocupam. A densidade e a pressão, 70 mmHg, embora em circunstâncias
mais que a massa e a força simples- normais se eleve até 30-45 mmHg.
mente, são grandezas apropriadas A pressão intraocular era estimada
para isto. pelos médicos pressionando o olho
com os dedos e “sentindo” a reação
produzida pelo mesmo. Hoje em dia
Aplicações isso é feito pelo tonômetro, que mede
Pressão intraocular a pressão ocular determinando a de-
flexão da córnea sob a ação de uma
Os fluidos do globo ocular, os humo-
força conhecida.
res aquoso e vítreo, que transmitem a
luz à retina, estão sob pressão e man-
têm o globo em uma forma e dimen- Pressão sanguínea
são aproximadamente fixas. As di-
A pressão sanguínea é medida com
mensões do olho são críticas para se
o esfigmomanômetro. Uma bolsa de
ter uma boa visão. Uma variação de
ar é enrolada em volta do braço, a um
0,1 mm no seu diâmetro pode produ-
nível aproximadamente igual ao do
zir um efeito significativo no desem-
coração, a fim de assegurar que as
penho da visão.
pressões medidas sejam mais próxi-
A pressão em olhos normais varia de mas às da aorta. A pressão do ar con-
13 a 28 mmHg, sendo a média de tido na bolsa é aumentada até que o
15 mmHg. O humor aquoso, fluido fluxo sanguíneo através das artérias
contido na parte frontal do olho, é es- do braço seja bloqueado.
sencialmente composto por água. O
A seguir, o ar é gradualmente elimi-
olho produz continuamente o humor
nado da bolsa ao mesmo tempo que
aquoso, cerca de 5 ml por dia, e exis-
se usa um estetoscópio para detectar
te um sistema de drenagem que per-
a volta das pulsações ao braço. O pri-
mite a saída do excesso. No entanto,
meiro som ocorre quando a pressão
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do ar contido na bolsa se igualar à entre suas partículas, resultando em


pressão sistólica, isto é, a máxima um atrito entre as mesmas. Assim,
pressão sanguínea. Nesse instan- compreende-se por viscosidade a
te, o sangue que está à pressão sis- resistência ao deslocamento impos-
tólica consegue fluir pela artéria. Os ta pelas partículas do fluido. A visco-
sons ouvidos através do estetoscópio sidade representa assim uma força
são produzidos pelo fluxo sanguí- dissipativa, em que, havendo atrito
neo na artéria e são chamados sons interno, diz-se tratar de um fluido vis-
Korotkoff). coso, e no caso de atrito interno insig-
Assim, o valor lido no marcador cor- nificante, denomina-se o fluido como
responde à pressão manométrica sis- não viscoso.
tólica. A medida que o ar é eliminado,
a intensidade do som ouvido através Fluido ideal e Fluido real
do estetoscópio aumenta. A pressão
que correspondente ao último som Derivando das características descri-
audível é a pressão diastólica, isto é, a tas acima, temos que um fluido pode
menor pressão sanguínea, quando o ser ideal, ou seja, incompressível e
sangue sob baixa pressão consegue não viscoso.
fluir pela artéria não oclusa. Podemos ter, por exemplo, um gás
cujas moléculas estão suficientemen-
te afastadas de modo que as intera-
2. CARACTERÍSTICAS
ções entre elas sejam desprezíveis.
Compressibilidade Dessa maneira, o gás tem um com-
portamento relativamente simples
A compressibilidade é a capacidade
sob quaisquer condições de pres-
do fluido em alterar sua densidade
são e temperatura. Assim, temos um
quando submetido à pressão. Assim,
elemento que é compressível e não
pode-se adjetivar um fluido como
viscoso.
compressível, quando ele permite tal
alteração, como os gases; e incom- A maioria dos gases se comporta
pressível, quando não permite, exi- como gás ideal à densidades baixas,
bindo valor constante, ainda que sob ou sob temperaturas não excessiva-
pressão, como é o caso dos líquidos. mente baixas nem pressões muito al-
tas. Um gás só pode ser considerado
ideal se sua densidade for suficien-
Viscosidade (atrito interno) temente pequena tal que as intera-
Durante o escoamento de um fluido ções entre as moléculas possam ser
observa-se um relativo movimento desprezadas.
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Por outro lado, tem-se o fluido real, Situações que implicam com aumen-
em que as forças dissipativas não são to da viscosidade do sangue, culmi-
desprezadas, a exemplo do sangue. nam em importante consequências.

CARACTERÍSTICAS DOS FLUIDOS

Compressibilidade Viscosidade

Capacidade de alterar Força dissipativa


a densidade quando proveniente de atrito
submetido à pressão interno intermolecular

Compressível Não compressível Não viscoso Viscoso

3. LÍQUIDOS E Fluido ideal


Fluido real

GASES
Como dito anteriormente, o Sangue
Alguns gases
termo fluidos pode se refe-
rir tanto a líquidos quanto a
gases, assim é importante LÍQUIDO GÁS
distingui-los. Líquido é a substância Mais interação Menos interação
que adquire a forma do recipiente, intermolecular intermolecular
possuindo volume definido e é pra- Volume definido Volume indefinido
ticamente incompressível. Já o gás, é Incompressível Compressível
uma substância que ao preencher o Ocupam todo o volume
recipiente não forma superfície livre Formam superfície livre do recipiente (não for-
mam superfície livre)
(ocupa todo o recipiente), não tem vo-
Não se opõe a força de Não se opõe a força de
lume definido e é compressível. A in- cisalhamento cisalhamento
teração entre as moléculas dos gases
também é muito mais fraca quando
comparada às substâncias líquidas.
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Quando a inércia que atua nos fluidos ESTÁTICA DOS FLUIDOS


é rompida, ocorre aceleração, movi- Massa específica (p)
mentando os líquidos ou gases. Dize- Densidade relativa (d)
mos que os fluidos, ao se moverem, Volume específico

deslocam-se em circuitos. Estes que Peso específico

podem ser fechados, onde o fluido Pressão (P)

circula sem contato direto com o meio Princípio de Pascal

externo, e circuitos abertos, em que Princípio de Arquimedes

há contato com o meio externo. Como Viscosidade

exemplo, podemos citar os sistemas


circulatório e excretório como compo-
Ou a partir de suas características di-
nente do primeiro grupo, e o sistema
nâmicas, as quais atuam diretamente
respiratório, compondo o segundo.
na biofísica da respiração e da circu-
Os fluidos podem ser estudados a lação e serão abordadas em maior
partir de suas características estáti- destaque neste material:
cas, como:

DINÂMICA DOS FLUIDOS


Equação de Bernoulli
Equação de Poiseuille
Número de Reynolds

SAIBA MAIS!
Princípios da Hidrostática
O comportamento de líquidos, especialmente da água, e de corpos neles mergulhados, é
objeto de observação e estudo desde a Antiguidade, no século III a.C.. Com Arquimedes,
matemático e inventor grego, iniciou-se a Hidrostática; a parte da Física que estuda o com-
portamento dos líquidos em repouso.
No seu famoso livro “Sobre os corpos flutuantes”, publicado naquele século, Arquimedes
enunciou o princípio que leva o seu nome e explica porquê corpos densos flutuam em líquidos
menos densos. Segundo este princípio, todo corpo mergulhado em um líquido, inteiramente
ou parcialmente, sofre a ação de uma força vertical, dirigida para cima, que é igual ao peso do
volume do líquido deslocado pelo corpo. Tal força recebe o nome de empuxo.
Mas a explicação da origem do empuxo, ou de por que ele surge, demorou quase dois mi-
lênios para aparecer. Nos séculos XVI e XVII, a Hidrostática se consolida como ciência, com
os trabalhos do engenheiro hidráulico holandês, Simon Stevin (1548-1620), do discípulo de
Galileu, Evangelista Torricelli (1608-47), e do filósofo francês, Blaise Pascal (1623-62).
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Stevin mostrou que a força exercida pelo líquido sobre a base era igual, não ao peso de todo o
volume do líquido contido no vaso, mas apenas ao peso da coluna de líquido que se estende
da base até a superfície do líquido, independente da forma que o vaso apresente. Este resul-
tado de Stevin ficou conhecido como o paradoxo hidrostático.
Em realidade, ele é um falso paradoxo. O fato de a força ser igual para vasos de volumes
desiguais que têm bases iguais decorre somente do fato de a pressão exercida pelo líquido
ser a mesma em todos os pontos, pois a pressão exercida por um líquido em repouso, em um
ponto, depende apenas da profundidade do ponto considerado, da densidade do líquido e
da aceleração da gravidade, ela não depende da massa total do líquido, nem do seu volume.
Um outro princípio da hidrostática foi enunciado por Blaise Pascal. Segundo ele, qualquer ou-
tra pressão exercida sobre um líquido em repouso é transmitida por todo o fluido. O princípio
de Pascal tem muitas aplicações práticas que você conhece. Ele explica, por exemplo, como
funciona o elevador hidráulico e os freios hidráulicos dos automóveis.

Trata-se do empuxo. Todo corpo imerso em um líquido, recebe uma


PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES força vertical para cima igual ao peso do líquido que caberia dentro
do volume submerso do corpo.
Todos os pontos de um líquido em equilíbrio sobre a ação da gravida-
de, situados em uma mesma profundidade horizontal, ficam sujeitos a
PRINCÍPIO DE STEVIN
mesma pressão. A diferença de profundidade entre os dois pontos é a
diferença de pressão.
O acréscimo de pressão em um ponto de um líquido em equilíbrio,
PRINCÍPIO DE PASCAL
transmite-se integralmente a todos os pontos deste líquido.

4. FLUXO Tem-se na sequência: coração – ar-


térias – capilares – veias – coração.
Fluxo é grandeza física que exprime
Sabe-se que o fluxo do coração (que
o volume de fluido que escoa por uni-
é chamado de débito cardíaco) é de,
dade de tempo, assim podemos en-
aproximadamente, 5L/min. Ou seja,
tendê-lo como sinônimo de vazão.
a cada minuto, o coração ejeta 5L de
Para compreender mais acerca desta
sangue nos vasos, e por ser um circui-
grandeza, vamos pensar no nosso cir-
to fechado, a cada minuto retornam
cuito fechado: a circulação. Neste cir-
os mesmos 5L ao coração. Chama-
cuito, o sangue parte de uma bomba
remos tal fato de regime estacionário,
e retorna à mesma. Logo, não existe
uma vez que a quantidade de san-
alteração de volume do fluido – o vo-
gue em cada impulso do coração é a
lume que entra na bomba é igual ao
mesma, seja na grande circulação (ou
que sai, em um determinado intervalo
sistêmica; cerca de 3,75L) ou na pe-
de tempo.
quena circulação (ou pulmonar; cerca
de 1,25L).
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dos vasos for o mesmo, quanto maior


a velocidade maior o fluxo; porém,
quando os raios são diferentes (como
acontece ao longo do sistema circu-
latório), quanto menor o raio, maior a
velocidade de escoamento, caso se
pretenda manter o mesmo fluxo. No
interior do vaso, são as forças dissi-
pativas que determinam a velocidade
do fluido.

Energia mecânica nos fluidos


A energia mecânica é composta pela
energia potencial e pela energia ciné-
Figura 1. Observe o circuito descrito anteriormente no
qual o sangue percorrerá. Fonte: MOURÃO, 2012. tica. Um corpo tem energia potencial
quando, em virtude de sua posição,
tem a possibilidade de entrar em mo-
É importante tomar cuidado para não vimento. A energia potencial é uma
confundir fluxo com velocidade, vis- espécie de energia latente, ou seja,
to que esta última também é dada uma energia armazenada e pron-
em função do tempo. A velocidade, ta para produzir movimentação. Nos
no entanto, considera o espaço pelo fluidos, o agente capaz de colocar
tempo, enquanto o fluxo, como discu- um fluido em movimento é a pressão.
tido, considera o volume pelo tempo. Logo, nos fluidos, a energia potencial
Nem sempre fluxo e velocidade cor- é representada pela pressão.
relacionam-se. Por exemplo, imagi-
Já a energia cinética é a energia que
ne 2 torneiras, Sanar e Flix, ambas
o corpo tem em virtude de seu pró-
enchem um reservatório de 5L em 1
prio movimento. Assim, quanto maior
min, logo ambas apresentam o mes-
a velocidade, maior a energia cinética.
mo fluxo: 5L/min.
Este princípio também se aplica aos
Seria possível que a velocidade de fluidos, logo, nestes a energia cinética
escoamento de Sanar fosse maior é representada pela velocidade.
que a de Flix? Sim! Desde que o cali-
bre (diâmetro) da torneira Sanar fosse
maior, pois neste caso, ela escoaria
com maior velocidade para oferecer o
mesmo fluxo que Flix. Assim, se o raio
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 10

SAIBA MAIS!
Uma das diferenças que existe no sistema arterial em relação a um sistema hidráulico simples
é que na extremidade final da maioria das arteríolas existem os esfíncteres pré-capilares. Es-
sas estruturas são constituídas por musculatura lisa e produzem um estreitamento importan-
te na extremidade arteriolar, fazendo com que o volume de sangue que chega aos capilares
flua de modo lento e contínuo.
O choque da coluna de sangue com o esfíncter produz grande dissipação de energia, fazendo
com que a pressão e a velocidade do sangue, após o esfíncter, fiquem reduzidas.

Resistência ao fluxo nula, a velocidade será constante.


Esse raciocínio demonstra que exis-
Para que o fluxo se mantenha contí-
te uma resistência ao escoamento do
nuo, a resistência ao mesmo deve ser
fluido.
vencida por uma força motriz. Pode-
mos dizer então que o fluxo é dado Quanto maior o raio do vaso, menor a
pela razão entre a diferença de pres- resistência e maior o fluxo. O esfínc-
são e resistência. Logo, o fluxo de- ter pré-capilar altera o raio do vaso, a
pende diretamente da diferença (gra- resistência e, assim, a pressão. Entre-
diente) de pressão entre o início e o tanto, esta não é uma relação linear.
fim do trajeto, e é inversamente pro- Como demonstrou Poiseuille, trata-se
porcional à resistência imposta pela de uma relação exponencial, em que
sua passagem. o fluxo é diretamente proporcional à
quarta potência do raio. Ou seja, se o
Sabe-se que o calibre de um vaso não
raio for dobrado, haverá um aumento
se altera, portanto, a velocidade do
do fluxo em 16 vezes! Esta é a cha-
fluido nesse vaso é constante e o flui-
mada Lei da quarta potência.
do se movimenta por inércia. Se ele
se move por inércia, por que é neces- Outro fator que interfere no fluxo é a
sária uma diferença de pressão para viscosidade. Quanto mais viscoso o
manter o fluxo? Isso soa estranho, já fluido, maior o atrito entre suas lâmi-
que, se a velocidade é constante, ou nas. E por fim, observou-se que ao se
seja, não há aceleração, não faria sen- dobrar o comprimento do vaso, do-
tido haver uma pressão resultante. bra-se também sua resistência, ha-
vendo redução do fluxo pela metade.
Acontece, porém, que em regiões do
vaso em que o calibre é constante, a Pensando à luz da circulação humana,
pressão resultante serve unicamen- a variável comprimento não é muito
te para anular a força de resistência. importante, visto que não há como au-
Como a resultante das forças será mentar ou diminuir significativamente
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 11

o comprimento dos vasos. A visco- artérias pulmonares, as quais condu-


sidade tem importância relativa, pois zem o sangue venoso bombeado por
normalmente não costumam ocorrer este ventrículo para ser oxigenado
grandes alterações da viscosidade do nos pulmões, de onde retornam ao
sangue. Assim, como é descrito pela coração pelas veias pulmonares que
Lei de Poiseuille, o principal determi- desembocam, trazendo sangue arte-
nante da resistência ao fluxo no siste- rial, no átrio esquerdo.
ma circulatório é o raio do vaso. O ventrículo esquerdo se comunica
com a artéria aorta, por onde o san-
SE LIGA! Sabemos que o coração passa gue arterial é levado para todo o cor-
1/3 do tempo em sístole e 2/3 em diás- po, oxigenando os tecidos. Após os
tole. Podemos dizer que a pressão sistó-
tecidos terem recebido os nutrientes
lica tem por finalidade acelerar o sangue,
ou seja, romper sua inércia. Já a pressão e o oxigênio, o sangue, agora venoso,
diastólica existe para contrabalançar a retorna ao coração através das veias
resistência e permitir que o sangue flua cava inferior e superior, que desem-
em velocidade constante, ou seja, por
inércia.
bocam no átrio direito.
Para bombear o sangue, o coração se
vale da contração de sua musculatu-
5. BIOFÍSICA DA ra, o miocárdio. Porém, esta contração
CIRCULAÇÃO é comandada por um sistema elétrico
O sistema circulatório humano apre- autônomo composto de marcapas-
senta três componentes na realiza- sos, que são células autoexcitáveis;
ção das suas funções: o coração, os e pelo sistema de condução atrial e
vasos sanguíneos e o sangue. O co- ventricular, as células de condução.
ração é um órgão cavitário, oco, divi- O potencial de ação cardíaco é ini-
dido em quatro câmaras, duas supe- ciado no marcapasso nó sinoatrial,
riores, os átrios, e duas inferiores, os chega ao miocárdio atrial, ali se pro-
ventrículos. pagando, através das fibras interno-
Na função cardíaca, o sangue flui dos dais, enquanto o músculo dos átrios
átrios para os ventrículos, sendo que se contraem, impelindo assim sangue
cada átrio induz sangue ao seu res- aos ventrículos. O potencial de ação
pectivo ventrículo; átrio direito para atrial é encerrado ao nível do septo
o ventrículo direito e átrio esquerdo átrio-ventricular, porém o marcapas-
para o ventrículo esquerdo. Na con- so nó atrioventricular estabelece um
tração ventricular, o sangue deixa o potencial lento que transferido para
coração através das artérias. O ven- os ventrículos.
trículo direito se comunica com as
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 12

Nos ventrículos, o impulso chega ao mudança no volume do próprio ven-


feixe de His, pouco abaixo do septo trículo, fazendo surgir trabalho. É o
atrioventricular, de onde parte para o trabalho cardíaco: Pressão x Volume
ápice do coração através dos ramos = Trabalho.
direito e esquerdo do feixe de His. A Este trabalho manifesta-se como
partir do ápice do coração, começam energia. Quando o sangue, ao ganhar
a emergir fibras que vão se ligar ao o leito vascular, se desloca ao longo
miocárdio ventricular. O impulso, ao dos vasos sanguíneos estamos ven-
chegar no músculo dos ventrículos, do a manifestação da energia ciné-
promove sua contração. tica. Portanto, a energia cinética é a
própria velocidade de circulação.
Quando o sangue ganha o leito vas-
cular, ele acaba gerando força sob as
paredes dos vasos, força esta exerci-
da sobre área, e portanto, denomina-
da pressão. A estrutura do tecido das
principais artérias é relativamente
elástica, o que faz com que tais vasos
sejam expandidos devido à pressão
impressa pelo sangue, acumulando
energia potencial elástica. Portan-
to, podemos afirmar que a energia
potencial circulatória é a medida da
pressão lateral nas paredes dos va-
Figura 2. Sistema de condução elétrica do coração.
Fonte: http://www2.eerp.usp.br/Nepien/PCR/car_con-
sos em uma artéria, denominada de
ducao.html Distribuição do sangue pelo organismo. pressão arterial.
Fonte: Aula Sanarflix
Ao circular nos vasos sanguíneos
duas outras energias estão presentes,
Energética de sístole e fluxo a energia dissipada, de responsabili-
Quando o potencial de ação cardíaco dade da resistência ao fluxo (atrito); e
percorre o coração, o músculo cardí- a energia gravitacional, que depen-
aco se contrai e o sangue é lançado dendo da orientação do fluxo sanguí-
no leito das artérias, sendo este pro- neo, pode colaborar, no caso do fluxo
cesso genericamente denominado de descendente, ou dificultar a circula-
sístole. Podemos dizer que a pressão ção, no caso do fluxo ascendente.
que as paredes dos ventrículos re-
alizam na contração, promove uma
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 13

Assim, de forma geral, podemos dizer Etotal = EC + EP + ED + EG


que as energias geradas na sístole,
são:
Ao longo do fluxo sanguíneo, estas
• Energia Cinética (EC) = Velocidade energias vão se modificando a me-
de circulação; dida que o sangue se dirige para os
• Energia Potencial (EP) = Pressão tecidos ou para o pulmão, bem como
lateral vascular. quando retorna ao coração vindo dos
tecidos ou dos pulmões. Quando o
• Porém, às energias presentes no sangue se distancia do coração em
fluxo ainda se somam mais dois direção aos tecidos, os vasos passam
componentes: a ser cada vez menos calibrosos, po-
• Energia Dissipada (ED) = Atrito; rém em número cada vez maior. Des-
sa forma, a energia dissipada (atrito)
• Energia Gravitacional (EG) = Ace- aumenta muito, reduzindo a velocida-
leração da gravidade. de de circulação e a pressão lateral.
• Portanto, podemos revelar a ener-
gia total do fluxo sanguíneo (Eto-
tal) na equação abaixo:

SAIBA MAIS!
Conservação de energia
Conforme visto pela fórmula acima, e desconsiderando perdas (fluido ideal), temos o prin-
cípio de Bernoulli, que diz que: em fluido ideal (sem viscosidade, nem atrito), em regime de
circulação por um conduto fechado, a energia do fluido permanece constante ao longo do seu
percurso.
Um outro princípio relativo à conservação de energia é o princípio de Pascal, que aponta
que: a pressão em um fluido é uma forma de energia potencial (Ep), pois ela tem a habilida-
de de executar trabalho útil. Em um fluido em movimento há energia cinética (Ec) devido ao
movimento.
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 14

Assim, quando comparamos a ve- atividade física, ocorrerá um aumen-


locidade de circulação de sangue to do fluxo, mas este se evidenciará
em uma artéria, veremos que é bem igualmente em todo o trajeto.
maior do que a velocidade de circu-
lação em um capilar. Isto se justifica
uma vez que as trocas entre o san-
gue e os tecidos acontecem ao nível
do capilar, portanto a velocidade deve
realmente ser baixa para permitir tais
trocas.
No entanto, devemos ressaltar que o
fluxo sanguíneo permanece aproxi-
madamente o mesmo, quando com-
paramos o setor arterial e o setor
capilar. Isto se deve ao fato de que,
embora o calibre de um capilar seja
infinitamente menor do que o calibre
arterial, o número de artérias também
é significativamente menor do que o
número de capilares. Assim, a área
capilar total supera quase mil vezes a
área de uma artéria.
Ao passar do setor arterial para o se-
tor venoso, ao contrário, ocorre uma
redução da área, porém neste ins-
Figura 3. Distribuição do sangue pelo organismo. Fon-
tante há aumento da velocidade de te: Aula Sanarflix
circulação às custa da pressão que
continua diminuindo. Este aumento
da velocidade mais uma vez garante Como talvez você tenha percebido,
que o fluxo permaneça sem variação a pressão sempre diminui. Este fato
ao longo de todo trajeto. é conhecido como gradiente pressó-
rico. Como o fluxo desloca-se sem-
O sistema circulatório humano é fe- pre da maior para a menor pressão, a
chado de volume constante, por isso pressão deverá sempre diminuir para
exige um fluxo em regime estacioná- garantir um fluxo sempre a frente, até
rio, ou seja, que ao longo de todo o voltar ao coração.
trajeto circulatório não tenha variação
significativa. Na verdade, durante a
BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 15

Granuloma

Se atrito
interno: viscoso

Edema
Fechados (circulatório) Abertos (respiratório)
Líquido ou gás
Compressível: permite
alteração de densidade
Se deforma quando CIRCUITOS
submetido à força Fluido Incompressível
ideal e não viscoso

Em repouso, não CONCEITO COMPRESSIBILIDADE Forças dissipativas não


oferecem resistência DE FLUIDO X ATRITO INTERNO Fluido real
são desprezadas
BIOFÍSICA
DE FLUIDOS
Sem formato próprio;
pode escoar GÁS FLUXO CONSTANTE ≠ velocidade

Compressível LÍQUIDO Princípio de Bernoulli

Sem volume definido Incompressível Regime estacionário

Expansão indefinida Volume definido Volume/tempo

Superfície livre Princípio de Pascal


BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 16

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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BIOFÍSICA DOS FLUIDOS 17

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