Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HUMANA
Introdução
O sistema nervoso é dividido anatomicamente em sistema nervoso central
(SNC), que consiste no encéfalo e na medula espinal, e sistema nervoso
periférico (SNP), que inclui todos os tecidos nervosos localizados fora
do SNC, como os receptores sensoriais, os nervos e os gânglios. Neste
contexto, a medula espinal é a principal via de comunicação entre o
encéfalo e o SNP abaixo da cabeça. Além disso, a medula espinal realiza
a integração das informações aferentes e a produção de respostas por
meio de mecanismos reflexos.
De forma geral, o tecido nervoso é extremamente delicado, de forma
que os neurônios podem ser danificados por uma leve pressão. Assim, o
SNC está protegido pelo tecido ósseo (crânio e coluna vertebral), pelas
membranas (meninges) e por uma solução aquosa (líquido cerebrospinal).
Além disso, o encéfalo está protegido de substâncias nocivas da corrente
sanguínea pela barreira hematoencefálica.
Neste capítulo, você vai identificar os aspectos anatômicos da medula
espinal, das meninges, dos ventrículos encefálicos e da barreira hemato-
encefálica, assim como reconhecer alguns dos seus aspectos funcionais
e patológicos.
2 Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular
Medula espinal
O tamanho da medula espinal de um indivíduo adulto é de aproximadamente
45 cm de comprimento e se estende desde o forame magno do crânio até a
margem inferior da primeira vértebra lombar (L1) (Figura 1). É consideravel-
mente mais curta que a coluna vertebral, pois não cresce de forma tão rápida
durante o desenvolvimento, sendo composta pelos segmentos cervical, torácico,
lombar e sacral, nomeados de acordo com a porção da coluna vertebral onde
os nervos entram e saem. A medula espinal dá origem a 31 pares de nervos
espinais, que saem da coluna vertebral pelos forames intervertebrais e sacrais
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A medula espinal é mais larga em diâmetro na sua extremidade superior
e diminui gradualmente seu diâmetro em direção à extremidade inferior.
Entretanto, em duas regiões a medula espinal encontra-se expandida, for-
mando a intumescência cervical, que origina os nervos para o cíngulo do
membro superior e membros superiores e a intumescência lombossacral, que
dá origem à inervação das estruturas da pelve e dos membros inferiores. Na
porção inferior da intumescência lombossacral, a medula espinal afila-se em
uma extremidade cônica, denominada cone medular, no nível da primeira
vértebra lombar ou inferiormente a ela. A partir da extremidade inferior do
cone medular e ao longo da extensão do canal vertebral até a face posterior do
cóccix está localizada a parte pial do filamento terminal. A parte pial e a parte
dural do filamento terminal fornecem sustentação longitudinal para a medula
espinal. Em um indivíduo adulto, a medula espinal se estende somente até o
nível da primeira ou da segunda vértebra lombar. Dessa forma, o segmento
S2 da medula espinal se localiza no nível da vértebra L1. Ao final da medula
espinal, podemos observar o filamento terminal e as longas raízes posteriores e
anteriores, que se estendem inferiormente ao cone medular e são denominadas
cauda equina (Figura 1) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular 3
Uma secção transversal revela que a medula espinal consiste em uma porção
esbranquiçada superficial e uma porção acinzentada profunda. A substância
branca consiste em axônios mielinizados, que formam as vias nervosas, e a
substância cinzenta consiste em corpos celulares de neurônios, dendritos e
axônios. Uma fissura mediana ventral e um sulco mediano dorsal são fendas
profundas que separam parcialmente as duas metades da medula espinal,
sendo que cada metade é organizada em três colunas, denominadas colunas
ventral (anterior), dorsal (posterior) e lateral. Cada coluna é subdividida em
tratos, ou fascículos, também referidos como vias. Dessa forma, um conjunto
de axônios dentro do SNC é chamado de trato e fora do SNC é chamado de
nervo. Os axônios dentro de um determinado trato carregam basicamente o
mesmo tipo de informação, embora possam se sobrepor até certo ponto. Por
exemplo, um trato ascendente leva potenciais de ação relacionados à dor e a
sensações térmicas, enquanto outros levam potenciais de ação relacionados ao
tato suave. Quanto à substância cinzenta, ela é organizada em cornos, de forma
4 Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular
Em cada lado da medula espinal, uma raiz posterior típica contém axônios
dos neurônios sensitivos, cujos corpos celulares encontram-se nos gânglios
sensitivos de nervos espinais. Além disso, na frente da raiz posterior, a raiz
anterior contém axônios dos neurônios motores somáticos e, em alguns níveis,
neurônios motores viscerais que controlam efetuadores periféricos. As raízes
posteriores e anteriores de cada segmento penetram e deixam o canal vertebral
entre as vértebras adjacentes, nos forames intervertebrais. Cada segmento
espinal está associado a um par de gânglios sensitivos de nervos espinais,
que contém os corpos celulares dos neurônios sensitivos. Distalmente a cada
gânglio sensitivo de nervo espinal, as fibras sensitivas e motoras formam um
único nervo espinal. Os nervos espinais são classificados como nervos mistos
porque contêm fibras aferentes ou sensitivas e fibras eferentes ou motoras
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular 5
Danos à medula espinal podem interromper os tratos aferentes até o encéfalo, resul-
tando em perda da sensibilidade. Por outro lado, a interrupção dos tratos eferentes a
partir do encéfalo até os neurônios motores na medula espinal pode resultar na perda
da função motora. De forma geral, as lesões medulares são classificadas de acordo com
o nível vertebral no qual o ferimento ocorreu, sendo que a maioria das lesões ocorre
na região cervical ou na junção toracolombar. As lesões cervicais acima de T1 são as
mais graves e podem resultar na paralisia de todos os quatro membros (quadriplegia
ou tetraplegia), afetando também a musculatura abdominal e peitoral.
As lesões em T1 ou abaixo de T1 podem resultar em diferentes graus de paralisia
das pernas (paraplegia) e do abdome, mas mantêm todas as funções dos membros
superiores (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Meninges
As meninges são três membranas de tecido conectivo que estão localizadas
externamente às estruturas do SNC (encéfalo e medula espinal) e que apre-
sentam as seguintes funções: envolvem e protegem o SNC, protegem os vasos
sanguíneos, circundam os seios venosos, contêm o líquido cerebrospinal e
formam repartições no crânio. De fora para dentro, as meninges são a dura-
-máter, a aracnoide e a pia-máter (Figura 3) (MARIEB; HOEHN, 2009).
Figura 3. Meninges.
Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 419).
6 Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular
Dura-máter
A dura-máter é a mais resistente das meninges, sendo composta pela seguinte
bicamada de tecido conectivo: a lâmina periosteal é o folheto mais superficial,
o qual está associado à superfície interna do crânio (o periósteo), no entanto,
não há lâmina periosteal circundando a medula espinal; a lâmina meníngea é o
folheto mais interno, que forma o verdadeiro envoltório externo do encéfalo, o
qual continua caudalmente no canal vertebral como a lâmina dural da medula
espinal. No entanto, essas duas lâminas estão fusionadas, exceto em certos
pontos, em que se separam para formar os seios durais que coletam sangue
venoso do encéfalo e o direcionam para a veia jugular interna do pescoço. Além
disso, a dura-máter forma pregas na cavidade craniana para limitar o movimento
excessivo do encéfalo dentro do crânio, as quais estão descritas a seguir.
Foice do cérebro: uma grande prega que penetra fundo na fissura lon-
gitudinal entre os dois hemisférios cerebrais e liga-se anteriormente à
crista-galli do osso etmoide.
Foice do cerebelo: continuando inferiormente a partir da porção posterior
da foice do cérebro, essa divisão mediana corre ao longo do verme do
cerebelo.
Tentório do cerebelo: lembrando uma tenda acima do cerebelo, esta
prega dural mais ou menos horizontal se aprofunda na fissura trans-
versa entre o cerebelo e os hemisférios cerebrais (Figura 4) (MARIEB;
HOEHN, 2009).
Aracnoide
A aracnoide é a meninge média que forma um envoltório cerebral frouxo e não
penetra nos sulcos da superfície cerebral. Essa membrana está separada da
dura-máter por uma estreita cavidade serosa, o espaço subdural, que contém
uma película de líquido. Abaixo da membrana aracnoide está o amplo espaço
subaracnóideo, que contém extensões que lembram uma rede e separam a pia-
-máter da aracnoide. Esse espaço está preenchido pelo líquido cerebrospinal
e contém os vasos sanguíneos calibrosos que irrigam o encéfalo. Projeções
dilatadas da aracnoide, denominadas vilosidades ou granulações aracnoideas,
se estendem superiormente pela dura-máter para dentro do seio sagital superior.
O líquido cerebrospinal é absorvido para o sangue venoso do seio por essas
granulações similares a válvulas (MARIEB; HOEHN, 2009).
Pia-máter
A pia-máter é formada por um delicado tecido conectivo ricamente vasculari-
zado que está intimamente em contato com o encéfalo, acompanhando todas as
suas circunvoluções. Pequenas artérias que penetram o parênquima encefálico
levam junto a pia-máter, mas por curtas distâncias (MARIEB; HOEHN, 2009).
Sistema ventricular
Os ventrículos são cavidades cheias de líquido cerebrospinal localizados
dentro do encéfalo. Existem quatro ventrículos no encéfalo adulto: um em cada
hemisfério cerebral, um terceiro no diencéfalo e um quarto localizado entre
a ponte e o cerebelo e que se estende até a parte superior do bulbo (Figura 5)
(MARIEB; HOEHN, 2009).
Barreira hematoencefálica
O tecido nervoso do SNC tem um amplo suprimento sanguíneo, embora
esteja isolado da circulação sistêmica pela barreira hematoencefálica (BHE).
Essa barreira fornece meios para a manutenção de um ambiente constante,
necessário para o controle e o funcionamento adequado do SNC. Dessa forma,
substâncias que estão circulando nos capilares sanguíneos do tecido nervoso
estão separadas do espaço extracelular e dos neurônios pelo endotélio con-
tínuo da parede dos capilares encefálicos, pela lâmina basal relativamente
espessa, circundando a face externa de cada capilar, e pelos “pés” bulbosos
dos astrócitos que ancoram nos capilares. As células endoteliais dos capilares
são justapostas e com junções oclusivas entre elas, tornando esses capilares
os menos permeáveis do corpo, uma característica que constitui a maior
parte ou toda a BHE (MARIEB; HOEHN, 2009). Como resultado, somente
compostos lipossolúveis (exemplos: anestésicos, nicotina e etanol) podem
se difundir através da membrana plasmáticas das células endoteliais para o
líquido intersticial do encéfalo e da medula espinal. As moléculas solúveis
em água, como aminoácidos e glicose, atravessam as paredes dos capilares
somente por meio de mecanismos de transporte ativo ou passivo (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Além disso, resíduos metabólicos, proteínas, certas toxinas e grande parte
dos fármacos circulantes são impedidos de entrar no tecido nervoso. Por fim,
pequenos aminoácidos não essenciais e íons potássio não apenas são impedidos
de entrar nesse tecido, como também são bombeados ativamente para fora
do parênquima neural pelo endotélio capilar. Entretanto, em algumas áreas
encefálicas que circundam o terceiro e o quarto ventrículos, a BHE está ausente
e os endotélios capilares são muito permeáveis, permitindo que as moléculas
circulantes penetrem facilmente o parênquima neural. Uma dessas regiões é
o hipotálamo, envolvido na regulação do equilíbrio hídrico, da temperatura
corporal e de muitas outras atividades metabólicas. A ausência de uma barreira
nessa área permite o monitoramento da composição química do corpo humano
(MARIEB; HOEHN, 2009).
As características de permeabilidade da BHE devem ser consideradas
quando se desenvolvem novos fármacos que atuem no SNC. A doença de
Parkinson, por exemplo, tem como uma de suas causas a diminuição de do-
pamina, a qual é produzida por determinados neurônios. A falta de dopamina
leva à dificuldade de controlar os movimentos e à ocorrência de tremores.
Todavia, a administração de dopamina é inútil, pois ela não consegue atra-
Sistema nervoso central: medula espinal, meninges e sistema ventricular 11
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. (Coleção Martini). E-book.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C.; REGAN J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016.
Leitura recomendada
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009.
Conteúdo:
[illJ__ SOLUÇÕES
EDUCACIONAIS
� INTEGRADAS