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Direito penal - II

direito penal 2 (Universidade Portucalense Infante D. Henrique)

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Aula direito penal (Teórica) 14/03/2022

Conduta

Elementos
Bem jurídico
objetivos
Crimes comuns
Tipos
Agente Próprios
Incriminadores
Crimes especificos
culpa do agente e
Elementos
outros elementos Impróprios
subjetivos
subjetivos

Nota:

Crime-facto – Deve ser um crime típico, Ilícito e culposo.

Elementos objetivos - Conduta

Quanto aos elementos objetivos, no que concerne à conduta, esta conduz a um resultado.

De notar que não há nenhum crime sem uma ação humana, por exemplo, no caso de A incentivar o seu
cão a atacar B, temos igualmente uma ação humana, uma vez que o animal não é responsabilizado pelo
crime.

A conduta do agente para ser relevante para o direito penal é necessário que esteja em causa uma
conduta que provenha da vontade humana, alguém que atue em erro não atua para o direito penal.
Exemplo: A entregador de pizza entrega a B uma pizza envenenada, mas sem saber que a pizza é
envenenada, A atuou em erro, não podendo para o direito penal ser criminalizado.

Conduta voluntária – Conduta que tem de ser dirigida pela vontade do agente.

Quaisquer atos que resultem de: - Estado de inconsciência;

- Atos Reflexos; Não são jurídico

- Coação absoluta; penalmente relevantes

- Sonambulismo.

Aula Direito Penal (Prática) 17/03/2022

Construção do facto punível doloso por ação


1) Ação

(Também é possível a construção do facto punível assentar numa omissão)

2) Típica

3) Ilícita

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Ilícito típico ou tipo de ilícito:

a) Objetivo:

i) Tipos de tipicidade:

(1) Quanto ao autor;

(2) Quanto à conduta;

(3) Quanto ao bem jurídico.

ii) Imputação do resultado à conduta (3 teorias):

b) Subjetivo

i) Elemento intelectual do dolo – Erro do artigo 16.º/1

ii) Elemento volitivo do dolo – artigo 14.º

(Também é possível pensar numa violação de um dever objetivo de cuidado, compatível com a
construção de um facto punível negligente)

Causas de justificação ou de exclusão da ilicitude

4) Culposa se:

a) Imputabilidade – a inimputabilidade é um obstáculo à verificação da culpa

b) Elemento emocional do dolo – atitude interior de contrariedade ou indiferença

(Também é possível a construção do facto punível remeter aqui para a atitude interior de descuido ou
leviandade, se estivermos perante um crime negligente)

c) Consciência da ilicitude – artigo 17.º

d) Exigibilidade – ou seja, a verificação das causas de exclusão da culpa

(Também impede a completude da construção do facto punível).

5) Punível
Questão – Qual é a ação que releva para direito penal?

Tem de ser uma realização típica, porque é uma ação que o legislador entendeu que era necessária para
entrar para a legislação como punível, sendo aqui que a ação tem relevância.

De notar que o mesmo facto objetivo pode ter várias leituras para o direito penal -Exemplo:

- A morre por ataque cardíaco – Causa natura;

- A mata um ladrão quando tenta invadir a sua casa – Legítima defesa;

- B mata A quando tentar assaltar a casa de A – Crime punível.

Direito Penal (aula teórica) 21/03/2022

Agente

Elementos objetivos do tipo Conduta

2
Bem Jurídico

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- Para efeitos jurídico-criminais a conduta tem de manifestar uma exteriorização da vontade do agente,
estão fora desta prática, atos meramente reflexos, entre outros.

1) Conduta

Por ação
Crimes
comissivos Impura ou
Por omissão
Imprópia

Crimes comissivos – São aqueles cujo resultado é um elemento identificador do tipo incriminador.
Exemplo: Artigo 131º CP; Artigo 143º CP; Artigo 212º CP

Nota: Um crime consuma-se quando se verifica o resultado, no caso do homicídio, artigo 131º CP, o
crime consuma-se com a morte do agente, isto é um exemplo de um crime comissivo.

No caso do artigo 143ºCP é necessário que se cumpra um resultado típico, no caso, a ofensa ao corpo ou
saúde de uma pessoa.

Crime material/de resultado – Aquele crime cuja consumação implica a verificação de um resultado
típico. Artigo 212º CP trata-se de um crime de resultado.

De notar que os crimes comissivos são crimes materiais e os crimes materiais são crimes comissivos.

Aos crimes materiais opõem-se os crimes formais ou também os chamos crimes de mera atividade ou
de mera omissão.

Crimes formais – São aqueles em que a consumação se basta com a regulação da norma incriminadora
independentemente do tipo de resultado.

Exemplo:

- Contrafação da moeda (artigo 262º CP) – Crime formal (Não é preciso a verificação de um resultado
para que esteja em um crime formal) e por ação. Este crime consuma-se quando alguém procedeu
à contrafação da moeda de a pôr em circulação.

2) Agente

Artigo 11º - Estabelece o princípio da responsabilidade das pessoas singulares.

Excecionalmente pode responsabilizar-se também as pessoas coletivas.

Quanto ao agente para poder ser responsabilizado criminalmente tem de ser um facto imputável, artigo
19º e 20º CP.

No que respeita ao agente existe aquilo chamamos tipos de tipicidade:

- Crimes comuns: Falamos de uma norma incriminadora que prevê um crime que pode ser praticado
por toda e qualquer pessoa, desde que não se encaixe nos artigos 19º e 20º CP. Exemplos: artigo 256º
nº1 e artigo 131º e seguintes CP, denotar que o artigo 224º CP, não se trata de um crime comum.

- Crimes específicos – Quando a norma incriminadora exige um elemento típico em relação ao agente
imponho em relação a esse agente certas caraterísticas, qualidades. Os crimes específicos dividem-se em
crimes específicos próprios e crimes específicos impróprios.

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- Crimes específicos próprios – Aqueles onde a qualidade ou caraterísticas do agente é o fundamento,


ou razão de ser da norma incriminadora, essa norma incriminadora só surge por um motivo, isto é,
porque existe pessoas que tem aquela qualidade. Exemplo: Artigo 360º CP.

- Crimes específicos impróprios – São aqueles em que as caraterísticas servem para agravar a
responsabilidade penal dos agentes. Exemplo: Artigo 256º nº4 CP.

Exemplo: Artigo 136º: Caraterísticas necessárias para a prática do crime:

- Ser mãe;

- Ter praticado o crime sob influência perturbadora de um estado corporal.

Aqui estas caraterísticas fazem atenuar pois caso não estivéssemos perante estas caraterísticas, estaria
em causa um homicídio.

Exemplos: - Artigo 132º nº1 – Crime comum;

- Artigo 132º nº2 alínea a) – Crime específico impróprio;

- Artigo 260º - Crime específico impróprio.

Artigo 28º - Este artigo estende facticiamente as qualidades da norma incriminadora aos
comparticipantes criminosos.

3) Bem Jurídico

Atuação do agente quanto ao bem jurídico , temos:

a) Crimes de dano - É aquele em que a atuação do agente provoca uma lesão efetiva do bem
jurídico.

b) Crimes de perigo: I) Crime de perigo concreto;


ii) Crime de perigo abstrato ou presumido (Ex: artigo 292º).

Nos crimes de perigo a conduta do agente destina-se a colocar em perigo o bem jurídico, mas não a
lesá-lo objetivamente.
Exemplo: Artigo 131º - Provoca um dano
Artigo 143º - Provoca um dano que lesa a integridade física;
Artigo 212º - Provoca um dano ao património;
Artigo 290º - Crime de perigo;
Artigo 292º - Crime específico, formal, perigo.
O crime de perigo abstrato ou presumido é aquele em que o perigo é a motivação do legislador, de
forma a evitar que não se chegue sequer ao patamar do dano.
Nos crimes de perigo concreto, o perigo é um elemento constitutivo do tipo legal. Exemplo: Artigo 291º
CP, aqui tem de se fazer prova do perigo constituído.
Direito Penal (aula prática) Crimes 24/03/2022

Quanto ao comuns Própios ou


autor puros
Crimes
específicos
Tipos de Quanto à Impróprios ou
Objetivo Impuros
tipicidade conduta
Iícito
típico 4
Subjetivo Quanto ao
bem jurídico
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Crimes comuns – Este crime pode ser cometido por qualquer pessoa, começa por uma destas duas
palavras, quem ou aquele que.

Crimes específicos – São crimes em que o agente tem de ter alguma caraterística que o diferencia da
generalidade do cidadão.
I) Próprio – O cargo do agente fundamenta a existência de um facto, exemplo, artigo
229º CP (A pessoa é responsável porque tem aquela função);
II) Impróprio - A qualidade do agente já não serve para fundamentar
responsabilidade do agente, aqui temos um crime comum quando for praticado por determinada pessoa
torna-se um crime específico impróprio, exemplo, artigo 378º CP.

Crime Individual – Essencialmente trataremos este em aula.

VS

Crime Coletivo – Artigo 11º CP.

Relativamente à conduta (tem de ser uma conduta humana e voluntária) temos crimes:
- Crime de resultado ou crimes materiais VS Crimes de mera atividade (crimes formais);
Quanto aos crimes de resultado este carateriza-se pelo facto de a consumação exigir uma
alteração no mundo real, uma alteração que é espácio-temporalmente distinto da conduta.
Exemplo: Crime de homicídio.
Quanto aos crimes de mera atividade, nestes o que acontece é que a conduta em si mesmo
já permite a consumação do facto, exemplo, crime de injúria, aqui não é preciso que se
exteriorize nada para que haja lugar à conduta, outro exemplo, é o artigo 190º.
- Crime de execução livre VS crime de execução vinculada;
Quanto aos crimes de execução livre, aqui o legislador deixou em aberto a forma de execução
do facto, exemplo, A pode matar B, este pode matar como o entender, com uma faca, com um
pau, com uma arma, etc.
Quanto aos crimes de execução vinculada, o crime só existe se o agente cumprir o caminho
traçado pelo legislador, exemplo, crime de burla (artigo 217º CP), se não executar o crime de
forma vinculada ao tipo legal de crime, não comete o crime.

Quanto ao bem jurídico:


- Crime de dano VS crime de perigo (Abstrato ou Concreto);
Quanto ao crime de dano, neste exige-se a efetiva lesão do bem jurídico, sem essa lesão não
há a consumação do facto.
Quanto ao crime de perigo, quando não se exigindo a efetiva lesão do bem jurídico, o
legislador entende que o bem jurídico é importante, existindo uma antecipação da tutela
penal. Aqui a palavra “perigo” faz parte do tipo legal de crime. Quanto ao crime de perigo
concreto, temos como exemplo, o artigo 138º e 291º. Quanto ao crime de perigo abstrato não
é necessário ter lesado o bem jurídico, nem o ter colocado em perigo, exemplo, artigo 292º CP,
aqui o legislador permite a antecipação da tutela.

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Os crimes abstratos são crimes constitucionais se protegerem direitos verdadeiramente


importantes?
- Bem jurídico verdadeiramente importante (Exemplo: vida);
- Esse bem jurídico tem de ser identificável;
- A conduta proibida tem de ser muito precisa qualquer pessoa que não seja jurista tem
de atender exatamente o que não pode fazer.
Cumpridos estes requisitos temos o crime abstrato constitucional.

Exemplo pergunta oral:


Transforme o artigo 138º, que é um crime de perigo, num crime abstrato – Transformação
“quem abandonar”.

- Crimes preterintencionais VS Crimes agravados pelo resultado.


Quanto aos crimes agravados pelo resultado, temos como exemplo o artigo 18º, aqui o
agente cometeu um crime e há um resultado mais grave que o agente desejava.
3 crimes agravados pelo resultado há 3 hipóteses:
Exemplo: Crime de violação. A foi violada e tem variadas doenças ginecológicas, com
aquela violação teve uma hemorragia interna e acaba por morrer, temos um resultado
agravante. 3 hipóteses:
- O crime agravado pelo resultado é também um crime;
- No caso de a vítima se suicidar, o resultado agravado acaba por ser o suicídio que por
si só não constitui crime, mas é uma agravante, pois é uma consequência da violação;
- Não houve nenhuma consequência física, mas na sequência da violação a vítima
engravidou, este é um crime agravado pelo resultado em que o resultado não é crime, mas
como adveio de violação agravou.

Aula Direito Penal (Teórica) 28/03/2022

Nexo de Imputação objetiva (Do resultado à ação (omissão))– Quando estamos perante crimes
materiais ou de resultado e crimes de perigo concreto, é necessário fazer-se a imputação
objetiva. De notar que os restantes crimes não precisam de vir aqui.

- Do ponto de vista objetivo a conduta de determinada pessoa a causa daquele resultado, mas
tal não será necessariamente punível e aqui neste ponto vamos verificar se o resultado se pode
imputar à conduta do indivíduo, ou seja, ligamos a conduta ao resultado produzido. (Vamos
perguntar se para o direito penal foi a conduta do agente que provocou aquele resultado).

Teoria que explicam a imputação objetiva

1ª – Teoria “conditio sine qua non”/ das condições/ das condições equivalentes

- Foi desenvolvida por Buni em meados do século XIX. Esta teoria estabelece que todas as
condições que ocorrem durante o processo causal são todas elas causas da produção do

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resultado e todas têm o mesmo valor, de tal forma que se considerarmos que uma dessas
causas não acontecesse o resultado já não será o mesmo. A causa de um resultado é toda a
condição sem a qual o resultado não teria tido lugar. É a teoria que atua sempre na ideia do
“se”, todas as causas são todas elas equivalentes.

Existe um decurso de acontecimentos humanos, que se tornam uma sequência, senda essa
sequência do acontecimento que terá levado a um determinado resultado.

Crítica:

Esta teoria não tem qualquer limite e não faz qualquer forma de avaliação a cada uma das
causas relativamente ao processo todo. Há uma falta de delimitação que leva ao excesso.

Exemplo: A morre, serão causas dessa morte o facto de B ter uma arma e com ela ter dado 2
tiros a A, o facto de D ter fabricado essa arma e o facto do taxista R ter levado B ao encontro
de A, pois sem qualquer uma destas condições não teria sido possível a morte de A nas
concretas condições de modo, tempo e lugar em que ocorreu.

- Uma vez que esta teoria não era justa, foi reformulada, mas vamos aplicá-la na mesma.

2ª – Teoria da causalidade adequada/ da adequação

- Esta teoria vem no sentido de restringir o âmbito de aplicação anterior (complementar).


Criado por Kries no final do século XIX. No âmbito desta teoria, o resultado tem de ser normal,
típico, previsível daquele tipo de comportamento, o comportamento do agente. Tal afere-se
mediante: as regras da experiência comum e a normalidade do acontecer. Trata-se de um juízo
em termos abstratos de idoneidade que é extraído das regras da experiência comum. O que
também se irá aferir será se em circunstâncias normais o comportamento do agente é
suscetível, capaz ou idóneo de produzir o resultado como o que o comportamento do agente
em concreto produziu.

- Tal é feito através do juízo de prognose póstuma – O juiz vai atuar ou em caso de omissão
(deveria ter atuado), colocando-se na situação do chamado homem médio e assim verificar se
aquele comportamento é normal e previsível e aquele resultado seria o esperado pela
generalidade das pessoas. Sempre que o tribunal determine que o resultado é de todo
imprevisível a causalidade é excluída. O resultado poderá ser previsível, mas de verificação rara
ou anormal e aqui a causalidade será excluída também. Sempre que estivermos perante um
resultado previsível e normal/típico da verificação normal, haverá nexo de causalidade.

Exemplo: A corta os travões a B, B ia a travar e como não dava despistou-se. A morte de B é


causa da conduta de A? A morte neste caso seria previsível/normal e típica? – Sim.

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Exemplo: A dar uma navalhada superficial a C. C acaba por morrer devido a hemofilia. A não
cometeu um crime de homicídio logo não lhe podemos imputar a morte de C. Diferente seria
se A conhecesse essa condição de C.

Especiais conhecimentos – Também se leva em consideração os conhecimentos que o agente


tinha naquela situação em concreto.

Exemplo: A dá uma navalhada superficial a C. C acaba por morrer devido a hemofilia – Será
este resultado típico/normal e previsível? Não, MAS se A sabia que C tinha tal problema, o
resultado morte será um resultado típico/ normal, previsível daquela conduta? SIM. Aqui
reformula-se a pergunta sobre os especiais conhecimentos que o agente tinha no momento da
prática do facto, ou seja, irá se aferir a normalidade do acontecer mediante o conhecimento do
agente.

Exemplo: A paga passagens de avião a M. O avião onde seguia A cai e este morre. Podemos
imputar o homicídio a A porque este é um resultado morte é típico, normal e previsível? NÃO
daquela conduta. Mas por exemplo, se A sabia que naquele avião havia uma bomba, aqui o
resultado morte já é um resultado típico daquela conduta.

E nos crimes omissivos/impuros? Estes tipos de crimes são aqueles que existem quando a lei
exige que uma pessoa atue e ela não o faz, temos como exemplo, o dever de prestação de
auxílio. Se o omitente tivesse atuado como devia, ou podia, esse resultado ter-se-ia
verificado ou não?

1) Se verificarmos que mesmo com a ação do omitente, o resultado se viria a


verificar então aqui não se pode imputar ao agente a causa de produção daquele
resultado.

Exemplo: A esfaqueia B. C passa no local e não auxilia B, mas no momento em que C passa no
local B já tinha falecido à 1 hora, mesmo que C auxiliasse já nada havia a fazer.

2) Mas se com a ação do omitente o resultado não se viesse a verificar, aqui já


imputaria o resultado à conduta do agente.

Exemplo: A esfaqueia B. A fica lá e não auxilia. B morre porque perdeu muito sangue por falta
de auxílio. Aqui já podemos também imputar o resultado à conduta do agente.

Intervenção de terceiros: Durante o processo causal pode ocorrer a intervenção de terceiro, o


qual pode ser:

1) Normal e previsível – Nunca interrompe o nexo de causalidade (Não tem causa


nenhuma);

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2) Anormal e imprevisível – Quando há uma intervenção de terceiro anormal e


imprevisível essa atuação interrompe o nexo de causalidade adequado. O que subsiste
será o desvalor do resultado. Este último vai ser imputado à intervenção de terceiro. O
que desencadeou a conduta vai responder pelo desvalor da ação.

Exemplo: A agride B. B falece, mas os ferimentos que A lhe causou não eram normais para
produzir a morte a B se B tivesse sido tratado de forma diligente pelos médicos que estejam a
ver um jogo e não se importam B não teria morrido. Nesta situação D não deverá ser
condenado a título de homicídio consumado, mas apenas tentado, o resultado não lhe pode
ser imputado, pois apesar de ter sido ele o causador, se a equipa médica tivesse atuado como
devia B não teria morrido, como tal não aconteceu interrompeu o nexo de causalidade
adequado (equipa médica homicídio negligente).

Classificação dos crimes do tipo de tipicidade:

- Modo de fazer/executar ou forma de perpetuar o crime:

- Crimes de execução vinculada ou típica – Nestes a forma de o fazer está prevista na


norma incriminadora. Os meios para o fazer/como é que ele é cometido. Exemplo: artigo 217º.

- Crimes de execução não vinculada/livre ou atípica – A norma nada diz quanto à


forma de o fazer, qualquer modo que seja adequado a produzir. Exemplo: Artigo 131º, 141º e
212º.

- Qual a relevância de sabermos se o crime é de execução vinculada ou não vinculada?

Tem haver com o erro, a atuação do agente em erro sobre o processo causal. Quando o
agente erra sobre o processo causal, a primeira coisa que temos que saber é se o crime é de
execução não vinculada ou vinculada. Se for de execução não vinculada – o agente atuou em
erro sobre o processo causal (achou que era uma coisa, quando na realidade era outra). Nos
crimes de execução não vinculada o erro é irrelevante, não releva.

Exemplo: Matar alguém eletrocutado, dizer que não sabia que matar alguém era também uma
forma prevista de o fazer, atuou em erro, mas isso é irrelevante porque a morte pode ser
praticada por qualquer meio e forma.

Nos crimes de execução vinculada ou típica – exemplo: A comete X facto, mas não com a lei
diz que pune, a lei só pune sobre determinada forma e o indivíduo chegou ao resultado de
norma, mas sem a forma que ele indica, vamos estar perante um erro sobre o processo
causal, mas aqui o erro já procede, já tem relevância e produz efeitos – Esta situação vai estar
ligada ao artigo 16º nº1 do código penal (os efeitos estão aqui). O dolo do tipo do agente não
chega sequer a formar-se.

3ª teoria da conexão do risco (Tem 4 subprincípios):

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- Vem restringir o âmbito de aplicação da teoria anterior (causalidade adequada), não está
consagrada na lei porque já foi criada pela doutrina e jurisprudência. Esta teoria parte do
princípio de que a vida me sociedade e a adoção de determinados comportamentos é
Risco permitido é diferente de um risco juridicamente relevante e
suscetível de produzir riscos. Como forma de restringir o âmbito de aplicação, aqui é necessário
que se tenha caracterizado ou matererializado
que sejam feitos determinados passos para que se possa imputar o resultado à conduta do
agente, 4 subprincípios.

Diminuição do risco
Teoria da
conexão do risco
Comportamento lícito alternativo/aumento/ ultrapassagem/ou
potenciar o risco

Âmbito/Esfera de proteção da norma

Risco permitido – A própria vida é um risco, conduzir, etc., estes riscos são todos aqueles
comportamentos que causam um dano ou um perigo concreto, mas que se situam no âmbito
daqueles comportamentos ou riscos socialmente tolerados, ainda que o resultado do dano ou
do perigo seja um resultado normal e previsível, não se imputa o resultado à conduta do
agente.

Diminuição do risco – Por vezes as pessoas adotam condutas que produzem determinados
resultados, mas a sua conduta foi no sentido de diminuir, de minorar um risco existente e que
não foi criado por si.

Exemplo: A ia atropelar B, mas C, dá conta a tempo e empurra B, na sequência deste


acontecimento B cai e parte uma perna. Existe aqui uma sequência normal e previsível pois,
com uma queda tal acontecimento pode-se desencadear, mas como é obvio não podemos
imputar o resultado desta ação a C porque lhe salvou a vida. Então, sempre que alguém com o
seu comportamento venha a diminuir o risco que não foi criado por si, não é responsabilizado
pelo crime.

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Comportamento ilícito alternativo/aumento – Mesmo que atuem o resultado seria o mesmo.

Âmbito/esfera de proteção da norma – Temos que atender aquilo que a norma protege, se é
vida, etc.

Aula Penal (prática) 31/03/2022

O facto tem de ser:

- Punível;

- Culposo;

- Ilícito;

- Típico;

- Ação – realização típica.

O ilícito deve ser típico podendo ser: objetivo ou subjetivo, quando é objetivo, temos a
imputação do resultado à conduta, de notar que a imputação do resultado à conduta, significa
atribuir objetivamente determinado resultado (consequência à conduta do agente):

A imputação do resultado à conduta segue 3 teorias:

1ª teoria – Teoria da causalidade (o que releva aqui é o nexo causal), o juízo que o juiz
faz é um juízo de supressão mental.

2ª teoria – Teoria da causalidade adequada (artigo 10º nº1 CP) – Aqui o que releva é a
normalidade segundo as regras da experiência comum. Juízo de prognose póstuma (porque
aqui o juiz desloca-se mentalmente para o momento da prática do facto se nesse momento era
previsível/normal, segundo as regras da experiência comum que desse facto surgisse aquele
resultado. Aqui vamos ter 2 situações especiais:

- Casos de especiais conhecimentos do agente, em que não só vamos analisar o que é


normal e previsível para o homem médium, mas vamos ter atenção ao especial conhecimento
do agente;

- Interrupção do nexo causal, temos de perceber se ela é previsível, se for imprevisível,


vai ser relevante, se for previsível, vai ser irrelevante. Se for relevante afasta-se a imputação, se
não for relevante não se afasta a imputação.

3ª teoria – Teoria da conexão do risco: 1º requisito – Há imputação se o agente criou


ou potenciou um risco. 2º requisito – Não permitido o risco. 3º requisito – Para o bem jurídico
protegido pelo âmbito de proteção da norma. 4º requisito – Foi esse risco que o agente criou,
aquele risco que produziu um resultado típico.

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O legislador avançou da primeiro teoria para a segunda teoria, porque a primeira teoria se
tornou insuficiente.

A 2ª teoria não é suficiente porque vivemos numa sociedade de risco, portanto, é preciso
regular quais são os riscos que vamos admitir porque vieram melhorar a nossa vida, ou seja, há
riscos que são toleráveis e outros que não, porque adotamos o que é permitido e proibido à
sociedade de risco, esta 3ª teoria veio exatamente colocar limites à sociedade de risco.

Nota: Distinguimos entre crimes de resultado e crimes de mera atividade.

E quanto à 1ª teoria não resolve todos os problemas, desde logo, a causalidade


alternativa, mas esta é um ponto de partida para as restantes.

Imputação do resultado à conduta

Casos práticos

1) A deu um empurrão a B. Na sequência deste empurrão, B teve um enfarte do miocárdio e


morreu. Em tribunal, provou-se que A desconhecia a doença cardíaca de B. Poderá o resultado
morte de B ser imputado à conduta de A? Justifique.

Resolução:

Pela primeira teoria há imputação do resultado à conduta, uma vez que se A não tivesse
empurrado B não teria sofrido aquele choque que levou à existência do enfarte. Assim, por
esta primeira teoria, existe nexo causal imediação entre a prática do facto e o resultado e é
uma condição sem a qual o resultado não se teria verificado. Assim, por esta primeira teoria há
imputação.

Pela segunda teoria não há imputação do resultado à conduta, uma vez que não é normal, nem
previsível que segundo as regras da experiência comum, que de um empurrão resulte um
enfarte miocárdio, portanto, não haverá imputação pela segunda teoria. Uma vez que não há
imputação, não passamos para a 3ª teoria, uma vez que A não é responsável.

Imaginemos que A conhecia a doença cardíaca de B que impedia que ele sofresse qualquer
tipo de impacto muito forte, uma vez que este se encontrava numa situação muito débil e
qualquer coisa poderia desencadear o enfarte.

Aqui temos um caso especial de conhecimento do agente, continua a não ser normal e
previsível que uma pessoa morra na sequência de um empurrão, mas se o agente souber da
especial condição daquela pessoa, para ele agente, já é normal e previsível que aquele
resultado ocorra e, portanto, já teremos imputação do resultado à conduta, não precisamos de
passar para a terceira teoria, porque são um daqueles dois casos que foi apresentado
anteriormente.

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2) A dispara contra B, com intenção de o matar. Moribundo e abandonado na estrada, B é


encontrado por C que, por compaixão, desfere dois tiros certeiros, provocando-lhe a morte
imediata. Quid Iuris quanto à imputação do resultado morte de B? Justifique.

Resolução:

Nestes casos em que aparece mais do que um interveniente que tem ligação ao facto, temos
de procurar a imputação para um e para outro, assim, vamos ver se vamos imputar o resultado
morte a A ou a C.

Quanto a C:

No caso, segundo a primeira teoria, aquele próprio resultado da pessoa morrer com 3 tiros não
se teria produzido sem os tiros de C, portanto, é essencial para a produção daquele resultado,
sendo essencial para a produção daquele resultado, passamos para a segunda teoria, na
segunda teoria, é normal e previsível que dois tiros certeiros levem à morte de uma pessoa,
portanto, temos imputação do resultado à conduta. Passamos então para a terceira teoria, aqui
também teríamos imputação do resultado à conduta, porque ele potenciou um risco não
permitido para o bem jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma e esse risco que
ele criou materializou num resultado típico, ou seja, a pessoa não morreu na sequência do
primeiro tiro, morreu na sequência dos seguintes 2 tiros, portanto, haveria imputação do
resultado à conduta pelas 3 teorias. Podíamos depois excluir ou alterar a responsabilidade num
momento mais à frente, portanto, do ponto de vista subjetivo a motivação para dar os 2 tiros é
necessário ser apreciado e, provavelmente será um homicídio privilegiado com uma pena
menos gravosa, mas isso não é apreciado aqui, nós só estamos a apreciar objetivamente os
factos. Para C haveria imputação do resultado.

Quanto a A:

Pela primeira teoria há imputação do resultado à conduta, porque se ele não tivesse dado
aquele tiro, não teria deixado a pessoa moribunda, o C não o teria encontrado e desferido os
tiros por misericórdia e ele não teria morrido, portanto, há imputação pela primeira teoria.

Pela segunda teoria, A não estava a contar que C aparecesse, não é uma intervenção previsível,
neste caso, é uma intervenção de um terceiro, assim, é imprevisível, porque nada no caso
prático indica que A e C tenham combinado que A dava um tiro e depois C dá 2 tiros, ou seja,
isto era ser previsível, portanto, como é imprevisível logo vai ser relevante e vai afastar a
imputação do resultado à conduta, até porque faz sentido afastar porque atribuímos o
resultado a outra pessoa C, não faz sentido atribuir a A. Aqui há imputação a A de tudo quanto
se produziu ate à interrupção, ou seja, há o afastamento da imputação do resultado final, mas

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imputa-se ao agente tudo o que ele tiver produzido até ao momento da interrupção, então
neste caso, o que A produziu até ao momento da imputação é a tentativa de homicídio, é uma
tentativa de homicídio e não ofensas à integridade física, porque A teve a intenção de o matar.

3) A e B estão a conversar na beira da estrada. A dada altura, A distraísse e não repara num
automóvel que, desgovernado, vem na sua direção. Nesse mesmo instante, B empurra A e
salva-o de uma morte certa. Devido ao empurrão, A caiu e partiu uma clavícula, o que lhe
causou 30 dias doença. Por isso, A apresentou queixa contra B pelo crime de ofensa à
integridade física (artigo 143.º do CP). Quid Iuris quanto à possibilidade de imputação deste
resultado à conduta do agente?

Resolução:

Pela primeira teoria há imputação do resultado à conduta, porque se ele não tivesse
empurrado A, este não teria partido a clavícula, existe nexo causal. Pela segunda teoria é
normal e previsível que de um empurrão com alguma força possa A partir a clavícula, uma vez
que este cai desgovernadamente, assim é normal e previsível que da violência desse impacto
possa resultar esse tipo de lesão, então também há imputação. No caso não estamos em
nenhuma situação de interrupção do nexo causal, nem de conhecimentos especiais do agente,
assim avançamos para a 3ª teoria, assim, vamos ver se estão cumpridos todos os requisitos,
uma vez que estes requisitos são comulativos, basta que falte um para que não haja lugar à
imputação. Quanto ao primeiro requisito, é necessário que B tenha criado ou potenciado o
risco, quanto à sua criação, o risco já estava criado, porque B só intervém porque havia um
risco, que era o risco de A morrer, então entre morrer e partir uma clavícula, partir a clavícula
diminui o risco então é um caso de diminuição do risco, não se cumpre o primeiro pressuposto,
logo não há imputação do resultado à conduta.

4) Numa estrada em que se podia conduzir a 100km/h, A ia a conduzir a 80Km/h, cumprindo


todas as demais regras de condução. Inesperadamente, o peão B atravessa-se à frente de A e,
batendo no automóvel de A, acaba por morrer. Pode a morte de B ser imputada a A?

Resolução:

Pela primeira teoria pode a morte de B ser imputada a A, porque se este não estivesse a
conduzir, não o teria atropelado logo ele não teria morrido, é uma condição sem a qual o
resultado não se teria produzido. Pela segunda teoria, é normal e previsível que de um
atropelamento a 80km/h tenha resultado a morte de B. Quanto à 3ª teoria, é necessário
atentar, que por alguma razão o legislador entendeu que naquela estrada se podia circular a

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100km/h, é porque este entendeu que em princípio não iriam atravessar peões, pelo menos
assim inadvertidamente, então, o agente criou o risco, uma vez que há determinadas
atividades que são sempre um risco, conduzir é uma dessas atividades. O risco que ele criou é
um risco permitido, uma vez que ele cumpriu todas as regras, assim como o risco é permitido,
não há imputação do resultado à conduta, é um caso de risco permitido.

5) A encontrava-se em casa quando sofreu um AVC. Foi chamada uma ambulância para o
transportar para o hospital. B, condutor da ambulância realiza uma manobra perigosa e
provoca um acidente de que adveio a morte de A. Pode a morte de A ser imputada à conduta
de B?

Resolução:

Pela primeira teoria pode a morte de A ser imputada a B, porque se este não tivesse feito a
manobra perigosa A não teria morrido naquele momento e daquela maneira, assim há
imputação. Pela segunda teoria, é normal e previsível segundo as regras da experiência
comum1, que de um acidente decorrente de uma manobra perigosa possa advir a morte de
uma pessoa que vai dentro da ambulância. Pela terceira teoria estamos perante um caso de
potenciação do risco, uma vez que nós somos transportados em ambulâncias porque já
estamos em risco da vida ou da integridade física, ou seja, o risco já estava criado desde o
momento em que surgiu o AVC, mas o condutor ao fazer a manobra perigosa potenciou o risco,
esse risco não é permitido, não foi para o bem jurídico protegido no âmbito da norma, uma vez
que o resultado produzido é a morte, a norma que regula este resultado é o homicídio e o bem
jurídico protegido por essa norma é a vida, ou seja, foi um risco para o bem jurídico protegido
pelo âmbito de proteção da norma e foi esse risco que ele criou com a manobra perigosa
aquele que concretamente se materializou no resultado típico, isto é, a morte daquele pessoa,
uma vez que A morreu não foi do AVC, mas sim do acidente, estão então preenchidos os
pressupostos, imputação do resultado à conduta.

Imputação do resultado à
conduta

Previsível Imprevisível

Irrelevante Relevante

1 No exame temosNão
de afasta
escrever assim.
a imputação Afasta a imputação do resultado final
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Ainda há imputação de tudo aquilo que se
produziu até à interrupção
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Aula Direito Penal (Teórica) aula 04/04/2022

Tipo subjetivo do ilícito

- Se tiverem preenchidos todos os elementos objetivos vamos verificar se também estão


preenchidos os elementos subjetivos. Caso falte algum dos primeiros não verificamos sequer
se existem os segundos.

O tipo subjetivo é outra forma de imputar o facto ao agente, ou seja, ver se podemos imputar
o facto e aquele resultado produzido ao agente do ponto de vista subjetivo, isto é, agora
vamos levar em consideração o que liga.

Nota: ver artigo 13º CP artigo 71º CP

Crimes dolosos

Dolo do tipo- consiste do conhecimento e na vontade de realização do tipo objetivo, ou seja, o


agente conhece os elementos constitutivos do tipo legal e tem vontade de os realizar.

Constituído por dois elementos:


- Elemento intelectual - Tem a ver com a representação do agente, com o seu
conhecimento, sobre o facto que está previsto na lei e o facto que vai ser praticado.

- Elemento volitivo - Compreende a vontade do agente. Momento em que o agente põe a


sua vontade em prática e decide realizar aquele facto, não obstante saber que aquele
comportamento é ilícito.

 Artigo 14º CP- refere-se às modalidades/graus/formas do dolo do tipo.


Este artigo estabelece 4 formas do tipo do dolo:
- Nº1- dolo direto;
- Nº2- dolo necessário;
- Nº3- dolo eventual;
- Dolo da culpa - Relaciona-se com a atitude interna do agente, ou seja, consiste num
sentimento de contrariedade face ao dever ser jurídico-penal.
Exemplo: Pessoa que se está “nas tintas” para o que o CP diz.

NOTA: Estes dois dolos podem existir simultaneamente, mas há situações em que pode não
haver dolo da culpa e haver dolo do tipo. Mas se houver dolo da culpa tem que haver dolo do
tipo.

Crimes negligentes

Artigo 16º CP - Erro sobre a factualidade típica - erro que recai sobre os elementos
constitutivos do tipo legal.

Elementos descritivos- elementos de facto:

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- Estamos perante elementos descritivos sempre que a norma incriminadora utiliza uma
terminologia no sentido de que qualquer ser humano conseguir perceber o alcance daquele
elemento. Trata-se de elementos que são percetíveis através da própria regra de experiência
comum, ou seja, perceber aquele elemento não é preciso recorrer-se a nenhuma área de
conhecimento especializado, qualquer pessoa tem uma ideia do que consiste em aquele
elemento descritivo.

Elementos normativos- elementos de direito:

- Os conceitos estão nas normas, ou noutras áreas de direito (como por exemplo o crime de
aborto).
São conceitos que formam elementos constitutivos dos tipos incriminadores, mas que pela sua
natureza são elementos normativos e não descritivos, porque para verificarmos o seu
preenchimento necessitamos de recorrer a outras áreas de conhecimento que não só o direito
penal.
Exemplo: artigo 278º-A CP.

Isto pode gerar um problema uma vez que:

Professor Figueiredo Dias - Entende que nós temos que exigir às pessoas o conhecimento leigo
da mateira (ou seja ter uma ideia das coisas).

 Artigo 16º CP- Erro sobre a factualidade típica

- Nº1 - Quando é que o agente atua em erro?


Quando desconhece uma realidade que existe ou quando pressupõe uma realidade que não
existe.
Como só podemos punir as pessoas se atuarem com dolo e para tal, têm que atuar com dolo
do tipo, isto significa que o agente quando erra sobre o erro constitutivo significa que no que
diz respeito ao dolo do tipo se ele desconhece o elemento ou pressupõe uma realidade que
não existe, a sua representação não coincide com aquilo que a norma previu. Logo ele não
realizou mentalmente aquele ato ilícito.

- Artigo 171º CP
Exemplo: A está acusado da prática deste crime.
- Elementos objetivos: pratica sexual; menor de 14 anos
- Elementos subjetivos do tipo incriminador: dolo do tipo - este tipo legal pressupõe
que o agente saiba que este comportamento é ilícito.
Vem mais tarde provar-se que o agente estava convencido que a vítima já tinha mais de 16
anos de idade. Se se prova o agente pressupôs uma realidade que não existe no tipo legal.
O tipo subjetivo não está preenchido porque ele não queria praticar o ato com um menor, mas
sim com alguém com 16 anos. O agente atuou em erro.
Estamos perante um erro sobre a factualidade típica.
O dolo não chegou sequer a formar-se, portanto o agente não atuou com dolo.

- O artigo 13º CP diz-se que só se pune as atitudes dolosas, logo não o podemos punir.
Não há responsabilidade criminal.
Não se tendo formado o dolo o artigo 13º CP diz que podemos punir a culpa por negligencia
nos casos previstos na lei. Logo aplicamos o 16º nº3 CP que diz que “fica ressalvada a

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punibilidade da negligencia nos termos gerais”  Significa estar previsto na lei e comprovar-se
que o agente atuou com essa forma de culpa.

- O crime de abuso sexual por negligencia não está regulado, logo não se pode aplicar
esse tipo legal.

- Ver artigo 16º nº1 CP


- Artigo 17º CP- Erro sobre a ilicitude- Elemento emocional que está ligado à
consciência da ilicitude do facto que se pratica. Esta consciência da ilicitude é exigível a todos
os elementos da sociedade, porque se trata de uma conduta que pela sua própria natureza e
pelo bem jurídico que protege de algo que nos é incutido como valores.

NOTA: Ver artigo 190º CP

- Artigo 16º nº1 2ª parte – inclui normas contraordenacional, de caracter abstrato, normas
de direito penal secundário

Formas de erro

- Dolus Genéralis - Estamos perante uma situação deste tipo quando o agente erra
sobre qual dos diversos atos numa conexão da sua ação produz o resultado verificado. Ou seja,
nas situações o agente pratica mais que um ato e normalmente sito acontece quando o agente
pratica um facto e depois pratica um facto subsequente com o objetivo de encobrir o que fez
anteriormente.
Exemplo: A quer matar B e para isso dá-lhe uma pancada. B fica inanimado e A pensa que está
morto. Assim pensando que o B está morto vai encobrir o crime e então coloca-lhe uma corda
ao pescoço e escreve uma carta para simular o suicídio, no relatório de perícia chega-se à
conclusão que o que levou à morte não foi a pancada que A deu a B, mas sim morte por
estrangulamento.
A doutrina, relativamente a esta situação divide-se quanto às posições:

1 - Há uma parte da doutrina que diz que A deve ser punido pelo crime doloso tentado, ou
seja, é punido pelo crime doloso que pretendia praticar mais o crime consumado por
negligencia.
2- Outra posição revela que, neste caso não obstante o agente ter errado sobre qual dos
seus atos nesta conexão de comportamentos, é que A é que foi o indutor do resultado
verificado, o agente deve ser sancionado pelo crime doloso consumado. (posição minoritária)

- Aberratio Ictus (erro na execução) - tentativa mais crime consumado negligente. Verifica-
se sempre que o agente na execução do crime erra, ou seja, o agente pretende atingir um
determinado objeto e por falta de destreza ou por motivos próprios acaba por executar mal o
crime e, portanto, quer atingir um objeto e acerta noutro. Existe uma divergência entre o crime
projetado e o crime concretizado.
Exemplo: C quer atingir A e atinge B. O crime projetado era atingir o A, mas o crime que se
verificou foi o que atingiu B.

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- Error impersona objeto (erro sobre o objeto do crime ou sobre a pessoa quando
esta é o objeto do crime) - Objeto do crime: aquilo ou aquela pessoa sobre qual recaí a
atividade criminosa. O agente atinge um objeto distinto daquele que pretende. O que distingui
este tipo do anterior é que estamos perante um erro de representação, ou seja, um erro na
formação da vontade. Isto significa que o agente pensa que o A é o A, mas afinal é o irmão
gémeo dele, o B.
O agente está convencido que está a atingir um objeto que pretende e afinal atinge outro. Não
existe erro na execução, esta é bem feita.

Soluções:
- Identidade típica  crime consulado doloso: A primeira coisa que temos que fazer é
verificar se existe ou não identidade.

Quando há identidade típica?


Quando o crime que o agente projetou praticar é o mesmo tipo legal que acaba por preencher.
Se existir vai ser sancionado pelo crime consumado doloso.

- Não existência de identidade típica  Típica + crime consumado negligente típica.

Exemplo: A queria furtar B numa peça que achava ter grande valor. Consegue e vem a
descobrir que a peça, na verdade, não tem valor nenhum. O tipo legal não é o mesmo, artigo
204º era o que A pretendia e artigo 203º foi o que ele fez.
No entanto, como no caso concreto A não queria aquele furto, logo não existe dolo do tipo.
Este existia se A tivesse feito um facto doloso (fez porque furtou) e consumado (não aconteceu
porque não era furto simples que ele queria, mas sim furto qualificado). Então vamos punir A
por crime doloso na forma tentada + furto qualificado. Artigo 204º + 22º + 23º CP.
O consumado negligente não existe no direito penal, é uma conduta atípica.

Exemplo: Se o A quisesse atingir B que é pai adotivo. B tem um gêmeo C, confunde B


com C e mata C. Temos aqui um erro sobre a pessoa. A queria praticar um homicídio
qualificado (artigo 132º CP), mas praticou um homicídio simples (artigo 131º CPC) - logo não há
identidade típica, vai ser punido por tentativa de homicídio qualificado com o artigo 22º e 23º
CP + crime consumado na forma negligente artigo 137º CP.

- Elementos especiais subjetivos dos tipos incriminadores

Artigo 203º CP - Temos que perguntar sempre qual é a conduta proibida? Subtrair coisa alheia,
então o dolo para se formar, o agente tem que subtrair uma coisa a outra com a intenção de
subtrair.
Exemplo: Podemos ter duas carteiras iguais e eu levar uma pensando que é a minha. Não
tinha intenção. Logo não se enquadrava.

o Impulsos
o Especiais intenções
o Motivações do agente

Aula Direito Penal (Prática) 06/04/2022

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Continuação dos casos práticos imputação do


resultado à conduta

6) No âmbito de uma cirurgia, A, o anestesista de serviço, engana-se na dosagem do produto


anestésico, vindo o paciente B a morrer. Analisado o relatório da autópsia, prova-se que a
morte de B ocorreria igualmente caso a anestesia tivesse sido corretamente efetuada. Na
verdade, em virtude de uma raríssima enfermidade congénita — desconhecida até do próprio
B — a mais ínfima quantidade de anestésico era absolutamente incompatível com o organismo
de B. Deve ou não se imputar o resultado morte de B à conduta de A? Justifique.
Resolução:
Olhando para o caso pela primeira teoria temos imputação do resultado à conduta, porque se
ele não tivesse trocado aquela dose de anestesia a pessoa não teria morrido, portanto, temos
um nexo causal, assim há imputação do resultado à conduta. Pela segundo teoria, é normal e
previsível segundo as regras da experiência comum, que de uma troca de anestesia possa
resultar a morte de uma pessoa, então há também imputação do resultado à conduta. Quando
chegamos à 3ª teoria também parece que está tudo verificado, porque embora, não tenhamos
propriamente a criação de um risco, temos a potenciação do risco, porque trocar a anestesia
aumenta substancialmente o risco para a pessoa que está a ser operada, é um risco não
permitido, é um risco pro bem jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma, porque a
norma que estamos a analisar, é a norma do homicídio, e trocar a anestesia é perigoso para o
bem jurídico vida, que é o bem jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma e, foi esse
risco que se materializou num resultado típico. Porém, este é um caso de comportamento lícito
alternativo, assim embora estejam cumpridos todos os requisitos para a imputação pelas 3
teorias, nós não vamos fazer a imputação, porque no momento em que o juiz está a apreciar o
caso, ele já tem conhecimento que se invés de o agente ter feito uma coisa ilícita (trocar a
anestesia), o agente tivesse feito tudo conforme o direito esperava que ele fizesse (tivesse
dado a anestesia certa), ainda assim o resultado teria sido exatamente o mesmo,
desencadeado pelo próprio agente, era a ação do mesmo agente, na mesma circunstância que,
quer sendo ilícita, quer sendo licita, desencadearia sempre o mesmo resultado, a morte da
pessoa. Então diz-se que se o próprio direito não consegue acautelar o bem-jurídico, não é
justo que seja o agente, individual, a arcar com essa responsabilidade sozinho. Isto não
significa que ela não tenha responsabilidade disciplinar, civil, agora do ponto de vista penal,
não parece adequado, na medida em que o próprio bem jurídico, uma vez que fazendo tudo
aquilo que o direito penal queria que ele fizesse a pessoa morreria na mesma e, portanto, não
parece justo que ele receba esse juízo de censura, o juízo de censura em primeiro lugar, tem de
ser dirigido ao direito que não acautela todas as situações que podem ser desencadear aquele
resultado e, portanto, não há imputação do resultado à conduta.

7) A disparou um tiro certeiro, no coração, sobre B quando este se preparava para embarcar
num cruzeiro transatlântico. O navio em que B teria viajado sofreu um naufrágio, não tendo
havido qualquer sobrevivente. B teria, pois, morrido, mesmo que A não o tivesse matado.
Poderá a morte de B imputar-se à conduta de A? Justifique.
Resolução:

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Pela primeira teoria há imputação, porque se ele não lhe tivesse dado o tiro, ele não teria
morrido na sequência de um tiro, portanto, é um ato de omissão sem o qual aquele resultado
não se teria produzido. Pela 2ª teoria também há imputação, porque é normal e previsível
segundo as regras da experiência comum que um tiro no coração desencadeie o resultado
morte numa pessoa e pela 3ª teoria também há imputação, ele criou um risco, não permitido
pelo bem jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma e, que se materializou no
resultado morte. Pela lógica diríamos neste caso há imputação do resultado à conduta, porém
poderia haver o argumento de também aqui o juiz no momento em que está a julgar já sabe
que mesmo que não tivesse matado, a pessoa morria na mesma, então porque é que isto é
diferente do caso anterior. Porque se nos casos de causalidade virtual (este é o caso) nós não
fizermos a imputação do resultado à conduta, nós nunca podemos punir ninguém por
homicídio, porque se mata uma pessoa, iria-se poder utilizar sempre o argumento “a morte é
certa”, e isto é intolerável, então a diferença entre um caso e outro, é que no comportamento
licito alternativo o resultado sempre ocorreria na sequencia da ação do próprio agente, era
mesmo que ele fizesse tudo certo não conseguiria alterar aquela situação, são as chamadas
vidas marcadas pelo destino, sempre que aquele agente interviesse naquela situação fosse
licita, fosse ilícita, o resultado seria produzido. No caso de causalidade virtual, o resultado
também se produziria, mas por um evento estranho, externo ao agente, que não está ligado à
conduta do agente, portanto, ele não se pode aproveitar dela, não se pode aproveitar de um
evento externo a ele para se desonerar da responsabilidade que a sua conduta provocou. Aqui
é feita a imputação.

8) A provoca um acidente de viação em que B, condutor do outro veículo, fratura uma perna.
Transportado para o hospital, B é submetido a uma intervenção cirúrgica. Por lapso do
anestesiologista C ocorreu uma troca na anestesia o que provocou a morte de B. Poderá o
resultado morte de B ser imputado à conduta de A? E à conduta de C, sendo certo que logo a
seguir à operação deflagrou um incêndio na enfermaria para onde B seria levado se a
intervenção cirúrgica tivesse sido bem sucedida, incêndio esse que provocou a morte de todos
os pacientes que lá se encontravam? Justifique.
Resolução:
Quanto ao A:
Pela primeira teoria, porque sem o acidente B não teria ido para o hospital e,
consequentemente o anestesiologista não teria trocado a anestesia que provocou a morte a B,
aqui há nexo causal uma vez que é uma condição sem a qual o resultado não se produziria.
Pela segunda teoria, temos um caso em que é normal e previsível que de um acidente de que
resultou uma fratura da perna, a pessoa seja transportada para o hospital, tudo isto é normal e
previsível segundo as regras da experiência comum, a única coisa que passa a ser anormal é
trocar a anestesia no hospital, então existe interrupção do nexo causal, quando existe uma
coisa anormal e a coisa anormal é trocar a anestesia na operação, portanto, temos uma
interrupção do nexo causal provocada pelo participação de um terceiro C, assim, não podemos
imputar o resultado morte à conduta do A, mas pode imputar tudo o que se tiver produzido
até ao momento da intervenção de C, e o que se produziu foi ofensas à integridade física,
sendo esse o resultado que vamos imputar a A.
Quanto ao C:

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Pela primeira teoria, podemos imputar o resultado morte, uma vez que se ele não tivesse
trocado a anestesia a pessoa não teria morrido. Quanto à segunda teoria, é normal e previsível
segundo as regras da experiência comum, que de uma troca de anestesia resulte a morte e
uma pessoa, entre ele e a verificação do resultado também não se verificou nenhuma
interrupção. Pela terceira teoria, C potenciou o risco, um risco não permitido, para o bem
jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma o caso da anestesia, o bem jurídico
lesado é a vida e a norma que protege a vida é o homicídio, e foi esse risco aquilo que se
materializou num resultado típico, há imputação do resultado. Porém, caso não tivesse
morrido da anestesia, teria morrido do incendio, temos aqui um caso de causalidade habitual,
no caso, a causalidade habitual não afasta a imputação.
Erro
- No tipo subjetivo de ilícito, vamos estudar tipo de subjetivo doloso por ação. Neste temos 2
manifestações.
- O dolo na sua globalidade é composto por 3 elementos:
1) Elemento intelectual – Aqui a pessoa sabia ou temos o erro ou a pessoa não sabia
ou entre aquilo que planeia e aquilo que concretiza há variações.
2) Elemento volitivo – Conhecimento que se está a fazer uma coisa proibida

Erro sobre a factualidade típica propriamente dita

Aqui o agente não queria fazer nada proibido, por exemplo, A vai à caça com uma arma legal
num sítio onde pode caçar, quando vê um volto a passar, achava que era um javali, quando na
realidade era uma pessoa, aqui o erro sobre a factualidade típica propriamente dita, exclui o
dolo (artigo 16 1ª parte CP).

Há 2 condições para a aplicação do nº3 do artigo 16º:


- O crime estar previsto na negligência;
- O crime ter sido praticado por negligência.

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ERRO DE CONHECIMENTO QUE EXCLUI O DOLO DA CULPA (ARTIGO 16.º/2):

Erro sobre os pressupostos de uma causa de justificação ou de uma causa de exculpação

ERROS DE VALORAÇÃO QUE EXCLUEM A CULPA (ARTIGO 17.º):

- Erro sobre a ilicitude;

- Erro sobre a existência ou os limites de uma causa de justificação;

- Erro sobre a existência ou os limites do dever de garante (na omissão impura).

NOTA: Tanto a tabela acima, como estes últimos 2 pontos foram copiados do moodle.

4 tipos especiais de erro

1) Erro na formação da vontade – Este é o chamado erro sobre a pessoa ou objeto. O que
carateriza este erro é agente já estar em erro antes de praticar o facto. Exemplo: O agente A
quer matar B e olha numa determinada direção, vê uma pessoa de costas num sítio onde é
normal estar o B e convence-se que a pessoa que lá está é o B, e só porque ele nesse momento
já está convencido de que é o B é que ele dispara. Entretanto, apercebesse que não é o B é o C.
Portanto, este trata-se de um erro sobre a pessoa ou objeto, mas é um erro em que a pessoa já
está em erro no momento em que decide praticar o facto.

Nestes casos de erro na formação da vontade temos de distinguir, ou existe identidade típica,
ou seja, o tipo legal de crime projetado é igual ao tipo legal de crime efetivamente consumado,
isto é, ele projetou cometer um homicídio e houve um homicídio, ou por outro lado pode, não
existir identidade típica, assim ele projetou cometer um determinado facto e acabou por
cometer outro, por exemplo, projetou cometer um homicídio simples e cometeu um homicídio
qualificado. Assim, quando o facto se subsume ao mesmo tipo legal de crime, o erro é
irrelevante ao direito e o agente é punido pelo crime doloso consumado. Se não existir
identidade de típica, então o crime será punido por tentativa quanto ao crime pretendido e por
negligencia quanto ao crime efetivamente consumado (Tentativa + negligência).

2) Erro na execução - Aqui o agente quando forma a sua vontade não está em erro.
Exemplo: A quer matar o B, o B é que está à sua frente, só que aqui o agente por uma falta de
habilidade, por uma inoperância física, técnica, acaba por matar C, que ia a passar perto de B.

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Neste caso, o erro é no momento em que executa o facto, ele não tem habilidade para
executar o facto como projetou. Atualmente, nesta circunstância, diz-nos o Dr. Figueiredo Dias,
que não é preciso nós vermos se existe identidade típica ou não, nos casos de erro na execução
o agente é sempre punido por concurso, ou seja, tentativa para o tipo legal de crime projetado
+ negligência para o tipo legal de crime efetivamente consumado .

3) Erro sobre o processo causal – Aqui o agente quer praticar o facto, pratica exatamente o
facto que quer, mas não da maneira que idealizou. Exemplo: A quer matar B e mata B, só que
quer matar B lançando-o de um penhasco e afinal B morre do susto de ser atirado do
penhasco. Exemplo: A quer matar B afogado, e lança-o de uma ponte, só que prova o resultado
de uma autópsia quando B é encontrado que quando B caiu na água já estava morto porque
bateu com a cabeça num pilar ao ser atirado da ponte. Nestes casos, aqui importa distinguir
entre crimes de execução livre e crimes de execução vinculada, este erro vai ser um erro que
normalmente nos vai aparecer na execução livre, quando se trata de um crime de execução
livre, aqui o processo causal não releva para ser punido, o erro sobre o processo causal é
também irrelevante (que é o que carateriza o crime de execução livre), porque o que interessa
é se o agente atingiu o resultado, assim, o agente é punido pelo crime doloso consumado. Se
invés disso, estivemos por exemplo perante um crime de burla, que é um crime de execução
vinculada, o erro já vai ser relevante (nunca fazemos casos práticos disso porque é bastante
complexo).

4) Dolus generalis - Este é o único erro em que o agente tem de praticar 2 ações em todas as
outras o agente só pratica 1 ação. O que acontece aqui é que o agente pratica uma primeira
ação e convencido de que aquela produziu o resultado que pretendia, pratica uma segunda
ação de encobrimento de resultado da primeira, só que vem a provar-se que, o resultado que
ele pretendia atingir só foi alcançado pela segunda ação. Exemplo: A dispara sobre B,
convencesse que B está morto e abre uma cova para enterrar B para ocultar o cadáver e vem a
provar-se quando se encontra B, que B morreu por asfixia porque foi enterrado vivo, ou seja,
ele atinge o resultado que pretende, mas não na primeira ação a 2ª ação acaba por não ser
uma ação de encobrimento, porque ainda não havia resultado para encobrir. Estes casos
iremos julgamos, se o desvalor da primeira ação, juntamente com o desvalor de resultado da 2ª
ação coincidirem, ele queria matar uma pessoa (1ª ação) e ele conseguiu matar essa pessoa (2ª
ação), nós vamos punir o agente pelo crime doloso consumado, ou seja, se o desvalor de
resultado da 2ª ação se puder reconduzir ao desvalor da ação da primeira ação, o erro é
irrelevante e o agente é punido pelo crime doloso consumado.

Casos práticos
Erro

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1) A decide matar B. Sabendo que este se desloca habitualmente num Nissan encarnado, com
a matrícula X, espera-o logo de manhã, à saída da garagem de sua casa.
A) Ao ver o carro, A dispara, como previsto, sobre o condutor. Horrorizado, descobre
que acabou de atingir gravemente C, filho de B, que ia ao volante naquele dia e que, na
sequência da ação de A, morreu. Quid Iuris?
Resolução:
Erro na formação da vontade, uma vez que A convenceu-se que era B que iria ao volante
daquele carro. Neste caso existe identidade típica, uma vez que há coincidência entre o tipo
legal de crime projetado (homicídio) e o crime legal efetivamente consumado (homicídio), só
muda a pessoa, assim A é punido por homicídio doloso consumado, uma vez que é irrelevante
para o direito se foi o pai ou o filho que morreu.

B) E se C, afinal, não tendo morrido, ficou tetraplégico? Quid Iuris?


Resolução:
Aqui estamos perante erro na formação da vontade, aqui não existe identidade típica, uma vez
que ele queria matar e acabou por fazer com que C ficasse tetraplégico, ou seja, ele queria
praticar um crime de homicídio e acabou por praticar um crime de ofensas à integridade física
qualificada, não existe coincidência entre o tipo legal de crime projetado e o crime consumado,
portanto o agente vai ser punido, pela tentativa de homicídio (artigo 131º + artigo 23º CP) + às
ofensas integridades físicas negligentes (artigo 148ºCP).
C) Imagine agora que B ia efetivamente ao volante, mas que o tiro de A lhe saiu pouco
certeiro. O atingido não foi B, mas sim D, mulher de B, que ia sentada a seu lado. Quid Iuris?
Resolução:
Neste caso temos um erro na execução, aqui a identidade típica não interessa, por isso ele é
sempre punido por concurso de crimes, ou seja, tentativa de homicídio do B + homicídio
negligente de D.
D) Pense agora que o erro de pontaria de A teve como consequência, não a morte, mas
ferimentos graves em D?
Resolução:
Neste caso está em causa novamente um erro na execução, porque novamente não interessa
se ela morreu ou ficou com ferimentos graves, ele é sempre punido pelo crime projetado mais
o crime consumado, aqui é punido por tentativa de homicídio de B + ofensas à integridade
física negligentes de D.
E) E, por último, Quid Iuris se a bala pouco certeira de A destruiu apenas um valioso
quadro que B levava dentro do carro?
Resolução:
Aqui temos um erro na execução, portanto será sempre punido por tentativa para o crime que
pretendia cometer, que era o homicídio e, por crime de dano a título de negligência, ora,
sucede que o dano não é punível a título negligente, portanto, neste caso, só será punido pela
forma tentada quanto ao crime que projetou, portanto, só para o homicídio, para o dano em
direito penal não tem consequência, poderá o ter a níveis civis (indemnização por danos
patrimoniais), mas isso aqui “não nos interessa”.

Direito Penal (aula prática) 20/04/2022


Erro – Casos Práticos –

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Continuação
2) Durante uma Festa de Carnaval em que está fantasiado de polícia, Duarte dispara sobre o pé
de Eduardo, seu amigo, convicto de que a arma que trazia consigo estava descarregada. A arma
usada por Duarte pertence ao seu pai, que é efetivamente polícia, mas que, estando de folga,
se encontrava a dormir quando o filho se fantasiou e saiu de casa. A intenção de Duarte era
somente tornar a sua fantasia mais realista, mas a verdade é que a arma estava carregada e a
bala atingiu o pé de Eduardo, que teve de ser operado e ficou sem poder andar durante vários
meses. Quid Iuris? Justifique a sua resposta legal e doutrinalmente.

Resolução:
No caso concreto está em causa erro sobre a factualidade típica propriamente dita, uma vez
que que a intenção de Duarte era apenas tornar a sua fantasia mais realista, portanto, não
tinha qualquer intenção de prática do facto típico ilícito, mas acabou por praticar um facto
típico ilícito, que foram as ofensas à integridade física. Assim, exclui-se o dolo e no caso pune-
se por negligência, porque há desde logo a violação de um dever de cuidado, porque o pai era
polícia, tinha acabado de chegar com aquela arma e, portanto, não tomou qualquer diligência
para aferir se a arma estava carregada ou não, por isso, no caso há violação do dever de
cuidado, assim seria punido por negligência, outra condição para o crime ser punido por
negligência é que esteja na lei, no caso, encontra-se no artigo 148º CP. Assim no caso concreto
Duarte seria punido a pôr ofensas à integridade física a título negligente, conforme artigo 148º
CP.

3) Certa noite, Carlos e Daniel fazem uma espera a Eduardo à saída de um bar para lhe darem
uma “lição”, vingando-se assim de Eduardo ter posto a circular certas histórias falsas sobre
eles. Quando a vítima sai do bar, Carlos enfia-lhe um saco de pano preto na cabeça e ambos o
agridem violentamente com socos e pontapés, preenchendo dessa forma o tipo objetivo do
crime previsto no artigo 144.º do CP. Porém, ao retirarem o saco da cabeça da vítima, Carlos e
Daniel apercebem-se de que se trata de alguém, que não conhecem, com uma estatura e
aspeto semelhantes aos de Eduardo. Pronuncie-se sobre a responsabilidade criminal de Carlos
e Daniel, mobilizando os elementos legais e doutrinais necessários.
Resolução:
No caso concreto está em causa erro na formação da vontade, uma vez que no momento em
que colocam o saco na cabeça da pessoa já se encontram em erro, eles só iniciam a execução
do facto, porque estão convencidos de que se trata de Eduardo e na realidade não é, u que se
assim, tivessem percebido que não se tratava de Eduardo nem teriam colocado o saco na
cabeça. Está em causa erro na formação da vontade consubstanciado na ideia do erro sobre a
pessoa. O tipo legal de crime projetado foi ofensa à integridade física grave (aqui a professora
também aceitava que se colocasse ofensa à integridade física simples), o tipo legal de crime
efetivamente praticado foi ofensa à integridade física grave, ora consoante se entenda que “dar
uma lição” se subsume à ideia de ofensa à integridade física grave ou ofensa à integridade
simples, teremos identidade típica do objeto ou não identidade típica do objeto. Se
considerarmos que existe identidade típica do objeto o agente será punido por ofensa à
integridade física grave, dolosa, consumada. Se por outro lado chegarmos à conclusão que “dar
uma lição” era uma ofensa à integridade física simples, temos tentativa para a ofensa à
integridade simples, mais negligencia para a ofensa à integridade física grave.

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4) B arremessa um pedaço de madeira contra o carro de C, com intenção de lhe danificar a


pintura. O «projétil» falhou, contudo, o seu alvo e atingiu, não o carro, mas uma criança que
passava por ali, ferindo-a gravemente na cabeça. Pronuncie-se, fundamentadamente, sobre a
responsabilidade penal de B.
Resolução:
No caso concreto está em causa um erro na execução, uma vez que atinge um objeto diferente,
mas, não porque esteja em erro quando está a lançar o projétil, mas sim por uma falta de
habilidade para atingir aquele que é o objetivo dele. Assim iremos punir pelo crime de dano na
forma tentada e o tipo legal de crime consumado é ofensa à integridade física negligente. A
tentativa de dano é punida nos termos do artigo 212º nº2 CP + artigo 23º CP, para a ofensa à
integridade física a título negligente há aplicação do artigo 148º CP.

5) A, inimigo de B, pretende acabar com a vida deste.


a) A dispara sobre B. Convicto de que o tinha morto, resolveu depois desfazer-se do
cadáver, atirando-o de uma ravina. Sabendo que o resultado da autópsia veio a revelar que a
morte de B ficou a dever-se, não ao disparo de A, mas a pluritraumatismos provocados pela
queda da ravina, diga qual a responsabilidade penal de A pela morte de B.
Resolução:
No caso concreto está em causa dolo generalis, porque estão em causa 2 ações, a 1ª ação é
disparar, a 2ª ação é atirar da ravina, assim neste caso, o desvalor da ação da primeira ação era
para o tipo legal de crime homicídio (disparou para matar) e o desvalor de resultado atingido
pela 2ª ação é de homicídio (a pessoa morreu), como confluem no mesmo tipo legal de crime,
vamos punir o agente por homicídio doloso consumado, artigo 131º CP.

b) Suponha agora que A decidiu encenar um acidente a propósito da morte de B, aliciando-o


para perto da ravina e atirando-o daí, com o intuito de, matando-o com os traumatismos
provocados pela queda, fazer crer que B, um amante de fotografia, pudesse ter caído durante
uma das suas caminhadas para fotografar. E suponha ainda que, encontrado o corpo de B,
resulta da autópsia que a sua morte ficou a dever-se a um enfarte do miocárdio, certamente
desencadeado por uma situação extrema de tensão. Quid Iuris?
Resolução:
No caso concreto está em causa erro sobre o processo causal, neste temos uma só ação, o
resultado exato que o agente pretendia atingir atingiu, só que a forma como alcança esse
resultado nesse sujeito não é aquela que ele previu. O tipo legal de crime que projetou
cometer foi o crime de homicídio, o tipo legal de crime é que efetivamente praticou foi
também o homicídio. O homicídio é um crime de execução livre, ou seja, não interessa a forma
como mata a pessoa, portanto, se “não interessa o processo”, é irrelevante, o erro do processo
causal também é irrelevante, ser irrelevante quer dizer que o erro não vai produzir o efeito que
normalmente os erros produzem, assim não se exclui o dolo, se não se exclui o dolo o agente é
punido pelo crime doloso consumado.

Nota: Referimo-nos sempre até agora, nestes casos práticos, ao dolo do tipo, ou seja, tem
haver com o elemento intelectual do dolo.
De notar ainda que nem todos os crimes são punidos a título de negligência.

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Aula direito penal (Prática) 27/04/2022

Matéria de exame: - Impugnação do resultado à conduta;


- Erro;
- Causa de justificação.
Elemento Volitivo – Serve para distinguir 3 tipos de dolo (artigo 14º CP):
1) Dolo intencional (ou dolo direto de 1º grau) – Este diz respeito às situações em
que a prática é o fim de si mesmo, artigo 14º nº1 CP.
2) Dolo necessário – É a consequência inevitável da sua conduta. Exemplo: A quer
vingar-se de B e incendia a casa de B onde está uma pessoa acamada que morre.
Aqui temos dolo intencional relativamente ao dano e dolo necessário
relativamente à morte. Exemplo: A descobre umas mensagens da mulher com B
que está grávida, este decide espancá-la e na sequência da agressão sofre um
aborto. Aqui temos dolo intencional relativamente à violência doméstica e dolo
necessário quanto ao aborto.
- O problema coloca-se quando deixamos de ter uma intenção e passa a haver uma
conformação com o facto.
3) Dolo eventual (artigo 14º nº3) – No código penal temos hoje a teoria da
conformação, sendo esta um melhoramento da teoria da dupla negativa, onde o agente atua
conformando-se com o resultado. Dentro da teoria da conformação, o professor Figueiredo
Dias diz que não pode ser critério isolado, ou seja, devemos interpretá-lo junto com a ideia de
qual o interesse o agente considerou mais importante, se por um lado privilegiou ou seus
interesses, aqui haverá lugar a dolo eventual (artigo 14º nº3), ou se por outro lado privilegiou
os interesses do ordenamento jurídico, aqui já teríamos negligência consciente (artigo 15º
alínea a)). De notar que estes dois interesses partilham o elemento intelectual, distinguindo-se
no elemento volitivo, uma vez que a negligência nunca tem a dimensão de vontade. Exemplo:
Certa coisa não se vai verificar, mas se se verificar “aconteceu”.
Negligência consciente – Não comporta nunca o elemento intencional. As negligências que se
encontram previstas no CP, são a negligência consciente e a negligência inconsciente.
Negligência grosseira – Artigos 137º nº2 CP; artigo 156º nº3; artigo 274º nº5; artigo 371º e
369º nº5.
Requisitos da negligência (artigo 15º CP):
-Violação de um dever objetivo de cuidado;
-Existência da previsão ou previsibilidade da produção de um resultado não querido pelo
agente que veio a consumar-se.
Dolo Eventual VS Negligência consciente

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Casos práticos moodle


1 – Primeiro aspeto, nunca pode ser negligência inconsciente, porque o próprio sumário do
acórdão dá como provado que o adepto previu onde é que iria cair o Very Light. Podemos falar
de negligência grosseira/consciente relativamente ao facto de um primeiro Very Light
descreveu um ato, caiu fora do estádio, portanto, criou nele uma confiança maior de que ele
seria capaz de novamente o Very light descrevesse um arco que caísse fora do estádio. Só que
as circunstâncias em que atira o Very light são diferentes e, mesmo no caso do primeiro Very
light caiu fora do estado, mas podia cair em cima do carro, de uma pessoa, de um animal, o
agente quando está a cometer estes factos, ele tem de representar a realização de um facto
típico e, portanto, realiza como possível, ainda que remota, a possibilidade de atingir alguma
coisa, só que será negligência se o agente disser “não de certeza que não vou atingir nada, vou
ser capaz de não atingir nada disso”, dolo eventual por outro lado é dizer “eu represento isto
como possível, em princípio não vai acontecer, mas se acontecer, paciência”. Aqui é muito útil o
critério do professor Figueiredo Dias, sobre o que é que se sobrepôs, a sua vontade de manter
a realização de um facto, ou a sua vontade de diligência de proteção dos interesses da
comunidade, no caso, foi a sua vontade de manter a realização de um facto, sendo isso que
levou o MP à acusação por dolo eventual. Para professora neste caso, seria difícil afastar o dolo
eventual.
2 – Este é um caso em que não existe o tipo legal de crime a título negligente. Este caso tem
duas nuances que indiciam qual seria o sentido da resposta, primeiro, só estamos a perguntar
sobre o Gonçalo, não perguntamos por outras pessoas, só perguntamos de uma pessoa que
suspeitava que o carro era furtado, insistiu na venda porque queria receber uma comissão.
Segunda nuance temos aqui os artigos no caso prático, mas que não existe burla negligente. E,
portanto, de acordo com o artigo 13º só posso punir o agente a título negligente quando ele
estiver previsto em parte especial do código ou em legislação avulsa, neste caso, se optar por
dolo eventual tem um enquadramento legal, se optar por negligência consciente não temos
enquadramento legal, então temos de absolver o agente.
Os elementos que podemos mobilizar no caso para ser dolo, é que ele suspeitava, mas,
conformou-se com a produção do resultado, ele não foi averiguar porque tinha tanto interesse
em receber a comissão e optou por ignorar, fazer de conta que não estava a ver essa situação,
ou seja, valorizou o seu interesse em detrimento da proteção diligente dos interesses de
terceiro, neste caso, os interesses da pessoa que estava para adquirir o carro. Assim, em
termos de elemento intelectual não havia problema, porque quer fosse negligência consciente,
quer fosse dolo eventual, ele estava verificado, uma vez que representação existia. Parece que
os indícios nos levam para ser um dolo eventual.

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Esquema causas de justificação (Matéria certa de exame)


Cu
lp
Neste exato patamar ficam as causas de justificação
a
Tipo
Ilícito
Ação

Causas de justificação – Estas não afastam tudo, a tipicidade permanece, afasta a ilicitude.
Exemplo: Dizer que A matou B em legítima defesa é diferente de dizer que A matou uma
mosca (uma vez que esta não tem sequer relevo típico). A primeira ação não tem
consequências do ponto de vista jurídico penal, mas tem algum relevo, é um facto típico, pode
não desencadear uma ação, mas é um facto típico.

Desvalor da
Tipo ação
incriminador Desvalor do
resultado
Se o tipo justificador vai ter de afastar quer o desvalor da ação, quer o desvalor do resultado, as
dimensões que afastam isso:
- Elemento subjetivo da causa de justificação – Anula o desvalor da ação;
- Elemento objetivo da causa de justificação – Anula o desvalor do resultado.
O elemento subjetivo, é igual para todos as causas de justificação, este é o conhecimento por
parte do agente de que está a agir a coberto de uma causa de justificação, artigo 38º nº4 CP.
O elemento objetivo, cada causa de justificação tem os seus próprios elementos objetivos,
temos:
- A legitima defesa – requisito objetivo - artigo 32º;
- Estado de necessidade justificante – requisito objetivo – artigo 34º;
- Conflito de deveres – requisito objetivo – artigo 36º;
- Consentimento – requisito objetivo – artigo 38º;
- Consentimento presumido – requisito objetivo – artigo 39º;
- Exercício de um direito – requisito objetivo -artigo 31º.

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Estes últimos 6 artigo elencados anteriormente são os que vamos estudar de causas de
justificação.
O que é que acontece quando não estão reunidos os elementos todos?
- Se faltar o elemento subjetivo – A solução é do artigo 38º nº4;
- Quando faltar os elementos objetivos – Artigo 16º nº2 – Trata-se de um erro sobre os
pressupostos da causa de justificação.

Esquema das causas de justificação da professora (moodle)

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Aula Direito Penal II (Teórica) 09/05/2022


No que respeita ao elemento volitivo do dolo (artigo 14º), temo o dolo direto (artigo 14º nº1),
dolo necessário (artigo 14º nº2)e o dolo eventual (artigo 14º nº3).
Quanto ao dolo direto é a forma mais gravosa do dolo.
No que concerne ao dolo necessário, acontece aqui que este não é o objetivo principal do
agente, o agente sabe que para chegar aquele resultado que pretende irá ter que praticar um
ou vários factos criminosos que acabam por ser uma consequência necessária para atingir
aquela situação, é um evento lateral que este sabe que irá acontecer necessariamente.
Quanto ao dolo eventual, neste alguém pratica um crime e desse crime resulta uma
consequência que aconteceu, mas que poderia não ter acontecido. Neste tipo de dolo temos:
Representação + Conformação com a realização. Exemplo: A está a conduzir e vê um sinal
vermelho, mas o condutor, mesmo assim decide avançar, aqui o que acontece é que A
representa a possibilidade de atropelar alguém, mas este conforma-se com a verificação do
resultado.
De notar que, quanto mais descemos nestes patamares, menos gravoso é o dolo.
Assim no que concerne ao dolo, estabelece o artigo 71º a determinação da medida da pena.
Notar ainda que o artigo 13º CP, estabelece que só se punem as condutas dolosas e,
excecionalmente punem-se as condutas negligentes.
Quanto à negligência, podemos ter a negligência consciente (artigo 15º alínea a)e a
negligência inconsciente (artigo 15º alínea b).
Assim, para o direito penal, a negligência apenas tem relevância se estiver prevista. Desta
forma, um comportamento negligente, é um comportamento imprudente, artigo 15º CP,
resultando da violação de um dever geral de cuidado.
Na negligência consciente, temos como no dolo eventual, a consequência possível, porém aqui
o que acontece é que não se conforma com a sua realização. Daí dizer-se que a teoria que está
consagrada no nosso código penal para distinguir dolo eventual de negligência consciente é a
teoria da conformação.
Relativamente à negligência inconsciente, aqui não se chega sequer a representar a
possibilidade da realização do facto. Nesta podemos exigir ao agente que observasse o dever
de cuidado que não observou.
NOTA: Não sai mais nenhuma teoria além da teoria da conformação.
Causas de justificação
ou

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Causas excludentes da ilicitude


No código penal esta matéria começa no artigo 31º.
O artigo 31º nº1 consagra o princípio da unidade da ordem jurídica considerada na sua
totalidade. Para melhor entender este princípio, é necessário entender que o direito penal é
de caráter subsidiário, ou seja, este só intervém quando as outras ordens jurídicas não são
suficientes para proteger determinados bens jurídicos. Assim, tudo o que é ilícito para o direito
penal é-o também para todas as ordens jurídicas, por outro lado, o inverso não é verdade,
porque nem todos os ilícitos existentes nas outras ordens normativas são ilícitos penais. Um
ordenamento jurídico que se preze não pode conter em si contradições, ou seja, esta tem de
ser coerente e harmoniosa. No que respeita a esta questão, então ao nível da ilicitude é
importante saber como é que isto funciona. Assim, no âmbito das causas de justificação, não
funciona o princípio da legalidade na vertente da tipicidade, ou seja, as causas de justificação
não tem de estar previstas no código penal, mais ainda, há causas de justificação supralegais
(estão acima da lei e não estão previstas na lei), estas são causas defendidas pela
jurisprudência, pela doutrina ou por ambas. O nº3 do artigo 1º proíbe o recurso à analogia in
malum partem, mas esta já não é proibida de funcionar in bonem partem, de notar ainda que
quando se exclui a exclusão da ilicitude leva à não condenação do agente, ou seja, funciona em
seu benefício, ou seja, no âmbito das causas de justificação, é permitido o recurso à analogia in
bonem partem.
Elementos objetivos
Das causas de justificação
Requisitos que a lei enuncia para cada uma delas, assim tem de se verificar se estão
preenchidos os requisitos.
Elementos subjetivos
Das causas de justificação
Consiste em saber se para uma causa de justificação funcionar e transformar um facto ilícito
num facto lícito, para além da verificação do elemento objetivo é necessária a existência de
elementos subjetivos. As causas de justificação consistem no conhecimento dos direitos que a
causa de justificação confere a quem age ao abrigo da lei, isto porque as causas de justificação
não dão todas os mesmos direitos.
Relativamente aos elementos subjetivos das causas de justificação, temos:
1) A teoria objetivista – Para a utilização de uma causa de justificação basta-se com a
verificação dos elementos objetivos, independentemente do agente conhecer ou não
essa causa de justificação. Aqui não são necessários elementos subjetivos;
2) A teoria subjetivista – Para a causa de justificação funcionar é necessário que se
verifiquem elementos objetivos, mas a estes, ainda tem de acrescer o conhecimento
da existência da causa de justificação e os direitos que essa causa de justificação lhe
confere.
3) A teoria subjetivista mitigada, esta é a que está consagrada no nosso código penal. O
artigo 38º nº4 consagra esta teoria, estabelece este artigo que se irá aplicar ao crime
consumado a pena aplicável à tentativa, recorremos então ao artigo 23º CP que nos
remete para o artigo 73º CP.
De notar ainda que a tentativa só é punível se ao tipo de crime corresponder uma pena
superior a 3 anos de prisão, estabelecendo o seu nº2 uma exceção, porém, quer numa
situação, quer noutra, aqui o agente é punido pelo desvalor da ação. Desta forma, sempre que

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o agente atua ao abrigo de uma causa de justificação, o agente é punido pelo crime doloso que
cometeu, sendo-lhe aplicável a pena correspondente ao crime na forma tentada.
Exemplo: A tem um vestido e põe-no no exterior, num sítio visível para alguém pegar nele.
Aqui temos o titular do direito de propriedade a renunciar aquela titularidade. Entretanto
passa B que desconhecendo que alguém se livrou dele, pega nele e leva-o, a fazer isto B
cometeu um crime de furto. Isto é do conhecimento das autoridades e a dona do vestido em
tribunal diz que tinha o vestido da parte de fora porque se pretendia livrar dele, dando assim o
seu consentimento, o tribunal pergunta a B se conhecia disto, ao que B responde que não, ou
seja, irá ser B punida pela tentativa, mesmo tendo consumado o crime, pune-se pela tentativa.
NOTA: Quando a tentativa não for punível, não há lugar a pena.
Erro sobre as causas de justificação
No erro sobre as causas de justificação temos:
1) Erro sobre os pressupostos das causas de justificação – Aqui sempre que se erra sobre
pelo menos um dos pressupostos da causa de justificação, a este se aplica o regime do
artigo 16º nº2 e nº3 CP. Exemplo: O agente pensa que vai ser agredido e dá dois
murros a um indivíduo, quando na verdade esse indivíduo apenas se estava a meter
com ele, aqui existe um erro sobre o pressuposto agressão. Assim, quando há um erro
sobre os pressupostos, exclui-se o dolo. Exemplo: No caso anterior impõe-se o crime
de ofensas à integridade física, este é um crime doloso, mas como se exclui o dolo, não
o podemos imputar ao agente, uma vez que aqui se exclui o dolo da culpa. Porém o
nº3 estabelece que não podendo imputar o tipo doloso, podemos imputar o tipo
negligente, tendo de ser esse crime típico e tendo de se apurar se violou as regras
gerais de cuidado – Estes são os requisitos. Exemplo: A mata B a pedido de B por
considerar que a eutanásia é legal, quando na realidade pratica o crime do artigo 134º
CP, portanto, ele pressupôs a existência de uma causa de justificação que não existe,
aqui temos erro sobre a existência de uma causa de justificação.
2) Existência ou os limites das causas de justificação – Aqui temos um erro sobre a
valoração. Por regra neste aplicamos o artigo 17º nº2, que estabelece que se o erro lhe
for censurável, o agente é punido pelo crime consumado e pode este ser atenuado,
porém há que atentar que dizemos “pode” não quer dizer que aconteça sempre.
Legitima defesa
Não é uma causa justificativa privativa do direito penal, uma vez que também está
consagrada no código civil (artigo 337º CC).
A legítima defesa implica que se leve em consideração 2 requisitos:
1) Requisito por parte do agressor, sendo que se deve sempre começar por aqui, porque
caso não estejam aqui preenchidos todos os requisitos não há desde logo legítima
defesa. Nesta o requisito principal é a existência de uma agressão, conforme o artigo
32º CP. Agressão para efeitos de legítima defesa, consiste na prática quer por ação,
quer por omissão de um ato. A agressão tem de ser uma agressão ilícita (contrária à
ordem jurídica), esta ilicitude não tem necessariamente de ser civil, pode ser penal
também; a agressão não tem de ser culposa, levando-se então em causa as agressões
de inimputáveis, como por exemplo, crianças; a agressão tem de ser atual, ou seja, não
pode estar consumada quando o defendente se defende, porque aí já temos uma
situação de vingança.
2) Requisito do defendente.

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Aula Direito Penal II (Prática) 11/05/2022


Casos práticos – Legítima defesa
1) A pretendia matar o seu vizinho B, com quem, desde há anos, se envolvia em acesas
discussões. Para tal, no passado dia 22 de agosto, A esperou que o seu vizinho B
chegasse ao café da terra, à hora do costume, e disparou sobre ele um tiro
mortal. Vem, porém, a provar-se que B tinha também intenção de matar A, razão pela
qual, ao avistá-lo, naquele dia 22 de agosto, no lugar em que é habitual A sentar-se
quando vai ao café, ainda teve tempo de pôr a mão ao bolso para tirar a arma que
levava carregada para o matar, não tendo conseguido cumprir essa sua vontade apenas
porque A se antecipou. Quid iuris?

Resolução:
No caso é uma agressão atual, ilícita, praticada contra interesses juridicamente protegidos, no
caso, reagiu de forma de adequada, porém ele não sabia que o outro se preparava para o
matar, faltando desde logo o requisito subjetivo, uma vez que o agente atuou não com o
sentimento de defesa, mas com a vontade de matar, por isso está em causa o artigo 38º nº4 CP.
Este artigo está pensado para o consentimento e, iremos aplicá-lo por analogia às causas de
justificação, isto porque nos permite dar ao agente uma solução mais benéfica, porque invés
de condenar o agente por homicídio doloso consumado, punimos apenas por tentativa, trata-
se de uma analogia in bon partem. No caso, embora exista um resultado, esse resultado está
justificado, na parte do resultado justificou-se o resultado, não se justificando a ação.

2)Durante uma violenta discussão conjugal, A empurra B, que parte um braço. Quando
B está já no chão, com dores, A decide baixar-se e esbofetear B com violência.
a) Quid Iuris se C, ao aperceber-se da situação, agarrar e imobilizar A até que A se acalme,
dando-lhe um pontapé quando A tenta libertar-se para continuar a bater em B? Poderá ser
punido por ofensas à integridade física?
Resolução:
No caso está em causa uma legitima defesa de terceiro, uma vez que estão verificados todos os
requisitos. Há uma agressão, é atual, é ilícita, é contra interesses juridicamente protegidos (no
caso não são do agente, mas são de um terceiro) e reagiu de forma adequada, não foi excessiva
nos meios, cumpriu os requisitos, quer quanto à agressão, quer quanto à defesa, do ponto de
vista subjetivo, agiu com o conhecimento de estar a agir a coberto de uma causa de
justificação. Aqui o agente não é punido.
c) E se, afinal, tudo não passasse de uma encenação para sensibilizar os transeuntes para
o fenómeno da violência doméstica e A e B fossem atores? Quid Iuris se C interveio,
por meio de violência, para afastar A de B?
Resolução:

No caso estaríamos perante uma situação de erro sobre os pressupostos objetivos da causa de
justificação, ou seja, eu pensava que havia uma agressão, mas afinal não, era só um teatro.
Aqui o requisito que falta é o da agressão, não há agressão, uma vez que foi tudo consentido.

3) Durante uma manifestação por ocasião do Dia do Trabalhador, A e B discutem com


violência, ameaçando-se mutuamente porque A acredita estar a receber menos do que aquilo
que lhe é devido e B é a responsável pela contabilidade da empresa. Quando, passada uma
semana, A encontra B no café e avança sobre esta determinada a mostrar-lhe o recibo de

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vencimento para comprovar que não estão a ser respeitados os seus direitos em termos
salariais, é surpreendida por um soco desferido com toda a força por B, que se convence que A
a vai atacar. Quid Iuris quanto à responsabilidade penal de B nesta situação?
Resolução:
No caso estamos numa situação de erro sobre os pressupostos objetivos da causa de
justificação. Aqui falta desde logo a agressão, exclui-se o dolo da culpa e fica ressalvada a
punibilidade da negligência, sendo que essa punibilidade da negligência vai depender primeiro
da previsão do tipo legal a título negligente, isto está desde logo no artigo 143º CP, segundo de
ter sido violado o dever objetivo de cuidado.

4) Ao chegar de manhã ao seu armazém, Paulo vê Rui a saltar por uma janela e a fugir
com uma mochila às costas. Como tinha dinheiro e mercadorias no local, Paulo começa a
perseguir Rui com o seu carro, para evitar que ele se aproprie dos seus bens. No intuito de lhe
cortar a fuga, abalroa-o de lado com o veículo, fazendo com que Rui caia ao chão e sofra
algumas escoriações e hematomas. Paulo segura Rui até à chegada da PSP. Examinada a
mochila, verifica-se que Rui nada havia furtado do armazém. Pronuncie-se
fundamentadamente sobre a responsabilidade de Paulo pelos crimes de sequestro e de
ofensas corporais.
Resolução:
No caso, falta desde logo o requisito objetivo, ou seja, a agressão ao património. Neste caso a
resposta aquilo que julguei ser uma agressão, consubstancia-se em 2 tipos legais de crimes, um
primeiro que é o das ofensas à integridade física e um segundo que é de sequestro.
Relativamente às ofensas à integridade física, verificam-se todos os elementos. Quanto ao
sequestro, artigo 152º CP, não está previsto a título negligente, conforme artigo 13º CP, assim
se não existe crime de sequestro a título de negligência, o que acontece é que Paulo não será
condenado nesse âmbito. Assim, a prova seria só para as ofensas à integridade física, ou seja,
se houve uma violação do dever de cuidado, etc., uma vez que o sequestro está desde logo
afastado, tendo como consequência que Paulo não pode ser punido.
NOTA: Erro sobre os objetivos da causa de Justificação é o mesmo que legítima defesa putativa.
Requisito subjetivo

É o conhecimento por parte do agente de que está a agir ao abrigo da causa de justificação.

1ª hipótese

Requisito objetivo Agressão ______AFASTA_________ Desvalor do resultado


Defesa

Requisito subjetivo _____AFASTA_______ Desvalor da ação

Funciona o tipo justificador que afaste o tipo incriminador

2ª hipótese

Requisito objetivo Agressão ______AFASTA_________ Desvalor do resultado


Defesa
Requisito subjetivo _____NÃO AFASTA_______ Desvalor da ação

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Tentativa 58º nº4 + 23º + 73º

3ª hipótese

Requisito objetivo Falta um objetivo quanto à agressão


Defesa
Requisito subjetivo _____ AFASTA_______ Desvalor da ação

Mas não se afasta o desvalor de resultado – Consequência vamos ter um caso parecido com
negligência artigo 16º nº2
4ª hipótese

Requisito objetivo Falta _________AFASTA________ O desvalor do resultado


Está em falta
Requisito subjetivo _____ AFASTA_______ Desvalor da ação

Mas não cumpre o requisito objetivo quanto à defesa e, portanto, temos um caso de excesso
de legítima defesa – Artigo 33º nº1 – Mera atenuação da culpa; Artigo 33º nº2 – Exclusão da
culpa

Aula Direito Penal Prática 16/05/2022


Requisitos da legitima defesa

 Está prevista no Código Penal no nosso artigo 32.º e no Código Civil no artigo 337.º.
isto faz-nos questionar porque é que temos a legitima defesa prevista neste artigo do
código penal – os requisitos da legitima defesa em direito criminal são diferentes dos
requisitos da legitima defesa do código civil.
Quando o 337.º do CC se considera que a conduta está justificada e então é licita (…) e
depois acrescenta que desde que o prejuízo causado pelo defendente não seja
manifestamente ao que pode resultar da agressão – aqui exige que haja uma
ponderação dos meios utilizados e dos próprios meios jurídicos afetados – está a dizer-
nos que o defendente não pode lesar bens superiores aos que foram lesados pelo
agressor; também diz que o defendente pode causar um dano ao agressor na sua
defesa se o bem que estiver a ser lesado pelo agressor seja um bem patrimonial, mas
não pode ser superior. Ex. não se pode matar para defender um bem de natureza
patrimonial. Implica então esta ponderação dos interesses e dos meios utilizados.

 Esta ponderação não existe no artigo 32.º do código penal.


É preciso termos sempre em conta que de um lado temos o agressor e do outro lado o
defendente, ou seja, a analise dos requisitos começa sempre pelo agressor. Vamos ter
requisitos de verificação obrigatória em relação à conduta do agressor, e requisitos de
verificação obrigatória em relação à conduta do defendente. Só vamos ver estes
últimos se estiverem preenchidos TODOS os requisitos por parte da conduta do
agressor. Se faltar algum requisito por parte da conduta do agressor, não haverá
agressão. Assim, a ordem de ideias é fundamental.

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Requisitos do agressor
1. existência de uma agressão – toda e qualquer conduta, seja por ação, seja por omissão,
que atente contra bens juridicamente protegidos. ; desta noção de agressão chegamos
á conclusão que a agressão pode ser por ação ou por omissão. Quando se verifica a
omissão:
Sempre que aquele que omite esteja com a sua omissão a fazer perigar os bens
jurídicos de outrem. Isto acontece sempre que ao omitente recair o dever jurídico de
atuar. Ele tinha de atuar e, com a sua inatividade, pode vir a provocar ou começa a
provocar os bens jurídicos de outrem. Ex: há um pai que leva o filho menor a um
parque diversões e o mete num carrossel. O carrossel tem uma varia e a criança pode
ficar sem uma perna. O pai pede para a pessoa que dirige o carrossel para desligar
aquilo imediatamente e a pessoa não desliga. Aquele pai pode exercer legitima defesa
para obrigar o homem a desligar a maquina, estava aqui a ser perpetrada uma
agressão por omissão. Assim, a conduta do agressor pode não ser necessariamente um
crime, mas sim uma conduta que atente contra bens juridicamente protegidos, não
obrigatoriamente pelo direito penal.
 A agressão pode recair sobre interesses jurídicos pertencentes ao defendente mas
também a terceiros. A pessoa pode atuar em legitima defesa defendendo os seus
próprios interesses ou os interesses de terceiro.
 Por outro lado, a agressão não tem de ser culposa. Pode ser proveniente até de um
inimputável. Ex. se houver um menor que esteja na rua a atirar pedras a um automóvel
causa uma agressão como se fosse um adulto, está a danificar o carro ou até a ofender
a integridade física da pessoa que está dentro do carro.
 Os animais não são sujeitos ativos da agressão � a agressão tem de ser proveniente da
pessoa humana. Há pessoas que utilizam animais para agredir outros (ex. treina um
cão para agredir alguém). Os animais não praticam condutas ilícitas. O animal foi
instrumentalizado, foi utilizado como o instrumento do crime, considerando a ação
como uma ação humana, dando lugar à legitima defesa.

A legitima defesa pode até ser praticada por erro. Ex. vai ali à quinta daquele individuo
e corta-lhe as videiras que ele pediu. O homem, quando vê isto a acontecer, considera
aquilo uma agressão e reage contra a pessoa que foi na sua boa fé induzido em erro.

O código civil 337.º diz que a agressão tem de ser atual e contraria à lei e o código
penal diz que tem de ser atual e ilícita, então, ambas estas ideias vão ao mesmo
encontro.

2. Uma agressão ilícita é aquela que é contrária à ordem jurídica, antijurídica.

A agressão tem de ser atual.


Ao verificar-se que existe uma Agressão + que esta é atual + que esta é ilícita

Vamos para os requisitos do defendente!

Requisitos do Defendente

1. Há que saber se havia ou não possibilidade da defesa daqueles interesses por


recurso às autoridades, á força publica, em tempo util � a necessidade da defesa

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2. O defendente deve (32.º) utilizar o meio necessário (aquele que é idóneo, eficaz,
que tem potencialidade de repelir a agressão) � a necessidade do meio. Quando
temos a existência de vários meios eficazes de repelir a agressão, deve a atuação
do agente obedecer ao princípio da mínima lesão.
Coloca-se um problema que é só existir um meio, e este é substancialmente mais
grave comparando-o ao meio utilizado pelo agressor. Ex. é possível que o
defendente utilize um meio mais gravoso para se defender do que aquele que foi
utilizado pelo agressor.
� Aqui passam atuar os limites ético-sociais ao exercício da legitima defesa ; a regra é a
de que, se o defensor só tem esse meio, é esse o meio que deve utilizar. Mas se a
utilização desse meio único implica que haja uma flagrante e manifesta desproporção
entre a defesa e a agressão dos bens lesados pelo agressor, então é considerado que
esse meio não era o único a utilizar.

3. Não utilização ou não sacrifício de bens jurídicos pertences a terceira pessoa – o


defendente, no âmbito da defesa, deve atingir única e exclusivamente bens
jurídicos que estejam na esfera do agressor, e não de terceiros.
4. Animus defendendi – o defendente deve atuar com intenção de defesa, isto é,
quando o defendente pratica um facto típico, tem que o fazer com intenção de se
defender da agressão que estava a ser ou iria ser perpetrada pelo agressor. Este
requisito está previsto no artigo 32.º na expressão “para” – ele atuou para
defender.

Requisito da necessidade do meio

Excesso de legitima defesa

A legitima defesa no direito penal não impõe uma necessidade de hierarquização de valores

A legitima defesa enquanto direito, todos os direitos têm os seus limites, e a legitima defesa
tem também os seus

Limites ético-sociais ao exercício da legitima defesa � dizem que não obstante a legitima defesa
não exigir então a dita hierarquização dos bens jurídicos em conflito, a verdade é que a LD não
pode ser exercida sempre de forma absoluta, não pode ser exercida quando implique a
violação de um bem jurídico que seja manifestamente desproporcional (uma flagrante, gritante
desproporção entre os bens jurídicos lesados do defendente e do agressor).

O defendente tem de utilizar o meio necessário � consiste em o defendente utilizar, entre


todos os meios que tem para se defender, no momento da defesa, aquele que cause menor
dano ao agressor (requisito da necessidade do meio – requisito da mínima lesão ao agressor)

Questão diferente desta é aquela em que o defendente só tem um meio à mão. A LD diz que
em principio, utiliza o meio que tem. Mas se houver a dita manifesta desproporção entre o
bem lesado pela conduta do agressor e o meio lesado pela conduta do defendente, ai já não há
legitima defesa porque se entende que o defendente utilizou um meio desnecessário.

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Falta portanto um requisito por parte da conduta do defendente, se ele utilizar um meio
desnecessário. – art. 32.º meio necessário

Embora aquele que estava na posição do defendente até tivesse atuado com intenção de
defesa, a verdade é que não utilizou o meio necessário. Não o tendo feito, nós não podemos
dizer que estamos perante uma defesa legitima � estamos perante uma defesa ilegítima
porque não cumpriu com todos os requisitos da LD.

Como é que esta situação se trata? Trata-se nos termos do que está previsto no artigo 33.º nº1:

� O artigo 33.º, tendo por titulo “excesso de legitima defesa”, este excesso significa
defesa ilegítima
� O excesso de legitima defesa existe sempre que aquele que esta na posição de
defendente exerce uma defesa ilegítima, e é ilegítima porque aquele que estava na
posição de defendente atuou com um meio desnecessário, não cumpriu o requisito da
necessidade do meio
� A necessidade dos meios não tem a ver com se o agente utilizou uma faca, um pau,
uma pedra, etc, com esta questão propriamente dita, mas sim com os danos causados
aos bens jurídicos, à proporção entre ambos
� Nº1 artigo 33.º � se houver excesso dos meios empregados na LD, o facto é ilícito, ora
se o facto é ilícito quer dizer que não funciona a legitima defesa (estamos perante um
ato de defesa mas a prática é ilícita, ilegítima)

Ver : Artigo 72.º - estão definidos os dois modos de atuação da atenuação especial da pena. O
nº1 deste artigos diz-nos que a atenuação especial da pena pode funcionar por duas vias: ou
ope legis, ou ope judicis

Situações de aplicação ope legis : ex. cumplicidade (art.27.º o cúmplice quando é punido é
punido com a pena aplicável ao autor mas especialmente atenuada) – ora, é o próprio artigo
27 que diz que o tribunal quando vai aplicar uma pena a um cúmplice deve proceder a uma
atenuação especial ; ex. a propósito dos crimes praticados na forma tentada (art. 23.º nº2 – o
crime tentado como não chega a produzir o desvalor do resultado, é punível com a pena que
esta prevista para o crime consumado mas especialmente atenuada) � é a própria lei que
remete para a atenuação especial quando se trata de Ope Legis

Para alem das situações de atenuação da pena previstas na lei, ope legis, existem as situações
de aplicação ope judicis : quando existem situações anteriores, posteriores ou contemporâneas
da prática do crime em que o tribunal pode comparar, ponderar, e então decidir ou não
proceder à atenuação da pena;

O significado de ope judicis é aquele que não depende apenas da lei, mas também de uma
análise da autoridade judicial, precisa de uma concessão judicial para ser concluído

A principal diferença entre ope legis e ope judicis é que no primeiro a decisão se baseia
prioritariamente o que está disposto em lei, já no segundo, deve levar em conta a análise do
caso, pode-se usar a analogia por exemplo

A pena pode ser especialmente atenuada � a expressão “pode” remete para a aplicação ope
judicis porque não obriga à atenuação da pena, mas abre a hipótese ao tribunal a faze-lo

Provocação injusta ou ofensa imerecida:

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Artigo 72.º

Artigo 72.º

Atenuação especial da pena

1 - O tribunal atenua especialmente a pena, para além dos casos expressamente previstos na lei, quando
existirem circunstâncias anteriores ou posteriores ao crime, ou contemporâneas dele, que diminuam por
forma acentuada a ilicitude do facto, a culpa do agente ou a necessidade da pena.

2 - Para efeito do disposto no número anterior, são consideradas, entre outras, as circunstâncias
seguintes:

a) Ter o agente atuado sob influência de ameaça grave ou sob ascendente de pessoa de quem dependa
ou a quem deva obediência;

b) Ter sido a conduta do agente determinada por motivo honroso, por forte solicitação ou tentação da
própria vítima ou por provocação injusta ou ofensa imerecida;

c) Ter havido atos demonstrativos de arrependimento sincero do agente, nomeadamente a reparação, até
onde lhe era possível, dos danos causados;

d) Ter decorrido muito tempo sobre a prática do crime, mantendo o agente boa conduta.

3 - Só pode ser tomada em conta uma única vez a circunstância que, por si mesma ou conjuntamente com
outras circunstâncias, der lugar simultaneamente a uma atenuação especialmente prevista na lei e à
prevista neste artigo.

Uma pessoa ir a conduzir de noite, com um lugar tranquilo, e de repente vê-se bloqueado por
dois ou três carros de indivíduos que decidem assalta-lo e estavam armados. O que é que
aquela pessoa, estando em busca da, pensa? Nem conseguimos imaginar. O que ela com
certeza pensará é defender-se, afastar-se rapidamente daquela situação. Uma das reações
comuns do ser humano é 1. Bloquear, 2. Fugir da situação de perigo, e 3. É contrarreagir,
defender-se. Nestas 3 reações, o ser humano pretende sobreviver, e cada pessoa reage de
forma diferente. Numa situação deste tipo, a pessoa que tenta reagir defendendo-se, quando
decide reagir já não está com o raciocínio claro, mas sim toldado pelo stress/pânico. Aqui
enquadra-se a situação do:

nº2 do artigo 33.º � “2 - O agente não é punido se o excesso (o uso do meio desnecessário)
resultar de perturbação, medo ou susto, não censuráveis.”

Ou seja, apesar do facto ser ilícito, a verdade é que muitos daqueles que estão colocados na
posição de defendente só não usam o meio menos gravoso porque não se encontram nas
faculdades mentais de considerar quais os meios mais ou menos gravosos

Se é verdade que a atuação do defendente com o meio desnecessário não exclui a ilicitude,
pode excluir a culpa

O facto só pode deixar de ser punido por duas causas: ou por falta de ilicitude ou por falta de
culpa. Neste caso o facto cometido pelo agente é ilícito, mas não culposo.

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Aqui temos uma causa da exclusão da culpa, uma causa de exculpação, no nº2 do artigo 33.

O tribunal vai ter de ter em consideração que tipo de pessoa é o agente em questão
juntamente com este nº2 do artigo 33.º

Há pessoas que, por força da sua atividade profissional, estão treinadas para enfrentar medos:
militares, todos os órgãos de policia criminal, etc, é suposto que não se assustem tanto quanto
o normal cidadão perante uma situação de natureza semelhante.

No caso, se estamos perante uma situação em que o tribunal vai analisar se houve excesso por
parte de um agente da GNR, o tribunal não vai analisar segundo a generalidade das pessoas,
mas sim se a generalidade dos agentes da GNR se comportaria da mesma forma.

Se temos uma pessoa que utilizou um meio desnecessário mas que é uma mariquinhas que
tem medo de tudo, não se vai poder comparar a uma situação de um agente das forças
policiais treinado para um sem numero de situações perigosas.

//

Aplicando isto ao caso desta semana do homem que esfaqueou um dos 3 assaltantes que
entrou em sua casa:

Atendendo as factos que foram descritos na comunicação social, isto não são os factos
suficientes para decidirmos. Tem de se apurar que meios é que a pessoa tinha ao seu dispor no
momento da defesa, quantas pessoas estavam em casa, a que horas é que aconteceu, se os
filhos eram menores (não se sabem defender sozinhos), etc etc

Podemos estar perante:

� legitima defesa, e o agente não responde

� 33.º nº1 – o facto é ilícito se o senhor da casa tinha outros meios para se defender

� dar-se como certo que atuou sem a racionalidade necessária 33.º nº2

Os excessos de que estivemos a falar é o chamado excesso intensivo

É o excesso relativamente aos meios utilizados, a utilização dos meios desnecessários

E agora podemos estar perante o excesso intensivo asténico e o esténico

Dentro do excesso Intensivo:

Excesso Intensivo Asténico

� É aquele que resulta do artigo 33.º nº2. O excesso intensivo asténico é uma causa
excludente da culpa.

Excesso Intensivo Esténico

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� Sempre que aquele que está na posição de defesa se defende mas sim dominado de
sentimentos ou de emoções como seja o odio, a raiva, a necessidade de luta, ou a
vontade ou prazer de lutar, atua com fúria, etc. nestas situações temos a utilização do
meio excessivo que foi utilizado pelo agente estar dominado por este tipo de
sentimentos. Isto cai no âmbito do artigo 33.º nº1. Nestes casos o tribunal não aplica a
atenuação da pena.

Vamos ainda falar de um outro excesso… o excesso extensivo ou legitima defesa putativa, ou
erro sobre os pressupostos da legitima defesa

Quando é que estamos perante uma situação de excesso extensivo?

� Sempre que o agente atua na convicção errónea de que estão verificados os


pressupostos da legitima defesa. Portanto, o agente está convencido, supõe
erroneamente, a existência dos pressupostos da legitima defesa, quando eles não
existem.

Artigo 16.º

Erro sobre as circunstâncias do facto

1 - O erro sobre elementos de facto ou de direito de um tipo de crime, ou sobre proibições cujo
conhecimento for razoavelmente indispensável para que o agente possa tomar consciência da ilicitude
do facto, exclui o dolo.

2 - O preceituado no número anterior abrange o erro sobre um estado de coisas que, a existir, excluiria a
ilicitude do facto ou a culpa do agente.

3 - Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos gerais.

Auxilio necessário

Legitima defesa de terceiro

No âmbito da legitima defesa de terceiro colocam-se duas questões:

Nós sabemos que existem bens jurídicos individuais (que estão na esfera jurídica do seu titular)
e bens jurídicos supra-individuais (bens jurídicos coletivos, que pertencem a todos) ; dentro
dos bens jurídicos pessoais existem os bens jurídicos disponíveis e indisponíveis, ou seja, que
podemos ou não dispor. Quando há uma agressão de um interesse jurídico, pode ser de um
interesse pessoal disponível ou indisponível.

� 1. Até que ponto é que pode haver legitima defesa de terceiro relativamente a bens
jurídicos disponíveis quando aquele que estava a ser agredido consente na lesão? �
não poderá haver legitima defesa nesta caso porque efetivamente estamos perante
uma situação em que o bem jurídico lesado é um bem jurídico disponível e, tendo o
titular do bem jurídico consentido, …
Ou o que atuou em legitima defesa não conhecia a situação ; ou sabe e quer sobrepor
a sua vontade.

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Se recair sobre um bem jurídico indisponível, aqui há sempre legitima defesa porque o
titular do bem jurídico não pode dispor dele

� 2. Agressão a bens jurídicos coletivos ou supra-individuais. Ex alguém está a destruir


um monumento nacional (não é um monumento meu, mas de todos). Face a esta
situação, e porque o artigo 32.º se refere a bens juridicamente protegidos e não faz
menção ao tipo de bens, podemos considerar que existe legitima defesa de terceiro se
alguém for em defesa do monumento em causa, do bem jurídico supraindividual.

Agressão preordenada

Estamos a falar da conduta do agressor, aquela que dá o mote para a atuação do defendente

Às vezes acontece que aquele que vem alegar a conduta do defendente é o que provoca uma
agressão preordenada, que o faz com intenção de provocar aquele que vai assumir o papel de
agressor.

Há aqui como que uma ficção, o agente pratica uma agressão ao B sabendo que B vai reagir e,
quando ele reagir, o agente vai-se colocar na posição de defendente, invocando a legitima
defesa.

Se os factos se provarem, o agente que criou toda a situação para invocar a legitima defesa vai
ser imputado pelo crime que cometeu e o suposto agressor será colocado na sua legitima
posição de defendente.

Ver Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça - Processo 038966

//

Direito de Necessidade – artigo 34.º

Direito de necessidade

Não é ilícito o facto praticado como meio adequado para afastar um perigo atual que ameace interesses
juridicamente protegidos do agente ou de terceiro, quando se verificarem os seguintes requisitos:

a) Não ter sido voluntariamente criada pelo agente a situação de perigo, salvo tratando-se de proteger o
interesse de terceiro;

b) Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao interesse sacrificado; e

c) Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em atenção à natureza ou ao valor do
interesse ameaçado.

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Nota: Os requisitos da necessidade não são só a alínea a), b) e c!!

O direito de necessidade materializa-se sempre que temos dois interesses em conflito, um que
está a ser ameaçado de lesão e carece de ser salvaguardado, mas, para salvaguardar esse
interesse, para evitar a consumação dessa ameaça, é necessário que haja uma atuação, e essa
atuação prejudica outros interesses.

Esta figura foi pensada com base na ideia de solidariedade pois há situações em que temos de
abrir de mão de certos bens jurídicos para salvaguardar outros bens jurídicos, em que
necessariamente, perante um perigo que recai sobre um bem jurídico, é necessário prejudicar
um outro.

Essa necessidade não é ilimitada e absoluta! Esta solidariedade que no fundo fundamenta o
direito de necessidade tem limites.

Este direito de necessidade também impõe que gaja uma superioridade evidente do
interesse a salvaguardar relativamente ao sacrificado.

Quais são os requisitos do direito de necessidade?

1. Aquele que atua segundo o direito de necessidade tem de praticar uma conduta
através do meio adequado, um meio idóneo, um meio eficaz, não de repelir a
agressão, mas a repelir um perigo.

Diferença entre agressão e perigo � só praticam agressões os seres humanos. O perigo pode
provir de, por exemplo, uma ação animal. Tal como a legitima defesa fala da agressão atual e
ilícita, o perigo também tem de ser atual, em desenvolvimento ou estar iminente, mas não se
exige que seja ilícito, não necessita de ser praticado por um humano, pode ser por um animal
ou mesmo de fonte natural.

2. O perigo tem de ser atual


3. que ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro
4. Não ter sido voluntariamente criada pelo agente a situação de perigo, salvo tratando-
se de proteger o interesse de terceiro;
5. Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao interesse
sacrificado;
6. Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em atenção à natureza ou ao
valor do interesse ameaçado.

Dentro dos interesses pessoais há outro critério para avaliar a sua ponderação, sendo este um
critério quantitativo, em relação às molduras penais previstas na Lei- vamos ver qual é o bem
jurídico que o legislador tutela com uma moldura penal mais pesada. Ex. honra ou reserva da
vida privada.

Se estivermos perante dois interesses mas diferentes: interesse patrimonial e interesse


pessoal. Pode-se prejudicar um interesse patrimonial para salvaguardar um interesse pessoal. ;
não posso prejudicar um interesse pessoal para salvaguardar um patrimonial.

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Se estivermos perante dois interesses patrimoniais – tem que haver uma sensível
superioridade do interesse que está a ser ameaçado pelo perigo que sobre ele recai
relativamente ao que vai ser prejudicado

Imaginemos: há um individuo que tem um acidente de mota e vai para o hospital todo partido.
Vai para a ortopedia, faz umas cirurgias, etc. de resto, é saudável. Quando entra no hospital
fazem-lhe umas análises e descobrem que é compatível para se fazer um transplante de um
órgão para um jovem que irá morrer se não for feito o transplante dentro das próximas horas.
Nestas circunstâncias, acontece que os médicos, ao fazer a cirurgia, tiram-lhe o órgão (ex. um
rim) e garantem a vida ao outro. � esta situação enquadra-se no último requisito do direito de
Necessidade, pois não é razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse.

Aula direito penal (Teórica) 23/05/2022

Direito de necessidade (artigo 34º)

Estudamos o estado de necessidade enquanto direito de necessidade justificador/objetivo por


contraposição ao direito de necessidade subjetivo (artigo 35º CP). O direito de necessidade
previsto no artigo 34º, tem a denominação também de direito de necessidade ofensivo ou
agressivo.

De notar que as causas de justificação não são só aquelas que estão previstas na lei penal, uma
vez que podemos aplicar outras causas de justificação, por analogia, de notar que só funciona a
analogia in bonem partem (artigo 3º nº3 CP). Se podemos aplicar CJ por analogia, também
podemos aplicar CJ supralegais (que não estão previstas), as CJ supralegais a aplicação é
defendida pela doutrina e pela jurisprudência. O direito de necessidade defensivo é uma causa
de justificação intermédia.

Suponhamos que um gato pertencente a A, saiu à rua e arranhou a pintura de um carro, o


dono do automóvel face à situação decide disparar contra o gato, só estaria em causa uma
agressão se o gato fosse um instrumento da prática do crime e o dono já poderia reagir em LD,
porém no caso tal não acontecia, imaginemos que o valor dos danos do automóvel era de
2 000€, e o valor do animal era 150€, o dono do carro pode reagir neste caso ao abrigo do
artigo 34º CP, uma vez que aqui à uma manifesta superioridade.

Conflito de deveres (artigo 36º CP) – Pressupõe que o agente tenha estado colocado numa
situação fáctica e onde quer por lei, quer por imposição, o agente está obrigado a cumprir dois
deveres legais ou duas ordens legítimas, sendo preciso também que quando estamos perante o
cumprimento de deveres que estes sejam deveres que são impostos por lei ou
contratualmente, portanto, o que às vezes o que se passa na vida é que esta coloca situações
tais em que o agente é obrigado a cumprir duas ordens ou então 2 deveres simultaneamente.
Há casos que nos mostram que o cumprimento de 2 deveres ou de 2 ordens legítimas não são
compatíveis, assim as circunstancias demonstram que para cumprir 1 tem de deixar de cumprir
o outro, aqui o agente não tem direito à opção, o agente tem mesmo de praticar os factos, só
que humanamente é impossível praticar os factos ao mesmo tempo, aqui o que vai fazer é usar
do artigo 36º que nos diz para cumprir um e deixar o outro por cumprir, devendo cumprir a
ordem/dever de valor maior e, portanto, deixar de cumprir o de valor menor, ou então se
forem da mesma natureza, da mesma importância, se forem do mesmo relevo, então nesse
caso que cumpra o de valor igual e aí é indiferente que cumpra a opção 1 ou a opção 2, ou seja,
quando acaba por não praticar está a praticar um crime omissivo e aí é que vai o artigo 36º e
diz que como esta pessoa não pode e a maior parte das pessoas não conseguiria também

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cumprir os dois, aquele que não fez, não fez licitamente. Exemplo: Quando temos pessoas a
morrer nas ambulâncias porque o hospital está sobrelotado, se não existisse este artigo 36º, os
hospitais seriam responsabilizados por homicídio negligente. Todos os processos que venham a
ser intentados por familiares destas pessoas que morrerão serão arquivados, em princípio, por
causa do artigo 36º, uma vez que dentro das circunstâncias existentes, os médicos fizeram
aquilo que lhes era possível.

Artigo 36º nº2 – Faz cessar o dever de obediência hierárquica sempre que o dever que seja
imposto ao agente implique a prática de um crime. Exemplo: A entidade diz ao funcionário
para fazer uma fuga aos impostos, o funcionário pode recusar-se aqui o dever hierárquico
cessa, cumprindo irá ser tão responsabilizado como aquele que emanou a ordem. De notar que
no caso da recusa, a recusa deve ser feita por escrito, invocando a causa de exoneração desse
dever.

Consentimento do ofendido

O consentimento do ofendido pode ser, um consentimento expresso, previsto no artigo 38º, ou


presumido, previsto no artigo 39º. A lei equipara um consentimento presumido ao
consentimento expresso, conforme nº1 do artigo 39º.

O consentimento do artigo 38º está sujeito à verificação de requisitos de índole substancial e


requisitos de forma (ou formais), são todos comulativos. Começasse a verificar os requisitos
pela vertente substancial, porque podemos estar perante um consentimento que do ponto de
vista formal preencher todos os requisitos, mas se não preencher do ponto de vista
substancial, não irá formar como uma forma de exclusão.

O consentimento do ofendido consiste no facto do titular do bem jurídico protegido pela


norma incriminadora prescindir da sua tutela e, portanto, podemos autorizar outrem a praticar
uma conduta que, se não fosse o consentimento estaria a lesar os nossos bens jurídicos.
Prescindir da tutela do bem jurídico a título de consentimento não é a mesma coisa que
renunciar ao procedimento criminal ou perdoar, desde logo, porque o consentimento para
existir, para ser valido, uma vez que o consentimento tem de ser sempre prévio ao momento
da prática do facto, nas outras figuras (perdão e renúncia), estas surgem sempre depois da
prática do facto criminoso, são figuras que tem uma vertente adjetiva e não de direito penal,
portanto, tem haver com o facto de se poder prosseguir com a ação penal, portanto, depois do
momento do facto praticado.

Consentimento é diferente de acordo – Nós estamos a estudar o consentimento como causa


de exclusão da ilicitude. Ao abrigo do consentimento é praticado um facto típico, mas lícito, o
consentimento exclui a licitude, por outro lado o acordo exclui a tipicidade, ou seja, o facto não
chega sequer a ser típico, o facto não chega ser a consubstanciar um crime porque é logo
excluída a tipicidade do facto, então é um facto atípico, não estando previsto na lei como um
crime. Na prática distinguimos isto de acordo com os elementos constitutivos do tipo
incriminador, temos como exemplo, o artigo 191º, 192º, 190º. No caso do artigo 190º, o nosso
domicílio dizem respeito à nossa vida privada, esta conduta constitui crime quando se verifique
a ausência de consentimento, porque um dos elementos constitutivos do tipo legal é a falta de
consentimento, porque quando há consentimento, não chega ser a uma conduta típica,
portanto, todos os tipos legais que exigem que para a conduta ser uma conduta criminosa seja
necessária a falta de consentimento, ou seja, no caso do acontecimento existir funciona como
acordo, que não chega a integrar-se no artigo 190º, só se enquadra no artigo 190º quando falta
o acordo. Só os tipos legais que exigem em que falte o consentimento, quando há o

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consentimento, é que há acordo. É consentimento quando não exige consentimento no tipo


legal.

Requisitos de ordem substancial: Estão previstos no nº1 do artigo 38º:

1) O consentimento nunca pode atingir sobre bens juridicamente indisponíveis, ou seja,


só podem versar sobre bens juridicamente disponíveis;
2) Não pode lesar os bons costumes, de notar não associar esta lesividade a qualquer tipo
de moralidade dominante na sociedade.

Bens juridicamente indisponíveis, temos como exemplo, a vida, isto porque a vida é um bem
pessoal, que tem uma dimensão social, económica, portanto, com o consentimento, considera-
se que o consentimento é inválido, porque o bem não é livremente disponível em relação à
conduta de terceiros, só o próprio pode dispor da sua vida, não é uma conduta livre para um
terceiro, porque neste caso, o consentimento não vai produzir a causa de exclusão do facto, ou
seja, o agente vai responder pelo crime. O código penal contém uma norma no artigo 149º,
que estabelece que, a integridade física é livremente disponível, todavia, o nº2 do artigo 149º
introduz umas exceções à livre disponibilidade da integridade física, ou seja, essa liberdade
relativa à integridade física não é absoluta, o que significa que há restrições À própria
disponibilidade quanto à própria integridade física, restrições que são impostas também pelo
segundo requisito material, que remete para os bons costumes, o nº3 do mesmo artigo vem
remeter para o artigo 144ºA, dizendo que estamos perante um tipo legal que está inserido nos
crimes contra a integridade física, mas aqui temos um caso em que não é permitido o
consentimento e a existir não constitui causa de exclusão de ilicitude, tratando-se da
impossibilidade de consentir relativamente a uma conduta que é a mutilação genital feminina,
mesmo que a própria dê consentimento, esse consentimento é sempre irrelevante, por força
do nº3 do artigo 149º, porque se considera ser uma conduta que atenta contra os bons
costumes. Assim os bons costumes assenta, segundo o professor Figueiredo dias, é atentória
dos bons costumes toda a lesão de bens jurídicos que seja grave e irreversível. Assim,
chegamos à conclusão de que mesmo a integridade física não é sempre livremente disponível.

Diferença entre o disposto no artigo 150º e 156º - O disposto no artigo 150º, encontra-se no
lugar dos crimes contra a integridade física, o artigo 156º, encontra-se previsto com uma outra
sistemática e está localizado contra a liberdade pessoal, portanto são bens jurídicos
completamente distintos. De todo o modo, o disposto no artigo 150º nº1, parecendo estar a
definir um crime, não contém incriminação alguma, pelo contrário, o que o nº1 do artigo 150º
diz é os atos praticados não constituem ofensa à integridade física, portanto, são condutas
atípicas, estão fora da alçada dos crimes contra a integridade física. O artigo 150º tem 2
requisitos de natureza objetiva (estejamos perante atos indicados, tem de haver uma indicação
médica para a sua prática + atos praticados pelas leis da arte) e 2 de natureza subjetiva
(médico ou pessoa análoga + proceda com a intenção de melhorar, minorar, …), aqui se se
verificarem estes requisitos a conduta não chega sequer a ser típica. Coisa diferente é o
previsto no artigo 156º, insere-se nos crimes contra a liberdade, esta norma vem sancionar os
médicos que praticam atos fora das circunstâncias previstas no artigo 150º e sobretudo quando
impõe a sua vontade, à vontade do paciente, o bem jurídico aqui é a liberdade do paciente,
portanto, o tratamento não pode ser imposto contra a vontade do doente, ainda que a
intenção seja boa, a vontade que deve prevalecer é a vontade do doente, o bem jurídico
salvaguardado é a liberdade do doente. O nº2 do artigo 156º acrescenta quando é que o facto
não é punível, ou seja, o legislador neste número o legislador está a presumir o consentimento
(consentimento hipotético), exemplo, as pessoas que entram inconscientes num hospital, aqui

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os médicos atuam achando que se a pessoa estivesse acordada daria o seu consentimento. Se
o agente atuar em erro, é punido com pena de prisão, nº3 do artigo 156. O artigo 157º diz que
caraterísticas que o consentimento tem de ter para ser válido.

Requisitos de natureza formal do consentimento – Encontram-se previstos nos artigos 2 e 3


do artigo 38º CP – Se o agente não tiver a idade suficiente para consentir, o consentimento não
é eficaz, ou seja, diz respeito à capacidade para consentir, a capacidade para consentir coincide
com a idade que o agente começa a ser imputável para efeitos jurídicos criminais, ou seja, 16
anos completos. Outra caraterística, é que o consentimento deve ser manifestado de forma
séria e livre, para o consentimento ser manifestado de forma séria e livre é pré-condição que
aquele que consente seja devidamente informado do ato que vai ser praticado e, portanto,
essa informação deve incluir quer a ação, quer o resultado daquela ação, o que significa o que
consente tem o dever de informar e o que pratica o ato tem o direito à informação. O
consentimento é livremente revogável, portanto, até ao momento do início da ação pode o
consentimento ser revogado a todo o tempo, ou seja, não há consentimentos vinculativos a
determinado prazo. A forma do consentimento em si, o consentimento tem de ser claro, ou
seja, não pode deixar equívocos, podendo ser dado de qualquer forma, ou seja, por escrito,
verbalmente. Estes requisitos são todos comulativos.

O consentimento presumido tem a mesma força jurídico-penal que o consentimento real,


quem atua com o consentimento presumido tem a sua conduta lícita. O artigo 39º nº2
equipara essa situação a uma gestão de negócios, ou seja, parte do princípio que seria aquela
solução que o titular daria se tive tomado a decisão naquelas circunstâncias.

Aula Direito Penal (Prática) 25/05/2022

No conflito de deveres, temos de exercer um dever ou outro, criando desde logo uma diferença
relativamente ao artigo 34º do estado de necessidade.

Caso prático:

1) Nádia, médica, depara com a chegada ao serviço de urgências de dois pacientes em risco de
vida, Ricardo e Ana, sendo que ambos necessitam do mesmo equipamento de salvamento. Na
impossibilidade de tratar os dois, Nádia aplica o equipamento em Ana, que lhe parece, depois
de um exame liminar, ter um prognóstico mais favorável. Porém, o diagnóstico sobre a situação
dos pacientes revela-se errado e, na verdade, Ricardo teria tido melhores possibilidades de
sobreviver do que Ana. Tanto Ricardo como Ana vêm a falecer. Pronuncie-se
fundamentadamente sobre a responsabilidade de Nádia pela morte de Ana e Ricardo.

Resolução:

No caso concreto, existe desde logo um erro. No caso concreto, o que não se cumpriu o
requisito da importância do valor superior. Erro sobre os pressupostos objetivos da causa de
pedir. Artigo 16º nº2, exclui-se o dolo da culpa, não se consegue afastar o desvalor do
resultado, em função disso responsabilizamos pela negligência, artigo 13º e 137º.

Matéria:

O consentimento que iremos falar é sobretudo do consentimento efetivo, previsto no artigo


38º. O artigo 39º trata do consentimento presumido. Embora tenhamos apenas requisitos

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objetivos no nº 1 a 3 do artigo 38º, os próprios requisitos objetivos por vezes tem um pendor
subjetivo.

O acordo é uma causa de exclusão da tipicidade. Afastar a tipicidade não é o mesmo que
afastar a ilicitude. O acordo é uma causa que torna os factos atípicos, temos acordo quando
não existe qualquer compressão de um interesse juridicamente protegido, porque no
consentimento há uma compressão de um interesse juridicamente protegido. Criminalidade
sexual e casos do artigo 190º, são sempre casos em que não faz sentido falar de
consentimento.

Requisitos artigo 38º : Tem de estar em causa interesses juridicamente protegidos e tem de ser
livremente disponíveis (limite dos bons costumes e dos meios utilizados). Seriedade, liberdade,
capacidade para se prestar o consentimento, artigo 38º, para além disso, temos o requisito
subjetivo, artigo 38º nº4.

Caso Prático:

1) Luís encontra-se anestesiado no hospital, com quem contratou uma intervenção cirúrgica
que consiste em submeter-se a uma incisão profunda ao longo de toda a face, de maneira a
criar uma cicatriz de grande dimensão que lhe dará – na opinião do próprio – um aspeto mais
rebelde e atraente. A enfermeira Marta, que detesta Luís e que desconhece os motivos pelos
quais ele está no hospital, ao vê-lo anestesiado e sozinho antes da intervenção, aproveita para,
com um bisturi, lhe fazer um longo corte na face, em termos que acabam por ser idênticos –
sem ela o saber – àqueles que ele havia solicitado. Pronuncie-se sobre a responsabilidade
penal de Marta, fundamentando a sua resposta legal e doutrinalmente.

Resolução:

No caso exclui-se desde logo o acordo. Estamos perante um caso de consentimento, faltando
desde logo o requisito subjetivo, conforme artigo 38º nº4. Aqui teriam de ser utilizados tantos
os requisitos do artigo 38º e do 149º.

Caso Prático:

2)Ana vê a casa da sua vizinha Berta vazia e, no intuito de estragar as tulipas que ela tem
plantadas no quintal, aponta a mangueira de pressão contra as mesmas. Ao proceder deste
modo, Ana danifica efetivamente as tulipas, mas acaba por afugentar, sem o saber, uma
doninha que se preparava para atacar e matar o coelho de estimação de Berta, que se
encontrava no mesmo local, e por quem Berta nutre um grande afeto. Prova-se em tribunal
que o valor pecuniário das tulipas e do coelho é sensivelmente igual. Pronuncie-se
fundamentadamente sobre a responsabilidade penal de Ana pela danificação das tulipas (art.
212.º do CP).

Requisito:

No caso concreto está em causa um consentimento presumido, artigo 39º. OS requisitos


objetivos estão todos verificados. Falta o requisito subjetiva.

Caso prático:

1) Alberto corre atrás de Beatriz com uma faca para a matar. Beatriz vê um automóvel com a
chave na ignição e entra imediatamente no mesmo, pondo-o em andamento para escapar à
fúria homicida de Alberto. Carlos, proprietário do veículo, que chegava a casa de mota, julga

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que Beatriz está a furtar o seu automóvel e, com a mota, provoca intencionalmente um
acidente para travar a “fuga”, levando a que Beatriz embata contra um poste de eletricidade,
sofrendo ferimentos de alguma gravidade no tórax e na cabeça. Entretanto, Alberto havia
fugido do local. Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Beatriz e de Carlos.

Resolução:

O crime que a Beatriz poderia estar a cometer era um crime de fruto de veículo, artigo 208º.
No caso concreto, está em causa o direito de necessidade, no caso, ela está a comprimir um
interesse de um terceiro. Requisitos quer objetivos estão cumpridos, o requisito subjetivo está
também cumprido. Quanto ao Carlos está em causa um erro, no caso não há agressão há erro.

Direito penal II 31/05/2022

Outras causas de justificação


Apesar de termos causas de justificação previstas na parte geral do CP, que se aplicam à
material penal existem, no entanto, outras causas de justificação previstas fora da lei penal.

Art. 142º CP

Direito de correção- tem como finalidade corrigir/emendar/educar. Finalidade educativa. Por


via dessa finalidade a questão do direito de correção foi discutida a nível de responsabilidades
parentais do direito de família e a nível da relação professor – aluno.

Em relação às responsabilidades parentais é lícito consoante a proporcionalidade do castigo.

Quando falamos em direito de correção devemos ver com que finalidade é que o castigo foi
utilizado e se esse meio é proporcional ao fim visado, tem que haver uma ponderação.

Culpa- tipos dolosos


(elementos subjetivos)
Causas de justificação:

1. Excluí a ilicitude- daqui resulta a prática de um facto típico, mas lícito;


2. A falta de ilicitude nos crimes cometidos em participação criminosa é comunicada
a todos os comparticipantes, ou seja, (ex: temos A B C a atuar, mas só em relação ao A
é que se verifica os requisitos do art. 34º, portanto, a conduta deste seria licita, mas a
de B e C não é licita. Como estamos perante uma questão justificação de ilicitude esta
pode comunicar-se, e sendo assim aplica-se também a B e C);
3. Não se aplicam nem penas, nem medidas de segurança;
4. Atuação licita- falta o requisito da ilicitude logo, nunca pode atuar ao regime da
legítima defesa

Causas de exculpação:

1. Excluí a culpa- daqui resulta a prática de um facto ilícito, mas não culposo
(portanto, como não há pena sem culpa, quer dizer que o agente aqui não é punido,
mas por outro argumento- falta de culpa);
2. Aqui a culpa é pessoal logo, a falta de culpa de um, nos casos de comparticipação
criminosa, não se aplica aos demais comparticipantes. Se não se comunica a culpa,
também não se comunica a falta dela;
3. Se não há culpa nunca se aplica uma pena, mas pode ser aplicada uma medida de
segurança caso estejamos perante um facto praticado por um inimputável.
4. Atuação não culposa, mas ilícita

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- Elementos do juízo de culpa/ negação da culpa:

1. Imputabilidade /inimputabilidade- (tem que se começar por uma destas);


2. Dolo ou negligência em relação ao mesmo facto;
3. Exigibilidade/ inexigibilidade;
4. Consciência da ilicitude do facto praticado/ falta de consciência da ilicitude (art.
17º CP)
(são cumulativos)

- Só o art. 17º nº1 CP é que é causa de exclusão da culpa, porque é este que diz “age
sem culpa quem…”.
- Se o erro já for censurável vamos para o art. 17º nº2 CP.

Como distinguir erro censurável de erro não censurável?

Erro censurável é um erro não desculpável. O erro não censurável, por sua vez, é desculpável
no sentido em que é admissível.

Isto considera-se com base na consciência reta do agente, ou seja, temos que ver se estamos
perante um agente que por norma não desobedece às regras.

Art. 173º CP

Ex: A tem relações sexuais consentidas com B, confiante que este tinha, pelo menos, mais de
16 anos. No entanto, não tem.

A é imutável, mas não agiu com dolo. Então caímos no art. 16º nº1 CP que diz que o dolo não
chega a ser formado.

- Inimputabilidade (art. 20º CP)

Conjugação do nº2 com o nº3- Imputabilidade diminuída- estamos aqui perante situações em
que alguém pode ser declarado inimputável (pode, não diz que tem que ser). Como é que o
tribunal vai decidir se o declara imputável ou inimputável? Isto é importante porque vai ter que
decidir se vai-lhe ser aplicada uma pena ou uma medida de segurança. O critério que o tribunal
vai seguir encontra-se no nº3, ou seja, o tribunal vai averiguar se o arguido vai compreender o
sentido da pena, porque lhe está a ser aplicada, para quê? e, se fizer o prognóstico, se
eventualmente aquele arguido se vai deixar influenciar num sentido de sair melhor da prisão e
capaz de não voltar à atividade criminosa. Se concluir isto declara-se imputável, caso contrário,
ou seja, se concluir-se que não vai compreender o sentido da pena, é considerado inimputável
aplicando-lhe uma medida de segurança.

Nº4- actiones liberae in causa-> ações livres na causa- tem a ver com a questão de o agente
atuar em situação de inimputabilidade, mas por si provocada voluntária e deliberadamente e
com um propósito muito próprio e específico que é o de atuar nesse estado inimputabilidade
praticando um crime e para depois vir alegar o estado de inimputabilidade a seu favor. O
legislador no nº4 diz-nos que a sanção para esses casos é ser tratado como sendo um
imputável, uma vez que, que o facto era evitável.

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Como contrapartida e situação diferente é crime autónomo, que se encontra previsto no art.
295º CP- alguém, ou por dolo eventual ou por qualquer forma de negligência, se colocar num
estado de inimputabilidade, nestas circunstâncias a prática do facto ilícito tipo é uma condição
objetiva da punibilidade neste crime, portanto, verificados estes elementos, se alguém, por
exemplo: atear um incêndio a uma montra, vai responder pelo facto ilícito no art. 295º nº1 CP
e não pelo crime do incêndio. Se o fato ilícito for público, o crime e adota a característica de
crime público, se for semipúblico, adota a característica de semipúblico e se for particular,
adota a característica de particular.

Aula direito penal (Teórica) 06/06/2022

Causas de exculpação

Culpa – Elementos da negação da culpa --------- Endógena (está dependente do agente):

1 ) Inimputabilidade (20º CP);

2) Inexigibilidade /Falta de consciência do ilícito não censurável (artigo 17ºA) – É uma causa de
exclusão da culpa que não era dependente do agente, não está relacionada com o agente (É
exógeno) – Como se determina e como funciona – Em função das circunstâncias que rodeiam o
caso em concreto nós não podemos exigir daquela pessoa coisa diferente, porque nós não
podemos exigir que as pessoas sejam heróis e na verdade à maior parte das pessoas na
situação daquele agente faria o mesmo – logo não lhe é exigível.

Exemplo: A tem a filha morrer e ao ver que o INEM demora, ele pega num carro que ali vê e
leva a filha ao hospital – ora, a maior parte das pessoas faria o mesmo, mas aqui ele age de
boa-fé. O crime seria a do artigo 20º 8, mas as circunstâncias fazem com que não se aplique ao
artigo 208º, nós não lhe podemos exigir que ele pratique uma conduta diferente - É inexigível.

Artigo 20º nº4 – Ele mete-se nesse estado propositadamente é punido pelo crime que
cometeu;

ISTO É DIFERENTE DO

Artigo 295º - Por beber muito cometeu o facto X é punido pelo crime do artigo 295º (não se
colocou em embargos de propósito).

- A inexigibilidade não pode ser aplicada como causa geral da justificação, só pode operar junto
das outras causas, artigo 33º nº2 e artigo 35º nº1, artigo 37º.

Artigo 33º nº2 – Estas pessoa ficam perturbadas e esta perturbação não é censurável, logo não
podemos exigir a essas pessoas uma conduta diferente, não lhes é exigível – Causa de exclusão
da culpa que consubstancia a inexigibilidade.

Artigo 35º nº1 – Estado de necessidade desculpante (Subjetivo) – Age sem culpa, cometeu um
facto típico e ilícito. Requisitos estado de necessidade desculpante, perigo atual, que não seja
removível de outro. A ameaça tem que recair sob a vida, a integridade física, a honra ou a
liberdade. E não deve ser razoável exigir ao agente segundo as circunstâncias do caso (ou
externas) comportamento diferente. Pois a maior parte das pessoas atuaria daquela forma.

Artigo 35º nº2 – Não é causa de exclusão da culpa – Requisito – Ameaçar, perigos, é diferente
do número anterior, tem de se verificar todos os requisitos anteriormente elencados (artigo
35º nº1). A pena pode eventualmente ser atenuada ou dispensada (artigo 74º). Vamos declará-
lo culpado, mas pode o tribunal atenuar, artigo 74º ou dispensar a pena (artigo 73º).

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Artigo 37º - Obediência indevida desculpante – O funcionário que cumpra uma ordem (de um
superior), mas que não saiba que essa ordem conduz à prática de um crime, mas isso não é
evidente no quadro das circunstâncias normais, ou seja, não é exigível ao agente que não
sendo isso evidente (que ia cometer um crime) não lhe é exigível um comportamento
diferente.

Exemplo: A patrão de B e envenena a comida que B ia levar a C e diz-lhe para a levar lá. Ora,
isto não era evidente a B, ele não sabia que a comida estava envenenada, logo estava no
âmbito do artigo 37º e também não lhe era exigível fazer coisa diferente daquela que ele fez,
porque evidentemente ele não tem como saber se a comida está envenenada ou não.

Falta de consciência do ilícito não censurável – artigo 17º nº1 – Quando o agente atua sem
consciência do ilícito, age sem culpa(dolo) se o erro não lhe for censurável.

Artigo 17º nº2 – O erro ser censurável, o agente vai ser punido pelo crime doloso consumado,
mas poderá ver a sua pena atenuada, artigo 73º.

Erro não censurável VS Censurável

Segundo o professor Figueiredo Dias, o erro não censurável diz respeito à atuação do agente
segundo a consciência reta; respeitando os valores essenciais.

Por outro lado, o erro censurável, atua com desprezo em relação aos valores, qualquer meio
justifica os fins.

Crimes de omissão/omissivos

Nestes podemos distinguir as omissões puras ou próprias (crimes de mera omissão) das
omissões impuras ou impróprias (crimes de resultado) ou crimes comissivos por omissão.

O agente pratica um crime de omissão quando nada faz e desse nada fazer resulta na prática
de um crime.

Omissão pura ou própria – O tipo incriminador que pune a omissão em si, logo é
independente da verificação de qualquer resultado, porque essa mesma norma incriminadora,
não tem na sua tipicidade e nos seus elementos constitutivos qualquer verificação de
resultado. São crimes de mera omissão, omissão pura ou própria (não necessita de resultado).
Exemplo: Artigo 200º (omissão de auxílio); artigo 200º nº1 – Elementos constitutivos. Estas
omissões nunca são crimes de resultado, exemplo, artigo 284º (recusa médica) – crime
específico próprio e é um crime de mera omissão/puro/próprio. O artigo 285º é apenas
agravante.

Omissão pura ou imprópria – São crimes de resultado, temos como exemplo, o dano,
homicídio, ofensa à integridade física. O resultado é um elemento constitutivo do tipo legal,
mas este resultado tem origem numa omissão: - Punimos a omissão e daquela não omissão
provocou um resultado, exemplo, artigo 131º (homicídio). Mas como? – Princípio da legalidade
(quem matar, pressupomos matar por ação, não por omissão), artigo 1º nº3 CP. Como vamos
acrescentar a parte da omissão? – Através do artigo 10º nº2 do CP – Crimes comissivos por
omissão, artigo 10º nº2, crimes de resultado por omissão (imprópria ou impura) só é punível se
sobre o agente recair um dever jurídico de atuar – Dever de garante de não produção do
resultado típico. Exemplo: Artigo 131º homicídio, crime praticado por ação, mas pode ser
praticado por omissão sempre? Não quando for punível por omissão será uma omissão
imprópria ou impura. Então para punirmos por omissão, o artigo 131º temos que o conjugar

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com o artigo 10º nº2, mas é necessário que o agente tivesse o dever jurídico de atuar, o dever
de garante de não produção do resultado típico. O agente é punido porque não atuou, não
evitando que aquele resultado se verificasse, artigo 131º + artigo 10º nº2.

Nexo causal aqui pergunta-se caso o agente tivesse atuado como podia e devia o resultado ter-
se-ia produzido ou não:

- Se sim, é porque não foi a sua omissão que provocou aquele resultado;

- se não, então é porque foi a sua omissão que provocou o seu resultado.

Exemplo: A é acamado em casa e B seu filho foi de férias e não quis saber, A morre de fome e
também de sede. Efetivamente B não o matou, mas se ele tivesse atuado o resultado morte,
não se teria produzido (artigo 131º + artigo 10º nº2), podia simplesmente contratar alguém
mas não o fez e sobre ele recaia o dever jurídico de atuar, o dever de garante de não produção
do resultado típico.

Então nestes casos nós vamos ter no artigo131º conjugado com o artigo 10º nº2 – “Quem
matar, por omissão ou ação”.

Exemplo: A faz bulling com B e C grava, desta conduta, B fica ferido. C vai ser punido por
ofensas à integridade física por omissão (artigo 143º e 10º nº2) e C tinha que atuar e não
atuou.

Se por exemplo, estivermos perante um crime do artigo 284º (omissão pura ou própria), mas
se se provar que a pessoa morre dessa conduta, estabelece-se o nexo de causalidade e o
resultado vai ser agravado pelo artigo 285º.

Aula direito penal (Prática) 08/06/2022

Negligência e omissão

Temos outras formas de praticar factos que também são relevantes para o direito penal temos:

- A tentativa;

- Negligência - Não quer fazer mal, mas acaba por fazer.

Estas duas são completamente incompatíveis.

Podemos ter crimes dolosos consumados por ação; crimes dolosos por omissão; crimes
dolosos tentados por ação; crimes negligentes consumados por ação; crimes negligentes
consumados por omissão.

Negligência , o que a compõe:

- Violação de um dever objetivo de cuidado (Pode ser por ação ou por omissão) + Previsão (se
for uma negligencia consciente) ou previsibilidade (se for uma negligencia inconsciente) da
produção de um resultado típico e ilícito que geralmente se consuma. De notar que, por vezes
no momento da prática do facto o agente não viola nenhum dever objetivo de cuidado, o
agente é considerado negligente no momento em que aceita desempenhar a tarefa para a qual
não tinha capacidade. Há assim negligência na aceitação ou na assunção do risco.

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Negligência grosseira, tanto pode ser consciente como inconsciente. Os crimes ligados à
negligência grosseira são entre outros o artigo 137º nº2 CP. ESTE NÃO É UM TERCEIRO TIPO DE
NEGLIGÊNCIA.

Negligência e omissão - casos práticos

Negligência:

1) Por preguiça, Custódio não leva o seu automóvel à revisão há mais de três anos. Certo dia,
conduzindo em direção à praia, passou por uma povoação. Vendo que um peão atravessava a
estrada numa passadeira, tentou travar, mas o veículo não lhe obedeceu, pelo que atropelou
Daniela, causando-lhe ferimentos ligeiros. Inspecionando o carro, viu-se que o acidente se
ficou a dever ao desgaste das pastilhas dos travões. Pronuncie-se sobre a eventual
responsabilidade penal de Custódio pela ofensa à integridade física de Daniela, justificando,
legal e doutrinalmente, a sua resposta.
Resolução:

2) Camilo é neurocirurgião chefe e realiza no doente Ernesto uma operação intracraniana de


grande melindre. Encontrando-se cansado, Camilo pede a Delfina, que está no primeiro ano da
especialidade de neurocirurgia e o acompanha, que o substitua durante meia hora, enquanto
vai tomar um café e espairecer. Quando Camilo voltou à sala de operações, já não foi a tempo
de evitar a morte do paciente: Delfina pusera todo o seu empenho, mas de facto não possuía a
experiência do seu chefe e não conseguira resolver uma complicação entretanto surgida.
Refira-se, fundamentando a sua resposta, à eventual responsabilidade de Camilo e de Delfina
pela morte de Ernesto. Centre-se no problema da negligência.

Resolução:
O camilo poderia ser condenado por homicídio por omissão, tinha obrigação do dever de
vigilância.
Quanto à Defina é uma assunção do risco , ela foi negligente no momento em que aceitou
desempenhar uma tarefa para as quais ainda não tinha competência.

Omissão

No que concerne à omissão tem 2 tipos:


- Omissão pura - É punido pelo simples facto de não ter feito uma coisa que o legislador
entende que deveria ter feito, independentemente de isso ter tido alguma consequência, é-se
punido pura e simplesmente por não ter feito uma dada coisa, artigo 200º CP; artigo 138º nº1
alínea b) CP abandono; artigo 190º; artigo 284º;
- Omissão Impura – Aqui não punimos só a omissão, punimos o agente que por não ter feito
determinada coisa, acabou por desencadear um resultado, ou pelo menos se ter querido
desencadear determinado resultado. Requisitos (4 requisitos): Estes crimes não estão previstos
por omissão, estão criados como crimes por ação, aos quais juntamos uma cláusula de
equiparação que está no artigo 10º nº2, exemplo, artigo 131º + 10º; outro requisito é que
tenha de ser um crime de resultado (não pode ser um crime de mera atividade, CR é um crime
cuja consumação depende da produção de um resultado típico); outro requisito é que tenha de
ser um crime de execução livre, não pode ser de execução vinculado, aqui o que interessa é
que exista o resultado seja lá de que maneira seja, por ação ou por omissão; por fim o
omitente tem de estar investido numa posição de garante, ou seja, o omitente tem de ser uma
pessoa que naquele caso tinha a obrigação de salvar o bem jurídico.

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Fontes do dever do garante:


- Lei – Eu pela lei tenho uma obrigação e garantia relativamente aos meus pais, tenho o dever
de prestar alimentos caso precisem;
- Contrato – Aqui por exemplo, contratamos um guarda-costas e disse-lhe o seu horário é das
9-17h e foi às 17h e 5 minutos, alguém furioso está para vir na minha direção para bater, o
segurança vê e não faz nada porque o horário dele já acabou, aqui o contrato tem alguma
elasticidade, aqui a relação fáctica de confiança implica que haja algum cuidado;
- Ingerência – Aqui tem de se ter primeiro por ação provocado a situação de perigo, por
exemplo, eu provoquei um acidente, então tenho uma obrigação maior de socorrer as vítimas.
Estas 3 são as fontes tradicionais, temos outras fontes que vamos juntando:
- Dever de vigilância – Exemplo, o guarda de vigilância tem este dever relativamente aos seus
reclusos;
- Domínio da fonte de perigo – Exemplo, sou a dona de uma fábrica de uma empresa que
emite gases poluentes, tenho aqui um dever de saber que está tudo conforme para fazer
funcionar uma empresa que é altamente perigosa;
- Monopólio de facto – Aqui exige-se que seja a pessoa melhor colocada para a defesa do bem
jurídico, por exemplo, estou numa festa com muita gente e vejo uma pessoa a afogar-se na
piscina, aqui eu tenho um monopólio de facto que inste numa obrigação de agir porque fui a
pessoa que me apercebi, se souber nadar que salte para a piscina e que o salve, se não souber
nadar se não for mais gritar a avisar que está alguém a afogar-se.

Imputação do resultado à omissão


Aqui aplicam-se as 2 teorias:
- Teoria da adequação – Vamos ver se é normal e previsível, que daquela omissão advenha
determinado resultado;
- Teoria da conexão do risco – Aqui o resultado será imputado à sua conduta se se puder dizer
com uma probabilidade próxima da certeza de que, se o omitente tivesse agido, da sua ação,
teria resultado o afastamento do risco ou pelo menos a sua diminuição.
NOTA: Em caso de concurso entre omissão pura e omissão impura, iremos punir o agente por
omissão impura porque esta é mais grave.

Casos práticos:

Omissão:

1) A costuma sair à noite. Há cerca de um mês, estando a regressar a casa, cerca das 5h da
manhã, apercebe-se da presença de um carro caído numa ravina e do choro de uma pessoa.
Cansado, decide prosseguir o seu caminho e ir dormir. No dia seguinte, ouve no telejornal que
B, condutor do veículo que caíra na ravina, acabou por ser encontrado apenas cerca das 8h,
tendo sido ainda transportado para o hospital, mas tendo acabado por falecer. Supondo que
não existia mais ninguém no local quando A se apercebeu do acidente de B e que o resultado
da autópsia vem a comprovar que se B tivesse sido socorrido mais cedo, teria sobrevivido,
refira-se à responsabilidade penal de A neste caso, fundamentando legal e doutrinalmente a
sua resposta.

Resolução:

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2) Quando parou o seu carro num semáforo, António, de 18 anos, foi abordado por Bruna, que
lhe propôs terem uma relação sexual no carro em que António seguia, a troco de dinheiro.
Tendo chegado a acordo quanto ao valor a pagar por António em troca do serviço, Bruna
entrou no carro, tendo António ido com ela para um sítio ermo, onde realizaram um ato de
cópula. Logo após Bruna ter saído do carro de António, este apercebeu-se de que ela lhe
subtraiu o seu telemóvel. Vendo que Bruna se preparava entrar num bosque, onde seria quase
impossível apanhá-la, António disparou sobre ela, atingindo-a numa perna, com o intuito de
impedir que fugisse com o telemóvel. Embora tendo visto que Bruna sangrava
abundantemente e não tivesse consigo qualquer meio para pedir auxílio, António, depois de
recuperar o seu telemóvel, abandonou Bruna à sua sorte, tendo ela acabado por morrer.
Tendo-se demonstrado que Bruna poderia ter sobrevivido se tivesse sido chamada uma equipa
de emergência médica, poderia António responder por homicídio (artigo 131.º do CP)?

Resolução:

O primeiro facto que ocorre aqui é ela tirar o telemóvel

3) A, proprietário de um carrossel, permanece ao pé do mesmo, vendendo bilhetes e ativando


o botão de ligar e desligar. De repente, vê que B, que se encontra a andar numa das cadeiras
giratórias do carrossel, cai e fica com o relógio preso no maquinismo que faz girar a cadeira. A
mantém o carrossel em funcionamento. No fim, B sai do carrossel com graves ferimentos num
braço. Quid Iuris?

Resolução:

4) Após um violento terramoto que destruiu toda a aldeia, A resolveu ir para a rua. Enquanto
vagueava pelas ruas viu várias pessoas no meio dos escombros que lhe pediram ajuda. Porém,
indiferente a tudo o que observava, A nem sequer socorreu B. Provou-se que se A tivesse de
imediato tirado B dos escombros (o que era fácil atenta a situação em que B se encontrava), B
teria sobrevivido apenas com pequenas lesões nas pernas. No entanto, B morreu. Poderá A ser
responsabilizado pela morte de B?

Resolução:

5) No passado domingo, A, monitor de um campo de férias sénior, passeava à beira-mar na


Figueira da Foz quando se apercebeu que B, no mar, pedia socorro. B era um dos idosos desse
mesmo campo e que tinha ido para a praia com o restante grupo e com monitores, entre os
quais A. A bandeira estava vermelha e o mar estava revolto. A continuou o seu passeio, sem
nada fazer. B acaba por morrer.
a) Quid Iuris?
Resolução:

b) Quid Iuris, supondo que A vem alegar não se ter apercebido tratar-se de um dos idosos do
seu grupo?
Resolução:
No caso concreto há erro sobre a factualidade típica, eu não queria cometer crime nenhum,
mas acabei por cometer, por omissão, este é um erro que se exclui o dolo tipo, irá ser punido
por negligência.

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c) Quid Iuris, supondo que A vem alegar que, embora tendo-se apercebido que se tratava de
um dos idosos do seu grupo, não imaginou ter obrigação de o ajudar quando, livremente, B
decidiu entrar no mar perigoso?
Resolução:
Neste caso, temos um erro sobre a licitude, artigo 17º, irá ser punido por homicídio por
omissão doloso consumado.

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