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PREVENINDO ERROS DE DISPENSAÇÃO EM

FARMÁCIAS HOSPITALARES
TÂNIA AZEVEDO ANACLETO1;
EDSON PERINI2;
MÁRIO BORGES ROSA3

1. Farmacêutica da Secretaria de Saúde de Betim e do Hospital João XXIII em Belo Horizonte, Minas Gerais
2. Professor Adjunto do Departamento de Farmácia Social/UFMG Pesquisador do Centro de Estudos dos
Medicamentos-CEMED.
3. Oficial Farmacêutico do Comando da Aeronáutica, Farmacêutico Assessor da Diretoria de Assistência Farmacêutica
da Secretaria de Saúde de Minas Gerais.

Autor responsável: T.A. Anacleto. E-mail: taniaanacleto@yahoo.com

INTRODUÇÃO transcrição, a dispensação, a administração e o monitora-


mento (LEAPE et al., 2000). Como qualquer outro sistema
As farmácias têm como sua principal função a dispen- complexo, apresenta defeitos resultantes de uma combi-
sação dos medicamentos de acordo com a prescrição médi- nação de múltiplas falhas que individualmente não seriam
ca, nas quantidades e especificações solicitadas, de forma suficientes para causar um erro; são as chamadas falhas
segura e no prazo requerido, promovendo o uso seguro e latentes, dinâmicas como o sistema, e que mudam de acor-
correto de medicamentos e correlatos. As farmácias hospi- do com as situações a que este é submetido. As defesas
talares no Brasil, nas últimas duas décadas, têm evoluído e do sistema visam impedir que elas isoladamente ou que
se organizado com o objetivo principal de contribuir para a somatória de diversas falhas resultem em erro (COOK
a qualidade da assistência à saúde e, tendo o medicamen- et al., 1998).
to como instrumento para o pleno exercício dessa função, É provável que muitos erros de medicação não sejam
devem ter como foco de sua atenção o paciente e suas detectados. Suas seqüelas e significados clínicos são míni-
necessidades (SBRAFH, 1997; GOMES ; REIS, 2000). Assim, mos e sem conseqüências adversas para o paciente. Entre-
sua organização e sua prática devem prevenir que erros de tanto, alguns erros podem provocar conseqüências graves
dispensação aconteçam. e por isso deve-se estabelecer sistemas eficazes de prescri-
Segundo Leape et al. (1999) a prevenção de erros ção, dispensação e administração de medicamentos para
em hospitais não tem sido uma prioridade. Quando aconte- sua prevenção. Estes sistemas devem contar com pessoal
cem, apenas medidas paliativas e transitórias são tomadas. adequadamente preparado e supervisionado, comunicações
Verifica-se procedimentos adotados e treina-se pessoal em apropriadas, cargas de trabalho razoáveis, comprovações
determinada atividade, mas não se avalia a insegurança múltiplas de procedimentos, sistemas de garantia de qua-
inerente aos sistemas complexos que caracterizam o pro- lidade, assim como locais, equipamentos e abastecimen-
cesso de utilização de medicamentos. Fatores como falta to adequados (DAVIS; COHEN,1981). Os sistemas seguros
de definições hierárquicas, tolerância a práticas individua- se baseiam na introdução de diferentes tipos de medidas
listas, informação não disponível quando necessária e medo direcionadas não só a prevenir os erros, mas também a
da punição permanecem como obstáculos à melhoria da torná-los visíveis, detectando e interceptando-os antes que
segurança nos hospitais. atinjam os pacientes. Mesmo assim é preciso a introdução
A utilização de medicamentos em hospitais pode de medidas que reduzam as possíveis conseqüências dos
envolver de 20 a 30 etapas, incluindo a prescrição, a erros que atinjam os pacientes (LÓPEZ, 2004).

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Procedimentos operacionais de armazenamento e dis- Nas farmácias, os farmacêuticos são responsáveis pela
pensação de medicamentos foram desenvolvidos visando a dispensação da medicação com precisão e para isso devem
prevenção de erros nas farmácias hospitalares. Este artigo, desenvolver e seguir procedimentos operacionais que pre-
parte de um estudo brasileiro que analisou a ocorrência de vinam erros e garantam que os medicamentos sejam distri-
erros de dispensação ocorridos dentro da farmácia de um buídos com segurança aos pacientes. Dez passos são consi-
hospital geral de grande porte (ANACLETO, 2003), faz uma derados fundamentais para promoção de uma dispensação
revisão do conhecimento atual sobre as medidas de preven- segura (COHEN, 1999):
ção de erros de dispensação que podem ser adotadas em 1. armazenar em local seguro e diferenciado aqueles
farmácias hospitalares. medicamentos que possam causar erros desastrosos, utili-
zando sinais de alerta e armazenando-os em locais separa-
Erros de Dispensação e Medidas de Prevenção dos dos demais;
2. desenvolver e implantar procedimentos meticulo-
O erro de dispensação é definido como a discrepância sos para armazenamento dos medicamentos, armazenando-
entre a ordem escrita na prescrição médica e o atendimento os por ordem alfabética segundo a denominação genérica;
dessa ordem. No ambiente hospitalar, são erros cometidos prateleiras, armários e gaveteiros organizados de acordo
por funcionários da farmácia (farmacêuticos, inclusive) com a forma farmacêutica, colocando em áreas separadas
quando realizam a dispensação de medicamentos para as sólidos orais, líquidos orais, injetáveis de pequeno volume
unidades de internação (COHEN, 1999; FLYNN et al., 2003). e de grande volume e medicamentos de uso tópico; implan-
Podem gerar oportunidades de erros de administração de tação de normas de conferência dos medicamentos arma-
medicamentos, e muitos destes erros podem ser intercep- zenados para evitar que sejam guardados em locais errados
tados pelos profissionais de enfermagem, não atingindo os ou misturados com outros itens;
pacientes. Os erros de dispensação podem ser assumidos 3. reduzir distrações, projetar ambientes seguros
como um indicador da qualidade do serviço prestado pela para dispensação e manter um fluxo ótimo de trabalho – no
farmácia hospitalar. momento da separação da medicação distrações como te-
Alguns procedimentos foram preconizados por Leape lefone, música e conversas paralelas devem ser evitados no
et al. (2000) e pela Joint Commission on Accreditation of ambiente de trabalho;
Healthcare Organizations – JCAHO (2001) e pelo National 4. usar lembretes para prevenir trocas de medicamen-
Quality Forum – NQF (LÓPEZ, 2004) com o objetivo de redu- tos com nomes similares, tais como rótulos diferenciados,
zir e prevenir os erros de medicação. São eles: notas no computador ou no local da dispensação;
• diminuir a complexidade, simplificando e padroni- 5. manter a prescrição e a medicação dispensada jun-
zando procedimentos – reduzir o número de passos tas durante todo o processo, procedimento importante na
ou etapas no processo de trabalho, limitar a varie- prevenção de trocas de medicamentos, evitando que uma
dade de medicamentos, equipamentos, suprimen- medicação prescrita para um paciente seja dispensada para
tos e regras no processo de trabalho; outro;
• aperfeiçoar padrões de comunicação – facilitando 6. efetuar a conferência do conteúdo da prescrição
a transferência de informação e a comunicação – a avaliação das prescrições deve ser realizada pelo far-
clara; macêutico antes do início da separação dos medicamen-
• respeitar limites de vigília e atenção e reduzir as tos, evitando que possíveis erros de prescrição se tornem
tarefas que dependam do uso da memória – os sis- erros de dispensação, e esclarecendo dúvidas em rela-
temas e tarefas devem ser desenhados de modo ção à caligrafia médica (a interpretação ou dedução do
que respeitem a carga de trabalho, o ritmo circa- conteúdo da prescrição nunca deve ser feita e dúvidas
diano, a pressão do tempo, os limites de memória esclarecidas pelo prescritor devem ser documentadas por
e as propriedades de vigília humana; escrito);
• encorajar relatos de erros e condições de risco – o 7. comparar o conteúdo da medicação com a infor-
conhecimento dos erros pode reduzir os riscos de mação do rótulo e a prescrição, procedimento que previne
ocorrência; a dispensação de medicamentos por ventura armazenados
• automatizar os processos e incorporar barreiras ou junto com outros ou que apresentem problemas na rotu-
restrições (automatizadas ou não) que limitem ou lagem;
obriguem a realização dos procedimentos de deter- 8. registrar o código de identificação do produto
minada forma; prescrito no computador – em farmácias informatizadas
• antecipar e analisar os possíveis riscos derivados este registro permite a verificação automatizada da pres-
de mudanças nos processos de trabalho, para pre- crição e dos medicamentos separados para dispensação;
venir erros antes e não depois que ocorram; 9. efetuar a conferência final da prescrição com o
• aperfeiçoar o acesso às informações relativas a resultado da dispensação – o uso da automação, tal como
medicamentos. código de barras, é efetivo nessa fase; nas farmácias sem

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informatização a conferência deve ser manual, sendo que macêuticos e auxiliares de farmácia e posteriormente pela
algumas estratégias podem facilitar o trabalho de confe- enfermagem durante o recebimento e antes da adminis-
rência e torná-lo mais eficaz na detecção dos erros, como tração favorece a identificação de erros (CASSIANI, 2000;
por exemplo a conferência das prescrições de grupos de PEDERSEN et al., 2003).
pacientes de alto risco, como pediatria e insuficientes re- Rótulos de alerta para produtos de uso parenteral po-
nais crônicos. Pode-se optar também pela conferência das dem prevenir a administração de medicamentos por vias
prescrições com medicamentos que apresentem maior risco inadequadas, como por exemplo: “somente para uso en-
de causar danos aos pacientes, como os medicamentos po- dovenoso”, “não administre por via intramuscular”, “fatal
tencialmente perigosos ou com índice terapêutico reduzido se administrado por via endovenosa”, “somente para uso
(PEDERSEN et al., 2003); intramuscular”, “não injetar sem diluir”, “somente para uso
10. aconselhamento ao paciente – os pacientes de- externo”.
vem ser informados sobre o tratamento terapêutico, saber Alguns fármacos são chamados de “high-alert medi-
para que e porque estão utilizando os medicamentos, quais cations” ou Medicamentos Potencialmente Perigosos – MPP
os seus efeitos, os horários de administração e as reações como definido em português por Rosa (2002). São aqueles
adversas que poderão ocorrer. Existem técnicas adequadas com maiores riscos de lesar o paciente quando ocorrem fa-
para repassar estas informações a eles ou a seus cuidadores, lham no processo de utilização. Os erros com esses medi-
em caso de pacientes incapacitados ou hospitalizados sem camentos não são os mais rotineiros, mas as conseqüências
condições de participação. O paciente bem informado pode podem ser graves, com lesões permanentes ou mesmo a
ser um aliado na prevenção de que um erro de dispensação morte dos pacientes (COHEN, 1999). Um dos principais
se configure em um erro de administração. meios para reduzir as possibilidades de erros com esses
Para assegurar a execução de práticas seguras no coti- medicamentos é incluir o menor número possível deles na
diano de uma farmácia hospitalar é necessária uma supervi- padronização, reduzir as opções de concentração e volume
são farmacêutica que envolva todas as etapas do trabalho. e removê-los das unidades de internação. Outra estratégia
Algumas medidas de fácil implantação auxiliam e propiciam eficaz é a divulgação das informações, sendo importante
segurança no processo de dispensação. que os profissionais de saúde tenham conhecimento dos
A utilização de formas de comunicação acessíveis a riscos associados a estes medicamentos e das característi-
todos os funcionários, usando veículos (cartazes, livros de cas diferenciadas que apresentam em relação aos demais,
passagem de plantão, ofícios, entre outros) e linguagem bem como dos erros que acontecem e medidas que são to-
(clara e objetiva) apropriados e adequados a cada informa- madas a respeito. É preciso que saibam quais são estes me-
ção previne falhas de comunicação que geram oportunida- dicamentos, quais precauções devem ser tomadas durante
des de erros. sua utilização e quais providências deverão tomar se o erro
Manuais escritos de rotinas e normas de armazena- acontecer (COHEN, 1999).
mento e de dispensação de medicamentos auxiliam no tra-
balho cotidiano e devem ser elaborados com a participação A Tecnologia na Prevenção de Erros
dos funcionários da farmácia e da enfermagem (nos casos
pertinentes), sendo atualizados sempre que necessário. A A prescrição informatizada é um sistema no qual o
promoção de treinamentos periódicos para os funcionários médico redige a prescrição diretamente no computador, en-
visando a capacitação e o estímulo ao trabalho, possibilita viando-a para a farmácia por via eletrônica. O procedimento
a integração entre os profissionais e cria um ambiente pro- evita dificuldades em relação à caligrafia e às prescrições
pício para práticas seguras. ambíguas e incompletas. Uma trava eletrônica impede e
Rotinas eficazes para controle da data de validade dos avisa se faltam informações que permitam a finalização da
medicamentos armazenados dentro e fora da farmácia de- prescrição. Segundo Bates et al. (1999), aproximadamente
vem ser executadas mensalmente para evitar a dispensação 80% dos erros de medicação podem ser prevenidos por esse
de produtos vencidos. A informatização é uma ferramenta processo, principalmente aqueles devidos ao esquecimento
útil nesta tarefa pois reduz o tempo de execução; entre- da definição da dose do medicamento.
tanto, o controle manual é perfeitamente viável, apesar de Existem formatos padronizados de prescrições eletrô-
trabalhoso. nicas integradas aos testes laboratoriais. Por exemplo, se
Todas as etapas de dispensação dos medicamentos o médico prescreve digoxina, o último resultado do exame
devem ser conferidas duplamente e todos os medicamen- laboratorial de potássio é colocado na tela. A implantação
tos dispensados devem ser conferidos com as prescrições desse tipo de sistema em um hospital americano resultou
antes da entrega nas unidades de internação. Essas etapas em diminuição de 81% nas taxas de erros de medicação.
se multiplicam quando o sistema de dispensação é a dose As informações fornecidas pelo computador podem ser ge-
unitária, pois neste caso as etapas de preparo e diluição néricas ou específicas do paciente e dão suporte rápido às
dos medicamentos injetáveis e líquidos de uso oral fazem decisões médicas. Alertas notificam aos médicos sobre inte-
parte do processo. A dupla conferência efetuada por far- rações medicamentosas, alergias ou mudanças fisiológicas

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recentes do paciente. O prescritor pode aceitar ou não as O Papel do Farmacêutico na Prevenção de Erros
sugestões do sistema, entretanto quando recusam suges-
tões que podem comprometer a vida do paciente, como por O NQF, organização americana que reúne mais de 190
exemplo, doses de quimioterápicos fora dos limites acei- organizações vinculadas à saúde, tem como objetivo encon-
táveis, o supervisor clínico é avisado eletronicamente que trar estratégias em nível nacional para melhorar a qualidade
deve intervir ou assinar a prescrição junto com o médico da assistência sanitária. Em 2003 publicou um conjunto de
prescritor (TEICH et al.,1999). práticas de segurança para prevenir erros assistenciais nas
Esse tipo de sistema apresenta custos elevados de quais se destacam, em relação ao papel do farmacêutico, as
desenvolvimento, implantação e manutenção, mas torna-se seguintes (LÓPEZ, 2004):
viável quando se considera a economia gerada pela redução • participação ativa em todos os processos do sis-
na taxa de erros (CASSIANI, 2000). Muitas intervenções tema de utilização dos medicamentos, incluindo
envolvendo sistemas de informatização em instituições sua disponibilidade para inter-consultas com os
hospitalares têm mostrado uma redução significativa nes- prescritores sobre os medicamentos prescritos, re-
sas taxas. Estudos mostram que a prescrição informatizada, visão de prescrições, preparação e dispensação dos
com suporte para decisões médicas, pode reduzir entre 55 medicamentos e monitorização dos tratamentos;
e 83% as taxas de erros de medicação. A utilização de equi- • os farmacêuticos devem revisar todas as prescri-
pamentos e robôs para dispensação automatizada também ções e o perfil completo da medicação do paciente
diminui substancialmente a taxa de erros de dispensação. antes de dispensar os medicamentos, exceto na-
Uma avaliação em um hospital americano detectou redução quelas circunstâncias nas quais a revisão poderá
de aproximadamente 77% (BATES, 2000). causar atraso clinicamente inaceitável;
O sistema de código de barras integrando dispensa- • a revisão da prescrição deve ser documentada no
ção, administração e identificação do paciente também prontuário do paciente;
contribui para diminuir a taxa de erros. Consiste na identi- • devem ser estabelecidas normas e procedimentos
ficação de todos os medicamentos com o código de barras sobre o papel do farmacêutico no sistema de utili-
contendo o nome, concentração, lote e data de validade, zação de medicamentos;
facilitando a conferência dos itens dispensados de acordo • quando não se dispõe da presença continua de um
com a prescrição médica e a verificação no momento da farmacêutico na farmácia, deve-se disponibilizar
administração e checagem com a pulseira de identificação comunicação telefônica ou acesso a outra farmácia
do paciente. que disponha do profissional durante 24 horas.
A Food and Drug Administration – FDA anunciou, re- Vários trabalhos, ao longo dos anos, têm demonstrado
centemente, que a indústria farmacêutica americana será que o envolvimento do farmacêutico nas atividades clínicas
obrigada a utilizar códigos de barras padronizados nacional- produz resultados surpreendentes. De acordo com Raehl et
mente, em todos os medicamentos, incluindo os produtos al. (1996), o desenvolvimento da farmácia clínica em hos-
biológicos e as vacinas. Dessa forma os hospitais poderão pitais dos Estados Unidos, até o ano de 1992, mostrou uma
utilizar leitores manuais para assegurar que os pacientes associação estatisticamente significativa entre o número
recebam o medicamento correto, na dose correta, no tempo de farmacêuticos com atividades clínicas e a redução na
certo e pela via de administração correta. Estudos em hos- taxa de mortalidade hospitalar. Além disso, outros estudos
pitais mostram que, com a implantação do código de barras, avaliando o impacto dos serviços farmacêuticos clínicos em
70 a 85% dos erros de medicação podem ser interceptados hospitais mostram uma diferença no período de hospitali-
e evitados (UNG; McGREGOR, 2003). zação entre grupos de pacientes monitorizados por farma-
A inspeção nacional nas práticas de dispensação e cêuticos e grupos controle, sugerindo que as atividades de
administração de medicamentos estabelecida em hospitais vigilância farmacêuticas diminuem o período de hospita-
americanos, realizada pela American Society of Health-Sys- lização através da prevenção do aparecimento de reações
tem Pharmacists – ASHP, mostrou que 80% dos hospitais adversas a medicamentos (KELLEY et al., 1980; HERFINDAL
tem sistema de dispensação centralizado, 9,5% usam có- et al., 1983; CLAPHAN et al., 1988). A incorporação e a
digo de barras para verificação da dispensação e 8% usam integração do farmacêutico na equipe de saúde, exercendo
robôs para dispensação. Em 76% dos hospitais os técnicos atividades clínicas, favorece a prática de uma terapia se-
preparam a medicação e os farmacêuticos checam, em 58% gura e eficaz e possibilita maior interação com o paciente
dois farmacêuticos conferem a dispensação de medica- (ASHP, 1991).
mentos de alto risco (antineoplásicos, MPP) e em 29,9% Estudo realizado em uma unidade de terapia intensiva
conferem a dispensação das prescrições de grupos de risco mediu o efeito da participação do farmacêutico na incidên-
(pediatria, nefrologia). Em 81,9% dos hospitais existem cia de erros de medicação causados por erros na prescrição.
atividades regulares visando aumentar a segurança na dis- O trabalho do farmacêutico consistia no acompanhamento
pensação e administração de drogas injetáveis (PEDERSEN das visitas médicas, com posterior esclarecimento ou cor-
et al., 2003). reção das prescrições, sugestões de terapias alternativas,

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Rev. Bras. Farm. 93(2): 128-135, 2012

REVISÃO / REVIEW

Análise do uso e da resistência bacteriana aos antimicrobianos em nível hospitalar


Analysis of use and bacterial resistance to antimicrobial in level hospital
Recebido em 23/02/2011
Aceito em 02/05/2012
1 2 3
Líria Leimy Kadosaki , Sara Falcão de Sousa , Jaqueline Cibene Moreira Borges *
1
Farmacêutica generalista, Rio de Janeiro, Brasil
2
Farmacêutica Industrial, Docente dos Cursos de Farmácia e Enfermagem do Centro Universitário UNIRG, Gurupi-TO, Brasil
3
Farmacêutica do Hospital Regional de Gurupi e Docente dos Cursos de Farmácia e Enfermagem do Centro Universitário UNIRG, Gurupi-
TO, Brasil

RESUMO
O presente trabalho visou realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso e a resistência bacteriana aos antimicrobianos em nível
hospitalar e discuti-los quanto à aplicabilidade das informações no dia-a-dia dos profissionais da área da saúde. Os artigos
foram reunidos em 4 grupos, de acordo com a temática. Grupo 1: tratava-se de artigos que quantificavam o uso de antibióticos
em nível hospitalar, no entanto não havia informações sobre a forma de utilização individual, como também sobre o perfil de
resistência bacteriana; Grupo 2: artigos relacionados a estudos clínicos randomizados, cego ou não, e observacionais, sendo
que os randomizados duplo-cegos informavam sobre a utilização dos medicamentos para uma doença específica; Grupo 3:
artigos que foram avaliados o perfil de resistência bacteriana em diferentes hospitais, não enfatizando os aspectos clínicos ou o
tratamento farmacológico. Grupo 4: os artigos são de revisão sistemática do Cochrane, que relatam, de forma crítica, os
resultados de vários casos clínicos. Em síntese, para informações sobre o uso clínico de antimicrobiano, o grupo 4 é o ideal
(www.cochrane. bireme.br) e para informações sobre epidemiologia de resistência bacteriana, o grupo 3 é o mais adequado
(www. periodicoscapes.gov.br).
Palavras–chave: Resistência bacteriana, Uso de antibióticos, Farmácia hospitalar

ABSTRACT
This study aims to review literature on the use and bacterial resistance to antibiotics in hospitals, and discuss themon
theapplicabilityof theinformationonday-to-day healthprofessionals. The articles were divided into four groups according to the
theme. Group 1: they were articles that quantified the use of antibiotics in hospitals, but there was no information on how to
use individual, but also on the profile of bacterial resistance, Group 2: Articles related to randomized trials, blind or not, and
observational, with the randomized double-blind study reported on the use of drugs to a specific disease, Group 3: Articles
which we evaluated the profile of bacterial resistance in different hospitals, not emphasizing clinical or pharmacological
treatment. Group 4: the articles are of the Cochrane systematic review, which reported in a critical way, the results of several
clinical cases. In summary, for information on the clinical use of antimicrobials, group 4 is the ideal (www.cochrane.bireme.br)
and for information on the epidemiology of bacterial resistance, the third group 3 is the most appropriate (www.
periodicoscapes.gov. br).
Keywords: Bacterial resistance, Antibiotic use, Hospital pharmacy

INTRODUÇÃO
A resistência bacteriana pode causar infecções muito ponsáveis por certas infecções. Porém, o consumo
difíceis de serem tratadas, permanecendo no local e desnecessário e excessivo sem esta cuidadosa avaliação
favorecendo a proliferação das bactérias. O antibiótico torna mais propício o desenvolvimento desta resistência,
deveria ser prescrito de forma racional, com base em um tornando-se um problema sério no tratamento das doenças
diagnóstico concreto e não baseado apenas em dados infecciosas. Esse evento ocorre em maior proporção em
epidemiológicos de determinados agentes etiológicos res- ambientes hospitalares onde a incidência do uso dessas

* Contato: Jaqueline Cibene Moreira Borges. Centro Universitário Unirg- Campus II-Av. Rio de Janeiro nº 1585, Cep77403-090, Gurupi, TO, Brasil. e-mail:
jaquecmb@yahoo.com.br

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drogas, é proposta em grande quantidade (Fiolet al., 2010). tornando um processo oneroso.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2010), a
resistência bacteriana a medicamentos deveria ser vista há Análises de artigos em que se adotou o DDD e outros
muito tempo como um problema de saúde pública, parâmetros para quantificação do uso de antimicrobianos
principalmente no âmbito hospitalar, já que é uma prática A OMS preconiza o uso da metodologia ATC/DDD
não muito recente, desta forma os países precisam se unir (Anatomical Therapeutic Chemical/ Defined Daily Dose)
para implantar providências e monitorizar estudos para em hospitais como forma de padronizar a quantificação
melhor compreensão das infecções, concentrando suas dos medicamentos utilizados, permitindo comparações de
ações em medidas de controle e de diagnósticos precisos taxa de consumo através do tempo (Rodrigues & Bertoldi,
com a finalidade do uso racional de antimicrobianos. 2010).
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo analisar Essa metodologia pode ser verificada em vários
as bibliografias e discuti-las quanto à aplicabilidade das trabalhos, como de Santos &Lauria-Pires (2010) em que
informações no dia-a-dia dos profissionais da área da realizaram um levantamento prospectivo do consumo de
saúde ao verificar qual o tipo de artigo científico mais antibacterianos em três unidades de terapia intensiva
adequado para orientar esse profissional da saúde em médico-cirúrgicas, duas localizadas em dois hospitais
relação ao uso e o perfil de resistência aos antimicrobianos públicos e uma em hospital privado, em Brasília, no
de uso hospitalar. período de outubro de 2004 a 30 de setembro de 2005,
sendo o consumo expresso com base no Sistema
MATERIAIS E MÉTODOS ATC/DDD. O número de DDD foi dividido pelo número
Trata-se de um estudo retrospectivo de levantamento de pacientes-dia e multiplicado por mil, compondo a
bibliográfico seguido da análise crítica sobre as temáticas, densidade média do consumo por mil pacientes-dia
uso e resistência bacteriana aos antimicrobianos em nível (DDD1000). Foi analisado um total de 1.728 pacientes-dia
hospitalar. Para o alcance do objetivo geral, optou-se pelo e 2.918,6 DDD nas três Unidades de Terapia Intensiva,
método descritivo e analítico. O estudo foi realizado com correspondendo a uma densidade média de consumo de
base em referências eletrônicas, pela BIREME, Cochrane, 1.689,0 DDD1000 (Quadro 1). Os padrões de consumo de
no banco de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana em antibacterianos nas três UTI não foram uniformes.
Ciências de Saúde), entre o período de 2009 a 2012. Enquanto a mediana do número total de DDD foi
Pesquisou-se também em outros sites como Comissão de significativamente maior nas UTI dos hospitais públicos, a
Controle de Infecção Hospitalar (www.ccih.med.br); densidade média de consumo foi significativamente maior
Organização Pan - Americana da Saúde na UTI do hospital privado. Este último resultado segundo
(www.opas.org.br);JournalofAntimicrobialChemoterapy os autores, pode estar relacionado a três fatores: a
(jac.oxfordjournals.org); Scielo(www.scielo.br) e frequência da prescrição de determinados antibacterianos;
Periódicos do capes (www.periodicoscapes.gov.br). Após a diferença entre a dose diária definida e a dose diária
a análise crítica, os artigos foram separados, em: Grupo 1: efetivamente prescrita do medicamento; e a utilização do
artigos que quantificavam, através do DDD e outros, o uso número de pacientes-dia como denominador para calcular
de antimicrobianos; Grupo 2: artigos que associavam o uso a densidade ou taxa de consumo de antibacteriano. Apesar
do antimicrobiano a uma situação clínica específica; disso, os grupos antibacterianos mais utilizados nas três
Grupo 3: artigos cujo foco era centrado na resistência UTI foram semelhantes, destacando-se cefalosporinas de
bacteriana, e Grupo 4: artigos de revisão sistemática. Os 3º geração, penicilinas/inibidores de betalactamases,
resultados dos grupos foram agrupados em quadros para carbapenêmicos e fluorquinolonas.
uma análise global. Finalmente foram comparados os Verifica-se que nessas instituições não existia programa
resultados de cada grupo, e selecionou o grupo de artigo de educação permanente, restrição de uso de
que mais respondeu as seguintes perguntas: 1ª) Será que antimicrobianos, rotina para terapêutica empírica das
através de artigos científicos, o profissional da saúde principais infecções ou apoio do médico infectologista ao
consegue se orientar sobre o uso dos antimicrobianos? 2ª) processo de decisão sobre a terapêutica antibacteriana.
Será que através do material publicado tem-se a noção de Para os autores, expressar o consumo de antibacterianos
reposta bacteriana a determinados tratamentos? 3ª) Em por intermédio do número de DDD por pacientes-dia (ou
síntese, será que as revistas científicas contêm informações leitos-dia) permite comparar a utilização desses
que podem ser aplicadas no dia-a-dia do profissional da medicamentos entre instituições, independente das
saúde? diferenças na composição do formulário, da potência do
antibiótico e do censo hospitalar. Em síntese, o emprego
RESULTADOS E DISCUSSÃO da metodologia ATC/DDD permitiu visualizar o contexto
Para o grupo 1 verificou-se que alguns dos artigos a do consumo de antimicrobianos de uma forma mais
forma de cálculo quando presente muitas vezes, não eram precisa, em termos quantitativos, porém não permitiu a
objetivos; não se tornando compreensível ao leitor. Os análise em termos qualitativos, o que não permite
grupos 2 e 3 não foram encontrados dificuldades na visualizar se o uso foi racional assim como o perfil de
obtenção do material como também da leitura, pois resistência bacteriana, desta forma não respondendo aos
existiam vários artigos disponíveis “freeline”. No Grupo 4 questionamentos desta pesquisa.
a principal dificuldade enfrentada foi quanto à obtenção de Estudos semelhantes sobre a utilização de
artigos na íntegra, pois a bireme disponibiliza somente antimicrobianos foram conduzidos por Rodrigues &
resumos e caso queira obtê-los é necessário solicitá-los, Bertoldi (2010) em um hospital privado, localizado em

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Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, durante o período No presente trabalho, o emprego da metodologia
de março a junho de 2006. O consumo dos ATC/DDD permitiu visualizar o contexto do consumo de
antimicrobianos em todas as áreas clínicas da instituição antimicrobianos e identificar as mudanças no padrão de
foi expresso em Dose Diária Definida (DDD) por 100 consumo, no entanto, não foi possível verificar os dados de
leitos-dia por quatro meses. Entre os antimicrobianos que resistência microbiana e correlacioná-los com o consumo
tiveram valores maiores em DDDs destacam-se: desses antimicrobianos, desta forma não respondendo aos
ciprofloxacino (16,43), sulbactam associado à ampicilina questionamentos desta pesquisa.
(13,36), oxacilina (11,57), cefazolina (8,09) e gentamicina Segundo Cusiniet al. (2010)a metodologia DDD
(7,64) (Quadro 1). As DDDs foram calculadas para cada apresenta algumas desvantagens: Primeiro, DDD podem
antimicrobiano utilizado no período da coleta dos dados variar de acordo com a doença subjacente. Em segundo
com objetivos de servir para futuros estudos comparativos lugar, dias de terapia são subestimados no caso de redução
intra-hospitalares e permitir uma melhor visualização da dose, por exemplo, por causa da função renal
quanto ao consumo pelo hospital. diminuída. Em terceiro lugar, a medição quantitativa não
No período da realização da pesquisa, o hospital ainda indica se a terapia está sendo apropriada. Finalmente,
não possuía uma padronização definitiva de morbidades dos pacientes podem ser muito diferentes entre
antimicrobianos, não havia um controle efetivo de hospitais ou em diferentes unidades hospitalares. Assim,
restrição de uso de nenhum antimicrobiano utilizado, uma em adição aos dados quantitativos, a avaliação da terapia
vez que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar antimicrobiana e profilaxia em pacientes individuais são
estava em período de implantação. Por isso o alto consumo necessários para o controle de qualidade. No entanto, tal
segundo os autores pode estar relacionado à ausência de avaliação é de difícil padronização, especialmente em
uma política de controle dos medicamentos prescritos no pacientes com co-morbidades. Por isso, não responde aos
hospital e à falta de protocolos de uso de antimicrobianos. nossos questionamentos.
O estudo da utilização de antimicrobianos é relevante em
Os programas de uso racional de antibióticos em
termos econômicos. Neste contexto, o DDD elevado
hospitais são de extrema importância, pois visam otimizar
significou elevação dos gastos hospitalares com
a terapia antimicrobiana e minimizar o aparecimento de
medicamentos e com internação. Além disso, estão
resistência bacteriana. No trabalho de Cabrera et al. (2012)
explícitos neste artigo as clínicas do hospital que mais
foi implementado um Programa educacional baseado na
consumiram antimicrobianos e os tratamentos
aplicação de uma lista de verificação (checklist), contendo
farmacológicos utilizados, permitindo facilmente
critérios para o uso racional desses medicamentos, no
correlacioná-los com a realidade de outro hospital. Embora
Departamento de Medicina Interna (DMI) do Hospital das
informações como quais as bactérias mais frequentes, o
Clínicas, em Uruguai, no período 01 de julho de 2008 e 30
quadro clínico e possivelmente o perfil de resistência
de setembro de 2008. O formulário continha várias
bacteriana, não tenham sido discutidas nesse artigo, por
informações entre as quais: local de aquisição da infecção,
isso este estudo responde parcialmente aos nossos
tipo de infecção, os agentes antimicrobianos utilizados
questionamentos.
(nome, dose, intervalo, dias); resultados microbiológicos e
A metodologia ATC/DDD permite comparações entre
antibiograma, a condição do paciente no momento da alta.
medicamentos utilizados; entretanto, cada local de estudo
O consumo antimicrobiano foi expresso em doses diárias
tem suas próprias características e essas diferenças devem
definidas (DDD) por 100 pacientes-dia. Os grupos foram
ser consideradas para que as comparações tenham
divididos em: Grupo A: Coorte prospectivo, composto de
significado prático. Já as comparações feitas com dados do
pacientes selecionados aleatoriamente em que a prescrição
mesmo hospital, em diferentes períodos, podem servir de
de antibióticos foi realizada no âmbito do programa
indicativo da tendência de uso de medicamentos como
educacional sobre o uso racional de antimicrobianos (64
constatado na pesquisa de Sánchez et al. (2011) sobre o
camas). Grupo de coorte B, composto de pacientes que
consumo de antibióticos sistêmicos através das prescrições
receberam antibióticos de acordo com a prática clínica (67
de pacientes nas Unidades Básicas de Saúde de Segovia,
leitos).O consumo total de agentes antimicrobianos foi
Espanha, período de 1999 a 2007. Os dados foram
117,7 DDD/100 cama-dia. Em coorte A o consumo foi de
expressos em Doses Diárias Definidas (DDD),
46,1DDD/100 cama-dia e em coorte B de 71,6 DDD/100
posteriormente transformados no indicador DHD (DDD
cama-dia (Quadro 1). A redução no consumo de agentes
por 1000 habitantes por dia). Durante o estudo constatou-
antimicrobianos em coorte A comparado ao B foi de
se que o consumo de antibióticos foi alto, com DHD de
35,6%.
18,06. Observou-se que as prescrições de antibióticos
centralizaram-se basicamente em quatro subgrupos A adaptação ao espectro de susceptibilidade
terapêuticos: penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos e antimicrobiana com a redução do uso de antimicrobianos
quinolonas, representando entre eles 92,41%. Além disso, ocorreu mais frequentemente em grupo A que no B (64,6
verificaram diferentes tendências de consumo de vs 24%). Esta estratégia é um dos pilares do uso de
antibióticos para cada ano dos subgrupos considerados. antimicrobianos adequados, uma vez que envolve a
Totalizando o maior DHD de antibióticos de uso redução do uso de antimicrobianos de amplo espectro e,
sistêmico, destaca-se a penicilina (64,42%), sendo o em geral, poderá evitar o uso combinado de terapia
principal responsável pelas variações da prescrição global, antimicrobiana, reduzindo o risco de seleção de resistência
seguido dos macrolídeos (10,15%), quinolonas (9,3%) e e os custos adicionais. Portanto, a implementação de um
por fim as cefalosporinas (8,54%). programa de uso racional de antimicrobianos baseado na

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aplicação de uma lista que incluiu critérios validados, tão sendo tratadas; algumas vezes, não se sabe qual classe
juntamente com a interação de especialistas com os de fármaco está sendo utilizada; se o uso do medi-camento
médicos responsáveis pela prescrição (componente é racional; e muito menos, como está sendo a resposta ao
educativa), reduz o consumo de antimicrobianos, otimiza o tratamento (bactéria sensível ou resistente). Logo, apenas o
uso e reduz custos sem um impacto negativo no tempo de DDD/100 leitos/dia e outras unidades citadas não podem
internação hospitalar e mortalidade. responder aos questionamentos.
Neste artigo foram abordados as clínicas do hospital que
mais consumiram antimicrobianos, as bactérias mais Análises dos artigos que associam o uso dos
frequentes, os tratamentos farmacológicos utilizados e as antimicrobianos a uma situação clínica específica
estratégias adotadas para o uso racional de antimicrobianos Desde longo tempo o homem buscava soluções para a
reduzindo a seleção de resistência bacteriana. cura de infecções, através da experiência com plantas
medicinais, derivados ou produtos animais, e certamente
Quadro 1. Artigos científicos fundamentados em métodos não se conhecia seu valor terapêutico, mas com
quantitativos conhecimentos primários da época acreditava-se no seu
poder de cura. Hoje, antibióticos que eram produzidos
apenas por processos naturais, revelaram-se necessários e
passaram também a ser sintetizados em laboratório, com
aperfeiçoamento de suas características químicas e
ampliação do seu espectro de ação. A experiência de anos
anteriores deu origem à propagação do falso conceito de
que a antibioticoterapia não seria mais eficaz para o
controle das doenças infecciosas, com o emprego de
antimicrobianos cada vez mais numerosos e potentes
(Wolf et al., 2007). Mas atualmente, os antibióticos são
extremamente prescritos, e são indicados, muitas vezes,
sem necessidade ou com imprecisão, tal fato, facilita o
Legenda: DDD = Dose Diária Definida; DHD = DDD por desenvolvimento de resistência que impedem a ação da
1000 habitantes por dia; UTI = Unidade de Terapia droga, nas terapêuticas de infecções que poderiam ser
Intensiva; DMI: Departamento de Medicina Interna; HC: sanadas facilmente. Por conseguinte, o médico precisa, em
Hospital das Clínicas princípio, estabelecer a necessidade da terapêutica
antimicrobiana em determinado paciente assim como
O quadro 1 sumariza todos os trabalhos analisados, as diagnosticá-la a uma situação específica (Amato Neto et
unidades de medidas utilizadas pelos autores, o período de al., 2007).
estudo, o local realizado e os principais resultados. Pode-se Estudo randomizado controlado, multicêntrico foi
dizer que os trabalhos onde o DDD/100 leitos/dia foram realizado para investigar se há necessidade de tratamento
utilizados permitem apenas identificar as tendências de de antibiótico na Diverticulite Aguda (DA) não
consumo dos antibióticos. No entanto, quando o DDD/100 Complicada, em dez departamentos cirúrgicos na Suécia e
leitos/dia é colocado por classe terapêutica pode-se estimar na Islândia, no período de outubro de 2003 e janeiro de
o custo financeiro. 2010. Dos 623 pacientes, 314 tratamentos com antibióticos
Tentar comparar os resultados do quadro 1 é muito e 309 sem antibióticos, e 46 foram excluídos (Quadro 2).
difícil, pois cada hospital tem suas características Complicações como perfuração ou formação de abscessos
ambientais e demanda que não são considerados no cálculo foram encontrados em seis pacientes (1,9 %) que não
do DDD/100 leitos/dia. recebiam antibióticos e em três (1,0 %) que foram tratados
As adições de novas unidades de medida podem com antibióticos. A permanência hospitalar média foi de 3
acrescentar informações ao leitor, porém ainda não dias em ambos os grupos. Os autores perceberam que o
permitiram visualizar o paciente, o tratamento e a resposta, tratamento com antibióticos para DA não complicada, não
somente permitiram vislumbrar de modo global. acelera a recuperação, como também não previne
O trabalho de Cabrera et al. (2012) vislumbra a forma de complicações ou recidivas. Portanto, o tratamento com
seleção (baseada em testes de sensibilidade bactéria in antibióticos deverá ser reservado para Diverticulite
vitro) e o desfecho final (n° de óbitos). É muito Complicada (Chabok et al., 2012).
importante, que novos artigos utilizando o DDD/100 Um grande problema neste trabalho é seu desenho, como
leitos/dia, contenham estas informações, o que permite não foi um estudo randomizado cego, seus resultados não
mais facilmente ao leitor transpor para seu dia-a-dia. Além são considerados “padrão ouro”, e por isso podem ser
disso, relata sobre a aplicação de estratégias baseada em facilmente questionados. Devido o viés apresentado no
uma lista de verificação que permite reduzir o consumo de desenho do trabalho, não se deve utilizar este tipo de
antimicrobianos, otimizar e diminuindo os custos. artigo, de forma isolada, na decisão terapêutica, dessa
Experiências, neste sentido, bem sucedidas deveriam ser forma não responde aos questionamentos deste trabalho.
alvos de artigos científicos, pois norteariam a implantação Estudo de coorte retrospectivo foi realizado com 527
de novos Comitês. pacientes, no Hospital San Borja Arriará, Chile, período de
Em síntese, em termos de farmacologia clínica, o DDD/ 1997 a maio de 2007, a fim de analisar se em curto prazo
100 leitos/dia não permitem visualizar as doenças que es- (dose única) a Profilaxia Antimicrobiana (PA) para pacien-

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tes submetidos à cirurgia classificada como limpa- sem gravidade escolhidas para receber 3 dias de
contaminada maxilofacial é tão eficaz quanto a PA em amoxicilina ou placebo, 27 foram excluídas e 873
longo prazo (dose múltipla). O grupo de dose única completaram o tratamento (431 por via oral amoxicilina e
apresentou 5,7% de infecções pós-operatórias e de dose- 442 com placebo). Os autores concluíram que a evolução
múltipla, 5, 9% (Quadro 2). Constatou-se que não houve clínica nessas crianças não diferencia quando tratados com
diferenças significativas na infecção entre a administração um antibiótico ou com placebo (Quadro 2). Testes
de PA de dose única com a dose múltipla. Segundo os similares são necessários em países com uma elevada
autores, a PA de dose múltipla, não está sendo indicada, já carga de pneumonia para racionalizar o uso de antibióticos
que expõe desnecessariamente o paciente aos agentes nessas comunidades.
antimicrobianos, tornando maior a probabilidade de Neste trabalho, os autores apresentaram uma situação
resistência bacteriana, toxicidade, alergias, superinfecção e clínica específica, as respostas farmacológicas observadas.
de elevação dos custos (Villanueva et al., 2012). Neste A única desvantagem deste estudo são as conclusões que
trabalho, os autores apresentaram uma situação clínica se fundamentam em apenas um estudo clínico. Porém, ao
específica, o uso profilático de antibiótico em cirurgia ler este artigo o profissional tem a idéia da doença, do
maxilofacial e as respostas farmacológicas observadas. Foi procedimento adotado e dos resultados obtidos, podendo
comparado a incidência da infecção do sítio cirúrgico em então nortear os profissionais da saúde em uma situação
dois grupos, isto é, pacientes tratados com antimicrobianos semelhante, por isso este trabalho respondeu parcialmente
dose única e pacientes tratados com dose múltipla. A os questionamentos.
grande utilidade dos estudos de coorte é determinar a De todos os artigos analisados neste grupo, o “padrão
causa da doença, quando os indivíduos são expostos a ouro” seria o artigo de Hazir et al. (2011), pois como o
fatores de risco (Fuchs & Fuchs, 2004). No caso deste participante e o investigador não sabem o que está sendo
estudo, o delineamento observacional de coorte não utilizado, isto previne que o pesquisador trate de forma
responde aos questionamentos iniciais. diferente os participantes dos grupos ou que realize uma
Estudo de caráter descritivo, quantitativo e transversal atenção especial aos pacientes que estão recebendo a
foi executado a fim de avaliar a eficácia da intervenção. Ao contrário dos participantes que sabem
antibioticoterapia utilizada para o tratamento de infecções quando estão recebendo a intervenção, podem
respiratórias em crianças atendidas no Hospital superestimar seu efeito (Fuchs & Fuchs, 2004). Em se
Universitário do município de Alfenas, Minas Gerais, tratando do delineamento randomizado, utilizado por
Brasil, no período de fevereiro a maio de 2007, através 208 Chabok et al. (2012) serve com maior poder para
prontuários (Quadro 2). Quanto aos diagnósticos, notou-se estabelecer a causa e o efeito, como, por exemplo, a
predomínio de broncoespasmos + pneumonia em 16 eficácia de um tratamento farmacológico. Os trabalhos de
crianças (46%), seguidos de pneumonia (24%), asma Haziret al. (2011) e Chabok et al. (2012) ao dividir a
(15%), pneumonia aspirativa (6%) e crise asmática, otite amostra em tratado e não tratado (controle),
média aguda + pneumonia e asma brônquica + pneumonia provavelmente, foi administrado ao grupo controle um
(3%). Observaram-se dez tipos diferentes de placebo, dessa forma pode-se controlar o efeito placebo,
antimicrobianos na prescrição que foram utilizados em ou seja, resultado do efeito de outros fatores, como a
âmbito nasocomial, mostrando uma escolha pelo grupo das crença de que o tratamento funciona e a evolução natural
penicilinas, sendo a mais utilizada, a ampicilina (56%). por ano (Fuchs & Fuchs, 2006). Nos demais trabalhos
Para a conduta de alta hospitalar seis antimicrobianos como de Villanueva et al. (2012) não houve o grupo
diferentes foram prescritos aos pacientes estudados, dos placebo e isto poderia ser um viés na aferição dos
quais, amoxicilina teve 11 indicações (32%), e em resultados, pois os pesquisadores estão cientes de quem
associação com clavulanato, mais 3 indicações (9%), está recebendo o tratamento e por isso podem observar
totalizando 41% das prescrições, evidenciando ser a droga este grupo de forma mais atenta quando comparado
de principal escolha nesta conduta (Pacheco et al., 2011). somente ao grupo controle. Em síntese, este tipo de
Este trabalho fez apenas uma abordagem clínica e trabalho, quando bem delineado, pode auxiliar o médico na
farmacológica. Devido o desenho empregado, este artigo prescrição. Quando o delineamento não estiver adequado,
não pode ser usado com única referência na decisão pode induzir a conclusões erradas, e por isso se utilizado
clínica. como fonte de pesquisa principal pode levar ao erro de
Para desenvolver orientações eficazes para o tratamento prescrição. Em relação a trabalhos que analisam
inicial com antibiótico, é essencial ter a informação sobre prescrições médicas, torna-se essencial que sejam
o organismo causador provável e o padrão da resistência elaboradas novas técnicas claras de tal forma que não
aos antibióticos. No entanto, esses estudos são caros e ocorra vieses.
requerem perícia, que é muitas vezes falta no local de
rotina da maioria dos países em desenvolvimento. Hazir et Artigos cujo foco central é a resistência bacteriana
al. (2011) desenvolveram um estudo multicêntrico, duplo- Os antimicrobianos estão entre os medicamentos mais
cego, randomizado, em 4 hospitais terciários de 3 cidades prescritos em todo mundo. São utilizados principalmente
no Paquistão (Islamabad, Lahore, Rawalpindi), com para inibir ou combater o crescimento de determinados
objetivo de comparar a evolução clínica em crianças com microorganismos, porém de acordo com Amadeu et al.
pneumonia sem gravidade, como definido pela OMS, (2009) vários profissionais o fazem sem ao menos obter
quando tratados com amoxicilina versus os tratados com um diagnóstico concreto através de exames laboratoriais e
placebo. Das 900 crianças de 2-59 meses com pneumonia se baseiam apenas em dados epidemiológicos, tal como

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determinação da E. coli (Escherichia coli)como principal cina (62,9%), sulfametoxazol-trimetoprim (53,5%) e à


agente etiológico na ITU (Infecção do Trato Urinário). ciprofloxacina(53,1%). Em contrapartida foi notado uma
Desta forma, a utilização de antibióticos de maneira menor taxa para gatifloxacina (19,8%), levofloxacina
inadequada, pode gerar o aumento da resistência (23,7%) e rifampicina (24,8%). Já a resistência
bacteriana aos antimicrobianos acarretando dificuldades no antimicrobiana para P. aeruginosa pode ser percebida para
controle de infecções e contribuindo para o aumento dos piperacilina-tazobactam (84,6%) e levofloxacina (72,3%),
custos do sistema de saúde e dos próprios hospitais. carbapenen + imipenem (69,1%) e meropenem (67,8%).
Para os antibióticos ciprofloxacina, gentamicina,
Quadro 2. Trabalhos científicos fundamentados em cefalosporinas e aztreonam a taxa foi bastante elevada,
estudos clínicos maior que 40%. Desta forma acentua-se a importância da
verificação de evidências clínicas no que diz respeito ao
valor da identificação e determinação da suscetibilidade do
microorganismo antes de se prescrever uma terapia
antimicrobiana.

Quadro 3. Estudos cujo foco central é a resistência


bacteriana.

Legenda: DA- Diverticulite Aguda; PA- Profilaxia


Antimicrobiana.

Estudo retrospectivo realizado com pacientes atendidos


em uma Clínica Pediátrica no município de Uberlândia-
MG teve como objetivo analisar o perfil de sensibilidade
antimicrobiana a E. coli, no entanto, 133 uroculturas foram
realizadas, 64 foram positivas (48,12%) para infecção do Legenda: E. coli: Escherichia coli; S. aureus:
trato urinário, 56 (87,5%) o agente etiológico foi a E. coli, Staphylococcus aureus; P. aeruginosa: Pseudomonas
e 12,5% foram positivas para outros tipos de aeruginosa.
microorganismos. Todas as cepas da E. coli (100%)
mostraram-se sensíveis aos antimicrobianos amicacina, A importância de revisões sistemáticas
ceftriaxona, norfloxacino, ciprofoxacino e As principais fontes de revisões sistemáticas são o
sulfadiazina/trimetropim, mas apresentaram 85,72% de Cochrane Library (www.cochrane.bireme.br) e o The York
resistência a ampicilina e 64% resistentes a Sulfametrin data base of abstracts of reviews of effectiveness -DARE
(Quadro 3). O estudo ainda deixou claro que, por mais que (www.york.ac.uk/inst/crd/welcome.htm) (Silva, 2004).
os antimicrobianos considerados de primeira escolha se A grande limitação do CDSR (Dados Cochrane de
encontraram sensíveis ao agente etiológico de maior Revisões Sistemáticas) é a não disponibilização “online”
prevalência, não se explica a prescrição de antibióticos de de textos completos, fazendo-se necessário solicitar a
forma irracional, ou seja, sem o perfil de sensibilidade do Bireme, o requer custo financeiro. Como o objetivo neste
agente etiológico ao antimicrobiano de escolha (Amadeu trabalho foi realizar a análise de artigos científicos, a partir
et al., 2009). de textos completos, fez-se a pesquisa na CDSR.
Parcialmente em acordo, Guajardo-Lara et al. (2009) Os artigos de revisão do Cochrane possuem um modelo
avaliaram o índice de resistência antimicrobiana em constante, contendo introdução, objetivos e metodologia
infecções urinárias causadas por E. coli (Quadro 3) de de modo bem detalhados e resultados apresentados e
pacientes atendidos em estabelecimentos de saúde no discutidos de forma clara, seguidos de considerações
México, das quais de 652 uroculturas analisadas, houve finais, por isso, no presente trabalho foi analisado apenas
resistência para os antimicrobianos ampicilina em 67,2% um artigo científico de cada tipo (Quadro 4).
dos casos, trimetoprim-sulfametoxazol (59,2%), cefazolina Apesar do número elevado de publicações nessas áreas,
(35,6%) e ciprofloxacino (24,7%). quando os profissionais de saúde necessitam de
Kobayashi et al. (2009) realizaram uma análise informações sobre o uso racional dos antimicrobianos, a
retrospectiva de dados relacionados a testes de principal fonte bibliográfica é o grupo 4 (artigos de
suscetibilidade antimicrobiana de isolados de S. aureus revisões sistemáticas –
(Staphylococcus aureus) e P. aeruginosa (Pseudomonas http://www.cochrane.org/index.htm, palavra-chave:
aeruginosa) de pacientes hospitalizados em um hospital antibiotic), podendo ser utilizado como fonte
público de Goiânia, Estado de Goiás; foram isoladas 1960 complementar o grupo 2 (artigos que associavam o uso do
bactérias, destas foram analisadas1.239 cepas de S. aureus antimicrobiano a uma situação clínica e específica–
e 721 de P. aeruginosa (Quadro 3). A resistência www.periodicoscapes.gov.br, http://highwire.stanford.edu,
antimicrobiana para S. aureus pode ser observada em palavra-chave: antibiotic use). Caso o objetivo seja avaliar
maior proporção parapenicilina (97,6%), eritromicina a epidemiologia da resistência bacteriana, a principal fonte
(70,4%), clindamicina (68%), oxacilina (68,5%), gentami- de informação é o grupo 3 (artigos cujo foco era centrado

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na resistência bacteriana – www.periodicoscapes.gov.br, revisões sistemáticas: http://www.cochrane.org/index.htm,


palavra-chave: resistance antibiotic in hospital) (Quadro palavra-chave: antibiotic) e grupo 3 (artigos cujo foco era
5). centrado na resistência bacteriana –
www.periodicoscapes.gov.br, palavra-chave: resistance
Quadro 4. Artigos de revisão sistemática do Cochrane antibiotic in hospital).
Autores Objetivos Número de estudos incluídos
REFERÊNCIAS
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un hospital universitário: resultados de un experiência
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Para melhores informações sobre análise do consumo 2010.
global sugere-se como referência o grupo 1 (artigos que Fuchs SC &Fuchs FD. Métodos de investigação
quantificam, através do DDD e outros, o uso de farmacológico-clínica. In: Fuchs, FD, Wannmacher L,
antimicrobianos (www.periodicoscapes.gov.br, texto Fereira MBC. Farmacologia Clínica - Fundamentos da
completo, http://highwire.stanford.edu, palavra-chave: Terapêutica Racional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
DDD). Em síntese, saber elaborar a pergunta inicial facilita Koogan, 2004.cap. 2, p. 8-21.
a obtenção de resultados em que se espera encontrar
durante um levantamento bibliográfico. Guajardo-Lara CE, González-Martínez PM, Ayala-Gaytán
JJ. Resistencia antimicrobiana enlainfección urinaria por
CONCLUSÕES Escherichia coli adquirida enlacomunidad.
A utilização de antimicrobianos assim como a resistência Cuálantibióticovoy a usar? Salud Pública Méx., 51(2):
bacteriana entre diversos patógenos causadores de 155-159, 2009.
inúmeras infecções é mundialmente reconhecida como um Hazir T, Nisar YB, Abbasi S, Ashraf YP, Khurshid J,
problema de grande relevância, desta forma fez-se Tariq P, Asghar R, Murtaza A, Masood T, Maqbool S.
necessário demonstrar através de estudos o quanto é Comparison of Oral Amoxicillin with Placebo for the
importante a determinação de cada patógeno frente a cada Treatment of World Health Organization–Defined
antimicrobiano, colaborando para o uso racional de Nonsevere Pneumonia in Children Aged 2–59 Months: A
antibióticos, na expectativa de, ao menos reduzir o Multicenter, Double-Blind, Randomized, Placebo-
aumento acelerado nos índices de resistência de Controlled Trial in Pakistan. Clin. Infect. Dis., 52(3): 293-
microorganismos no âmbito hospitalar. Por ora, faz-se 300, 2011.
necessário a conscientização de profissionais de saúde para
colaborarem com esta prática e proporcionarem para a Kobayashi CCB, Sadoyama G, Vieira JDG. Determination
redução da morbimortalidade de pacientes hospitalizados. of associated antimicrobial resistance in clinical isolates of
Os grupos de artigos que responderam aos Staphylococcus aureusand Pseudomonas aeruginosain a
questionamentos iniciais sobre o uso e resistência public hospital in Goiânia, State of Goiás. Rev. Soc. Bras.
bacteriana aos antimicrobianos foram: grupo 4 (artigos de Med. Trop., 42(4):404-410, 2009.
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doi.org/10.51891/rease.v7i4.1038

AUTOMEDICAÇÃO NA PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS

SELF-MEDICATION IN THE PANDEMIC OF THE NEW CORONAVIRUS

Alícia de Freitas Silva1


Jefferson Silva Pinho de Jesus2
Juliana Lima Gomes Rodrigues3

RESUMO: A automedicação consiste em administrar por conta própria um ou mais


medicamentos sem a orientação profissional e, com a grande quantidade de informações
acessíveis na internet tornou- se um hábito comum no período de pandemia do novo
coronavírus. O presente trabalho teve como objetivo expor sobre a utilização inadequada de
medicamentos prescritos e isentos devido ao seu fácil acesso durante o isolamento social,
retratar a possibilidade de efeitos indesejáveis relacionados aos medicamentos, consequente
da automedicação, e destacar a ausência da prática clínica e de assistência nos fornecimentos
farmacêuticos ao paciente. Os dados foram obtidos entre agosto de 2020 e maio de 2021. A 938
Cloroquina/hidroxicloroquina, vitamina C, ivermectina, azitromicina, ibuprofeno e
lopinavir-ritonavir são os medicamentos mais citados nos artigos científicos. Os anti-
retrovirais foram relatados em sinergia com cloroquina/hidroxicloroquina, que foi a mais
citada nos artigos relacionados à automedicação. O uso incorreto dessas substâncias pode
causar efeitos colaterais graves, outros tipos de patologias ou até dependência. Sendo assim,
o farmacêutico e a equipe multiprofissional devem orientar o paciente sobre o uso racional
de medicamentos.

Palavras-chave: Automedicação. Pandemia. Coronavírus.

ABSTRACT: Self-medication consists of administering one or more medications on your


own without professional guidance and, with the large amount of information accessible on
the internet, it became a common habit in the pandemic period of the new coronavirus. This
study aimed to expose the inappropriate use of prescription and exempt drugs due to its easy

1 Graduação em farmácia Instituição de ensino: Universidade Salvador (UNIFACS). E-


mail: aliciafs2017@gmail.com.
2 Graduação em farmácia. Instituição de ensino: Universidade Salvador (UNIFACS)
.E-mail: jeff.silva1998@gmail.com.
3 Docente do curso de farmácia. Instituição de ensino: Universidade Salvador (UNIFACS). E-

mail: juliana.rodrigues@unifacs.br.

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access during social isolation, to portray the possibility of undesirable effects related to
drugs, resulting from self-medication, and to highlight the absence of clinical practice and
assistance with pharmaceutical supplies for the patient. Data were obtained between August
2020 and April 2021. Chloroquine/hydroxychloroquine, vitamin C, ivermectin,
azithromycin, ibuprofen and lopinavir-ritonavir are the drugs most cited in scientific
articles. Antiretrovirals have been reported in synergy with chloroquine /
hydroxychloroquine, which was the most cited in articles related to self-medication. The
incorrect use of these substances can cause serious side effects, other types of pathologies or
even addiction. Therefore, the pharmacist and the multidisciplinary team should advise the
patient on the rational use of medications.

Keywords: Self-medication. Pandemic. Coronavírus.

INTRODUÇÃO

A COVID-19 é uma infecção respiratória que causa sintomas similares à gripe,


podendo evoluir para uma pneumonia grave, causando cansaço, perda do paladar ou olfato,
febre e dificuldade para respirar. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o
mundo já ultrapassou a marca de 147 milhões de infectados e mais de 3 milhões de mortos,
sendo os Estados Unidos, Índia e Brasil os países mais afetados pela pandemia. Por ser um
vírus novo, ainda não há medicamentos específicos para a cura ou contenção dos sintomas
da doença, porém já estão sendo feitos estudos clínicos com medicamentos e já foram 939
desenvolvidas algumas vacinas. Com a pandemia do novo coronavírus,diversas medidas
têm sido utilizadas com o intuito de diminuir o contágio pelo vírus. O isolamento social
separa as pessoas doentes das não doentes, enquanto o distanciamento social visa a redução
de aglomerações de pessoas; já a quarentena é a retenção de atividades e separação de
indivíduos que provavelmente foram expostos ao vírus. A população pode optar em não
buscar pelo atendimento presencial por anseio de se contaminar, entretanto os casos de
automedicação têm aumentado nesse período, o que pode provocar efeitos indesejados e ser
nocivo ao usuário (Lei et al., 2018; ONCHONGA, 2020).
Existe também a telemedicina, que é uma iniciativa realizada por meio de tecnologias
digitais, possibilitando serviços à distância para o cuidado com a saúde, proporcionando a
assistência médica online a pacientes, clínicas, hospitais e profissionais da saúde
(MALDONADO, 2016). Dentro do isolamento social a internet se tornou a maior fonte de
informações em saúde para os mais leigos, fontes de pesquisa direcionadas à internet
reportam aumento de procura por medicamentos, suplementos e chás, em sites de compra
ou bula sugerindo a prática de automedicação e auto dosagem (ONCHONGA, 2020),
todavia, os usuários utilizam os ativos para alívio de sintomas ou complicações, alguns sem
saber o intervalo de tempo determinado entre duas dosagem em curto período de tempo
tendo capacidade provocar efeitos indesejáveis (ONCHONGA, 2020).
Nas farmácias e drogarias há venda de medicamentos em um comércio potencial
onde muitos que exigem controle especial são vendidos sem receita e com ausência da

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assistência e orientação ao paciente permitindo livre escolha (MACEDO et al, 2016). De


modo que há um afastamento da consulta nos setores de saúde, dificultando a prática clínica
do cuidado cuja importância na segurança dos pacientes é imprescindível para adotar
medidas na intenção de manter solidificação do sistema, prevenir acidentes associados aos
fármacos aumentando a probabilidade de resultados favoráveis e conter mortes que podem
ser evitadas dentro do sistema de saúde (SILVA, 2016).
Durante a pandemia do novo coronavírus a população tem se automedicado com o
objetivo de tratar ou aliviar sintomas como: febre, tosse, coriza, dores musculares, dores de
cabeça e dores de garganta, que se assemelham com os sintomas da doença COVID-19. A
importância desse estudo se dá em expor o uso indiscriminado de medicamentos e o seu fácil
acesso, exibir os medicamentos mais utilizados e mostrar os seus efeitos indesejáveis. Este
trabalho tem como objetivo realizar levantamento bibliográfico sobre a automedicação na
pandemia do novo coronavírus, abordando a utilização inadequada de medicamentos
prescritos e isentos de prescrição com fácil acesso durante o isolamento social da pandemia.

METODOLOGIA

O trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, cujo tema é a automedicação na


pandemia do novo coronavírus, o problema que direcionou o seu seguimento foi: A
Automedicação pode ter a capacidade de desencadear efeitos indesejáveis no isolamento
social? Refere-se a uma pesquisa qualitativa e quantitativa, com o intuito de apontar o uso
indevido de medicamentos durante o isolamento na pandemia da COVID-19. 940
Para auxiliar na procedência do artigo serão apontadas referências com o suporte de
dados em sites como: Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SCIELO),
NCBI (The National Center for Biotechnology Information), PubMed, revistas de saúde e o site
da OMS (Organização mundial da saúde), em inglês e português. O artigo foi elaborado
entre agosto de 2020 e maio de 2021, sendo consideradas publicações entre os anos 2012 a 2021,
fornecendo as informações atualizadas para a elaboração deste artigo. Como critérios de
exclusão deste trabalho estão materiais que não apresentam característica, especificidade,
dados quantitativos relacionados ao tema e artigos que não apresentam títulos com as
palavras-chave usadas neste estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O artigo foi elaborado em concordância com a metodologia, empregando as palavras-


chave “automedicação”, “pandemia”, “coronavírus”, em combinação com “uso excessivo de
medicamentos”, “uso racional de medicamentos” ou “efeitos colaterais'', e suas
correspondentes em inglês. A pesquisa teve o Google Acadêmico, NCBI (The National
Center for Biotechnology Information) e PubMed como principais fontes de dados, foram vistos
aproximadamente 827 resultados de trabalhos que se referem aos objetivos, porém somente
24 artigos foram selecionados por apresentarem dados de grupos de indivíduos de diferentes
países relacionados a automedicação na pandemia, outros artigos foram selecionados devido

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aos dados quantitativos mundiais conforme a coesão entre causa da automedicação e a


toxicidade dos medicamentos consumidos.

Figura 1 - Fluxograma de estudo

941

Fonte: Próprio autor

Indivíduos que praticam automedicação e auto dosagem rotineiramente, aderem a


prática do uso irracional de medicamentos devido ao seu fácil acesso permitindo a auto
administração que pode ser nociva ao usuário. Segundo o Ministério da Saúde, os relaxantes
musculares, anti térmicos e os que têm efeito no sistema nervoso estão relacionados com a
maior parte das intoxicações.

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Figura 2 - Medicamentos mais citados em artigos científicos no período de julho de 2020 a


fevereiro de 2021

942

Fonte: Próprio autor

O gráfico salienta os principais medicamentos citados em artigos científicos que se


encaixam nos critérios de inclusão, salientando os medicamentos mais utilizados na
pandemia, o VQ (volume quote) é relacionado ao volume de citação do medicamento em
artigos científicos e o MQ (medician quote) indica quais medicamentos foram citados,
contagem realizada pelos artigos selecionados. Hidroxicloroquina/cloroquina foi a mais
citada nos artigos selecionados sobre a automedicação e os anti-retrovirais sendo relatados
geralmente em sinergia com cloroquina/hidroxicloroquina em alguns artigos científicos
(Goudarzi et al., 2020; Matias et al., 2020).
A procura por vitaminas e suplementos também teve grande crescimento. A
vitamina C e a utilização de multi vitaminas/suplementos pode ser muito perigosa, pois tem
o potencial de causar hipervitaminose. Alguns estudos descrevem que a vitamina C causa
efeitos adversos semelhantes aos dos medicamentos citados acima, como: náusea, vômito,
dores de estômago e dor de cabeça, todavia, não há clareza sobre a interação medicamentosa
com a Vitamina C (Goudarzi et al., 2020; Matias et al., 2020).
As principais razões que ocasionaram os consumidores a praticar a automedicação na
pandemia foram a prevenção e a melhoria dos sintomas, independentemente de serem
positivos ou negativos, evitando o atendimento e a realização do teste (Muhammed J. et all.,
2020). Quispe-Canãri et al., 2021) aponta que os analgésicos, antibióticos, antifúngicos e anti

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oxidantes são os mais procurados, como por exemplo o paracetamol, azitromicina,


ibuprofeno, anti-retrovirais, cloroquina e hidroxicloroquina, penicilina, dipirona,
ivermectina e vitamina C.
Estudos transversais demonstram a prática do autocuidado em diversos países,
entretanto, é variável a sua fração de praticantes tendo uma margem de 32% a 85% em países
como: Sérvia, Montenegro, Japão, Índia, China, Brasil, Ásia e Etiópia (Muhammed J. et all,
2020; Aster, 2018). Em destaque na gama de medicamentos, a vitamina C é a mais consumida
pela comunidade na tentativa de prevenir a contaminação ou fortalecer a imunidade.
Estudos apontam que 32% do total dos indivíduos dos países citados planejam ou já se
automedicaram (Alvarez-Risco et al., 2020; Arnold J et al., 2021; Tasnim et al., 2020).
Já a cloroquina e a hidroxicloroquina foram as mais descritas no ambiente intra-
hospitalar em uso off-label, pois devido a sua exigência de prescrição médica é mais difícil
sua aplicação no âmbito doméstico. São medicamentos usados no tratamento de malária e
lúpus, porém teve a possível indicação para a cura do COVID-19 pelo fato de ter ocorrido
estudos in vitro para testar a eficácia como antiviral em 2003, quando houve a epidemia da
SARS-CoV-1. Houve efeito na replicação viral, mas como a epidemia não chegou a se
espalhar os testes foram interrompidos e agora na pandemia do novo coronavírus foram
resgatados, contudo, não há indicação comprovada e com a falta de um medicamento com a
eficácia determinada para a cura do COVID-19 as pessoas continuaram se automedicando
(RODRIGUES, 2020). Maioritariamente possui cardiotoxicidade, prolongando o intervalo
QT por inibição da CYP2D6 e do transportador ABCB1/Pgp que pertencem a um grupo de
proteínas responsáveis pela metabolização de 25% das drogas clínicas, facilitando sua 943
eliminação e transporte dessas substâncias (Bertilsson L, 2012). A azitromicina também
provoca alteração no intervalo QT, em sinergia com cloroquina/hidroxicloroquina, com o
objetivo de diminuir a carga viral, mas alguns estudos contrariam sua eficácia na inibição do
vírus, sendo não recomendada (Ágnes Telbisz et al 2020; Alvarez-Risco et al., 2020).
A ivermectina apesar de ter mostrado eficácia contra o vírus apenas em testes in vitro,
apresenta atividade inibidora dos sítios de ligação do vírus, com isso o uso indiscriminado
está ligado a muitos casos de resistência microbiana, principalmente bacteriana e parasitária,
uma pequena fração da concentração da ivermectina tem potencial neurotóxico juntamente
com sua atividade hepatotóxica por induzir necrose hepática, sendo ocasionalmente
administrado aos pacientes com cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina (Ágnes Telbisz
et al., 2020).
Segundo o NIH (National Institutes of Health), um site oficial do governo dos
Estados Unidos, relata a ineficácia e toxicidade em alguns casos na emergência da sinergia
destes fármacos. Os principais problemas são: hipoglicemia, miopatias, rabdomiólise,
mioglobinúria, bloqueio cardíaco ou atraso no intervalo QT e neurotoxicidade, sendo não
aprovados para infecções virais. Devido a propagação de informações tendenciosas muitos
cidadãos de países diferentes no mundo adotaram a autoadministração da ivermectina com
intuito de evitar a infecção pelo Sars-COV 2 (Ágnes Telbisz et al., 2020).
Lopinavir-ritonavir, medicamento usado em ambiente hospitalar que pertence à
classe dos inibidores de protease, foi aplicado em alguns pacientes e não demonstrou

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diferença potencial no fator de virulência em comparação aos que não receberam as dosagens
do fármaco. A mortalidade com os respectivos antirretrovirais não referiu alteração
significativa, tendo os distúrbios gastrointestinais como efeito adverso mais comum, sendo
não sugerido para os casos leves, moderados ou graves, impossibilitando o seu uso com os
antipiréticos, que são tóxicos no aparelho gastrointestinal (Yanping et al., 2020).
Em situação de isolamento social há chance de alteração no comportamento dos
indivíduos, sendo potencialmente praticante de auto dosagem (decisão individual do sujeito
de determinar a dose a ser administrada e alterná-las em um intervalo de tempo, com
probabilidade de uma superdosagem ou subdosagem), somada a automedicação, que é o ato
de administrar um medicamento por conta própria, sem orientação profissional, ampliando
as chances de efeitos tóxicos (Marcelo Beltrão, 2020). Isso se deve à ausência da consulta
clínica, num cenário onde a internet se tornou centro de informação de saúde e nas farmácias
ou drogarias medicamentos são vendidos abundantemente sem a orientação farmacêutica
sobre seus efeitos indesejáveis, inviabilizando a prática clínica da assistência em saúde. O
Conselho Nacional de Saúde fdiz que o uso indiscriminado de medicamentos é um problema
antigo, de acordo o Ministério da Saúde esta prática é responsável por 27% das intoxicações.
Sendo assim, o Ministério da Saúde defende a utilização de medicamentos de forma segura
aos usuários, através da orientação e atenção farmacêutica que é direcionada ao paciente com
o objetivo de promover o uso racional dos medicamentos para obter os efeitos esperados
(SOBRAL, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 944

A automedicação pode trazer efeitos indesejáveis à saúde, porém é uma adversidade


global que é praticada há muitos anos antes da pandemia. No isolamento uma boa parte da
sociedade utilizou o conhecimento popular através da internet, com informações
tendenciosas para se inclinar ao autocuidado independente dos conhecimentos em saúde ou
auxílio de um profissional capacitado. Esta ocasião reduziu a busca pelo atendimento
hospitalar, visto que, o fácil acesso aos medicamentos concede o poder de decidir realizar a
automedicação e autoadministração. É imprescindível que o farmacêutico juntamente com
a equipe multiprofissional orientem os pacientes sobre o uso racional de medicamentos e
substâncias potencialmente tóxicas, mostrando a possibilidade de causar efeitos nocivos caso
as substâncias sejam usadas incorretamente.

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ISSN - 2675 – 3375
Vol.30,n.2,pp.82-86 (Abr - Jun 2017) Revista UNINGÁ Review

ATENÇÃO FARMACÊUTICA COMO PROMOTORA DO


USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
PHARMACEUTICAL ATTENTION AS PROMOTER OF RATIONAL DRUG USE

MATHEUS BARBOSA¹*, SAMUEL BOTIÃO NERILO2

1. Aluno do curso de graduação em Farmácia da UNINGÁ; 2. Professor Doutor do curso de Farmácia da UNINGÁ.

* Rua Irmã Isabel Padierna, 769. Cj. Hab. Parigot de Souza, Maringá, Paraná, Brasil. CEP:87047-210. barbosa.mth@gmail.com

Recebido em 20/10/2016. Aceito para publicação em 16/01/2017

RESUMO pharmaceutical care and medication. The search results pointed


out that the main methods of intervention are: prescription
A atenção farmacêutica é conceituada como um conjunto de pharmaceuticals, encouraging responsible self-medication, give
ações voltadas principalmente à promoção e recuperação da all the necessary and important information to the user for
saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento proper evaluation and consequently a correct intervention to the
como insumo essencial visando o acesso e seu uso racional e patient. We conclude that the practice of pharmaceutical care is
garantindo a qualidade dos produtos e serviços. Uma vez one of the main forms available to promote the rational use of
que existem dados brasileiros preocupantes a respeito do medicines, because the pharmacist is the professional who
uso irresponsável de medicamentos, o objetivo deste traba- knows all aspects related to the drug, and thus can offer the user
lho foi evidenciar a importância da prática farmacêutica greater access to information in turn will use the drugs correctly.
como promotora do uso racional de medicamentos, bem KEYWORDS: Pharmaceutical practice; self-medication;
como dos métodos de intervenção. Para isso utilizou-se uma prescription pharmaceuticals; responsible self-medication.
busca nos bancos de dados eletrônicos fazendo uso dos
descritores: automedicação; prática farmacêutica; cuidados
farmacêuticos e medicação. Os resultados demonstraram
que os principais métodos de intervenção são: prescrição
farmacêutica, incentivo à automedicação responsável,
prestar informações necessárias e importantes ao usuário
para uma correta avaliação e consequentemente uma cor- 1. INTRODUÇÃO
reta intervenção junto ao paciente. Conclui-se que a prática A prática da automedicação é comum e é vivenciada
da atenção farmacêutica é uma das principais formas dis- por civilizações de todos os tempos, com características
poníveis para a promoção do uso racional dos medicamen-
peculiares a cada época e a cada região. É alarmante o
tos, pois o farmacêutico é o profissional que conhece todos
os aspectos relacionados ao medicamento, podendo assim consumo de medicamentos advindos do uso irresponsável,
oferecer ao usuário maior acesso à informação que por sua ou seja, utilizando a automedicação1.
vez passará a utilizar os medicamentos de forma correta e Rosse et al. (2010)2 demonstraram após a análise, que
segura. dos 68 acadêmicos entrevistados, cerca de 97% deles
faziam uso de medicamentos sem indicação ou receita
PALAVRAS-CHAVE: Prática farmacêutica; automedica-
ção; prescrição farmacêutica; automedicação responsável.
médica. Castro et al . (2006)3 que já havia feito um estudo
com metodologia semelhante demonstrou que dos 86
alunos entrevistados, 84% deles fez uso de medicamentos
sem prescrição; além deste dado, cerca de 59% destes
ABSTRACT alunos abandonaram os tratamentos. Vilarino (1998)4
retratou também em 1998 que das 413 pessoas entrevis-
The pharmaceutical care is defined as a set of actions focused tadas na cidade de Santa Maria-RS, 289 utilizaram algum
mainly to the promotion and restoration of health, both indi- tipo de medicamento que simboliza 69,9% e destes, 220
vidual and collective, taking the medicine as essential input se automedicaram ao menos uma vez, ou seja, 76,1%
aimed at access and rational use and ensuring the quality of destas pessoas se medicaram por conta própria. Aproxi-
products and services. It is known that Brazil presents alarming
madamente um terço das internações ocorridas no País
data irresponsible use of drugs. The aim of this study was to
demonstrate the importance of the pharmaceutical practice as tem como origem o uso incorreto de medicamentos. As-
promoting the rational use of drugs and intervention methods. sim como nos últimos anos, em 2011 as intoxicações
For this we used search in the electronic databases making use provocadas por medicamentos chegaram a 29,5% dos
of words such as: self-medication; pharmaceutical practice; casos5. Aliado ao fato de que o Brasil é um dos maiores

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consumidores mundiais de medicamentos, cujo gasto


chega a 22,1 bilhões de dólares, é de suma importância o
2. MATERIAL E MÉTODOS
controle do uso indiscriminado de medicamentos6.
O presente trabalho trata-se de uma revisão biblio-
O trabalho de Arrais et al. (1997)7 traçou um perfil da
gráfica, por meio de busca retrospectiva nas bases de
automedicação utilizando análise da procura de medi-
dados eletrônicos do Portal de Periódicos da Capes e
camentos em farmácias, sem prescrição médica ou
SCIELO (Scientific Electronic Library Online), utili-
aconselhamento do farmacêutico/balconista. Os autores
zando como busca as palavras-chave: prática farmacêu-
concluíram que a automedicação no Brasil refletia as
tica; cuidados farmacêuticos; atenção farmacêutica; au-
carências e hábitos da população e que possivelmente
tomedicação; prescrição farmacêutica; automedicação
poderia ser influenciada pela prescrição médica e sua
responsável; medicamentos.
qualidade prejudicada pela baixa seletividade do mercado
Para escolha dos artigos foram avaliados os títulos e
farmacêutico. Também demonstraram que a as mulheres
resumos, obedecendo os seguintes critérios de inclusão:
entre 16 e 45 anos são as que mais utilizam medicamentos
artigos originais, publicados na íntegra em periódicos
sem prescrição e nos homens o hábito é mais comum em
brasileiros, nos idiomas português, inglês ou espanhol, e
idade mais avançada. Os dados mostram também que a
que abordassem os seguintes temas relevantes: Impor-
escolha de medicamentos é baseada principalmente na
tância da atenção farmacêutica e assistência farmacêutica;
recomendação de pessoas leigas sendo também relevante
problemas relacionados aos medicamentos; prevalência
a influência de prescrições médicas anteriores7.
de automedicação e consumo de medicamentos.
A atenção farmacêutica é determinada pelo Conselho
A análise dos artigos foi realizada primeiramente a
Nacional de Saúde na resolução 338/2004 como “um
partir da leitura dos resumos, com posterior leitura do
conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e re-
texto completo, contendo as variáveis para caracterização
cuperação da saúde, tanto individual como coletivo,
das publicações. Foram selecionados 19 artigos não fa-
tendo o medicamento como insumo essencial e visando o
zendo discriminação de datas, visto que o tema abordado
acesso e ao seu uso racional”. Na mesma resolução de-
é recente dentro da ciência farmacêutica.
termina-se que faça parte da atenção farmacêutica a
“garantia da qualidade dos produtos e serviços, acom-
panhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva 3. DESENVOLVIMENTO
da obtenção de resultados concretos e da melhoria da
qualidade de vida da população” além de delegar como A atenção à saúde se dá pelas ações individuais ou
responsabilidade do farmacêutico a interação direta com coletivas que buscam promover a saúde e prevenir
o usuário “buscando uma farmacoterapia racional e a agravos, melhorando o diagnóstico, e a manutenção da
obtenção de resultados definidos e mensuráveis”8. saúde que não é uma tarefa fácil de se pôr em prática,
Para a Organização Mundial da Saúde, “o paciente tendo em vista todos os aspectos a serem levados em
deve receber medicamento apropriado a sua necessidade consideração para que tenhamos um uso considerado
clínica, na dose e posologia correta, por tempo adequado racional dos medicamentos e sabendo que a promoção do
e ao menor custo para si e para comunidade” Hepler & uso racional não depende somente do farmacêutico, mas
Strand (1990)9 apontam a preocupação com os possíveis também de outros profissionais da saúde, políticos, go-
problemas que os medicamentos poderiam causar, e desta verno, comércio e indústria. O farmacêutico possui papel
forma listaram categorias de problemas relacionados aos fundamental no processo de promoção do uso racional de
medicamentos, que foram essenciais para o pontapé ini- medicamentos pois suas ações podem fornecer condições
cial da atenção farmacêutica10. que ampliem a informação para a comunidade, e para que
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) salienta que o isso ocorra de forma adequada, pode-se utilizar de alguns
consumo de medicamentos está relacionado também com recursos para impulsionar o uso correto dos medica-
o difícil acesso aos serviços de saúde, que por sua vez, mentos10,11.
gerou o hábito de se automedicar, pois considera o me- White (1999)12 estimou que as reações adversas estão
dicamento como um produto que pode ser consumido entre as cinco principais causas de morte nos hospitais
sem a orientação devida8. Desta forma, sabendo da im- dos EUA, colocação esta que supera as mortes causadas
portância do farmacêutico e de seus cuidados, aliada com por pneumonia ou diabetes. Patel (2002)13 analisou dados
a necessidade da ampliação da conscientização sobre o de 12 ensaios sobre atendimentos de emergência provo-
uso racional de medicamentos, o objetivo deste artigo foi cados por medicamentos e seus resultados mostraram que
relacionar a importância da atenção farmacêutica com o 28% de todos os atendimentos de emergência estão rela-
uso racional de medicamentos, enfatizar a mediação do cionados ao uso incorreto dos medicamentos, onde, des-
farmacêutico bem como salientar a importância do auxí- tes atendimentos, cerca de 70% se classificavam como
lio da prescrição farmacêutica para diminuir os casos de ocorrências evitáveis.
Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM’s). A Atenção Farmacêutica é uma ferramenta que visa

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encurtar a relação entre o farmacêutico, que é quem co- zaram um acompanhamento junto a um farmacêutico.
nhece o medicamento, com o paciente. Sua importância Segundo Zubioli (2000)15, além de dar todas as in-
se dá pela facilitação do acompanhamento farmacotera- formações necessárias e importantes ao usuário para uma
pêutico, pois o profissional pode identificar e solucionar correta avaliação e consequentemente uma correta in-
os problemas relacionados aos medicamentos, identifi- tervenção junto ao paciente, o profissional deve analisar a
cados como “PRM’s” que foram classificados na Espanha situação de modo a entender fatores importantes relaci-
pelo Consenso de Granada, onde também, foram defini- onados à doença, que são: determinar o início do pro-
dos alguns conceitos e métodos de acompanhamento blema, a quanto tempo o paciente está acometido, a des-
farmacoterapêuticos14. crição da patologia, fatores que possam agravar ou aliviar
Com os cuidados do farmacêutico, o principal bene- possíveis sintomas, além de possíveis tentativas de tra-
ficiário é o paciente que passa a receber qualidade de vida, tamentos anteriores. O farmacêutico deve também avaliar
pois participa de um acordo social colaborativo entre as características pessoais do indivíduo, como a idade e o
várias áreas da saúde, pois existe um número maior de sexo. Caso seja uma mulher, se está grávida ou ama-
profissionais preocupados diretamente com sua saúde. mentando, se já possui antecedentes alérgicos ou reações
Ainda assim, o paciente não é o único beneficiado, pois adversas e ainda se o paciente possui alguma doença
com a incorporação do farmacêutico, se tem uma dimi- crônica, como a asma, por exemplo.
nuição nos custos operacionais, pois este é um profissi- O uso irresponsável não pode apenas ser relacionado
onal de graduação superior e com formação voltada jus- ao uso indiscriminado de medicamentos, mas também aos
tamente para o medicamento, aliado a isto, o farmacêu- erros de prescrição e as propagandas que prometem a
tico normalmente é o primeiro profissional procurado melhora imediata de problemas que atrapalham o dia a
para tratar da saúde do enfermo, e em certos momentos dia do cidadão. Pode-se apontar que a indicação farma-
acaba sendo o único profissional solicitado14. cêutica é uma ferramenta que pode promover a melhoria
Segundo Arnaldo Zubioli (2000)15 o farmacêutico desta condição pois traz informações importantes para o
sempre tem algo a dizer quanto a automedicação, pois na uso correto deste medicamento, que pode ser atribuído
automedicação, o usuário normalmente recorre a duas não tão somente pela indicação correta à doença, mas
alternativas, a primeira que é não se medicar e a segunda também para a precisa indicação nos aspectos como idade,
que é utilizar remédios caseiros ou se automedicar com sexo entre outros pontos18.
medicamentos industrializados e por estes motivos o Uma das atribuições do farmacêutico em seu exercí-
usuário procura uma farmácia para encontrar soluções cio profissional é promover proteger e recuperar a saúde
para sua doença. dos usuários, o farmacêutico pode discutir casos clínicos
Para Arrais et al. (1997)7 os problemas que levaram os com outros membros da equipe de saúde, podendo assim,
usuários a se automedicar, não justificava o uso dos me- contribuir com informações que ajudem na substituição,
dicamentos, pois eram doenças autolimitadas ou provo- interrupção ou ajuste da farmacologia, intensificando
cados por carências nutricionais. Além destes erros, um assim o cuidado junto ao paciente, e, uma forma de au-
outro uso inadequado também foi o uso incorreto dos xiliar nesse cuidado é a prescrição farmacêutica, que é
medicamentos, como a indicação de antibióticos para a autorizada pela lei 586/201319.
cura de viroses respiratórias ou tosses. A prescrição farmacêutica é um processo seguro ao
E para que estes erros não ocorram, Zubioli (2000)15 paciente, pois o profissional especialista em prescrição
indica que o farmacêutico deverá possuir conhecimentos clínica, deve seguir uma série de etapas para uma correta
que permitam a ele indicar ou então desaconselhar certos prescrição, como identificar a necessidade e o objetivo
medicamentos em situações de automedicação simples e terapêutico, selecionar os medicamentos seguros, efica-
em vista disso, o farmacêutico é um grande fomentador zes e convenientes ao paciente, fazer a prescrição por
ao uso racional, pois o farmacêutico é o único profissional escrito, acompanhar e documentar os resultados, tudo
que entende de todos os pontos relacionados ao medi- isso deixando sempre o paciente ciente e bem orientado
camento. quanto às decisões20.
A indicação errada dos antibióticos é um problema Não são todos os medicamentos que podem e serão
descrito por Santos e Nitrin (2004)16 que pode levar ao prescritos pelos farmacêuticos, só serão indicados os
desenvolvimento de microrganismos possivelmente re- medicamentos isentos de prescrição médica, ou seja,
sistentes aos tratamentos usuais, consequentemente analgésicos, antitérmicos, antiácidos que são medica-
acarretando danos graves aos pacientes ou até mesmo mentos para enfermidades comuns, e que não necessa-
levá-lo ao óbito. riamente necessitam de intervenção médica, inclusive
Melchiors et al. (2015)17 que analisaram as inter- estes medicamentos são comprados deliberadamente
venções farmacêuticas entre 1990 e 2010, observaram quando apontado por conhecidos, ou pela influência da
que a intervenção feita pelo farmacêutico promoveu uma propaganda ou seja, sem nenhuma responsabilidade ou
efetiva redução na mortalidade dos pacientes que reali- instrução.

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Com a prescrição o paciente receberá instruções 5. CONCLUSÃO


sobre a indicação e uso correto vinda de um profissional
tecnicamente habilitado, pois somente será feita quando Diante do que foi apresentado a atenção farmacêutica
reconhecida a necessidade do paciente fundamentados é a principal forma de promover o uso racional de medi-
em critérios éticos e profissionais20,24 camentos, pois dará ao paciente mais acesso de infor-
Existem Problemas Relacionados aos Medicamentos mações corretas e confiáveis sobre medicamentos que são
que são comumente chamados de PRM’s, onde em 2002, comumente utilizados no tratamento das doenças mais
o Segundo Consenso de Granada22 o definiu como um comuns, com isso, deixa-se de acreditar principalmente
problema derivado da farmacoterapia que ou não trou- nas propagandas que prometem alívio imediato das pa-
xeram os efeitos desejados ou então provocaram reações tologias, e o farmacêutico que é um profissional que
indesejadas. entende os perigos relacionados a estes medicamentos,
Também no Segundo Consenso (2002)22 de Granada, pode indicar, de forma independente do método, qual é o
os PRM’s foram classificados nas seguintes classes: ne- melhor medicamento para sua enfermidade, inclusive
cessidade, efetividade e segurança, e ainda subclassifi- quando necessário, dar suporte sintomático até que se
cados em evitáveis que normalmente são provocados por ocorra o encaminhamento ao médico, para que assim, os
falhas de processos, sistemas ou profissionais, que podem medicamentos não sejam utilizados em vão. Ainda assim,
ou não ser experientes, e não evitáveis. Com isso abrimos o farmacêutico pode utilizar sua proximidade com o pa-
uma gama de problemas preveníveis que o uso indiscri- ciente para convencê-lo a aderir à terapia proposta, con-
minado ou não assistido pode provocar. Um problema de seguindo mostrar ao paciente a real necessidade do uso
saúde provocado pelo uso de um medicamento que não é deste medicamento.
necessário é classificado como um PRM de necessidade. Ligado a estas estratégias, pode-se também utilizar o
Podemos também indicar uma relação íntima entre os incentivo a educação e a informação. Promover um maior
(PRM’s) e Reações Adversas aos Medicamentos controle sobre a venda dos medicamentos em geral, além
(RAM’s), visto que as reações adversas são classificadas da limitação das propagandas que induzem a compra
também, como um problema relacionado aos medica- prometendo soluções imediatas, unida com a ampliação
mentos. Estas reações, são relacionados à ação farmaco- da indicação de tratamentos não medicamentosas, como
lógica, ou seja, é resultado do efeito provocado pelo me- exercícios físicos e boa alimentação.
dicamento, que provoca por sua vez algum tipo de dano, e
ainda assim, mesmo que estes problemas sejam esperados, REFERÊNCIAS
não se pode considerar a sua prescrição como um erro23.
Existem planos de atenção aos quais o farmacêutico [01] Paulo LG, Zanine AC. Automedicação no Brasil. Rev. Ass.
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conhecido como Modelo de Minnesota que se diferen- [03] Castro HC, et al., Automedicação: Entendemos o risco?
ciam principalmente pela forma com que os problemas Infarma, 18(9): 17-3, 2006
são classificados, pois a não adesão ao medicamento é [04] Vilarino JF. Perfil da automedicação em município do Sul
considerado um PRM, enquanto pelo método de Minne- do Brasil, Rev. Saúde Pública, 32 (1): 43-9, 1998.
sota, este é considerado como um problema alheio, ou [05] Aquino D. Por que o uso racional de medicamentos deve
seja, não é reconhecido como um problema farmacote- ser uma prioridade? Cienc. Saúde Coletiva, 13 :733-6,
rapêutico14. 2008.
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como a automedicação responsável, são métodos que sileiro. Nexos Econ, 6(2):95-119, 2012.
conseguem promover uma diminuição no uso incorreto [07] Arrais PSD, et al., Perfil da automedicação no Brasil. Rev.
dos medicamentos, sejam eles por desconhecimento do Saúde Pública, 31 (1): 71-7, 1997
riscos atrelados aos medicamentos, como problemas de [08] Conselho Nacional de Sáude, Resolução n° 338 de 06 de
falta de informação ou indicações errôneas feitas por Maio de 2004. Regula a política nacional de Atenção
conhecidos neste processo. Independentemente do mé- Farmacêutica.
todo abordado pelo farmacêutico, este deve corrigir, os [09] Hepler CD, Strand LM. Oportunidades y responsabilida-
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primeiramente a solução dos problemas para que assim [10] Organização Mundial da Saúde, Conferência Mundial
melhore a saúde de quem o procurou24,17. Sobre Uso Racional de Medicamentos, Nairobi, 1985.
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[23] Conselho Regional de Farmácia - São Paulo (estado),
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<http://portal.crfsp.org.br/index.php/noticias/4723-prescr
icao-farmaceutica.html> Acesso em 29 de Setembro de
2016.

ISSN online 2178-2571

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