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Texto Lia

Ele arrancou um belo poema de sua dor, mas não conseguia olhar a alegria com
sensibilidade, à tristeza tornou seu ópio. Esse era Luiz, um sujeito esguio, sua face transmitia
cansaço, seus cabelos eram longos, ressecados e sujos, não cuidava de sua barba, causava
asco. Vestia roupas cafonas que fediam a naftalina, parecia um velho mendigo, contudo
inteligente e sarcástico. Sofia sua mãe, trazia na face as marcas de uma vida sofrida.
Carregava um brilho labial na bolsa, como lembrete de sua feminilidade, já que não podia
usar maquiagem e nem brincos, pois seu marido a proibia.
Os cabelos a raiz por fazer denunciava sua tristeza, as luzes que outrora, refletia a
juventude vaidosa e divertida, foi dando espaço para uma escuridão, fria e solitária, o seu
refúgio era os livros,vivia na biblioteca, sentia pertencer aquele ambiente. Via similaridades,
assim como os livros na estante aguarda seu leitor, ela também esperava ser lida. Embora
sua capa não era tão atrativa carregava dentro de si um belo poema. Seu prefácio era
maçante, só conseguia se expressar para aqueles que realmente se interessavam, pela, sua
história. Sua maior riqueza era o conhecimento, a literatura não servia apenas como fuga da
realidade. Era os nutrientes de uma alma faminta.Lampião, seu marido era um homem
ignorante, andava sempre com uma camiseta regata branca exibindo seu peitoral
avermelhado e peludo bebiam tanto que suava pinga. Não levava desaforo, sua maior
fraqueza era sua ambição. Gastava suas economias em apostas, mulheres e bebidas. Para
seus amigos era um homem exemplar, vivia cercado de mulheres, pagava bebidas. E
impunha respeito e temor, devido as brigas de dívidas de jogo. Para as mulheres um meio de
ganhar uns presentinhos e um dinheirinho extra. Por mais asqueroso que ele fosse. Embora
sua imagem durão, estava aflito pois estava devendo para uns jogadores. Como não podia
queimar sua imagem, descontava na sua mulher. Tudo era motivo de brigas, ela queimava o
arroz, a ofendía de burra, dizia que estava velha e feia. Deveria dar graças a Deus, que ele
ainda estava casado com ela.
Pegava o seu dinheiro, controlava suas roupas, seguia e a envergonhava.
Berrava hostilidade na porta das casas onde ela trabalhava como diarista. Sofia,
embora significar sabedoria, teve sua identidade roubada pelo seu marido. Não conseguia
mais se reconhecer, andava apática e sem esperança. A morte parecia um meio de sentir se
viva. Pois existiria na memória, não conseguia suicidar. Porque não queria deixar seu filho
com seu marido. Contudo, percebeu que seu filho herdou a maldade de seu pai, presenciou
Luiz chutando um cachorrinho à medida que o pobrezinho, agonizava mais o menino se
divertia.
Não conseguia acreditar na cena, sentia seu mundo desabando, os urros de dor
ecoavam em seus ouvidos, sua cabeça latejava, não sabia como agir. Desesperada, rogava
a Deus aos prantos, enquanto, observava a sessão de tortura pela janela do seu quarto.
Meu Deus! me perdoe, mas se eu ficar irei enlouquecer, não consigo olhar para meu
filho, tudo nele me faz pensar no monstro que eu casei.
O céu estava cinzento e quando o animalzinho deu seu último suspiro, uma brisa
invadiu a janela dizendo que depois da tempestade, vem a calmaria.
O menino ao ver o filhote, cavou um buraco, na horta que eles tinham e o enterrou,
com receio de ser apanhado pegou o saco de lixo e colocou em cima e disparou a correr,
em direção a sua casa no intuito de se esquivar do ocorrido. Ao entrar em casa esbaforido,
espantou ao ver sua mãe, prostrada.
O menino estava com respiração ofegante, os batimentos cardíacos acelerados, um
nó na garganta. Uma dor no peito, seu corpo parecia pesado, foi ao encontro de sua mãe.
Viu alguns comprimidos espalhados pelo chão e um cheiro forte de vinho. Trêmulo tirou os
fios de cabelos do rosto dela, pálida o brilho do seus olhos havia sumido, só restava um
imenso vazio, chacoalhava a mãe, para a acordar. Gritava e chorava, seu pai chegou em
casa ouviu os berros e foi esbravejando até o filho.
O homem ao ver sua mulher morta, xingava aos berros, vagabunda me deixou com
um monte de dívidas! Sua mãe nos abandonou. Ela foi fraca e egoísta. A colocaram em sacos
pretos,

Chorava copiosamente. E prometeu nunca parar de escrever, uma vez que as palavras eram
suas amigas, pois no papel sentia-se mais próximo de sua mãe. Para ele, escrever era despir
sua vulnerabilidade, vestir o personagem e criar estratégia para o desfecho da realidade.
Com o passar dos anos o papel foi substituído por um blog, onde publicava seus poemas e
contos, os leitores gostavam de seus textos, mas ultimamente seus versos sobre amor não
correspondido, estavam repetitivos e as interações na página estavam ruins, muitos deixaram
de seguirem, e recebia muitas críticas de seu trabalho, eles estavam fartos, cansados do
escritor vomitar sua vida medíocre.

Chega! Não aguento mais essas humilhações! Eu vou fazê-los engolir cada palavra.
Vou escrever uma história que irá surpreendê-los. Luiz murmurou enquanto verificava as
notificações em seu notebook dentro da biblioteca.
Até que seu corpo foi invadido por mistos de sensações, seu coração estava acelerado
e sua respiração mais profunda, quando viu uma moça esbelta, que usava um vestido
comunicando leveza, mas também sensualidade e caminhava deslizando seus dedos entre
os livros.
Nem a deusa Afrodite com todo seu esplendor, chegaria aos seus pés, se eu não soubesse
que Sun Tzu, escreveu a arte da guerra, arriscaria dizer seu nome,em razão de utilizar a
beleza, estrategicamente para atrair os homens, para depois mátalos ou escravizar. Pensava
Luiz, enquanto admirava a moça.
As nuvens negras que insistiam em acompanhar Luiz dissiparam permitindo a entrada da luz
do sol, imitando holofotes para a protagonista da sua história. Fingiu estar interessado em um
dos livros, para se aproximar.
Enquanto caminhava até a prateleira que ela estava, ensaiava um discurso em sua cabeça,
sentia-se confiante para convidá-la para tomar um café.
Mas à medida que se acercava da jovem, seu corpo cambaleava, sentia a beira de um
colapso. Sorriso de lado se estampou nos lábios da jovem, enquanto olhava o celular,
guardou o aparelho e seguiu para a próxima prateleira.
Não querendo perder de vista, retirou um dos livros para observá-la, mas foi surpreendido
com uma cena devastadora, ficou paralisado ao vê-la aos beijos com outro rapaz, cada parte
de seu corpo estava queimando.
Essa é a sua sina, isso é o mais próximo de experiência amorosa que você terá, olha,
ela está se divertindo às suas custas, beija outro na sua frente, ela é igual a sua mãe uma
adúltera, mulheres são inescrupulosas, e você acreditando que ela era inocente, dizia a voz
de seu pai em sua mente atormentada,assistia o casal trocando carícias, e ao mesmo tempo
que sentia raiva estava excitado.
— Oi rapaz, você poderia me ajudar? Uma senhora juntamente com uma garotinha
indagou.
— O que a senhora precisa? Fingindo estar interessado no problema.
— Estou procurando a sessão de livros infanto juvenis.
Ele, no intuito de atrapalhar os pombinhos,mentiu afirmando estar na próxima
prateleira, contudo era a sessão de livros religiosos o casal aproveitou, já que era pouco
movimentado. Luiz sabia que o setor infanto juvenil ficava mais distante, próximo a
brinquedoteca.
Sua natureza perversa queria ver o circo pegar fogo, a senhora agradeceu a gentileza
do rapaz. Ela histericamente gritou que pouca vergonha, cadê os funcionários para impedir
esse desrespeito. Os jovens assustados e constrangidos tentavam desviar o olhar para a
senhora, mas foi inútil. Pois reconheceu a jovem.
— Lia! Eu não acredito que é você? Se faz de santa, mas às escondidas se comporta
dessa maneira...respirou fundo e não a xingou, pois era amiga da mãe da jovem.
Luiz parecia estar diante de um espetáculo, seu corpo se deliciava com caos, saiu de
trás da prateleira e foi ver mais de perto. Como pode? Até envergonhada e com raiva ela é
maravilhosa. Embora Lia transmitisse inocência de uma criança, em sua face rosada quando
ficava envergonhada, sua voz soava como um canto de uma sereia, que enfeitiça e leva para
o oceano, calmo na superfície, mas cheio de perigo nas suas profundezas.
— D. Maria, desculpa apresentar dessa maneira, esse é o Lucas, filho do dono da padaria
Donato’s na rua Mercedes, a gente está namorando. Ela já havia visto fotos da senhora na
casa dele.
— Como você está bonito, desculpe a maneira que falei. Fiquei assustada. Apresentou
a netinha e disse para a menina, a vovó foi babá dele. Ele levantou sorrindo, usou de seu
charme e abraçou a senhora.
— D. Maria, que saudades estava de você, não me esqueço daqueles deliciosos
bolinhos de chuva. Adoraria comer novamente, mas não posso estou de dieta.
— Dieta? como assim, olha para você lindo, parece galã de novela. vou fazer sim os
bolinhos.
— como dizer não. pegou nos braços, desfilando pelo corredor, a senhora sentia se
uma jovenzinha, caminhando nos braços de seu amado.
O rapaz era sagaz e político, estava querendo despachá-la. Sentindo nas nuvens, a senhora
foi procurar os livros infanto juvenis. Despediu do jovem, ele volta todo animado, agarra na
cintura da jovem. Tira os fios de cabelo e coloca atrás da orelha e tenta beijá-la, só que ela
rejeita.

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