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MATERIAL DE APOIO

DO
CURSO DE DIREITO PENAL1

Iº Módulo: Espécies de Infracção Penal: Crime,


Contravenção e/ou Ilícitos de Mera Ordenação Social;
IIº Módulo: A Imputação Objectiva do Resultado à Acção;
IIIº Módulo: A Responsabilidade Penal das Pessoas
Colectivas;
IVº Módulo: Tipos de Tipicidade;
Vº Módulo: Tipo Subjectivo: Dos Dolos aos Erros;

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Elaborado por Hermenegildo Da Silva (jurista, docente de Direito Penal, pôs-graduado
em agregação pedagógica para docentes universitários, consultor jurídico e defensor
oficioso).

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Iº MÓDULO: ESPÉCIES DE INFRACÇÃO PENAL: CRIME,
CONTRAVENÇÃO E/OU ILÍCITOS DE MERA ORDENAÇÃO
SOCIAL;

A primeira relação que se pode vislumbrar é que, quer o crime, quer


a contravenção são espécies do género infracção penal por excelência. As
duas formas típicas para que se viole uma norma com dignidade (não)
penal é pelo viés do crime e da contravenção. Ambos são, também, factos
voluntários no sentido de que a vontade no agir é fulcral.

O elemento objectivo da infracção é predominante da diferença


entre crime e contravenção, pois as contravenções de reduzem à
desobediência das disposições preventivas das leis e regulamentos.
Resumidamente, temos as seguintes diferenças:

a) Quanto às fontes; enquanto os crimes só podem ser definidos


por lei, as contravenções podem sê-lo também por diplomas
regulamentares;
b) Quanto aos agentes: enquanto nos crimes pune-se os autores
e os cúmplices, nas contravenções não é punível a
cumplicidade;
c) Quanto à tentativa e à frustração; nas contravenções não
são punidos a tentativa nem a frustração, enquanto que nos
crimes se pune a tentativa;
d) Quanto às penas e extinção da responsabilidade criminal;
nas contravenções só são puníveis com multas, ao passo que
nos crimes temos a prisão como forma de punição. Nas
contravenções, a responsabilidade, em princípio, não é
graduável, salvo algumas excepções, diferente dos crimes cuja
graduação da responsabilidade é notória.
e) Quanto ao dolo; enquanto que nos crimes o dolo faz parte do
tipo subjectivo, nas contravenções o dolo é indiferente;

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O critério, inicialmente, para que possamos pensar na
transformação das contravenções e transgressões administrativas em
ilícitos de mera ordenação social é o da valoração ético social das
condutas. Sem razões objectivas, o Código Penal – artigo 7.º e artigos
142.º e segts – e o Código de Processo Penal – artigos 300.º e 437.º e segts
– mantêm as contravenções no leque das infracções de natureza penal ao
lado dos crimes.

A necessidade de as transformar começa em 2011 quando, no


quadro da conformação da legislação em vigor à luz da CRA, foi revogada
a Lei nº 10/87 de 26 de setembro (Lei Quadro das Transgressões
Administrativas), criando-se uma nova Lei das Transgressões
Administrativas, isto é, a Lei nº 12/11 de 16 de fevereiro, mas sem
respeitar à CRA que determina a criação das Contra-Ordenações com um
regime geral substantivo e adjectivo. Esta necessidade de as transformar
está aliada a uma vontade da dogmática jurídico-penal, por se verificar
dificuldades práticas que existem em termos de compreensão,
operacionalização das Contravenções e Transgressões, por dispersão de
regime e falta de harmonia e unidade sistémica nos tratamentos destas
infracções. A título de exemplo, do vários que há, o Código de Estrada –
aprovado pelo Decreto-Lei 5/08 de 29 de setembro – qualifica as
infracções rodoviárias como contravenções nos termos dos artigos 132.º,
134.º, 135.º, 148.º e 178.º, mas na prática não obedecem ao regime das
contravenções, que é um regime penal, ou seja, as multas não são
aplicadas por um Tribunal e/ou Juiz, mas sim por um Agente
Fiscalizador de Trânsito, comumente, Polícia de Trânsito.

Entendemos que, com a referência “regime geral dos actos ilícitos


de mera ordenação social”, cunhada na alínea t), nº 1 do artigo 165.º da
CRA, o legislador constituinte pretendeu de forma expressa consagrar o
Direito de Mera Ordenação Social.

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A lei referindo-se ao ilícito de mera ordenação social, omitindo toda
a referência à figura das contravenções, ela deixa entender claramente
que ela desapareceu como tipo sancionatório autónomo, pelo que têm de
ser tratadas de acordo com a natureza que tiverem – criminal ou mera
ordenação social2.

IIº MÓDULO: A IMPUTAÇÃO OBJECTIVA DO


RESULTADO À ACÇÃO

O nexo de causalidade, em sede de direito penal, visa estudar dos


polos: a acção versus o resultado. Visa, de forma vernácula, saber se
acção, necessariamente, leva a este resultado. Há, de facto, um
elo/nexo/relação entre a acção e o resultado? Como aferir que a acção é
capaz para produzir o evento? Quais são os graus que imputam
objectivamente o resultado à acção?

Há, portanto, vários degraus que alicerçam a imputação objectiva


do resultado à acção, tais como:

 Primeiro piso: a categoria da causalidade/ das condições


equivalentes ou da “conditio sine qua non”

Essa teoria surgiu com Glaser e v. Buri em meados do séc. XIX, pois
a acção há-de, ao menos, ter sido causa do resultado. A premissa básica
desta teoria é a de que causa de um resultado é toda a condição sem a
qual o resultado não teria tido lugar, ou seja, todas as condições são
causas para produzir o resultado, pois sem essas causas o resultado não
se verificaria.

Neste afã, todas as condições que, de alguma forma, contribuíram


para que o resultado se tivesse produzido são causas em relação a ele e
devem ser consideradas em pé de igualdade, já que o resultado é
indivisível e não pode ser pensado sem a totalidade das condições que o
determinaram.

2CANOTILHO, GOMES E MORREIRA, VITAL, Constituição da República Portuguesa


Anotada, 2006, pág. 328.

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Tenhamos como exemplo a morte de Pedro; serão causas dessa morte
o facto de Lucas ter uma arma e com ele ter dado dois tiros ao Pedro, o
facto da Julbertina ter fabricado essa arma e o facto de o taxista André
ter levado o Lucas ao encontro de Pedro, pois sem qualquer uma dessas
condições não teria sido possível a morte de Pedro nas concretas
condições de modo, de tempo e de lugar que efetivamente ocorreu. O juiz
tenderá, pois claro, de suprimir mentalmente cada uma das causas que
deram lugar ao resultado.

Vistas as coisas desta forma, a fórmula da “conditio sine qua non” é


como se de “regressus ad infinitum” se tratasse e onde devesse cair por
terra todas as circunstâncias atípicas ao nexo de causalidade, ou seja,
excluir-se-ia os fenómenos da natureza – Pedro ter sido morto por um
raio, e não pelo tiro – acções acidentais de terceiros – Pedro ter sido morto
devido ao mal trabalho do médico-cirurgião, e não pelo tiro –
circunstâncias pré-existentes – Pedro ter sido morto por uma doença que
padecia, e não pelos disparos.

Esta teoria conheceu algumas críticas:

i) A causalidade aferida segundo o critério da equivalência não


pode arvorar-se, só por si, em critério de imputação objectiva,
pois esta última é mais exigente;
ii) O critério da supressão metal apenas é prestável em certos
casos, mas não noutros, concretamente nos casos de
causalidade virtual3, dupla causalidade4 e nas situações
frequentes de uma sociedade de risco como, por exemplo, os
atentados ao ambiente, a manipulação genética e à
responsabilidade do produto;
iii) Conduz a exageros incogitáveis na medida que, pelo
cometimento do crime pelos filhos, os ascendentes seriam
responsabilizados, pois sem eles nem sequer teriam nascidos.

3 A título de exemplo, A dispara um tiro mortal sobre B, no preciso momento em que


este é afectado por enfarte do miocárdio mortal.
4 Segue o exemplo de que A e B colocam separadamente venenos, qualquer deles mortal,

no copo de C, que acaba por morrer.

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iv) A aplicação deste critério tornaria, também, inútil para apurar
se o facto de se alimentar o gado bovino com rações animais e
com isso provocar nele a doença das “vacas loucas”, cuja carne
foi ingerida por pessoas que posteriormente contraíram a
síndroma de Creutzfeld-Jakobs e dela vieram a morrer, terá sido
condição sine qua non destas mortes;
v) É fonte de situações de desigualdades e injustiças, pois num
mesmo cenário em que uma pessoa empurra, com a mesma
força, duas pessoas: um morre porque sofria de hepatite em
estado adiantado, sem que o agente soubesse e outro nem
sequer se magoa com o empurrão. É injusto e desigual
responsabilizar o agressor por homicídio pela morte do primeiro
indivíduo, pois a sua acção não foi suficiente para produzir o
resultado;
vi) Não distingue entre causa típica, acidental, causal ou atípica
nem o que é necessário do contingente.

 Segundo piso: a causalidade jurídica sob a forma da teoria da


adequação

A teoria da causalidade adequada foi criada por v. Kries nos finais


do séc. XIX com o fito de acabar as injustiças e/ou males criados pela
teoria das condições equivalentes como, a título de exemplo, quando A
dá uma pancada na cabeça de B, mas este morre por conta de um crânio
trepanado. A sina da teoria da causalidade adequada, enquanto uma
verdadeira teoria da imputação diferentemente à teoria das condições
equivalentes, é que a imputação penal não pode nunca ir além da
capacidade geral do homem de dirigir e dominar os processos causais.
Neste caso, nem todas as condições são idóneas/adequadas/relevantes
para produzir o resultado tal como afere a primeira teoria, mas só aquelas
condições que, segundo as máximas da experiência e a normalidade do
acontecer, são idóneas para produzir o resultado, ou seja, dentre todas
as condições, escolher-se-á, como critério de imputação objectiva do
resultado à acção, aquela que for adequada a produzir o evento. Numa
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palavra, uma condição é adequada quando o resultado é consequência
normal e típica da condição.

O nº 1 do artigo 8.º do CP é suficientemente clara a adoptar, como


teoria de imputação objectiva do resultado à acção e/ou omissão, a
causalidade adequada. Perante todas as causas, optar-se-á naquela que
for adequada para produzir o resultado, pois há certas circunstâncias
que possam interromper o nexo de causalidade. A análise da idoneidade
das acções e/ou causas não é feito de forma linear assim, pois o juiz – no
seu árduo trabalho rumo à descoberta da verdade – deve fazer um juízo
de prognose póstuma, que entendemos ser uma espécie de analepse, ou
seja, um recuo mental ao momento da prática do facto afim de se
interrogar e responder, introspectivamente, à questão da adequação da
acção segundo as regras da experiência comum, aplicadas às
circunstâncias concretas da situação.

Victor de Sá Pereira e Alexandre Lafayete, no seu Código Penal


Anotado e Comentado, entendem que a relação de causalidade adequada
entre a conduta – acção ou omissão – e o resultado não implique que este
se verifique de imediato. Pode haver um longo período temporal a separar
os dois momentos. Pense-se no caso do coma profundo e irreversível
provocado por conduta típica de homicídio. E na hipótese em que o
agente infecta a vítima com vírus de doença mortal, máxime a SIDA.

Como é costume, esta teoria sofreu algumas críticas:

1. A teoria da causalidade adequada teve de reconhecer que, na


questão da imputação do resultado à conduta, não pode deixar
de se ter em conta os especiais conhecimentos que o agente
tinha ou tinha obrigação de ter. Pense-se, a título ilustrativo, se
A sabe que B tem hemofilia e, mesmo assim, dá-lhe uma
pancada na cabeça cuja consequência é a morte, a morte deste
deve poder ser imputada à pancada, mesmo que, segundo a
experiência normal, uma pancada daquela intensidade nunca
fosse idónea a provocar a morte e de igual modo a educadora de

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infância, que desconheça mas que tivesse obrigação de conhecer
– pela ficha médica que lhe foi entregue e que ela não leu – que
dá uma leve pancada na cabeça da criança com crânio trepano.
Embora esta crítica não inviabiliza a teoria da causalidade
adequada, ela levante o problema de saber e provar-se se o
agente sabia ou tinha obrigação de saber que a vítima tinha
aquela deficiência.
2. A teoria da causalidade adequada, ainda nas críticas se aduzem
contra ela, conduziria a imputar o resultado, mesmo que a
intervenção de terceiro não fosse previsível, admitindo o nexo
causal em abstrato apagando toda a ideia de que o nexo causal
deve analisar-se em concreto. Assim, se A deixa uma arma
carregada junto dos colegas adultos e, posteriormente, estes
começam a brigar, aproveitando-se um deles da arma para
disparar sobre um outro, não se pode imputar a lesão de um
bem jurídico ao A, pois que, no momento em que este deixa a
arma, a briga posterior não era previsível, como também não se
pode considerar provável que, mesmo brigando, um deles
utilizasse a arma, mas se fosse previsível – A tenha deixado a
arma em local onde contenha crianças – já se lhe imputaria o
resultado à acção.
3. Uma terceira crítica que podemos apresentar é que ela não
permite excluir a imputação objectiva nas hipóteses de risco
permitido. São os casos de acções que, por serem socialmente
necessárias, são permitidas, mas acções estas que, segundo a
experiência, são adequadas a produzir o resultado típico.
Sirvam de exemplos a circulação rodoviária e o transporte de
materiais perigosos...
 Terceiro piso: teoria da conexão do risco

Como vimos, a teoria da causalidade adequada não foi imune às


críticas. Ela, em certos casos de natureza eminentemente prática, falha.
Pensa-se, a título ilustrativo, que A, vendo que B está na iminência de
ser atropelada, puxa-lhe pelo braço causando lesões ligeiras, mas salva-
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lhe. Deve A ser responsabilizado pelas lesões causadas a B? Imagine,
também, o motorista que reduz ao máximo o limite da sua velocidade,
mas alguém vem correndo pela estrada e, num ímpeto, é atropelada. O
motorista deve ser responsabilizado?

Bom, no âmbito da teoria da causalidade adequada a resposta é


peremptória: sim devem ser responsabilizados, pois as suas acções são,
de acordo a experiência da vida e o normal acontecer, idóneas/adequadas
para produzir o resultado. Se formos por esta via, então estaremos a
retroceder aos avanços dado pela dogmática penal hodierna. Hoje, há
necessidade de se fazer um juízo de ponderabilidade dos bens jurídicos a
proteger, ou seja, tem de se respeitar a hierarquização dos bens jurídicos.
A vida, em sede de hierarquia dos bens jurídicos, está no cume em relação
a outros bens jurídicos. Tem de se aferir se a conduta do agente
aumentou o risco, diminui o risco ou trata-se de um risco permitido. Nos
casos avançados inicialmente, os riscos ali são permitidos, pois
diminuiu-se o risco – lesões físicas não superam a vida e o limite da
velocidade era, deveras, o recomendável embora no primeiro exemplo
caiamos, certamente, no estado de necessidade ínsito no 32.º do CP

Destarte, a teoria da conexão do risco vem, em boa medida,


colmatar as limitações que a teoria da adequação vem apresentando.
Neste caso, só haverá imputação objectiva do resultado à acção quando
o agente tenha criado um risco não permitido ou tenha aumentado um
risco já existente conduzindo, assim, à produção do resultado típico5.

5 Américo Taipa de Carvalho não partilha desta opinão defendida por Figueiredo Dias
nos seguintes termos e condições “por um lado, a exclusão da imputação, na perspectiva
jurídico penal, resulta logo do facto de não haver desvalor de acção no empurrão dado
pelo A, pois que ele na exigível perspectiva ex ante até é valioso – tal como é a amputação
da perna pelo cirurgião para salvar a vida do amputado. Ora, segundo Taipa, a
imputação jurídico-penal do resultado à acção pressupõe, no mínimo, desvalor desta.
Isto é, onde não houver desvalor da acção, não há lugar a imputação jurídico-penal do
resultado. Para ele, mesmo que se considerasse como típica de lesões corporais a acção
do empurrão – se ela for considerada típica segundo a teoria da causalidade adequada,
também o terá de ser segundo a teoria da conexão do risco – a exclusão da ilicitude não

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QUAIS AS CIRCUNSTÂNCIAS QUE INTERROMPEM O NEXO DE
CAUSALIDADE?

Como se disse, para que a conduta seja imputada ao agente é curial


que ela seja idónea e relevante para produzir o evento ou resultado. O
normal das coisas é que a acção leva, necessariamente, ao resultado. Ora,
se no percurso entre a acção e o resultado existir algumas causas atípicas
que quebram o possível nexo, então ao agente, dada a teoria da
causalidade adequada, não se pode imputar responsabilidade. Regra
geral, a responsabilidade penal deve incidir na medida em que o agente
actuou. Nada além disto! Se, a título de exemplo, A verificando que B, a
sua mulher, viola reiteradamente os deveres de fidelidade e, por conta
disto, dá-lhe uma bofetada fazendo com que B saia de casa
desesperadamente e cai-lhe um terramoto causando-lhe a morte. Quid
iuris? A deve ser responsabilizado pela morte de B? A negação aqui é
peremptória, pois a acção de A (bofetada) não é idónea/adequada para
produzir o resultado (morte), pois há circunstância que interrompe o nexo
de causalidade, ou seja, o itinerário entre a acção e o resultado.

Nestes termos e condições, as circunstâncias atípicas/acidentais


ao nexo de causalidade podem ser:

i) Circunstâncias pré-existentes;
ii) Acções acidentais de terceiros;
iii) Factos da Natureza.

Está-se diante de circunstâncias pré-existentes quando o agente já


padece de uma enfermidade prévia que lhe pode levar, facilmente a um
resultado típico como, por exemplo, hemofilia, crânio trepano,
insuficiência renal entre outras que lhe torna particularmente em estado
de vulnerabilidade. Exemplificativamente, A empurra ligeiramente B e
este caí e morre. O laudo médico aferi que B morreu devido a diabetes

se fundamentava no direito de necessidade, mas no consentimento presumido. Isto


porque o bem lesado – integridade física – é do mesmo titular do bem a salvaguardar –
lesões graves ou a vida – e não de um terceiro.

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em estado avançado e não pelo empurrão de A, aqui se pode vislumbrar
uma causa atípica a ligação entre conduta do agente – empurrão – e o
resultado – morte – logo, a conduta de A não é adequada para produzir o
evento sendo assim se retira no mar da responsabilidade penal face a
morte de B.

As acções acidentais de terceiros são circunstâncias cujo terceiro


se imiscui no itinerário entre a conduta e o resultado. É o caso de A que
desferi um tiro a B causando-lhe ferimentos graves e, estando no bloco
operatório, o médico esquece o bisturi dentro dele, causando-lhe a morte.
Neste caso, o médico preencherá o tipo penal homicídio negligente nos
termos do artigo 152.º do Código Penal e A o tipo penal ofensa grave à
integridade física segundo rege o artigo 160.º do Código Penal.

O percurso entre a conduta e o resultado também pode ser


interrompido por um raio, uma tempestade. Basta pensar que, nos
exemplos anteriores, B não venha morrer de diabetes nem pelo facto do
médio esquecer o bisturi em si, mas por um raio atingi a ambulância que
lhe levava ao hospital.

IIIº MÓDULO: A RESPONSABILIDADE PENAL DAS


PESSOAS COLECTIVAS

Para início de conversa, todo o direito penal assenta no princípio


da culpa – entendamos aqui a culpa como o juízo de censura que recai
ao agente – não sendo por acaso que Jorge Figueiredo Dias entenda que,
na verdade, devia chamar-se direito penal da culpa.

E o princípio da culpa apresenta numa lógica inegável: a culpa


pressupõe vontade, só o homem tem vontade, logo só o homem comete
crime. Ponto! Esta é a regra e, para lapidá-la, surge o brocardo latino
“societas delinquire non potest”, ou seja, as sociedades não cometem
crimes por que, a princípio, elas não têm vontade.

A responsabilidade penal das pessoas colectivas tem duas razões


de ser:

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i) Razão teórica; no sentido de que ela é uma realidade,
esquecendo a configuração dela como “ficção” conforme nos
habituou Mota Pinto em sede de Teoria Geral do Direito Civil.
Esta realidade é capaz de preencher o tipo objectivo e o tipo
subjectivo da norma penal em alusão ao princípio do “alter-ego”,
segundo qual os actos da pessoa física é como se fossem e são
os actos da pessoa colectiva, agi em nome dela;
ii) Razão prática; é inquestionável o número exacerbado de
práticas criminais perpetradas pelas pessoas colectivas que, de
longe, merecem a intervenção do direito penal.

O artigo 9.º do CP 20 deu uma nova roupagem ao instituto da


responsabilidade penal das pessoas colectivas, responsabilizando-as
criminalmente. Mas, antes da entrada em vigor do Novo Código Penal, já
existia um instrumento que responsabilizada os actos criminosos das
pessoas colectivas. Falo-vos, claro esta, da Lei 3/14, de 10 de fevereiro –
Lei Sobre a Criminalidade das Infracções Subjacentes ao Branqueamento
de Capitais. A excepção da culpa enquanto pressuposto da punição é
quando a factisespécie delituosa é preenchida/cometida por uma pessoa
colectiva. Na hierarquia das leis - isto de seguirmos a "pirâmide
hierárquica" aludida por HANS KELSEN - no cume temos o Código Penal
e, depois, outras leis avulsas como esta atinente a Criminalidade das
Infracções Subjacentes ao Branqueamento de Capitais.

IVº MÓDULO: TIPOS DE TIPICIDADE


Cada tipo de crime está inculcado na parte especial do Código
Penal, mas isto não inibi que os possamos classificar sendo verdade que
muitos deles apresentam estruturas semelhantes e/ou comuns quer o
núcleo seja o autor, a conduta, o bem jurídico, o processo causal, entre
outros que a doutrina penal avança.

 Quanto ao autor;

Nesta categoria, podemos encontrar os crimes singulares e/ou


unissubjectivos, crimes plurais e/ou de comparticipação necessária,

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crimes comuns, crimes específicos – próprios e impróprios – e crimes de
mão própria.

i) Diz-se crimes singulares quando uma única pessoa é quem o


pratica6 e, por maior de razão, fala-se de crimes plurais
quando a prática do facto típico exige a intervenção de mais
do que uma pessoa, ou seja, tem de existir o concurso de
duas ou mais pessoas. É o que se verifica nos crimes de
participação em motim, associação criminosa e participação
em rixa, v.g. artigos 269.º, 298.º e 169.º do CP.
ii) Os crimes comuns são aqueles cujo autor da prática do crime
pode ser, em regra, “qualquer pessoa” e isso lobriga-se
quando o tipo sentencia, no âmbito da generalidade
enquanto característica das normas jurídicas, “quem...” nos
tipos penais homicídio (art. 147.º: “Quem matar
voluntariamente outra pessoa...”) ou roubo (art. 401.º: Quem
com o propósito de se apropriar...”). Os crimes específicos são
aqueles cujo cometimento é reservado a determinadas
pessoas, ou seja, a lei exige uma qualidade ou um dever
especial ao agente como se de um “intuitu personae” se
tratasse. É o caso da qualidade de funcionário público no
crime de peculato (art. 362.º). Os crimes específicos podem
bifurcar-se em próprios e impróprios; nos primeiros, a
qualidade ou o dever especial do agente fundamentam a
ilicitude e a sua responsabilidade, v.g. o caso do profissional
de saúde que se recusa a prestar assistência médico-
medicamentosa nos termos do art. 209.º, prevaricação
segundo reza o art. 349.º e denegação de justiça der ac ordo
o art. 348.º; ao passo que no segundo, o dever especial e a
qualidade do agente não fundamentam a ilicitude nem a
responsabilidade, mas servem, tão-somente, para as

6 Embora, tal como defendem GERMANO MARQUES DA SILVA e CAVALEIRO DE


FERREIRA, admitem também a sua praticabilidade por mais de uma pessoa, em
comparticipação, pois são crimes de participação facultativa.

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agravar, v.g. o art. 405.º sobre o abuso de confiança
qualificado, o art. 150.º cujas circunstâncias modificativas
estão nas suas alíneas7.
iii) O crime de mão própria tem merecido uma
atenção especial da doutrina. O mérito desta designação
coube a BINDNG e têm sido largamente estudados por
ROXIN na sua importante obra Täterschaft und Täterschaft.
JAKOBS entende os crimes de mão própria como aqueles que
“o tipo de ilícito consiste na realização física de uma acção
reprovável, e em que a essência do ilícito radica numa atitude
defeituosa do agente relativamente aos seus deveres
pessoalíssimos”. Para TERESA BELEZA, os crimes de mão
própria “são aqueles cuja definição legal torna impensáveis
em qualquer forma de autoria que não seja directa, imediata,
material, dado que a acção descrita só é susceptível de ser
praticada por mão própria, isto é, com o próprio corpo como
o perjúrio, bigamia e alguns crimes sexuais”. GERMANO
MARQUES DA SILVA define estes crimes como sendo
“aqueles que só podem ser praticados pela própria pessoa
que reúna as qualidades que a lei exige como elemento do
próprio crime”, embora pareça que esta definição assemelha
aos crimes específicos, se virmos bem. FIGUEIREDO DIAS
entende que os crimes de mão própria “são aqueles em que
o preceito legal quer abranger como autores apenas aqueles
que levam a cabo a acção através da sua própria pessoa, não
através de outrem, querendo abranger apenas os autores
imediatos, ficando excluída a possibilidade da autoria

7 Na esteira de FIGUEIREDO DIAS, o crimes específicos têm de decisivo o dever especial


que recai sobre o autor, não a posição do autor de onde este dever resulta. Por isso,
pode haver crimes específicos que não contenham, ao menos de forma expressa,
elementos típicos do autor, antes se limitando a descrever a situação de onde resulta o
dever especial (cf., v.g., o art. 208.º que incrimina a omissão de auxílio). O estudo dos
crimes específicos tem aplicação prática sobretudo na matéria da comparticipação e as
suas implicações jurídico-penais e erro sobre objecto nos termos dos artigos 14.º, 20.º
a 27,º do CP

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mediata; e mesmo co-autoria relativamente àqueles
comparticipantes que não tenha chegado a executar por
próprias mãos a conduta típica”. Os crimes de mão livre
podem elevar-se a uma categoria autónoma de crimes? Há,
no Código Penal, crimes de mão livre? Neste quesito,
corroboramos AMÉRICO TAIPA DE CARVALHO nos
seguintes termos e condições: “os chamados crimes de mão
própria não constituem uma categoria autónoma de crimes;
se, no passado, houve razões para autonomizar e atribuir um
regime específico, em matéria de comparticipação, a
determinados crimes de dever, hoje, a partir da centralização
do direito penal no facto e na tutela de concretos bens
jurídicos, deixa de haver razão para tratar esses tradicionais
crimes de mão própria com um regime diferente dos normais
crimes específicos...”.
 Quanto à conduta

É na conduta que possamos aferir qual das acções é relevante e


irrelevante para o direito penal.

Aqui, deparar-nos-emos com os crimes de resultado, crimes de


mera actividade, crimes materiais, crimes formais, crimes de resultado
sob a forma de comissão por acção, crimes de omissão pura, crimes de
resultado sob a forma de comissão por omissão, crimes de execução livre
e execução continuada. Entende-se por crimes de resultado é aquele cujo
resultado produz os seus efeitos depois da acção, caso haja uma cisão
entre a acção e o resultado. A injunção ínsita no tipo é a produção de um
evento material, v.g., o homicídio (art.147.º); os crimes de mera actividade
estão no leque dos crimes formais, cujo tipo descreve apenas uma
conduta, independentemente de qualquer situação concreta de perigo,
v.g., o crime de injúria (art. 213.º);

i) Os crimes materiais são aqueles cujo resultado é


indispensável para se preencher o facto típico, ou seja, o
resultado é elemento do tipo de ilícito. Numa palavra, para a

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consumação, exige-se a ocorrência do resultado e, a título de
exemplo, temos o art. 159.º cuja consumação só se verifica
com a ofensa à integridade física de uma pessoa. Em
contraposição, temos os crimes formais cujo resultado é
dispensável, bastando que haja a conduta do agente, de
outro modo, o resultado não é elemento do tipo de ilícito. O
crime consuma-se independentemente da produção do
resultado como, por exemplo, é o caso da omissão de auxílio
nos termos do artigo 208.º do CP.
ii) Outra subcategoria dos tipos de tipicidade é aquela que
separa os crimes de resultado sob a forma de comissão por
acção, a omissão pura e os crimes de resultado sob a forma
de comissão por omissão. Os primeiros, geralmente são
cometidos por acção – enquanto comportamento humano
dominado ou dominável pela vontade cuja a exteriorização
lesa ou põe em perigo de lesão bens jurídicos tutelados pela
norma penal – em que o agente é punido porque praticou um
facto humano, típico, ilícito, culposo e punível, v.g., art.
187.º; o segundo, tem como condão o facto do tipo estiver
directamente descrito na lei e o agente é punido
independentemente do resultado, é punido por não ter feito
nada: ele estava obrigado a ter determinada conduta que
omitiu, v.g., art. 209.º; o terceiro, são aqueles em que a
omissão se equipara à acção e essa equiparação só acontece
nos crimes materiais, de forma livre, em que recaia sobre o
agente o dever pessoal de evitar o resultado típico, portanto
só se configurará agente deste tipo de tipicidade quem tenha
um dever que o obrigue pessoalmente, ou seja, que tenha um
dever garante.
iii) Os crimes de execução livre são aqueles em que o iter criminis
não assume qualquer relevância e, por seu turno, nos crimes
de execução vinculada o modo de execução vem descrito no
tipo. Assim, se a burla – art. 417.º - é um crime de execução

16
vinculada, porque só o comete quem age, na linguagem da
lei, “usando de qualquer meio astucioso ou enganoso”, já o
homicídio – art. 147.º - é um crime de execução livre, pois ao
tipo é indiferente a forma como o resultado morte é
provocado.
 Quanto ao bem jurídico

De forma incipiente, há uma rota de distinção entre o objecto da


acção e o bem jurídico. Não podemos, certamente, cair num juízo de
confundibilidade entre os dois. Se analisarmos dois exemplos de escola,
será fácil precisar a diferença: A rouba o telemóvel de B e C mata D. Ora,
no primeiro caso, o objecto da acção é o telemóvel e o bem jurídico é a
propriedade alheia, digamos. Já no segundo exemplo, o objecto da acção
é o corpo de D, ao passo que o bem jurídico é a vida. Desta forma, é fácil
de ver que objecto da acção refere-se às pessoas ou coisas que incidem a
acção delituosa e bem jurídico é o valor juridicamente reconhecido a nível
constitucional e que expressa um interesse da pessoa e/ou da
comunidade.

Neste polo, encontramos os crimes de dano e crimes de perigo,


crimes simples e crimes complexos, crimes instantâneos e crimes
duradouros, crimes eminentemente pessoais e crimes não
eminentemente pessoais.

1. A doutrina jurídico-penal, na voz de FIGUEIREDO DIAS, tem


olhado nestes tipos de tipicidade atendendo à gravidade, perigo
de lesão e/ou lesão efectiva do bem jurídico devido à actuação
do agente. Entende-se por crimes de dano o facto do agente lesar
de forma efectiva o bem jurídico tutelado pela norma penal. O
elemento fulcral deste conceito é a lesão efectiva. Nada de
presunções. É curial que a realização do tipo incriminador tenha
como consequência uma lesão efectiva do bem jurídico e, a título
meramente exemplificativo, pensemos no dano (art. 410.º),
homicídio (art. 147.º), na injúria (213.º). Em rota de colisão aos
crimes de dano, nasce os crimes de perigo cuja lesão efectiva,

17
agora, torna-se infértil, bastando que haja, simplesmente, a
colocação em perigo do bem jurídico, ou seja, basta que se crie
situações em que seja possível a lesão efectiva dos bens jurídicos
protegidos. Há a possibilidade de perigo e não o perigo efectivo.
Em boa razão, podemos entender os crimes de perigo como
aqueles que se consumam independentemente da lesão efectiva
do bem jurídico, pois tão-somente necessita da mera colocação
em perigo do bem jurídico. Podemos até desenhar: A põe fogo
em casa de B, que estava de viagem em Chicala-Choloanga,
mesmo que o resultado danoso – imaginemos a intenção de lhe
matar – aconteça, o tipo está preenchido com a simples
colocação em perigo, dispensa-se a lesão efectiva, vide alínea a)
do art. 277.º. Os crimes de perigo podem bifurcar-se em:
a) Crimes de perigo concreto: é quando o perigo é elemento do tipo
incriminador e ele só se realiza quando o bem jurídico tenha sido
posto, efetivamente, em perigo. Se, no caso, não houver situação
de perigo, não há crime. A colocação em perigo do bem jurídico
resulta da própria actividade. Por exemplo, o art. 203.º (abandono
de pessoa), o elemento do tipo é o “colocar em perigo a vida de outra
pessoa”, portanto só estaremos diante de um crime de abandono
de pessoa quando se comprovar que a vida, enquanto bem jurídico,
foi realmente posto em perigo.
b) Crime de perigo abstrato: funciona quando o perigo não é
elemento do tipo incriminador, mas motivo de proibição apenas. O
legislador presume que certa conduta é perigosa sem a necessidade
de ser comprovada “in locus”. Há, aqui, uma presunção iuris et de
iure. É o caso do art. 306.º (condução de veículo rodoviário em
estado de embriaguez) em que o condutor embriagado é punido
pelo facto de o estado em que se encontra constituir um perigo
potencial para a segurança rodoviária, entre outros exemplos.

18
É constitucionalmente aceite os crimes de perigo abstrato?

A doutrina se tem controvertido a respeito desta questão e, se


virmos bem, tem a razão de ser visto que esse tipo de tipicidade visa punir
com base a perigosidade que a conduta potencialmente possa vir a
causar, ou seja, haja pelo viés da presunção inelidível, ora: não
estaríamos, desta forma, a constituir uma tutela demasiada avançada do
bem jurídico? Não estaríamos, outrossim, a colocar em risco princípios
basilares do Direito Penal como é o caso da legalidade e da culpa?

Pois bem, a doutrina maioritária8 entende e nós corroboramos pela


sua ausência de inconstitucionalidade por três motivos:

 Quando os crimes de perigo abstrato visarem a proteção de bens


jurídicos de grande importância, por exemplo, a vida;
 Quando for possível identificar claramente o bem jurídico tutelado;
 Quando a conduta típica for descrita de uma forma tanto quanto
possível precisa e minuciosa.
2. Se o tipo incriminador e/ou ilícito visar a tutela de apenas um
bem jurídico, tratar-se-á de um crime simples, a título de
exemplo, a vida no homicídio (147.º) e a honra na difamação
(214.º). Agora, se o tipo incriminador e/ou ilícito propender a
proteção de vários bens jurídicos, referir-nos-emos aos crimes
complexos como é o caso do roubo (401.º) cuja tutela do bem
jurídico não abrange, apenas, a propriedade, mas também a
integridade física e a liberdade individual de decisão e acção.
3. Entende-se por tipos plurais aqueles que o legislador
apresenta pluralidade de crimes, mas sanciona-lhes com uma
única pena, vide o caso do art. 279.º.
4. Os tipos fundamentais são aqueles que, a partir deles, podem
ser criados outros tipos de crimes acrescentando-lhes

8Costa, Faria, ob.cit, pág 646; Mendonza Buergo, Blanca, Limites dogmáticos y político-
criminales de los delitos de peligro abstrato, 2001, pág 42 e segts e Rodriguez Mourullo,
Limitaciones del derecho penal del medio ambiente: alternativas politico-criminales in
Tutela Jurídica do Meio Ambiente: Presente e Futuro, I Jornadas Luso-Espanholas de
Direito Penal, 2005, pág 159 e segts.

19
circunstâncias agravantes – dão lugar aos crimes qualificados –
e as circunstâncias atenuantes – dão azo aos crimes
privilegiados. Podemos até desenhar; pensa em um corpo – é o
tipo fundamental – e esse corpo tem dois braços um que agrava
a ilicitude ou a culpa – este é o crime qualificado – e outro que
atenua a ilicitude e a culpa – este é o crime privilegiado. O
exemplo de escola é o homicídio – que é um tipo fundamental –
dele, caso haja circunstâncias agravantes, por exemplo, se a
vítima for o pai, torna o homicídio qualificado (alínea a) do art.
150.º). Se for a mãe que, sob influência perturbadora do estado
puerperal, matar o filho – por concorrem circunstâncias
atenuantes – ganha um novo “nomines iuris” infanticídio e, por
inerência, torna-se um crime privilegiado. Mais uma vez, vamos
desenhar: A matou B. Matar é crime nos termos do art. 147.º
cuja moldura penal é de 14 a 20 anos. Se B for pai de A, isso
agrava a sua pena para 20 a 25 anos por causa da circunstância
“pai/ascendente” e o homicídio deixa de ser simples para ser
qualificado. Se B for filha e a mãe matá-la estando num estado
puerperal, a pena é atenuada até 3 anos e deixa de ser crime de
homicídio para ser infanticídio. Outro exemplo que podemos
avançar, também, é em relação ao furto (393.º), roubo (402.º) e
abuso de confiança (405.º) que também podem existir
circunstâncias agravantes que lhes tornam crimes qualificados.
5. Os tipos dependentes têm como apanágio o auxílio da parte geral
para que estejam completos, ou seja, são tipos penais da parte
especial não autónomos, que dependem da parte geral. Pensemos na
tentativa de homicídio que, para se preencher, tem de depender do
art. 20.º que fala sobre a tentativa. Falaríamos também da frustração,
mas ela deixou de existir no novo paradigma jurídico penal angolano
como forma de facto típico, pertencendo na tentativa, quando ela for
completa.
6. Os crimes instantâneos diferem dos crimes permanentes ou
duradouros consoante a realização do acto. Se a consumação do facto

20
típico se realizar com um acto, dir-se-á crime instantâneo, a título de
exemplo, o furto consuma-se no momento que se dá a subtração da
coisa. Se, por vontade do autor, a consumação do crime prolongar-se
no tempo, tratar-se-á de crimes permanentes ou duradouros nos
termos do art. 174.º.
7. São crimes habituais àqueles que haja conduta reiterada do agente
para que se realize o tipo incriminador segundo o art. 189.º.

Vº MÓDULO: TIPO SUBJECTIVO: DOS DOLOS AOS


ERROS

O dolo consiste na representação/consciência e vontade para a


realização do tipo incriminador. Age com dolo quem tiver inteligência e
vontade de perpetrar o facto típico. O agente, para ser responsabilizado
a título de dolo, tem de ter a suficiente consciência e tem de querer a
realização do crime.

Quais são os elementos do dolo?

O dolo decompõe-se em dois elementos:

i) Elemento intelectual;
ii) Elemento volitivo.

O ponto assente no elemento intelectual é que o agente represente,


conheça que a sua conduta realiza um tipo incriminador. O agente, em
resumo, tem de ter conhecimento/consciência da ilicitude e, para isso,
basta que ele tenha o conhecimento dos efeitos práticos da sua conduta.

Por seu turno, o elemento volitivo pressupõe que o agente queira,


tenha vontade de realização do tipo incriminador.

A respeito, o conhecimento flui de certa previsão ou representação,


a partir do qual o agente toma consciência de poder produzir o resultado
típico. Doutra banda, a vontade tem a ver com certa predisposição para
tolerar a realização do tipo como consequência da própria conduta se

21
fundando a vontade de realizar o tipo (Cfr. Stratenwerth, Direito Penal –
Parte Geral, I, pág. 146 e seguintes).

Afere a distinção entre o dolo directo, necessário e eventual

No campo da vontade dirigida a realização de um ilícito, deparamo-


nos com três tipos de dolo9. O legislador ordinário, nos termos do art.
12.º, define-os e vamos, tão-somente, explica-los nos seguintes termos e
condições;

i) Há dolo directo quando se age com intenção de preencher a


factisespécie delituosa, ou seja, a motivação imediata do agente
é a realização do ilícito: a conduta dele tem, em resumo, esse
fim. O facto representado é o facto querido e o agente actua com
vontade de realizar esse mesmo facto10. Exemplo: A rouba o
carro de B como única forma para poder ter o carro. O roubo é
cometido sob a forma de dolo directo. Seguindo Jescheck (Cfr.
Ob.cit, 4ª Edição, pág. 265 e seguintes), há dolo directo quando
o agente “persegue a acção típica, o resultado previsto no tipo
ou ambas as coisas”. O factor dominante é a vontade.
ii) Há dolo necessário quando a realização do facto ilícito não é a
motivação imediata do agente, mas a sua conduta é uma
consequência necessária para que haja o resultado. A
consequência de que o resultado venha acontecer era
necessária e inevitável. Exemplo: A, com o fito de matar B,
coloca uma bomba no carro em que ele tem, todas as manhãs,
usado para levar os seus filhos à escola, explodindo pelo
caminho. A morte dos filhos é uma consequência

9 Há, certamente, vários tipos de dolos que a doutrina tem se ocupado. Citamos, na
esteira de Benja Satula, UCAN, II.º Semenste, 8, mais três para completar o estudo:
1) Dolo genérico: Representação e vontade do facto ilícito; não inclui, em geral, a
exigência de um determinado fim subjectivo para além da realização do próprio
facto ilícito.
2) Dolo específico: Representação e vontade do facto ilícito, acresce-se a exigência
de um determinado fim subjectivo do agente (prazer de matar, obter para si,
intenção destruir).
3) Dolo de perigo: é a vontade de criar tão-somente o evento de perigo.
10 Da Silva, Germano Marques, ob.cit, vol II, pág 165

22
necessária/inevitável e ser-lhe-á imputada a título de dolo
indirecto ou necessário e a morte do pai a título de dolo directo.
Domina agora o conhecimento.
iii) Há dolo eventual quando o agente prevê a realização do facto
típico como consequência possível acabando, mesmo assim, por
se conformar com o resultado. Corroboramos Henriques Eiras e
Guilhermina Fortes (Cfr. Dicionário de Direito Penal e Processo
Penal, 3ª Edição, Editora Quid Juris, 2010, pág. 292-293) na
medida em que o dolo eventual consiste na previsão da
possibilidade de realização do facto típico e conformação com
ela. O agente aceita como possível a realização do facto que
preenche o tipo e conforma-se com essa realização. Com a sua
conduta prevê o resultado nocivo, não se importando se este se
concretiza ou não. O agente não tem como objectivo final certa
consequência – apanágio do dolo directo – nem a vê como
resultado necessário do seu acto – sina do dolo necessário – mas
admite que aconteça: prevê como possível que a sua conduta
realize o facto típico e conforma-se com essa possibilidade.
Desenhando, o agente prevê o resultado, que não persegue,
mas, entre continuar a agir e deixar de fazê-lo para evitar o
resultado, escolhe agir, assumindo o risco, ou seja, o agente
assume o risco de produzir o resultado. A título meramente
exemplificativo, pensa-se na pessoa que, sabendo que na casa
do vizinho fica sempre um mendigo, ateia fogo sabendo que,
possivelmente, venha a atingir o mendigo, mas age
conformando-se com o resultado.

O dolo directo, onde o agente assume a intenção e a finalidade de


realizar o facto típico, encontra-se modelado no n. º 1 do artigo 12.º. O
dolo necessário, com o agente a saber que o facto típico é consequência
da sua conduta, na qual persiste, tem sede no n.º 2 do artigo 12.º. O dolo
eventual – conformação com o realização possível e como tal representada
do facto típico atinente a aceitação – mereceu o desenho aposto no n.º 3
do artigo 12.º, onde fundamentalmente se acolhe a conhecida fórmula
23
positiva de Frank, ao nível da chamada teoria da aceitação ou do
consenso.

Qual é a distinção entre dolo eventual e negligência consciente?

A doutrina tem dedicado, e convenhamos que é com razão, algumas


páginas sobre esta vexata question. Superadas que estão a teoria da
probabilidade11 e a teoria da aceitação12, a concepção hoje aceite
unanimemente é a teoria da conformação. Estaremos perante o dolo
eventual quando o agente se conformar com o resultado e, por seu turno,
é negligência consciente quando o agente não se conforma com o
resultado. Portanto, a conformidade ou não com o resultado é a rota de
diferenciação entre as duas figuras jurídicas.

Tal decisão parte da ideia de que o dolo pressupõe algo mais do que
o conhecimento do perigo da realização do facto típico. O agente pode,
apesar de um tal conhecimento, confiar, embora levianamente, em que o

11 Para termos o dolo eventual, além da mera representação do facto como possível, se
requeira uma qualquer represetação qualificada, ou seja, requer-se que a representação
assuma a forma de probabilidade, ou mesmo de uma probabilidade relativamente alta.
Duas são as dificuldades que fazem coxear essa teoria:
i) A primeira é a de determinar com um mínimo de exatidão o grau de
possibilidade/probabilidade de verificação do facto necessário à afirmação
do dolo do tipo;
ii) A segunda é a de o agente, apesar da improbabilidade de realização do tipo,
poder tomar a firme decisão de a alcançar.
12 Nesta via se pergunta se o agente, apesar da representação da realização típica como

possível, aceitou intimamente a sua verificação, ou pelo menos revelou a sua indiferença
perante ela (dolo eventual); ou se, pelo contrário, a repudiou intimamente, esperando
que ela se não verificasse (negligência consciente). Em jeito de exemplo, o conhecido
caso Lacmann, que a doutrina alemã se dedica imensamente, acaba por ser o ideal neste
momento: A aposta com B que é capaz de quebrar com um tiro um copo que uma
rapariga, C, segura na mão, sem todavia a atingir; mas acaba por a ferir numa mão. A
está consciente de que pode errar o tiro e atingir C mas, naturalmente, espera que tal
não aconteça, para assim ganhar a aposta e se envaidecer com a sua pontaria. Mesmo
que A sinta como um mal a realização típica, pode ele considerar a sua possibilidade
como um mal menor, que de todo o modo se dispõe a aceitar: nisto residiria
precisamente a decisão, fundamentadora do dolo do tipo, contra a norma de
comportamento. Neste contexto, a jurisprudência alemã começou a referir-se a uma
aceitação em sentido jurídico sempre que o agente – em vista da finalidade prosseguida,
nomeadamente por não poder alcançá-la de outro modo – se resigna com a possibilidade
de que a sua acção venha a ter o efeito indesejado (Cfr. Jorge de Figueiredo Dias, ob.cit,
pág. 369 a 371)

24
preenchimento do tipo se não verificará e age então só com negligência
consciente. Essa conformação, ensina-nos Roxin, significa que o agente
tome a sério o risco de (possível) lesão do bem jurídico, que entre com ele
em contas e que, não obstante, se decida pela realização do facto.

Esta distinção reveste-se de consequências práticas importantes.


Como geralmente só são puníveis os actos praticados a título de dolo, se
não há dolo eventual o agente muito provavelmente não será punido: a
negligência só é punível quando exista o tipo de crime sob a forma
negligente. Por outro lado, se, no caso concreto, a negligência for punível,
a pena será muito inferior à que seria aplicável se a imputação fosse feita
a título de dolo.

Deste problema, o juiz alemão Frank apresentou proposta de


resolução13 com a chamada fórmula hipotética para o dolo eventual. O
pano de fundo era uma ficção que consistia em colocar a seguinte
hipótese: se o agente tivesse previsto como certa a realização do facto
típico, teria ele actuado do mesmo modo? Se a resposta fosse positiva –
se o agente teria actuado do mesmo modo caso tivesse previsto como
certa a realização do facto típico – então tratar-se-ia de dolo eventual; se
a resposta fosse negativa – se o agente não teria actuado desse modo, se
tivesse previsto como certa a realização do facto típico, então tratava-se
de negligência consciente.

A forma hipotética foi, deveras, objecto de críticas. Das quais


podemos avançar:

a) Não parece legítimo identificar a presença ou ausência de dolo


com base numa ficção;
b) Nos casos duvidosos, utilizando-se essa fórmula, concluir-se-ia
sempre pela inexistência de dolo.

Depois de formuladas essas críticas, Frank abandonou a fórmula


hipotética e substituiu-a pela fórmula positiva. Segundo esta, não

13Cfr. Teresa Beleza, 2.º, pág. 216; Cavaleiro de Ferreira, vol I, pág. 293; Eduardo
Correia, vol I, pág. 378; Germano Marques da Silva, vol II, pá. 166.

25
importa saber o que é que o agente teria previsto. O que interessa é a sua
atitude real, o que é que ele previu perante a possibilidade de realização
do facto típico.

Terminando este assunto delicado, haverá dolo eventual se o


agente, prevendo como possível a realização do facto típico, raciocinou
assim: paciência, de qualquer maneira actuo. Ou: actuo, suceda o que
suceder. Em ambas as hipóteses, a atitude do agente foi de conformação
com a possibilidade de realização do facto típico. Haverá negligência
consciente se o agente não se conformou com a possibilidade de
realização do facto. Se tivesse previsto como possível a realização do facto
típico, não teria actuado.

O que é o erro e quais são as suas espécies?

Erro, a título de definição, consiste na representação defeituosa da


pessoa ou objecto. O erro surge quando há desconhecimento, falsa
representação e ignorância. É caso de desconformidade entre a
consciência e a realidade. Como diz Wessels, “o actuante não sabe o que
faz; falta-lhe a imagem representativa exigível para o dolo do tipo”. O erro
também é visto como a negação do quadro de representação requerido
para o dolo. Desenhando, erro é o conhecimento falso de uma realidade,
ou seja, é a representação mental distorcida que não corresponde à
realidade objectiva. Toma-se o verdadeiro por falso e o falso por
verdadeiro.

Américo Taipa de Carvalho (Cfr. Direito Penal, Coimbra Editora, 2ª


Edição, 2011, pág. 322 e seguintes) entende o erro num sentido amplo,
abrangendo tanto a representação errónea como a ausência de
representação. Temos, portanto, as seguintes espécies de erro14:

14 Há, basta olhar atentamente na doutrina, vários tipos de erros quer sejam
relaventes, quer irrelevantes, tais como:
 Erro sobre a adequação: de forma incipiente, visto que a adequação no âmbito
dos crimes de resultado faz parte do tipo legal, exlui o dolo. Assim, se o agente
pensa que a sua conduta não é adequada a produzir o resultado morte, quando
efectivamente o é, o agente não será punível por crime de homicídio doloso,

26
i) Erro sobre o objecto (error in persona vel objecto)

Acontece quando o agente represente defeituosamente a identidade


do objecto. Também se verifica este erro quando a identidade do objecto
(pessoa ou coisa) atingido é diferente da identidade representa pelo
agente. Exemplo: A, pensando que o passante é o seu inimigo B, dispara
contra ele um tiro mortal, verificando-se depois que A confundiu B com
C e foi este, um estranho, que matou; D subtraiu de um museu uma
imitação de um quadro célebre, de valor muito relativo, pensando que se
trata do original valiosíssimo; caçando ilegalmente ao fim da tarde, E
dispara contra um vulto com dolo de dano na pressuposição de que se
trata de um animal, quando na verdade se trata de uma criança, F, que
vem a falecer.

ii) Erro na execução (aberratio ictus)

Significa, numa linguagem vernácula, desvio do golpe ou da


trajectória. Verifica-se quando o agente, por erro na execução da acção,
atinge um objecto diferente daquele que projectou atingir. Ou seja, é
aquele que se verifica quando o agente, por inabilidade, pratica um facto
que não que praticar, não tendo representado o que praticou. Portanto,
diferentemente do erro sobre o objecto, neste, o agente representa,

embora permaneça a eventualidade de ter havido negligência, relativamente a


este erro, caso que corresponderia a homicídio negligente.
 Erro sobre os elementos normativos: não se exige que o agente tenha um
conhecimento jurídico exacto sobre o elemento normativo, caso contrário, nunca
se afirmaria o dolo em relação a muitos crimes. Entende-se que basta o
conhecimento dos efeitos práticos normalmente associados ao elemento
normativo. Ex, “escritura pública”, basta o conhecimento que este documento
faz fé pública, “funcionário público”, basta o conhecimento de que alguém
trabalha para o Estado. Ex. Existe crime de desobediência a autoridade pública:
deve existir noção do que é um polícia. Se não existir, não existe dolo.
 Erro sobre proibição legal: o desconhecimento da proibição legal (norma penal)
só poderá relevar em relação a factos cuja ilicitude não é evidente tratando-se
de situações muito específicas e aplicadas a casos em que as pessoas
desconhecem a ilicitude segundo o nº1 do artigo 15.º. Em relação ao Direito
Penal Clássico, o desconhecimento da norma penal é irrelevante na medida em
que se trata de condutas que são assumidas pela consciência ético-social como
ilícitas. Normalmente, é excluído o dolo. O que não quer dizer que a pessoa não
seja condenada por negligência. O desconhecimento da norma e
desconhecimento do facto por regra está previsto no artigo 15.º.

27
correctamente, a identidade do objecto atingido, só que vem a atingir um
objecto tipicamente diferente do objecto que quis atingir. A título
exemplificativo, A pretende matar B com um tiro, mas este vir a atingir
não B, mas C; ou o de D procurar destruir uma coisa a tiro, mas este
acabar por não atingir a coisa, mas sim uma pessoa que estava perto e
que fica ferida ou morta.

iii) Erro no processo de execução

Sucede quando o agente quer um certo resultado, mas o processo


é interrompido, causando um resultado diferente daquele projectado. Por
outras palavras, é a realização do facto ilícito de forma distinta da
representada pelo agente. Assim, se A, querendo matar B por
afogamento, empurra-o de uma ponte, mas B acaba por morrer por
esmagamento contra o asfalto.

Quais são os efeitos jurídicos do erro sobre a identidade do objecto


e na execução?

Já ouve, diga-se, muito debate ao redor deste tema dado artigo 29.º
do Código Penal de 1886. Hoje, cessaram os debates e há quase que
unanimidade em relação ao assunto, que podem, claramente, resumir-se
em três hipóteses:

i) Se os objectos eram idênticos – pensa-se que A dispara sobre


um vulto de noite julgando que este era B, um seu inimigo,
mas depois veio a verificar-se que na realidade se tratava de
C: o erro sobre o objecto é irrelevante, o que significa que o
agente responde pelo crime efectivamente cometido a título
doloso.
ii) Se objecto representado e objecto real são protegidos por
bens jurídicos diferentes – imagine que A pensa que estava a
roubar uma joia valiosa - configurando furto qualificado nos
termos alínea a) do artigo 393.º, quando na realidade estava
a roubar uma imitação, que cai no furto simples, artigo
392.º; o erro é relevante e o agente responde por tentativa em

28
relação ao crime projectado em concurso efectivo com o crime
realizado a título de negligência. Existe intenção - desvalor
de acção - não consumada e pune-se pela intenção
consumada - crime projectado -, ou pune-se por furto
simples. Mas, se ela pensava que o anel era de latão e o anel
afinal era valioso? Existe erro relevante, não existe dolo
porque ela não tinha a noção do valor - não existe furto
qualificado -, nem por dolo nem por negligência, sendo certo
que não existe dolo por negligência. Existe furto simples,
implica representação e vontade de subtrair bem alheio de
acordo o artigo 392.º
iii) No caso do erro na execução, a doutrina hoje largamente
dominante (Cfr. Jorge Figueiredo Dias, ob.cit, pág. 361 a 363)
entende que o agente responderá sempre por tentativa do
crime projectado em concurso efectivo com o crime
efectivamente praticado a título de negligência, no caso,
crime de dano em concurso com homicídio negligente.
Noutros termos, a acção falha o seu alvo e apresenta por isso
a estrutura da tentativa. A produção do outro resultado, que
tanto podia não ter lugar como ser de outra gravidade, só
pode eventualmente conformar um crime negligente. A
punição deve por isso ter lugar só por tentativa ou por
concurso desta com um crime negligente; é a chamada teoria
da concretização.

29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Código Penal Angolano, 2020.

CUNHA, Conceição, Apontamentos de Direito Penal, Porto, 2007.

DIAS, Jorge Figueiredo, Direito Penal Português: Consequências


jurídicas do crime, Coimbra Editora, 2011.

RODRIGUES, Orlando, Apontamentos de Direito Penal, Escolar Editora,


2013.

TAIPA, Américo, Direito Penal, Coimbra Editora, 2009.

DE PÁCITO, Silva, Vocábulo Jurídico, Editora Forense, 28.ª Edição,


2005.

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