Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROVISÓRIO
O MOVIMENTO ESTUDANTIL NAS CIÊNCIAS MÉDICAS
editora quilombo
Editor responsável: Walter Codo
--------------------------------------------
---------------------------------------------
Tel.: 261-7761
1980
TÍTULO PROVISÓRIO
Fábio Daflon
Ao Dr. Pedro Ernesto, pelo legado
Saúde do Estado
SUMÁRIO
O Autor ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9
Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
A repressão --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 39
Fernando Gabeira
O prefácio, qual seja a intenção que o mova, deve servir aos propósitos de
sublinhar o significado da obra, facilitar a compreensão da sua mensagem. O autor do livro, via
de regra, procura outra pessoa para cumprir essa tarefa, teme cair em redundância.
Onde estava Salgado? Não sabia onde estava o último presidente do Centro
Acadêmico Sir Alexander Fleming (CASAF). Era um dos personagens-chave. Eu não sabia como
abrir as portas que me levassem a ele. Reconstituía sua trajetória sem alcançar um ponto de
encontro.
Foi João Lopes Salgado, já conhecido como Dino ou Fio, que organizou o
transporte do Capitão Lamarca e sua companheira até a Bahia – a tarefa de ir ao Rio buscar um
quadro queimado e levá-lo para Brotas de Macaúba.
No exílio, constituiu família. Após conseguir receber seu curriculum vitae, não
logrou ingresso nas faculdades de medicina francesas. Tornou-se então enfermeiro.
Quando o movimento popular, através da luta pela “Anistia Ampla, Geral e
Irrestrita”, fazia o governo elaborar uma fórmula para dar saída ao impasse, na certa João
Lopes Salgado sofria a expectativa dos brasileiros afastados da pátria.
Pablo Neruda
O Rio de Janeiro é uma cidade que passou por modelos políticos os mais
variados, até vir a ser a capital do Estado do Rio de Janeiro. Ao tempo da destituição do
Presidente Washington Luís, como Distrito Federal, com a instituição do Governo Provisório
(Governo Revolucionário) teve nomeado como Prefeito-Interventor o respeitado cirurgião
Pedro Ernesto.
Enquanto a revolução assumia suas feições, o Dr. Pedro Ernesto, pelas obras
realizadas em função das metas definidas como prioritárias de sua administração – o binômio
saúde e educação – angariou a simpatia do povo, que o referendou em seu cargo pelo voto.
Além disso, com os novos professores que ingressavam através das provas de
concurso, e que não possuíam ações da S.A., formavam-se dois grupos: o dos empregados e o
dos empregadores. A voz da congregação era sufocada pela maioria do capital.
A disposição recíproca destes fatores fez com que, após inúmeros projetos e
substitutivos de lei, em outubro de 1950, fosse promulgada a Lei que reinstituía a UDF, extinta
em 1939, rompendo um hiato de cerca de 12 anos até o ressurgimento com feições e
finalidades completamente diferentes.
Aos alunos o castigo penoso de correr pela cidade durante o dia inteiro,
cruzando-a em todos os sentidos, da Gávea até o Engenho de Dentro, da Esplanada do Castelo
a São Cristóvão, para as aulas de clínica, ministradas em enfermarias da Santa Casa da
Misericórdia, da Fundação Graffrée-Guinle, da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, do Hospital
Miguel Couto, da Polícia Militar, São Sebastião. Moncorvo Filho e mais alguns outros hospitais,
tornava a ideia extremamente sedutora.
Já havia, porém, professores que não possuíam seus próprios serviços. Estes
olhavam com simpatia a possibilidade de estruturação de feudo particular em espaço a
conquistar. Os mais idosos, próximos da compulsória, duvidavam do próprio fôlego para
começar uma estruturação nova.
A criação da UnB por Darcy Ribeiro e sua equipe, de 1959 a 1961, generalizou a
crítica ao sistema de cátedras e amadureceu a agitação estudantil em prol da reforma
estrutural da universidade.
Isto em dois níveis: um era o poder da universidade, que até então era
exercido pelos conselhos universitários e congregações unicamente constituídos de
catedráticos, que eram donos de cada cadeira ou disciplina. Nesse terreno, os estudantes
propunham abolir a cátedra vitalícia e estabelecer alguns esquemas de aferição periódica da
capacidade dos professores; e ao mesmo tempo, a mudança na composição dos conselhos
universitários, congregações, conselhos departamentais, etc. Tratava-se de regulamentar um
item da Lei de Diretrizes e Bases que dizia assegurada a representação dos estudantes nos
órgãos de direção da universidade.
A greve era uma greve complicada, porque a questão tinha que ser
regulamentada no estatuto de cada universidade. As faculdades isoladas e outras que
pertenciam a universidades, mas que possuíam seus estatutos próprios, tinham que decidir se
incluíam no estatuto quantos representantes, etc.
Como se vê, a Ciências Médicas não tem uma existência à parte. Sua história é
um apêndice da evolução política brasileira. O objetivo de colocar essa história a céu aberto é
contribuir para a sua transformação à luz do seu passado.
O TRABALHO E A GRATIDÃO
Este livro, elaborado entre março de 1978 e dezembro de 1979, é uma resenha
histórica voltada para a participação estudantil dentro de uma escola médica. foi escrito a
partir da vivência cotidiana e da montagem retrospectiva.
Nesse campo, foram valiosos os documentos cedidos pelo Dr. Odilon Batista
(filho do Dr. Pedro Ernesto), as entrevistas com o Prof. Álvaro Cumplido de Sant’Anna (autor
do primeiro livro sobre a história da FCM) e a entrevista concedida pelo ex-professor da UDF –
Hermes Lima – pouco antes do seu falecimento. Contribuíram também a leitura dos livros que
situaram o autor no panorama educacional de então.
Armando Hide
Eduardo Faerstein
Hermes Lima
Ítalo Suassuna
Jayme Landmann
Jayme Pereira
José Assad
Júlio Sanderson
Marcos Moreira
Paulo Gadelha
Ricardo Elias
Wanda Coelho
I – A SUPERAÇÃO DA LEI SUPLICY
superação do atraso.
Darcy Ribeiro
A brigada contra o trote, composta em 1964 para garantir sua abolição, não
teve missão fácil. Quebrar uma tradição herdada das universidades europeias e introduzir um
outro tipo de integração mais humano, trazendo uma adaptação mais rápida para o calouro,
foi motivo de convocação de assembléia geral, na qual, em acalorado debate, foi criada a
Semana dos Calouros.
Ganha a causa, foi marcada a I Semana de Calouros para ter seu início em 1º
de abril de 1964. Constituída por atividades culturais e esportivas, teve o fito, também, de
apresentar aos novos colegas os problemas da escola e a discussão política. Desenvolviam-se
seus preparativos, enquanto, em contagem regressiva, aproximava-se o dia da sua abertura.
Nesse interregno, Moisés dos Reis Amaral, presidente do CASAF pela chapa
Unidade Estudantil – coalizão das tendências mais progressistas do movimento – encontrava-
se nos Estados Unidos, através do convênio UEG – Universidade de Stanford. Sua ausência
liberava a disputa entre a Chapa Ordem e Progresso (COP) – representante da direita – e as
novas lideranças menos conciliadoras nos dias que antecederam ao desfecho do golpe militar
de 1964.
Foi um momento difícil para o CASAF, pois tendo ficado sua sede em pequeno
prédio anexo ao principal na Fonseca Teles, fora cedida uma casa em ruína, na área do
hospital, para onde a massa dos estudantes convergia.
Quando, em setembro de 64, houve eleições para o CASAF, por todo o Brasil
havia diretórios estudantis fechados. Havia três meses, o Ministro da Educação solicitara ao
Presidente da República envio de mensagem ao Congresso Nacional extinguindo a União
Nacional Dos Estudantes, as Uniões Estaduais ou Metropolitanas de Estudantes e a União
Brasileira de Estudantes Secundaristas.
Carlos Alberto da Silva, liderança de extrema direita, acusava que ele vinha
sendo insistentemente usado como forma de desagregação social, em uma concepção nova
das lutas de classe, que beneficiariam a implantação de um totalitarismo. Na América Latina,
Ásia e África, onde o pauperismo, a doença e a falta de educação se uniam no termo
subdesenvolvimento, o campo era fértil para a escalada comunista.
A posição dos estudantes foi pelo não enquadramento do CASAF na Lei Suplicy
e também pelo não reconhecimento do interventor como representante dos alunos, ficando a
diretoria eleita reconhecida como representativa, até a realização de novas eleições.
Friedrich Engels
Assim, mesmo sob intervenção, com seu prédio trancafiado a sete chaves, o
CASAF-Livre (autônomo em relação à Lei Suplicy) colocou-se ao lado da Direção da Faculdade
na luta contra a tentativa do Ministério da Educação de impor à Ciências Médicas a entrada
dos excedentes. Entrariam em greve de solidariedade à Congregação da FCM, se necessário
fosse.
Foi na edição provisória do Boletim nº 0, ano II, de 20.08.66, que Gil Santini
Pinto, em seu artigo “MUNDO FECHADO, MUNDO ABERTO”, colocou com clareza a
necessidade da crítica à Ciências Médicas como instituição de ensino.
Darcy Ribeiro
A mola propulsora da iniciativa era trazer elementos para uma discussão que
possibilitasse o encaminhamento a uma reforma curricular a partir da seguinte visão:
A faculdade havia crescido nos últimos seis anos, e o corpo docente não havia
crescido na mesma proporção. O crescimento do hospital havia sido quatro vezes superior ao
setor técnico e docente.
Nessa conjuntura, não havia como evitar o debate. Nas férias de julho, no
anfiteatro central do Hospital de Clínicas, foi realizado um seminário com o seguinte temário:
Gustavo Corção
As deliberações das comissões seriam tomadas por 2/3 dos votos mais 1.
Esta comissão teve duas reuniões com uma comissão de cinco alunos,
designados por assembleia estudantil, da qual os professores também participaram. Os alunos
da FCM estavam em greve para estudar as condições de ensino da Faculdade, greve tão
somente de presença as provas que não eram consideradas fundamentais ao ensino.
Pouco depois, após ter recebido telefonema do reitor da UEG, Ministro João
Lyra Filho, que já se encontrava no local, chegava ao Hospital o General Antônio Pires de
Castro, que, na presença de professores e estudantes, no gabinete do Prof. Piquet,
estabeleceu diálogo com o Reitor, sem chegar a conclusão nenhuma, ficando resolvido que o
Reitor iria diretamente ao Governador Negrão de Lima.
Fernando Gabeira
A Ciências Médicas havia sido escolhida, entre outros pontos que foram
atingidos pela repressão, para ser mais um local de reafirmação do golpe militar de 64.
André Jorge Campello, embora sabendo que a Nota fora feita pela Diretoria do
CASAF, na intenção de evitar o seu fechamento, afirmou: “... a Nota foi distribuída em nome
do CSAFA, mas o documento não é de sua autoria, não se deve confundir o núcleo com todos
os alunos, não é a dissolução do Diretório que resolve o problema”.
Em fins de julho (outra vez nas férias) e por todo o correr de agosto, instalou-
se na FCM um Inquérito Policial Militar atingindo estudantes de todas as séries, inclusive
estudantes do primeiro ano, que não entendiam a razão da interpelação, pois não haviam
participado de 1968. A IPM também se submeteria o Prof. Américo Piquet Carneiro, acusado
de proteger estudantes subversivos.
Mais tarde, o Prof. Piquet, após as expulsões terem-se tornado fato apagado
das pautas do Conselho Departamental, possibilitaria o retorno dos alunos expulsos, sem que
qualquer punição constasse em seus currículos; para todos os efeitos haviam trancado
matrícula durante o ano de 1969.
Em 1971, o estudante João Lopes Salgado foi condenado a dois anos e quatro
meses de reclusão pelo CPJ da 2ª. Auditoria da Aeronáutica, no mesmo julgamento em que
foram absolvidos Jane Corona, João Ramos da Costa Andrade, André Jorge Campello Rodrigues
Pereira, Celso Moreira de Souza, Benjamin Mandelbaum, Juan Affonso Huaman Alvarez,
Amauri Doroguei da Costa e Fritz Carl Utzeri.
Desde janeiro de 1967 até hoje, enfrentamos a difícil tarefa de ser universitário
brasileiro. Os momentos de ilusão foram poucos; logo vimos, não só pelos olhos dos nossos
colegas veteranos como por nossa própria existência diária, as deficiências do curso médico.
Mas esses impasses não foram vividos somente por nós. Conosco, os
professores reivindicaram verbas para as suas disciplinas, tempo integral para melhor se
dedicarem ao ensino e, principalmente, o exercício da pesquisa como pré-requisito para as
universidades se tornarem centro de cultura.
Mas hoje é dia de festa, dia de festa para o cidadão brasileiro que deposita na
mão desses 130 médicos a esperança de ver sanadas suas doenças.
Qual de nós se arrisca a enveredar pelo caminho da clínica geral, das doenças
infecciosas e parasitárias, da saúde pública?
Esta estrutura, da mesma forma que sacrifica o doente crucifica o médico, que
dessa maneira passa a ser algoz do doente e vítima da assistência médica que não o deixa
tratar. A resolução desses problemas ainda está longe de ser real, porém os caminhos para tal
começam HOJE, AQUI, AGORA.
Quando a oradora Telma Ruth Cruz Pereira subiu à tribuna, fez-se silêncio.
Página por página do discurso foi virada: “Era o que podíamos dizer!”.
mos”
Brecht
Até os fins de 1969, no entanto, não conseguiu estabelecer uma Diretoria que
efetivamente ligasse a entidade aos estudantes.
Nesse dia, a mesa instalada foi composta pelos professores – entre os quais os
reitores presentes – estudantes e autoridades educacionais. O Secretário Geral do MEC abriu a
sessão, falando sobre a importância do Simpósio, elogiando a iniciativa dos universitários de
realizar uma reunião daquele tipo.
Fechando o encontro, foi proposta pela aluna Telma Ruth Cruz Pereira, da
Faculdade de Ciências Médicas, para o início do ano letivo de 1971, a realização de um debate
MEC-Estudantes-Professores, exclusivamente sobre a implantação das anuidades.
No dia 12 de dezembro de 1970, o estudante Carlos Alberto Nascimento
Santos foi preso em Volta Redonda, vinte minutos após o seu casamento, e conduzido ao
quartel do 1º Batalhão de Infantaria Blindada, sediado em Barra Mansa.
“Considerando:
estrutura social”.
A febre dos diplomas, corrida do ouro iniciada pelos que ensejavam um lugar
ao sol, redundara na proliferação de faculdades particulares isoladas, promovendo um cerco
de influência perniciosa para as faculdades públicas.
Quando o Hospital fez o convênio com o INPS, passou a ter em sua área um
Posto de Urgência (PU). Isto propiciou aos estudantes o contato com doenças mais comuns,
perdendo o hospital o caráter de hotel de doenças raras, de asilo de doentes crônicos, e
passando a receber uma população mista de doentes, ao transformar-se num Hospital
Universitário menos desvinculado da prática médica exigida pela comunidade e, ao mesmo
tempo, possibilitando o contato com doenças raras.
Veja
Pelo fato de ser uma rede geograficamente bem organizada, dispersa pelos
mais diferentes pontos do estado e, sobretudo, de dispensar um atendimento gratuito, a rede
de hospitais da Superintendência de Serviços Médicos do Estado do Rio de Janeiro é procurada
pela grande maioria da população, às voltas com ocorrências que necessitam de socorro
urgente, as quais podem variar desde uma diarreia até o politraumatismo. Por outro lado, as
deficiências de material, pessoal e instalações, não permitem um atendimento condigno à
população.
No início, esse bloco definia-se pela exclusão do concurso aos acadêmicos das
Faculdades de Medicina do Estado do Rio, pelo aproveitamento de todos os quartanistas de
medicina da GB (então 750), tornando-se o concurso meramente classificatório, aumento da
bolsa para 3 salários mínimos, manutenção da carga horária (24 horas semanais) e garantias
dos direitos trabalhistas.
Na entrada do ano letivo de 72, soube-se que estava formada uma comissão
proposta pelo Conselho Técnico de Saúde, para estudar a situação dos estágios de acadêmicos
na SUSEME. Corria oficiosamente o boato de que seria proposto o afastamento dos
acadêmicos quintanistas, cujo trabalho seria substituído pelo dos residentes. Os estudantes
tentaram acesso ao debate da questão, sem resultado, entretanto, em virtude do mistério e
distância que envolviam a tal comissão.
A estrutura da Suseme ainda era a que melhor preenchia tal lacuna, por suprir
os recursos objetivos para atendimento de urgência em nível de massa e médicos para a
orientação dos acadêmicos em suas funções.
Além disto, o próprio sextanista também seria ilegal, e era público e notório
que estudantes, a partir do 2º ano, faziam estágios na SUSEME que permitia a perda de aulas
por parte destes alunos, favorecendo, sem remuneração, o trabalho negado com pagamento.
A extinção da AEMEG, que não foi substituída por nenhuma outra entidade
reunindo as escolas médicas da GB, dificultava o encaminhamento concreto das reivindicações
dos acadêmicos.
Por outro lado, a maioria das faculdades funcionavam sem possuir seu próprio
hospital, levando a um ensino eminentemente teórico, desvinculado da realidade de saúde e
da prática médica cotidiana indispensável.
Estava na tribuna o Deputado Alves de Brito (MDB), que leu o memorial para
constar dos Anais e fez indicação à mesa para encaminhar ao secretário de Saúde as
reivindicações. Apesar do baixo nível dos debates, com frieza total ante os pronunciamentos
da ARENA, o Grupo Autêntico, liderado pelo Deputado Edson Khair (MDB), comandou as
galerias.
Havia 856 vagas para o 6º ano e 497 para o 5º, estes sem estágio remunerado,
perfazendo o total de 1.359 vagas, e o Secretário prometia mil vagas para 1976, só podendo
prestar concurso alunos do sexto-ano, para receber a título de Bolsa, sem qualquer vínculo
empregatício, a importância de Cr$700,00.
O Governo argumentava que, com a fusão, não podia dar vagas nem mesmo
para todos os sextanistas do novo estado.
próprio”
“... Hoje, quando se aproxima a eleição para a gestão 75/76 do CR., outra
questão se coloca, ou seja, quais serão as características desta eleição?
O DESPREZO
O OTIMISMO
Já, por outro lado, é muito provável que tenham os mais otimistas a ver nesta
eleição o marco de um novo período para a nossa vida estudantil. Certamente, este seria um
dos mais belos quadros da “Abertura Democrática” pintada no Brasil nestes últimos tempos.
No entanto, tal otimismo só pode ser sustentado, se esquecermos as condições que limitam a
formulação, a expressão e a defesa do querer doa alunos. Não será alimentando ilusões que
teremos um CR respaldado a todo momento, na maioria dos alunos, no que esteja fazendo ou
deixando de fazer.
O DESCRÉDITO
SUASSUNA: Eu acho que a Universidade tem uma função tradicional, que é informar,
transmitir conhecimentos, mas que considerada como exclusividade, esta é uma função
superada. Quer dizer que numa universidade moderna, para o papel que ela se arrogou, em
qualquer nação que teve desenvolvimento, ela tem de ser, além disso e coincidente com isso,
criadora de cultura, criadora de conhecimentos; quer dizer, isto inclui cultura de modo geral,
tecnologia e ciência. E é esse, evidentemente, o destino de uma universidade moderna. E é o
mais necessário para o nosso país, sobretudo por estar-se lançando a processos de acelerar
seu desenvolvimento.
TP: Em relação à pesquisa na nossa Universidade, o que o senhor acha de seu estágio
de desenvolvimento? E qual a perspectiva, como diretor, que o senhor dará à pesquisa na
FCM?
De modo que, chegando a sua pergunta específica, já que nós temos algo
vantajoso, nós temos um Hospital, nós temos material clínico que pode servir de apoio à
pesquisa médica (porque pesquisa médica deve ser feita com material clínico), nós teremos a
possibilidade de atacar agora nesse outro setor. Para isto, nós precisamos de participação da
universidade, uma vez mais, porque à universidade compete manter os recursos humanos,
que é o item nº 1. Os recursos humanos sob o ponto de vista dos alunos aqui na UERJ são
muito bons. O pessoal jovem da docência também é responsável por muito do bom ensino.
Então, recursos humanos a universidade tem onde colher, tem que encontrar meios de agora
sustentá-los. O outro aspecto que se precisa é o financiamento da pesquisa. Ele tem-se
facilitado, dentro, novamente, de uma política de desenvolvimento do Governo, agora
planejado para o país inteiro. Eu acho que a universidade que tem recursos humanos, tem
capacitação para isto, tem de onde solicitar e receber.
S: A minha opinião coincide inclusive com o que está escrito, pois está dentro dos
regulamentos haver representação estudantil nos órgãos colegiados. No entanto, eu acho que
deve haver um limite. Eu conheci, participei numa universidade em que a participação do
estudante sem limitação contribuiu muito para cair o que essa universidade produzia, que foi a
universidade de Montevidéu. Em certa época havia 1/3 de representantes de alunos, 1/3 de
representação de administração e 1/3 de professores. A partir daí, os professores nunca mais
puderam tomar decisões em função do ensino, dentro daquilo que eles mais possuíam – mais
experiência. Um aluno é tão inteligente quanto um professor ou muito mais. Mas em termos
de vivência, de informação, eu acho que a experiência do professor como a experiência do
indivíduo mais velho, que viveu mais, é uma contingência biológica, aliás, muito particular da
nossa espécie. Nós somos a espécie que é capaz de transmitir conhecimentos por processos de
comunicação bastante sutis. De modo que a minha posição é essa.
TP: Até que ponto o Sr. acha que essas limitações à participação estudantil
beneficiaram à universidade? E a partir desse ponto estas próprias limitações beneficiariam à
universidade?
S: Acho muito importante. Esta é a parte que mais me tem ajudado, porque em
matéria de currículo, nós mesmos, professores, não temos tido uma participação muito grande
em função dos parâmetros mínimos de currículo que a gente tem. Necessariamente a
proposta do estudante deve ser agora discutida, em função da realidade, para que a gente
possa ter condições de um plano didático global. Esse é o grande problema, porque o
estudante só conhece o plano didático global quando se forma quando deixou de ser
estudante.
da sociedade”.
Florestan Fernandes
Ao movimento estudantil caberia a função de, tal uma cunha, abrir a brecha e
alargar a fissura, detonando novo impulso à participação política também de outros setores da
sociedade.
“Na qualidade de presos políticos, julgamos da maior oportunidade engrossar as vozes que
denunciam as torturas como uma prática sistemática e a opressão policial como instrumento
que se presta a perpetuar a situação de miséria e exploração em que se encontram os
trabalhadores brasileiros. Nesse sentido, passamos a relatar, aqui, fatos ocorridos durante a
nossa passagem pelos órgãos policiais”,
“Uma vez presos, fomos atirados em carros, imediatamente algemados e
encapuzados e conduzidos a um local que, mais tarde, viemos a saber tratar-se do DOI-CODI-
RJ. Lá, após termos sido despidos e fotografados, seguimos, debaixo de espancamentos, para
as geladeiras, ou para salas de interrogatórios, iniciando-se, dessa maneira, os nossos 10 dias
de isolamento e tormentos.”
“E uns poucos fatos podem demonstrar até que ponto a ciência e a técnica
podem ser postas a serviço dos mais torpes objetivos. O companheiro Cláudio da Rocha
Roquete, com problemas cardíacos, veio a desmaiar na geladeira, após sofrer violentos golpes
no tórax e no abdômen e ficar dependurado pelas algemas durante horas. O médico que o
examinou limitou-se a recomendar um período de descanso fora da geladeira, e o
companheiro continuou sem ter acesso aos remédios que seu pai lhe enviava através do DPPS.
Segundo os torturadores, não poderia tomá-los por estar em castigo”.
Franz Kafka
TÍTULO PROVISÓRIO:
JAYME LANDMANN: -
JL: -
JL: -
TP: - A UERJ construiu seu campus universitário de acordo com a estética da segurança
nacional – grande e vazio. A partir de então, as verbas destinadas à FCM foram se tornando
cada vez mais limitadas. Por orientação da reitoria, a escola passou a procurar gerar próprios
recursos para seu funcionamento. O sr. estabeleceria algum relacionamento entre este fato e
a queda do nível de ensino observada após 1969?
JL: -
TP: - O convênio do Hospital com o INPS foi uma iniciativa do Sr. e propiciou a
modificação da qualidade dos doentes internados no Hospital de Clínicas e uma prática médica
mais condizente com as exigências da comunidade. Esta medida visava tornar o Hospital
economicamente mais independente em relação à Universidade. O Hospital, daí para frente,
procurou gerar suas próprias divisas. Gostaria de saber se esse objetivo foi plenamente
atingido e que implicações esse gesto lançou sobre o ensino?
JL: -
JL: -
JL: -
- O fim do ano, as festas, você sabe como é. Eu vou responder quando tiver um
tempinho...
République Française
AÈROGRAMME
PAR AVION
Caro Fabio
Foi com grande tristeza que acabei de saber (por minha irmã) que você
nunca recebeu minha carta. Pena mesmo, porque respondi na meia hora seguinte ao
recebimento da sua.
Espero que seu livro trace esta página. Não demoro a chegar por aí
para conversarmos de viva voz. Até lá um grande abraço para você e muito sucesso.
Autor não especificado – Medicina – Os novos proletários. Editora Abril, Veja, ano 9/nº 485,
1978.
PINHEIRO, P. S. – Os lucros da burrice. Encontro editorial, ISTO É. ano 4/nº 147, 1979.
transformação à luz
do seu passado.
ANEXO 1