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ANATOMIA GERAL

Gabriela Souza de Vasconcelos


Sistema nervoso: medula
espinal e nervos espinais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os aspectos anatômicos da medula espinal, como intumes-


cências, meninges e raízes.
„„ Reconhecer, por meio da anatomia seccional, as características da me-
dula espinal relacionadas à substância cinzenta e à substância branca.
„„ Relacionar os diferentes tipos de reflexos conduzidos pela medula
espinal.

Introdução
O sistema nervoso central é constituído pela medula espinal e pelo encé-
falo e, apesar de serem anatomicamente conectados, a medula espinal e
o encéfalo apresentam um grau significativo de independência funcional.
A medula espinal é muito mais do que apenas uma via para transmis-
são de informação ao encéfalo ou a partir dele, pois ela também integra
e processa informação por si, como os reflexos medulares.
Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos anatômicos da medula
espinal, assim como as características da medula espinal relacionadas
à substância cinzenta e à substância branca, e os diferentes tipos de
reflexos medulares.

1 Aspectos anatômicos da medula espinal


A medula espinal, que juntamente com o encéfalo compõe o sistema nervoso
central (SNC), permite a comunicação do encéfalo com o restante do corpo
humano. As informações coletadas pelos nervos e pelos gânglios (sistema
nervoso periférico) são transmitidas para o SNC, que inicia uma resposta reflexa
2 Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais

(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;


TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Em relação a anatomia da medula espinal, ela está localizada dentro do
canal vertebral da coluna vertebral e percorre desde o forame magno até o nível
da segunda vértebra lombar, medindo aproximadamente 42 a 45 centímetros.
A medula espinal é dividida em direita e esquerda, por dois sulcos: a fissura
mediana anterior (ventral) profunda e o sulco mediano posterior (dorsal) super-
ficial (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A medula espinal, assim como o encéfalo, é revestida por tecido conec-
tivo, chamado de meninge. O revestimento da medula espinal é feito por três
camadas de meninge: dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A meninge mais externa, que se estende até a segunda vértebra sacral,
é chamada de dura-máter, que forma um saco tecal que envolve a medula
espinal e, com esse tecido conectivo denso não modelado e resistente, ajuda a
proteger as estruturas delicadas do SNC. A dura-máter é separada do periósteo
do canal vertebral pelo espaço epidural, o qual consiste em um espaço entre
as paredes do canal vertebral e a dura-máter da medula espinal que contém as
raízes dos nervos espinais, vasos sanguíneos, tecido conectivo e tecido adiposo
(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A camada intermediária, muito fina, é denominada aracnoide-máter e
apresenta fibras elásticas e colágenas, que lembram uma teia de aranha. Ela
é separada da dura-máter por um espaço praticamente virtual, chamado de
espaço subdural, o qual contém uma pequena quantidade de fluido seroso
(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A camada mais interna, que contém inúmeros vasos sanguíneos, é a pia-
-máter, uma camada transparente de fibras elásticas e colágenas, que está
aderida à superfície da medula espinal e do encéfalo. Entre a aracnoide-máter
e a pia-máter, encontra-se a cavidade subaracnóidea, que contém filamentos
semelhantes às teias da aracnoide-máter, vasos sanguíneos e líquido cerebros-
pinal (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Na punção lombar, o líquido cerebrospinal é coletado do espaço subaracnói-
deo a fim de avaliar a presença de agentes infecciosos (meningite), de sangue
(hemorragia) ou, ainda, para medir a pressão liquórica. Na anestesia raquidiana,
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ou bloqueio espinal, são introduzidos fármacos no espaço subaracnóideo para


bloquear a transmissão dos potenciais de ação e evitar as sensações dolorosas
na metade inferior do corpo (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Em função da medula espinal ser mais curta que a coluna vertebral,
os nervos que surgem das regiões lombar, sacral e coccígea deixam a coluna
vertebral em nível diferente dos que saem da medula, e as raízes desses nervos
se estendem inferiormente (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM-
MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).
Como a medula percorre a coluna vertebral, ela é nomeada cervical, to-
rácica, lombar e sacral, conforme a região da coluna vertebral de onde se
originam os nervos. Ao todo, originam-se da medula espinal 31 pares de nervos
espinais, cada um deles composto por células de Schwann, bainhas de tecido
conectivo e dois feixes de axônios que saem da coluna vertebral por meio de
forames intervertebrais e sacrais (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM-
MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).
Cada segmento espinal está associado a um par de gânglios sensitivos de
nervos espinais, que contém os corpos celulares dos neurônios sensitivos.
Esses gânglios sensitivos estão localizados entre os pedículos das vérte-
bras adjacentes. Em cada lado da medula espinal estão as raízes, localizadas
posterior e anteriormente no nervo espinal. A raiz posterior contém apenas
axônios sensoriais, que conduzem, para o SNC, impulsos nervosos dos re-
ceptores sensoriais na pele, nos músculos e nos órgãos internos. Além disso,
a raiz posterior apresenta o gânglio sensitivo do nervo espinal, que contém
os corpos celulares de neurônios sensoriais. Por outro lado, a raiz anterior
contém axônios dos neurônios motores, que conduzem os impulsos nervo-
sos do SNC aos efetores (músculos e glândulas) (MARIEB; HOEHN, 2008;
MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON,
2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Em relação ao formato e ao diâmetro da medula espinal, ela é mais larga
na extremidade superior, e diminui gradativamente em direção à extremidade
inferior. Ainda sobre o formato dessa estrutura, ela apresenta duas intumes-
cências: a cervical e a lombossacral. A primeira está localizada na região
cervical inferior e corresponde ao local onde as fibras nervosas que inervam
os membros superiores entram e saem da medula espinal. Já a intumescência
lombossacral está localizada nas regiões torácica, lombar e sacral superior,
e é o local onde as fibras nervosas que inervam os membros inferiores entram
4 Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais

ou saem da medula espinal. Após a intumescência lombossacral, a medula


espinal afunila e forma o cone medular. Os nervos que suprem os membros
inferiores deixam a intumescência lombossacral e o cone medular, formando
uma “cauda de cavalo”, que é conhecida como cauda equina (MARTINI; TIM-
MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).
Além disso, a medula espinal é composta pela substância branca e pela
substância cinzenta. A partir de uma análise da secção transversa da medula,
é possível observar uma substância branca circundando uma massa de substân-
cia cinzenta em forma de H, localizada centralmente. No centro da substância
cinzenta está o canal central da medula espinal, um espaço pequeno que se
estende no comprimento da medula espinal e contém o líquido cerebrospinal.
Por meio da substância branca e da substância cinzenta, as informações são
recebidas ou enviadas pela medula espinal; por isso essas regiões são importan-
tes (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

Os reflexos não operam como entidades isoladas. Por meio das vias aferentes e efe-
rentes, as atividades reflexas são integradas com as funções do sistema nervoso como
um todo. Por exemplo, após um estímulo doloroso, além do reflexo de retirada para
afastar o segmento acometido, ocorre a percepção da sensação dolorosa devido aos
potenciais de ação enviados ao encéfalo (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

2 Características da medula espinal


relacionadas à substância cinzenta e
à substância branca
Em uma secção transversa da medula espinal, é possível observar uma porção
esbranquiçada superficial e uma porção acinzentada profunda, em forma de
H. A porção esbranquiçada e superficial é a substância branca, que consiste
em axônios mielinizados que formam as vias nervosas. A porção profunda
em forma de H é a substância cinzenta, que consiste em corpos celulares de
neurônios, dendritos, axônios amielínicos, terminais axônicos e neuróglia.
Tanto a substância branca quanto a substância cinzenta exercem papel es-
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sencial na homeostasia (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS;


TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).
Ao longo do comprimento da medula espinal (cervical, torácica, lombar e
sacral), a quantidade de substância cinzenta em relação à substância branca é
variável. A quantidade de substância cinzenta é significativamente maior nos
segmentos medulares relacionados à inervação sensitiva e motora dos membros.
Essas áreas contêm interneurônios responsáveis por transmitir a informação
sensitiva e coordenar as atividades dos neurônios motores somáticos que
controlam os complexos músculos dos membros. A partir dessas extensões da
medula espinal, formam-se as intumescências da medula espinal (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Além disso, a medula espinal é dividida em direita e esquerda pela fissura
mediana anterior (ventral) profunda e pelo sulco mediano posterior (dorsal)
superficial. Em cada lado da medula espinal, a substância branca é organizada
em três funículos e a substância cinzenta é subdividida em regiões chamadas
de cornos (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH,
2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A partir das características da medula espinal em relação a substância
branca e cinzenta, é possível entender o comprometimento sensorial e motor
provocado pelas lesões medulares. Por exemplo, os traumatismos que atingem
a medula, como acidentes de trânsito, pancadas, ferimentos por arma de fogo,
entre outros, podem envolver alguma combinação de compressão, laceração,
contusão e transecção parcial da medula e produzir sintomas como perdas
sensitivas ou paralisias motoras que refletem os núcleos e tratos envolvi-
dos (substância branca ou substância cinzenta). Inicialmente, qualquer lesão
grave à medula espinal produz um período de paralisia sensitiva e motora
denominada choque medular. Devido a esse choque medular, os músculos
esqueléticos tornam-se flácidos, observa-se ausência das funções reflexas
somáticas e viscerais e o encéfalo não recebe sensações de tato, dor, calor ou
frio (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
A substância branca da medula espinal consiste em tratos que servem como
vias para a condução do impulso nervoso. Ao longo dessas vias, os impulsos
sensoriais viajam em direção ao encéfalo, e os impulsos motores viajam do
encéfalo em direção aos músculos esqueléticos e a outros tecidos efetores
(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
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Os funículos da substância branca são denominados ventral (anterior),


dorsal (posterior) e lateral. Cada funículo contém um ou mais tratos, que são
feixes distintos de axônios que têm origem ou destino comum e transportam
informações semelhantes. Um conjunto de axônios dentro do SNC é chamado
de trato, enquanto fora do SNC é chamado de nervo. Os tratos apresentam
mielinização distinta dos nervos e carecem do abundante tecido conectivo
destes. Os tratos sensoriais ascendentes consistem em axônios que conduzem
impulsos nervosos em direção ao encéfalo. Por exemplo, um trato ascendente
leva potenciais de ação relacionados à dor e a sensações térmicas. Os tratos
que consistem em axônios que conduzem os impulsos para baixo na medula
espinal são chamados de tratos motores descendentes (MARIEB; HOEHN,
2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICK-
SON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Esses tratos sensoriais e motores da medula espinal são contínuos aos tratos
sensoriais e motores do encéfalo. Em geral, a nomenclatura desses tratos está
relacionada com a sua posição na substância branca, onde começa e termina,
e a direção da condução do impulso nervoso (MARIEB; HOEHN, 2008;
MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON,
2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A substância cinzenta da medula espinal recebe e integra a informação
que chega e a informação que sai, além de servir como um sítio de integração
dos reflexos. Para o recebimento e a integração de informações, a substância
cinzenta conta com os cornos, chamados de anterior, lateral ou posterior,
de acordo com a localização. Nesses cornos, os corpos celulares de neurônios
estão organizados em grupos, denominados núcleos, com funções específicas
(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Nos cornos anteriores (ventrais) da substância cinzenta, que são maiores,
estão os corpos celulares de neurônios motores somáticos, os quais fornecem
impulsos nervosos para efetuadores periféricos para contração dos músculos
esqueléticos (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH,
2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Nos cornos laterais da substância cinzenta estão os corpos celulares dos
neurônios motores autônomos que regulam a atividade do músculo cardíaco,
do músculo liso e das glândulas. Esses cornos laterais estão presentes apenas
nos segmentos torácicos e lombares superiores da medula espinal (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
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Por fim, nos cornos posteriores (dorsais) da substância cinzenta, que são
finos, estão os corpos celulares e axônios de interneurônios, bem como axô-
nios de neurônios sensoriais. Esses núcleos sensitivos recebem e transmitem
informações sensitivas de receptores periféricos, como os receptores do tato
localizados na pele (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).
No que diz respeito ao sítio de integração dos reflexos, a substância cin-
zenta pode mediar reflexos inatos e reflexos adquiridos. Um reflexo é uma
sequência rápida e involuntária de ações, que ocorre em resposta a um estímulo
específico. Um reflexo inato ocorre, por exemplo, quando alguém retira a
mão de uma superfície quente antes mesmo de perceber que ela estava quente
(reflexo de retirada), enquanto o reflexo adquirido ocorre quando se aprende
uma nova habilidade, como dirigir um carro. Os reflexos integrados na subs-
tância cinzenta são denominados reflexos medulares ou espinais (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

Veja, no artigo de revisão “Anatomia macroscópica, microscópica, vascular e envoltórios


meníngeos da medula espinhal – orientações para o estudante de Medicina”, de Cabral
et al. (2017), mais informações sobre a macroscopia, a microscopia, a vascularização e
os envoltórios meníngeos da medula espinal.

3 Reflexos medulares
No sistema nervoso, a unidade estrutural básica é o neurônio, enquanto a
unidade funcional básica é o arco reflexo, por ser a menor e mais simples
porção capaz de receber um estímulo e produzir uma resposta. Por definição,
o reflexo é uma resposta automática para um estímulo produzido por um arco
reflexo, e, para que o reflexo ocorra, não é necessário um pensamento cons-
ciente. Os reflexos podem ser classificados quanto ao desenvolvimento (inato
ou adquirido), à natureza da resposta motora resultante (reflexos somáticos e
viscerais ou autônomos), à complexidade do circuito neuronal envolvido (refle-
xos monossinápticos ou polissinápticos) e, ainda, ao local onde as informações
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são processadas (reflexos espinais ou cranianos) (MARTINI; TIMMONS;


TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Os reflexos somáticos mediados pela medula espinal são denominados
reflexos medulares ou espinais. Muitos desses ocorrem sem o envolvimento
direto do encéfalo; mesmo assim, o encéfalo recebe informações sobre as
atividades reflexas da medula e pode, inclusive, inibir, facilitar ou modular as
respostas. Alguns dos reflexos medulares envolvem neurônios excitatórios e
resultam em uma resposta, como a contração muscular. Por outro lado, alguns
reflexos medulares envolvem neurônios inibitórios e resultam na inibição
de uma resposta, como o relaxamento muscular (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A avaliação desses reflexos medulares é importante, pois permite analisar a
condição clínica do sistema nervoso, em que reflexos exagerados, ausentes ou
alterados indicam degeneração ou patologia de regiões específicas do sistema
nervoso, geralmente antes que outros sinais estejam aparentes (MARIEB;
HOEHN, 2008).
Veja, a seguir, a descrição dos seguintes reflexos medulares: reflexo mio-
tático (ou de estiramento), reflexo tendinoso de Golgi e reflexo de retirada
(ou flexor).

Reflexo miotático (ou de estiramento)


No reflexo miotático, os músculos se contraem em resposta a uma força de
estiramento aplicada sobre o fuso muscular, que é receptor sensorial desse
reflexo. O reflexo miotático é um reflexo do tipo monossináptico, pois não há
interneurônios entre o neurônio sensorial e o neurônio motor alfa. A atividade
dos fusos musculares ajuda a controlar a postura, a tensão e o comprimento
muscular (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH,
2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Por exemplo, se uma pessoa está em pé na vertical e começa a inclinar-se
para um lado, os músculos posturais associados com a coluna vertebral do
outro lado são estirados. Como resultado, reflexos miotáticos são iniciados
nesses músculos, que os fazem contrair e restabelecer a postura normal.
À medida que um músculo esquelético contrai, a tensão nos centros dos fusos
musculares diminui, pois os fusos são encurtados passivamente conforme o
músculo reduz seu tamanho (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM-
MONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016).
Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais 9

Outro exemplo de reflexo miotático é o reflexo patelar. Quando o liga-


mento patelar é estimulado, os tendões e os músculos do quadríceps femoral
são distendidos e as fibras dos fusos musculares dentro desses músculos
também se distendem, gerando o reflexo. Como resposta, ocorre contração
desses músculos, produzindo a resposta automática característica (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL
et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

Reflexo tendinoso de Golgi


O reflexo tendinoso de Golgi impede que os músculos contraídos apliquem
uma tensão excessiva sobre os tendões. O receptor sensorial desse reflexo é
o órgão tendinoso de Golgi, que consiste em terminações nervosas encapsu-
ladas localizadas próximo à junção musculotendinosa (MARIEB; HOEHN,
2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014;
VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
No momento da contração muscular, os tendões são estirados, fazendo
a tensão sobre ele aumentar. Com isso, ocorre um estímulo dos neurônios
sensoriais dos órgãos tendíneos, os quais estimulam a liberação de neuro-
transmissores pelos interneurônios, inibindo os neurônios motores alfa do
músculo associado e promovendo relaxamento muscular. Esse reflexo protege
os músculos e os tendões de algum dano provocado pela tensão excessiva
(MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009;
KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Um exemplo desse reflexo ocorre quando um halterofilista deixa cair um
grande peso após fazer muito esforço para erguê-lo. A queda do peso ocorre
em função do reflexo tendinoso de Golgi. Mesmo com a capacidade do corpo
humano de suportar tensões, em alguns casos, principalmente em movimentos
súbitos, o reflexo tendinoso de Golgi não consegue impedir que ocorram lesões
por estiramento, sejam elas musculares ou tendíneas (MARIEB; HOEHN,
2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014;
VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

Reflexo de retirada (ou flexor)


O reflexo de retirada, por meio dos receptores de dor, tem a função de afastar
um segmento de um estímulo nocivo ou doloroso. Quando ocorre um estí-
mulo doloroso, como uma queimadura ou um corte, os neurônios sensoriais
estimulam os músculos — geralmente músculos flexores —, que afastam o
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membro da causa do estímulo doloroso. As ramificações colaterais dos neu-


rônios sensoriais fazem sinapse com fibras ascendentes do encéfalo, provendo
consciência do estímulo doloroso (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; RE-
GAN; RUSSO, 2016).
O reflexo de extensão cruzada está associado ao reflexo de retirada. Assim
que o reflexo de retirada é iniciado em um membro inferior, o reflexo extensor
cruzado provoca a distensão do membro inferior oposto. Com isso, é possível
prevenir quedas, deslocando o peso do corpo do membro afetado para o membro
não afetado (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH,
2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Um exemplo desses dois reflexos ocorre quando uma pessoa pisa em um
prego ou caco de vidro com o pé esquerdo. O reflexo de retirada faz o membro
inferior esquerdo flexionar e se afastar do objeto que causou a dor, enquanto
o reflexo de extensão cruzada estende o membro inferior direito, deslocando,
assim, o peso do corpo da perna esquerda para a perna direita (MARIEB;
HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL
et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

KANDEL E. R. et al. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed,


2014. 1544 p.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 1072 p.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R.B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. 905 p.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 704 p.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO; A. Anatomia e fisiologia de Seeley. Porto Alegre: AMGH;
Artmed, 2016. 1264 p.

Leitura recomendada
CABRAL, M. C. et al. Anatomia macroscópica, microscópica, vascular e envoltórios
meníngeos da medula espinhal – orientações para o estudante de Medicina. Revista
Científica FAGOC – Saúde, Ubá, v. 2, n. 1, p. 50–56, 2017. Disponível em: https://revista.
fagoc.br/index.php/saude/article/view/205. Acesso em: 27 out. 2020.
Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais 11

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