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O centro do centro
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Capítulo 4 – Medula Espinhal
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Capítulo 4 – Medula Espinhal
Figura 4.1 – Vista longitudinal da medula, evidenciando os segmentos medulares e suas raízes. Na
região da cauda equina não há medula, apenas raízes. Entenda que nesta vista “de lado”
teoricamente não deveríamos ver as projeções das raízes (que saem de cada lado da medula) desta
forma (além de elas não serem tão compridas), as projeções da imagem são apenas didáticas.
(Ilustrações: William de Andrade)
Cada segmento medular projeta dois ramos de cada lado (uma raiz
ventral e uma raiz dorsal), que atravessam os forames intervertebrais para
sair do sistema nervoso central, passando a constituir o sistema nervoso
periférico. Após um curto trajeto, essas duas raízes se unem, formando a partir
daí um nervo espinhal. Se observar bem alguma imagem que ilustre as raízes
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Capítulo 4 – Medula Espinhal
medulares, verá que a raiz dorsal possui uma dilatação antes de sua fusão com
a raiz ventral para formar um nervo: é o gânglio espinhal. Como foi dito no
capítulo de introdução, um gânglio é um aglomerado de corpos de neurônios no
sistema nervoso periférico (enquanto um aglomerado de corpos de neurônios
no sistema nervoso central se chama núcleo). Os gânglios espinhais (existe um
correspondente a cada segmento medular) são onde ficam os corpos dos
neurônios sensitivos (pseudo-unipolares) da medula; com isso fica fácil
entender que a raiz dorsal, onde ficam os gânglios espinhais (que são
sensitivos), é a parte sensitiva da medula. A raiz ventral, por sua vez, é a
parte motora. Isso é algo tão importante e será tão exaustivamente repetido
que você dificilmente não irá eventualmente guardar, mas não custa avisar:
não se esqueça das informações deste parágrafo, pois elas são fundamentais.
Os componentes eferentes motores da medula (veiculados pela raiz ventral
antes de desembocar no nervo comum) e os componentes aferentes sensitivos
(trazidos à medula pela raiz dorsal) serão vistos em detalhes nos próximos
capítulos.
O agrupamento das raízes nervosas dos últimos segmentos medulares
recebe o nome de cauda equina. Como as raízes de cada segmento se projetam
para baixo, é evidente que após o fim da medula poderão ser vistas ainda
algumas raízes onde não mais há segmentos. Isto é a cauda equina.
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visceral, como vimos). As outras duas colunas serão mais importantes aqui. Na
coluna anterior ficam os corpos dos neurônios motores da medula,
chamados também de motoneurônios. Lembra-se que é pela raiz ventral que
saem as fibras motoras do SNP? Pois é desses neurônios que elas partem,
atravessando o sulco lateral anterior antes de formar a raiz ventral de algum
segmento medular. Na coluna posterior ficam os neurônios ligados à
sensibilidade, cujos impulsos aferentes chegam pela raiz dorsal de cada
segmento medular para penetrar no H medular pelo sulco lateral posterior.
Importante notar que os neurônios da coluna anterior são eferentes e por isso
estão enviando informações (motoras), enquanto os da coluna posterior são
aferentes e estão assim recebendo informações (de sensibilidade). O primeiro
neurônio da via motora está no córtex cerebral, enquanto o primeiro da via de
sensibilidade está no gânglio espinhal, já mencionado. Os detalhes e as
exceções disso serão estudados nos próximos capítulos.
Os neurônios dessas colunas se organizam em núcleos (aglomerados de
corpos de neurônios no SNC, não se esqueça) até certo ponto bem delimitados.
Os da coluna anterior dividem-se em um grupo medial (que está presente em
toda a extensão da medula e inerva a musculatura axial, ou seja, o "tronco" do
corpo) e um grupo lateral (responsável por inervar a musculatura apendicular
— os membros —, presente por isso apenas nas intumescências cervical e
lombar, que dão origem respectivamente aos plexos braquial e lombossacral
para inervar os membros superiores e inferiores). No núcleo lateral, os
neurônios mais mediais inervam a musculatura proximal dos membros,
enquanto os mais laterais inervam a musculatura distal. A coluna posterior é
mais confusa e rica em núcleos, mas possui dois deles bem destacados: o
núcleo torácico ou dorsal (presente apenas de T1 a L2, possui neurônios que se
comunicarão com o cerebelo, responsáveis pela propriocepção inconsciente) e a
substância gelatinosa (responsável pelo "portão da dor", um mecanismo que
regula a entrada de impulsos dolorosos no sistema nervoso).
Pelos funículos passam as fibras ascendentes e descendentes que
percorrem o interior da medula, ou seja, o interior da "parte baixa" do sistema
nervoso central. Como vimos, conjuntos de fibras no SNP são chamados de
nervos; no SNC são tratos, fascículos ou lemniscos, dependendo de sua
espessura. Esses tratos, fascículos e lemniscos estarão percorrendo os funículos
da medula. Serão estudados em mais detalhes nos próximos capítulos. Os
neurônios que percorrem os funículos são chamados de cordonais, enquanto
aqueles eferentes que partem das colunas anteriores e laterais são chamados
de radiculares (divididos entre viscerais e somáticos). Essa divisão não é muito
importante, mas saiba que ela existe. Os neurônios cordonais são divididos em
neurônios de projeção e neurônios de associação, e essa é a parte importante.
As fibras dos neurônios de projeção são sempre longas e ascendentes, saindo
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Figura 4.2 – Raízes medulares. Observe que nesta imagem estão representados dois segmentos
medulares (projetando um par de raízes ventrais e dorsais cada).
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Figura 4.3 – Vista transversal da medula. As colunas do H medular podem ser chamadas também de
cornos. Alguns autores usam o termo “coluna” para se referir aos funículos, por isso tenha cuidado
para não confundir. As duas nomenclaturas estão corretas.
Meninges medulares
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dita vai só até L2? A porção final do saco dural é, então, uma região desprovida
de medula). A do meio é a aracnóide, e a mais interna chama-se pia-máter. A
pia-máter, tal como a dura-máter, também não acaba junto com a medula: ela
continua até o hiato sacral, perfurando o fundo do saco dural (que terminou na
vértebra S2, claramente antes do hiato sacral) e formando o filamento terminal.
Imagine um saco dentro de outro saco; o saco interno é mais fino mas mais
longo, perfurando a parte inferior do externo antes de terminar. Essa parte final
perfurante do saco interno (a pia-máter) é o que se chama de filamento
terminal.
Uma vez que as meninges formam três camadas, obviamente há um
espaço entre cada uma delas. São os espaços meníngeos. O espaço entre a
dura-máter e a camada óssea externa às meninges (o periósteo do canal
vertebral) chama-se espaço epidural (ou extradural) e contém tecido adiposo e
um plexo venoso (o plexo venoso vertebral interno). O espaço subdural (entre
a dura-máter e a aracnóide) é virtual, isto é, na prática não existe muito
claramente, já que as duas são intimamente relacionadas. O espaço
subaracnóideo está sendo escrito em negrito, e por isso o astuto leitor já
percebeu que é de todos o mais importante: localizado entre a aracnóide e a
pia-máter, é onde fica o líquor (ou líquido cerebroespinhal ou ainda líquido
encefalorraquidiano) que circula pela medula. O líquor é fundamental para o
sistema nervoso central, pois serve como um lubrificante que impede o
desgaste pelo atrito e amortece qualquer impacto sofrido pelo corpo, ajudando
a proteger o SNC.
"As únicas pessoas normais são aquelas que você não conhece bem."
— Alfred Adler, psiquiatra austríaco do século XX.
Referências
1. Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Neurociências: Desvendando o Sistema
Nervoso. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
2. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11th ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2006.
3. Haines DE. Neurociência Fundamental. 3rd ed. São Paulo: Elsevier; 2006.
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4. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Princípios da Neurociência. 4th ed.
Barueri: Manole; 2003.
5. Lent R. Cem Bilhões de Neurônios. 1st ed. São Paulo: Atheneu; 2005.
6. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional. 2nd ed. São Paulo: Atheneu; 2006.
7. Rubin M, Safdieh JE. Netter Neuroanatomia Essencial. 1st ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2008.