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Avaliação da qualidade da prescrição de medicamentos

ARTIGO ARTICLE
de um hospital de ensino

Evaluation of quality medication prescription of a teaching hospital

Patrícia Taveira de Brito Araújo 1


Severina Alice Costa Uchôa 2

Abstract The errors from doctor prescriptions Resumo Os erros provenientes das prescrições
can cause damage to the patient’s health, conse- médicas podem provocar sérios danos à saúde dos
quently it is necessary to identify and to prevent pacientes; por isso, é imprescindível que sejam
them. This work aimed to evaluate if the legal identificados e prevenidos. O objetivo deste tra-
and institutional aspects that are present in doc- balho foi avaliar a presença dos requisitos legais e
tor prescription at the public and university pe- institucionais da prescrição médica de um hospi-
diatric hospital to make a diagnosis from the sit- tal pediátrico público de ensino, a fim de se obter
uation, and then to correct the problems. A sur- um diagnóstico da situação, para então serem apli-
vey was made was made using a cross-sectional cadas as medidas corretivas. A partir da autori-
method, where copies of 1,590 prescriptions were zação do comitê de pesquisa, foi feito um estudo
studied after the University Committee of Research observacional do tipo transversal, quantitativo,
approved the survey. The average was 4,47 drugs no qual foram analisadas, durante três meses, to-
per prescription and following data were detect- das as segundas vias das prescrições dos pacientes
able: readable- 32.39% of the prescriptions were hospitalizados. Foram analisadas 1.590 prescri-
unreadable, 49.81% presented only the commer- ções, cada uma tendo em média 4,47 medicamen-
cial name, 5.25% of the drugs were not standard- tos, e obtiveram-se os seguintes dados: quanto à
ized. Quality of prescription in the chosen hospi- legibilidade, 32,39% das prescrições eram pouco
tal needs to be better to avoid medication errors legíveis, 49,81% continham medicamentos pres-
and the health care process gets safer. When pre- critos por nome comercial, 5,25% dos medica-
scription is unreadable, they can confuse health mentos prescritos não eram padronizados. A qua-
professionals and damage patients. lidade da prescrição do hospital em estudo precisa
Key words Prescribing, Medication errors, Read- ser melhorada, a fim de que sejam evitados erros
1
Hospital de Pediatria Prof.
Heriberto Ferreira Bezerra, able de medicação e o processo de assistência à saúde se
Universidade Federal do torne mais seguro. A falta de clareza nas prescri-
Rio Grande do Norte. Av. ções pode confundir os profissionais de saúde e
Gal. Gustavo Cordeiro de
Farias s/n, Petrópolis.
causar danos ao paciente.
59012-170 Natal RN. Palavras-chave Prescrição, Erros de medicação,
patbrito@ufrnet.br Legibilidade
2
Núcleo de Estudos em
Saúde Coletiva,
Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
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Araújo PTB, Uchôa SAC

Introdução paciente; identificar se as prescrições estão con-


templando dados sobre o medicamento e identi-
As farmácias têm como uma das funções primor- ficar o número de medicamentos prescritos fora
diais a dispensação dos medicamentos de acordo da padronização.
com a prescrição médica, nas quantidades e espe-
cificações solicitadas, de forma segura e no prazo
requerido, promovendo o uso seguro e correto Uso racional de medicamentos
de medicamentos e correlatos¹. No Brasil, as far-
mácias hospitalares têm evoluído e se organizado Uma das preocupações da Organização Mundial
com o objetivo principal de contribuir para a qua- de Saúde é a disseminação da utilização racional
lidade da assistência à saúde. Tendo o medica- dos medicamentos. Seguindo essa orientação, foi
mento como instrumento para o pleno exercício elaborada a Política Nacional de Medicamentos,
dessa função, elas devem ter como foco de aten- que tem como uma de suas diretrizes e priorida-
ção o paciente e as necessidades deste. Assim, sua des a promoção do “Uso Racional de Medica-
organização e sua prática devem prevenir que er- mentos” (URM)4. O URM é definido como o
ros relacionados aos medicamentos ocorram. processo que compreende a prescrição apropri-
Dentre os processos que envolvem o ciclo do me- ada, a disponibilidade oportuna e a preços aces-
dicamento está o da prescrição e é nele que se síveis, a dispensação em condições adequadas, o
deterá a pesquisa, procurando identificar a quali- consumo nas doses indicadas, nos intervalos
dade das prescrições do hospital em estudo quan- definidos, no período de tempo indicado, de
to aos requisitos legais e institucionais. medicamentos eficazes, seguros e de qualidade.
O hospital em estudo é um hospital integrante Pela definição de URM, portanto, a prescrição
da Rede Sentinela (ANVISA) e é um hospital de apropriada é um componente importante para a
ensino, o qual tem papel primordial na forma- utilização adequada do medicamento; no entan-
ção dos profissionais de saúde e, por consequên- to, no Brasil, ainda há poucas informações so-
cia, no cenário da assistência à saúde, o que jus- bre a qualidade das prescrições5.
tifica a necessidade de identificar a qualidade das Para a Organização Mundial da Saúde, a far-
prescrições produzidas nessa instituição, a fim macovigilância compreende a ciência e as ativi-
de que os erros possam ser corrigidos, melho- dades relativas à identificação, avaliação, com-
rando a qualidade da assistência ao paciente2. preensão e prevenção de efeitos adversos ou qual-
A prescrição medicamentosa é um documen- quer problema possível relacionado com fárma-
to legal pelo qual se responsabilizam quem pres- cos6. Esse campo de atividade tem se expandindo
creve (médico) e quem dispensa o medicamento e, recentemente, incluiu novos elementos de ob-
(farmacêutico), estando sujeito à legislação de servação e estudo, embora com um atraso injus-
controle e vigilância sanitários. No âmbito hos- tificado, uma vez que em 1995 já se chegara à
pitalar, a prescrição de medicamento inclui mais formulação de uma proposta e de estratégias
um componente, que é a equipe de enfermagem, bastante consistentes para institucionalizar um
a qual administra o medicamento3. Os erros pro- sistema de farmacovigilância em nível nacional7.
venientes das prescrições médicas podem pro- Os erros de medicação constituem um as-
vocar sérios danos à saúde dos pacientes; por pecto de importância dentro da assistência à saú-
isso, é imprescindível que os erros sejam identifi- de, quando se pensa em promover o uso racio-
cados e prevenidos4. nal de medicamentos. O Instituto de Medicina
Americano informa que entre 44.000 e 98.000
americanos morrem anualmente em decorrên-
Objetivo cia de erros na medicação e que esses erros ocor-
rem em 2% a 14% dos pacientes hospitalizados8.
A pesquisa teve por objetivo avaliar a presença Dentre os erros de medicação, estão os relacio-
dos aspectos legais e institucionais da prescrição nados à prescrição. Alguns trabalhos têm de-
médica de um hospital público de ensino e pedi- monstrado que esses erros estão presentes nas
átrico, a fim de que se tivesse um diagnóstico da unidades hospitalares e podem causar danos à
situação para então serem aplicadas as medidas saúde; sendo assim, faz-se necessário identificá-
corretivas. los e criar estratégias para preveni-los9-14.
Os objetivos específicos foram identificar se A National Coordinating Council for Medi-
as prescrições estão legíveis ou não; identificar se cation Error Reporting and Prevention (NCC-
as prescrições estão contemplando os dados do MERP) define erro de medicação “como qual-
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quer evento que possa ser evitado e que, de fato ção do Comitê de Uso Racional de Medicamen-
ou potencialmente, leve ao uso inadequado de tos, a parceria estabelecida com entidades de pres-
medicamento”. Isso significa que o uso inadequa- critores e dispensadores, a realização de dois con-
do pode ou não lesar o paciente, não importan- gressos de uso racional e a participação da Rede
do se o medicamento está sob o controle de pro- de Hospitais Sentinelas, que teve esse tema nos
fissionais de saúde, do paciente ou do consumi- projetos de 20075,20.
dor15. Em entrevista à revista Pharmacia Brasi- No âmbito da farmacovigilância, os hospitais
leira no ano de 2005, Mário Borges Rosa, farma- sentinelas representam uma estratégia adicional
cêutico mineiro, estudioso de erros de medica- para integrar a monitoração de medicamentos à
ção, disse que tanto no curso de graduação como prática clínica. O envolvimento dos profissionais
no exercício profissional dentro das unidades de de saúde com os princípios da farmacovigilância
saúde, a abordagem atualmente utilizada deve tem grande impacto na qualidade da assistência,
ser totalmente modificada5. tanto nos aspectos relacionados à prescrição, in-
Os eventos adversos preveníveis e potenciais fluindo diretamente na prática médica, quanto
relacionados a medicamentos são produzidos na dispensação e no uso de medicamentos: o
por erros de medicação e a possibilidade de pre- médico passa a agregar novas referências à avali-
venção é uma das diferenças marcantes entre as ação do tratamento a ser prescrito; os enfermei-
reações adversas e os erros de medicação. A rea- ros aprendem a relacionar eventos da prática de
ção adversa a medicamentos é considerada como cuidados ao paciente com os possíveis riscos de-
evento inevitável, ainda que se conheça a sua pos- correntes do uso do medicamento; o farmacêuti-
sibilidade de ocorrência, e os erros de medicação co terá na farmacovigilância uma extensão de sua
são, por definição, preveníveis. Decorre disso que, prática, interagindo com a equipe, de acordo com
com ações bem planejadas, é possível prevenir os a Organização Mundial da Saúde6.
erros, melhorando a qualidade da assistência Estando nesse panorama de hospital de ensi-
prestada nas unidades de saúde16. no e sentinela, o hospital em questão tem papel
O erro pode estar relacionado à prática pro- primordial na formação dos profissionais de
fissional, a produtos usados na área da saúde, saúde, por consequência no cenário da assistên-
procedimentos, problemas de comunicação “ in- cia à saúde. Sendo assim, faz-se necessário que o
cluindo-se prescrição, rótulo, embalagem, nome, serviço de farmacovigilância atue no sentido de
preparação, dispensação, distribuição, adminis- detectar, avaliar, compreender e prevenir efeitos
tração, educação, monitoramento e uso de me- adversos ou quaisquer problemas relacionados
dicamentos17. ao medicamento2.
Dentre os erros de medicação, está o de pres-
crição, o qual contribui significativamente para
o índice total dos erros de medicação e tem eleva- Um panorama das prescrições
do potencial para resultar em consequências no Brasil e no mundo
maléficas para o paciente. Estima-se que, em cada
dez pacientes admitidos no hospital, um esteja Para Mário Borges Rosa, a maioria dos profissi-
em risco potencial ou efetivo de erro na medica- onais envolvidos com o problema (farmacêuti-
ção18. Esse risco aumenta quando os profissio- cos, médicos e enfermeiros) não sabe identificar
nais não conseguem ler corretamente as prescri- um erro de medicação e muitos só se dão conta
ções, devido à letra ilegível ou à falta de informa- de que houve o erro quando ele é grave, muitas
ções necessárias para a correta administração, vezes resultando em óbito. Os erros menores
como via, frequência, etc.11,12. praticamente passam despercebidos e, em con-
No ambiente hospitalar, o primeiro passo sequência disso, não são registrados, muito me-
para prevenir os erros de medicação e aumentar nos avaliados e estudados. Portanto, a prática
a segurança para os pacientes envolve, necessaria- profissional nas unidades de saúde deve ser o
mente, a prescrição de medicamentos, já que essa lugar para a discussão do assunto e implantação
é a primeira etapa do circuito dos medicamentos de medidas de prevenção de eventos adversos5.
no hospital19. Em um estudo realizado no ano de 2004 no
Como parte desse processo, a Agência Nacio- Estado do Ceará, Neri concluiu que, apesar da
nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem pro- existência de regulamentação brasileira para a
movido cursos para a formação de multiplica- prescrição em serviço público de saúde, que ins-
dores, para o uso da farmacoterapia baseada em titui como obrigatório o uso da denominação
problemas, entre outras ações, tais como a cria- genérica, o uso da denominação comercial ainda
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Araújo PTB, Uchôa SAC

é elevado (ocorre em cerca de um terço dos itens das vias das prescrições dos pacientes hospitali-
prescritos) e que a forma adotada para redação zados. Para a análise, foi elaborado um formu-
das prescrições não satisfaz as condições de se- lário, no qual os dados foram tabulados. Foi fei-
gurança necessárias ao processo de prescrição, o to um estudo piloto de um mês, no qual se pa-
que constitui campo fértil para a omissão de ele- dronizou a leitura das prescrições junto aos pes-
mentos importantes quanto a garantir a segu- quisadores. Foram inclusas todas as prescrições
rança na dispensação e na administração do dos pacientes internados nas enfermarias durante
medicamento prescrito19. o período do estudo, excluindo-se as da enfer-
A prescrição medicamentosa é um documen- maria de oncologia, por ser esta recém-implan-
to legal, pelo qual se responsabilizam quem pres- tada, o que poderia causar algum viés. Foi calcu-
creve (médico) e quem dispensa o medicamento lada a frequência simples dos dados utilizando a
(farmacêutico) e está sujeito à legislação de con- planilha eletrônica MS/Excel e, em seguida, foi
trole e vigilância sanitários. No âmbito hospita- realizada a análise descritiva. As variáveis obser-
lar, a prescrição de medicamento envolve, ainda, vadas foram as seguintes: legibilidade da prescri-
a equipe de enfermagem, que administra o me- ção, sendo considerada a prescrição ilegível quan-
dicamento ao paciente. Esse documento deve se- do apresentasse mais de três itens ilegível e pouco
guir normas legais e institucionais que definem legível de um a três itens, nomenclatura do medi-
como o fármaco deve ser fornecido ao paciente e camento (nome genérico ou não), se o medica-
em que condições ele deve ser utilizado4. mento era padronizado ou não, presença dos ele-
No Brasil, a prescrição de medicamentos é mentos obrigatórios na prescrição (nome, regis-
normatizada pela Lei nº 5.991, de 17 de dezem- tro, peso e leito do paciente; carimbo, assinatura
bro de 197321, que apresenta algumas normas do prescritor e data), além dos dados relativos
para a execução adequada de uma receita. De ao medicamento (dose, via de administração,
acordo com a lei dos genéricos, no âmbito do intervalo posológico e apresentação).
Sistema Único de Saúde (SUS), as prescrições pelo
profissional responsável devem adotar obriga-
toriamente a Denominação Comum Brasileira Resultados e discussão
(DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum
Internacional (DCI)22. Após serem analisadas 1.590 prescrições, conten-
Em 1996, Benet23 relata que “a prescrição do, em média 4,47 medicamentos por prescri-
médica é uma relação terapêutica importante ção, foram obtidos os dados a seguir.
entre médico e paciente, e representa o produto Quanto à legibilidade das prescrições, de uma
da perspicácia diagnóstica e da capacidade tera- maneira geral, 64,47% foram legíveis, 32,39%
pêutica do médico, fornecendo instruções desti- foram pouco legíveis e 3,14%, totalmente ilegí-
nadas ao alívio ou à restauração da saúde do veis. Esse resultado é semelhante ao de outros
paciente”. Entretanto, mesmo a prescrição médi- estudos, como o de Winslow, Davidoff e Borum9,
ca escrita dentro dos melhores padrões científi- que encontrou 4% de prescrições ilegíveis, o de
cos atuais pode tornar-se inútil, se não for clara Néri19, 3,29% e o de Carvalho e Vieira1, 3,0%.
para o farmacêutico, e fornecendo instruções Dentre os itens analisados, os percentuais de ile-
adequadas para o enfermeiro ou paciente sobre gibilidade encontrados foram os seguintes: po-
como preparar e administrar “ ou utilizar “ os sologia (28,99%), nome do prescritor (25,53%),
medicamentos prescritos. nome do paciente (21,95%), peso (9,87%), data
(6,48%) e leito (4,21%) (Figura 1).
O fato de apenas 64,47% das prescrições se-
Metodologia rem totalmente legíveis constitui um problema
que deve ser abordado e corrigido na instituição.
Foi feito um estudo observacional do tipo trans- A falta de legibilidade pode acarretar uma série
versal, quantitativo, o qual foi aprovado pelo de problemas, como a não identificação do pres-
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade critor, o que impossibilita a comunicação com
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O es- ele e o aumento de horas na preparação das do-
tudo foi realizado no setor de farmácia do Hos- ses individuais dos pacientes, pois o auxiliar de
pital de Pediatria Prof. Heriberto Ferreira Bezer- farmácia terá que recorrer ao prescritor para sa-
ra-UFRN. ber o que foi prescrito ou ir ao posto de enfer-
A partir da autorização do comitê, foram magem para verificar as informações ilegíveis,
analisadas, durante três meses, todas as segun- com o consequente atraso na entrega da dose
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individual para ser administrada ao paciente. Das 1.590 prescrições, 49,81% continham me-
Outro grave problema da ilegibilidade é a dicamentos prescritos por nome comercial, sendo
geração de interpretações equivocadas, levando que, do total de medicamentos prescritos (7.119),
à troca de medicamento, de paciente e/ou da via 18,65% o foram por nome comercial, o que está
de administração, etc. Tudo isso pode ocorrer em desacordo com a Lei nº 9.787, de 10 de feverei-
tanto na fase de dispensação quanto na de admi- ro de 199922, que diz que, nos serviços públicos, os
nistração do medicamento. Tais erros podem ter medicamentos devem ser prescritos, obrigatoria-
consequências graves, até a própria morte do mente, pelo nome genérico. Além disso, dificulta o
paciente. Portanto, é necessário que se criem me- ciclo do medicamento, pois, muitas vezes, o nome
canismos para evitar que as prescrições se apre- comercial prescrito difere do existente no hospital,
sentem ilegíveis. Uma boa alternativa é a implan- gerando dúvidas e risco de troca.
tação da prescrição eletrônica. Porém, apenas essa Em relação aos dados quanto à padroniza-
medida não é suficiente; deve ser feito um traba- ção, 19,69% das prescrições continham medica-
lho de conscientização dos prescritores, a fim de mentos fora da padronização (Figura 3), perfa-
que passem a entender a importância da prescri- zendo 5,25% do número total prescrito.
ção no processo de saúde.
Em relação aos elementos da prescrição, ob- Dos medicamentos prescritos fora da padro-
serva-se, na Figura 2, que a ausência do carimbo nização, os antiinflamatórios e os neurolépticos
ocorreu na maioria das prescrições, o que difi- alcançaram um maior percentual, como se pode
culta a identificação do prescritor. O número do ver na Tabela 1. Esses dados demonstram que é
registro do paciente também esteve ausente, em necessário fazer uma revisão da padronização
41,0%, dificultando a identificação, principalmen- atual, bem como divulgá-la melhor entre os pres-
te no caso de pacientes com nomes semelhantes. critores. Quando o medicamento é prescrito fora
O peso esteve ausente em 19,56%, impossibili- da padronização, pode ocorrer demora no início
tando ao farmacêutico conferir adequadamente do tratamento ou o uso do medicamento nem
a prescrição. A ausência dos elementos da pres- ser iniciado, devido à dificuldade de aquisição no
crição dificulta a preparação, a conferência e a serviço público. Sendo assim, o ideal é que a pa-
administração da dose do paciente. Sendo assim, dronização cubra a maioria das patologias aten-
é imprescindível que todos os elementos estejam didas no hospital e que seja amplamente divul-
presentes, para que seja prestada a melhor assis- gada, para que os prescritores possam saber com
tência ao paciente. que arsenal terapêutico eles podem contar.

50,00%

40,00%
29,88% 26,31%
30,00%
22,62%
20,00%
10,17%
12345 6,68%
10,00% 12345
12345 4,34%
12345
12345
0,00%

junho a agosto de 2007 - Natal, RN

123
123
Posologia 123 Leito
Nome do prescritor Peso
Nome do paciente Data

Figura 1. Distribuição percentual de legibilidade dos elementos da prescrição.


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Araújo PTB, Uchôa SAC

80,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
41,07%
12345
40,00% 12345
12345
12345
12345
12345 28,62%
30,00% 12345 123456
123456
12345 123456
12345
12345
123456
123456 12345
19,56%
20,00% 12345 123456
123456 12345
12345
12345 123456 12345
12345
12345 123456
123456 12345
10,00% 12345
12345 123456
123456
12345
12345 12345
12345 123456 5,72%
12345 12345 4,40%
12345 123456
123456 12345 12345 1,26% 1,19% 0,570% 0,44%
0,00% 12345 12345 12345

junho a agosto de 2007 - Natal, RN

Carimbo Via de administração


123
123
123 Registro Intervalo
123
123
123 Apresentação Dose
123
123 Peso
123 Leito
123
123
123 Assinatura Nome do paciente

Figura 2. Distribuição percentual das prescrições, segundo a ausência de itens legais obrigatórios.

Tabela 1. Percentual de medicamentos prescritos


fora da padronização.
90,00%
80,31% Medicamentos não padronizados %
80,00%
Antiinflamatório 15,65%
70,00% Neuroléptico 14,78%
60,00% Enzima 10,43%
Antiepiléptico 9,57%
50,00% Eletrólitos 7,83%
40,00% Corticóide 7,83%
Antimicótico 6,96%
30,00% Cáustico 6,09%
19,69%
20,00% Quimioterápico 4,35%
Anticorpo 4,35%
10,00% Antiácido 2,61%
0,00% Cicatrizante 2,61%
Anti-histamínico 2,61%
junho a agosto de 2007 - Natal, RN
Vitamina 1,74%
Imunossupressor 0,87%
Antisséptico 0,87%
Prescrições contendo apenas medicamento padronizado Antimicrobianos 0,87%
Prescirições contendo medicamento não padronizado

Figura 3. Distribuição da prescrição quanto à


padronização dos medicamentos.
1113

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Considerações finais cessárias outras medidas, tais como o treinamen-
to dos prescritores “ conscientizando-os e edu-
O estudo realizado revela que a qualidade da pres- cando-os para a importância de uma prescrição
crição do hospital em estudo precisa ser melho- correta “, a utilização de protocolos clínicos “ que
rada, a fim de que sejam evitados erros de medi- diminui a prescrição de medicamentos não pa-
cação e o processo de assistência à saúde se torne dronizados; a padronização de processos e a ex-
mais seguro. A falta de clareza nas prescrições pansão da atuação dos farmacêuticos clínicos.
pode confundir os profissionais e causar danos A prescrição de 18,65% dos medicamentos
ao paciente. Sendo assim, é necessário que se cri- pelo nome comercial demonstra que existe um
em mecanismos para tornar a prescrição o mais forte apelo da indústria farmacêutica. Essa forma
correta possível, atendendo ao que determinam de prescrever está em desacordo com a legislação
a legislação e as normas institucionais. Para evi- e pode causar erros de medicação, tendo em vista
tar erros relacionados à redação da prescrição a semelhança de muitos nomes comerciais.
médica, estudos apontam algumas medidas que Além das medidas indicadas acima, é preciso
podem ser tomadas. Uma delas tem se demons- mudar a visão em relação aos erros, procurando
trado mais efetiva, que é a implantação da pres- aceitá-los como evidência de falha no sistema, e
crição eletrônica, a qual minimiza bastante os encará-los como oportunidade de revisão e me-
erros relacionados com a prescrição; porém, por lhoria dos processos, aprimorando, assim, a as-
si só, ela não elimina todos os erros, sendo ne- sistência prestada ao paciente.

Colaboradores

PTB Araújo e SAC Uchoa participaram igualmen-


te de todas as etapas da elaboração do artigo.

Agradecimentos

A Evaldo Gonçalves de Araújo, Edileuza Gonçal-


ves de Araújo, Flávia Karoline Jácome Quirino
de Oliveira e Fillipe Azevedo de Medeiros.
1114
Araújo PTB, Uchôa SAC

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