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Erro sobre o processo causal – ocorre uma divergência entre o risco conscientemente criado e

aquele do qual deriva efectivamente o resultado. Para alguns Autores, a solução passa pela
aplicação do regime da tentativa; para outros, passa pela punição pelo crime consumado. O
Professor Figueiredo Dias entende que, quando o erro sobre o processo causal for um erro
sobre a factualidade típica, deve-se punir pela tentativa, pois que não se exclui o dolo.

Dolus generalis – o agente pratica mais que um acto e erra quanto ao que efectivamente
produziu o resultado. O agente pensa, num primeiro momento, ter produzido um determinado
resultado (erroneamente); num segundo momento, fruto de nova actuação do agente, o
resultado vem efectivamente a concretizar-se. Estes são os casos em que, na sua maioria, o
agente tenta encobrir o facto praticado em primeira linha. Por exemplo, A envenena B,
achando que o matou, mas deixando-o meramente inconsciente. Num segundo momento,
para tentar encobrir esse facto, A enterra B, que morre então asfixiado por ter sido enterrado
vivo. O Professor Figueiredo Dias entende que estamos ainda perante o mesmo tipo de casos
nas situações em que haja uma inversão temporal dos acontecimentos (por exemplo, A
anestesia B para num segundo momento o matar, mas B morre logo com a anestesia), sendo
estes casos em que a maioria da Doutrina tende a aceitar a punição por crime consumado – no
momento em que se produz o resultado há prática de actos de execução. A Professora Maria
Fernanda Palma, entende, nos casos de dolus generalis, que estamos perante um crime
consumado, se se conseguir identificar uma unidade da acção (agente já projetava, de
antemão, o encobrimento – há um dolo geral, que engloba toda a conduta do agente). Se há
uma decisão de encobrimento posterior à acção, a Professora entende que o agente não
representa a segunda acção como consumação do crime, pelo que há erro sobre a percepção
do objecto da acção – exclui-se o dolo.

Aberratio ictus vel impetus – é um erro na execução, que leva a que seja atingido um objecto
diferente daquele que estava no propósito do agente. Por exemplo, A pretende matar B, mas
ao disparar, por falta de destreza, acerta antes em C, que estava ao lado de B. Aqui, a acção
falha o seu alvo. Para o Professor Figueiredo Dias, que aplica a teoria da concretização , temos
uma situação de tentativa, seguida de um crime negligente. A aberratio ictus coloca problemas
ao nível da imputação objectiva, pois que se colocará dúvida no âmbito da previsibilidade na
causalidade adequada. Se se tratar de uma situação inesperada, em princípio, não haverá
elemento cognitivo do dolo, pelo que apenas se poderá falar numa imputação negligente do
resultado não previsto. A Professora Maria Fernanda Palma adopta a mesma solução.

Erro sobre a identidade – o agente está em erro quanto à identidade da pessoa ou do objecto.
Não se trata de um erro na execução, mas sim na formação da vontade. É o caso, por exemplo,
de A que, pensando estar a ver B, seu inimigo, dispara contra ele, quando na realidade quem
passava era C, que acabou por morrer. Este erro é, na maioria dos casos, irrelevante, pois que o
homicídio, crime aqui cometido, não tem como elemento do tipo a identidade do sujeito:
apenas se diz “quem matar outra pessoa é punido”. No limite, pode servir para excluir o dolo
do tipo qualificado, transferindo a responsabilidade nos termos do tipo de ilícito fundamental.
Se o agente erra também, todavia, sobre as qualidades tipicamente relevantes do objecto por
ele atingido (exemplo: acha que é um animal, mas é uma pessoa), então há que responsabilizar
por tentativa. Diz a Professora Maria Fernanda Palma, para além disso, que haverá concurso
efectivo.
Dolo alternativo – para atingir uma qualquer finalidade, o agente tem de realizar o facto típico,
podendo atingir um ou outro objeto: não importa qual, desde que atinja um deles. Reporta-se
ao caso em que A pretende atingir B, mas é indiferente se atingir C porque ambos são inimigos.
Segundo a Professora Maria Fernanda Palma, há dolo directo sobre B e dolo eventual sobre C.
Se A atingir C, estando B e C presentes, a Professora entende que se deve punir o agente por
dois crimes – a tentativa (de homicídio de B) e o crime consumado (homicídio doloso de C). A
Professora Inês Ferreira Leite considera que há aqui uma violação do princípio ne bis in idem,
mas a Professora Regente entende que estamos simplesmente perante uma acção bivalente,
em que ambas as vítimas são objectos da acção e ambos os concretos bens jurídicos (vida de
cada um) foram colocadas em perigo.

Negligência consciência – a realização do tipo objetivo de ilícito é representada pelo agente


como consequência possível da sua conduta; o Negligência inconsciente – a realização do tipo
objetivo de ilícito não é nem representada pelo agente.

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