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Prof: Nestor Távora – Ação Penal

PRISÕES

1- Conceito: é a restrição a nossa liberdade de locomoção, proveniente do flagrante, da transgressão


disciplinar militar ou por força de ordem judicial motivada.
1.1- Modalidades de prisão:
I- Prisão PENA- é aquela proveniente de decisão condenatória com trânsito em julgado.
II- Prisão SEM PENA/CAUTELAR/PROCESSUAL/PROVISÓRIA- é aquela que antecede o trânsito em julgado
da condenação, ou seja, é cabível na fase investigativa e/ou na fase processual, vejamos:
a) Prisão em flagrante;
b) Prisão preventiva;
c) Prisão temporária.
1.2- Execução provisória da pena- ela significa o início do cumprimento da pena, antes do trânsito em
julgado da condenação. Assim, temos os seguintes momentos:
a) 1° momento- o STF, ao julgar o HC 126.292, admitiu a EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE ACÓRDÃO (prisão sem
segunda instância), desde que presentes os seguintes requisitos:
a.1) Confirmação da condenação por um Tribunal;
a.2) Esgotamento das vias ordinárias de impugnação, ou seja, a decisão, quando muito, só seria passível de
recurso especial ao STJ ou de recurso extraordinário ao STF.
Obs.1. O STF entendeu que o princípio da presunção de inocência não é absoluto.
Obs.2. O STF considerou que o recurso especial e o recurso extraordinário não são dotados de efeito
suspensivo.
b) 2° momento- o STF voltou ao tema no julgamento das ADC´s 43, 44 e 54, questionando a
constitucionalidade do art. 283 do CPP, que estabelece que antes do trânsito em julgado, só cabe flagrante,
preventiva ou temporária.
Conclusão: o STF, em tal ocasião, reconheceu a constitucionalidade do art. 283 do CPP, afastando a
execução provisória e prestigiando a presunção de inocência.
c) 3° momento- o Pacote Anticrime introduziu a alínea “e”, ao inciso I do art. 492 do CPP, admitindo a
execução provisória da sentença do júri, que impõe ao réu 15 ou mais anos de privação da liberdade.
Conclusão1. O juiz que preside o júri, mesmo aplicando 15 ou mais anos de pena, pode deixar de impor a
execução provisória (§ 3°, art. 492, CPP).

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Conclusão2. Para viabilizar a execução provisória da sentença do júri, retiraram o efeito suspensivo do
recurso de apelação (§ 4°, art. 492, CPP).
Conclusão3. O desembargador relator no Tribunal poderá conceder efeito suspensivo ao recurso de
apelação, ou seja, pode suspender a execução provisória determinada (§ 5°, art. 492, CPP).
2- Prisão em flagrante:
2.1- Conceito: é a ferramenta prevista no art. 5°, LXI, CF, que autoriza a captura daquele que é surpreendido
praticando o delito, trazendo assim as seguintes finalidades:
a) Evitar a fuga;
b) Evitar a consumação do crime;
c) Levantar indícios que vão contribuir para a futura adoção de providências penais.
2.2- Modalidades de flagrante (classificação):
a) Flagrante obrigatório ou compulsório: é aquele inerente a atuação das Forças Policiais (art. 144, CF),
funcionando como estrito cumprimento de um dever legal (art. 301, CPP).
b) Flagrante facultativo- é aquele inerente a atuação de qualquer pessoa do povo, funcionando como
exercício regular de um direito (art. 301, CPP).
c) Flagrante próprio/real/perfeito/propriamente dito- ele se apresenta nas seguintes situações:
c.1) Está em flagrante próprio o sujeito capturado cometendo a infração (art. 302, I, CPP)
Conclusão: o agente é capturado desenvolvendo os atos executórios.
c.2) Ainda está em flagrante próprio o sujeito capturado ao acabar de cometer a infração (art. 302, II, CPP)
Conclusão: o agente já concluiu os atos executórios, mas não se livrou do local do crime ou das
circunstâncias da infração.
d) Flagrante impróprio/irreal/imperfeito/ quase flagrante- nele teremos a ocorrência de uma perseguição
logo após a prática do delito. Havendo êxito, o sujeito será capturado em circunstâncias que façam presumir
a responsabilidade penal (art. 302, III, CPP).
Obs.1. Conceito de perseguição: estamos em perseguição quando vamos no seguimento de determinada
pessoa, por informação própria ou de terceiro quanto ao caminho a seguir (art. 290, CPP).
Obs.2. Tempo da perseguição- não há na lei prazo máximo de duração da perseguição, que persiste no
tempo diante da necessidade.
Obs.3. Requisito de validade- para que a perseguição seja válida é necessário que exista continuidade,
mesmo sem contato visual.
e) Flagrante presumido/ficto/assimilado: o sujeito é ENCONTRADO logo depois da prática do delito, com
objetos, armas, papeis ou instrumentos que autorizem presumir a responsabilidade penal (art. 302, IV,
CPP).

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f) Flagrante forjado- é aquele realizado para incriminar uma pessoa inocente, E QUE NÃO TREM DESEJO DE
DELINQUIR.
Conclusão: a prisão realizada é MANIFESTAMENTE ILEGAL, devendo ser RELAXADA (art. 5°, LXV, CF; art.
310, I, CPP).
g) Flagrante esperado- segundo a doutrina, ele é caracterizado pela realização de campana (tocaia),
aguardando-se a prática do primeiro ato executório para a implementação da captura.
Obs. Percebe-se que em nenhum momento a polícia está estimulando a prática do delito.
Obs.2. Vale lembrar que no momento da lavratura do auto, o delegado vai enquadrar a prisão em uma das
hipóteses do artigo 302 do CPP, afinal, o flagrante esperado é uma criação doutrinária.
h) Flagrante preparado/provocado/delito de ensaio/delito putativo (imaginado) por obra do agente
provocador- de acordo com a Súmula 145 do STF, não se pode estimular a prática de crime para capturar a
pessoa seduzida, pois os fins não justificam os meios.
Obs.1. Em tal hipótese, a prisão realizada é ilegal, devendo ser relaxada. Além disso, o fato praticado pela
pessoa seduzida será considerado atípico, pois enquadrado como crime impossível (art. 17, CP).
Obs.2. De acordo com a Súmula 567 do STJ, o monitoramento por câmeras ou aparato similar de um
estabelecimento comerciar não descaracteriza o crime de furto e não inviabiliza a prisão em flagrante. Logo,
não há situação de flagrante preparado, e sim de flagrante esperado.
Obs.3. Flagrante preparado X tráfico de drogas: se o traficante já tinha a droga consigo ou em estoque ao
ser provocado por policial disfarçado de usuário ou por interposta pessoa, a PRISÃO É VÁLIDA, pois a
consumação do tráfico é preexistente a provocação.
I) Flagrante postergado/diferido/retardado/estratégico/AÇÃO CONTROLADA- o objetivo é retardar a
prisão, para que ela ocorra no momento mais estratégico. Temos flagrante postergado nas seguintes
hipóteses:
I.1) Crime organizado- é necessário ofício ao juiz, que ouvindo o MP, poderá definir os limites da diligência
(art. 8°, Lei 12.850/013).
I.2- Tráfico de drogas- é necessário deliberação do juiz, com a oitiva do MP. Além disso, precisamos saber
do provável itinerário da drogas e dos traficantes envolvidos (art. 53, II, Lei 11.343/06).
I.3- Lavagem de dinheiro- a postergação demanda deliberação judicial, com a prévia oitiva do MP (art. 4°-
B, Lei 9.613/98).
j) Flagrante por apresentação- aquele que se apresenta voluntariamente da delegacia e confessa um crime
não será preso em flagrante, pois ausência de enquadramento legal uma das hipóteses válidas de flagrante.
Todavia, presentes os requisitos legais, nada impede que o delegado represente pela decretação da
preventiva ou da temporária.
ADVERTÊNCIA: tal previsão desapareceu do CPP, mas a essência do instituto permanece.
2.3- Procedimento do flagrante:

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2.3.1- Procedimento MACRO:
a) 1° passo- CAPTURA: ela simboliza o imediato cerceamento da liberdade.
Obs. Uso de algemas: a matéria é tratada nos seguintes diplomas:
- Súmula Vinculante 11;
- Art. 292, parágrafo único, CPP;
- Decreto 8858/016, disciplinando o art. 199 da Lei de Execução Penal (Lei 7210/84).
b) 2° passo- condução coercitiva até a autoridade.
Obs. Cabe ao delegado do LOCAL DA CAPTURA presidir a lavratura do auto (art. 308, CPP). Inexistindo
delegado, o sujeito será levado à localidade mais próxima.
c) 3° passo- formalização da prisão: ela ocorre por meio da LAVRATURA DO AUTO DE FLAGRANTE (art. 304,
CPP).
d) 4° passo- recolhimento ao cárcere.
Obs. Nos crimes com pena máxima de até 4 anos, o delegado é legitimado a arbitrar a fiança, e o pagamento
evita o recolhimento ao cárcere.
Obs.2. Nas infrações de menor potencial ofensivo, leia-se, crimes com pena máxima de até 2 anos e
contravenções, o auto de flagrante é substituído pelo TCO (termo circunstanciado de ocorrência), e o
sujeito é liberado independente de fiança, desde que seja imediatamente encaminhado ao juizado ou
assuma esse compromisso (art. 69, Lei 9099/05).
ADVERTÊNCIA: no porte para uso de drogas, o usuário será encaminhado ao juiz. Caso o magistrado não
esteja disponível, o usuário será encaminhado ao departamento de polícia. Além disso, mesmo que não
assuma compromisso, o usuário será liberado.
2.3.2- Desdobramento do procedimento- em 24 horas contadas da PRISÃO, o delegado tem as seguintes
obrigações a cumprir:
a) 1° obrigação- cabe ao delegado entregar ao preso a NOTA DE CULPA, como breve declaração informando
os motivos e os responsáveis pela prisão, assim como quem são as eventuais testemunhas (art. 306, § 2°,
CPP c/c art. 5°, LXIV, CF).
b) 2° obrigação- nas mesmas 24 horas, uma cópia do auto será encaminhada ao Defensor Público, caso o
preso não tenha advogado (art. 306, § 1°, CPP).
c) 3° obrigação- nas mesma 24 horas o auto de flagrante será encaminhado ao juiz, para a realização da
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (art. 306, § 1° c/c art. 310, CPP).
c.1) Conceito: é o ato solene em que o preso será ouvido pelo juiz na presença do MP e do advogado, para
que o juiz tenha melhores condições de deliberar sobre a situação prisional, assim como aferir o tratamento
dado ao preso no momento da prisão.
c.2) Embasamento normativo:

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- Resolução 213 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça);
- Art. 310 do CPP;
- Art. 9, item 3, Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos;
- Art. 7, item 5, Convenção Americana de Direitos Humanos.
c.3) Prazo- 24 horas do recebimento do auto de flagrante.
ADVERTÊNCIA: O § 4° do art. 310 do CPP, estabelecendo a ilegalidade da prisão pela não realização da
audiência de custódia dentro do prazo, está suspenso por decisão do STF.
c.4) Pertinência: a audiência de custódia é cabível na prisão em flagrante, na preventiva e na temporária.
ADVERTÊNCIA: o § 1° do art. 3°-B do CPP proíbe a realização da audiência de custódia por videoconferência.
Todavia, o STF autorizou a videoconferência durante a pandemia.
c.5) Alternativas do juiz:
c.5.1) 1° alternativa- constatando que a prisão é ILEGAL, caberá o consequente RELAXAMENTO (art. 310, I,
CPP; art. 5°, LXV, CF)
Conclusão: o relaxamento é a libertação incondicional daquele que foi ilegalmente preso.
c.5.2) 2° alternativa- sendo a prisão legal, cabe ao juiz HOMOLOGAR O AUTO. Diante da homologação,
teremos as seguintes medidas possíveis:
I- 1° medida- se a prisão é NECESSÁRIA, cabe ao juiz converter o flagrante em preventiva (art. 310, II, CPP)
Obs. A conversão pressupõe que:
i) É necessário que o juiz seja provocado;
ii) Exigimos a presença dos requisitos do art. 312 do CPP;
iii) É necessário que não sejam mais adequadas as medidas cautelares pessoais diversas da prisão (art. 319,
CPP).
II- 2° medida- uma vez homologado o auto, se a prisão não é necessária, cabe ao juiz conceder LIBERDADE
PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA (art. 310, III, CPP).
ADVERTÊNCIA: não caberá liberdade provisória nas seguintes situações:
- Reincidente;
- integrante de organização criminosa armada;
- miliciano;
- portador de arma de fogo de uso restrito.
2.4- Questões complementares:

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a) Nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a lavratura do auto depende de prévia
manifestação de vontade do legítimo interessado.
b) Nos crimes permanentes, a prisão em flagrante é cabível a qualquer tempo, enquanto perdurar a
permanência (art. 303, CPP).
ADVERTÊNCIA: De acordo com o STF e o STJ, a invasão domiciliar para efetivar a prisão em flagrante exige
que existam prévios indícios que tragam uma desconfiança concreta de que existe uma situação de
flagrante dentro da casa. Caso contrário, a prisão será ilegal e eventuais provas devem ser consideradas
ilícitas.

PRISÃO PREVENTIVA:
1- Conceito:
a) É uma prisão cautelar;
b) Cabível durante TODA A PERSECUÇÃO PENAL
Obs. A preventiva pode ser decretada na investigação, no processo, e sendo urgente, até mesmo antes da
deflagração formal do inquérito.
c) Decretada pelo juiz mediante provocação.
Obs.1. Com a atual redação do art. 311 do CPP, não há previsão de decretação de preventiva de ofício.
Obs.2. Legitimados a provocar o juiz:
- MP;
- Delegado;
- Querelante (titular da ação penal privada);
- Assistente de acusação
Conclusão: o assistente é a vítima do crime ou os eventuais sucessores, que podem se habilitar no processo
para auxiliar o MP (arts. 268 a 273, CPP).
d) SEM PRAZO
e) Desde que presentes os requisitos do art. 312 do CPP.

2- Requisitos:
2.1- Fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito):
a) Indícios de autoria;
b) Prova da materialidade (prova da existência da infração)

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ADVERTÊNCIA: é o que a doutrina chama de JUSTA CAUSA para a decretação da preventiva.
2.2- Periculum libertatis (perigo da liberdade)- tal elemento nos apresenta as hipóteses de decretação da
preventiva, vejamos:
a) Garantia da ordem pública- a ordem pública é equiparada a paz social, estando em risco quando o sujeito
em liberdade provavelmente continuará a delinquir.
Obs. Para o STF, a gravidade abstrata do crime (quantidade de pena prevista), não autoriza a preventiva
como garantia da ordem pública. Devemos avaliar a gravidade concreta, ou seja, o modus operandi, o
comportamento do sujeito, a finalidade, as razões, etc.
b) Garantia da ordem econômica- almejamos evitar que o sujeito em liberdade continue a praticar delitos
contra a ordem econômica.
c) Garantia da instrução criminal: almejamos preservar as LIVRE PRODUÇÃO DAS PROVAS.
d) Garantia de aplicação da lei penal: almejamos evitar ou coibir a FUGA.
e) Ausência de identificação civil- almejamos com isso a identificação civil do sujeito.
Conclusão: a prisão persiste até a apresentação do documento ou o esclarecimento da dúvida quanto a
identidade.
f) Violência doméstica- a preventiva tem cabimento pelo descumprimento de MEDIDA PROTETIVA DE
URGÊNCIA, que funciona como medida cautelar de proteção da vítima.
Obs.1. O descumprimento de medida protetiva ainda provoca responsabilidade penal por crime autônomo
(art. 24-A, Lei Maria da Penha).
Obs.2. A proteção engloba as mulheres, crianças, adolescentes, idosos, enfermos e pessoas com
deficiência.
g) Descumprimento de medida cautelar pessoal do art. 319 do CPP- com o descumprimento, temos as
seguintes soluções:
g.1) Substituição da medida descumprida por outra;
g.2) Cumulação da medida com outra;
g.3) decretação da preventiva (§ 4°, art. 282, CPP).

3- Infrações que comportam preventiva:


3.1- Regra geral- a preventiva é cabível em CRIME DOLOSO com PENA MÁXIMA SUPERIOR A 4 ANOS (art.
313, CPP)
3.2- Exceção- eventualmente a quantidade de pena máxima é IRRELEVANTE na decretação da preventiva,
vejamos:
a) Reincidente em crime doloso;

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b) Ausência de identificação civil;
c) Descumprimento de medida protetiva de urgência;
d) Descumprimento de medida cautelar pessoal do art. 319 do CPP.

4- Questões complementares:

4.1- Preventiva X excludentes de ilicitude: havendo indícios da presença de uma EXCLUDENTE DE ILICITUDE
(art. 23, CP), a preventiva não poderá ser decretada (art. 314, CPP).

4.2- Fundamentação do mandado: de acordo com o art. 93, IX, CF e com o art. 315 do CPP, o mandado de
prisão deve estar adequadamente motivado.
Obs.1. Quando o mandado não está motivado, a prisão decretada é ilegal, devendo ser RELAXADA.
Obs.2. O § 2° do art. 315 do CPP aponta quando a decisão judicial NÃO ESTÁ MOTIVADA.
Conclusão: O vício na fundamentação da decisão provoca a NULIDADE DO ATO (art. 564, V, CPP).
Obs.3. Princípio da contemporaneidade: o magistrado, ao motivar a decisão, devem empregar argumentos
atuais, novos, contemporâneos, justificando a preventiva (§ 1°, art. 315, CPP).
4.3- Execução provisória: não se pode decretar a preventiva como uma forma de antecipação do
cumprimento da pena. Da mesma maneira, a preventiva não é tolerada pela mera instauração do IP, assim
como pelo mero oferecimento ou recebimento da inicial acusatória (§ 2°, art. 315, CPP).
4.4- Tempo da preventiva- não há na lei prazo máximo de duração da preventiva, que persiste no tempo
diante da necessidade, que é medida pela presença das suas hipóteses de decretação (art. 316, CPP).
Conclusão1. Se os fundamentos da preventiva não mais estão presentes, a medida será REVOGADA. Se os
fundamentos são novamente verificados, a preventiva pode ser redecretada (art. 316, CPP).
Conclusão2. A preventiva segue a cláusula “rebus sic stantibus” (como as coisas estão).
Conclusão3. A revogação e a redecretação podem ocorrer de ofício, por autorização do art. 316 do CPP.
Obs. O parágrafo único do art. 316 do CPP impõe a obrigação ao juiz de remotivar a prisão preventiva a
cada 90 dias. O STF, julgando as ADI´s 6581 e 6582, formou as seguintes premissas:
i) O descumprimento do prazo de 90 dias não implica na revogação automática da preventiva. Logo, o juiz
competente será instado a reavaliar e legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
ii) A obrigação de remotivar a preventiva persiste até o exaurimento da 2° instância. Logo, na pendência
dos recursos aos Tribunais Superiores, a obrigação não mais persiste.
Conclusão: quando o processo está em grau de recurso perante o Tribunal de 2° instância, a atribuição para
remotivar a prisão é do relator.

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iii) A obrigação imposta pelo parágrafo único do art. 316 do CPP, é aplicável quando o réu goza de foro por
prerrogativa de função.
4.5- Substituição da preventiva por prisão domiciliar- o art. 318 do CPP aponta as hipóteses de substituição,
pautadas por critérios tipicamente humanitários.
Obs.1. A pessoa só poderá sair de casa com autorização do magistrado.
Obs.2. A substituição pode ser cumulada com outras medidas cautelares pessoais compatíveis (art. 318-B,
CPP).
Obs.3. De acordo com o art. 318-A do CPP, quando a substituição envolve as mulheres, ela não caberá nas
seguintes circunstâncias:
i) Crimes praticados com violência ou grave ameaça contra a pessoa.
ii) Crimes contra o próprio filho ou dependente.

PRISÃO TEMPORÁRIA (Lei 7.960/89)


1- Conceito:
a) É uma prisão cautelar;
b) Cabível apenas na investigação
c) Decretada pelo juiz a requerimento do MP ou por representação do delegado
d) COM PRAZO
e) Desde que presentes os requisitos do art. 1° da Lei 7960/89.
2- Requisitos- O STF, julgando as ADI´s 4109 e 3360, identificou os atuais requisitos da prisão temporária, a
adequados a premissas instituídas no CPP, vejamos:
2.1- Imprescindibilidade para a investigação (art. 1°, I, Lei 7960/89).
Obs. Filtro- Segundo o STF, a temporária exige elementos concretos, e não meras conjecturas, sendo
vedada a sua utilização como :
i) prisão para averiguação;
ii) em violação ao direito à não autoincriminação;
iii) quando fundada no mero fato de o sujeito não possuir residência fixa (inciso II, art. 1°, Lei 7960/89);
2.2- Houver fundadas razões de autoria ou participação em ao menos um dos crimes graves indicados no
inciso III, art. 1°, Lei 7960/89.
Conclusão: não admitimos analogia ou interpretação extensiva.
2.3- É necessário que a medida seja justificada em fatos novos ou contemporâneos que tragam a
necessidade da prisão (art. 312, § 2°, CPP).

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Conclusão: aplicaremos, tal qual acontece na prisão preventiva, o princípio da contemporaneidade.
2.4- A medida precisa ser necessária diante da gravidade CONCRETA DO CRIME, das circunstâncias do fato
e das condições pessoais do investigado (art. 282, II, CPP)
2.5- A temporária é cabível se não forem mais adequadas as medidas cautelares pessoais diversas da prisão
(art. 282, § 6°, CPP).
Conclusão: a prisão temporária é a “ultima ratio”, ou seja, é uma medida extrema.

3- Procedimento:
3.1- Estrutura:
a) 1° passo- teremos um requerimento do MP ou uma representação do delegado.
b) 2° passo- diante da provocação, o juiz terá 24 horas para decidir.
3.2- Questões complementares:
a) Mandado prisional- ele é emitido em duas vias, sendo que uma delas fica com o preso, funcionando
como NOTA DE CULPA.
ADVERTÊNCIA: tal formalidade é também aplicada na prisão preventiva.
b) Prazo:
b.1) Crimes comuns: 5 + 5 dias
b.2) Crimes hediondos e assemelhados: 30 + 30 dias.
ADVERTÊNCIA.1. A decretação da temporária e a prorrogação do prazo, exigem ordem judicial motivada,
com a oitiva do MP.
ADVERTÊNCIA.2. O mandado de prisão deve apontar o último dia do prazo (§ 4°-A, art. 2°, Lei 7960/89).
ADVERTÊNCIA3. O dia da prisão já é computado como primeiro dia do prazo (§ 8°, art. 2°, Lei 7960/89).
ADVERTÊNCIA4. A temporária se auto revoga pelo decurso do tempo, sendo que a libertação do sujeito
independe da expedição de alvará de soltura (§ 7°, art. 2°, Lei 7960/89).
Conclusão: o responsável por manter o sujeito preso além do prazo, responderá por abuso de autoridade.
ADVERTÊNCIA.5. Nada impede que a prisão temporária seja CONVERTIDA em preventiva, desde que
presentes os requisitos legais.
c) Postura do juiz- para fiscalizar o bom andamento da prisão, o juiz poderá adotar as seguintes medidas:
c.1) Determinar que o preso lhe seja apresentado.
c.2) Submeter o preso a exame de corpo de delito.
c.3) requisitar informações ao delegado.

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d) Separação do preso- de acordo com o art. 3° da Lei 7960/89, o preso temporário deve ficar separado dos
demais.
Obs.1. O art. 300 do CPP exige que o preso cautelar fique separado do preso definitivo, preservando a
presunção de inocência.
Obs.2. Analisando a situação do preso cautelar, o art. 84 da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84) propõe a
seguinte tripartição:
i) Autores de crimes hediondos e assemelhados;
ii) Autores de crimes praticados com violência ou grave ameaça contra a pessoa;
iii) Autores dos demais crimes e contravenções.

LIBERDADE PROVISÓRIA:

1- Considerações iniciais:
1.1- Comparativo de prisões:
a) Prisão em flagrante:
a.1) Prisão ilegal- teremos o RELAXAMENTO (art. 5°, LXV, CF; art. 310, I, CPP).
a.2) Prisão legal- teremos a liberdade provisória (art. 5°, LXVI, CF; art. 310, III, CPP).
b) Prisão preventiva:
b.1) Prisão ilegal- teremos o relaxamento (art. 5°, LXV, CF).
b.2) Prisão legal- teremos a revogação da prisão (art. 316, CPP).
c) Prisão temporária:
c.1) Prisão ilegal- teremos o relaxamento (art. 5°, LXV, CF)
c.2) Prisão legal- a temporária se autorevoga pelo decurso do tempo.

ADVERTÊNCIA: para a obtenção de cada um dos institutos, é possível que seja impetrado um habeas corpus.

1.2- Modalidades de liberdade provisória- de acordo com o art. 5°, LXVI, CF, a liberdade provisória é o
gênero, do qual fazem parte as seguintes espécies:
a) Liberdade provisória sem fiança;
b) Liberdade provisória mediante fiança.

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1.3- Conceito: é o direito de permanecer livre, mesmo autuado em flagrante legalmente, com ou sem
implementação financeira, desde que cumpridos os requisitos legais.
2- Liberdade provisória sem fiança
2.1- Conceito: é o direito de permanecer livre, mesmo capturado em flagrante legalmente, sem a
necessidade de implementação financeira, desde que presentes os correspondentes requisitos legais.
2.2- Hipóteses de cabimento:
a) 1° hipótese: tem direito ao instituto o sujeito que atuou amparo por qualquer EXCLUDENTE DE ILICITUDE
(art. 310, § 1°, CPP).
Obs. O sujeito deve ser compromissado a comparecer a todos os termos da persecução penal.
b) 2° hipótese: tem direito ao instituto o sujeito capturado em flagrante legalmente mas que não preenche
os requisitos da preventiva (art. 319, CPP).

ADVERTÊNCIA: nada impede, nas duas hipóteses, que o juiz aplique medidas cautelares diversas da prisão
cumulativamente (art. 319, CPP).
2.3- Restrições- de acordo com o § 2° do art. 310 do CPP, não caberá nenhuma hipótese de liberdade
provisória nas seguintes circunstâncias:
i) Reincidente;
ii) Integrante de organização criminosa armada;
iii) Integrante de milícia;
iv) Portador de arma de fogo de uso restrito.

3- Liberdade provisória mediante fiança:


3.1- Conceito:
a) Fiança: é uma caução, uma prestação pecuniária, para acautelar o cumprimento das obrigações do
afiançado.
b) Liberdade provisória mediante fiança: é o direito de permanecer em liberdade, mesmo capturado em
flagrante legalmente, pressupondo uma prestação pecuniária, e desde que cumpridas as obrigações dos
arts. 327, 328 e 341, CPP.
3.2- Valor da fiança- o valor é calculado tendo como referência os arts. 325 e 326 do CPP, adotando os
seguintes critérios:
i) Natureza da infração;

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ii) Condição financeira do sujeito;
iii) Vida pregressa;
iv) Periculosidade;
v) Provável valor das custas processuais.
3.3- Legitimidade:
a) Legitimidade para PAGAR: qualquer pessoa pode pagar a fiança em benefício de outrem.
b) Legitimidade para ARBITRAR:
b.1) Legitimidade do DELEGADO- ela é cabível nos crimes com PENA MÁXIMA de até 4 anos (art. 322, CPP).
b.2) Legitimidade do JUIZ- o juiz poderá arbitrar a fiança nas hipóteses em que o delegado é legitimidade.
Além disso, se a pena máxima é superior a 4 anos, só o juiz poderá decidir.
ADVERTÊNCIA: o juiz tem 48 horas para deliberar (art. 322, CPP).
3.4- Cabimento- a lei não diz quando cabe fiança. Em verdade, o legislador aponta as restrições ao instituto.
Logo, se o sujeito não está enquadrado nas vedações, ele tem direito que a fiança seja arbitrada, vejamos:
3.4.1- Restrições constitucionais (art. 323, CPP):
a) Racismo (art. 5°, XLII, CF)
ADVERTÊNCIA: para os Tribunais Superiores, a injúria com conotação discriminatória é também
inafiançável.
b) Crimes hediondos e assemelhados (art. 5°, XLIII, CF);
c) Ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático de
direito (art. 5°, XLIV, CF)
ADVERTÊNCIA: Para o STF, em que pese inafiançáveis, tais crimes podem comportar liberdade provisória
sem fiança, desde que o sujeito esteja enquadrado em uma das hipóteses de concessão.
3.4.2- Restrições INFRACONSTITUCIONAIS (art. 324, CPP):
a) Se o sujeito QUEBROU o instituto (inciso I, art. 324, CPP).
Conclusão: a QUEBRA da fiança ocorre quando o sujeito descumprir qualquer das obrigações fixadas na
concessão do instituto. Logo, naquela persecução penal, não poderá requerer fiança novamente.
b) Em caso de prisão civil ou militar (inciso II, art. 324, CPP)
c) Quando presentes os requisitos da PREVENTIVA (inciso IV, art. 324, CPP)

ADVERTÊNCIA- vale lembrar, de acordo com o § 2° do art. 310 do CPP, que também não caberá liberdade
provisória mediante fiança nas seguintes hipóteses:

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i) Reincidente;
ii) Integrante de organização criminosa armada;
iii) Integrante de milícia;
iv) Portador de arma de fogo de uso restrito.

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