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Introdução
As vias córtico-espinhais
Como o próprio nome diz, são vias que se originam no córtex cerebral e
vão até a medula espinhal. Por isso vias córtico-espinhais. Quando é dito que
elas se originam no córtex, você precisa entender o que isso significa: os corpos
destes neurônios estão na substância cinzenta do córtex cerebral. Todo o resto
dessas vias (desde a sua saída do córtex cerebral até a medula) será
representado pelas fibras que são os axônios desses neurônios. Como vimos,
no SNC o agrupamento de fibras é chamado de trato, fascículo ou lemnisco. No
caso das vias descendentes teremos tratos. Daí trato córtico-espinhal.
Os corpos desses neurônios estão localizados em uma região bem
definida do cérebro, conhecida como córtex motor primário (ou M1). Existe
um sulco que corta a região superficial central do cérebro de um lado a outro,
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Capítulo 5 – Vias Descendentes e Reflexos Motores
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(guarde isso: praticamente tudo que tem origem no córtex cerebral será o
componente voluntário de alguma coisa) da musculatura axial do corpo. Vimos
também que ele desce a medula pelo funículo anterior — o mesmo acontecerá
com todos os tratos da via descendente medial, com a diferença que nem todos
são cruzados. Veremos cada um.
O trato retículo-espinhal tem esse nome por se originar na formação
reticular. A formação reticular é uma extensa e complexa estrutura do tronco
encefálico com diversas funções, ocupando cada uma de suas três divisões. As
porções ligadas à movimentação somática pertencem à formação reticular
pontina e bulbar (isto é, a formação reticular presente na ponte e no bulbo). É
ipsilateral (o mesmo que homolateral, o que quer dizer que não se cruza,
terminando do mesmo lado do corpo em que se origina). Está também ligada
aos movimentos axiais voluntários, além de ser o elemento-chave em alguns
movimentos estereotipados (como o ato de caminhar) e em ajustes posturais
antecipatórios, necessários para que o corpo entre em uma posição estável e
firme antes que possamos exercer os movimentos finos que a via descendente
lateral irá realizar (como firmar o braço antes de começar a escrever, ou o
goleiro que flexiona as pernas antes de saltar).
O trato vestíbulo-espinhal se origina nos núcleos vestibulares, um
conjunto de quatro núcleos (lateral, medial, superior e inferior, formando uma
espécie de cruz) de cada lado no tronco encefálico, responsáveis por manter o
equilíbrio da cabeça em relação ao corpo. Os núcleos de origem do trato
vestíbulo-espinhal são o núcleo vestibular lateral (que é ipsilateral, responsável
pelos ajustes posturais do corpo) e o núcleo vestibular medial (bilateral – ou
seja, é tanto cruzado quanto direto –, responsável pelos ajustes posturais da
cabeça). Embora com duas origens diferentes, o trato vestíbulo-espinhal é visto
como uma coisa só, cuja função é manter o equilíbrio e a postura básica de
forma automática, sem precisar ser voluntária. Mais sobre o sistema vestibular
será visto no estudo dos nervos cranianos e do cerebelo.
O trato tecto-espinhal, por fim, tem esse nome por se originar no
colículo superior, uma estrutura do tecto (ou teto) do mesencéfalo. O colículo
superior, como veremos mais adiante neste período, é uma região que abriga
uma variedade de núcleos ligados à regulação da visão e aos movimentos
oculares. O trato tecto-espinhal, assim, coordena a orientação sensório-motora
da cabeça e, se preciso, do corpo. Isso significa que ele age acertando o corpo,
de forma involuntária, de acordo com o que vemos. Se de repente vemos um
objeto sendo jogado em nossa direção, por exemplo, reflexamente mudamos a
postura de nosso corpo para uma posição defensiva, fechando os olhos e
podendo até erguer o braço para posicionar a mão à frente do rosto. Este trato
é contralateral, cruzando-se na mesma região que se cruza o trato rubro-
espinhal (no tegmento do mesencéfalo).
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Visão geral
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contralateral (porque o trato ainda não tinha se cruzado onde foi lesado),
enquanto lesões abaixo dele serão expressas de forma ipsilateral.
A síndrome do segundo neurônio motor ou síndrome do
neurônio motor inferior ou ainda síndrome do motoneurônio é a lesão
do neurônio que se encontra no corno anterior da medula, seja em seu corpo
na medula ou em qualquer parte do trajeto do nervo que forma antes de
chegar no músculo que inerva. Será sempre homolateral, já que não há
cruzamento nenhum dos neurônios do corno anterior da medula – cada um sai
pela raiz ventral de seu lado para integrar um nervo espinhal e ir até seu
músculo. O quadro clínico desta síndrome difere da anterior por diversos
aspectos. Primeiro, o trato córtico-espinhal inerva toda a medula, então sua
lesão irá afetar todo o corpo abaixo do ponto da lesão (as estruturas superiores
à lesão não são afetadas, já que sua inervação não é comprometida). Já o
motoneurônio, mais humilde, inerva apenas um miótomo, que caracteriza-se
por ser um grupo muscular, um único músculo ou apenas uma parte específica
de um músculo. A síndrome do segundo neurônio motor, portanto, afetará
apenas uma parte restrita da musculatura, que é a parte inervada por aquele
segmento medular afetado. Haverá sempre paralisia do miótomo em questão, e
o restante da sintomatologia é basicamente o oposto: hipotonia e hiporreflexia.
Não há mais segundo neurônio, não há mais acetilcolina na placa motora, não
há mais contração, não há mais reflexos musculares. Simples assim.
Vale observar que a síndrome do segundo neurônio motor, no começo
(isto é, na fase aguda), apresenta também hipertonia e hiperreflexia, tal como
a primeira síndrome. Isso acontece porque quando o motoneurônio é lesado
existe ainda um certo estoque de acetilcolina que já havia sido produzida, e
essa acetilcolina vai sendo liberada na placa motora até que acabe (a
acetilcolina, como veremos no capítulo de sinapses, é degradada pela enzima
acetilcolinesterase depois de ser usada em uma sinapse), levando então à
hipotonia e à hiporreflexia. A síndrome do primeiro neurônio motor, por outro
lado, causa hipotonia e hiporreflexia no princípio do quadro. Isso acontece
porque há uma espécie de choque: diante do trauma sofrido (a lesão do
primeiro neurônio), o segundo neurônio se ―congela‖ por um tempo, cessando
temporariamente a liberação de acetilcolina. Neste caso, após um tempo, a
hiperreflexia tende a surgir antes da hipertonia.
Movimentos reflexos
Nem sempre é preciso que haja uma interferência superior do SNC para
que um motoneurônio possa agir. É o caso dos reflexos musculares, arcos
reflexos que envolvem uma aferência pela raiz dorsal da medula e uma
eferência imediata por sua raiz ventral.
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Figura 5.1 – Reflexo patelar, um exemplo de reflexo miotático simples. (Ilustrações: William de
Andrade)
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O trato córtico-nuclear
Referências
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Nervoso. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
2. Haines DE. Neurociência Fundamental. 3rd ed. São Paulo: Elsevier; 2006.
3. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Princípios da Neurociência. 4th ed.
Barueri: Manole; 2003.
4. Lent R. Cem Bilhões de Neurônios. 1st ed. São Paulo: Atheneu; 2005.
5. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional. 2nd ed. São Paulo: Atheneu; 2006.
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6. Rubin M, Safdieh JE. Netter Neuroanatomia Essencial. 1st ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2008.
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