Você está na página 1de 13

Formas especiais do Crime

Esta cadeira pressupõe todos os conhecimentos da matéria do semestre passado a D.


Penal, independentemente do interesse maior ou menor, é importante ter presente que a
cadeira é muito muito técnica, e por isso, extremamente pormenorizado

Em termos de bibliografia, o objeto de estudo é o manual da professora,


chamado de formas especiais do crime 2017 e os últimos 3 capítulos do livro do
Doutor taipa
A avaliação continua é feita através de dois mini testes e uma avaliação oral,
sendo que a nota mínima dos mini testes é 7
1º aula – 15/02/2022 introdução e apresentação do programa

No primeiro semestre, o estudo incidiu sobre um crime doloso praticado


por um agente que conduzia normalmente á produção de um resultado,
sem coautores ou cúmplices e que normalmente praticava um crime
simples, aqui, surgirão elementos específicos, o agente vai cometer o
crime não dolosamente mas negligentemente, o crime vai ser praticado
por omissão e, em muitas situações, o crime não se consuma (tentativa),
vamos estudar ainda a situação de serem várias pessoas a cometer o
crime, ou, o autor pede ajuda a alguém (comparticipação) e o concurso,
ou seja, quando o agente pratica mais que um crime
A neglicência é forma especial do crime só no papel, porque embora
a forma comum da realização do crime seja doloso, não é a forma adotada
pela maioria dos criminoso, a neglicência é passível a uma maioria de
pessoas consideradas normais ou tradicionais que o crime doloso, este
ultimo, aplica-se normalmente a pessoas com personalidades
desconformes ao ordenamento jurídico e aos seus valores.
Um exemplo interessante a esta cadeira é o do “Tinder Swirler”,
documentário na Netflix que relata uma historia real, onde um sujeito cria
um esquema complicadíssimo para extorquir as vitimas, aqui, que crimes
é que existem? Burla qualificada, utilização fraudulenta de cartão de
crédito, violência doméstica, coação, existindo aqui uma clara presença de
dolo direto
Mas, através de falta de cuidado exigível a alguém resulta um
resultado oposto ao anteriormente referido, a negligencia está associada
a áreas de risco como a medicina, acidentes de viação, manipulação de
produtos químicos, acidentes de aeronáutica, acidentes de viação.
Os artigos 131º e seguintes que define os tipos legais de crime estão
redigidos em termos de ação, o próprio 131º diz na sua redação “quem
matar outrem”, tem se entendido que a redação dos artigos do tipo legal
de crime dirige-se diretamente á ação e só há responsabilidade prevista
nestes artigos cumprindo os pressupostos do artigo 10º, o filme dos 3
homens e um bebé exemplifica uma situação semelhante, supondo-se que
a criança quando abandonada á porta o tinha sido feito durante uma
tempestade de neve e entre ser descoberta e não acaba por falecer, todos
os 4 sujeitos envolvidos ( os 3 solteiros e a mãe) são responsáveis pelo
homicídio? Ora, supondo que os sujeitos sabem que o bebé lá está, e mãe
deixou lá o bebé, a mãe enquanto tem o dever de garante e os homens o
dever de auxilio, mediante o artigo 10º, é imposto que para a omissão o
omitente tenha um dever de garante, ou seja, só a mãe aqui é que pode
cometer um homicídio negligente quanto á criança, quanto aos donos da
casa, trata-se de um crime de omissão de auxilio, presente no artigo 200º
e que é um mero crime de ação não respondendo pela morte da criança,
ou seja, aquele que tem o dever de garante segundo os pressupostos do
artigo 10º fica equiparado aquele que por ação cometer o crime.
A tentativa é uma situação em que o resultado, contra as
espectativas do agente, não se consuma. Há um caso nos EUA de tentativa
impossível de crime, uma tentativa de homicídio por bonecos de vudu, em
que o sujeito acaba por ser preso e condenado, caracterizando-se assim
como tentativa impossível exatamente, aqui a duvida surge se, a tentativa
por ser impossível, deve ou não ser punida? Ora, a partida nos EUA é
entidade que ação é particularmente reprovável e que incomoda a
segurança dos cidadãos e que não pacifica a opinião publica, a nossa lei
diz que, em principio, é punível a não ser que seja manifestamente
impossível (23º n.3) um exemplo de impossível não manifestamente
impossível é a colocação de uma quantidade insuficiente de veneno no
prato de um sujeito, a tentativa nunca ira produzir os efeitos desejados,
mas, ainda assim trata-se de um ato manifestamente perigoso.
A coautoria e cumplicidade só é oponível no caso concreto, caso as
duas pessoas tenham acordado num plano concreto, trata-se de
coautoria, mais grave, caso uma apenas esteja a apoiar a outra é
cumplicidade, menos grave.
Existe ainda o concurso, que se dá quando existe uma autonomia de
vários factos de tal forma que o agente tem que ser punido por vários
atos, deve ser das matérias mais difíceis quer teoricamente quer
praticamente, os órgãos de aplicação do Direito estão muito habituados a
executar este concurso mas muitas vezes erram por ser exatamente
difíceis, supondo ainda este caso da Netflix, o sujeito comete burla
qualificada, furto, introdução em espaço privado, isto é precisamente o
concurso. Supondo que A dá um tiro ao pai e mata o pai, preenche aqui
vários tipos legais, homicídio legal, homicídio qualificado, ofensas
corporais, mas, exatamente por isso, A preenche 3 tipos legais
formalmente, mas, não existe concurso, porque a norma especial afasta a
geral e o homicídio pressupõe as ofensas corporais, mas, supondo que A
mantem o pai em tortura por 4 meses e no fim desses 4 meses o seu pai
morre, aqui, as ofensas corporais autonomiza-se relativamente ao
homicídio.
O crime continuado é uma micro figura do concurso, imaginado o
registador de uma caixa do supermercado que diariamente e durante um
período continuado, ele vai triando dinheiro, aqui o MP não consegue
provar todas as ações individualmente então presume-a como uma
unidade só, mas, se se tratar de bens pessoas, existem tantos crimes como
as violações.
4/5º aula – 22/02/2022

Quais são os critérios de definição da violação do dever do cuidado?


Sabemos que determinada conduta é um ilícito negligente determinando
certos critérios:

Normas jurídicas de natureza extra-penal


Há certos tipos de condutas que são reguladas fora do CP, são o
caso das regras do código da estrada, caso as normas relativas a este não
sejam cumpridas o juiz aplicador de direito deve averiguar face ao caso
concreto se existiu ou não o cuidado devido, devendo estas normas
apenas ser auxiliares indicativos, exemplo, um condutor que ia dentro dos
limites da velocidade e de repente repara num condutor desgovernado
atrás dele e que só podia evitar a colisão com este mesmo acelerando mas
quebrando as regras de segurança, havendo uma colisão entre os dois
automóveis e o condutor do carro desgovernado morre, normalmente o
cumprimento destas regras leva a dizer que não há negligencia, mas, o
tribunal considera que foi porque dadas as circunstâncias o cuidado
mandaria que ela acelerasse e tivesse evitado a colisão, a desobediência á
regra de cuidado não significa necessariamente a condenação penal por
negligencia, um medico que viola as normas de cuidado medicas não quer
dizer que agiu negligentemente, estas normas não dizem ou não dão a
ultima palavra quanto á negligencia sendo meros indicadores.

Normas técnicas
Estas não tem valor jurídico-formal, mas são estas que orientam a
realização correta de certo tipo de atividades, são normas definidas pelo
próprio setor profissional onde o agente se move, não tem o valor jurídico
das anteriores mas são muitas vezes mais adaptadas á realidade que as
mesmas, normalmente no âmbito da atividade medica chama-se “leges
artis” abrangem guide-lines, protocolos, ordens de serviço.

Usos e comportamentos alternativos em situação de


urgência
São ainda mais próximas da pratica e ainda mais aplicáveis á
realidade, aqui são as regras que valem em determinadas situações em
que os pressupostos se alteram, mas, ainda assim são regras. Exemplos
destas seriam por exemplo o caso de um parto pélvico, tem condições
próprias, são regras técnicas mais especificas que as regras gerais, no caso
dos controladores aéreos, há regras técnicas gerais para situações normais
e há os tais comportamentos alternativos que são as regras de conduta
que valem para situações de por exemplo trafego aéreo intenso. Ora, mas
não há regras para tudo, por exemplo, o caso de alguém que vai a correr
para o carro num dia de chuva e espeta o guarda chuva no olho de alguém
que esperava na paragem junto do veículo, não existem regras nesta
atividade, tais como nas atividades de por exemplo as baby-sitters, tendo
de ser olhado outro padrão, o juiz tem que recorrer ai modelo padrão ou
seja o padrão de comportamento que é adotado pelo cidadão ou
profissional médio comum naquelas circunstancias com a formulação de
uma norma de cuidado ad-hoc valida para o caso concreto. Este modelo
da vida ao artigo 15º do CP, este modelo padrão corresponde á valoração
das circunstâncias concretas do caso em função do tempo que teve para
atuar o agente, dos meios que lhe eram disponíveis, no fundo de todas as
circunstancias.
A definição do cuidado a ter sobre o caso concreto deve-se
sobretudo a normas, mas, acima de tudo a analise das circunstâncias do
caso concreto.

A função do perito na avaliação da negligencia


O Juiz varias vezes não percebe nada da avaliação do cuidado tido
pelo agente no caso concreto, sendo por isso muitas vezes chamado um
perito que ira dizer se o agente autuou segundo as normas técnicas, todo
o resto da valoração técnica do caso deve pertencer ao juiz, o que quer
dizer que apesar da violação das regras técnicas ou independentemente
do seu cumprimento há ou não há o dever de cuidado. Na prática, o perito
normalmente avalia tudo e o juiz decide em função daquilo que este
mesmo decidiu, a tendência é que seja o perito a valorizar tudo e o juiz
limita-se a tirar a consequência da valoração tirada pelo perito sendo isto
errado por vários motivos, podendo prejudicar ou beneficiar fortemente o
agente. O Juiz nunca pode por em causa a perícia técnica, mas, a
valoração do caso concreto deve ser feita pelo juiz e não pelo perito.

As capacidades e os poderes do agente


A não vê nada, profundamente míope, mas quer ir ao cinema e tira o
carro da garagem e vai para o cinema e no caminho causa um acidente,
qual é o padrão medio para avaliar a negligencia neste caso? A cumpriu as
regras do código da estrada? Quando o agente tem capacidades ou
poderes inferiores á media o padrão utlizado continua a ser o da media,
ou seja, neste caso violou deveres de cuidado. Imaginando que noutra
situação a meio de uma operação passa um medico craque e que pelo
ouvido deteta que a respiração do doente não está bem e que ele vai ter
um ataque cardíaco, mas, não faz nada e prossegue caminho, e os outros
não estavam em condições de detetar esta situação este dá-se, será este
medico craque responsável por alguma coisa? Aqui caso se aplique um
padrão médio, não existe ilícito, só que se isso acontecer ele nem sequer é
censurado, hoje em dia admite-se de forma unanime que nestes casos os
poderes superiores á media entram no ilícito, poderes de previsão
excecionais, poderes técnicos ou conhecimentos únicos entram no ilícito
desde que seja exigível que os use.
Padrão medio, poderes inferiores não são exigíveis e podere superiores
podendo ser usados entram no ilícito, mas, há ainda uma unanimidade a
mais e uma situação a mais que é o conhecimento. Um camionista sabe
que a seguir á curva há um campo de futebol próximo da estada onde
normalmente brincam crianças a definição do padrão medio que deve
adotar é diferente de um condutor normal, condicionando os
conhecimentos o cuidado que cada um deve adotar, outro exemplo é o
caso de uma criança que tinha o crânio trepanado, uma educadora de
infância sabe que a criança tem essa condição e bate—lhe na cabeça com
uma regra, o padrão de cuidado que ela tem de adotar é diferente, para
outra seria perfeitamente impossível saber que esse ato traria uma lesão
grave, mas, imaginando-se que ela não lê as fichas, foi negligente na
mesma porque ela não cumpre o dever medio de cuidado de uma
educadora

Principio da confiança
Quem cumpre as regras de cuidado deve poder confiar que os outros
também cumprem, e este pp tem uma relevância muito grande nos casos
de colaboração na realização de tarefas, e nas relações hierárquicas. Nas
relações de colaboração este pp tem uma dimensão máxima, dois
condutores um a frente do outro e o de trás adequa a marcha ao da frente
e o da frente trava muito rápido e o de trás trava de repente, aqui o de
trás cumpriu o dever de cuidado e por isso cumpre o dever de cuidado,
ou, um médico a ver chegar o fim de turno da os dossiers e as fichas ao
colega que o vai fazer render, esse mesmo colega deve poder confiar que
essa informação é correta, caso não seja e ele comete um erro ele não
viola deveres de cuidado. Ao nível das relações hierárquicas há quem diga
que o chefe da estrutura não pode invocar este principio relativamente
aos colaboradores, mas imaginando que numa equipa medica o cirurgião
ser responsável por tudo o que fazem os seus colaboradores este mal
pode trabalhar, havendo posições que defendem que o chefe tem
poderes de fiscalização e outros que dizem que este apenas responde
relativamente a situações em que se torne evidente o perigo e seja
necessário desconfiar, um medico chefe tem deveres de organização do
trabalho e distribuição de funções e garantir que todos a perceberam,
pode ter deveres reforçados em deveres chave da intervenção, mas, no
resto deve poder confiar no desempenho correto de funções por parte
dos seus colaboradores.
Este pp cessa ou tem como seus limites, com as devidas ressalvas:
 Quando o agente tem deveres de vigilância e de controlo em
relação a outras pessoas, especificamente destinados a evitar a
lesão de bens jurídicos alheios, como sucede no âmbito da atividade
médico-cirúrgica.
 Sempre que é reconhecível a possibilidade de não cumprimento do
outro, no fundo quando é evidente que o outro vai violar deveres
de cuidado, por exemplo, inexperiência de um auxiliar, doença
notória, outros tipos de incapacidade, experiencias negativas
anteriores.

Culpa negligente
Completada a analise do ilícito, temos a censura do facto, ao nível da
culpa distingue-se entre uma negligencia consciente e inconsciente,
que correspondem as alíneas a) e b) do artigo 15º do CP, a primeira
surge nas situações em que o agente representa a possibilidade de
ocorrência do resultado mas confia na sua não verificação, no fundo
confia que vai correr tudo bem, já a negligencia inconsciente significa
que o agente não representa o perigo, portanto não tem qualquer
noção do risco que vai causar, nem consciencializa os riscos que pode
causar, estas duas formas tem graus diferentes, podendo ser mais ou
menos reprováveis, mas há uma categoria de negligencia que o
legislador assumiu como particularmente grave, a negligencia
grosseira, que é um grau, podendo ser qualquer uma das ultimas,
artigo 137º n.2 por exemplo, que agrava o homicídio negligente se for
cometido com uma negligencia grosseira, corresponde a uma violação
muito grave dos deveres.
6º aula – 25/02/2022

Resolução de casos práticos em aula, no documento com o nome


“Casos – 25/02/2022”

Crimes agravados pelo resultado


Vamos estudar a realização dolosa ou negligente de um crime que é
qualificado (que passa a ser outra realidade) pela ocorrência de um
resultado especialmente grave, justificando-se agravar a pena pela
previsibilidade da ocorrência do resultado mais grave a partir da
realização do crime fundamental, na verdade, há dois crimes, fundidos
num só, por decisão do legislador.
Há um crime fundamental, que depois é qualificado pela ocorrência
de um resultado agravante e toda esta realidade é trata de forma
diferente, sendo punida de forma mais grave, porque era
extremamente previsível que o resultado mais grave se verificasse.
Exemplo o artigo 152ºB do CP, o 152ºB n.1 é um crime doloso, quando
o tipo legal não faz referência ao tipo subjetivo de ilícito ele é doloso,
como é o caso, aqui quem violar regras de segurança no trabalho
criando um perigo para a vida ou integridade física de um trabalhador
é punido de determinada forma, sendo um crime de perigo concreto.
Só que, e por isso é que existe este tipo legal de crime os tais crimes
agravados pelo resultado, muitas vezes esta violação leva a que o
trabalhador morra, por exemplo, e por isso o legislador combina o dolo
que pode existir no n.1 com uma eventual neglicência relativamente á
morte que pode existir no n.4, este está sujeito ás regras gerais do
artigo 18º do CP, o que isto significa é que se mediante uma violação
dolosa de regras de segurança vier a ocorrer a morte de um
trabalhador, a pena é agravada por esse resultado. Em rigor, existem
aqui dois crimes, o 152ºB n.1, sendo o crime base, e o segundo que é o
resultado de ofensas corporais no n.3 ou de morte no n.4 desse
mesmo artigo, como o legislador considera que o crime fundamenta
contem perigos muito elevados de morte ou de danos deste tipo
agrava a pena sempre que isso venha a ocorrer.
Se o legislador apenas punisse o 152ºB n.1, se um trabalhador
morre-se, o empresário era punido pelo concurso entre o crime
fundamental este 152ºB n.1 e o artigo 137º que prevê o homicídio
negligente, a punição que está prevista no 152ºB n.3 e 4. é maior que a
que corresponde ao concurso, o legislador entendeu que decorrida
uma violação de regras de segurança de trabalho a morte é um
resultado tão previsível que deveria punir mais do que o resultado do
concurso de crimes.
Crimes preterintencionais e os crimes agravados pelo
resultado
Por exemplo, supondo que eu dou um murro a outra pessoa, e essa
pessoa cai e bate com a cabeça na margem de um passeio e morre, isto é
um exemplo acabado de um crime preterintencional, um crime doloso
neste caso o de ofensas corporais, que foi praticado sem cuidado e que
decorreu desse perigo para a vida da vitima a sua morte, estes crimes tem
todos que estar previstos na lei estando sujeitos na mesma ao pp da
tipicidade. Aqui, este crime exemplificado esta previsto no artigo 147º n.1.
Aqui os elementos essenciais deste crime são crimes fundamentais
dolosos, e desses crimes resulta um evento agravante negligente,
relativamente á morte, esta não pode ser simplesmente uma
consequência das ofensas corporais, o aplicador do direito terá que
analisar o dolo relativo ás ofensas corporais e a violação dos deveres de
cuidado relativamente á vida da vitima. Isto resulta do próprio artigo 18º,
que diz que a agravação é sempre condicionada pela possibilidade de
imputação da conduta do agente pelo menos a titulo de negligencia, ou
seja, temos que analisar os requisitos da negligencia em relação ao
resultado mais grave, temos que ver se o crime fundamental está
essencialmente fundamentado e conferir se a morte se ficou a dever a
essas ofensas corporais. P regime do artigo 18º difere do código anterior,
que dizia que a morte era sempre imputada ao agente se as ofensas
corporais fossem resultado dessa ação, bastando haver uma relação
causal entre as ofensas e a morte. É um pouco diferente, o agente ao
praticar as ofensas corporais desrespeitou dever de cuidado com a vida da
vitima, se eu agredido alguém no topo de um torre alta, eu tenho que ter
cautelas para que a pessoa não caia cá em baixo.
O artigo 18º abrange várias hipóteses, sendo a 1º uma conduta negligente
+ agravação negligente, uma dupla negligencia típica, esta hipótese
corresponde ao artigo 277º n.1 alinea a) do CP que permite no n.2 que o
perigo para o trabalhador seja criado por negligencia. O responsável pela
segurança cria um perigo de forma negligente para o trabalhador, sendo o
crime base, e essa violação de deveres de segurança torna previsível que
um trabalhador caia num buraco com cimento por exemplo, tendo aqui
mais a ver coma segurança na construção e não tanto ao trabalho, e aqui,
aplicam-se os artigos o 277º n.1 alínea a) + o 277º n.2 + o 294º e + o 285º
do CP. Ficou aqui então definida a dupla negligencia típica
O Duplo dolo típico é quando por exemplo, o agente ata dolosamente e
produz dolosamente um resultado mais grave, alguém que se introduz em
casa alheia e que a certa altura se vê obrigado a reagir a uma certa
resistência do dono da casa, estando o crime fundamental doloso no
artigo 210º n.1 do CP, aqui tanto faz se se aplica o 210º n.2 alínea a) ou o
210º n.3, dependendo se a pessoa morre e o ladrão se conforma com a
morte, existindo dolo relativamente ao comportamento e á morte, duplo
dolo típico
Ainda outra categoria, quando ao crime fundamental doloso ou negligente
se acrescenta um resultado atípico, ao contrario dos últimos que era
típico, no caso do crime de violação, a pena é agravada se desta resultar
gravidez, sendo um resultado atípico mas sem crime autónomo, uma
agravação do resultado que resulta de um crime doloso com resultado
atípico, uma vez que gravidez não compõe crime mas sim um resultado
atípico de um outro crime doloso.
Por fim, o crime preterintencional, é o crime fundamental doloso mais o
resultado negligente.
Ora repetindo, e por ordem de importância, o crime preterintencional é
crime fundamental doloso + evento agravante negligente, depois crimes
de dupla negligencia típica, conduta base negligente + evento agravante
negligente, depois o duplo dolo típico, conduta dolosa + resultado típico, e
por fim conduta dolosa + resultado atípico.
7º aula – 08/03/2022

Resolução de casos práticos.


1º caso- Artigo 147º, é preciso que se consumam as ofensas corporais e a
morte resulte dessa conduta, o agente queria ferir, quando muito pode se
dizer que houve tentativa, mas como há um erro na execução ele acaba
por praticar um crime de homicídio negligente, e, de acordo das regras do
concurso, basta a punição do 137º n.1 ou n.2, sendo esta a mais grave.
Breve resumo da matéria : Crime preterintencional, norma
fundamental artigo 18º, a primeira agravação é a de crime
preterintencional, situações em que se produz resultado mais grave do
que o intencionalmente pensado, crime doloso + resultado agravador
negligente, isto é o crime preterintencional, na agravação do resultado,
existe dolo relativamente ao evento agravante, uma agravação do
resultado que não vai pra lá da intenção do agente porque até este é
crime, em 3 temos a negligencia + negligencia e por fim o dolo
relativamente ao crime fundamental + agravação facto atípico,
resumindo:
Dolo + negligencia – crime preterintencional
Dolo + dolo
Negligencia + negligencia
Dolo + facto atípico
4º caso - O crime fundamental aqui é ofensa corporal simples, artigo
143º, a dinâmica destes crimes é que o legislador considera que há crimes
dolosos que envolvem pelas circunstancias em que são praticados
determinados tipos de perigos, e o agente deve ser mais punido quando
pratica esses crimes dolosos sem ter cuidado neste caso concreto com a
vida da vitima. O Artigo 147º significa um reconhecimento de uma
realidade autónoma daquela que é simplesmente uma conjugação
autónoma entre estes dois crimes, seria muito mais simples punir o
agente com base no artigo 143º e no 141º, mas, o legislador entende que
é ainda mais grave praticar ofensas corporais e na sequencia dessas
ofensas resultar a morte, a analise de um crime preterintencional é feita
assim: 1º- crime fundamental doloso, artigo 143º ofensas á integridade
física simples; 2º- analisar se da forma como foi praticada a ofensa
corporal existe negligencia em relação á morte, se esta era previsível e se
havia violação de dever de cuidado, sendo o evento agravante negligente
o segundo elemento deste crime preterintencional; 3º avaliar se existe
uma norma como o 147º n.1, ou seja, se existe uma autonomização da
soma destes dois crimes e não simplesmente o concurso entre eles, caso
contrario, pune-se com concurso, uma vez que estes crimes
preterintencionais são a resposta do legislador á agravação de uma
situação que seria menos punida por concurso.
3º caso- não há nenhum crime agravado por resultado, há dois crimes
distintos.
2º caso- Aqui há agravação pelo resultado, artigos 18º, 284º e 285º, o
crime fundamental doloso é a recusa de medico, que não pressupõe
nenhum resultado, a simples recusa compõe o crime, com a morte do
doente, aplicar-se ia o artigo 285º, é preciso sempre que o resultado seja
sempre produzido por negligencia (artigo 18º) a morte deve resultar dessa
negligencia, sendo isto uma exigência legal prevista pelo mesmo artigo
18º, tem que ficar provado que havia violação de deveres de cuidado e
que houve previsibilidade em relação á morte do doente, que é o caso, ao
não assistir o doente propositadamente presume-se que violou o seu
dever de cuidado e de assistência, ou seja, a morte foi uma consequência
negligente da conduta de recusa médica, aplicando-se aqui o 285º, que
prevê esta agravação, de outra forma seria apenas concurso.
6º caso- Estamos perante um crime preterintencional na alínea a), artigo
177º n.5 que regula esta agravação, crime fundamental doloso de
violação, previsto no 164º, mas, uma vez que existe esta agravação
prevista, temos que analisar agora quanto á morte se se verificam os
pressupostos da negligencia, a violação foi realizada de forma a que
possamos entender que foi violado o dever de cuidado com a vida da
vitima, estando preenchidos os dois pressupostos do crime
preterintencional, e uma vez que autonomização está consagrada no 177º
n.5 pune-se com a pena previsto neste mesmo
Na segunda alínea, em caso de gravidez, temos crime agravado pelo
resultado, um crime doloso com resultado atípico, a agravação é a mesma
que resulta do 177º n.5
7º caso- Aqui, o crime fundamental doloso é roubo, artigo 210º n.1, não
havendo referencia, a regra geral diz que é doloso, e o n.2 e o n.3 contém
a hipótese de agravação, na alínea a) trata-se de crime preterintencional,
não há dolo relativamente á morte mas, a verdade é que ele empurrou o
dono da casa contra um armário, havendo negligencia quanto á vida do
dono da casa na forma como foi executada a agravação, havendo a
agravação, segundo os critérios do artigo 18º, artigo 210º n.3.
alínea b) R admite o que dono da casa poderá morrer, mais do que um
crime preterintencional temos a 2º modalidade de um crime agravado
pelo resultado, dolo + dolo, aplicando-se o 210 n.2
Caso mencionado pela Stora: Artigo 277º n.1 alínea a), crime de infração
de regras de segurança na construção (em termos gerais) e vamos pensar
no responsável por uma obra que não tem cuidado pelas estruturas e não
atua dolosamente, artigo 277 n.3 e atua negligentemente, tem uma falta
de cuidado com uma vala onde se encontram trabalhadores a operar, elas
normalmente tem que ser cuidadas a evitar o desabamento e um
trabalhador fica soterrado, a conduta foi negligente, ele devia ter cuidado
pela dita entivação e não teve e morre um trabalhador, se não existir
nenhuma previsão aplicar-se-ia o concurso mas o 285º agrava este
resultado, conjugando o 277 n.1 aliena a) + 277 n.3 + 285º , ou seja, ele
teve falta de cuidado na execução da conduta, e, falta de cuidado
relativamente á vida dos trabalhadores que lhe estava dentro, cabendo
nos requisitos do artigo 18º e aplicando se então o 285º.
O Sequestro é outro caso onde se prevê a agravação pelo resultado.

Você também pode gostar