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Questões da prova

1. Com a intenção de provocar um choque de trens às 17.00 horas, Eduardo, às 16.00


narcotiza a Pedro, o responsável pelo acionamento das chaves de desvio dos trilhos.
Eduardo crê que em razão do efeito do narcótico, Pedro moverá equivocadamente as
linhas do trem. Com a mesma intenção, Mario, às 16.30 – e ignorando a ação de
Eduardo – ministra a Pedro um café contendo substância igualmente tóxica. Essa
substância, contudo, produziu um efeito inverso: reduziu consideravelmente o efeito
do narcótico ministrado por Eduardo. Às 17 horas, horário em que a colisão entre os
trens deveria se produzir, nada acontece: em razão da substância ministrada por
Mario, Pedro permanece lúcido e consegue mover corretamente as chaves de desvio
do trem, evitado, assim, o acidente. É possível imputar o risco a Eduardo? E a Mário?

Primordialmente, para imputar a Eduardo e/ou a Mário o risco de provocar um choque de


trens, a ação dos mesmos de adicionar uma substância de efeito narcótico no café de
Pedro deverá ter sido causal para esse resultado. Segundo a fórmula da conditio sine qua
non, uma ação é causal para um resultado quando ela não pode ser subtraída mentalmente
sem excluir o resultado em sua configuração concreta. Contudo, pensando numa
perspectiva ex ante, tal situação trata-se de um caso de causalidade múltipla ou alternativa,
na qual pelo menos uma das causas seria dispensável, porque a outra já seria suficiente,
por si, para gerar o resultado típico. Sendo assim, aplicando diretamente a teoria da conditio
sine qua non, poderia-se cair no equívoco de não punir um delito consumado em razão de
um evento do acaso. Destarte, a opinião majoritária modifica essa fórmula para tratar dos
casos de causalidade alternativa de forma que, quando ocorrerem, todas as condições são
causais para o resultado. Com isso, na situação em voga, tanto a conduta de Eduardo
quanto a de Mário serão causais para o resultado típico da exposição da vida de outro ao
perigo. Seguindo na análise da imputação, segundo a teoria da imputação objetiva, o
resultado é objetivamente imputável ao autor quando o autor cria um perigo proibido que se
realiza no resultado. Pela prognose póstuma objetiva, tem-se, então, que tanto Eduardo
quanto Mário criaram o perigo ao realizar um comportamento que, pelos seus
conhecimentos especiais, teriam real possibilidade de causar lesão ao bem jurídico. Tal
perigo é expressamente proibido pelo ordenamento jurídico. A questão é que pelo
surgimento das ações um do outro como concausas supervenientes absolutamente
independentes, não houve a realização dos perigos no resultado. Desse modo, a realização
do risco criado foi excluída reciprocamente pelos cursos causais um do outro, os quais não
tem relação com o risco desaprovado criado. Com efeito, nem Eduardo nem Mário podem
ser imputados pelo risco do homicídio dos passageiros do trem, podendo responder
juridicamente por tentativa de homicídio e por expor a vida ou saúde de outrem a perigo
direto e iminente, nos termos do artigo 132, CP.

2. A mãe dá de mamar a seu filho B durante horas na madrugada. Extenuada, dorme e


termina girando sobre o recém-nascido, causando a morte de B por asfixia. 1) Analise
o problema que o caso suscita a partir da perspectiva da ação; 2) Considere a
seguinte variante: A. Tratava-se de uma mãe de primeira viagem que nunca
representou o risco de dormir com o seu bebê, já que sempre havia tido um sono
muito tranquilo e sem movimentos. Isso mudaria a solução do caso, por quê? *

Na perspectiva da ação, vale saber quando ela é penalmente relevante. A função do


conceito de ação é filtrar a responsabilidade jurídico-penal, isto é, excluir do plano do
penalmente relevante as não-ações e impedir que o Estado puna-as, bem como,
personalidade e modos de ser. Roxin vai defender em seu chamado conceito pessoal que
ação é o comportamento que deriva do centro anímico espiritual do agente. Destarte,
pode-se classificar como não ações, basicamente, aquelas não humanas, as ensejadas por
vis absoluta, isto é, coação física ou psíquica, os atos reflexos, que serão comuns à todos, e
os atos realizados sob estado de inconsciência a exemplo do sono, hipnose ou epilepsia.
Sendo assim, podemos dizer que a mãe ao virar sob o seu filho B enquanto dormia estava
em estado inconsciente, consistindo o seu ato em uma não ação, ou seja, não imputável
pelo Direito Penal. Acontece, todavia, que, pelo caráter sistemático do Direito Penal, os
casos semelhantes devem ser resolvidos da mesma forma, logo o fato de alegar-se não
ação pelo estado de sono poderia ensejar um problema pela dificuldade de provar tal
estado de inconsciência, podendo levar à desconsideração de ações verdadeiramente
penalmente relevantes. Com efeito, da mesma forma, no caso de uma mãe de primeira
viagem que nunca representou o risco de dormir com o seu bebê já que sempre havia tido
um sono muito tranquilo e sem movimentos, a conduta dela também será uma não ação,
não sendo passível de imputação.

3. O autor A excede a velocidade máxima permitida em um trecho da Rua Y, mas


pouco tempo depois, já na Rua Z, ele volta a observar a velocidade prescrita.
Entretanto, A atropela fatalmente a uma criança que aparece repentinamente diante
do seu automóvel. A perícia constata que nas circunstâncias, o acidente era
objetivamente inevitável pelo autor; contudo, também fez constar que a observância
da velocidade na Rua Y haveria evitado o acidente. Ë possível imputar objetivamente
a A a realização do art. 121, CP? *

O autor “A” realiza uma ação penalmente relevante que tem relação causal com o resultado.
Sendo assim, pode-se analisar a possibilidade de imputá-lo objetivamente. Pela fórmula da
prognose póstuma objetiva, “A” cria um perigo à medida que seu comportamento de dirigir a
uma certa velocidade, desde uma perspectiva ex ante com os conhecimentos especiais do
autor, tem real possibilidade de causar lesão ao BJ. Ocorre, no entanto, que tal perigo não é
juridicamente desaprovado pois, no momento da ação, o autor estava no âmbito das
normas de segurança, obedecendo-a e confiante de que as outras pessoas por perto
também comportariam-se segundo ela. Ademais, ele estava agindo como alguém prudente
no momento do ocorrido visto que a própria perícia constatou objetivamente a
inevitabilidade do acidente. Sendo assim, visto que ainda que ele estivesse causando um
perigo, tal perigo não era proibido, ele não poderia ser imputado juridicamente pelo artigo
121, CP.

4. O Dr. Mão Santa é um cirurgião e opera X de uma apendicite. Para fazê-lo, o Dr. Mão
Santa lidera uma equipe médica, integrada por diversas pessoas, entre elas um
anestesista, com os quais ele estava acostumado a operar. Durante a intervenção, X
morre devido a uma reação provocada pela anestesia, a qual foi ministrada em
quantidade excessiva, o dobro da necessária para uma pessoa com as características
físicas de X. Durante a instrução processual ficou comprovado que se não houvesse
o excesso, X não teria morrido. 1. Qual é a situação jurídica de Dr. Mão Santa? 2. Qual
seria a situação do Dr. Mão Santa se ao chegar na sala prévia ré-cirúrgica, o
anestesista estivesse com um aspecto incomum, falando com dificuldade e com forte
teor etílico, isto é, em evidente estado de ebriedade? *

A situação jurídica do Dr. Mão Santa no caso em questão é de que ele não seria imputável
pelo ocorrido. Ainda que sua conduta tenha nexo de causalidade com o resultado e seja
possível de causar uma lesão à um bem jurídico, isto é, cria um perigo, tal perigo seria
permitido à medida que ele agiu sob o princípio da confiança. Segundo este, o Dr. não
precisaria preocupar-se com a possibilidade de que outro de sua equipe infringisse as
normas de segurança à medida que tem razões para confiar nele. Seria diferente, no
entanto, se ele não tivesse razões críveis para confiar no anestesista, como um evidente
estado de ebriedade. Esse último caso, portanto, seria uma exceção ao princípio da
confiança pois o Dr. não poderia guiar-se por tal critério, devendo ser imputado devido à
criação de um perigo proibido, no caso de ainda assim permitir o processo anestésico, que
realizou-se no resultado morte da vítima.

5. Narra a denúncia que tudo começou com um entrevero de um casal recentemente


separado com relação à visitação do filho. O pai, EDUARDO VIANA, vítima nestes
autos, pretendia sair com seu filho para visitar familiares, o que não foi permitido pela
mãe da criança, filha e irmã dos acusados, ora apelantes.O avô da criança, FERREIRA
DA SILVA, resolveu intervir na discussão do casal, acabando por brigar com o
“genro”, o que levou a intervenção de seus filhos, JOSÉ MAROMBA e JÚLIO SUPINO,
tios da criança e cunhados da vítima. A vítima acabou agredida pelos três. Saiu do
local, procurou socorro médico, registrou o fato na delegacia, vindo a falecer cerca
de 20 dias depois em razão das lesões sofridas naquela briga. Consta dos autos,
ainda, que a vítima a vítima, levada para o hospital, ao que parece, foi atendida de
forma negligente, circunstância que também colaborou para o resultado morte. Na
condição de magistrado, analise, especialmente, a questão do nexo de causalidade. *

Ferreira da Silva, José Maromba e Júlio Supino ao realizarem a ação penalmente relevante
de agredir Eduardo Viana, iniciaram um curso causal pois segundo o artigo 13 do Código
Penal Brasileiro “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.” Sendo assim, por nosso código adotar a teoria da Conditio Sine Qua Non, a
qual se vale do critério de eliminação hipotética, é evidente a causalidade da conduta dos
três familiares com o resultado morte do pai da criança, a saber que, ainda que tenha
havido negligência médica, tal fator não rompe com o nexo causal anterior mas apenas o
modifica ou acelera de modo que a ação do autor se conecta à primeira condição e o curso
causal iniciado por aquela primeira condição é eficaz até o fim. Com efeito, pela teoria da
imputação objetiva, o que ocorreu foi que, apesar da relação causal, o perigo proibido
criado por eles, observado pelos critérios da prognose póstuma objetiva e da observância
das normas de segurança, não se realizou no resultado pela existência de um fator
excludente dessa realização: estar na zona de responsabilidade de terceiro. Dessa maneira,
os 3 familiares da mãe da criança devem ser imputados por tentativa de homicídio ou lesão
corporal, mas não pelo homicídio em si à medida que não pode-se dizer tal resultado que foi
obra das mãos deles. O resultado morte, dessa forma, foi ensejado pela negligência médica
a qual é uma ação com nexo de causalidade em relação ao resultado, que gerou um perigo,
que desde uma perspectiva ex ante, com os conhecimentos especiais do possível autor,
tem real possibilidade de causar lesão ao BJ, perigo este proibido pela não observação das
normas de segurança que ensejou uma negligência. Destarte, como o perigo proibido
realizou-se no resultado devido à uma negligência, o profissional que cometeu a negligência
médica pode ser imputado por homicídio culposo nos termos do §3° do artigo 121 do
Código Penal Brasileiro.

6. Após ingerir comida, envenenada por seu irmão “A”, “B”, ainda sem estar sentindo
os efeitos do veneno, ao atravessar uma rua, é atropelado por “C”, motorista
imprudente que dirigia com excesso de velocidade, vindo a morrer de fratura
craniana. Indique a resolução adequada do caso. *

Apesar de A ter realizado uma conduta penalmente relevante, esta não tem nenhum nexo
de causalidade com o resultado morte por fratura craniana pois não há vínculo entre eles,
não devendo A ser imputado pela morte de B. Na verdade, o resultado morte se deu em
decorrência de um atropelamento, ação efetuada por C, que inaugurou um novo curso
causal pelo caráter de concausa superveniente absolutamente independente. C, ao dirigir
com excesso de velocidade criou um perigo proibido à medida que tal comportamento além
de ter a real possibilidade de causar lesão ao bem jurídico, estava em desrespeito às
normas de segurança. Com efeito, o perigo proibido realizou-se no resultado pela conexão
de risco entre eles, podendo C ser imputado objetivamente. No que tange aos aspectos
subjetivos, C agiu com culpa a medida que, nos termos do artigo 18, II do Código Penal, o
agente ensejou o resultado por imprudência. Desse modo, A não pode ser imputado pela
morte de B, senão pela tentativa de homicídio qualificado, e C é responsável juridicamente
pelo óbito de B, por homicídio culposo, nos termos do §3° do artigo 121, CP.

7. Dois jovens brincam em uma tenda de tiro ao alvo e um deles repta (induz) o outro
a acertar a bola de vidro que se encontra na mão de uma jovem que trabalha na
tenda. A jovem, contudo, não pode sofrer ferimento algum. O ganhador da aposta
ficará com parcela do patrimônio do perdedor. Ambos, abastados, têm algo a perder.
Antes de efetuar o disparo, o jovem desafiado medita: a princípio considera que
muito provavelmente a garota será atingida, mas se isso acontecer, ele pensa, "sairei
correndo"; contudo, reflete um pouco mais e chega à seguinte conclusão: "no final
das contas, tudo sairá bem, eu acertarei a bola de vidro e a aposta terá sido uma
marmelada". O jovem atira e as consequências indesejadas sobrevém: a garota é
gravemente ferida e ele perde parcela do seu patrimônio. Julgue a modalidade de
imputação subjetiva que deve ser atribuída ao jovem que efetua o disparo. *

Usando a terminologia tradicional, a culpa consciente é quando você sabe que o resultado é
possível, mas não concorda com ele. Já o dolo eventual, segundo a clássica fórmula de
Frank, o agente age de forma que “seja como for, dê no que der”, ele não deixará de atuar.
Sendo assim, no caso em voga aplicar-se-á a modalidade de imputação subjetiva da culpa
consciente, à medida que, apesar de reconhecer a possibilidade de que sua conduta
lesionasse a jovem, ele objetivamente não persistiria na ação caso tivesse a certeza da
lesão visto que esta faria com o mesmo perdesse a aposta e parte de seus bens. Sendo
assim, o autor não é indiferente ao resultado, configurando sua atitude em culposa.
8. X e Y decidem praticar roubo contra Z, apertando um cinto de couro no pescoço na
vítima para fazê-la desmaiar e cessar a resistência, mas a representação da possível
morte de Z com o emprego desse meio leva à substituição do cinto de couro por um
pequeno saco de areia, em tecido de pano e forma cilíndrica, com que pretendem
golpear a cabeça de Z, com o mesmo objetivo. Na execução do plano alternativo,
rompe-se o saco de areia, os autores retomam o plano original, afivelando o cinto de
couro no pescoço da vítima, que cessa a resistência e permite a subtração dos
valores. Os autores desafivelam o cinto do pescoço da vítima e tentam reanimá-la,
mas sem êxito: conforme a hipótese representada como possível, a vítima está
morta”. Qual a responsabilidade penal de X e Y? *

Tanto X quanto Y realizaram conduta penalmente relevantes que têm relação de


causalidade com o resultado morte de Z à medida que, se hipoteticamente eliminadas, o
resultado desapareceria. Tal conduta criou um perigo proibido, ao ensejar real possibilidade
de causar lesão ao bem jurídico e agir distante do critério do homem prudente. O perigo
proibido realizou-se no resultado. Sendo assim, conclui-se que eles podem ser imputados
objetivamente. Subjetivamente, eis a questão: seria dolo eventual ou culpa consciente?
Dentre as teorias utilizadas para precisar o limite entre o dolo e a culpa, está a teoria da
possibilidade. Segundo essa, especialmente pelos trabalhos de Schmidhäuser, é a
representação qualificada do perigo que indicará o campo do dolo eventual. Assim, a
distinção entre dolo e culpa vai se resumir à distinção entre representação e não
representação. Ademais, quando trata-se de imputar subjetivamente, a valoração tem de
ser no momento do comportamento, não importando as condições subjetivas anteriores ou
exteriores, mas aquilo que se dá no momento da conduta. Com efeito, poderia-se apontar
um dolo eventual à medida que os agente fizerem uma previsão de possibilidade da
ocorrência do resultado e assunção do risco de sua produção como parte da vontade.

método que os agentes adotaram consiste num meio idôneo para a produção do resultado,
isto é, muito provável de causar morte. Sendo assim, no caso em voga, tanto X quanto Y
responderiam juridicamente pelo resultado morte com dolo eventual.

Sendo assim,

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