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Os picos de morte por traumas não intencionais ocorrem entre 1 e 4 anos e depois na
adolescência até 24 anos. O trauma fechado (contuso) corresponde à maioria das lesões mais
graves e que não podem ser reconhecidas facilmente na criança. Por isso, crianças vítimas de
trauma devem ser avaliadas de modo sistematizado, mesmo se não apresentarem sinais clínicos
de gravidade. As principais causas de insucesso são as falhas em assegurar uma via aérea e
suporte respiratório adequados, e a falta de reconhecimento do trauma abdominal e craniano. O
tempo que decorre do acidente até o atendimento inicial à vítima é essencial para o sucesso do
atendimento:
1° Pico de morte: segundos a minutos após o acidente. Só a prevenção pode ter algum impacto
na mortalidade;
2° Pico de morte: minutos a horas, “hora de ouro”, pois a rápida assistência diminui as fatalidades;
3° Pico de morte: dias a semanas e é secundário a infecções e disfunção de múltiplos órgãos.
CLASSIFICAÇÃO DO TRAUMA
- Extensão do trauma: politrauma é definido por lesão em duas ou mais áreas corporais.
- Tipo do trauma: fechado ou aberto.
- Gravidade do trauma: o mecanismo e os achados no exame físico são úteis para esta
classificação
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DO PACIENTE PEDIÁTRICO
As características anatômicas e fisiológicas da criança produzem padrões distintos de
apresentação clínica. A apneia, a hipoventilação e a hipóxia são cinco vezes mais frequentes que
a hipovolemia associada à hipotensão em crianças gravemente feridas. Pela menor quantidade de
massa corporal da criança, a energia do impacto resulta na aplicação de maior força por unidade
de superfície corporal. Além disso, essa maior energia é transmitida a um corpo com menos tecido
adiposo e maior proximidade entre os órgãos (lesões em múltiplos órgãos). Hipotermia pode
acontecer rapidamente e complicar o tratamento de crianças com hipotensão.
Abdome: crianças pequenas têm o fígado e o baço menos protegidos pela caixa torácica, por isso
estão mais suscetíveis a trauma direto.
Esqueleto: crianças têm calcificação incompleta e seu esqueleto é mais flexível, portanto mais
propenso a fraturas. A perda de sangue associada às fraturas é menor.
Determinar se a via aérea está pérvia, por meio da observação da respiração e da presença de
corpo estranho na boca ou na faringe. Identificar se há fraturas na face/mandíbula ou
traqueia/laringe. Um paciente que chora ou é capaz de falar é improvável que tenha uma
obstrução de via aérea. O paciente politraumatizado tem risco de uma potencial lesão na coluna
cervical, principalmente se estiver inconsciente. A colocação de um acolchoamento com
aproximadamente 2,5 cm de espessura sob todo o tronco das crianças nos primeiros anos de vida
preserva o alinhamento neutro da coluna.
Caso seja necessária a intubação orotraqueal, por dificuldade de manter a via aérea pérvia, o
colar cervical é retirado e faz-se manualmente a imobilização e a intubação sem flexão cervical.
A cricotireoidostomia por punção com agulha é indicada quando o acesso e o controle da via
aérea não podem ser efetuados por máscara com válvula e balão ou entubação orotraqueal.
B: Respiração e ventilação
Em todas as crianças com peso < 30 kg, deve-se usar o dispositivo válvula máscara infantil para
evitar barotrauma. Antes que ocorra a parada cardíaca, a hipoventilação provoca acidose
respiratória. Drenagem torácica: Lesões como pneumotórax, hemotórax ou hemopneumotórax são
tratadas com a descompressão pleural, precedida pela punção em casos de pneumotórax
hipertensivo. A punção deve ser realizada no 2° EIC, na linha hemiclavicular, utilizando-se
cateteres para punção venosa de 14G a 18G.
A PAS em crianças é medida pela fórmula (90 + 2X idade em anos) e a PAD (70 + 2X idade em
anos). A pressão distólica deve ser 2/3 da pressão sistólica. A hipotensão vem seguida de
bradicardia e isso pode ocorrer rápido na criança. A capacidade que a criança tem de compensar
a perda sanguínea nas fases iniciais pode criar uma ilusão de normalidade hemodinâmica,
resultando em reanimação volêmica inadequada e rápida descompensação.
O volume sanguíneo da criança pode ser estimado em 80 mL/kg e, para estimar o peso da criança
maior de 1 ano, pode-se usar a seguinte fórmula: 2X idade em anos + 10. Diante da suspeita de
choque, o procedimento inicial é a administração de um volume de 20 mL/kg de peso de solução
cristaloide. Quando se inicia a terceira expansão com solução cristaloide (60 mL/kg), deve-se
considerar o uso de concentrado de hemácias na quantidade de 10 mL/kg com sangue tipo O
negativo.
A avaliação deve ser feita por meio da escala de coma de Glasgow. Pacientes vítimas de trauma
com resultados nessa escala ≤ 8, que estão arresponsivos ou respondem somente à dor, têm
alteração do estado mental grave e necessitam de rápidas medidas de reanimação.
EXAMES DE IMAGEM
Radiografia pélvica: principalmente nos pacientes vítimas de traumas fechados de alta energia,
que estão hemodinamicamente instáveis, relatam dor pélvica ou têm instabilidade pélvica no
exame físico.
FAST (ultrassonografia direcionada para trauma): rápida avaliação dos quatro quadrantes
abdominais. A sua principal utilidade é em paciente vítima de trauma que se encontra instável, a
fim de detectar hemopericárdio e/ou presença de líquido em cavidades secundário a um trauma
abdominal. Crianças hemodinamicamente estáveis com probabilidade de ter um trauma intra-
abdominal devem fazer tomografia de abdome.
TC de pescoço: o risco da radiação não justifica seu uso rotineiro. Ela deve ser solicitada em
algumas situações, como radiografia de cervical inadequada, evidência de achados na radiografia
de coluna cervical (fratura ou deslocamentos) e diante da suspeita de trauma em coluna cervical,
apesar de radiografias normais.
TC de crânio: deve ser solicitada em todos os pacientes com escala de coma de Glasgow < 14 ou
sinais de fratura de base de crânio.
INTERVENÇÕES COMPLEMENTARES
As principais causas são a colisão de veículos e as quedas. Não se deve começar o exame
abdominal pela palpação profunda, pois isso pode causar reação de defesa voluntária e confundir
os achados do exame. A criança que está estressada engole uma grande quantidade de ar
durante o choro. Se o abdome superior estiver distendido, deve-se realizar a descompressão
gástrica com sonda gástrica. A presença da marca de cinto de segurança no ombro e no abdome
aumenta a chance de haver lesão intra-abdominal associada, bem como equimoses, abrasões,
distensão, irritação peritoneal e ausência de ruídos intestinais. Além dos exames laboratoriais
convencionais, deve-se solicitar gasometria arterial ou venosa, transaminases, amilase e lipase,
Tempo de protrombina, Tempo de Tromboplastina e Urinálise.
TRAUMA TORÁCICO
Serve como um marcador de trauma maior, pois 2/3 das crianças com trauma torácico têm
múltiplas lesões. Em razão da complacência da parede torácica da criança, a energia do trauma é
transmitida para o parênquima pulmonar, causando contusões pulmonares. A maior mobilidade
das estruturas do mediastino faz as crianças serem mais suscetíveis a pneumotórax hipertensivo.
- Criança estável sem lesão visível ao primeiro exame e sem mecanismo de trauma importante:
Deve-se realizar o exame secundário e solicitar radiografia de tórax anteroposterior e de perfil. O
eletrocardiograma deve ser solicitado em caso de trauma torácico anterior, fratura de esterno ou
arritmia. Se tudo normal, com paciente assintomático, ele poderá ser liberado. Em caso paciente
sintomático, é preferível deixar em observação.
- Criança estável com lesão torácica visível ao primeiro exame ou vítima de um mecanismo de
trauma importante: realizar radiografia de tórax antero-posterior com a criança deitada no leito,
eletrocardiograma, FAST, além de manutenção da estabilidade hemodinâmica. Se a criança
estava em um veículo em alta velocidade, com mecanismo de desaceleração ou lesão de parede
torácica importante, realizar angiotomografia de tórax ou ecocardiografia transesofágica, se
disponíveis. Em caso de criança hemodinamicamente estável e assintomática, sem alteração aos
exames iniciais, fazer a radiografia em perfil do tórax e, caso sem alterações, a criança poderá ser
liberada, mas se estiver sintomática, deve ficar em observação e repetir os exames.
2) Trauma penetrante
TRAUMA CERVICAL
Exame neurológico normal: radiografia de coluna cervical anterior e lateral, considerar tomografia
e manter colar cervical. Se os exames são normais, deve-se reavaliar o nível de consciência
durante as primeiras 24 a 72 horas após o trauma. Em pacientes com alteração do nível de
consciência ou com exames de imagem alterados, consultar especialista. Nestes casos manter
colar cervical.
SUSPEITA DE ABUSO FÍSICO NA CRIANÇA
Lesões sugestivas:
- Quando elas não se justificam pelo mecanismo do trauma relatado;
- Não são compatíveis com a idade ou com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança;
- Equimoses intraorais, fraturas e lesões intracranianas ou abdominais em criança que ainda não
anda;
- Lesões em várias partes do corpo, simétricas ou bilaterais;
- Múltiplas lesões em diferentes estágios de evolução e cicatrização;
- Em localizações não usuais, como tronco, orelhas, face, pescoço, dorso das mãos ou parte
superior dos membros superiores;
- Que envolvem partes usualmente cobertas ou protegidas do corpo, como: laterais, grandes
extensões de dorso, pescoço, região interna de coxa, genitália, nádegas;
- Marcas de objetos significativas e inexplicáveis;
- Lesões antigas e cáries sem tentativas de tratamento são evidências de negligência.
PROFILAXIA ANTITETÂNICA