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1.

Numa zona isolada, A, judoca na categoria de pesados de mais de 100kg que


por ali passava durante o seu treino de jogging de longa distância, avistou uma
criança que acabara de cair no jardim, ficando com uma das pernas dentro da
piscina, e percebeu que o peso do corpo a faria cair, inevitavelmente, na zona
mais funda. Perante a situação de perigo, entrou no jardim e resgatou-a. Nesse
momento, B, mãe da criança, chegou a casa e, supondo que A era um
sequestrador, aproximou-se sem emitir qualquer som e desferiu uma paulada
na cabeça de A com toda a força que tinha, com receio de que este reagisse e a
subjugasse. A caiu no chão, inconsciente, e viria a morrer horas mais tarde, já
no hospital, devido a um coágulo no cérebro, provocado por anos de combates.

Pode a morte de A ser imputada objectivamente ao comportamento de B?

Há uma ação relevante para o Direito, quando o agente cria ou aumenta o perigo
que se vem a concretizar, segundo FD. É necessário ver se o resultado pode ser
imputado ao agente. A ação foi praticada por um ente individual.

Quanto à conduta estamos perante um crime de resultado, não basta o agente


praticar certa ação, é necessário que se verifique um determinado resultado para
que o crime se tenha consumado.

Indo agora para aplicação das 3 teorias de imputação objetiva:

1. Teoria da conditio sine qua non – A premissa básica desta teoria é a de que
causa de um resultado é toda a condição sem a qual o resultado não teria
tido lugar. Por isso, todas as condições que, de alguma forma, contribuíram
para que o resultado se tivesse produzido são causais em relação a ele e
devem ser consideradas em pé de igualdade, já que o resultado é
indivisível e não pode ser pensado sem a totalidade das condições que o
determinaram.

Se nunca tivesse ocorrido esta ação não teria ocorrido na mesma o


resultado, logo ação de B foi a condição.

Haveria aqui que imputar objetivamente esta conduta, uma vez que sem a
mesma, o resultado não se teria produzido. Não se considera aqui as
características especiais da vítima e sobre as quais não eram possíveis de
prever pelo agente.

2. Para a teoria da causalidade adequada, parte da outra, mas distingue entre


condições juridicamente relevantes e irrelevantes. O critério geral reside em
que para a valoração jurídica da ilicitude serão relevantes não todas as
condições, mas só aquelas que, segundo as máximas da experiência e a
normalidade do acontecer – e, portanto, segundo o que é em geral
previsível, – são idóneas para produzir o resultado.

Seguindo o juízo de prognose póstuma, haverá imputação, sempre que


uma pessoa média colocada na posição do agente, antes do crime,
consegue compreender que haveria a previsibilidade daquele resultado.

Se qualquer pessoa colocada na posição do agente podia prever – seguindo


a normalidade social – que dar aquela paulada lhe ia causar a morte.
Independentemente das intenções que o agente tinha, o que vamos
perguntar é se qualquer pessoa podia prever aquele resultado. Ora parece
que o agente não tinha conhecimento que a tentativa de fazer com que B
não a subjugasse consequentemente o levasse à morte, posto isto, não
haveria imputabilidade objetiva.

3. Para a teoria do risco (ou da adequação): a ideia chave é a de limitar a


imputação do resultado àquelas condutas das quais deriva um perigo
idóneo de produção do resultado típico. O resultado só deve ser imputável
à ação quando esta tenha criado um risco proibido para o bem jurídico
protegido pelo tipo de ilícito e esse risco se tenha materializado no
resultado típico.
Estamos perante uma ação perigosa quando, tendo em conta os factos
conhecidos por um homem prudente no momento da prática da ação, diria que esta
gera uma possibilidade real de lesão do bem jurídico. Para que se fale de uma ação
perigosa, a mesma e a criação do risco tem que ser proibido, ora, não nos parece que
estejamos aqui, segundo esta teoria, perante um desses casos. Assim, não haveria
aqui também uma imputabilidade no sentido objetivo. A conduta não é proibida
pelo risco que causa (o resultado) a morte do agente, assim não há uma ação
desvaliosa, o agente não teve o controlo da morte do agente.

2. Durante uma competição de patinagem artística no gelo, A e B realizam


múltiplos lifts. Durante uma destas manobras, A perde o controlo do corpo de
B, lançando-a de forma incorrecta, que cai e sofre uma grave lesão na cabeça.

Pode a lesão de B ser imputada objectivamente à conduta de A?


1. Teoria da conditio sine qua non – A premissa básica desta teoria é a de que
causa de um resultado é toda a condição sem a qual o resultado não teria
tido lugar. Por isso, todas as condições que, de alguma forma, contribuíram
para que o resultado se tivesse produzido são causais em relação a ele e
devem ser consideradas em pé de igualdade, já que o resultado é
indivisível e não pode ser pensado sem a totalidade das condições que o
determinaram.

Se nunca tivesse ocorrido esta ação não teria ocorrido na mesma o


resultado, logo ação de B foi a condição.

Haveria aqui que imputar objetivamente esta conduta, uma vez que sem a
mesma, o resultado não se teria produzido. Não se considera aqui as
características especiais da vítima e sobre as quais não eram possíveis de
prever pelo agente.

2. Para a teoria da causalidade adequada, parte da outra, mas distingue entre


condições juridicamente relevantes e irrelevantes. O critério geral reside em
que para a valoração jurídica da ilicitude serão relevantes não todas as
condições, mas só aquelas que, segundo as máximas da experiência e a
normalidade do acontecer – e, portanto, segundo o que é em geral
previsível, – são idóneas para produzir o resultado.

Seguindo o juízo de prognose póstuma: um comportamento será causa


adequada sempre que, colocada uma pessoa média no lugar do agente,
antes da prática do crime, seja previsível aquele resultado como
consequência do seu comportamento. Se for imprevisível, ainda que haja
causalidade (ditada pelas leis da natureza), não há imputação. Nem será se
apesar de previsível fosse improvável ou de verificação rara, que seria o
caso.

Não seria imputável objetivamente.

3. Para a teoria do risco (ou da adequação): a ideia chave é a de limitar a


imputação do resultado àquelas condutas das quais deriva um perigo
idóneo de produção do resultado típico. O resultado só deve ser imputável
à ação quando esta tenha criado um risco proibido para o bem jurídico
protegido pelo tipo de ilícito e esse risco se tenha materializado no
resultado típico.

O critério de prognose póstuma objetiva tem em consideração o homem


prudente e cuidadoso, pertencente ao círculo social em que se encontra, e
não o homem médio + os conhecimentos especiais que o autor disponha.
3. A prime o gatilho da sua arma, querendo disparar sobre B e causar-lhe a
morte. Contudo, a arma foi esvaziada por C, sem o seu conhecimento, pelo que
nada acontece. B, emocionado com a situação vivida, sofre um ataque cardíaco,
ficando à beira da morte, mas acaba por sobreviver.

4. A e B passaram o Carnaval em Veneza com o seu filho de dez anos, C. Cinco


dias depois de regressarem a Portugal, a família começa a sentir sintomas de
Covid-19. A e B melhoram significativamente depois de tomarem Paracetamol
durante dois dias. Por outro lado, os sintomas de C pioram de forma rápida e
intensa, mas os pais não contactam o SNS24, ou INEM, deixando o filho em
casa. C acaba por falecer. O relatório da autópsia revela que C havia
desenvolvido uma gravíssima pneumonia que, por ser asmático, dificilmente
teria sido controlada, mesmo que C tivesse sido internado na Unidade de
Cuidados Intensivos quando sentiu os primeiros sintomas.

Pode a morte de C ser imputada à conduta de A e B?

5. A circulava na A12, de regresso a Lisboa, com seu filho B, de 3 meses, que ia


no banco de trás. A sua esposa ficara no Algarve. De súbito, uma enorme
mancha de fumo, vinda de frente, começou a cobrir o trajeto, indiciando a
existência de um incêndio nos quilómetros seguintes. Percebendo que vários
condutores, em pânico, faziam inversão de marcha, para tentar escapar a tal
incêndio, António tentou realizar a mesma manobra, mas rapidamente
percebeu que estava bloqueado por outros carros.
Tomado de pânico, e nem sequer se recordando que o seu filho de 3 meses tinha
regressado a Lisboa consigo, A saiu do carro e começou a correr pela
auto-estrada, na direcção oposta ao sentido da marcha. Poucos metros adiante, A
foi atropelado por C, que vinha a circular a muito mais de 120km/hora e que,
por isso mesmo, não teve tempo e espaço para se desviar daquele peão. Mais
tarde, A foi transportado para o Hospital, inconsciente.

D, que também estava preso na auto-estrada, ouviu o choro o bebé e retirou-o


do carro. Nesse exacto momento, um outro condutor embateu violentamente no
carro de A, deixando-o completamente destruído.

6. A, motorista, a pedido do passageiro B, aumenta de forma proibida a


velocidade do automóvel. Em consequência, despista-se, sofrendo B lesões
físicas graves.

7. Durante um assalto, A dispara sobre B à porta de sua casa, ferindo-o. C,


vizinho, ouvindo disparos trouxe o seu cão, treinado para atacar assaltantes, e
aproxima-se do local. Quando viu A armado, embora já não estivesse a disparar
nem com a arma apontada, não impede o cão, que sabe ser muito perigoso, de
atacar A, apesar de não ter a certeza sobre qual dos homens é o assaltante. O cão
dirigiu-se a B, já ferido, e mordeu-lhe a perna até C o chamar. C afastou-se
rapidamente do local, não socorrendo os feridos, com medo de vir a ser
responsabilizado.

Transportado uma hora depois para o hospital, B, ferido na perna pelo disparo
de A e pelo ataque do cão contraiu uma infecção tetânica, pois não estava
vacinado contra o tétano, e morreu.

8. Sem conhecimento um do outro, A e B deitam, cada um, uma dose de veneno


na bebida de C.

a) Cada dose de veneno é mortal. C tem morte instantânea.

b) C morre pela actuação de apenas um dos venenos, mas não se sabe qual.

9. Decidido a concentrar-se na redacção da sua tese de doutoramento, A


sentou-se à secretária com uns fortes tampões de cera nos ouvidos. A sua
mulher, B, veio ao seu escritório pedir-lhe que olhasse uns minutos por C, a
filha de ambos com 2 anos, enquanto B saía para comprar fruta. A não ouviu o
pedido por causa dos tampões e, julgando que B lhe estava a dizer coisas sem
importância, limitou-se a fazer “sim” com a cabeça.

Ocupado com a sua tese, A não ouviu uma garrafa de lixívia cair ao chão na
cozinha com uma rajada de vento, nem viu C agarrar na mesma e bebê-la,
pensando tratar-se de sumo. Minutos depois, B chegou a casa e, vendo a filha
deitada no chão ao lado da garrafa, apressou-se a pegar nela para a levar ao
hospital.

No hospital, B foi atendida por D, médico de serviço. D fora amante de B


noutros tempos e nunca lhe perdoara ter terminado a relação. Decidido a
vingar-se, ministrou a C de um medicamento que, de acordo com o seu plano,
agravaria as inflamações, acelerando a morte. C acabou por morrer como D
planeara. Veio a apurar-se mais tarde, no entanto, que tendo em conta o estado
muito grave em que C se encontrava ao chegar ao hospital, o tratamento devido
teria muito provavelmente sido insuficiente para lhe salvar a vida.

10. Querendo provocar um incêndio, A lança fogo ao pinhal de B.

C e D, bombeiros, ficaram gravemente queimados e em perigo de vida no


combate às chamas.

No hospital de província para onde foram transportados, C e D acabaram por


morrer, por não terem sido atempadamente tratados por E, médico de serviço na
urgência, que se colocara incontactável numa pequena sala isolada do hospital
para ver o jogo final do campeonato de futebol.

Numa aldeia isolada, à qual não ocorreram os bombeiros, foram encontrados


três cadáveres carbonizados. F, o chefe dos bombeiros, considerara aquela
aldeia não prioritária, face ao fogo que destruía os pinhais e à escassez dos
meios humanos de que dispunha, supondo incorrectamente que a aldeia estava
sujeita a um perigo remoto por comparação com o fogo que destruía os pinhais.

11. A, camionista, ultrapassa o ciclista B sem guardar a distância devida e


atropela-o. Posteriormente comprova-se que B circulava com oscilações devidas
ao estado de embriaguez em que se encontrava, de modo que seria provável que
ele tivesse sido atropelado na mesma se A tivesse respeitado a distância de
segurança.

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