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NEUROANATOMIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.
NERVOS CRANIANOS
Os nervos cranianos são aqueles que estabelecem conexão direta entre o encéfalo e
estruturas periféricas. Existem 12 pares de nervos cranianos, que saem do encéfalo e que,
depois de passar pelos forames e fissuras do crânio, distribuem-se para a cabeça
(principalmente), pescoço e outras partes do corpo. A maioria deles (do III – XII) liga-se ao
tronco encefálico, excetuando-se apenas os nervos olfatórios (I par) e ópticos (II par), que se
ligam, respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo.
Resumidamente, temos: os pares III (oculomotor), IV (troclear) e VI (abducente)
inervam a musculatura do olho; o V par (trigêmeo) é assim denominado em virtude de seus
três ramos: nervos oftálmico, maxilar e mandibular; o VII (facial) compreende o nervo facial
propriamente dito (raiz motora) e o nervo intermédio (raiz sensitiva e visceral do nevo facial); o
VIII par (vestíbulo-coclear) apresenta dois componentes distintos: o componente vestibular
(relacionado ao aparelho vestibular e, portanto, ao equilíbrio) e o coclear (relacionado à cóclea
e, portanto, à audição); o X par (vago) é também chamado de pneumogástrico (pois é o
principal componente parassimpático para estruturas viscerais do tórax e abdome); já o XI par
(acessório) difere dos demais pares cranianos por ser formado por uma raiz craniana (bulbar)
e outra espinhal; o XII par é motor para a musculatura da língua.
Abaixo, tem-se uma relação dos 12 pares cranianos e algumas de suas principais
funções:
I. Nervo Olfatório: é um nervo totalmente sensitivo que se origina no teto da cavidade nasal e leva estímulos olfatórios
para o bulbo e trato olfatório, os quais são enviados até áreas específicas do telencéfalo.
II. Nervo Óptico: nervo puramente sensorial que se origina na parte posterior do globo ocular (a partir de prolongamentos
de células que, indiretamente, estabelecem conexões com os cones e bastonetes) e leva impulsos luminosos
relacionados com a visão até o corpo geniculado lateral e, daí, até o córtex cerebral relacionado com a visão.
III. Nervo Oculomotor: nervo puramente motor que inerva a maior parte dos músculos extrínsecos do olho (Mm. oblíquo
inferior, reto medial, reto superior, reto inferior e levantador da pálpebra) e intrínsecos do olho (M. ciliar e esfíncter da
pupila). Indivíduos com paralisia no III par apresentam dificuldade em levantar a pálpebra (que cai sobre o olho), além
de apresentar outros sintomas relacionados com a motricidade do olho, como estrabismo divergente (olho voltado
lateralmente).
IV. Nervo Troclear: nervo motor responsável pela inervação do músculo oblíquo superior. Suas fibras, ao se originarem no
seu núcleo (localizado ao nível do colículo inferior do mesencéfalo), cruzam o plano mediano (ainda no mesencéfalo) e
partem para inervar o músculo oblíquo superior do olho localizado no lado oposto com relação à sua origem. Além
disso, é o único par de nervos cranianos que se origina na parte dorsal do tronco encefálico (caudalmente aos colículos
inferiores).
V. Nervo Trigêmeo: apresenta função sensitiva (parte oftálmica, maxilar e mandibular da face) e motora (o nervo
mandibular é responsável pela motricidade dos músculos da mastigação: Mm. temporal, masseter e os pterigoideos).
Além da sensibilidade somática de praticamente toda a face, o componente sensorial do trigêmeo é responsável ainda
pela inervação exteroceptiva da língua (térmica e dolorosa).
VI. Nervo Abducente: nervo motor responsável pela motricidade do músculo reto lateral do olho, capaz de abduzir o globo
ocular (e, assim, realizar o olhar para o lado), como o próprio nome do nervo sugere. Por essa razão, lesões do nervo
abducente podem gerar estrabismo convergente (olho voltado medialmente).
VII. Nervo Facial: é um nervo misto e que pode ser dividido em dois componentes: N. facial propriamente dito (raiz motora)
e o N. intermédio (raiz sensitiva e visceral). Praticamente toda a inervação dos músculos da mímica da face é
responsabilidade do nervo facial; por esta razão, lesões que acometam esse nervo trarão paralisia dos músculos da
face do mesmo lado (inclusive, incapacidade de fechar o olho). O nervo intermédio, componente do próprio nervo facial,
é responsável, por exemplo, pela inervação das glândulas submandibular, sublingual e lacrimal, além de inervar a
sensibilidade gustativa dos 2/3 anteriores da língua.
VIII. Nervo Vestíbulo-coclear: é um nervo formado por dois componentes distintos (o N. coclear e o N. vestibular); embora
ambos sejam puramente sensitivos, assim como o nervo olfatório e o óptico. Sua porção coclear traz impulsos gerados
na cóclea (relacionados com a audição) e sua porção vestibular traz impulsos gerados nos canais semi-circulares
(relacionados com o equilíbrio).
IX. Nervo Glossofaríngeo: responsável por inervar a glândula parótida, além de fornecer sensibilidade gustativa para o 1/3
posterior da língua. É responsável, também, pela motricidade dos músculos da deglutição.
X. Nervo Vago: considerado o maior nervo craniano, ele se origina no bulbo e se estende até o abdome, sendo o principal
representante do sistema nervoso autônomo parassimpático. Com isso, está relacionado com a inervação
parassimpática de quase todos os órgãos torácicos e abdominais. Traz ainda fibras aferentes somáticas do pavilhão e
do canal auditivo externo.
XI. Nervo Acessório: inerva os Mm. esternocleidomastoideo e trapézio, sendo importante também devido as suas
conexões com núcleos dos nervos oculomotor e vestíbulo-coclear, por meio do fascículo longitudinal medial, o que
garante um equilíbrio do movimento dos olhos com relação à cabeça. Na verdade, a parte do nervo acessório que
inerva esses músculos é apenas o seu componente espinhal (5 primeiros segmentos medulares). O componente bulbar
do acessório pega apenas uma <carona= para se unir com o vago, formando, em seguida, o nervo laríngeo recorrente.
XII. Nervo Hipoglosso: inerva a musculatura da língua.
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A figura anterior mostra, de forma esquemática e reduzida, a origem aparente e a função fisiológica de cada nervo craniano.
Infelizmente para o estudante, as células nervosas que compõem os nervos cranianos não estão dispostas de forma simples, como
acontece com os neurônios da medula espinhal: os corpos dos neurônios dos nervos cranianos estão localizados em núcleos
(conjunto de corpos de neurônios circundados por substância branca) encontrados em diferentes localizações no tronco encefálico.
Ainda mais, enquanto que os nervos espinhais têm apenas fibras aferentes somáticas, fibras eferentes somáticas e fibras
eferentes e aferentes viscerais, os nervos cranianos têm, além destas, fibras aferentes somáticas especiais (por exemplo, as visuais e
auditivas) e fibras aferentes viscerais especiais (por exemplo, as gustatórias), dentre outras. Além disso, um mesmo nervo craniano
pode carrear mais de um tipo de fibra.
Por essa razão, este capítulo traz, de forma didática e resumida, uma abordagem inicial e simplificada de cada nervo
craniano, abordando sua origem real e aparente, anatomia descritiva e funcionalidade. Após esta primeira abordagem, faremos alusão
aos núcleos dos nervos cranianos (e suas relações topográficas) e à classificação de suas fibras. Por fim, abordaremos alguns
reflexos integrados que estão relacionados às diversas conexões existentes entre alguns dos núcleos dos nervos cranianos.
Feixes destas fibras passam pelos orifícios da placa cribriforme do osso etmoide para fazer sinapses com células (mitrais)
localizadas no bulbo olfatório. Deste, parte o trato olfatório, uma estreita faixa de substância branca formada pelos axônios centrais
das células mitrais.
O trato olfatório, ao atingir a região da substância perfurada anterior, se divide nas estrias olfatórias medial e lateral. A
divisão lateral conduz axônios à área olfatória do córtex cerebral (áreas periamigdaloide e pré-piriforme – áreas que estabelecem
conexões com o sistema límbico responsáveis por respostas emocionais e autonômicas a determinadas sensações olfatórias); a
divisão medial conduz fibras que cruzam o plano mediano através da comissura anterior para alcançar o bulbo olfatório do lado
oposto.
Retina temporal (lateral) capta estímulos luminosos do campo nasal (campo mais medial) não cruza.
Retina nasal (medial) capta estímulos luminosos do campo temporal (campo mais lateral) cruza no quiasma óptico.
A maioria das fibras do tracto óptico termina por sinapse em neurônios localizados no corpo geniculado
lateral, uma pequena projeção localizada próxima à parte posterior do tálamo (e de onde parte as radiações
ópticas ou tracto genículo-calcarino, que segue até o córtex visual primário no sulco calcarino do lobo
occipital). Contudo, algumas de suas fibras ainda passam para o núcleo pré-tectal e para o colículo superior
(integrando certos reflexos visuais), além de fibras que seguem para o hipotálamo que estão relacionadas ao
ciclo circadiano.
Diante da complexidade anatômica da via óptica, nota-se que lesões em diferentes níveis da mesma
causarão distúrbios visuais específicos, mas que podem facilmente indicar o ponto acometido. Tais
lesões serão mais bem detalhadas em próximos capítulos. Contudo, em resumo, temos:
Lesão de um nervo óptico (A, na figura ao lado): cegueira total do olho acometido.
Lesão da parte mediana ou central do quiasma óptico (B): hemianopsia heterônima bitemporal
por lesão das fibras da retina nasal (como ocorre no tumor de hipófise com grandes
dimensões).
Lesão da parte lateral do quiasma óptico (C): hemianopsia nasal do olho do mesmo lado da
lesão (por prejuízo das fibras da retina temporal, que não cruzam no quiasma).
Lesão do tracto óptico (D): hemianopsia homônima contralateral à lesão (esquerda, se a lesão
for no tracto óptico direito, como mostra o exemplo), mas com ausência do reflexo fotomotor
(pois a lesão acontece antes que as fibras do tracto óptico se destaquem para alcançar a área
pré-tectal, responsável por integrar tal reflexo, como veremos adiante).
Lesão da radiação óptica ou do córtex visual primário (D e F): hemianopsia homônima
contralateral à lesão com manutenção do reflexo fotomotor.
Nervo oculomotor
Origem real (núcleos) Núcleo principal do nervo ocolomotor (localizado no mesencéfalo) – coluna eferente somática
Núcleo acessório do oculomotor (Edinger-Westphal) – coluna eferente visceral geral
Origem aparente no encéfalo Sulco medial do pedúnculo cerebral
Entrada na dura-máter Tecto do seio cavernoso
Origem aparente no crânio Fissura orbital superior
Tipos de fibras Fibras eferentes somáticas e eferentes viscerais gerais
Função Somática: motricidade para o M. levantador da pálpebra superior; Mm. retos superior,
medial e inferior; M. oblíquo inferior.
Visceral: atividade parassimpática para o M. ciliar (promove a acomodação do cristalino) e
M. esfíncter da pupila (promove miose).
OBS: a inervação simpática relacionada com o diâmetro da pupila (motricidade do
músculo radial da íris) é oriunda de fibras que se originam do gânglio cervical superior.
O nervo oculomotor tem dois núcleos motores: o núcleo principal (localizado na parte anterior da substância cinzenta que
circunda o aqueduto cerebral do mesencéfalo, a altura do colículo superior) e o núcleo parassimpático acessório (núcleo de Edinger-
Westphal).
O núcleo principal do oculomotor recebe fibras córtico-
nucleares dos dois hemisférios cerebrais. Também recebe
fibras tecto-bulbares do colículo superior e, por meio dessa via,
recebe informações do córtex visual. De igual modo, recebe
fibras do fascículo longitudinal medial, pelo qual é conectado
aos núcleos do IV, VI e VIII pares cranianos.
O núcleo de Edinger-Westphal, por sua vez, está
situado por trás do núcleo principal. Nele, estão localizados
neurônios cujos axônios formam fibras pré-ganglionares que
acompanham as outras fibras oculomotoras até a órbita. Aí,
fazem sinapse no gânglio ciliar com as fibras pós-
ganglionares, que cursam pelos nervos ciliares curtos para o
músculo constrictor da pupila e para os músculos ciliares. O
núcleo parassimpático recebe fibras córtico-nucleares para o
reflexo da acomodação e fibras originadas no núcleo pré-tectal
(responsáveis por integrar os reflexos fotomotor direto e
consensual).
Anatomicamente, o nervo oculomotor emerge da
superfície anterior do mesencéfalo e, ao sair da fossa
interpeduncular, estabelece estrita relação com as artérias
cerebelar superior e cerebral posterior (o que é facilmente visto
em peças anatômicas). Em seguida, continua pela fossa
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Nervo troclear
Origem real (núcleos) Núcleo do nervo troclear (localizado no mesencéfalo, ao nível do colículo inferior)
Origem aparente no encéfalo Dorsalmente, logo abaixo do colículo inferior
Entrada na dura-máter Margem lateral do seio cavernoso
Origem aparente no crânio Fissura orbital superior
Tipos de fibras Fibras eferentes somáticas
Função Somática: motricidade para o M. oblíquo superior (olhar para baixo e medialmente).
O núcleo do nervo troclear fica situado na parte anterior da substância cinzenta que circunda o aqueduto cerebral do
mesencéfalo. Fica localizado inferiormente ao núcleo do oculomotor, ao nível do colículo inferior. Suas fibras nervosas, após partirem
do núcleo, cursam para trás, cruzam o plano mediano e saem pela superfície posterior do mesencéfalo.
O núcleo troclear recebe fibras córtico-nucleares dos dois hemisférios cerebrais. Recebe fibras tecto-bulbares, que conectam
ao córtex visual, por meio do colículo superior. Recebe também fibras do fascículo longitudinal medial, pelo qual é conectado aos
núcleos do III, VI e VIII nervos cranianos.
O nervo troclear, além
de ser o mais delgado de todos
os nervos cranianos, é o único a
sair da superfície posterior do
tronco encefálico e o único a
cruzar o plano mediano (antes
mesmo de sair através de sua
origem aparente). O nervo
troclear passa, então, pela fossa
craniana média, cursando pela
parede lateral do seio cavernoso,
entrando na órbita pela fissura
orbitária superior.
Tal nervo é responsável
pela motricidade do M. oblíquo
superior do globo ocular, tendo
função inteiramente motora:
participa dos movimentos
oculares para baixo e
medialmente.
Nervo abducente
Origem real (núcleos) Núcleo do nervo abducente (localizado na ponte, profundamente ao colículo facial)
Origem aparente no encéfalo Sulco bulbo-pontino, entre a ponte e a pirâmide bulbar
Entrada na dura-máter Entra no terço superior do clivo, passando pelo ápice superior da parte petrosa, passando através
do seio cavernoso, lateralmente à A. carótida interna (no local onde está se contorce formando o
sifão carotídeo). Aneurismas da carótida nessa região podem prejudicar o nervo abducente.
Origem aparente no crânio Fissura orbital superior
Tipos de fibras Fibras eferentes somáticas
Função Somática: motricidade para o M. reto lateral (abdução do olho).
O nervo abducente é formado por fibras que se originam em um pequeno núcleo situado profundamente na parte superior do
assoalho do quarto ventrículo, na região conhecida como colículo facial (neste ponto, o núcleo abducente é circundado por fibras do
nervo facial, sendo estas as responsáveis pela formação deste colículo).
O núcleo do nervo abducente recebe fibras do trato córtico-nuclear dos dois hemisférios cerebrais. Recebe ainda o tracto
tecto-bulbar do colículo superior (por meio do qual o córtex visual é conectado ao núcleo) e fibras do fascículo longitudinal medial
(pelo qual é conectado aos núcleos do III, IV e VIII pares cranianos).
As fibras do nervo abducente passam anteriormente pela ponte, emergindo no sulco entre a borda inferior da ponte e o bulbo.
Ele passa adiante, através do seio cavernoso, situado abaixo e lateral à artéria carótida interna. Em seguida, o nervo penetra na órbita
pela fissura orbitária superior.
O nervo abducente é inteiramente motor, inervando o músculo reto lateral, sendo, assim, o responsável pelos movimentos
laterais do globo ocular.
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OBS : Como vimos, os nervos troclear, abducente e oculomotor são nervos motores que penetram na órbita pela fissura orbital
superior, distribuindo-se aos músculos extrínsecos do bulbo ocular, que são os seguintes: elevador da pálpebra superior, reto
superior, reto inferior, reto medial, reto lateral, oblíquo superior, oblíquo inferior. Todos estes músculos são inervados pelo oculomotor,
com exceção do reto lateral e do oblíquo superior, inervados respectivamente, pelos nervos abducente e troclear. As fibras que
inervam os músculos extrínsecos do olho são classificadas como eferentes somáticas. O nervo oculomotor conduz ainda fibras
vegetativas, que vão à musculatura intrínseca do olho, a qual exerce ação sobre a pupila e o cristalino. O componente oftálmico do
nervo trigêmeo, por sua vez, traz informações de exteroceptivas da conjuntiva ocular (dor, tato, etc.).
Em virtude desta distribuição da inervação da musculatura do globo ocular, fica claro notar que lesões nestes nervos causam
desvios específicos do globo ocular que facilitam o diagnóstico:
Lesão do nervo abducente estrabismo convergente
Lesão do nervo oculomotor estrabismo divergente (com midríase no olho acometido)
Nervo trigêmeo
Origem real (núcleos) É o único nervo craniano que apresenta núcleos localizados nos três componentes do tronco
encefálico: núcleo mesencefálico do nervo trigêmeo (mesencéfalo); núcleo espinhal do nervo
trigêmeo (bulbo); núcleo sensitivo principal do trigêmeo (ponte); Núcleo motor do nervo trigêmeo
(ponte).
Origem aparente no encéfalo Margem lateral da ponte, dividindo a base dos braços da ponte
Entrada na dura-máter Penetra na parede lateral do seio cavernoso para formar o gânglio trigeminal.
Componentes o N. oftálmico (V1):
Saída na base do crânio: fissura orbital superior
Aferente somático geral: tentório do cerebelo; fronte, pálpebra, dorso do nariz; esclera;
córnea; células etmoidais, seio esfenoidal, cavidade nasal (parte anterior).
o N. Maxilar (V2):
Saída da base do crânio: forame redondo
Aferente somático geral: bochecha, pálpebra inferior, face lateral do nariz, lábio superior;
dentes e gengiva da maxila, seio esfenoidal, conchas nasais média e superior, palato,
tonsila palatina, faringe (teto).
o N. Mandibular (V3):
Saída da base do crânio: forame oval
Eferente visceral especial: músculos da mastigação, M. tensor do véu palatino, M. milo-
hioideo, M. digástrico (ventre anterior).
Aferente somático geral: pele da mandíbula, temporal, bochecha, orelha externa (parte
superior), meato acústico, membrana timpânica (externa); dentes e gengiva da mandíbula,
língua (2/3 anteriores), istmo da fauce.
O nervo trigêmeo é considerado um nervo misto, sendo o componente sensitivo consideravelmente maior. Possui, portanto,
uma raiz sensitiva e uma motora.
A raiz sensitiva é formada pelos
prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos
cujos corpos estão situados no gânglio trigeminal
(ou de Gasser, que se localiza no cavo ou impressão
trigeminal, sobre a parte petrosa do osso temporal).
Os prolongamentos periféricos dos neurônios
sensitivos do gânglio trigeminal formam, distalmente
ao gânglio, os três ramos do nervo trigêmeo: nervo
oftálmico, nervo maxilar e nervo mandibular,
responsáveis pela sensibilidade somática geral de
grande parte da cabeça, através de fibras que se
classificam como aferentes somáticas gerais. A raiz
motora do trigêmeo é constituída de fibras que
acompanham o nervo mandibular, distribuindo-se aos
músculos mastigatórios. O problema médico mais
frequentemente observado em relação ao trigêmeo é
a nevralgia, que se manifesta por crises dolorosas
muito intensas no território de um dos ramos do
nervo.
As três divisões primárias do nervo trigêmeo
são: (1) o nervo oftálmico (V1), que após atravessar
a dura-máter e entrar na parede lateral do seio
cavernoso, penetra na órbita pela fissura orbital
superior, onde se divide em três ramos (nervo
lacrimal, nervo frontal e nervo nasociliar); (2) o nervo
maxilar (V2) que, ao se afastar do gânglio trigeminal
penetrando no seio cavernoso, sai do crânio através
do forame redondo e, a seguir, sai pelo forame infra-
orbital; e (2) o nervo mandibular (V3), que sai da
base craniana pelo forame oval, inervando a região
facial inferior e os músculos da mastigação.
Como se sabe, os três componentes do N. trigêmeo estabelecem conexões com os quatro núcleos do trigêmeo, que estão
dispostos ao longo de todo tronco encéfalo praticamente em uma mesma coluna. São eles:
Núcleo do tracto mesencefálico: é um núcleo formado por neurônios unipolares que recebem fibras do chamado tracto
mesencefálico do trigêmeo, formado por fibras do próprio nervo trigêmeo. Este núcleo se estende para baixo, ocupando a
parte inferior do mesencéfalo e parte superior da ponte, onde é contínuo ao núcleo sensorial principal:
Núcleo sensorial principal do trigêmeo: núcleo situado na parte posterior da ponte, lateral ao núcleo motor do trigêmeo.
Embaixo, é contínuo com o núcleo espinhal do trigêmeo.
Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo: é um núcleo localizado no bulbo e que é praticamente contínuo ao núcleo sensorial
principal. Tal núcleo recebe fibras do chamado tracto espinhal do trigêmeo que, além de conter fibras do próprio nervo
trigêmeo, apresenta ainda terminações dos nervos cranianos VII (intermédio), IX (glossofaríngeo) e X (vago). Estas fibras
estão relacionadas com a inervação aferente somática geral do pavilhão auditivo. Note, portanto, que embora seja um núcleo
do V par craniano, o núcleo do tracto espinhal do trigêmeo também representa a origem real de outros nervos cranianos.
As sensações de dor/temperatura e de tato/pressão originadas na pele da face e nas membranas mucosas são conduzidas
por axônios cujos corpos celulares estão localizados no gânglio trigeminal. Os prolongamentos centrais dessas células se dividem e
se distribuem para os núcleos do trigêmeo da seguinte maneira:
Os impulsos proprioceptivos originados nos músculos da mastigação e dos músculos da face e extra-oculares são
conduzidos por fibras dos neurônios unipolares do tracto mesencefálico do trigêmeo;
Os impulsos de temperatura e dor cursam por fibras que terminam exclusivamente no núcleo do tracto espinhal do
trigêmeo (inclusive as fibras dos pares cranianos VII, IX e X que levam informações táteis de parte do pavilhão auricular);
Os impulsos de tato discriminativo (epicrítico) terminam exclusivamente no núcleo sensitivo principal do trigêmeo;
Os impulsos de tato protopático e pressão cursam por fibras que se bifurcam para ambos os núcleos: sensitivo principal e
espinhal do trigêmeo.
Nervo facial
Origem real (núcleos) Núcleo do nervo facial (ou motor principal, localizado na ponte); Núcleos parassimpáticos (núcleos
salivatório superior e lacrimal); Núcleo do tracto solitário; Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo.
Origem aparente no encéfalo Ângulo pontocerebelar, saindo entre o VI e o VIII par.
Saída da dura-máter e entrada Fundo do meato acústico interno (junto ao VIII par).
na base do crânio
Trajeto dentro da base do Canal do nervo facial, saindo no forame estilomastoideo.
crânio e saída
Tipos de fibras Nervo facial propriamente dito: fibras eferentes viscerais especiais.
Nervo intermédio: fibras eferentes viscerais gerais; fibras aferentes viscerais especiais (gustação);
fibras aferentes somáticas gerais (sensibilidade do pavilhão auditivo).
Função Motor: musculatura da mímica, Mm. auriculares; M. digástrico (ventre posterior); M.
estiloide; M. estapédio.
Sensorial geral: sensibilidade do pavilhão auditivo (junto ao IX e X pares cranianos).
Sensorial especial: gustação (2/3 anteriores da língua).
Parassimpático: glândula lacrimal, glândulas nasais, palatinas, glândulas submandibular e
sublingual.
Núcleos parassimpáticos: situam-se na ponte e são eles: núcleo salivatório superior (comanda a inervação das glândulas
sublingual e submandibular) e núcleo lacrimal. Este recebe fibras aferentes do hipotálamo e dos núcleos sensoriais do
trigêmeo (integrando a lacrimação reflexa). Tais núcleos originam fibras eferentes viscerais gerais, e seguem trajetos
específicos e complexos:
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As fibras destinadas às glândulas submandibular e sublingual acompanham o trajeto normal do nervo facial até se
destacar deste e alcançar o nervo lingual e o gânglio submandibular (gânglio parassimpático anexo ao nervo
lingual), de onde saem as fibras pós-ganglionares para as glândulas.
As fibras destinadas à glândula lacrimal destacam-se do nervo facial ao nível do joelho e percorrem,
sucessivamente, os seguintes nervos: nervo petroso maior nervo do canal pterigoideo gânglio pterigopalatino
N. maxilar (V2) N. zigomático N. zigomático-temporal N. lacrimal (ramo de V1) Glândula lacrimal.
Núcleo do tracto solitário: importante núcleo localizado no bulbo e que está relacionado com a sensação do paladar (além
de também estar relacionado com funções aferentes viscerais gerais). No caso do N. facial, o núcleo do tracto solitário
recebe as fibras aferentes viscerais especiais, responsáveis pelos impulsos gustativos originados nos 2/3 anteriores da
língua. Tais impulsos são captados, inicialmente, pelo próprio nervo lingual e, logo em seguida, passam para o chamado N.
corda do tímpano, através do qual ganham o nervo intermédio pouco antes de sua emergência no forame estilomastoideo.
Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo: recebe as fibras aferentes somáticas gerais carreadas pelo N. intermédio e
relacionadas com a pele de parte do pavilhão auditivo.
Em resumo, o núcleo motor do facial inerva os músculos da expressão facial, os músculos auriculares, o M. estapédio, o
ventre posterior do digástrico e o estilo-hioideo. O núcleo salivatório superior inerva as glândulas salivares e sublingual, além das
glândulas nasais e palatinas. O núcleo lacrimal inerva as glândulas lacrimais. O núcleo do tracto solitário recebe as fibras
gustatórias dos 2/3 anteriores da língua.
Nervo vestíbulo-coclear
Origem real (núcleos) Núcleos cocleares e vestibulares.
Origem aparente no encéfalo Ângulo ponto-cerebelar (abaixo do flóculo do cerebelo, lateralmente ao VII par).
Saída da dura-máter e entrada Fundo do meato acústico interno (junto ao VII par)
na base do crânio
Trajeto dentro da base do Em direção ao labirinto da porção petrosa do osso temporal.
crânio e saída
Tipos de fibras Fibras aferentes somáticas especiais (sentido físico).
Função Componente coclear: audição.
Componente vestibular: equilíbrio e integração com o movimento dos olhos.
Lesões do nervo vestíbulo-coclear causam diminuição da audição, por comprometimento da parte coclear do nervo (contudo,
o déficit auditivo é pequeno, uma vez que a representação cortical da audição é bilateral). Por comprometimento da parte
vestibular do nervo, ocorre vertigem (tontura), alterações de equilíbrio e enjoo. Ocorre também um movimento oscilatório dos
olhos denominado nistagmo.
Nervo glossofaríngeo
Origem real (núcleos) Núcleo ambíguo (motor); Núcleo salivatório inferior (parassimpático); Núcleo do tracto solitário
(sensibilidade especial e visceral); Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo (sensibilidade somática
do pavilhão auditivo).
Origem aparente no encéfalo Sulco lateral posterior, entre a oliva e o tubérculo cuneiforme.
Passagem através do crânio Forame jugular (junto ao X e XI)
Tipos de fibras Fibras eferentes viscerais especiais (para a musculatura da deglutição); Fibras eferentes viscerais
gerais (para a glândula parótida); Fibras aferentes somáticas gerais (para parte da pele do pavilhão
auditivo, junto ao VII e X); Fibras aferentes viscerais especiais (gustação); Fibras aferentes
viscerais gerais (sensibilidade visceral para o seio carotídeo).
Função Motor: Mm. da faringe (porção cranial ou motora); M. levantador do véu palatino; M. da úvula,
M. do palatoglosso, palatofaríngeo, M. constrictor da faringe e M. estilofaringeo
Parassimpático: glândula parótida e glândulas linguais.
Sensitivo (geral): túnica mucosa da faringe, tonsila palatina, plexo timpânico, seio carotídeo e
pavilhão auditivo.
Sensorial especial: língua (1/3 posterior)
O nervo glossofaríngeo é um nervo misto cujas funções podem ser explicadas ao conhecermos seus núcleos:
Núcleo ambíguo: este é o núcleo motor principal do glossofaríngeo, estando localizado no bulbo e, ao receber as fibras do
tracto córtico-nuclear, torna-se responsável por inervar músculos da deglutição (M. constrictor da faringe e M. estilofaríngeo).
Núcleo salivatório inferior: localizado no bulbo, este núcleo é responsável pelas fibras parassimpáticas que, por meio do
nervo glossofaríngeo, inerva a glândula parótida. Contudo, assim como ocorre com a glândula lacrimal, a trajetória destas
fibras é um pouco complexa: o neurônio parassimpático pré-ganglionar atinge o gânglio ótico por meio do ramo timpânico
do nervo glossofaríngeo, do plexo timpânico e do nervo petroso menor. As fibras pós-ganglionares passam, então, para a
glândula parótida através do nervo aurículo-temporal (que, por sua vez, é um ramo do nervo mandibular do trigêmeo).
Núcleo do tracto solitário: recebe informações gustatórias (do 1/3 posterior da língua) que trafegam desde os
prolongamentos periféricos do gânglio inferior do glossofaríngeo. Este núcleo envia as informações até o tálamo e para o
córtex do giro pós-central. O núcleo do tracto solitário recebe ainda informações viscerais gerais responsáveis pela
sensibilidade geral do 1/3 posterior da língua, faringe, úvula, tonsila, tuba auditiva, além do seio e corpo carotídeos
(responsáveis pela percepção da pressão arterial captada por barorreceptores).
Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo: recebe informações aferentes relacionadas à sensibilidade geral do pavilhão
auditivo e meato acústico interno, que cursam por neurônios localizados no gânglio superior do glossofaríngeo.
Nervo vago
Origem real (núcleos) Núcleo ambíguo (motor); Núcleo dorsal do vago (parassimpático); Núcleo do tracto solitário
(sensibilidade visceral especial e geral); Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo (sensibilidade
somática do pavilhão auditivo).
Origem aparente no encéfalo Sulco lateral posterior do bulbo.
Passagem através do crânio Forame jugular (junto ao IX e XI)
Tipos de fibras Fibras eferentes viscerais especiais (para músculos da faringe e da laringe); Fibras eferentes
viscerais gerais (para vísceras torácicas e abdominais); Fibras aferentes somáticas gerais (para
parte da pele do pavilhão auditivo, junto ao VII e IX); Fibras aferentes viscerais especiais (gustação
na região da epiglote); Fibras aferentes viscerais gerais (parte da faringe, laringe, traqueia, esôfago
e vísceras torácicas e abdominais).
Função Motor: Mm. da faringe (porção caudal), M. levantador do véu palatino, M. da úvula
Sensorial: base da língua (região da epiglote)
Sensitivo: meato acústico externo
Parassimpático: órgãos do abdome, pescoço e tórax.
O nervo vago é misto e essencialmente visceral, apresentando origem real em, basicamente, quatro núcleos:
Núcleo ambíguo: localizado profundamente, na formação reticular do bulbo, recebe fibras córtico-nucleares e envia axônios
que inervam os músculos constrictores da faringe e dos músculos intrínsecos da laringe.
Núcleo dorsal do vago: é um núcleo parassimpático localizado abaixo do trígono do vago, no assoalho do quarto ventrículo.
Este núcleo dá ao nervo vago fibras que são distribuídas para músculos involuntários dos brônquios, do coração, do esôfago,
do estômago, dos intestinos delgados e grosso, até o terço distal do cólon transverso. Ele recebe também fibras do
hipotálamo e do nervo glossofaríngeo (integrando o reflexo do seio carotídeo).
Núcleo do tracto solitário: recebe as sensações gustatórias que trafegam pelos axônios periféricos das células nervosas
situadas no gânglio inferior do nervo vago. Este núcleo também recebe informações viscerais gerais relacionadas com a
sensibilidade geral de vísceras torácicas e abdominais.
Núcleo espinhal do trigêmeo: recebe informações somáticas gerais do pavilhão auditivo e do meato acústico interno que
trafegam por neurônios localizados no gânglio superior do nervo vago.
Anatomicamente, o nervo vago emerge do sulco lateral posterior do bulbo sob a forma de filamentos radiculares que se
reúnem para formar o nervo vago. Ele emerge, então, do crânio através do forame jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando
no abdome.
Neste trajeto o nervo vago dá origem a vários ramos que inervam a faringe e a laringe, entrando na formação dos plexos
viscerais que promovem a inervação autônoma das vísceras torácicas e abdominais. O vago possui dois gânglios sensitivos: o gânglio
superior, situado ao nível do forame jugular; e o gânglio inferior, situado logo abaixo desse forame. Entre os dois gânglios reúne-se ao
vago o ramo interno do nervo acessório (que formará o nervo laríngeo recorrente).
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O nervo vago desce, verticalmente, pelo pescoço, dentro da bainha carotídea, junto com a veia jugular interna e com as
artérias carótidas interna e comum. O nervo vago direito entra no tórax, passa posterior ao pulmão direito e, ao entrar no abdome,
forma o tronco vagal posterior; O nervo vago esquerdo entra no tórax, cruzando o lado esquerdo do arco aórtico e desce para raiz do
pulmão esquerdo para depois alcançar o abdome (pela abertura esofágica do diafragma) e formar o tronco vagal anterior.
O palato mole é inervado pelo IX e X pares. Caso haja lesão em algum desses, a úvula, localizada
no palato mole, devido à paralisia das fibras do lado acometido, vai se projetar para o lado
contralateral à lesão. O exame é realizado solicitando-se ao paciente que abra a boca e diga <ah=.
Observa-se que há simetria na elevação do palato, se a úvula continua na linha mediana e se a rafe
mediana da faringe se eleva. Em lesões unilaterais, o palato do lado afetado não sobe e a úvula
desvia-se para o lado oposto ao da lesão devido à contração normal do palato. A rafe da faringe é
desviada para o lado são, lembrando o movimento de uma cortina puxada para um lado (sinal da
cortina).
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OBS : Note que os componentes funcionais das fibras dos nervos facial, glossofaríngeo e vago são semelhantes entre si e estão
sintetizados na tabela a seguir:
Nervo acessório
Origem real (núcleos) Núcleo ambíguo (motor) e Núcleo do nervo acessório.
Origem aparente no encéfalo Raiz craniana: sulco lateral posterior do bulbo.
Raiz espinhal: cinco primeiros segmentos da medula cervical.
Passagem através do crânio Forame jugular (junto ao IX e X)
Tipos de fibras Fibras eferentes viscerais especiais (para músculos da laringe através do nervo laríngeo recorrente
e para os músculos trapézio e estenocleidomastoideo); Fibras eferentes viscerais gerais (inervação
de vísceras torácicas juntamente com fibras vagais).
Função Motricidade para músculos do palato mole, da faringe e da laringe, controlando também os
movimentos dos dois grandes músculos do pescoço.
Funcionalmente, em resumo, as fibras oriundas da raiz craniana, que formam o ramo interno do nervo acessório, apresentam
fibras eferentes viscerais especiais (inervam os músculos da laringe através do nervo laríngeo recorrente) e fibras eferentes viscerais
gerais (inervam viscerais torácicas juntamente com fibras vagais); a raiz espinhal, que forma a raiz externa do nervo acessório,
apresenta fibras eferentes viscerais especiais por inervar os músculos trapézio e esternocleidomastoideo (que, embora haja
controvérsias, diz-se que tais músculos apresentam origem branquiomérica).
Nervo hipoglosso
Origem real (núcleos) Núcleo do nervo hipoglosso (na região do trígono do hipoglosso, medialmente ao trígono do vago
no assoalho do IV ventrículo).
Origem aparente no encéfalo Sulco lateral anterior do bulbo (entre a piramide e a oliva bulbar)
Passagem através do crânio Canal do nervo hipoglosso
Tipos de fibras Fibras eferentes somáticas (para a musculatura da língua)
Função Motor: Mm. da língua; M. estiloglosso, M. hioglosso e M. genioglosso.
Quando o nervo hipoglosso é acometido por lesões, há paralisia de metade da musculatura da língua. Este fator faz com que
a língua, ao ser projetada para fora, se desloque no mesmo sentido da lesão. Isso acontece por ação da musculatura do
lado normal não contrabalanceada pela musculatura da metade paralisada. Além disso, pode haver atrofia e fibrilação (por
caracterizar uma síndrome do neurônio inferior) da musculatura paralisada, o que evidencia ainda mais o deslocamento para
o lado lesado.
Devemos lembrar que a maior parte do núcleo do hipoglosso recebe fibras do tracto córtico-nuclear dos dois hemisférios
cerebrais; contudo, a parte do núcleo que inerva o músculo genioglosso só recebe fibras córtico-nucleares do hemisfério
cerebral oposto. Se o paciente tiver lesão das fibras córtico-nucleares, não haverá atrofia ou fibrilação da língua (por
caracterizar uma síndrome do neurônio motor superior) e, ao ser protraída, a língua vai se desviar para o lado oposto ao
da lesão (note que o genioglosso é o músculo que puxa a língua para diante). Os demais músculos não estarão paralisados
pois também recebem fibras do tracto córtico-nuclear do outro lado.
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OBS : A inervação da língua se dá pelos seguintes nervos:
Trigêmeo: sensibilidade geral (dor, temperatura, pressão, tato, propriocepção) nos 2/3 anteriores.
Facial: sensibilidade gustativa nos 2/3 anteriores
Glossofaríngeo: sensibilidade geral e gustativa no terço posterior
Vago: sensibilidade gustativa na base da língua (epiglote).
Hipoglosso: motricidade em geral.
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OBS : Cabe ressaltar que, embora sejam quatro os nervos cranianos cujas fibras inervam a língua (o vago não entra nesta contagem
pois é destinado à epiglote), apenas três nervos alcançam este órgão: o hipoglosso, o glossofaríngeo e o lingual. Este último, que é
um ramo da divisão mandibular do nervo trigêmeo, também e responsável por captar fibras que serão enviadas para o nervo facial
(nervo intermédio, especificamente) por meio de uma anastomose nervosa denominada nervo corda do tímpano.
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Desta forma, existem sete componentes funcionais, mas apenas seis colunas (pois as fibras aferentes viscerais especiais
e gerais vão para uma mesma coluna, que é formada unicamente pelo núcleo do tracto solitário).
As colunas apresentam, portanto, correspondência funcional e, às vezes, continuidade com as colunas (ou cornos) da
medula. Assim, a coluna aferente somática (coluna do trigêmeo) continua com a substância gelatinosa da medula (que também é
sensitiva); a coluna eferente visceral geral (representante do sistema nervoso parassimpático) corresponde, na medula, à coluna
lateral (representante do sistema nervoso simpático); e a coluna eferente somática tem correspondência com o corno anterior da
medula espinhal. Por esta razão, os núcleos dos nervos cranianos são classificados como núcleos homólogos aos da medula.
A seguir, serão estudados os núcleos que compõem cada uma das seis colunas de núcleos e que podem ser resumidas no
seguinte diagrama:
Embora o assunto seja ainda discutido, admite-se que as fibras que terminam exclusivamente no núcleo sensitivo principal
levam impulsos de tato epicrítico; as que terminam exclusivamente no núcleo do tracto espinhal levam impulsos de dor e temperatura;
já as fibras que se bifurcam e terminam nos dois núcleos seriam relacionados com pressão e tato protopático.
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CONEXÕES SUPRASSEGMENTARES
Para que os impulsos aferentes que chegam aos núcleos sensitivos dos nervos cranianos possam se tornar conscientes, é
necessário que sejam levados ao tálamo e daí a áreas especiais do córtex cerebral. As fibras ascendentes encarregadas de fazer a
ligação entre estes núcleos e o tálamo agrupam-se do seguinte modo:
Lemnisco trigeminal: liga os núcleos sensitivos do trigêmeo ao tálamo.
Lemnisco lateral: conduzem impulsos auditivos dos núcleos cocleares ao colículo inferior, de onde vão para o corpo
geniculado medial, e deste, para o tálamo.
Fibras vestíbulo-talâmicas: ligam os núcleos vestibulares ao tálamo.
Fibras solitário-talâmicas: ligam o núcleo do tracto solitário ao tálamo.
Por outro lado, os neurônios situados nos núcleos motores dos nevos cranianos estão sob controle do sistema nervoso
supra-segmentar, graças a um sistema de fibras descendentes, entre as quais se destacam as que constituem o tracto córtico-
nuclear. Este tracto liga as áreas motoras do córtex cerebral aos neurônios motores situados nos núcleos das colunas eferente
somática e eferente visceral especial, permitindo a realização do movimento voluntários pelos músculos estriados.
CONEXÕES REFLEXAS
Existem muitas conexões entre os neurônios dos núcleos sensitivos dos nervos cranianos e o os núcleos motores (e pré-
ganglionares) dos núcleos das colunas eferentes. Estas conexões são muito importantes para um grande numero de arcos reflexos
que se fazem ao nível do tronco encefálico. As fibras para estas conexões podem passar através da formação reticular ou do fascículo
longitudinal medial (como já foi visto, fascículo de associação do tronco encefálico, correspondendo, pois, ao fascículo próprio da
medula).
Reflexo Corneano (corneopalpebral): pesquisa-se este reflexo tocando ligeiramente a córnea com mecha de algodão, o
que determina o fechamento dos dois olhos por contração bilateral da parte palpebral do músculo orbicular do olho. O
impulso aferente passa pelo ramo oftálmico do trigêmeo, gânglio trigeminal e raiz sensitiva do trigêmeo, chegando ao núcleo
sensitivo principal e núcleo do tracto espinhal deste nervo. Fibras cruzadas e não cruzadas originadas nestes núcleos
conduzem impulsos aos núcleos do facial dos dois lados, de tal modo que a resposta motora faz pelos dois nervos faciais,
resultando no fechamento dos dois olhos (ocorrendo também lacrimejamento). Entende-se, assim, que a lesão de um dos
nervos trigêmeos abole a resposta reflexa dos dois lado quando se toca a córnea do lado da lesão, mas não quando se toca
a córnea do lado normal. Já a lesão do nervo facial de um lado abole a resposta reflexa deste mesmo lado, qualquer que seja
o olho tocado. O reflexo corneano é diminuído ou abolido nos estados de coma ou nas anestesias profundas (servindo como
teste de profundidade do anestésico).
Reflexo lacrimal: o toque na córnea ou a presença de um corpo no olho causa um aumento da secreção lacrimal. Isso
constitui, junto ao fechamento da pálpebra, um mecanismo de defesa do olho. A via aferente do reflexo lacrimal é idêntica à
do reflexo corneano. Contudo, as conexões centrais se fazem com o núcleo lacrimal, de onde saem fibras pré-ganglionares
pelo VII par (intermédio), através dos quais o impulso chega ao gânglio pterigopalatino e daí, à glândula lacrimal.
Reflexo de piscar: quando um objeto é rapidamente jogado diante do olho a pálpebra de fecha. Isso ocorre porque fibras
aferentes da retina vão ao colículo superior (através do nervo óptico, tracto óptico e braço do colículo superior), onde saem
fibras para o núcleo do nervo facial. Pelo nervo facial, o impulso chega ao músculo orbicular do olho, determinado o piscar da
pálpebra.
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Reflexo de movimentação dos olhos por estímulos vestibulares (nistagmo): este reflexo tem por finalidade manter a
fixação do olhar em um objeto que interessa, quando esta fixação tende a ser rompida por movimento do corpo ou da
cabeça. O reflexo funciona no ato de cavalgar, por exemplo, em que se fixa o olhar a um objeto mas a cabeça tende a retirar
esse olhar. Assim, quando a cabeça se move para baixo, os olhos se movem para cima (e vice-versa), na tentativa de manter
a fixação do olhar constante. Se não houvesse este mecanismo automático e rápido para a compensação dos desvios
causados pela trepidação do cavalo, o objeto estaria sempre saindo da mácula, ou seja, da parte da retina onde a visão é
mais distinta. Os receptores para este reflexo são os cristais dos canais semicirculares do ouvido interno, que circulam na
endolinfa desses canais e deslocam cílios de células sensoriais. Isto gera um impulso que chega aos prolongamentos
periféricos dos neurônios do gânglio-vestibular, originando impulsos nervosos que seguem pela porção vestibular do nervo
vestíbulo-coclear, através do qual atingem os núcleos vestibulares. Destes núcleos saem fibras que ganham o fascículo
longitudinal medial e vão diretamente aos núcleos do III, IV e VI pares cranianos, determinando assim o movimento do olho
em sentido contrário ao da cabeça.
Reflexo fotomotor direto: quando um olho é estimulado com um feixe de luz, a pupila deste olho contrai-se em virtude do
seguinte mecanismo: o impulso nervoso originado na retina é conduzido pelo nervo óptico, quiasma óptico e tracto óptico,
chegando ao corpo geniculado lateral. Entretanto, ao contrário das fibras relacionadas com a visão, as fibras ligadas ao
reflexo fotomotor não fazem sinapse no corpo geniculado lateral, mas ganham o braço do colículo superior, terminando em
neurônios da área pré-tectal. Daí, saem fibras que terminam fazendo sinapse com os neurônios do núcleo de Edinger-
Westphal (dos dois lados). Deste núcleo saem fibras pré-ganglionares que pelo III par vão ao gânglio ciliar, de onde saem
fibras pós-ganglionares que terminam no musculo esfíncter da pupila, determinando sua contração
Reflexo consensual: pesquisa-se este reflexo estimulando-se a retina de um olho com um jato de luz e observando a
contração da pupila do outro olho, verificando assim a integridade dos cruzamentos das fibras ópticas no quiasma e na
comissura posterior. O impulso cruza o plano mediano por meio dessas estruturas, neste caso, da área pré-tectal de um lado,
cruzando para o núcleo de Edinger-Westphal do lado oposto.
Reflexo de acomodação: quando os olhos são desviados de um objeto longínquo para objetos próximos, a contração dos
músculos retos mediais provoca a convergência dos eixos oculares, os cristalinos se espessam para aumentar o seu poder
refrativo pela contração dos músculos ciliares, e as pupilas se contraem para restringir as ondas luminosas à parte central,
mais espessa, do cristalino. Os impulsos aferentes deste reflexo de acomodação do cristalino cursam pelo nervo óptico, pelo
quiasma óptico, tracto óptico, pelo corpo geniculado lateral e pela radiação óptica até o córtex visual no lobo occipital. O
córtex visual, por sua vez, é conectado ao campo ocular do lobo frontal (área 8 de Brodmann). Desse ponto, as fibras
corticais descem pela cápsula interna para os núcleos oculomotores no mesencéfalo. O nervo oculomotor, por sua vez, cursa
fibras para os músculos retos mediais e os ativam. Algumas das fibras corticais descendentes fazem sinapses nos núcleos
parassimpáticos (núcleos de Edinger-Westphal) do nervo oculomotor dos dois lados. As fibras pré-ganglionares
parassimpáticas cursam, então, pelo nervo oculomotor para fazer sinapse com o neurônio pós-ganglionar presente no
gânglio ciliar na órbita. Por fim, as fibras parassimpáticas pós-ganglionares, por meio dos nervos ciliares curtos, chegam até
o músculo ciliar (responsável por acomodar o cristalino) e o músculo constritor da pupila da íris (responsável por causar a
miose).
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OBS : Sabe-se que os nervos ciliares curtos são pequenos prolongamentos do gânglio ciliar responsáveis por conduzir os neurônios
pós-ganglionares da inervação simpática e parassimpática da pupila. Já os nervos ciliares longos, muito pouco referidos na literatura,
são ramos do nervo nasociliar (um dos três ramos do N. oftálmico do trigêmeo). Estes nervos ciliares longos levam algumas fibras
simpáticas que se destacam diretamente do plexo carotídeo para inervação da musculatura radial da íris além das fibras aferentes
somáticas gerais referentes à inervação da conjuntiva do olho.
Reflexo da ânsia: ao se tocar a região a base da língua ou a região do pilar faucial anterior com um objeto, ocorre uma
constrição e elevação do palato mole e fechamento da glote. O componente aferente deste reflexo se faz pelo N.
glossofaríngeo (IX par de nervos cranianos), levando impulsos até o centro reflexo do bulbo. As fibras eferentes se fazem
pelo N. glossofaríngeo e N. vago, estabelecendo três respostas motoras: elevação do palato mole para fechar a nasofaringe,
fechamento da glote para proteger a via aérea e constrição da faringe para impedir a entrada da substância. O reflexo da
ânsia é protetor: ele visa a impedir que substâncias nocivas ou objetos estranhos avancem além da cavidade oral.
Reflexo do vômito: o reflexo do vomito pode ser desencadeado por várias causas, sendo mais frequentes as que resultam
de irritação da mucosa gastrointestinal. A irritação da mucosa gastrointestinal (como por ingestão demasiada de álcool)
estimula visceroceptores aí existentes que, pelas fibras aferentes viscerais do vago, chegam ao núcleo do tracto solitário. Daí
saem fibras que levam impulsos ao centro do vômito (área postrema), na formação reticular do bulbo. Deste centro saem
fibras que se ligam às áreas responsáveis pelas respostas motoras que vão desencadear o vomito. Estas fibras são:
Fibras para o núcleo dorsal do vago: onde os impulsos, por meio das fibras do vago, chegam a parede do estomago,
aumentando a sua contração e determinando a abertura da cárdia.
Fibras que pelo tracto retículo-espinhal chegam a coluna lateral da medula: os impulsos ganham os nervos
esplâncnicos que o levam aos gânglios celíacos. Daí, o impulso chega ao estomago, determinando o fechamento
do piloro.
Fibras que pelo tracto retículo-espinhal, chegam à medula cervical onde se localizam neurônios motores, cujos
axônios constituem o nervo frênico, determinando a contração do diafragma.
Fibras que pelo tracto retículo-espinhal chegam aos neurônios motores da medula onde se originam os nervos
tóraco-abdominais, que inervam músculos da parede abdominal, cuja contração, aumenta a pressão intra-
abdominal.
Fibras para o núcleo do hipoglosso, cuja atuação resulta da protrusão da língua.
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