Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tia: 42007739
Para fazermos uma análise crítica do caso, precisamos primeiramente entender o que
foi o acidente da Boate Kiss.
Na sumula do STJ temos uma citação importante, está que está apresentada a seguir:
A questão central e mais importante versada nestes autos diz com a definição do
elemento subjetivo que teria animado a conduta dos recorridos, ou seja, se agiram
com dolo eventual ou se apenas com culpa (strito sensu).
A culpa Consciente, por outro lado, se dá quando agente pratica o ato prevendo seu
resultado. Para melhor explicar, digamos que o agente ao fazer o que planeja, também
já sabe o que vai acontecer, porém confia nas suas habilidades e em si mesmo
afirmando para si que não irá acontecer o que se espera. Ou seja, assume atitudes
irresponsáveis, mesmo sabendo das consequências, mas seu pensamento o faz
acreditar que não acontecerá. Podemos melhor exemplificar a culpa través da fala de
Raul Machado: "É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um
determinado objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado,
mas previsível, que podia ter sido evitado. Por que se pune a culpa? Responde
Carrara: “os atos imprudentes também diminuem no bom cidadão o sentimento da
sua segurança e dão um mau exemplo àquele que é inclinado a ser imprudente. Os
atos culposos, que se ligam a um vício da vontade, são moralmente imputáveis,
porque é um fato voluntário o conservar inativas as faculdades intelectuais. O
negligente, se bem que não tenha querido a lesão do direito, quis, pelo menos, o ato
no qual deveria reconhecer a possibilidade ou a probabilidade dessa lesão” (apud
Raul Machado, A culpa no direito penal, p. 186).
No caso da Boate Kiss, podemos dizer que há espaço para as duas interpretações
legais. Tal afirmação se sustenta ao observarmos a votação do júri e do Superior
Tribuna de Justiça.
Nas decisões dos juízos vimos claramente a presença do dolo eventual em suas
decisões, está apresentada uma vez perante os fatos narrados pelas testemunhas
daquele fatídico dia. Entendeu-se que o desenrolar dos acontecimentos não foram
perseguidos pelos autores dos mesmos.
Não custa salientar este parágrafo apresentado na súmula em sua página de número
95.:
“É sem dúvida tormentosa a delimitação da fronteira divisória entre dolo eventual e culpa
consciente na teoria do crime, dada a particular dificuldade de chegar a uma conclusão
sobre o elemento anímico que move a conduta do agente, haja vista que nem sempre o que
pensa ou delibera o acusado em sua psique se materializa em atos externos.”
É comum nos julgamentos dessa espécie, quando o agente acaba por descumprir
regras de conduta e os fatos que se seguem acabam por vitimizar pessoas, que seja
considerado a culpa, sob uma de suas possíveis três modalidades: a negligência, a
imperícia e a imprudência.
Não assiste porém, em sua plenitude, a acusação por culpa uma vez que se entende
que embora houvesse ocorrido a negligencia, a imperícia e a imprudência; os riscos
não foram lembrados, isso pode dever-se a diversos fatores, sendo eles desde a
embriaguez até o simples fato da grande movimentação do evento em questão.
“Parece haver concordância entre os doutrinadores pátrios de que o nosso Código Penal se
filiou, de maneira geral, à teoria finalista da ação, na qual o dolo e a culpa traduzem o
elemento subjetivo do tipo. E, quanto ao dolo, há também certo consenso de que o art. 18, I,
do CP – que dispõe ser doloso o crime quando o agente, com sua atuação, quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo. Desse modo, para a caracterização do dolo eventual, não
se exige uma vontade inquestionável do agente, tal qual no dolo direto: bastam a anuência e
a ratificação subjetivas, situadas na esfera volitiva. Em singela lição, Luiz Vicente
Cernicchiaro obtemperou: "O agente tem previsão do resultado, todavia, sem o desejar, a
ele é indiferente, arrostando, sem a cautela devida, a ocorrência do evento" (RHC n.
6.368/SP, 6ª T., DJ 22/9/1997, grifei)”
Após as análises dos atos praticados pelos réus, observamos que os mesmos deveriam
responder pelo crime de dolo eventual. Tal acusação se dá pelo fato dos donos do local serem
irresponsáveis quanto a qualidade do local e sua segurança em casos em que houvessem
acidentes como o que aconteceu na fatídica noite. Em sequencia podemos ressaltar que o
membro da banda poderia ser responsabilizado por ter cometido uma falha gravíssima, esta
que foi acender algo extremamente inflamável em um local completamente fechado. Também
podemos dizer que o outro indiciado seria culpado de ter colocado fogo no arsenal pirotécnico
do vocalista.
Após expormos os fatos, é cabível que se discuta se os crimes são crimes dolosos eventuais
ou de culpa. De acordo com o ministro Rogerio Schietti Cruz, concluiu-se complexo
enquandrar os acontecidos em algum dos dois crimes, vemos que o juiz usa a referência a
seguir em seu voto: "Desde que não é possível pesquisá-lo no foro íntimo do agente,
tem-se de inferi-lo dos elementos e circunstâncias do fato externo. O fim do agente se
traduz, de regra, no seu ato" (Comentários ao Código Penal. v. 49, n. 9. Rio de Janeiro:
Forense, 1955).