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FARMÁCIAS HOSPITALARES
TÂNIA AZEVEDO ANACLETO1;
EDSON PERINI2;
MÁRIO BORGES ROSA3
1. Farmacêutica da Secretaria de Saúde de Betim e do Hospital João XXIII em Belo Horizonte, Minas Gerais
2. Professor Adjunto do Departamento de Farmácia Social/UFMG Pesquisador do Centro de Estudos dos
Medicamentos-CEMED.
3. Oficial Farmacêutico do Comando da Aeronáutica, Farmacêutico Assessor da Diretoria de Assistência Farmacêutica
da Secretaria de Saúde de Minas Gerais.
REVISÃO / REVIEW
RESUMO
O presente trabalho visou realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso e a resistência bacteriana aos antimicrobianos em nível
hospitalar e discuti-los quanto à aplicabilidade das informações no dia-a-dia dos profissionais da área da saúde. Os artigos
foram reunidos em 4 grupos, de acordo com a temática. Grupo 1: tratava-se de artigos que quantificavam o uso de antibióticos
em nível hospitalar, no entanto não havia informações sobre a forma de utilização individual, como também sobre o perfil de
resistência bacteriana; Grupo 2: artigos relacionados a estudos clínicos randomizados, cego ou não, e observacionais, sendo
que os randomizados duplo-cegos informavam sobre a utilização dos medicamentos para uma doença específica; Grupo 3:
artigos que foram avaliados o perfil de resistência bacteriana em diferentes hospitais, não enfatizando os aspectos clínicos ou o
tratamento farmacológico. Grupo 4: os artigos são de revisão sistemática do Cochrane, que relatam, de forma crítica, os
resultados de vários casos clínicos. Em síntese, para informações sobre o uso clínico de antimicrobiano, o grupo 4 é o ideal
(www.cochrane. bireme.br) e para informações sobre epidemiologia de resistência bacteriana, o grupo 3 é o mais adequado
(www. periodicoscapes.gov.br).
Palavras–chave: Resistência bacteriana, Uso de antibióticos, Farmácia hospitalar
ABSTRACT
This study aims to review literature on the use and bacterial resistance to antibiotics in hospitals, and discuss themon
theapplicabilityof theinformationonday-to-day healthprofessionals. The articles were divided into four groups according to the
theme. Group 1: they were articles that quantified the use of antibiotics in hospitals, but there was no information on how to
use individual, but also on the profile of bacterial resistance, Group 2: Articles related to randomized trials, blind or not, and
observational, with the randomized double-blind study reported on the use of drugs to a specific disease, Group 3: Articles
which we evaluated the profile of bacterial resistance in different hospitals, not emphasizing clinical or pharmacological
treatment. Group 4: the articles are of the Cochrane systematic review, which reported in a critical way, the results of several
clinical cases. In summary, for information on the clinical use of antimicrobials, group 4 is the ideal (www.cochrane.bireme.br)
and for information on the epidemiology of bacterial resistance, the third group 3 is the most appropriate (www.
periodicoscapes.gov. br).
Keywords: Bacterial resistance, Antibiotic use, Hospital pharmacy
INTRODUÇÃO
A resistência bacteriana pode causar infecções muito ponsáveis por certas infecções. Porém, o consumo
difíceis de serem tratadas, permanecendo no local e desnecessário e excessivo sem esta cuidadosa avaliação
favorecendo a proliferação das bactérias. O antibiótico torna mais propício o desenvolvimento desta resistência,
deveria ser prescrito de forma racional, com base em um tornando-se um problema sério no tratamento das doenças
diagnóstico concreto e não baseado apenas em dados infecciosas. Esse evento ocorre em maior proporção em
epidemiológicos de determinados agentes etiológicos res- ambientes hospitalares onde a incidência do uso dessas
* Contato: Jaqueline Cibene Moreira Borges. Centro Universitário Unirg- Campus II-Av. Rio de Janeiro nº 1585, Cep77403-090, Gurupi, TO, Brasil. e-mail:
jaquecmb@yahoo.com.br
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drogas, é proposta em grande quantidade (Fiolet al., 2010). tornando um processo oneroso.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2010), a
resistência bacteriana a medicamentos deveria ser vista há Análises de artigos em que se adotou o DDD e outros
muito tempo como um problema de saúde pública, parâmetros para quantificação do uso de antimicrobianos
principalmente no âmbito hospitalar, já que é uma prática A OMS preconiza o uso da metodologia ATC/DDD
não muito recente, desta forma os países precisam se unir (Anatomical Therapeutic Chemical/ Defined Daily Dose)
para implantar providências e monitorizar estudos para em hospitais como forma de padronizar a quantificação
melhor compreensão das infecções, concentrando suas dos medicamentos utilizados, permitindo comparações de
ações em medidas de controle e de diagnósticos precisos taxa de consumo através do tempo (Rodrigues & Bertoldi,
com a finalidade do uso racional de antimicrobianos. 2010).
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo analisar Essa metodologia pode ser verificada em vários
as bibliografias e discuti-las quanto à aplicabilidade das trabalhos, como de Santos &Lauria-Pires (2010) em que
informações no dia-a-dia dos profissionais da área da realizaram um levantamento prospectivo do consumo de
saúde ao verificar qual o tipo de artigo científico mais antibacterianos em três unidades de terapia intensiva
adequado para orientar esse profissional da saúde em médico-cirúrgicas, duas localizadas em dois hospitais
relação ao uso e o perfil de resistência aos antimicrobianos públicos e uma em hospital privado, em Brasília, no
de uso hospitalar. período de outubro de 2004 a 30 de setembro de 2005,
sendo o consumo expresso com base no Sistema
MATERIAIS E MÉTODOS ATC/DDD. O número de DDD foi dividido pelo número
Trata-se de um estudo retrospectivo de levantamento de pacientes-dia e multiplicado por mil, compondo a
bibliográfico seguido da análise crítica sobre as temáticas, densidade média do consumo por mil pacientes-dia
uso e resistência bacteriana aos antimicrobianos em nível (DDD1000). Foi analisado um total de 1.728 pacientes-dia
hospitalar. Para o alcance do objetivo geral, optou-se pelo e 2.918,6 DDD nas três Unidades de Terapia Intensiva,
método descritivo e analítico. O estudo foi realizado com correspondendo a uma densidade média de consumo de
base em referências eletrônicas, pela BIREME, Cochrane, 1.689,0 DDD1000 (Quadro 1). Os padrões de consumo de
no banco de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana em antibacterianos nas três UTI não foram uniformes.
Ciências de Saúde), entre o período de 2009 a 2012. Enquanto a mediana do número total de DDD foi
Pesquisou-se também em outros sites como Comissão de significativamente maior nas UTI dos hospitais públicos, a
Controle de Infecção Hospitalar (www.ccih.med.br); densidade média de consumo foi significativamente maior
Organização Pan - Americana da Saúde na UTI do hospital privado. Este último resultado segundo
(www.opas.org.br);JournalofAntimicrobialChemoterapy os autores, pode estar relacionado a três fatores: a
(jac.oxfordjournals.org); Scielo(www.scielo.br) e frequência da prescrição de determinados antibacterianos;
Periódicos do capes (www.periodicoscapes.gov.br). Após a diferença entre a dose diária definida e a dose diária
a análise crítica, os artigos foram separados, em: Grupo 1: efetivamente prescrita do medicamento; e a utilização do
artigos que quantificavam, através do DDD e outros, o uso número de pacientes-dia como denominador para calcular
de antimicrobianos; Grupo 2: artigos que associavam o uso a densidade ou taxa de consumo de antibacteriano. Apesar
do antimicrobiano a uma situação clínica específica; disso, os grupos antibacterianos mais utilizados nas três
Grupo 3: artigos cujo foco era centrado na resistência UTI foram semelhantes, destacando-se cefalosporinas de
bacteriana, e Grupo 4: artigos de revisão sistemática. Os 3º geração, penicilinas/inibidores de betalactamases,
resultados dos grupos foram agrupados em quadros para carbapenêmicos e fluorquinolonas.
uma análise global. Finalmente foram comparados os Verifica-se que nessas instituições não existia programa
resultados de cada grupo, e selecionou o grupo de artigo de educação permanente, restrição de uso de
que mais respondeu as seguintes perguntas: 1ª) Será que antimicrobianos, rotina para terapêutica empírica das
através de artigos científicos, o profissional da saúde principais infecções ou apoio do médico infectologista ao
consegue se orientar sobre o uso dos antimicrobianos? 2ª) processo de decisão sobre a terapêutica antibacteriana.
Será que através do material publicado tem-se a noção de Para os autores, expressar o consumo de antibacterianos
reposta bacteriana a determinados tratamentos? 3ª) Em por intermédio do número de DDD por pacientes-dia (ou
síntese, será que as revistas científicas contêm informações leitos-dia) permite comparar a utilização desses
que podem ser aplicadas no dia-a-dia do profissional da medicamentos entre instituições, independente das
saúde? diferenças na composição do formulário, da potência do
antibiótico e do censo hospitalar. Em síntese, o emprego
RESULTADOS E DISCUSSÃO da metodologia ATC/DDD permitiu visualizar o contexto
Para o grupo 1 verificou-se que alguns dos artigos a do consumo de antimicrobianos de uma forma mais
forma de cálculo quando presente muitas vezes, não eram precisa, em termos quantitativos, porém não permitiu a
objetivos; não se tornando compreensível ao leitor. Os análise em termos qualitativos, o que não permite
grupos 2 e 3 não foram encontrados dificuldades na visualizar se o uso foi racional assim como o perfil de
obtenção do material como também da leitura, pois resistência bacteriana, desta forma não respondendo aos
existiam vários artigos disponíveis “freeline”. No Grupo 4 questionamentos desta pesquisa.
a principal dificuldade enfrentada foi quanto à obtenção de Estudos semelhantes sobre a utilização de
artigos na íntegra, pois a bireme disponibiliza somente antimicrobianos foram conduzidos por Rodrigues &
resumos e caso queira obtê-los é necessário solicitá-los, Bertoldi (2010) em um hospital privado, localizado em
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Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, durante o período No presente trabalho, o emprego da metodologia
de março a junho de 2006. O consumo dos ATC/DDD permitiu visualizar o contexto do consumo de
antimicrobianos em todas as áreas clínicas da instituição antimicrobianos e identificar as mudanças no padrão de
foi expresso em Dose Diária Definida (DDD) por 100 consumo, no entanto, não foi possível verificar os dados de
leitos-dia por quatro meses. Entre os antimicrobianos que resistência microbiana e correlacioná-los com o consumo
tiveram valores maiores em DDDs destacam-se: desses antimicrobianos, desta forma não respondendo aos
ciprofloxacino (16,43), sulbactam associado à ampicilina questionamentos desta pesquisa.
(13,36), oxacilina (11,57), cefazolina (8,09) e gentamicina Segundo Cusiniet al. (2010)a metodologia DDD
(7,64) (Quadro 1). As DDDs foram calculadas para cada apresenta algumas desvantagens: Primeiro, DDD podem
antimicrobiano utilizado no período da coleta dos dados variar de acordo com a doença subjacente. Em segundo
com objetivos de servir para futuros estudos comparativos lugar, dias de terapia são subestimados no caso de redução
intra-hospitalares e permitir uma melhor visualização da dose, por exemplo, por causa da função renal
quanto ao consumo pelo hospital. diminuída. Em terceiro lugar, a medição quantitativa não
No período da realização da pesquisa, o hospital ainda indica se a terapia está sendo apropriada. Finalmente,
não possuía uma padronização definitiva de morbidades dos pacientes podem ser muito diferentes entre
antimicrobianos, não havia um controle efetivo de hospitais ou em diferentes unidades hospitalares. Assim,
restrição de uso de nenhum antimicrobiano utilizado, uma em adição aos dados quantitativos, a avaliação da terapia
vez que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar antimicrobiana e profilaxia em pacientes individuais são
estava em período de implantação. Por isso o alto consumo necessários para o controle de qualidade. No entanto, tal
segundo os autores pode estar relacionado à ausência de avaliação é de difícil padronização, especialmente em
uma política de controle dos medicamentos prescritos no pacientes com co-morbidades. Por isso, não responde aos
hospital e à falta de protocolos de uso de antimicrobianos. nossos questionamentos.
O estudo da utilização de antimicrobianos é relevante em
Os programas de uso racional de antibióticos em
termos econômicos. Neste contexto, o DDD elevado
hospitais são de extrema importância, pois visam otimizar
significou elevação dos gastos hospitalares com
a terapia antimicrobiana e minimizar o aparecimento de
medicamentos e com internação. Além disso, estão
resistência bacteriana. No trabalho de Cabrera et al. (2012)
explícitos neste artigo as clínicas do hospital que mais
foi implementado um Programa educacional baseado na
consumiram antimicrobianos e os tratamentos
aplicação de uma lista de verificação (checklist), contendo
farmacológicos utilizados, permitindo facilmente
critérios para o uso racional desses medicamentos, no
correlacioná-los com a realidade de outro hospital. Embora
Departamento de Medicina Interna (DMI) do Hospital das
informações como quais as bactérias mais frequentes, o
Clínicas, em Uruguai, no período 01 de julho de 2008 e 30
quadro clínico e possivelmente o perfil de resistência
de setembro de 2008. O formulário continha várias
bacteriana, não tenham sido discutidas nesse artigo, por
informações entre as quais: local de aquisição da infecção,
isso este estudo responde parcialmente aos nossos
tipo de infecção, os agentes antimicrobianos utilizados
questionamentos.
(nome, dose, intervalo, dias); resultados microbiológicos e
A metodologia ATC/DDD permite comparações entre
antibiograma, a condição do paciente no momento da alta.
medicamentos utilizados; entretanto, cada local de estudo
O consumo antimicrobiano foi expresso em doses diárias
tem suas próprias características e essas diferenças devem
definidas (DDD) por 100 pacientes-dia. Os grupos foram
ser consideradas para que as comparações tenham
divididos em: Grupo A: Coorte prospectivo, composto de
significado prático. Já as comparações feitas com dados do
pacientes selecionados aleatoriamente em que a prescrição
mesmo hospital, em diferentes períodos, podem servir de
de antibióticos foi realizada no âmbito do programa
indicativo da tendência de uso de medicamentos como
educacional sobre o uso racional de antimicrobianos (64
constatado na pesquisa de Sánchez et al. (2011) sobre o
camas). Grupo de coorte B, composto de pacientes que
consumo de antibióticos sistêmicos através das prescrições
receberam antibióticos de acordo com a prática clínica (67
de pacientes nas Unidades Básicas de Saúde de Segovia,
leitos).O consumo total de agentes antimicrobianos foi
Espanha, período de 1999 a 2007. Os dados foram
117,7 DDD/100 cama-dia. Em coorte A o consumo foi de
expressos em Doses Diárias Definidas (DDD),
46,1DDD/100 cama-dia e em coorte B de 71,6 DDD/100
posteriormente transformados no indicador DHD (DDD
cama-dia (Quadro 1). A redução no consumo de agentes
por 1000 habitantes por dia). Durante o estudo constatou-
antimicrobianos em coorte A comparado ao B foi de
se que o consumo de antibióticos foi alto, com DHD de
35,6%.
18,06. Observou-se que as prescrições de antibióticos
centralizaram-se basicamente em quatro subgrupos A adaptação ao espectro de susceptibilidade
terapêuticos: penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos e antimicrobiana com a redução do uso de antimicrobianos
quinolonas, representando entre eles 92,41%. Além disso, ocorreu mais frequentemente em grupo A que no B (64,6
verificaram diferentes tendências de consumo de vs 24%). Esta estratégia é um dos pilares do uso de
antibióticos para cada ano dos subgrupos considerados. antimicrobianos adequados, uma vez que envolve a
Totalizando o maior DHD de antibióticos de uso redução do uso de antimicrobianos de amplo espectro e,
sistêmico, destaca-se a penicilina (64,42%), sendo o em geral, poderá evitar o uso combinado de terapia
principal responsável pelas variações da prescrição global, antimicrobiana, reduzindo o risco de seleção de resistência
seguido dos macrolídeos (10,15%), quinolonas (9,3%) e e os custos adicionais. Portanto, a implementação de um
por fim as cefalosporinas (8,54%). programa de uso racional de antimicrobianos baseado na
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aplicação de uma lista que incluiu critérios validados, tão sendo tratadas; algumas vezes, não se sabe qual classe
juntamente com a interação de especialistas com os de fármaco está sendo utilizada; se o uso do medi-camento
médicos responsáveis pela prescrição (componente é racional; e muito menos, como está sendo a resposta ao
educativa), reduz o consumo de antimicrobianos, otimiza o tratamento (bactéria sensível ou resistente). Logo, apenas o
uso e reduz custos sem um impacto negativo no tempo de DDD/100 leitos/dia e outras unidades citadas não podem
internação hospitalar e mortalidade. responder aos questionamentos.
Neste artigo foram abordados as clínicas do hospital que
mais consumiram antimicrobianos, as bactérias mais Análises dos artigos que associam o uso dos
frequentes, os tratamentos farmacológicos utilizados e as antimicrobianos a uma situação clínica específica
estratégias adotadas para o uso racional de antimicrobianos Desde longo tempo o homem buscava soluções para a
reduzindo a seleção de resistência bacteriana. cura de infecções, através da experiência com plantas
medicinais, derivados ou produtos animais, e certamente
Quadro 1. Artigos científicos fundamentados em métodos não se conhecia seu valor terapêutico, mas com
quantitativos conhecimentos primários da época acreditava-se no seu
poder de cura. Hoje, antibióticos que eram produzidos
apenas por processos naturais, revelaram-se necessários e
passaram também a ser sintetizados em laboratório, com
aperfeiçoamento de suas características químicas e
ampliação do seu espectro de ação. A experiência de anos
anteriores deu origem à propagação do falso conceito de
que a antibioticoterapia não seria mais eficaz para o
controle das doenças infecciosas, com o emprego de
antimicrobianos cada vez mais numerosos e potentes
(Wolf et al., 2007). Mas atualmente, os antibióticos são
extremamente prescritos, e são indicados, muitas vezes,
sem necessidade ou com imprecisão, tal fato, facilita o
Legenda: DDD = Dose Diária Definida; DHD = DDD por desenvolvimento de resistência que impedem a ação da
1000 habitantes por dia; UTI = Unidade de Terapia droga, nas terapêuticas de infecções que poderiam ser
Intensiva; DMI: Departamento de Medicina Interna; HC: sanadas facilmente. Por conseguinte, o médico precisa, em
Hospital das Clínicas princípio, estabelecer a necessidade da terapêutica
antimicrobiana em determinado paciente assim como
O quadro 1 sumariza todos os trabalhos analisados, as diagnosticá-la a uma situação específica (Amato Neto et
unidades de medidas utilizadas pelos autores, o período de al., 2007).
estudo, o local realizado e os principais resultados. Pode-se Estudo randomizado controlado, multicêntrico foi
dizer que os trabalhos onde o DDD/100 leitos/dia foram realizado para investigar se há necessidade de tratamento
utilizados permitem apenas identificar as tendências de de antibiótico na Diverticulite Aguda (DA) não
consumo dos antibióticos. No entanto, quando o DDD/100 Complicada, em dez departamentos cirúrgicos na Suécia e
leitos/dia é colocado por classe terapêutica pode-se estimar na Islândia, no período de outubro de 2003 e janeiro de
o custo financeiro. 2010. Dos 623 pacientes, 314 tratamentos com antibióticos
Tentar comparar os resultados do quadro 1 é muito e 309 sem antibióticos, e 46 foram excluídos (Quadro 2).
difícil, pois cada hospital tem suas características Complicações como perfuração ou formação de abscessos
ambientais e demanda que não são considerados no cálculo foram encontrados em seis pacientes (1,9 %) que não
do DDD/100 leitos/dia. recebiam antibióticos e em três (1,0 %) que foram tratados
As adições de novas unidades de medida podem com antibióticos. A permanência hospitalar média foi de 3
acrescentar informações ao leitor, porém ainda não dias em ambos os grupos. Os autores perceberam que o
permitiram visualizar o paciente, o tratamento e a resposta, tratamento com antibióticos para DA não complicada, não
somente permitiram vislumbrar de modo global. acelera a recuperação, como também não previne
O trabalho de Cabrera et al. (2012) vislumbra a forma de complicações ou recidivas. Portanto, o tratamento com
seleção (baseada em testes de sensibilidade bactéria in antibióticos deverá ser reservado para Diverticulite
vitro) e o desfecho final (n° de óbitos). É muito Complicada (Chabok et al., 2012).
importante, que novos artigos utilizando o DDD/100 Um grande problema neste trabalho é seu desenho, como
leitos/dia, contenham estas informações, o que permite não foi um estudo randomizado cego, seus resultados não
mais facilmente ao leitor transpor para seu dia-a-dia. Além são considerados “padrão ouro”, e por isso podem ser
disso, relata sobre a aplicação de estratégias baseada em facilmente questionados. Devido o viés apresentado no
uma lista de verificação que permite reduzir o consumo de desenho do trabalho, não se deve utilizar este tipo de
antimicrobianos, otimizar e diminuindo os custos. artigo, de forma isolada, na decisão terapêutica, dessa
Experiências, neste sentido, bem sucedidas deveriam ser forma não responde aos questionamentos deste trabalho.
alvos de artigos científicos, pois norteariam a implantação Estudo de coorte retrospectivo foi realizado com 527
de novos Comitês. pacientes, no Hospital San Borja Arriará, Chile, período de
Em síntese, em termos de farmacologia clínica, o DDD/ 1997 a maio de 2007, a fim de analisar se em curto prazo
100 leitos/dia não permitem visualizar as doenças que es- (dose única) a Profilaxia Antimicrobiana (PA) para pacien-
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tes submetidos à cirurgia classificada como limpa- sem gravidade escolhidas para receber 3 dias de
contaminada maxilofacial é tão eficaz quanto a PA em amoxicilina ou placebo, 27 foram excluídas e 873
longo prazo (dose múltipla). O grupo de dose única completaram o tratamento (431 por via oral amoxicilina e
apresentou 5,7% de infecções pós-operatórias e de dose- 442 com placebo). Os autores concluíram que a evolução
múltipla, 5, 9% (Quadro 2). Constatou-se que não houve clínica nessas crianças não diferencia quando tratados com
diferenças significativas na infecção entre a administração um antibiótico ou com placebo (Quadro 2). Testes
de PA de dose única com a dose múltipla. Segundo os similares são necessários em países com uma elevada
autores, a PA de dose múltipla, não está sendo indicada, já carga de pneumonia para racionalizar o uso de antibióticos
que expõe desnecessariamente o paciente aos agentes nessas comunidades.
antimicrobianos, tornando maior a probabilidade de Neste trabalho, os autores apresentaram uma situação
resistência bacteriana, toxicidade, alergias, superinfecção e clínica específica, as respostas farmacológicas observadas.
de elevação dos custos (Villanueva et al., 2012). Neste A única desvantagem deste estudo são as conclusões que
trabalho, os autores apresentaram uma situação clínica se fundamentam em apenas um estudo clínico. Porém, ao
específica, o uso profilático de antibiótico em cirurgia ler este artigo o profissional tem a idéia da doença, do
maxilofacial e as respostas farmacológicas observadas. Foi procedimento adotado e dos resultados obtidos, podendo
comparado a incidência da infecção do sítio cirúrgico em então nortear os profissionais da saúde em uma situação
dois grupos, isto é, pacientes tratados com antimicrobianos semelhante, por isso este trabalho respondeu parcialmente
dose única e pacientes tratados com dose múltipla. A os questionamentos.
grande utilidade dos estudos de coorte é determinar a De todos os artigos analisados neste grupo, o “padrão
causa da doença, quando os indivíduos são expostos a ouro” seria o artigo de Hazir et al. (2011), pois como o
fatores de risco (Fuchs & Fuchs, 2004). No caso deste participante e o investigador não sabem o que está sendo
estudo, o delineamento observacional de coorte não utilizado, isto previne que o pesquisador trate de forma
responde aos questionamentos iniciais. diferente os participantes dos grupos ou que realize uma
Estudo de caráter descritivo, quantitativo e transversal atenção especial aos pacientes que estão recebendo a
foi executado a fim de avaliar a eficácia da intervenção. Ao contrário dos participantes que sabem
antibioticoterapia utilizada para o tratamento de infecções quando estão recebendo a intervenção, podem
respiratórias em crianças atendidas no Hospital superestimar seu efeito (Fuchs & Fuchs, 2004). Em se
Universitário do município de Alfenas, Minas Gerais, tratando do delineamento randomizado, utilizado por
Brasil, no período de fevereiro a maio de 2007, através 208 Chabok et al. (2012) serve com maior poder para
prontuários (Quadro 2). Quanto aos diagnósticos, notou-se estabelecer a causa e o efeito, como, por exemplo, a
predomínio de broncoespasmos + pneumonia em 16 eficácia de um tratamento farmacológico. Os trabalhos de
crianças (46%), seguidos de pneumonia (24%), asma Haziret al. (2011) e Chabok et al. (2012) ao dividir a
(15%), pneumonia aspirativa (6%) e crise asmática, otite amostra em tratado e não tratado (controle),
média aguda + pneumonia e asma brônquica + pneumonia provavelmente, foi administrado ao grupo controle um
(3%). Observaram-se dez tipos diferentes de placebo, dessa forma pode-se controlar o efeito placebo,
antimicrobianos na prescrição que foram utilizados em ou seja, resultado do efeito de outros fatores, como a
âmbito nasocomial, mostrando uma escolha pelo grupo das crença de que o tratamento funciona e a evolução natural
penicilinas, sendo a mais utilizada, a ampicilina (56%). por ano (Fuchs & Fuchs, 2006). Nos demais trabalhos
Para a conduta de alta hospitalar seis antimicrobianos como de Villanueva et al. (2012) não houve o grupo
diferentes foram prescritos aos pacientes estudados, dos placebo e isto poderia ser um viés na aferição dos
quais, amoxicilina teve 11 indicações (32%), e em resultados, pois os pesquisadores estão cientes de quem
associação com clavulanato, mais 3 indicações (9%), está recebendo o tratamento e por isso podem observar
totalizando 41% das prescrições, evidenciando ser a droga este grupo de forma mais atenta quando comparado
de principal escolha nesta conduta (Pacheco et al., 2011). somente ao grupo controle. Em síntese, este tipo de
Este trabalho fez apenas uma abordagem clínica e trabalho, quando bem delineado, pode auxiliar o médico na
farmacológica. Devido o desenho empregado, este artigo prescrição. Quando o delineamento não estiver adequado,
não pode ser usado com única referência na decisão pode induzir a conclusões erradas, e por isso se utilizado
clínica. como fonte de pesquisa principal pode levar ao erro de
Para desenvolver orientações eficazes para o tratamento prescrição. Em relação a trabalhos que analisam
inicial com antibiótico, é essencial ter a informação sobre prescrições médicas, torna-se essencial que sejam
o organismo causador provável e o padrão da resistência elaboradas novas técnicas claras de tal forma que não
aos antibióticos. No entanto, esses estudos são caros e ocorra vieses.
requerem perícia, que é muitas vezes falta no local de
rotina da maioria dos países em desenvolvimento. Hazir et Artigos cujo foco central é a resistência bacteriana
al. (2011) desenvolveram um estudo multicêntrico, duplo- Os antimicrobianos estão entre os medicamentos mais
cego, randomizado, em 4 hospitais terciários de 3 cidades prescritos em todo mundo. São utilizados principalmente
no Paquistão (Islamabad, Lahore, Rawalpindi), com para inibir ou combater o crescimento de determinados
objetivo de comparar a evolução clínica em crianças com microorganismos, porém de acordo com Amadeu et al.
pneumonia sem gravidade, como definido pela OMS, (2009) vários profissionais o fazem sem ao menos obter
quando tratados com amoxicilina versus os tratados com um diagnóstico concreto através de exames laboratoriais e
placebo. Das 900 crianças de 2-59 meses com pneumonia se baseiam apenas em dados epidemiológicos, tal como
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mail: juliana.rodrigues@unifacs.br.
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ISSN - 2675 – 3375
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access during social isolation, to portray the possibility of undesirable effects related to
drugs, resulting from self-medication, and to highlight the absence of clinical practice and
assistance with pharmaceutical supplies for the patient. Data were obtained between August
2020 and April 2021. Chloroquine/hydroxychloroquine, vitamin C, ivermectin,
azithromycin, ibuprofen and lopinavir-ritonavir are the drugs most cited in scientific
articles. Antiretrovirals have been reported in synergy with chloroquine /
hydroxychloroquine, which was the most cited in articles related to self-medication. The
incorrect use of these substances can cause serious side effects, other types of pathologies or
even addiction. Therefore, the pharmacist and the multidisciplinary team should advise the
patient on the rational use of medications.
INTRODUÇÃO
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METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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diferença potencial no fator de virulência em comparação aos que não receberam as dosagens
do fármaco. A mortalidade com os respectivos antirretrovirais não referiu alteração
significativa, tendo os distúrbios gastrointestinais como efeito adverso mais comum, sendo
não sugerido para os casos leves, moderados ou graves, impossibilitando o seu uso com os
antipiréticos, que são tóxicos no aparelho gastrointestinal (Yanping et al., 2020).
Em situação de isolamento social há chance de alteração no comportamento dos
indivíduos, sendo potencialmente praticante de auto dosagem (decisão individual do sujeito
de determinar a dose a ser administrada e alterná-las em um intervalo de tempo, com
probabilidade de uma superdosagem ou subdosagem), somada a automedicação, que é o ato
de administrar um medicamento por conta própria, sem orientação profissional, ampliando
as chances de efeitos tóxicos (Marcelo Beltrão, 2020). Isso se deve à ausência da consulta
clínica, num cenário onde a internet se tornou centro de informação de saúde e nas farmácias
ou drogarias medicamentos são vendidos abundantemente sem a orientação farmacêutica
sobre seus efeitos indesejáveis, inviabilizando a prática clínica da assistência em saúde. O
Conselho Nacional de Saúde fdiz que o uso indiscriminado de medicamentos é um problema
antigo, de acordo o Ministério da Saúde esta prática é responsável por 27% das intoxicações.
Sendo assim, o Ministério da Saúde defende a utilização de medicamentos de forma segura
aos usuários, através da orientação e atenção farmacêutica que é direcionada ao paciente com
o objetivo de promover o uso racional dos medicamentos para obter os efeitos esperados
(SOBRAL, 2018).
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Vol.30,n.2,pp.82-86 (Abr - Jun 2017) Revista UNINGÁ Review
1. Aluno do curso de graduação em Farmácia da UNINGÁ; 2. Professor Doutor do curso de Farmácia da UNINGÁ.
* Rua Irmã Isabel Padierna, 769. Cj. Hab. Parigot de Souza, Maringá, Paraná, Brasil. CEP:87047-210. barbosa.mth@gmail.com
encurtar a relação entre o farmacêutico, que é quem co- zaram um acompanhamento junto a um farmacêutico.
nhece o medicamento, com o paciente. Sua importância Segundo Zubioli (2000)15, além de dar todas as in-
se dá pela facilitação do acompanhamento farmacotera- formações necessárias e importantes ao usuário para uma
pêutico, pois o profissional pode identificar e solucionar correta avaliação e consequentemente uma correta in-
os problemas relacionados aos medicamentos, identifi- tervenção junto ao paciente, o profissional deve analisar a
cados como “PRM’s” que foram classificados na Espanha situação de modo a entender fatores importantes relaci-
pelo Consenso de Granada, onde também, foram defini- onados à doença, que são: determinar o início do pro-
dos alguns conceitos e métodos de acompanhamento blema, a quanto tempo o paciente está acometido, a des-
farmacoterapêuticos14. crição da patologia, fatores que possam agravar ou aliviar
Com os cuidados do farmacêutico, o principal bene- possíveis sintomas, além de possíveis tentativas de tra-
ficiário é o paciente que passa a receber qualidade de vida, tamentos anteriores. O farmacêutico deve também avaliar
pois participa de um acordo social colaborativo entre as características pessoais do indivíduo, como a idade e o
várias áreas da saúde, pois existe um número maior de sexo. Caso seja uma mulher, se está grávida ou ama-
profissionais preocupados diretamente com sua saúde. mentando, se já possui antecedentes alérgicos ou reações
Ainda assim, o paciente não é o único beneficiado, pois adversas e ainda se o paciente possui alguma doença
com a incorporação do farmacêutico, se tem uma dimi- crônica, como a asma, por exemplo.
nuição nos custos operacionais, pois este é um profissi- O uso irresponsável não pode apenas ser relacionado
onal de graduação superior e com formação voltada jus- ao uso indiscriminado de medicamentos, mas também aos
tamente para o medicamento, aliado a isto, o farmacêu- erros de prescrição e as propagandas que prometem a
tico normalmente é o primeiro profissional procurado melhora imediata de problemas que atrapalham o dia a
para tratar da saúde do enfermo, e em certos momentos dia do cidadão. Pode-se apontar que a indicação farma-
acaba sendo o único profissional solicitado14. cêutica é uma ferramenta que pode promover a melhoria
Segundo Arnaldo Zubioli (2000)15 o farmacêutico desta condição pois traz informações importantes para o
sempre tem algo a dizer quanto a automedicação, pois na uso correto deste medicamento, que pode ser atribuído
automedicação, o usuário normalmente recorre a duas não tão somente pela indicação correta à doença, mas
alternativas, a primeira que é não se medicar e a segunda também para a precisa indicação nos aspectos como idade,
que é utilizar remédios caseiros ou se automedicar com sexo entre outros pontos18.
medicamentos industrializados e por estes motivos o Uma das atribuições do farmacêutico em seu exercí-
usuário procura uma farmácia para encontrar soluções cio profissional é promover proteger e recuperar a saúde
para sua doença. dos usuários, o farmacêutico pode discutir casos clínicos
Para Arrais et al. (1997)7 os problemas que levaram os com outros membros da equipe de saúde, podendo assim,
usuários a se automedicar, não justificava o uso dos me- contribuir com informações que ajudem na substituição,
dicamentos, pois eram doenças autolimitadas ou provo- interrupção ou ajuste da farmacologia, intensificando
cados por carências nutricionais. Além destes erros, um assim o cuidado junto ao paciente, e, uma forma de au-
outro uso inadequado também foi o uso incorreto dos xiliar nesse cuidado é a prescrição farmacêutica, que é
medicamentos, como a indicação de antibióticos para a autorizada pela lei 586/201319.
cura de viroses respiratórias ou tosses. A prescrição farmacêutica é um processo seguro ao
E para que estes erros não ocorram, Zubioli (2000)15 paciente, pois o profissional especialista em prescrição
indica que o farmacêutico deverá possuir conhecimentos clínica, deve seguir uma série de etapas para uma correta
que permitam a ele indicar ou então desaconselhar certos prescrição, como identificar a necessidade e o objetivo
medicamentos em situações de automedicação simples e terapêutico, selecionar os medicamentos seguros, efica-
em vista disso, o farmacêutico é um grande fomentador zes e convenientes ao paciente, fazer a prescrição por
ao uso racional, pois o farmacêutico é o único profissional escrito, acompanhar e documentar os resultados, tudo
que entende de todos os pontos relacionados ao medi- isso deixando sempre o paciente ciente e bem orientado
camento. quanto às decisões20.
A indicação errada dos antibióticos é um problema Não são todos os medicamentos que podem e serão
descrito por Santos e Nitrin (2004)16 que pode levar ao prescritos pelos farmacêuticos, só serão indicados os
desenvolvimento de microrganismos possivelmente re- medicamentos isentos de prescrição médica, ou seja,
sistentes aos tratamentos usuais, consequentemente analgésicos, antitérmicos, antiácidos que são medica-
acarretando danos graves aos pacientes ou até mesmo mentos para enfermidades comuns, e que não necessa-
levá-lo ao óbito. riamente necessitam de intervenção médica, inclusive
Melchiors et al. (2015)17 que analisaram as inter- estes medicamentos são comprados deliberadamente
venções farmacêuticas entre 1990 e 2010, observaram quando apontado por conhecidos, ou pela influência da
que a intervenção feita pelo farmacêutico promoveu uma propaganda ou seja, sem nenhuma responsabilidade ou
efetiva redução na mortalidade dos pacientes que reali- instrução.