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TEMAS LIVRES FREE THEMES


Conhecimento dos pacientes sobre os medicamentos
prescritos após consulta médica e dispensação

Patient awareness about drugs prescribed


after medical appointment and prescription

Diony Oenning 1
Bruna Volpato de Oliveira 1
Carine Raquel Blatt 2

Abstract Information provided to patients about Resumo As orientações sobre medicamentos for-
medication is important for the success of the necidas aos pacientes são fundamentais para o
treatment, since the lack of such information is sucesso do tratamento, uma vez que a ausência
one of the main reasons why patients fail to take delas é uma das principais causas do uso incorre-
medicines as prescribed. The aim of this study to dos medicamentos. O objetivo deste estudo foi
was to verify patients’ awareness about prescribed verificar o conhecimento dos pacientes sobre seu
drugs distributed at the Grão Pará (Santa Catar- tratamento medicamentoso, após consulta médi-
ina) primary healthcare unit after a medical ap- ca e dispensação, realizadas na unidade básica de
pointment. One hundred and eleven patients were saúde do município de Grão Pará, em Santa Ca-
interviewed, seventy after a medical appointment tarina. Foram entrevistados 111 indivíduos, 70
and forty-one after drugs were distributed. Pa- após a consulta médica e 41 após a dispensação
tient awareness was tested by asking questions dos medicamentos. O nível de conhecimento foi
about the name, usage, dosage, length of treat- verificado mediante perguntas relativas ao nome
ment, side effects, and precautions. After a medi- do medicamento, indicação, dose, frequência de
cal appointment 28.5% of patients were classified uso, duração do tratamento, efeitos adversos e pre-
as having a good level of awareness, 17.1% fair cauções. Após a consulta médica, 28,5% foram
and 64.4% insufficient. After drugs were distrib- classificados com nível bom de conhecimento;
uted 4.9% of patients were classified as having a 17,1%, regular; e 64,4%, insuficiente. Após a dis-
good level of awareness, 87.8% fair and 7.3% in- pensação, 4,9% dos pacientes foram classificados
sufficient. The majority of those interviewed had com bom nível de conhecimento; 87,8%, regular;
a low level of awareness about the use of the pre- e 7,3%, insuficiente. A maioria dos entrevistados
scribed drugs. Results after drugs were distributed não possui bom nível de informação para a admi-
1
Acadêmicas, curso de
were better in comparison to results after a med- nistração de medicamentos. Os resultados encon-
Farmácia, Universidade do
Sul de Santa Catarina ical appointment, suggesting the importance of trados após a dispensação foram melhores que os
Campus Tubarão. Avenida the pharmacist in informing patients about the resultados encontrados após a consulta médica, o
José Acácio Moreira 787,
correct use of drugs. que sugere a importância do farmacêutico na ori-
Dehon. 88704-900
Tubarão SC. Key words Drugs, Drug utilization studies, entação dos pacientes para a correta utilização
2
Curso de Farmácia, Awareness, Rational use of drugs dos medicamentos.
Universidade do Sul de
Palavras-chave Medicamentos, Estudos de utili-
Santa Catarina Campus
Tubarão. zação de medicamentos, Conhecimento, Uso ra-
carine.blatt@gmail.com cional de medicamentos
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Oenning D et al.

Introdução duzir possíveis riscos à terapêutica medicamen-


tosa, pois, além de dispensar o medicamento, de
O uso racional de medicamentos, almejado pela qualidade e de maneira correta, o farmacêutico
Política Nacional de Medicamentos brasileira1, é deve complementar as informações passadas pelo
o processo que compreende a prescrição apro- médico ao paciente sobre os medicamentos pres-
priada, a disponibilidade oportuna e a preços aces- critos, como os cuidados na administração e as
síveis, a dispensação em condições adequadas e o orientações não farmacológicas, de forma a con-
consumo nas doses indicadas, nos intervalos de- tribuir com seu uso racional e para a melhora do
finidos e no período de tempo determinado de quadro clínico do paciente, sem o eventual apa-
medicamentos eficazes, seguros e de qualidade. recimento de efeitos indesejados para este2,11.
A implementação dessa prática objetiva me- No processo de atenção à saúde, o paciente
lhorar o padrão de atendimento, colaborando deve ser visto como membro ativo no processo
significativamente com a redução de gastos. Ao saúde/doença/tratamento12. Dessa maneira, o
contrário, o uso irracional de medicamentos pode paciente deve assumir solidariamente a respon-
causar malefícios à saúde dos usuários, tais como sabilidade por seu tratamento, uma vez que sua
efeitos adversos, eficácia limitada, resistência a atitude interfere no sucesso da terapêutica. A
antibióticos e farmacodependência2,3. Entre os importância do paciente se dá pelo fato de ser ele
fatores que contribuem para o uso irracional de quem descreve o que está sentindo e de ser quem
medicamentos não podemos deixar de destacar vai aderir ou não à indicação médica, pois, se ele
às estratégias de promoção e vendas das empre- não seguir as recomendações prescritas e não
sas farmacêuticas4,5 e o papel assumido pelo me- utilizar corretamente os medicamentos, na mai-
dicamento na atualidade6,7. Sendo que, este se- oria das vezes, o tratamento não alcançará o
gundo, está em grande parte relacionado com o objetivo esperado2,13.
primeiro. Para que isso ocorra é necessário haver co-
A promoção do uso racional dos medicamen- municação. O paciente tem direito às informa-
tos deve contar com a participação de diversos ções sobre sua saúde, medicamentos que deverá
atores sociais: pacientes, profissionais de saúde, utilizar, objetivos e riscos de seu tratamento, sen-
legisladores, formuladores de políticas públicas, do dever dos profissionais da saúde fazer com
indústria, comércio e governo8. que tais informações cheguem a ele de forma cla-
Os resultados disponibilizados pelos estudos ra e objetiva, para que possa seguir de maneira
de utilização de medicamentos podem contribuir eficiente tais recomendações2,10.
com a instrumentalização do profissional para o A falta de informações ou a não-compreen-
reconhecimento da realidade cotidiana que en- são das informações transmitidas pelos profis-
volve o uso de medicamentos9. Entre os princi- sionais da saúde aos pacientes podem trazer con-
pais problemas relacionados ao uso de medica- sequências como: não-adesão ao tratamento,
mentos estão o sobreuso (como consequência com o consequente insucesso terapêutico; retar-
da prescrição excessiva ou do uso indiscrimina- do na administração do medicamento, agravan-
do), a polimedicação (prescrição de vários medi- do o quadro clínico do paciente; aumento da in-
camentos) e o uso incorreto (medicamento ine- cidência de efeitos adversos, por inadequado es-
ficaz ou na dose errada)2. quema de administração e/ou duração do trata-
No Sistema Único de Saúde, o acesso aos mento; dificuldades na diferenciação entre mani-
medicamentos é mediado pela apresentação da festações da doença e efeitos adversos da tera-
prescrição, sendo esta uma ordem escrita dirigi- pêutica; e incentivo à automedicação, bem como
da ao farmacêutico, com a definição do medica- outras sérias consequências, que podem piorar
mento que deverá ser fornecido ao paciente, bem o estado de saúde do paciente10,14,15.
como com a maneira que este deverá utilizá-lo. A Considerando a problemática do uso irraci-
prescrição constitui um documento legal pelo onal dos medicamentos e a importância da co-
qual se responsabilizam quem prescreve (médi- municação do prescritor e do dispensador com
co, dentista) e quem dispensa o medicamento o paciente para a correta utilização deles, para o
(farmacêutico), ambos sujeitos à legislação de alcance dos objetivos terapêuticos, este estudo
controle e a ações da vigilância sanitária10. foi desenvolvido com o objetivo de medir o nível
O profissional da saúde que dispensa medi- de conhecimento dos pacientes sobre os medica-
camentos exerce um importante papel na utiliza- mentos após consulta médica e dispensação na
ção correta deles. A dispensação é uma das últi- unidade básica de saúde central do município de
mas oportunidades de identificar, corrigir ou re- Grão Pará, em Santa Catarina.
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Metodologia aos tempos médios de consulta e de dispensa-
ção, ao nível de satisfação com a consulta e com
A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a a dispensação, e se o paciente já fez uso do medi-
maio de 2007, no município de Grão Pará, o qual camento prescrito. Além disso, foram verifica-
possui 6.273 habitantes16 e está localizado na re- das algumas características socioculturais do
gião sul do estado de Santa Catarina. paciente, como sexo, idade e escolaridade.
No município existem três unidades básicas Durante a entrevista, o paciente podia con-
de saúde, duas localizadas no interior e uma uni- sultar a receita ou qualquer outro material para
dade central. O atendimento aos pacientes na responder às questões relativas ao medicamen-
unidade central é realizado por uma equipe mul- to. Todas as perguntas foram direcionadas para
tiprofissional, composta de cinco médicos com o primeiro medicamento prescrito.
especializações distintas, duas enfermeiras, qua- Seguindo a metodologia proposta por Silva
tro auxiliares de enfermagem, uma técnica de et al.15, os dados foram classificados de acordo
enfermagem, três dentistas e um farmacêutico. com o nível de informação dos entrevistados,
Os pacientes incluídos neste estudo foram partindo de uma definição segura do uso de me-
aqueles que, durante o período de coleta de da- dicamentos, de forma a não causarem danos à
dos, utilizaram os serviços de saúde da unidade saúde do paciente. Foram definidos os níveis de
básica central do município. informação: 1 – nível bom, o qual dá ao paciente
O nível de conhecimento dos pacientes sobre condições seguras de usar os medicamentos, em
medicamentos após consulta e dispensação foi qualquer hipótese; 2 – nível regular, que dá ao
medido por um estudo transversal realizado em paciente condições de usar os medicamentos de
dois grupos de pacientes. No primeiro foram maneira segura, sem nenhum tipo de variação
entrevistados os pacientes que realizaram con- no tratamento; e 3 – nível insuficiente, o qual não
sulta médica na unidade básica de saúde. No se- dá ao paciente condições de utilizar os medica-
gundo foram entrevistados os pacientes que reti- mentos de forma segura.
raram medicamentos da unidade básica de saú- Dessa forma, foram atribuídos dois pontos
de. Os dois grupos foram entrevistados pelas para cada um dos itens “nome do medicamen-
autoras, em dias e períodos aleatórios. to”, “dose” e “frequência de administração”, e um
Para o cálculo do tamanho da amostra utili- ponto para “duração do tratamento”, “indicação
zou-se a fórmula descrita por Medronho17 para terapêutica”, “efeitos adversos” e “precauções”,
estudos de prevalência, considerando um inter- podendo-se alcançar um máximo de dez pontos.
valo de confiança de 95% e um erro estimado de Pacientes que somaram menos de seis pontos
15%, o tamanho da amostra calculado foi de 43 foram classificados com nível de informação in-
pessoas para cada grupo pesquisado. suficiente; aqueles com seis a oito pontos foram
Quando o paciente era menor de 18 anos, o classificados com nível de informação regular; e
entrevistado era seu responsável. Foram excluí- os com mais de oito pontos foram classificados
dos os pacientes que não concordaram em assi- com nível de informação bom.
nar o termo de consentimento livre e esclarecido, O presente trabalho foi aprovado pelo Co-
os pacientes que não apresentaram receita médi- mitê de Ética da Universidade do Sul de Santa
ca e os pacientes menores de 18 anos desacom- Catarina (Unisul).
panhados de um responsável.
Os pacientes foram entrevistados pelas pes-
quisadoras com o suporte de um questionário Resultados
estruturado com perguntas abertas e fechadas,
previamente testado em estudo piloto realizado Foram entrevistados 111 pacientes, 70 após a
em uma unidade básica de saúde de um municí- consulta e 41 após a dispensação. A distribuição
pio vizinho. dos pacientes por sexo, idade e escolaridade mé-
O nível de conhecimento foi verificado medi- dia pode ser visualizada na Tabela 1.
ante perguntas relativas ao nome do medicamen- Dos entrevistados após a consulta médica,
to, indicação terapêutica, dose e frequência de 6% eram os responsáveis pelo paciente, enquan-
administração, duração do tratamento, precau- to no grupo entrevistado após a dispensação os
ções e cuidados na administração, e efeitos ad- responsáveis perfaziam 20%.
versos. Também foram verificados dados refe- Todas as consultas médicas foram realizadas
rentes à prescrição médica, às classes mais pres- por clínico geral, 88% das dispensações foram rea-
critas, ao número de medicamentos por receita, lizadas por farmacêutico, e 12%, por enfermeiro.
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Oenning D et al.

Na Tabela 2 podem ser verificadas as infor- Discussão


mações sobre qual a duração média da consulta
e da dispensação, se o paciente recebeu orienta- No grupo pesquisado após a dispensação o nú-
ção para o uso da medicação e se o paciente ficou mero de entrevistados foi de 41, uma vez que,
satisfeito com a consulta e com a dispensação. O durante o período de coleta de dados, a maioria
número médio de medicamentos por receita foi dos medicamentos estava em falta na Unidade
de 1,2 ± 0,40 no grupo entrevistado após consul- Básica de Saúde e o número de pacientes que re-
ta médica e de 1,1 ± 0,37 no grupo após dispen- tiraram os medicamentos ficou reduzido.
sação. Registra-se que 86% dos pacientes recebe- Nos dois grupos verificou-se a prevalência de
ram a prescrição de apenas um medicamento. mulheres com média de idade acima de 40 anos e
O conhecimento dos pacientes quanto aos com 7 anos de escolaridade. Quanto ao número
medicamentos prescritos está descrito nas Tabe- médio de medicamentos prescritos, com o qual
las 3 e 4. se pode avaliar o grau de polimedicação dos pa-
Entre os entrevistados, 53% do grupo após a cientes, o valor encontrado com a realização do
consulta e 76% do grupo após a dispensação já estudo foi de 1,2 medicamento por paciente, que
haviam utilizado pelo menos uma vez o medica- é menor em comparação com valores encontra-
mento prescrito. dos em estudos anteriores18,19, cuja média foi de
2,0 e 2,3 medicamentos por prescrição.

Tabela 3. Percentual de respostas corretas sobre o


nome do medicamento prescrito, indicação
Tabela 1. Sexo, idade e escolaridade dos pacientes terapêutica, dose e frequência de administração,
entrevistados após a consulta e a dispensação dos duração de tratamento, precauções e cuidados na
medicamentos na unidade básica de saúde do administração e efeitos adversos após a consulta e a
município de Grão Pará – SC, 2007. dispensação dos medicamentos na unidade básica
de saúde do município de Grão Pará – SC, 2007.
Variáveis Consulta Dispensação
(n=70) (n=41) Variáveis Consulta Dispensação
Sexo feminino 72,8% 78,0% (n=70) (n=41)
Idade média (em anos) 40,67 ± 15,82 43,46 ± 15,01 Nome do medicamento 40,0 92,7
Escolaridade (em anos) 8,12 ± 3,43 7,08 ± 3,14 Indicação terapêutica 95,7 97,6
Dose e frequência de 60,0 92,7
administração
Duração do tratamento 38,6 82,9
Precauções e cuidados 11,4 4,9
na administração
Efeitos adversos 0,0 0,0
Tabela 2. Tempo médio da consulta e da dispensação
dos medicamentos na unidade básica de saúde do
município de Grão Pará – SC, 2007.

Variáveis Consulta Dispensação


(n=70) (n=41)
Tabela 4. Nível de conhecimento dos pacientes
Tempo médio (em minutos) 5,94 ± 1,82 2,60 ± 1,03 quanto a utilização dos medicamentos, após a
Recebeu orientação de como consulta e dispensação dos medicamentos na
utilizar os medicamentos unidade básica de saúde do município de Grão Pará
Sim 60,0% 92,7% – SC, 2007.
Sim, mas não entendeu 10,0% 4,9%
Não 30,0% 2,4% Consulta Dispensação
Nível de satisfação (n=70) (n=41)
Ótimo 1,4% 7,3% Bom (> 8 pontos) 28,5% 4,9%
Bom 85,7% 87,8% Regular (6 a 8 pontos) 17,1% 87,8%
Regular 12,9% 4,9% Insuficiente (< 6 pontos) 64,4% 7,3%
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O tempo médio de consulta obtido no estu- tos, foi possível verificar o baixo nível de conheci-
do foi de 5,94, inferior a outros estudos simila- mento para a garantia do uso correto dos medi-
res, cujo tempo médio de consultas foi de 9,2 camentos, uma vez que 64% dos entrevistados
minutos20 e 9,4 minutos19. Segundo a Portaria nº após a consulta médica foram classificados com
3.046 do Ministério da Saúde e recomendação da nível insuficiente de informação, ou seja, não apre-
OMS, o tempo sugerido para que a consulta seja sentavam condições de utilizar os medicamentos
adequadamente realizada é de 15 minutos20. O de maneira segura. Após a dispensação, 88% fo-
pouco tempo de consulta pode significar baixa ram classificados com conhecimento regular.
qualidade do atendimento, por possivelmente Considerando que todos os entrevistados ti-
omitir etapas importantes, como a anamnese, a nham a possibilidade de consultar a receita mé-
solicitação de exames diagnósticos, a formula- dica para responder ao questionário e que a
ção de um tratamento farmacológico e/ou não maioria deles já havia utilizado o medicamento,
farmacológico e a correta orientação para o uso o percentual de pacientes que não sabia quando
da medicação, de modo que o problema de saú- e como deveria usá-lo é bastante expressivo. Esse
de seja resolvido ou controlado. Por outro lado, fato é relevante, tendo em vista que essas infor-
o pouco tempo de consulta também pode ser mações são imprescindíveis ao cumprimento do
explicado pela elevada procura dos serviços ofe- esquema terapêutico estabelecido pelo médico.
recidos, o que inviabiliza um atendimento mais Para todas as variáveis consideradas na ava-
racional e humanizado21. liação do nível de conhecimento sobre os medi-
Com relação à dispensação dos medicamen- camentos, os valores de resposta correta foram
tos, a OMS preconiza que o farmacêutico destine maiores no grupo após a dispensação. Conside-
à orientação ao menos três minutos por pacien- rando que quase 90% das dispensações foram
te20. O tempo médio de dispensação obtido no realizadas por farmacêutico, tal dado aponta para
estudo foi de 2,6 minutos por paciente, superior à a importância deste no processo de atenção à
média de outros estudos. No estudo realizado em saúde, por orientar o paciente sobre o uso corre-
10 unidades de saúde de Ribeirão Preto, o tempo to do medicamento, de maneira a resolver ou a
médio de dispensação foi de 18,4 segundos20; em controlar o problema de saúde do paciente e a
outro, realizado em 15 centros de saúde do Dis- evitar problemas relacionados ao uso incorreto.
trito Federal, esse tempo foi de 52,3 segundos19. Em uma revisão dos estudos de intervenção
Pressupõe-se que, quanto maior o tempo de do farmacêutico no uso de medicamentos por
contato entre o prescritor e o paciente ou entre o pacientes idosos22, de uma forma geral, as inter-
dispensador e o paciente, mais tempo é dedicado à venções realizadas por farmacêuticos mostram
transmissão de informações entre os atores, o que resultados positivos, ao reduzir custos, melho-
contribui para o maior entendimento do paciente rar as prescrições, promover maior adesão do
sobre a correta utilização dos medicamentos. paciente ao tratamento e controlar a possibilida-
Embora 70% e 98% dos entrevistados afir- de de reações adversas.
maram ter recebido orientação de como utilizar Quanto às informações, os melhores resul-
o medicamento durante a consulta e a dispensa- tados foram encontrados para a indicação tera-
ção, respectivamente, os resultados de avaliação pêutica, com mais de 95% de respostas corretas,
do nível de conhecimento dos pacientes acerca talvez por ser esse o motivo de sua procura pelo
dos medicamentos foi regular ou insuficiente. serviço de saúde.
Isso sugere que ou o tempo de orientação é insu- Após a consulta, menos de 40% conheciam o
ficiente ou as informações não estão sendo re- nome do medicamento prescrito e a duração do
passadas adequadamente. tratamento, e 60% conheciam a dose e a frequên-
Um ponto a se destacar é que, mesmo sem cia de administração.
conhecer as informações para o correto uso dos A falta da definição do tempo de tratamento
medicamentos, mais de 85% dos pacientes esta- pode ocasionar problemas ao paciente, devido
vam satisfeitos com a consulta e com a dispensa- tanto ao uso prolongado quanto por período in-
ção. Tal fato pode estar relacionado com o não- suficiente para o sucesso do tratamento. A não-
reconhecimento de que o uso incorreto do medi- identificação do nome do medicamento, mesmo
camento pode trazer danos à saúde, e também tendo-se a possibilidade de consultar a receita,
com a valorização de outros aspectos, como a pode levar a confusões e à troca do medicamento.
atenção recebida pelo paciente. O presente estudo evidenciou que, durante a
De acordo com a classificação do nível de co- consulta e a dispensação, os pacientes não foram
nhecimento dos usuários sobre os medicamen- informados, ou foram mal informados, sobre
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Oenning D et al.

precauções e cuidados na administração do me- Conclusão


dicamento e efeitos adversos, o que é corrobora
um estudo15 que fez uma entrevista com 264 su- Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a
jeitos, dos quais apenas 36% responderam co- maioria dos entrevistados não possui bom nível
nhecer os cuidados que deveriam ter na admi- de informação para a administração de medica-
nistração do medicamento e somente 20% co- mentos. Muitos deles tomam o medicamento sem
nheciam os possíveis efeitos adversos. A ao menos saber para que serve, como adminis-
insuficiência de informações com respeito aos trá-lo corretamente e por quanto tempo.
efeitos adversos pode estar relacionada à valori- Nesse sentido, é preciso que sejam aprimora-
zação secundária dada a esse item da informa- dos os meios de fornecer a informação ao paci-
ção, tanto por quem fornece a prescrição e o me- ente. Isso envolve a formação dos profissionais,
dicamento, quanto por quem o utiliza15. A pos- a reorganização do tempo dedicado à orientação
sibilidade de o medicamento causar efeitos ad- pelo prescritor e à atuação direta do farmacêuti-
versos acaba sendo, muitas vezes, omitida pelo co na dispensação dos medicamentos, bem como
prescritor, com receio de que informações nega- à organização dos serviços para que essas infor-
tivas relativas ao medicamento possam prejudi- mações possam ser repassadas ao paciente.
car a adesão do paciente ao tratamento ou mes- Por fim, resultados melhores foram encon-
mo que, por autossugestão, o paciente venha a trados após a dispensação dos medicamentos, o
sentir o efeito adverso mencionado. que indica a importância da presença do profis-
sional farmacêutico na orientação dos pacientes
para a correta utilização dos medicamentos.

Colaboradores

D Oenning e BV Oliveira foram responsáveis pela


coleta e análise de dados, bem como pela redação
inicial do artigo. CR Blatt foi responsável pela
orientação da pesquisa e redação final do artigo.
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