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Nota Prévia

Estes são os apontamentos semanais das aulas práticas de DIREITO PENAL,


disponibilizados pela Comissão de Curso dos alunos do 2o ano da licenciatura em
Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, para o mandato de
2022/2023. Foram elaborados pelo aluno Guilherme Tarrinha, tendo por base as aulas e
documentos disponibilizados pela docente Francisca Silva.

Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo
dispensada, por isso, a leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas.
Índice

Caso prático nº 15..............................................................................................................4

Caso prático nº 16..............................................................................................................6

Caso prático nº 17..............................................................................................................6


Caso prático nº 15

Enquadramento: imputação objetiva

De acordo com a teoria maioritária, de entre as três que existem, o problema da imputação
objetiva só se coloca em relação aos crimes de resultado e procura perceber quais os
requisitos necessários para se poder afirmar que um resultado se imputa a uma conduta.

1. Teoria das condições equivalentes – imputamos a conduta sempre que ela tenha
sido causa do resultado, ou seja, sempre que existir um nexo de causalidade
Esta teoria viria a ser substituída pela teoria das condições conformes às
condições naturais, que afirma que podemos imputar o resultado à conduta
sempre que, à luz de normas conhecidas e pacificamente aceites, pudermos
afirmar um nexo de causalidade
2. Teoria da adequação – só afirmamos a imptação da conduta ao resultado quando
existir um nexo de adequação, ou seja, quando, à luz das regras de experiência e
dos conhecimentos gerais e especiais do agente, o resultado for um resultado
previsível (ou não impossível) da conduta
3. Teoria da conexão do risco (teoria maioritária) – aceita as teorias anteriores e
acrescenta-lhes corretores, que funcionam pela negativa (a aplicação de um
corretor exclui a imputação do resultado à conduta):
• Risco permitido
• Diminuição do risco
• Comportamento lícito alternativo
• Âmbito de proteção da norma

O Professor Almeida Costa distingue entre critérios aplicáveis a crimes dolosos e a crimes
neligentes e entende que a imputação objetiva coloca-se em qualquer caso, esteja em
causa um crime formal ou um crime material.

Resolução do caso prático

Vamos começar por avaliar a responsabilidade jurídico-criminal de A.

Aqui temos dois resultados – o resultado morte e o resultado ofensa à integridade física.
Em primeiro lugar, em relação ao resultado morte, existe um nexo causal, na medida em
que, se A não tivesse partido os candeeiros, B não teria caído e sido transportado para o
hospital, momento em que foi vítima de um acidente de viação e morreu.

No entanto, este resultado morte não seria previsível, logo não há nexo de adequação, o
que significa que excluímos, neste segundo nível, a imputação do resultado à conduta.

Por outro lado, em relação ao resultado ofensa à integridade física, e num primeiro
patamar, parece que a conduta A de partir os vidros foi causadora da fraca iluminação e
da consequente queda e desfiguramento de B.

Num segundo patamar, parece que há nexo de adequação, já que seria previsível que,
partindo os vidros, alguém poderia cair na rua.

Deste modo, passamos para o terceiro patamar, aplicando, agora, os corretores da teoria
da conexão do risco, e concluímos que nenhum deles é aplicável e, portanto, há imputação
do resultado à conduta.

Concluindo, quanto ao resultado morte não pode ser estabelecida imputação da conduta
ao resultado, mas, em relação ao resultado ofensa à integridade física há imputação.

Abordando a perspetiva do Professor Almeida Costa, temos que averiguar se foi a conduta
do agente que possibilitou que fossem desencadeados esses efeitos, pelo que, neste caso,
o agente tem o domínio do facto, sendo o crime sua obra, pelo que chegamos à mesma
conclusão da teoria maioritária – imputação quando à ofensa à integridade física, mas não
quanto à morte.

Falemos agora da responsabilidade jurídico-criminal de C.

Num primeiro nível, a conduta de C é causa do resultado morte, ou seja, se esta conduta
fosse eliminada, se ele não conduzisse embriagado, B não teria morrido, pelo que existe
nexo de causalidade.

Num segundo patamar, podemos afirmar que existe nexo de adequação, no sentido em
que o resultado seria previsível.

Assim, temos que avançar para os corretores da teoria da conexão do risco e concluir que
nenhum deles se aplica, pelo que há imputação do resultado morte à conduta de C.
Na perspetiva de Almeida Costa, haveria domínio de facto e, portanto, há imputação da
conduta de C ao resultado morte.

Caso prático nº 16

Enquadramento: imputação objetiva

1. Num primeiro nível, A era responsável pelo matadouro e permitiu o contacto entre
B e um animal não desparasitado, contacto este que veio a provocar a morte de B,
pelo que há nexo causal.
Num segundo nível, parece que era previsível ou, pelo menos, não impossível que,
pelo contacto entre animais não desparasitados e humanos, estes sofreriam alguma
infeção.
Assim, num último patamar, podemos concluir que parece que A agiu dentro do
risco permitido, na medida em que poderia ser desconhecedor da bactéria e não
estava obrigado a proceder à desparasitação, pelo que, sendo aplicado este
corretor, não imputamos a conduta ao resultado.
Em relação à perspetiva de Almeida Costa, temos que averiguar se foi da vontade
de A que dependem os efeitos produzidos em B, concluindo que não há imputação
da conduta daquele aos resultados produzidos neste.
2. Nesta hipótese, A tem conhecimento da bactéria do animal e da condição
sanguínea rara de B, sujeitando, mesmo assim, o contacto entre eles.
Num primeiro patamar, há nexo causal, já que o contacto entre o animal e B
provocou neste a sua infeção.
Num segundo nível, agora ainda há mais previsibilidade, tendo em conta as
informações de que A dispõe, pelo que há nexo de adequação.
No último patamar, já não se aplica o corretor do risco permitido, dado que A não
atua em conformidade com as normas de cuidado e ser-lhe-ia exigida uma conduta
mais prudente.
Assim, concluímos que existe imputação da conduta ao resultado morte.
Em relação à posição do Professor Almeida Costa, parece que, agora, A teve
domínio do facto, tendo domínio da não impossibilidade do facto e tendo sido da
sua conduta que se originou o resultado em B, pelo que se imputa a conduta de A
ao resultado morte produzido em B.

Caso prático nº 17
Enquadramento: matéria dos erros

O tipo é constituído por uma vertente objetiva e uma vertente subjetiva.

Os elementos do tipo objetivo são o agente, a conduta e o bem jurídico, ao passo que os
elementos do tipo subjetivo são o dolo – consiste no conhecimento e na vontade de
realização do resultado - e a negligência – consiste numa violação de um dever objetivo
de cuidado.

Elementos do dolo:

• Intelectual (conhecimento)
• Volitivo (vontade)
• Emocional (atitude de indiferença ou contrariedade ao dever-ser penal), que é
acrescentado pelo Professor Almeida Costa

Nesta hipótese, estava em causa um erro sobre o processo causal, erro esse que existe
quando o agente pratica um crime, atingindo o objeto ou pessoa pretendida, mas segundo
um processo causal diferente do planeado (exemplo: A quer matar B por enfogamento e
decide atirá-lo de uma ponte, vindo a falecer B, não por enfogamento, mas por embater
num pilar da ponte).

Não podemos confundir o erro sobre o processo causal com o erro na execução ocorre
quando há um desvio na execução do crime, que leva a que seja atingido um objeto ou
pessoa que não se pretendida (exemplo: A quer matar B, que está a conversar com C, e
dispara sobre B, mas a bala sofre um desvio e atinge C, que morre)

Neste caso, temos uma hipótese de erro sobre o processo causal, dado que o objeto
atingido era o pretendido, apenas por um processo diferente do planeado.

Nas hipóteses de erro sobre o processo causal, o entendimento maioritário é dado pela
teoria da consumação, de acordo com a qual temos que responder à questão de saber se
aquele desvio era uma concretização do perigo típido da conduta:

• Se a resposta for afirmativa – o agente deve ser punido pelo crime consumado, a
título de dolo
• Se a resposta for negativa – o agente deverá ser responsabilizado pelo crime
projetado, a título de tentativa
Neste caso, o fogo vem a consumir a habitação, mas apenas começou numa outra divisão,
diferente da pretendida; assim sendo, este desvio é considerado uma concretização do
perigo típico da conduta? Sim, pelo que o agente deve ser responsabilizado pelo crime
consumado, a título de dolo (responsabilização por um crime de dano doloso).

O Professor Almeida Costa apresenta uma opinião divergente, na medida em que diz que
temos que avaliar a conduta como se tivesse sido praticado pelo homem médio, onde se
deve atender à situação sócio-existencial do agente – o homem médio será um médico
médio, um cirurgião médio, um advogado médio, entre outros.

Neste sentido, devemos atender às qualidades acima da média do agente, mas não às
qualidades abaixo da média.

À luz deste critério do homem médio, temos que averiguar se, à luz das qualidades que
se requerem do homem médio, aquele desvio era uma consequência previsível da
conduta.

• Se a resposta for negativa – o agente deve ser punido pelo crime projetado, a nível
de tentativa.
• Se a resposta for afirmativa – temos de saber se existe identidade típica entre o
crime projetado e o crime verificado, ou seja, saber se o crime projetado e o crime
verificado se subsumem ao mesmo tipo legal: sendo a resposta negativa, o agente
deve ser responsabilizado nos termos do concurso legal ou aparente de normas,
de acordo com o crime que melhor exprimir o desvalor do ato; sendo a resposta
afirmativa, o agente deve ser responsabilizado pelo crime consumado, a título de
dolo.

Resolução do caso prático

O desvio era uma consequência previsível da conduta, logo temos que verificar se há
identidade típica entre o crime projetado e o crime realizado, e concluímos que sim, dado
que C queria destruir a habitação pelo fogo, o que se veio a produzir.

Assim, ele seria responsabilizado pelo crime consumado, a título de dolo.

Chegamos, deste modo, a uma solução idêntica em ambas as posições doutrinárias.

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