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NATHALIE RIBEIRO ARTIGAS
GRUPO FISIOWORK
Porto Alegre / RS
2021
Fundamentos das Neurociências e do Movimento Humano
Ilustração da formação do tubo neural por meio da fusão das pregas neurais.
Fonte.: MOORE. K.L. Embriologia Humana. 9ªEd. Elsevier. Rio de Janeiro. 2003.
No embrião com 1 mês de vida intrauterina o tubo neural dá origem a elementos do
Sistema Nervoso Centra, já a crista neural dará origem a elementos do Sistema Nervoso
Periférico.
O tubo neural se fecha primeiro no centro, em seguida a porção superior fecha e depois
a inferior. Assim, permanece nas extremidades cranial e caudal do embrião, dois orifícios que
são as últimas partes do Sistema Nervoso a se fecharem. Estes são denominados de:
- Neuróporo rostral: orifício superior (rostral) que irá originar elementos do encéfalo,
inicialmente denominado de arquencéfalo (encéfalo primitivo).
- Neuróporo caudal: orifício inferior (caudal) que dará origem à medula espinhal.
O neuróporo rostral (abertura anterior) fechará por volta do 25º dia; e a abertura caudal,
o neuróporo caudal, vai se fechar dois dias mais tarde. Antes do fechamento do neuróporos,
a cavidade do tubo neural é preenchida por líquido amniótico, após seus fechamentos a
cavidade passa então a ser preenchida por líquido ependimário. O termo “líquido
cefalorraquidiano” (LCR) só será usado quando surgem os plexos coróides.
Na quinta semana de desenvolvimento, dilatações aparecem na extremidade craniana
do tubo neural. Três vesículas primitivas aparecem primeiro (prosencéfalo, mesencéfalo e
rombencéfalo) e, posteriormente, elas se desenvolvem em cinco vesículas secundária, pois o
prosencéfalo e o rombencéfalo sofrem estrangulamento, dando origem, cada um deles, a duas
outras vesículas.
O prosencéfalo divide-se em telencéfalo (hemisférios cerebrais) e diencéfalo (tálamo e
hipotálamo). O rombencéfalo divide-se em metencéfalo (ponte e cerebelo) e mielencéfalo
(bulbo). Segue ilustração para melhor compreensão do desenvolvimento do sistema nervoso:
2.1 Neurônios
3. SINAPSES
A) Um potencial de ação chega ao terminal pré-sináptico causando abertura dos canais de Ca²+
dependentes de voltagem na zona ativa. Os filamentos cinza representam os locais de
ancoramento e liberação na zona ativa.
B) A abertura dos canais de Ca²+ produz uma alta concentração de Ca²+ intracelular perto das
zonas ativas, levando as vesículas contendo neurotransmissores a se fundirem com a
membrana celular pré-sináptica e a liberarem seu conteúdo na fenda sináptica (processo
denominado exocitose).
Um neurotransmissor pode ser definido como uma substância que é liberada por um
neurônio e que afeta um alvo específico, que pode ser outro neurônio ou um órgão efetor como
um músculo ou uma glândula. É importante lembrar que a interação dos neurotransmissores com
os receptores em geral é transitória, durando milissegundos a minutos, mas pode gerar alterações
de longo prazo na célula-alvo, com duração de horas ou até de dias.
Os transmissores químicos que carregam um sinal através do intervalo da sinapse
podem ser de dois tipos:
- Neurotransmissor excitatório (+): substâncias químicas excitadoras. Estas são as
substâncias que passam a mensagem para o próximo neurônio, que em seguida, começa as
mudanças elétricas que darão origem a sinais a serem produzidos e passados ao longo do axônio.
- Neurotransmissor inibitório (-): substâncias químicas inibidoras. Sua função é evitar
que um sinal seja produzido em outro neurônio.
Segue quadro informando os principais neurotransmissores e seu impacto na vida
diária.
4. SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)
Encéfalo:
1 - Telencéfalo (ou cérebro)
2 – Diencéfalo (tálamo,
hipotálamo, epitálamo)
3 - Tronco encefálico:
3.1 - Mesencéfalo
3.2 – Ponte
3.3 – Bulbo
4 – Cerebelo
5 - Medula espinhal
No SNC há uma organização espacial dos neurônios e seus corpos celulares, dendritos
e botões terminais que conferem um arranjo organizado dessas células especializadas.
A substância cinzenta corresponde a aproximadamente 40% do SNC e é o local onde
ocorrem a comunicação sináptica e a integração neural. É constituída basicamente de corpos
celulares, dendritos e botões terminais que, em conjunto, formam arranjos de aparência cinza.
No encéfalo localiza-se na parte mais externa, formando o córtex cerebral, já na medula
encontra-se na região mais interna formando o chamado “H” medular.
A substância branca, compõe 60% do SNC e possui grande parte de suas fibras
mielinizadas (são os prolongamentos dos neurônios), o que dá o aspecto branco ao interior
do cérebro e a parte externa da medula, como é possível observar na seguinte figura.
Imagem ilustrativa da substância cinzenta e a branca
Fonte: VANPUTTE; REGANM; RUSSO, 2016.
O córtex cerebral: que consiste em uma fina camada externa, com milímetros de
espessura, que concentra funções encefálicas superiores.
O sistema límbico: que funciona como um elo entre reações mais primitivas do nosso
corpo e respostas de funções cognitivas superiores.
4.2 Telencéfalo
Vale ressaltar que a divisão em lobos não corresponde a uma divisão funcional, pois
em um mesmo lobo há áreas corticais de funções diferentes. As camadas do córtex cerebral
variam em sua composição de células, e as diferentes regiões do córtex cerebral variam a
combinação de camadas que apesentam. Foi com base nessas apresentações que
Broadmann fez a delimitação das 52 áreas do córtex, ilustradas abaixo.
4.4 Diencéfalo:
4.5 Cerebelo:
O tronco encefálico possui ainda a chamada formação reticular, que pode ser definida
como sendo uma coleção difusa de neurônios que se prolongam por toda a estrutura
profundamente na substância cinzenta. Constituem uma rede de axônios que se projeta para
cima, em direção às divisões superiores do encéfalo, e para baixo, em direção à medula
espinal.
A medula espinhal é uma massa cilindroide de tecido nervoso situada dentro do canal
vertebral. No homem adulto ela mede aproximadamente 45, sendo um pouco menor na
mulher. A medula inclui um feixe de fibras nervosas, que são longos prolongamentos de
células nervosas. Elas se estendem da base do encéfalo até a região inferior da medula
espinhal.
Cranialmente a medula limita-se com o bulbo, aproximadamente ao nível do forame
magno do osso occipital. O limite caudal da medula no adulto situa-se geralmente em L2. A
medula termina afinando-se para formar um cone, o cone medular, que continua com um
delgado filamento meníngeo, o filamento terminal. Seu calibre não é uniforme, pois ela
apresenta duas dilatações denominadas de intumescência cervical e intumescência
lombar, que correspondem às áreas em que fazem conexão com as grossas raízes nervosas
que formam o plexo braquial e lombossacral.
A um nível abaixo da segunda vértebra lombar encontramos apenas as meninges e as
raízes nervosas dos últimos nervos espinhais, que dispostas em torno do cone medular e
filamento terminal, constituem, em conjunto, a chamada cauda equina.
A medula espinhal leva e traz informações do encéfalo e de todas as partes do corpo
(exceto informações da cabeça que são supridas pelos nervos cranianos). Os dados
provenientes dos órgãos do sentidos nas diferentes partes do corpo são coletados via nervos
espinhais e transmitidos via medula espinhal ao cérebro. A medula espinal, também envia
informação motora como os comandos de movimentos do cérebro para o corpo.
O SNP é formado por nervos, gânglios e órgãos terminais, sendo que os nervos podem
ser do tipo sensitivos (aferentes), motores (eferentes) ou de ambos os tipos (mistos). Há 12
nervos cranianos e 31 espinhais no SNP, além dos gânglios dorsais (sensitivos) e viscerais
(motores). As terminações nervosas aferentes são sensitivas, formadas por receptores, ao
passo que as terminações nervosas eferentes são do tipo motoras, formadas pelas junções
neuroefetoras. As junções neuroefetoras são formadas por placas motoras na musculatura
esquelética somática, e por glândulas na musculatura lisa e cardíaca visceral.
Os nervos espinais são a comunicação entre a medula espinal e as diversas regiões
do corpo. Cada nervo se divide em dois feixes de axônios, chamados de raízes nervosas,
que conectam a um segmento específico da medula.
A raiz dorsal de cada nervo possui a característica de conduzir informações sensoriais
do corpo em direção ao SNC. Nos gânglios das raízes destes nervos encontramos corpos
celulares de neurônios sensoriais. Já, as raízes ventrais são responsáveis pela informação
que desce do SNC em direção aos músculos e glândulas.
A conexão entre o SNP e o SNC ocorre pela ação desses nervos, que, de acordo com
sua localização, podem ser classificados como nervos espinhais ou cranianos. Os nervos
cranianos são 12 pares, e são responsáveis pela conexão com o encéfalo, inervando as
estruturas da região do pescoço e da cabeça. Já, os nervos espinhais são ao total 31 pares
no corpo humano, e eles são os conectivos com a medula espinhal, sendo responsáveis pela
conexão com a medula espinhal e, portanto, se estendem por toda coluna, acompanhando as
vertebras.
A imagem a seguir ilustra os 12 pares de nervos cranianos.
Ilustração os pares de nervos cranianos.
Fonte: Google imagens
A área da pele inervada por axônios sensitivos de cada raiz nervosa, que corresponde
a um segmento medular é chamada de dermátomo e o conjunto de fibras musculares
inervadas por axônios motores de cada raiz nervosa, de cada segmento medular, é chamada
de miótomo.
O SNP pode ser classificado conforme sua função em: Sistema nervoso somático
(responsável por ativação voluntária do sistema muscular esquelético) e sistema nervoso
autônomo (responsável pelas respostas involuntárias do musculo liso, cardíaco e sistema
endócrino).
6. NEUROPLASTICIDADE
6.1 Habituação:
Uma lesão do SNC desencadeia uma série de alterações da função neuronal, entre
elas a deterioração dos neurônios. Independentemente de o traumatismo ocorrer por um
mecanismo direto ou indireto, as alterações na função neural podem incluir:
- Interrupção das projeções axonais das áreas lesadas;
- Desnervação dos neurônios inervados pelos neurônios lesados
- Remoção de alguns neurônios em sua totalidade
Além disso podem ocorrer efeitos indiretos da lesão como: redução do fluxo sanguíneo,
alteração do líquido cefalorraquidiano e alteração no metabolismo cerebral.
O período de maior recuperação neurológica ocorre entre 3 a 6 meses após lesão, fase
de grande potencial de plasticidade cerebral. Inicialmente o organismo estará focado na
resolução eventos locais através da redução do edema, reabsorção de toxinas locais,
melhora da circulação local e recuperação parcial do dano neural. O segundo mecanismo
fisiológico que ocorre após a lesão neurológica é denominado de neuroplasticidade tardia e
envolve o brotamento colateral e a ativação de vias previamente latentes.
A repetição de estímulo específico torna necessária a síntese e a ativação de novas
proteínas que alteram a excitabilidade neuronal e promovem o crescimento de novas
conexões sinápticas, especialmente na espinha dendrítica. A Potenciação de longa duração
(LTP) é essencial para a recuperação neural após uma lesão, para o aprendizado e memória
e na conversão de sinapses silenciosas em sinapses ativas.
A capacidade de formação de novos brotos e crescimento dos axônios pode ser
programada geneticamente ou pode depender do meio. Existe uma classe de proteínas
regenerativas, as quais promovem esse evento e são denominados fatores tróficos.
Fatores tróficos ligam-se aos seus receptores nos terminais axônicos são internalizados
pelo mecanismo de endocitose e transportados até o corpo celular. No soma, o DNA é ativado
e promove o aumento de organelas citoplasmáticas favorece o crescimento de dendritos e
axônios.
Exemplos de fatores Neurotróficos:
NGF - fator de crescimento do nervo
BDNF - fator neurotrófico derivado do cérebro
Neurotrofinas 3, 4, 5 e 6
CTNF - fator neurotrófico ciliar
GDNF - fator neurotrófico derivado da glia
aFGF - fator de crescimento fibroblástico ácido
bFGF - fator de crescimento fibroblástico básico
EGF - fator de crescimento epidérmico
Além dos fatores Neurotróficos, uma série se fatores ambientais e sociais também
influenciam significativamente a chance de recuperação celular pós lesão neurológica, entre
eles podemos citar:
- Características da lesão: tempo, extensão, local.
- Biografia do paciente: idade, HPP, história social, prática de atividades prévias.
- Informações sobre a reabilitação: tipos de terapia, início e duração, medicamentos,
ambiente terapêutico.
- Estado emocional e cognitivo: motivação, depressão, comunicação e cognição.