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Farmácia Hospitalar

Farmácia Clínica
na Unidade de
Terapia Intensiva

Raquel Queiroz de Araújo


Farmacêutica, Mestre em Farmacoepidemiologia / UNICAMP
Especialista em Farmácia Hospitalar
Farmacêutica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo
Secretaria do Departamento de Farmácia da AMIB

Silvana Maria de Almeida


Farmacêutica Hospital Israelita Albert Einstein
Especialização Farmácia Clínica
Mestranda Universidade Federal de São Paulo
e-mail: silvana.mariadealmeida@gmail.com
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR:
Como implantar

A farmácia clínica teve Hoje, sabemos que, que o farmacêutico clínico


sua expansão, a partir da com trabalho em equipe, se inteire, inicialmente, da
década de 60 e, durante es- educação e treinamento, o anamnese e da hipótese
tes últimos 40 anos, houve farmacêutico é capaz de for- diagnóstica, informações
grande desenvolvimento mar um elo entre o médico estas recolhidas do próprio
na atribuição da Farmácia e o enfermeiro, ter visão prontuário do paciente em
e do farmacêutico clínico. geral de todo o processo visitas à beira do leito jun-
Hoje, a farmácia clínica - da prescrição até a admi- to com a equipe que com-
pode ser definida como nistração do medicamento põe a unidade de terapia
área da Farmácia que en- – e, desta forma, agregar intensiva e nas reuniões
volve a ciência e a prática segurança ao paciente no científicas.
do uso racional de medi- uso do medicamento. O Dada à complexidade
camentos, objetivando um produto final dessa inte- dos casos no ambiente da
efeito terapêutico máximo, gração será, naturalmente, terapia intensiva, como pa-
com mínimos efeitos inde- o aprendizado recíproco, cientes nefropatas, trans-
sejáveis. pois o trabalho em equipe plantados, idosos e etc. e
O envolvimento do far- pressupõe uma troca per- à necessidade de cuidados
macêutico clínico em todo manente de informações e com monitoramento inten-
este processo foi, cada experiências. sivos, observam-se pres-
vez mais, necessário para Muito se discute sobre crições extensas de me-
acompanhar a evolução a evolução e impacto da dicamentos, combinação
diária do paciente, contri- atuação do farmacêutico de drogas potencialmente
buindo, assim, para que o na unidade de terapia in- inapropriadas e tempo
medicamento seja utiliza- tensiva, participando da vi- prolongado de hospita-
do, da forma segura e ade- sita multidisciplinar à beira lização que representam
quada. do leito, colaborando com maior possibilidade de de-
Por muito tempo, os o médico para uma prescri- senvolvimento de eventos
médicos foram responsá- ção segura e racional, par- adversos, justificando-se,
veis pela prescrição; os far- ticipando do processo de assim, a presença de um
macêuticos, pela dispensa- padronização e dispensa- profissional farmacêutico
ção, e os enfermeiros, pela ção de medicamentos, pro- atualizado, qualificado e
administração do medica- vendo informações técni- treinado.
mento ao paciente. Cada cas à equipe, participando Com este pensamento e
um destes profissionais ativamente em protocolos com todas as dúvidas, prin-
prestando sua assistência, clínicos e reduzindo custos cipalmente, a de “como co-
de maneira segmentada, associados à terapia medi- meçar”, uma força tarefa do
de forma que, se um falhas- camentosa. Departamento de Farmácia
se, todo o processo estaria Para que este trabalho Clínica e Farmacologia da
comprometido. tenha êxito, é necessário Sociedade Americana de

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Terapia Intensiva e do Co- gar a 38% do total em um corpo clínico fechado, a UTI
légio Americano de Farmá- hospital. O acompanha- traduz-se em um excelente
cia Clínica publicou, na Cri- mento que o farmacêutico local para atuação do far-
tical Care Medicine de 2000, faz, por meio de trabalhos macêutico clínico. A grande
qual seria o papel do far- de farmacoeconomia, con- questão do desenvolvimen-
macêutico nestas unidades tribui para a redução e oti- to da farmácia clínica não é
e o que eles consideram mização destes gastos na por onde começar, como já
atividades fundamentais, terapia medicamentosa. dito anteriormente, mas,
desejáveis e ótimas dentro Montazeri and Cook, 1994, sim, como começar, pois
da terapia intensiva. caracterizaram os tipos de sabemos da necessidade
A Sociedade Européia intervenção farmacêutica, de alguns pré-requisitos
de Farmácia Clínica, cria- na Unidade de Terapia In- de caráter administrativos
da, em 1979, também, pu- tensiva, em um período de fundamentais como, por
blicou a necessidade do três meses, onde foram ob- exemplo: obter uma farmá-
serviço de farmácia clínica servadas 575 intervenções cia hospitalar estruturada
enfatizando os níveis de que representaram uma e com processos seguros
ação desta atividade, que economia de 10.000 dóla- e bem definidos, além do
podemos transpor para res canadenses. número de profissionais
dentro do ambiente de te- Outros trabalhos mos- compatíveis; apoio do cor-
rapia intensiva, analisando tram que dentre 398 inter- po administrativo tanto da
o uso de medicamentos em venções farmacêuticas, na farmácia quanto do hos-
três níveis: antes, durante e UTI, houve adesão médi- pital; ter uma relação de
depois da prescrição. ca em até 99% dos casos. medicamentos e comissão
Daí em diante, pode- Quanto à questão da die- de farmácia e terapêutica
mos citar vários trabalhos ta e especificamente em atuante e educação técnica
que reforçam a atuação pacientes que possuem na área e suporte técnico
da farmácia clínica como sondas enterais (60% dos adequado.
um trabalho eficaz e ne- pacientes na Unidade de Além disso, também, há
cessário: humanístico (por Terapia Intensiva), o far- necessidade de outras fer-
exemplo, a qualidade de macêutico tem participa- ramentas para o desenvol-
vida e a satisfação), clíni- ção e responsabilidade vimento do trabalho, como
co (por exemplo, o melhor quanto à identificação de sistemas informatizados e
controle e manejo de do- medicamentos associados banco de dados eletrônicos
enças crônicas) e econômi- à obstrução da sonda, inte- que permitem ao farma-
co (por exemplo, a redução rações com a dieta além de cêutico melhor tratamento
de custos). problemas de absorção. da prescrição médica no
O gasto com medica- Diante de todo este que concerne às interações
mento, na Unidade de Te- quadro, associado ao fato medicamentosas e eventos
rapia Intensiva, pode che- de se ter uma unidade de adversos, permitindo ao

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farmacêutico intervir e pre- sabemos que muito se faz, Esperamos contar com os
venir a ocorrências, antes na prática. farmacêuticos que atuam,
da administração do medi- É, diante deste quadro ou desejam atuar, nesta
camento, agregando maior e sabendo da importân- área, participando da Asso-
segurança à prescrição mé- cia deste profissional, que ciação. Ainda lembramos o
dica e ao paciente. esperamos agregar forças “14° Congresso da AMIB”,
Apesar de sabermos junto à Associação de Me- que será realizado, em no-
que não dispomos de to- dicina Intensiva Brasileira vembro de 2009, na cidade
das as condições e ferra- (AMIB), somarmos o co- de São Paulo, no qual tere-
mentas necessárias para a nhecimento na nossa área, mos temas voltados para a
implementação e desen- definir os princípios bási- nossa área.
volvimento da farmácia cos para quem está inician-
clínica na grande maioria do e fortalecer a prática da Maiores informações:
dos hospitais, no Brasil, farmácia clínica, no Brasil. www.amib.com.br

Marco Aurélio Schramm Ribeiro Ilenir Leão Tuma Eugenie Desireé Rabelo Neri

Este encarte foi idealizado e organizado pela Comissão de Farmácia Hospitalar do Conselho
Federal de Farmácia (Comfarhosp), composta pelos farmacêuticos hospitalares Marco Aurélio
Schramm Ribeiro, Presidente (CE), Ilenir Leão Tuma (GO) e Eugenie Desireé Rabelo Neri (CE).
O e-mail da Comissão é comfarhosp@cff.org.br

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