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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VANDISA MARIA FROTA AZEVEDO MOURA e esaj.tjce.jus.

br, protocolado em 10/04/2020 às 21:38 , sob o número 02800122320208060115.


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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0280012-23.2020.8.06.0115 e código 646A57D.
1ª Promotoria de Justiça de Limoeiro do Norte
EXA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA _____ VARA DA COMARCA DE LIMOEIRO DO
NORTE - CE

“Os agentes públicos de qualquer nível ou


hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade no
trato dos assuntos que lhe são afetos.” (Art. 4º
da Lei 8429/1992)

“As disposições desta lei são aplicáveis, no


que couber, àquele que, mesmo não sendo
agente público, induza ou concorra para a
prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.” (Art. 3º do mesmo diploma legal)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, por seu representante ao


final subscrito, no uso de suas atribuições e com fulcro nos termos do art. 129, incisos II,
III e VII da Constituição Federal, da Lei nº 8.429/92 e, ainda, em observância ao art. 6º,
inciso XIV, letra "f" da Lei Complementar 75/93, comparece perante V. Exa. para propor
a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, em
face de

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA D E LIMOEIRO DO NORTE-CE


Rua João Maria de Freitas, nº 1147 – Bairro, João XXIII – Limoeiro do Norte-CE
Fone: (88) 3423-6245 / E-mail: 1prom.limoeirodonorte@mp.ce.gov.br
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1. CARLOS MARCOS DE SOUSA NUNES, vulgo "BARÃO", brasileiro, vereador,
filho de Francisco Sousa Nunes e Homero de Castro Nunes, inscrito no CPF
sob o n.° 058.031.283-68, residente na Coronel JOSE NUNES, 508 CENTRO,
Limoeiro do Norte;

2. JOSÉ VALDIR DA SILVA, vulgo "VALDIR DO SUBURBÃO", brasileiro,


vereador, filho de Zenilda Fernandes da Silva e Francisco Inácio da Silva
Filho, inscrito no CPF sob o n.°355.585.393-72, residente na Rua Padre
Custódio, 013, Apt. S, Centro de Limoeiro do Norte;

I – DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Os Senhores CARLOS MARCOS DE SOUSA NUNES, vulgo "BARÃO" e JOSÉ


VALDIR DA SILVA, vulgo "VALDIR DO SUBURBÃO" vereadores de Limoeiro do Norte,
realizaram a eleição para Presidente da Câmara Municipal, em afronta princípios
Constitucionais da legalidade, moralidade e impessoalidade, além de incorrer no crime
de corrupção, ao aceitarem e/ou negociarem propina ofertada por empresários locais.

A Lei de Improbidade Administrativa estatui, no seu art. 2 o :

“Art. 2 o Reputa-se agente público, para os efeitos desta


lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior.” (Grifei)

E, em seu art. 3º, a mesma lei estatui que:

“As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,


àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.”

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A mesma Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992),


expressamente, dispõe sobre a obrigação dos agentes públicos quanto à
probidade na conduta das suas atribuições legais, verbis:

Art. 4 º Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia


são obrigados a velar pela estrita observância dos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e
publicidade no trato dos assuntos que lhes são afetos.

Ante o exposto, estreme de dúvida a legitimidade passiva dos


Promovidos, pelos atos atentatórios aos principios constitucionais, como se
demonstrará a seguir.

II -DOS FATOS

O Ministério Público Estadual instaurou o Procedimento Preparatório n.°


001/2019, em virtude do teor dos fatos narrados nos documentos de fls. 08/09 e 11/14,
encaminhados pelo Sr. GLEYDSON RAMON ROCHA CHAVES (o então Presidente da OAB
– Subseção de Limoeiro do Norte/CE), dentre os quais, consta uma nota de repúdio
(fl.14) aos Promovidos, por conta do teor de uma conversa travada entre dois deles, que
estariam negociando a escolha do Presidente da Câmara Municipal.
Em anexo à referida nota de repúdio, vieram alguns documentos, dentre
eles uma folha de papel (fl. 12) contendo os nomes dos líderes e/ou presidente das
chapas, bem como o voto de cada vereador.
Conforme se extrai da mencionada folha, na disputa pela presidência estaria
o vereador FRANCISCO JUSSIER BALTAZAR COSTA, vulgo “CHICO BALTAZAR”, e a
vereadora ÂNGELA MARIA PEREIRA DA SILVA, vulgo ANGINHA”, tendo esta última
logrado-se vencedora.

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Consta dos autos, mais precisamente à fl.13, uma mídia na qual consta um
áudio gravado pelo vereador JOSÉ VALDIR DA SILVA, VULGO “VALDIR DO SUBURBÃO”,
em uma conversa com o vereador CARLOS MARCOS DE SOUSA NUNES, vulgo “BARÃO”,
na qual o assunto era a eleição para mesa diretora da Câmara Municipal de Limoeiro do
Norte/CE.
A análise do áudio e sua transcrição indicaram a prática de atos que
implicou, em tese, Improbidade Administrativa e crime, pelo que o referido
Procedimento Preparatório fora convertido em Inquérito Civil Público
(nº06.2019.00000374-9).
Concluiu-se que a chapa liderada por FRANCISCO JUSSIER BALTAZAR COSTA,
vulgo “CHICO BALTAZAR”, foi apoiada por JOSÉ JAILTON OLIVEIRA BATISTA (JAILTON
DOS POSTOS SÃO MATEUS) e o atual Prefeito JOSÉ MARIA LUCENA; e a chapa liderada
por ÂNGELA MARIA PEREIRA DA SILVA, vulgo ÂNGINHA” foi apoiada por ANTÔNIO
IBERNON MAIA (Empresário do Milho) e a Primeira-Dama MARIA ARIVAN DE HOLANDA
LUCENA.
Extraiu-se do citado áudio (mídia de fl. 13 e transcrição de fl. 17/19), que
dias antes das eleições houve uma reunião entre o candidato CHICO BALTAZAR, os
vereadores apoiados e supostamente “comprados” por JAILTON, o próprio JAILTON,
EDERSON CLEYTON, vulgo “PIMPÃO”, o qual é Secretário Municipal de Agricultura, para
tratarem da eleição que se aproximava, possivelmente sobre a venda dos votos e/ou
troca de favores.
Do mesmo modo, a candidata “ANGINHA”, e os vereadores apoiados e/ou
“comprados” por ANTÔNIO IBERNON MAIA, fizeram, em grupo, uma viagem com
destino a Mossoró/RN, para tratarem do mesmo assunto. De lá, foram a uma praia,
onde ocorreram as tratativas e combinações de votos, retornando a esta cidade apenas
no dia em que ocorreu a eleição.
Como se não bastasse tamanha imoralidade, verificou-se, ainda, do referido

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áudio, a corrupção “escancarada”, vez que BARÃO diz a VALDIR DO SUBURBÃO que lhe
dará dinheiro, isso no intuito de que ele desista da sua candidatura, pois ele sendo
candidato correria o risco da chapa de ANGINHA perder a disputa (vide fl. 19).

Vale salientar a parte final do áudio onde BARÃO diz “ele disse que ajeitava
pra você”, ele possivelmente seria IBERNON, apoiador e interessado na vitória de
ANGINHA.
Pelo contexto acima descrito é fácil inferir que a aludida eleição, em
realidade, feriu os princípios Constitucionais da legalidade, moralidade e
impessoalidade, além da corrupção, devendo todos que participaram da farsa serem
punidos pelos seus atos.

O escândalo de corrupção envolvendo os parlamentares e empresários


locais logo circularam nos meios sociais, não sendo outra reação senão o repúdio e
chacota, tendo matérias do site https://noticiarioce.com.br/ e outros (vide fls. 50/51).
Como se não bastasse tudo isso, em 11/04/2019, compareceu nesta
Promotoria de Justiça de Limoeiro do Norte a pessoa de RAIMUNDO LIMEIRA DE
AZEVEDO, que narrou possíveis esquemas de corrupção e licitações viciadas ocorridas
na Câmara Municipal de Limoeiro do Norte (fls. 17/18), COM CLARO DIRECIONAMENTO
DAS LICITAÇÕES PAR AQUELES QUE "FINANCIARAM" AS ELEIÇÕES DA CÂMARA. Tanto
que as empresas "vencedoras" das licitações cujos objetos são fornecimento de
combustíveis e serviço de comunicação, foram aquelas de propriedade do empresário
JOSÉ JAILTON (fls.22/24).
Todo o exposto demonstra que a eleição daquela mesa diretora foi realizada
de forma imoral e ilegal, o que causou indignação e repúdio da sociedade Limoeirense,
tendo como objetivo a prática de atos ilícitos, favorecendo empresas em licitação,
burlando a lei e, com isso, causando prejuízo aos cofres públicos e enriquecimento ilícito
aos envolvidos.

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III – DO DIREITO

A probidade administrativa, considerada uma forma de moralidade


administrativa, consiste no dever de servir à Administração com honestidade,
procedendo no exercício das suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades
deles decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer1.
Ao agente público, no exercício de suas funções, somente é permitido
auferir as vantagens previstas em lei. Não pode beneficiar-se de vantagem patrimonial
imerecida, derivada de propinas e/ou favores pessoal, alcançada mediante artimanhas
reprováveis sob o ponto de vista ético, moral e jurídico.
In casu, ficou provado que os réus “vereadores” receberam e/ou receberiam
indevidamente dinheiro e/ou outros benefícios em virtude do cargo ocupado, cujos
valores foram e/ou iriam ser pagos por terceiros os quais se beneficiariam com a vitória
da mesa diretora daquela Câmara.

O artigo 37, caput, da Constituição Federal, prescreve que a Administração


Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes constituídos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, estabelecendo-os, então, como
vetores da atuação do administrador público.

Sem dúvida os princípios da legalidade, impessoalidade e moralidade


administrativa foram violados, merecendo pois a reprimenda da lei. No dizer de PAULO
BONAVIDES:2

“as regras vigem, os princípios valem; o valor que

1 Marcelo Caetano, apud José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª ed., São Paulo:
Malheiros, p. 571.
2 Apud MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Constitucional, Malheiros, 5ª ed., 1994,
p.260.

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neles se insere se exprime em graus distintos. Os
princípios, enquanto valores fundamentais, governam
a Constituição, o regímen, a ordem jurídica. Não são
apenas a lei, mas o Direito em toda a sua extensão,
substancialidade, plenitude e abrangência”.

Para CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO:3

“Violar um princípio é muito mais grave que


transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao
princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
de inconstitucionalidade, conforme o escalão do
princípio atingido, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura
mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as
vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas
esforçada”.

Referido como um dos sustentáculos da concepção de Estado de Direito e


do próprio regime jurídico-administrativo, o princípio da legalidade vem definido no
inciso II do art. 5.º da Constituição Federal quando nele se faz declarar que: “ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

No campo da administração Pública, como unanimemente reconhecem os


constitucionalistas e os administrativistas, afirma-se de modo radicalmente diferente a
incidência do princípio da legalidade. Aqui, na dimensão dada pela própria
indisponibilidade dos interesses públicos, diz-se que o administrador, em cumprimento
ao princípio da legalidade, “só pode e deve atuar nos termos estabelecidos pela lei”.

Sobre o tema, vale trazer a ponto a seguinte preleção de CELSO ANTÔNIO


3 MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 5ª ed. 1994, p. 451.

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BANDEIRA DE MELLO4:

“Para avaliar corretamente o princípio da legalidade


e captar-lhe o sentido profundo cumpre atentar para
o fato de que ele é a tradução jurídica de um
propósito político: o de submeter os exercentes do
poder em concreto – administrativo – a um quadro
normativo que embargue favoritismos,
perseguições ou desmandos. Pretende-se através da
norma geral, abstrata e impessoal, a lei, editada pelo
Poder Legislativo – que é o colégio representativo de
todas as tendências (inclusive minoritárias) do corpo
social – garantir que a atuação do Executivo nada
mais seja senão a concretização da vontade geral”

MARCELO FIGUEIREDO5 comenta o conteúdo jurídico do princípio da


legalidade na administração pública, com as seguintes colocações.

“O princípio da legalidade é, sem dúvida, um dos


pilares do Estado Democrático de Direito. Ao lado
dele convive o princípio da supremacia do interesse
público ou princípio da finalidade pública. De fato, a
administração pública, ao cumprir seus deveres
constitucionais e legais, busca incessantemente o
interesse público, verdadeira síntese dos poderes a
ela atribuídos pelo sistema jurídico positivo,
desequilibrando forçosamente a relação
administração-administrado... A administração atua,
age, como instrumento de realização ao ideário
constitucional, norma jurídica superior do sistema
jurídico brasileiro. Assim, o agente público deve
atender aos interesses públicos, ao bem-estar da
comunidade. Sob o rótulo “desvio de poder”, “desvio
de finalidade”, “ausência de motivos”, revelam-se
todas as formas de condutas contrárias ao Direito,
prejudiciais ao administrado e violadoras, às vezes, da
própria Constituição. Há, em síntese, comportamento
4 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito administrativo. 7. ed. São Paulo: Malheiros Ed. p.
57.
5 MARCELO FIGUEIREDO. Probidade Administrativa, Editora Malheiros, 2a edição, 1997, p. 61/62

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ilegal ou ilegítimo. Aliás, o STJ deixou assentado que
“o desvio de poder pode ser aferido pela ilegalidade
explícita (frontal ofensa ao texto da lei) ou por
censurável comportamento do agente, valendo-se de
competência própria para atingir finalidade alheia
àquela abonada pelo interesse público, em seu maior
grau de compreensão e amplitude. Análise da
motivação do ato administrativo, revelando um mau
uso da competência e finalidade despojada de
superior interesse público, defluindo o vício
constitutivo, o ato aflige a moralidade administrativa,
merecendo inafastável desfazimento”. (Resp
21.156-0-SP, reg. 92.0009144-0, rel. Min. Milton Luiz
Pereira, j. 19.9.94). A norma em foco autoriza a
pesquisa do ato administrativo a fim de revelar se o
mesmo está íntegro ou, ao contrário, apenas
aparentemente atende à lei, se os motivos e seu
objeto têm relação com o interesse público, se houve
algum uso ou abuso do administrador, se a finalidade
foi atendida de acordo com o sistema jurídico; e
assim por diante”.

Nessa esteira, não há questionamentos de que os comportamentos dos réus


violaram o princípio constitucional da legalidade, pois conforme leciona o mestre CELSO
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO :

“... o princípio da legalidade é o da completa


submissão da Administração às leis. Esta deve tão
somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática.
Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o
que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da
República, até o mais modesto dos servidores, só pode
ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores
das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo,
pois esta é a posição que lhes compete no direito
brasileiro

6 MELLO, celso antônio bandeira de. Curso de Direito Administrativo, Malheiros Editores, 5ª edição,
1994, p. 48.

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DOS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE, IMPESSOALIDADE, HONESTIDADE E LEALDADE ÀS
INSTITUIÇÕES

Hoje, por força da expressa inclusão do princípio da moralidade no caput do


art. 37, a ninguém será dado sustentar, em boa razão, sua não incidência vinculante
sobre todos os atos da Administração Pública. Ao agente público, por conseguinte, não
bastará cumprir os estritos termos da lei. Tem-se por necessário que seus atos estejam
verdadeiramente adequados à moralidade administrativa, ou seja, a padrões éticos de
conduta que orientem e balizem sua realização. Se assim não for, inexoravelmente,
haverão de ser considerados não apenas como imorais, mas também como inválidos
para todos os fins de direito.

Isto posto, JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOSO7 fornece uma definição


desse princípio, hoje agasalhado na órbita jurídico-constitucional:

“Entende-se por princípio da moralidade, a nosso ver,


aquele que determina que os atos da Administração
Pública devam estar inteiramente conformados aos
padrões éticos dominantes na sociedade para a
gestão dos bens e interesses públicos”

Na lição do eminente mestre HELY LOPES MEIRELLES8 :

“A moralidade administrativa constitui, hoje em dia,


pressuposto de validade de todo ato da
Administração Pública (CF. art. 37, caput). Não se
trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito –
da moral comum, mas sim de uma moral jurídica,
entendida como “o conjunto de regras de conduta
tiradas da disciplina interior da Administração”.
Desenvolvendo sua doutrina, explica o mesmo autor
7 CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo
com a Emenda Constitucional n.º 19/98). IN MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição
Federal. São Paulo: Atlas, 1999 , p. 158.
8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. Cit., 21 ed. atualizada por Eurico de
Andrade Azevedo, Délcio Balestero e José Emmanuel Burle Filho. Malheiros, 1996.

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que o agente administrativo, como ser humano
dotado de capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto
do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o
elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que
decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o
injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno
e o inoportuno, mas também entre o honesto e o
desonesto. Por considerações de Direito e de Moral,
o ato administrativo não terá que obedecer
somente à lei jurídica, mas também à lei ética da
própria instituição, porque nem tudo que é legal é
honesto, conforme já proclamavam os romanos:
“non omne quod licet honestum est”. A moral
comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para
sua conduta externa; a moral administrativa é
imposta ao agente público para sua conduta interna,
segundo as exigências da instituição a que serve e a
finalidade de sua ação: o bem comum”.

MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO , com sua invulgar sabedoria, enfatiza:

“Sempre que em matéria administrativa se verificar


que o comportamento da Administração ou do
administrado que com ela se relaciona juridicamente,
embora em consonância com a lei, ofende a moral, os
bons costumes, as regras de boa administração, os
princípios de justiça e de equidade, a idéia comum de
honestidade, estará havendo uma ofensa ao princípio
da moralidade administrativa”

Arrematando JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO10 fornece a seguinte


definição do princípio constitucional da moralidade:

Entende-se por princípio da moralidade, a nosso ver,


aquele que determina que os atos da Administração

9 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 4a. ed., 1994, Atlas, p. 70.
10 CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com a
Emenda Constitucional n.º 19/98). In MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição Federal. São Paulo:
Atlas, 1999

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VANDISA MARIA FROTA AZEVEDO MOURA e esaj.tjce.jus.br, protocolado em 10/04/2020 às 21:38 , sob o número 02800122320208060115.
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Pública devam estar inteiramente conformados aos
padrões éticos dominantes na sociedade para a
gestão dos bens e interesses públicos, sob pena de
invalidade jurídica.

A probidade administrativa é uma forma de moralidade administrativa que


mereceu consideração especial pela Constituição, que por sua vez pune severamente o
agente o ímprobo (art. 37, §4.º, CF). Dessa forma, não se limita apenas a exigir a
invalidação – por via administrativa ou judicial – do ato administrativo violador, mas
também a imposição de outras consequências sancionatórias rigorosas ao agente
público responsável por sua prática.

Há de ser pontuado, também, que qualquer agente público, seja ele eleito,
concursado, indicado, etc., ocupa seu posto para servir aos interesses da população.
Assim, seus atos obrigatoriamente deverão ter como finalidade o interesse público, e
não próprio ou de um conjunto pequeno de amigos. Ou seja, deve ser impessoal. Deve o
servidor público, em todos seus atos, sempre observar o princípio da impessoalidade.

Por vezes o princípio da impessoalidade é tido por sinônimo do princípio da


finalidade, que por vezes também é tratado como uma espécie de impessoalidade.

Vejamos o sentido dado por HELY LOPES MEIRELLES11 ao princípio da


impessoalidade:

O princípio da impessoalidade, referido na


Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que
o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o
seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que
a norma de direito indica expressa ou virtualmente
como objetivo do ato, de forma impessoal.
(...)
11 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 15 ed., São Paulo:Revista dos Tribunais,
1990, p. 81.

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Desde que o princípio da finalidade exige que o ato
seja praticado sempre com finalidade pública, o
administrador fica impedido de buscar outro objetivo
ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros.

Já CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO12 estipula o caráter autônomo do


princípio da Impessoalidade, nos seguintes termos: “nele se traduz a idéia de que
Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas
ou detrimentosas”. Também comunga desse entendimento JUAREZ FREITAS13,

No tocante ao princípio da impessoalidade, derivado


do princípio geral da igualdade, mister traduzi-lo
como vedação constitucional de qualquer
discriminação ilícita e atentatória à dignidade da
pessoa humana. Ainda segundo este princípio, a
Administração Pública precisa dispensar um objetivo
isonômico a todos os administrados, sem discrimina-
los com privilégios espúrios, tampouco malferindo-os
persecutoriamente, uma vez que iguais perante o
sistema. (…).

A dizer de outro modo, o princípio da


impessoalidade determina que o agente público
proceda com desprendimento, atuando
desinteressada e desapegadamente, com isenção,
sem perseguir nem favorecer, jamais movido por
interesses subalternos.

O princípio constitucional da impessoalidade aplicado à administração


pública deve ser observado sob dois aspectos distintos: “o primeiro sentido a ser dado
à aplicação do princípio é o que ressalta a obrigatoriedade de que a administração
proceda de modo que não cause privilégios ou restrições descabidas a ninguém, vez

12 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 8 ed., São Paulo:Malheiros
Editora, 1996, p. 68.
13 FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. São Paulo: Malheiros,
1997, p. 64-65.

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que o seu norte sempre haverá de ser o interesse público; o segundo sentido a ser
extraído da vinculação do princípio à administração pública é o da abstração da
pessoalidade dos atos administrativos, pois que a ação administrativa, em que pese
ser exercida por intermédio de seus servidores, é resultado tão somente da vontade
estatal”.

3.1 DA APLICABILIDADE IMEDIATA E FORÇA NORMATIVA DOS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS.

Os princípios não representam apenas recomendações, são na verdade,


regras de caráter obrigatório, impositivos e de aplicação imediata. Tendo em vista que a
Constituição é norma superior, a qual toda a legislação infraconstitucional é
subordinada, com mais razão se deve respeito aos princípios, visto que é deles que se
extrai o próprio fundamento de todo o ordenamento jurídico.
Sem esse alicerce ou sem mecanismos que garantam sua efetividade, a
ordem constitucional torna-se vulnerável, com o risco de se aniquilar a própria base do
sistema jurídico.

3.2 DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ao estabelecer, a Constituição Federal de 1988, as sanções decorrentes dos


atos de improbidade, atribuiu à legislação ordinária a forma e a gradação das referidas
reprimendas. Justamente com o escopo de rechaçar a corrupção e a ineficiência da
administração, editou o legislador a Lei nº 8.429/92, a fim de evitar a deterioração da
máquina burocrática estatal.

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A Lei nº 8.429/92 criou um subsistema jurídico impondo como elementos da
responsabilidade por ato de improbidade, apenas e tão-somente, a simples prática de
conduta definida como ato ímprobo, lesivo, ao menos potencialmente, que exponha a
sociedade a risco decorrente de administração temerária, dispensando-se, destarte, o
dano efetivo. Há que se compreender que o objetivo colimado não é ressarcimento de
um único indivíduo, como rotineiramente pretende-se nas demandas de natureza civil,
mas evitar as práticas ímprobas.
Os atos de improbidade administrativa, tipificados pela Lei 8.429/1992, são
classificados em três categorias: os que importam em enriquecimento ilícito (artigo 9º),
os que causam prejuízo ao erário (artigo 10) e os que afrontam os princípios da
Administração Pública (artigo 11).
Comprovado também está o prejuízo ao erário e, o mais importante: a
vontade consciente dos denunciados em agir incorretamente, ao arrepio da lei. Vejamos
julgado Apelação Cível 5003488-40.2012.4.04.7102/RS.
"No tocante ao elemento subjetivo da conduta irregular,
oportuno reiterar que, para os atos enquadráveis no artigo 10
da Lei n.º 8.429/1992, basta a culpa em qualquer de suas
modalidades, somada ao dano ao erário, e, para os casos
previstos nos art. 9º e 11, é exigível o dolo genérico, para cuja
configuração é suficiente a simples vontade consciente de aderir
à conduta, produzindo os resultados vedados pela norma jurídica
– ou, ainda, a simples anuência aos resultados contrários ao
Direito quando o agente público ou privado deveria saber que a
conduta praticada a eles levaria".

A conduta dos agentes público promovidos, como já relatado acima,


caracterizou clara infração aos artigos 10 e 11 da lei 8429, senão vejamos.

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Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa


lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade e lealdade às instituições, e notadamente: (...)

Diante do exposto, resta comprovada a responsabilidade dos requeridos


pela ofensa ao art. 10 e 11, caput, da Lei nº 8.429, já que, voluntariamente, de forma
planejada e orquestrada, violaram o dispositivo da Constituição Federal, notadamente
aos princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade, abusando dos poderes que
detinham como vereadores e/ou apoiadores para manipularem a eleição para
Presidente da Câmara Municipal de Limoeiro do Norte, e como consequência acabaram
por beneficiar empresa em licitação do Poder Legislativo Municipal, o que causou
prejuízo ao erário, ainda que de forma culposa, ao desobedecer os ditames da Lei de
Licitações quanto a competição entre os licitantes e a escolha da melhor proposta,
acabando por beneficiar terceiro que participou do arranjo ilícito na eleição da
Presidência daquela casa.
Portanto, deve haver plena responsabilização por ato de improbidade
administrativa, e, consequentemente, a aplicação das sanções previstas no art. 12, II e
III, da citada Lei n° 8.429/92.

IV – DA MULTA CIVIL
Segundo o entendimento jurisprudencial e doutrinário, a multa tem como
pressuposto a prática de um ilícito, pressuposto este que restou perfeitamente

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demonstrado em todas as suas circunstâncias no presente caso.
É que a multa civil tem como função sancionar o comportamento ilícito
praticado, independente da ocorrência de perda patrimonial do erário, com nítida
função de caráter punitivo individual e preventivo em geral.
Em face das circunstâncias e da participação de cada promovido no esquema
fraudulento demonstrado acima, o Ministério Público entende adequada a aplicação de
multa (indenização por dano moral) civil de até 100 vezes a remuneração percebida
pelo requerido no cargo que exercia na data do fato e duas vezes o valor do dano.

V – DOS PEDIDOS
Em razão de todo o exposto, requer-se:
1. A notificação dos Demandados para, querendo, apresentarem
manifestação por escrito, nos termos do art. 17, parágrafo 7º, da Lei nº
8.429/92, com a observância de prioridade de tramitação no
expediente por se tratar de tutela coletiva envolvendo interesse difuso
de Defesa do Patrimônio Público (artigo 5º, LXXVIIII, da CF), com a
devida anotação na capa e rosto dos autos;

2. o recebimento da presente inicial, com a citação dos réus para


apresentarem contestações, no prazo legal;

3. a citação do Município, através de seu representante legal, para integrar


a lide nos termos do art. 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;

4. A notificação do município de Limoeiro do Norte, através de seu


representante legal, para atuar em litisconsórcio ativo, ao lado do Ministério
Público Estadual, caso entenda que isso se afigure útil ao interesse público,
nos termos do art. 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;

5. Que seja julgada antecipadamente a lide, por tratar-se de matéria que

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dispensa dilação probatória;

6. Caso não entenda V. Exa. pelo julgamento antecipado, protesta pela


produção de prova por todos os meios permitidos em Direito e,
especialmente, depoimento pessoal, oitiva de testemunhas, perícias e
posterior juntada de documentos;

7. A destinação da multa civil ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do


Estado do Ceará – FDID (conta corrente nº 23.291-8, operação 006, agência
919 – Aldeota, CEF, CNPJ 07.893.230/0001-76), de acordo o art. 13, da Lei
nº. 7.357/85, e o art. 3º, I e XVI, da Lei Complementar Estadual nº 46/2004;

8. seja, ao final, condenado os promovidos pela prática de ato de


improbidade administrativa, previsto nos artigos 10 e 11, caput, da Lei 8429,
com a consequente aplicação das seguintes sanções, conforme determina o
art. 12, inciso II e III da Lei nº 8.429/92.

Dá-se à causa, para fins meramente fiscais e por exigência legal, o valor de
R$ 1.000,00 (mil reais).

Termos em que,
Espera deferimento.

Limoeiro do Norte, 10 de abril de 2020

Vandisa Maria Frota Prado Azevedo


Promotora de Justiça Auxiliar - respondendo

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