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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina

- 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.


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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA
COMARCA DE ARARANGUÁ/SC

URGENTE – PEDIDO LIMINAR

SIG n. 08.2017.00281769-1
Distribuído por conexão1 aos Autos n. 0900101-64.2017.8.24.0004 (SIG n. 08.2017.00186760-8)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA,


por seu Órgão de Execução signatário, no exercício de suas atribuições legais, com
fulcro nos artigos 127, caput e 129, incisos II e III, ambos da Constituição Federal,
no artigo 25, inciso IV, "b", da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público) e artigo 17, caput, da Lei n. 8.429/1992, com embasamento no incluso
Inquérito Civil Público n. 06.2017.00004606-32, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR


ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
c/c pedidos de Declaração Incidental de Inconstitucionalidade de Lei Municipal e
Declaração de Nulidade de Processo de Dispensa de Licitação,
de Contrato Administrativo e de Processo Seletivo

1 NCPC, Artigo 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§1º. Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido
sentenciado. §3º. Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de
decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. Sobre o tema,
Daniel Amorim Assumpção Neves leciona: "No tocante à causa de pedir, a doutrina vem entendendo basatr que um de seus
elementos seja coincidente para que haja conexão entre as ações (seja os fatos ou dos fundamentos jurídicos). Esse
entendimento se coaduna com os objetivos traçados pelo conexão (economia processual e harmonia entre julgados),
abrangendo um número maior de situações amoldáveis ao instituto legal. Seria pernicioso ao próprio sistema a adoção de
entendimento restritivo, em virtude da raridade em que se verifica na praxe forense a situação de duas ações com pedidos
diferentes e exatamente a mesma causa de pedir (Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo. Salvador: Ed.
Jus Podivm, 2016, p. 79).
2 Todos os documentos citados nesta petição se referem à numeração do Inquérito Civil n. 06.2017.00004606-3.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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contra o MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ, pessoa jurídica de direito
público, inscrito no CNPJ sob o n. 82.911.249/0001-13, com sede na Prefeitura
Municipal de Araranguá, situada na Rua Virgulino de Queirós, n. 200, Centro,
Araranguá/SC, representado pelo Prefeito Municipal Mariano Mazzuco Neto;
MARIANO MAZZUCO NETO, brasileiro, casado, Prefeito Municipal
de Araranguá/SC, inscrito no CPF sob o n. 178.520.219-72, com endereço
profissional na Rua Doutor Virgulino de Queiróz, n. 200, Centro, Araranguá/SC; e,
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE EMPRESA DE TECNOLOGIA E
CIÊNCIA – FUNDATEC, fundação de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.
87.878.476/0001-08, com sede na Rua Professor Cristiano Fischer, n. 2012, Bairro
Partenon, Porto Alegre/RS, representado pelo Presidente Carlos Henrique Castro,
pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas:

1 – LEGITIMIDADE:
1.1 – Legitimidade ativa:
O Ministério Público possui previsão constitucional no capítulo das
funções essenciais à justiça, dispondo o caput do artigo 127:

Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Delimitando os contornos e a amplitude do seu conceito, a


Constituição da República relacionou, em seu artigo 129, as funções que foram
confiadas ao Ministério Público e os poderes que lhe são inerentes no
desenvolvimento de suas atribuições.
Nesse aspecto, porque diretamente relacionados à propositura
dessa demanda, impõe-se a transcrição dos incisos II e III do artigo 129 da
Constituição da República:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


[...]
II zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo
as medidas necessárias a sua garantia;
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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III - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses difusos e
coletivos.

A mesma previsão se extrai dos artigos 93 e 95 da Constituição do


Estado de Santa Catarina.
Vale dizer que o âmbito de incidência da Lei n. 7.347/1985 foi
ampliado pelas alterações introduzidas pela Lei n. 8.078/1990, que passou a
abranger a defesa de qualquer interesse difuso ou coletivo (artigo 1º, inciso IV, da
Lei n. 7.347/1985), dentre os quais se insere, inequivocamente, a defesa do
patrimônio público e da moralidade administrativa.
Com efeito, indiscutível é o caráter difuso do interesse que envolve a
moralidade administrativa e a defesa do erário, o qual atinge um número
indeterminado de pessoas.
No tocante à presente demanda, extrai-se do artigo 5º, inciso I, da
Lei n. 7.347/1985, que o Ministério Público tem legitimidade para propositura de
ação civil pública.
A respeito da legitimidade do Parquet para a propositura de ação na
defesa da moralidade administrativa, extrai-se julgado do Tribunal de Justiça
catarinense:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.
PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE ATIVA. O MINISTÉRIO PÚBLICO
DETÉM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM
DEFESA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA E DO PATRIMÔNIO
PÚBLICO (CF, ARTS. 127, 129, II E II, LONMP ART. 25, IV, b). PREFACIAL
ARREDADA. Não se tratando de pretensão eminentemente tributária, para
fins de arrecadação (interesse público secundário), e sim da apuração de
atos tidos por afrontosos à Lei n. 8.429/92, há se reconhecer que "(...) a
Constituição Federal e a Lei n. 8.429/92 conferem legitimidade ao Ministério
Público para ajuizar ação civil pública na defesa da moralidade
administrativa" (Agravo de Instrumento n. 2002.005103-9, rel. Des. Newton
Trisotto, j. em 03/06/2002), consubstanciada no interesse público primário.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO3.

Dessa forma, está demonstrada, de maneira irrefutável, a


legitimidade do Ministério Público para a tutela dos interesses em questão e,
3 TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.009728-8, da Capital, rel. Des. Carlos Adilson Silva, j.
09-12-2014.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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portanto, para o ajuizamento desta ação.

1.2 – Legitimidade passiva:


Primeiramente, salienta-se que o Município de Araranguá possui
legitimidade para figurar no polo passivo desta relação processual, porquanto é
dotado de personalidade jurídica própria, viabilizando-se, assim, sua apresentação
em juízo na defesa de suas prerrogativas ou atos institucionais.
Ademais, depreende-se da documentação anexa que o Processo de
Dispensa de Licitação n. 41/2017, o Contrato n. 90/2017, celebrado entre o
Município de Araranguá e a Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e
Ciências – FUNDATEC, estão eivados de nulidades, de modo que atinge os
interesses de ambos.
Outrossim, os Editais referentes aos Processos Seletivos n.
02/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017 foram lançados pelo Poder Executivo do
Município de Araranguá/SC, por intermédio de seu atual Prefeito, razão pela qual se
afigura legítimo ocupar o polo passivo da demanda.
De mais a mais, sabe-se que todos os indivíduos, mesmo não sendo
agentes públicos, que concorreram para a conduta ímproba ou dela tenham auferido
algum benefício, ainda que indiretamente, são legitimados para figurarem no polo
passivo de uma ação por ato de improbidade administrativa. Tal assertiva infere-se
do artigo 3º da Lei 8.429/92:

Artigo 3°. As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele
que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.

A definição de agentes públicos, por sua vez, está disciplinada na


Lei de Improbidade, mais especificamente no seu artigo 2º, que dispõe:

Artigo 2°. Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas
no artigo anterior.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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A partir dos dispositivos supracitados, vislumbra-se que, na
contenda em questão, possui legitimidade passiva, assim, Mariano Mazzuco Neto,
Prefeito Municipal de Araranguá/SC, uma vez que diretamente responsável pelos
atos de improbidade administrativa a seguir expostos, e da Fundação Universidade
Empresa de Tecnologia e Ciências – FUNDATEC, pois é diretamente beneficiada de
parte dos atos ímprobos praticados, como veremos adiante.

2 – DOS FATOS:
Pelos documentos reunidos no bojo do Inquérito Civil n.
06.2017.00004606-3, apurou-se irregularidades cometidas pelo Município de
Araranguá na dispensa de licitação para contratação da Fundação Universidade
Empresa de Tecnologia e Ciência – FUNDATEC, assim como no Processo Seletivo
Simplificado em andamento.
Segundo consta, por intermédio do Processo de Dispensa de
Licitação n. 41/2017, o Secretário de Administração e Finanças, Sr. Auderi Antonio
Castro, com base em termo de dispensa de licitação, apresentou justificativa para
contratação direta nos seguintes termos (fl. 787 verso do Inquérito Civil Público4):

DA JUSTIFICATIVA:
A principal motivação para a contratação da EMPRESA DE TECNOLOGIA E
CIÊNCIAS – FUDATEC é sua vasta experiência dedicados à realização de
concursos e processos seletivos públicos, vestibulares, avaliações de
sistemas e programas, bem como pesquisas na área educacional, além da
experiência, os requisitos de segurança e qualidade são a marca dos
trabalhos de seleção e avaliação realizados. A garantia de execução de
serviços de elevada qualidade é assegurada por um corpo técnico
especializado, instalações próprias adequadas, computadores de última
geração, gráfica própria e uma tecnologia de trabalho atestada pelas
entidades que já se utilizaram de seus trabalhos.
Assim, resta demonstrado que a contratação da EMPRESA DE
TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – FUNDATEC atende aos princípios insculpidos
na Constituição Federal e na Lei 8.666/93, eis que apresenta-se como a
proposta mais vantajosa para a Administração, alinhando-se aos postulados
da moralidade, supremacia e indisponibilidade do interesse público.
Propõe-se a contratação direta com dispensa de licitação, nos termos do
artigo 24, Inciso XIII, da Lei de Licitações n.º 8.666 de 21.06/93. Vale lembrar
que mencionado dispositivo legal estabelece os seguintes pressupostos: a)
ser uma instituição brasileira; b) ser incumbida da pesquisa, do ensino ou do
4Todas as folhas citadas na petição inicial se referem ao Inquérito Civil Público e não tem relação com
o processo judicial.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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desenvolvimento institucional, ou dedicar-se à recuperação social do preso;
c) não possuir finalidade lucrativa; d) possuir inquestionável reputação ético
profissional. Grifo nosso.

Por sua vez, no dia 11 de abril de 2017, o Prefeito Municipal, Sr.


Mariano Mazzuco Neto, aprovou e autorizou a realização da despesa,
independentemente de licitação, com fundamento do artigo 24, XIII, da Lei n.
8.666/1993 (fl. 786).
O Contrato n. 90/2017, celebrado entre o Município de Araranguá e
a FUNDATEC, foi formalizado no dia 12 de abril de 2017, tendo como objeto "a
prestação de serviços técnicos especializados para organização e realização de
processo seletivo simplificado" (fls. 789-794).
A título de pagamento, a contratada receberá o valor de R$
35.000,00 (trinta e cinco mil reais) de 1 até 750 (setecentos e cinquenta) candidatos
inscritos, ultrapassado este número, será cobrado o valor unitário de R$ 23,50 (vinte
e três reais e cinquenta centavos) por candidato excedente, conforme cláusula
quinta.
O pagamento será realizado em três parcelas: a) 45% em até 5 dias
após a homologação das inscrições; b) 35% em até 5 dias após a aplicação da
prova teórico-objetivo; e, c) 20% em até 5 dias após a publicação da classificação
final. Pelo cronograma dos editais (fls. 138-139 e 172-173), o resultado da
homologação das inscrições (lista definitiva) está previsto para 22.8.2017; a prova
teórico-objetiva está prevista para 3.9.2017; e, a publicação da classificação final
está prevista para 31.10.2017. Ou seja, estima-se que o pagamento da primeira
parcela ocorrerá por volta do dia 27.8.2017, da segunda parcela deve ocorrer por
volta do dia 8.9.2017 e da terceira parcela aproximadamente no dia 5.11.2017.
Conforme pesquisa realizada no site da FUNDATEC5, no atual
Processo Seletivo Simplificado, há aproximadamente 2.589 (dois quinhentos e
oitenta e nove) candidatos inscritos. Sendo assim, vislumbra-se que a empresa
FUNDATEC receberá pelos serviços em torno de R$ 78.200,00 (setenta e oito mil e
duzentos reais).

5 Disponível em: https://fundatec.org.br/portal/concursos/index_concursos.php?concurso=439. Acessado em 22.8.2017.


Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Todavia, pelas informações apresentadas pelo Município de
Araranguá/SC, em processos seletivos realizados nos anos de 2013, 2014 e 2016,
os gastos ficaram entre R$ 14.900,00 (quatorze mil e novecentos reais) e 14.000,00
(quatorze mil reais), isto é, bem abaixo do valor da contratação para o processo
seletivo atual (fl. 691).
Entretanto, percebe-se que não houve justificativa do preço da
contratação, violando-se as disposições do artigo 26, parágrafo único, III, da Lei n.
8.666/1993, resultando em inegável malversação do dinheiro público.
Se isso não bastasse, sabe-se que, em 8 de junho de 2017, o
Ministério Público ajuizou Ação Civil Pública por Atos de Improbidade Administrativa
c/c Nulidade de Processo Seletivo contra o Município de Araranguá e Mariano
Mazzuco Neto, distribuída na 2ª Vara Cível desta Comarca de Araranguá, registrada
sob o número 0900101-64.2017.8.24.0004 (SIG n. 08.2017.00186760-8), em razão
de diversas inconstitucionalidades e ilegalidades no Processo Seletivo n. 01/2017.
Os fundamentos da referida demanda se resumem à inexistência de
justificativa para contratação de servidor temporário; existência de concurso público
com prazo de validade vigente com a mesma função de alguns cargos previstos no
edital do processo seletivo; diversas funções temporárias descritas no Edital do
Processo Seletivo Simplificado não se encontravam previstas na Lei Municipal n.
2.148/2002, legislação atrelada ao certame; mudança do Edital sem ampla
divulgação e publicidade; além da existência de diversas funções do Edital que não
se amoldam ao conceito de necessidade temporária de excepcional interesse
público, assim como a prática de atos de improbidade administrativa e existência de
dano moral coletivo.
Após isso, em 14.6.2017, restou deferido pedido liminar para
suspender referido certame, em que o ilustre Magistrado apresentou os seguintes
fundamentos da decisão interlocutória (fls. 78-85):

[...]
Ora, não é porque a legislação municipal afirma que os programas
citados são temporários que estará caracterizada por si só a
transitoriedade da situação e o excepcional interesse público para a
formação do quadro de atendimento.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Afinal, em programas governamentais, a temporariedade exigida pelo art. 37,
IX, da Constituição Federal, só existe quando o programa possui um marco
final claro e preestabelecido.
Fora disso, os programas nada mais são do que o atendimento dos deveres
Constitucionais dos entes federativos de prestarem educação, saúde,
segurança, assistência social, etc... O término do programa não fará
desaparecer como mágica a necessidade daquele médico ou professor.
A verdade é que, acompanhada ou não de apoio do Governo Federal,
aquela estrutura é necessária para, repito, o cumprimento de um dever
constitucional do Município.
Basta analisar alguns dos programas citados pela Lei Municipal para constar
que eles estão longe de serem temporários: o programa 'agente comunitário
de saúde' foi implantado em 1991; o 'programa de erradicação do trabalho
infantil' em 1996, sendo integrado ao 'bolsa família' em 2005; as UPAs fazem
parte da Política Nacional de Urgência e Emergência lançada em 2003 e
receberam grande importância a partir de 2009. E poderia seguir...
Ou seja, o fato de o programa estar citado na Lei nº 2.148/2002 não
implica na aceitação do afastamento da regra do concurso público.
Enfatizo: independentemente da legislação que embase o ato, importa a
análise da causa concreta que motiva a contratação temporária e o seu
respeito ao art. 37, IX, da CF.
Pois bem.
A primeira observação que faço sobre o processo seletivo em exame é que
não há no edital qualquer menção à situação que justifica sua realização.
Questionado pelo Ministério Público, o Município prestou as informações de
fls. 162/166, nas quais também pouco explica: refere programas
governamentais que não são temporários como já afirmei e não aponta,
especialmente no caso dos cargos da Secretaria de Educação, quais
profissionais titulares estão afastados da função e precisam ser substituídos.
E, novamente, nas informações prestadas no processo (fls. 457/461), o
Município não indicou concretamente a causa temporária de excepcional
interesse público que justifica as contratações. E, se não consegue fazê-lo, é
porque não existe.
Aliás, chama a atenção que, como apontado pelo Ministério Público, alguns
dos cargos objeto do processo seletivo contam com aprovados em
concurso público ainda válido aguardando nomeação. Portanto, em
princípio, é com eles que a função deveria ser preenchida, sendo irrelevante
se as vagas originalmente previstas no edital já foram preenchidas.
[...]
Não há, portanto, justa causa para a contratação temporária.
[...]
Portanto, a alegação do Ministério Público apresenta a verossimilhança
necessária tanto pela alteração do edital sem ampliação do prazo de
inscrição quanto pela ausência de situação temporária de excepcional
interesse público para a contratação temporária em detrimento do concurso
público.
Sobre o perigo de dano, não há dúvida de que a continuidade do
procedimento deve ser impedida, já que levaria ao preenchimento de vagas
indevidamente.
[...] (grifo nosso)

Em 4.7.2017, o Município de Araranguá, representado pelo Prefeito


Mariano Mazzuco Neto, por intermédio do Decreto n. 8.125 (fls. 132-134),
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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indevidamente procedeu à revogação do Processo Seletivo n. 01/2017, já que o
caso era de anulação em razão da existência de ilegalidades. Colhe-se dos
considerandos que motivaram a revogação do edital do certame:

CONSIDERANDO a constatação de que houve a alteração do edital nº


01/2017 no dia 29/05/2017 com relação ao número de vagas (aumento),
salário (majoração), nível de escolaridade (redução) e conteúdo
programático (redução), fatores determinantes para motivar alguém a se
inscrever, mostrando-se necessário ampliar o prazo do certame, bem como
a formalização de justificativa das contratações, fatores que ocasionaram a
propositura, por parte do Ministério Público de Santa Catarina, de uma Ação
Civil Pública Com Pedido de Liminar (autos nº 0900101-64.2017.8.24.0004),
na qual foi deferida medida liminar determinando que a prefeitura Municipal
de Araranguá suspenda imediatamente o Processo Seletivo Simplificado, no
estágio atual, sem a realização das provas;
CONSIDERANDO ainda, o disposto na Súmula nº 346 e 473 do Supremo
Tribunal Federal, especialmente a prerrogativa da Administração em rever
seus atos, revogando-os por conveniência ou oportunidade;
CONSIDERANDO o desfecho incerto da ação intentada, que poderá, ao seu
final, entender que o processo seletivo simplificado não poderia ter sido
realizado da forma como foi, trazendo prejuízos de monta para o Município,
para os inscritos e para Administração, com a impossibilidade de contratação
dos aprovados;
CONSIDERANDO que o certame foi suspenso por tempo indeterminado por
decisão liminar da Justiça Estadual, o que contraria a necessidade
temporária de excepcional interesse público do Município, consistente na
contratação dos cargos mencionados naquele certame, sem os quais não
será possível a execução razoável dos serviços públicos a serem prestados
para a população na Educação, Saúde e Assistência Social;
CONSIDERANDO que a revogação do ato da Administração Municipal se
funda no poder discricionário do Poder Público, com o fito de rever sua
atividade interna e encaminhá-la adequadamente à realização de seus fins
específicos;
CONSIDERANDO que a realização de novo certame, escoimado dos fatos
questionados, poderá evitar a superveniência de inúmeros dissabores,
revelando-se medida de maior prudência e caracterizando o agir eficiente da
administração.

Outrossim, colhe-se das determinações constantes no referido


decreto:

Art. 1º - Fica revogado o Edital de Processo Seletivo Simplificado nº 01/2017,


e os demais atos decorrentes de sua edição e publicação.

Art. 2º - Os candidatos já inscritos no Processo Seletivo Simplificado Edital


nº 01/2017, ora revogado, serão inscritos “ex officio” no mesmo cargo a ser
disponibilizado no novo Edital a ser publicado pela Administração Municipal.
§1º. Fica assegurado aos candidatos inscritos no Edital nº 01/2017, ora
revogado, para o caso de desistência o direito à restituição do valor pago
pela inscrição, junto ao setor da tesouraria da Prefeitura Municipal, mediante
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 10

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
apresentação:
Do formulário de Requisição de Devolução do Valor da Inscrição
devidamente preenchido (modelo anexo);
A apresentação de cópia da documentação pessoal;
Cópia do comprovante de pagamento;
Indicação do número da conta bancária, em nome do requerente, onde
deverá ser efetuada a restituição;
§2º. Por medida de segurança a restituição será feita via bancária, na conta
corrente do candidato inscrito que pleiteia a devolução, ou pessoalmente
com a apresentação dos documentos originais, ou ainda podendo ser
enviados os documentos previamente, via correio, ao Departamento de
Tesouraria da Prefeitura Municipal de Araranguá.

Art. 3º - Fica determinado à Secretaria de Administração e Finanças a


adoção das providencias com vistas a deflagrar com a maior brevidade
possível, novo edital do processo seletivo simplificado.

Art. 4º - Copias deste ato deverão ser juntadas, pela Procuradoria Geral do
Município, aos autos respectivos da ação judicial intentada, outra remetida
ao Ministério Público da Comarca de Araranguá e outra a FUNDATEC,
empresa encarregada da execução do processo seletivo simplificado.

Art. 5º - Dê-se ao presente ato a publicidade devida, inclusive com ampla


divulgação nos meios de comunicação acerca das decisões adotadas, a fim
de prevenir responsabilidades.

Art. 6º - Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 7º - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Se isso não bastasse, em 21.7.2017, o Ente Municipal lançou o


"Edital n. 06/2017 – CONTINUIDADE DO PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO"
(fl. 135), mesmo estando suspenso judicialmente o primeiro procedimento, em que
constou:

1. Dá-se continuidade ao Processo Seletivo Simplificado nº 01/2017,


revogando-se Edital de Abertura nº 01/2017, cujo os cargos passam a ser
regidos pelo disposto em 4 editais, dividos por Secretarias: Secretaria de
Educação, Secretaria de Saúde, Secretaria de Assistência Social e
Habitação e Secretaria de Administração e Finanças.
2. Os candidatos que constaram na Lista Definitiva de Homologados,
publicada no dia 13/06/2017 no site da Fundatec, permanecerão
homologados no respectivo cargo/Secretaria selecionado na ocasião.
3. Os candidatos que não concordam com o disposto nos novos editais e
que não desejarem mais participar do Processo Seletivo, poderão solicitar a
Devolução da Taxa de Inscrição, no período de 24 a 31/07/2017 pelo site da
Fundatec, através do Formulário Eletrônico de Devolução.
3.1. O candidato que não realizar o pedido de devolução no período
informado, perderá o direito de reivindicá-lo posteriormente, passando a ser
homologado automaticamente no Processo Seletivo da respectiva
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Secretaria.
4. O Resultado dos Pedidos de Devolução será divulgado no dia 04/08/2017
no site da Fundatec, juntamente com a data de devolução dos valores.
5. Os candidatos poderão consultar os novos Editais de Abertura dos
Processo Seletivos pelos links que seguem: [...].

Além disso, o Ente Municipal, por intermédio do Chefe do Executivo,


lançou outros 4 (quatro) editais para contratação de pessoal em caráter temporário,
distribuídos nas Secretarias de Educação, de Saúde, de Assistência Social e
Habitação e de Administração e Finanças, objetivando, em tese, atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público, com fundamento no artigo
37, IX, da Constituição Federal e nas Leis Municipais ns. 1.737/1997, 2.148/2002 e
3.380/2015, cuja data provável das provas foi agendada para o dia 3 de
setembro de 2017.
Tão logo publicados os novos Editais, desde já, é possível verificar
várias irregularidades que o Prefeito e o Município insistem em cometer.
Inicialmente, constata-se algumas inconsistências no número de
vagas apresentadas no Edital n. 01/2017 se comparado com os Editais ns. 02/2017,
03/2017, 04/2017 e 05/2017, especialmente pela diminuição de vagas de interesse
na contratação e pelo aumento considerável dos casos de cadastro reserva.
Enquanto naquele procedimento foram ofertadas 78 vagas, neste foram oferecidas
62 vagas.
Ou seja, mesmo sem haver qualquer informações acerca da
extinção ou vacância de cargos, com o passar do tempo, houve redução no número
de vagas a serem preenchidas, demonstrando absoluta incoerência nos atos
emanados pelo Poder Público Municipal.
Não bastasse isso, analisando as justificativas apresentadas nos
Processos Administrativos ns. 007074/2017, 007075/2017, 007076/2017 e
007077/2017 (fls. 646-687), mencionados nos Editais ns. 02/2017, 03/2017, 04/2017
e 05/2017, tem-se que algumas delas não se amoldam ao conceito de
necessidade temporária de excepcional interesse público e outras não foram
justificadas novamente. Para ilustrar as inconsistências ora narradas, seguem
quadros comparativos do Edital n. 01/2017 com os novos Editais publicados, estes
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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acompanhados das respectivas justificativas (fls. 647-652):

Edital n. 01/2017 (Alterado) Edital n. 02/2017


Secretaria de Educação Secretaria de Educação
CARGO VAGAS CARGO VAGAS JUSTIFICATIVA
Professor II Substituto de Artes – 2 Professoras em licença
Professor II de Artes – 20 horas CR CR
20 horas maternidade
Professor II Substituto de Artes –
Professor II de Artes – 40 horas 01+CR CR Sem justificativa
40 horas
Professor II de Ciências – 20 horas CR
Professor II Substituto de Ciências – 2 Professoras em auxílio
Professor II de Ciências – 40 horas 01+CR CR
40 horas doença
1 Professora em licença
Professor II de Educação Física – Professor II Substituto de Educação
01+CR CR maternidade e outra em
20 horas Física – 20 horas
cargo comissionado
1 Professora em licença
Professor II de Educação Física – Professor de Educação Física II –
01+CR CR maternidade e outro em
40 horas 40 horas
auxílio doença
Professor I de Ensino Fundamental e Professor I Substituto de Ensino 3 Professoras no Programa
01+CR CR
Infantil – 20 horas Fundamental e Infantil – 20 horas Novo Mais Educação
4 Professoras em licença
Professor I de Ensino Fundamental e Professor I Substituto de Ensino maternidade, 4 em auxílio
03+CR CR
Infantil – 40 horas Fundamental e Infantil – 40 horas doença, 1 professora cedida
para CME
Professor II Substituto de Ensino 1 professor cedido para o
CR
Religioso – 40 horas sindicato
Professor II de Geografia – Professor II Substituto de Geografia – 1 Professora em licença
CR CR
20 horas 20 horas maternidade
Professor II de Geografia – Professor II Substituto de Geografia –
CR CR Sem justificativa
40 horas 40 horas
Professor II de História – Professor II Substituto de História – 1 professora em auxílio
CR CR
20 horas 20 horas doença
Professor II de História – Professor II Substituto de História –
CR CR Sem justificativa
40 horas 40 horas
Professor II de Matemática – 20 horas CR
Professor II Substituto de Matemática – 1 professor cedido para o
Professor II de Matemática – 40 horas CR CR
40 horas sindicato
1 Professora em licença
Professor II de Português/Espanhol – Professor II Substituto de
CR CR maternidade e 3 Professores
20 horas Português/Espanhol – 20 horas
Diretores Eleitos
1 Professor Diretor Eleito e 1
Professor II de Português/Espanhol – Professor II Substituto de
01+CR CR professora afastada acidente
40 horas Português/Espanhol – 40 horas
trabalho
Professor II de Português/Inglês – Professor II Substituto de
CR CR Sem justificativa
20 horas Português/Inglês – 20 horas
1 Professora em auxílio
Professor II de Português/Inglês – Professor II Substituto de doença, 1 professora
CR CR
40 horas Português/Inglês – 40 horas afastada para mestrado e 1
Professor Diretor Eleito
2 Auxiliares em auxílio
doença, 2 em licença
Auxiliar de Ensino 03+CR Auxiliar de Ensino Substituto CR
maternidade e 2 cedidos para
o Sindicato
6 em auxílio doença, 4
Auxiliar de Serviços Gerais – Auxiliar de Serviços Gerais Substituto – aposentadoria por
03+CR CR
Centro Urbano Centro Urbano invalidez e 1 afastada para
cargo comissionado
Auxiliar de Serviços Gerais Substituto –
Auxiliar de Serviços Gerais – Escolas do
Escolas do Campo/Interior nas
Campo/Interior nas Localidades de 1 Auxiliar em licença
CR Localidades de Itoupaba, Lagoa do CR
Itoupaba, Lagoa do Caverá, Distrito maternidade
Caverá, Distrito Hercílio Luz e Sanga da
Hercílio Luz e Sanga da Toca
Toca
TOTAL DE VAGAS 15 TOTAL DE VAGAS 0

No ponto, percebe-se que todos os cargos de Professor, com os

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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novos Editais, passaram a figurar tão somente como "Cadastro Reserva",
circunstância que causa estranheza, uma vez que a Secretária de Educação
mencionou que existe cerca de 49 profissionais afastados (fls. 798-799).
Aliás, sobre a educação, é de conhecimento deste Órgão de
Execução que diversas salas de aula das escolas do Município de Araranguá faltam
professores efetivos. Isto é, não se vê motivo para a contratação somente de
servidores temporários, quando a necessidade reclama pela admissão de servidores
efetivos, permanentes e contínuos, mediante Concurso Público, para a melhor
prestação do serviço público. Nesse sentido, colhe-se do depoimento de Fabio Dias
Silveira, prestado nesta Promotoria de Justiça (fls. 20-22):

Que, além das irregularidades já apresentadas nesta Promotoria, o depoente


tem conhecimento o edital do Processo Seletivo Simplificado n. 01/2017 é
vago em relação à quantidade de vagas disponíveis e às áreas necessárias
para cada profissional; Que as vagas disponibilizas não condizem com a real
necessidades das secretarias do Município de Araranguá/SC; Que, no que
tange às vagas de professor, tem conhecimento da existência de diversos
casos de desvio de função; Que tem conhecimento que existem diversos
pedagogos contratados pela Prefeitura Municipal de Araranguá que estão
sendo designados para ocupar outros cargos não relacionados à área de
pedagogia, de series iniciais; [...] Que a inexistência de professores e
auxiliares de ensino acima descritas não é ocasionada pelo
afastamento provisório de professores contratados pelo Município de
Araranguá; Que, de fato, faltam professores e, então, os professores já
existentes são mal distribuídos, com desvio de funções; Que ocorre,
igualmente, desvio de funções no ensino fundamental II; Que aulas de
disciplinas específicas estão sendo ministradas por pedagogos, o que
acarreta a falta de tais profissionais na educação infantil; Que tem
conhecimento da falta de professor de ciência na Escola João Matias; Que a
falta de professores é realidade de várias escolas do Município, havendo
desvio de funções e falta de professores; Que existe processo seletivo
vigente e que entende que o referido poderia ser prorrogado; Que o
Conselho Municipal de Educação realizou vistoria das escolas e tem
conhecimento das irregularidades; Que a Secretaria da Educação de
Araranguá foi informada sobre as irregularidades e não tomou qualquer
medida. Grifo nosso.

No mesmo sentido, cumpre citar os esclarecimentos sobre o


conteúdo do relatório do Sr. Diego Rosa Pires, Vereador de Araranguá, após
inquirido no Ministério Público, no dia 30 de junho de 2017 (fls. 26-27):

[...] Que tem conhecimento que no quadro de profissionais da rede municipal


de ensino infantil faltam quinze auxiliares de ensino efetivos; Que quatro
dos auxiliares estão licenciados; Que os outros onze são referentes a
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vagas efetivas, que deveriam ser preenchidas com os aprovados no
concurso público de 2016 [...]. Grifo nosso.

Em depoimento prestado pela Secretária de Educação de


Araranguá, Srª, Ariane Oliveira de Almeida Pereira, nesta Promotoria de Justiça no
dia 4 de agosto de 2017, tem-se que as informações por ela apresentadas
contrastam com as demais provas colhidas no bojo da investigação, inclusive com
as constantes no edital do processo seletivo. Senão vejamos:

declarou que existem 447 servidores efetivos, sendo que existem bastantes
afastamentos; que nesta data existem 49 servidores efetivos afastados;
Que estes servidores afastados se encontram em: auxílio doença, sindicato,
mestrado, licença gestante, conselho municipal de educação, entre outros;
que a legislação municipal permite o afastamento para mestrado com o
auxílio (bolsa); que acha que o valor da bolsa é de 70% do valor do curso de
mestrado; que não tem conhecimento se é permitida a cumulação da função
de professor/auxiliar de ensino e sindicalista; que não precisaria exatamente
de 49 servidores temporários para suprir as faltas; que acredita que hoje
seriam necessários aproximadamente uns 30 servidores temporários;
que a maior parte a ser chamada seriam de professores; Que precisaria
também de auxiliares de ensino e auxiliar de serviços gerais; questionada
sobre o motivo do edital apenas prever cadastro de reserva na
educação, explicou que o servidor efetivo pode retornar a qualquer
momento e corre-se o risco de serem obrigados a chamar os
candidatos aprovados dentro do número de vagas; Que não precisam
chamar pedagogos nem professores áreas efetivos; que precisam de 5
auxiliares de ensino; que hoje conversou informalmente com o prefeito sobre
a necessidade de se chamar 5 auxiliares de ensino do último concurso
vigente; Que os auxiliares de serviços gerais se dividem nas funções; que
alguns cuidam da limpeza outros da merenda; que não precisam de
auxiliares de serviços gerais efetivos; que ao final, pensado melhor sobre
o assunto, acredita que a necessidade seriam de uns 25 temporários;
que pensa que é importante sempre ter um processo seletivo aberto para
suprir casos de afastamentos dos servidores; que ao final se propiciou a
leitura do termo por parte da Secretária. Grifo nosso.

Oportuno salientar, também, que uma das justificativas


apresentadas pela Sra. Secretária de Educação não autoriza a contratação de
funcionários temporários. In casu, motivou-se a contratação de auxiliares de serviços
gerais – Centro Urbano em virtude de aposentadoria por invalidez. Porém, sabe-se
que este tipo de ausência acarreta abertura de vaga definitiva e não temporária.
Ademais, apurou-se que o déficit de professores também é gerado
porque o Município permite que seus professores sejam cedidos para outros órgãos
(Sindicatos, Conselhos, Diretorias) e até para cursos (Mestrado). Ou seja, o ente
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público contribui para abertura de vagas, destinando seus servidores para funções
que não são diretamente ligadas à educação dos jovens.
Por outros lado, em relação à saúde, segue a comparação dos
Editais:

Edital n. 01/2017 (Alterado) Edital n. 03/2017


Secretaria de Saúde Secretaria de Saúde
CARGO VAGAS CARGO VAGAS JUSTIFICATIVA
Enfermeiro Centro de Atenção
01+CR Enfermeiro – 40 horas 02+CR Programa Saúde na Escola
Psicossocial – 40 horas
Enfermeiro em Emergência e Urgência Enfermeiro em emergência e urgência –
05+CR 05+CR UPA
– 40 horas 40 horas
Enfermeiro Estratégia Saúde da Família
02+CR
– 40 horas
Enfermeiro Especialista em Saúde Mental
01+CR Programa Saúde na Escola
- 40 horas
Farmacêutico – 40 horas 01+CR Farmacêutico – 40 horas 01+CR UPA
Fisioterapeuta – 20 horas 01+CR Fisioterapeuta – 20 horas 02+CR Programa Saúde na Escola
Fonoaudiólogo – 20 horas 01+CR Fonoaudiólogo – 20 horas 01+CR Programa Saúde na Escola
Nutricionista – 40 horas 01+CR Nutricionista – 40 horas 02+CR Programa Saúde na Escola
Odontólogo – 20 horas CR Odontólogo – 20 horas CR Programa Saúde na Escola
Odontólogo – 40 horas 02+CR Odontólogo – 40 horas 02+CR Programa Saúde na Escola
Psicólogo – 40 horas 02+CR Psicólogo – 40 horas 02+CR Programa Saúde na Escola
Terapeuta Ocupacional – 30 horas 01+CR Terapeuta Ocupacional – 30 horas 01+CR Programa Saúde na Escola
Técnico de Enfermagem em Técnico em Enfermagem em
05+CR 10+CR UPA
Emergência e Urgência – 40 horas Emergência e Urgência – 40 horas
Técnico em Enfermagem Estratégia
10+CR
Saúde da Familia – 40 horas
Programa Saúde na Escola e
Técnico em Enfermagem – 40 horas 10+CR
ESF
Técnico em Higiene Dentária/Técnico Técnico em Higiene Dentária/Técnico
03+CR 03+CR Programa Saúde na Escola
em Saúde Bucal – 40 horas em Saúde Bucal – 40 horas
Técnico em Radiologia – 20 horas 01+CR Técnico em Radiologia – 20 horas 01+CR UPA
Atendente de Farmácia – 40 horas 04+CR Atendente de Farmácia – 40 horas 04+CR UPA
Auxiliar Administrativo – 40 horas 04+CR
2 profissionais em licença
Auxiliar de Enfermagem – 40 horas CR Auxiliar de Enfermagem – 40 horas CR
saúde
Auxiliar de Serviços Gerais –
06+CR
Centro Urbano – 40 horas
Auxiliar de Serviços Gerais – Bairros de
Sanga da Toca, Sanga da Areia, Polícia 04+CR
Rodoviária e Jardim Cibelli – 40 horas
Auxiliar de Serviços Gerais Substituto – UPA e reposição dos
08+CR
40 horas afastados por licença saúde
Vigia – 40 horas 02+CR
TOTAL DE VAGAS 56 TOTAL DE VAGAS 55

Ouvida nesta Promotoria de Justiça, a Secretária de Saúde, Srª.


Evelyn Elias, prestou informações acerca nas necessidades do setor que contrastam
com as informações constantes no respectivo edital:

Que atualmente a Secretaria de Saúde tem, em torno, de 340 servidores


efetivos, entre concursados no CISAMESC e Prefeitura; Que a UPA tem
gestão compartilhada com o CISAMESC; Que em relação à gestão da UPA
pretendem realizar de modo compartilhado, ou seja, o CISAMESC faria o

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contrato da equipe médica e o município ficaria com a parte de recursos
humanos, inclusive custeio; que enquanto não é realizado o processo
seletivo, pretendem fazer um novo termo de parceria até chamar as pessoas
aprovadas no próximo seletivo; Que em razão do funcionamento da UPA,
que está na iminência de encerrar a parceria com a CISAMESC,
precisaria de pelo menos 49 funcionários temporários para UPA; Que
precisaria de uns 15 ACT's para realizar o Programa Saúde na Escola
(PSE); que todas as funções temporárias previstas no atual edital são
técnicas; que algumas destas funções são para realizarem programas
federais; Que ao final do programa federal a necessidade dos
profissionais se encerra; Que o Município não tem terapeuta ocupacional e
nem Fonoaudiólogo concursado; Que o fonoaudiólogo é contratado
esporadicamente para atender programa de saúde auditiva; que o
terapeuta ocupacional participa de programa que envolvem a promoção da
cidadania e direitos humanos e usuários de droga e álcool; que a declarante
informou que a função de terepeuta ocupacional é de excepcional interesse
público; que nesse momento não é necessária a contratação de profissionais
efetivos na área da saúde, podendo a situação ser alterada com a resolução
da questão da UPA; ao final foi permitida a leitura do termo. (Grifo nosso).

A propósito, não concordamos em parte do relato da Secretária da


Saúde, pois indica que a função de fonoaudiólogo é de contratação esporádica; trata
o terapeuta ocupacional como função de extraordinário interesse público; bem como
informa que ao final dos programas federais a necessidade do profissional se
encerra.
Em relação à UPA de Araranguá, o Ministério Público, no dia 11 de
agosto de 2017, entrou em contato com o representante da CISAMESC, Ricardo
Ghelere, que informou que o Município aditou o contrato para continuar a parceria
até o final deste ano (fl. 805).
Realizadas estas observações, passa-se a análise da próxima
Secretaria.
No que tange ao Setor de Assistência Social e Habitação, segue os
comparativos e observações abaixo, retirando-se como base as justificativas de fls.
667-677:

Edital n. 01/2017 (Alterado) Edital n. 04/2017


Secretaria de Assistência Social/Habitação Secretaria de Assistência Social e Habitação
CARGO VAGAS CARGO VAGAS JUSTIFICATIVA
Em caso de haver algum
Assistente Social – 40 horas CR Assistente Social – 30 horas 2+CR afastamento em decorrência
de licenças
Aumento temporário
Pedagogo – 40 horas 1+CR Pedagogo – 40 horas CR
exponencial de atendimento
Psicólogo – 40 horas 2+CR Psicólogo – 40 horas 2+CR Aumento temporário

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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exponencial de atendimento e
Programa POP pode ser
descontinuado
Auxiliar Administrativo – 40 horas CR
Aumento temporário
Orientador Social – 40 horas 1+CR Orientador Social – 40 horas CR
exponencial de atendimento
Equipe de cunho temporário
Profissional de Abordagem Social – Profissional de Abordagem Social – 40
2+CR 2+CR pois o programa POP pode
40 horas horas
ser descontinuado
Equipe de cunho temporário
Auxiliar de Serviços Gerais –
Auxiliar de Serviços Gerais – 40 horas 1+CR 1+CR pois o programa POP pode
40 horas
ser descontinuado
TOTAL DE VAGAS 7 TOTAL DE VAGAS 7

Inquirida nesta Promotoria de Justiça, a Secretária de Assistência


Social e Habitação, Srª. Maria Alice Aguiar, relatou que não há servidores efetivos
para o cargos de Assistente Social, Pedagogo e Psicólogo no referido setor.
Senão vejamos (fl. 803):

Que a Secretaria de Assistência Social tem 25 servidores; Que parte desses


servidores são concursados, outros temporários e outros comissionados;
Que 5 são concursados; Que na Secretaria de Assistência Social não há
servidores efetivos para os cargos de Assistente Social, Pedagogo e
Psicólogo; Que acredita que tanto o CREAS como o CRAS; Que faltam 5
funcionários de carreira para a Assistência Social; Que na verdade falta
1 Pedagogo, 2 Psicólogos e 2 Assistentes Sociais. Que essas funções
estão assistidas hoje por funcionários temporários; Que o Município
pretende realizar concurso para servidor efetivo no que tange às vagas
faltantes; Que em relação ao programa Centro POP estão analisando a
viabilidade de continuidade; Que no total precisaria de atualmente de 7
servidores temporários (2 Assistente, 2 Psicólogo, 2 Abordagem Social e
Auxiliar de Serviços Gerais); Que pretendem no ano de 2018 lançar
concurso público para cargos na Assistência Social; Que o Município
pretende primeiramente fazer uma reestruturação do plano de carreira dos
servidores. Grifo nosso.

Fica claro, pelo depoimento, que esta Secretaria não tem uma
estrutura básica permanente de funcionamento, não sendo a repetição de diversos
procedimentos seletivos que resolverão o problema. Outrossim, percebe-se que
algumas das justificativas não autorizam a contratação temporária, como hipóteses
futuras e incertas: "em caso de haver algum afastamento em decorrência de
licenças" ou talvez o programa POP venha a ser descontinuado (fl. 669).
No que tange à Secretaria de Administração e Finanças, segue
comparativos:

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 18

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
Edital n. 01/2017 (Alterado) Edital n. 05/2017
Secretaria de Administração e Finanças Secretaria de Administração e Finanças
CARGO VAGAS CARGO VAGAS JUSTIFICATIVA
Auxiliar Administrativo – 40 horas CR Motivo de doença ou licença
Vigia – 40 horas CR Motivo de doença ou licença

Ouvido no Ministério Público, o Secretário de Administração e


Finanças, Sr. Auderi Antônio de Castro, relatou que falta servidor no referido setor,
embora esteja previsto no edital apenas cadastro reserva. Senão vejamos.

Que acredita que na sua pasta tem aproximadamente uns 100 funcionários
efetivos; Que o declarante informou que hoje tem uns 3 funcionários
afastados; que uma está em licença maternidade (auxiliar administrativo) e
outros dois em auxílio doença (vigias); que não é possível fazer
remanejamento para suprir a ausência destes servidores; que entende que
não é necessário chamar pessoas do concurso público para suprir estas
vagas; Que no total o Município tem 22 vigias e 29 Auxiliares
Administrativos; questionado sobre o motivo do edital não prever 3
vagas, mas apenas cadastro de reserva, informou que a situação pode
ser alterada a qualquer momento; Que o declarante informou que a
ausência dos 3 servidores gera prejuízo no serviço; Que a contratação da
Fundatec para realizar o seletivo se deu pela idoneidade; Que 471
candidatos solicitaram a devolução da inscrição; Que hoje acredita que
existem uns 2050 candidatos inscritos; Que não sabe porque houve
diferença de preços entre o seletivo atual e dos anos anteriores, que ao final
foi proporcionada a leitura do termo ao declarante. Grifo nosso.

Embora alegue precisar de 3 (três) servidores temporários, para


funções burocráticas diga-se de passagem, consta apenas vagas para cadastro de
reserva (CR).
Neste panorama, analisando atentamente os quadros acima, tem-se
que as justificativas apresentadas pelo Município de Araranguá para contratação de
servidores não se encaixam no conceito de "necessidade temporária de excepcional
interesse público", previsto na Constituição Federal.
De um lado, consoante consta nas referidos tabelas, para algumas
funções sequer há justificativa. De outro lado, para aquelas em que há justificativa
(sua maioria), entende-se que são insuficientes.
Ora, justificar as contratações em motivo de doença ou licença,
eventuais afastamentos, aumento temporário exponencial de atendimento, dentre
outras, não se apresenta crível, uma vez que tais circunstâncias são previsíveis para
a Administração Pública e, sendo assim, cabe aos demandados adotar outras
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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medidas para suprir os afastamentos dos serviços. Por sua vez, justificar a
contratação por aposentadoria por invalidez se apresenta inadequado, uma vez que
tal circunstância demonstra a necessidade de contratação de funcionário
permanente do Ente Municipal. Ainda, motivar as contratações em programas
federais ou professores cedidos para outros órgãos (para CME e Sindicato) não se
enquadram no conceito constitucional de necessidade temporária de excepcional
interesse público. Até mesmo porque o Município pode revogar a cessão em
virtudes de motivos de força maior.
Ademais, a desordem da Administração Pública Municipal na gestão
de pessoal é patente. Não é possível compreender o motivo de ter havido mudanças
tão significativas em tão curto espaço de tempo. Aliás, não bastasse a completa
desorganização na gestão de pessoal, cabe destacar que o problema é muito mais
grave do que isso.
É que, consultando o site da Prefeitura de Araranguá6, apurou-se
que, para certos cargos da Administração Pública Municipal, não há Concurso
Público desde o ano de 2003 (há mais de 10 anos), demonstrando-se que as
contratações ora pretendidas carecem de necessidade temporária. Ou seja, não há
justificativa que permita a contratação de servidor em caráter temporário, pois a
necessidade tem sido permanente, ou seja, prolonga-se durante os anos. Ora,
se por mais de década, em certos casos, faz-se processo seletivo para
contratação temporária é porque se necessita de servidor efetivo.
Desse modo, conclui-se que o Ente Municipal demandado, ano após
ano, promove Processos Seletivos para diversas funções, aspecto que,
inegavelmente, demonstra que inexiste situação para a contratação temporária.
Para ilustrar estas alegações, colhe-se da seguinte tabela:

PROCESSOS SELETIVOS HOMOLOGADOS ENTRE


OS ANOS DE 2003 À 2016 PELO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
CARGO: Auxiliar de Serviços Gerais
Decretos ns. 7291/2016; 7519/2016; 6959/2015; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5396/2012; 5193/2011, 5080/2011; 4409/2009; 3907/2008; e, 2779/2005.

6
Disponível em: <http://www.ararangua.sc.gov.br/>.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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CARGO: Auxiliar de Ensino
Decretos n. 7291/2016; 7362/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5341/2012; 5317/2011; 4861/2010; 4514/2009; e, 4147/2009.
CARGO: Profissional de Abordagem a Usuários
Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; e, 6044/2013.
CARGO: Orientador Social
Decretos ns. 7519/2016 e 6959/2015.
CARGO: Auxiliar Administrativo
Decretos ns. 7519/2016 e 6959/2015.
CARGO: Professor I de Ensino Fundamenta e Infantil

Decretos ns. 7291/2016; 7362/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011;


4861/2010; 4514/2009; 4330/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Português/Inglês

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Português/Espanhol

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Matemática

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de História


Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de Geografia
Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de Artes
Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4286/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de Educação Física

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de Ciências
Decreto ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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fls. 21

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CARGO: Professor II de Religião

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4206/2009; 4146/2009; 3860/2008; 3676/2007; e, 2938/2006.

CARGO: Assistente Social

Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; 6044/2013; 5086/2011; 5085/2011; 4986/2011;


4985/2011; 4734/2010; 4760/2010; 4561/2010; 4560/2010; 4391/2009; 4214/2009; 3749/2008;
2942/2006; 2127/2004; e, 1864/2003.

CARGO: Psicólogo
Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; 6044/2013; 5086/2011;
5085/2011; 4986/2011; 4985/2011; 4561/2010; 4560/2010; 4456/2009;
4214/2009; 3850/2008; 3749/2008; 2942/2006; 2127/2004; e, 1864/2003.
CARGO: Pedagogo
Decretos ns. 7519/2016; 6516/2014; 6044/2013; 4985/2011; e, 2942/2006.

Aliás, tratam-se de funções de caráter permanente, próprias das


atividades administrativas do Município, que devem ser ocupadas por servidor
efetivo, mediante prévia aprovação em Concurso Público.
Também, sequer os Programas Federais, citados nas justificativas,
são suficientes para a contratação por meio de processo seletivo simplificado, uma
vez que, embora se admita que o caráter temporário dos programas, a necessidade
do serviço é permanente, contínua e constante. Ademais, outras justificativas
carecem de plausibilidade, uma vez que são genéricas e sem embasamento legal,
circunstância que se apresenta insuficiente para a contração em caráter temporário.
De mais a mais, no Concurso Público n. 01/2016, realizado pelo
Município de Araranguá, há candidatos aprovados para os seguintes cargos:
Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Ensino, Professor I – Ensino Fundamental,
Professor I – Ensino Infantil, Professor II – Educação Física, Professor II –
Matemática e Vigia (Anexo ao Ato de Homologação do Concurso Público). Todavia,
o Município de Araranguá, por intermédio do Prefeito demandado, permanece
recalcitrante em nomear os aprovados para assumirem os cargos. Nesta toada,
colhe-se do depoimento de Renata Colares Luiz Emerim, professora da rede
municipal de educação, colhido no dia 14 de junho de 2014, nesta Promotoria de
Justiça (fls. 23-24):
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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[...] Que, na visão da depoente, a educação está um caos no Município de
Araranguá/SC; Que a realização do Processo Seletivo Simplificado não
vai resolver integralmente a situação da educação neste Município, em
relação às funções permanentes; Que a re-contratação anual de
professores, para ocupar as vagas que deveriam de professores
efetivos, causa diversos transtornos todos os anos; Que, em reunião
realizada na Prefeitura Municipal, o atual Prefeito de Araranguá disse que "a
educação infantil está sepultada", devido aos gastos com servidores; Que o
Prefeito Municipal disse que não contrataria mais nenhum funcionário
aprovado no concurso público para educação infantil. Grifo nosso.

Por todos os elementos até então relatados, entende-se, extreme de


dúvida, que se tenta burlar a regra constitucional do Concurso Público, mediante a
contratação de servidores temporários sem justificativa plausível que demonstre a
existência de excepcional interesse público em caráter temporário, circunstância que
permite indesejáveis apadrinhamentos políticos.
Portanto, detectando-se claras inconstitucionalidades e ilegalidades
com má-fé, além do sabido desinteresse em resolver constitucionalmente os
problemas relacionados à admissão de servidores no Município de Araranguá,
ocasionando inegável prejuízo ao serviço público, não há outra alternativa para
restabelecer a ordem, senão o ajuizamento da presente ação.

3 – DOS FUNDAMENTOS DE DIREITO:


3.1 – DA DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS ORDINÁRIAS MUNICIPAIS NS.
1.737/1997 E 2.148/2002, COM AS POSTERIORES ALTERAÇÕES:
Assim como ocorre em ações populares, mandados de segurança
ou em qualquer outra ação cível, a inconstitucionalidade de um ato normativo pode
ser causa de pedir de uma ação civil pública, devendo ser sopesado que o Supremo
Tribunal Federal corrobora deste entendimento7.
Da mesma forma, não se impede a utilização de ação civil pública
para atacar vícios materiais que maculam a validade de norma editada nos âmbitos
dos Poderes Executivo e Legislativo Municipal, devendo o Poder Judiciário, antes de
7
"Nas ações coletivas, não se nega, à evidência, também, a possibilidade de declaração de
inconstitucionalidade, incidenter tantum, de lei ou ato normativo federal ou local". STF: RE n.
227159/GO. 2ª T. Rel. Ministro Néri da Silveira. Julgado em 11.3.2002.
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apreciar o mérito da demanda, decidir acerca da constitucionalidade do ato
normativo questionado. Aliás, confirmando a referida possibilidade, colhe-se da
doutrina de Alexandre de Moraes8:

O controle de constitucionalidade difuso, conforme já estudado, caracteriza-


se, principalmente, pelo fato de ser exercitável somente perante um caso
concreto a ser decidido pelo Poder Judiciário. Assim, posto um litígio em
juízo, o Poder Judiciário deverá solucioná-lo e para tanto,
incidentalmente, poderá analisar a constitucionalidade ou não da lei ou
do ato normativo - seja ele municipal, estadual, distrital ou federal.
Dessa forma, em tese, nada impedirá o exercício do controle difuso de
constitucionalidade em sede de ação civil pública, seja em relação às
leis federais, seja em relação às leis estaduais, distritais ou municipais
em face da Constituição Federal (por ex.: O Ministério Público ajuíza uma
ação civil pública, em defesa do patrimônio público, para anulação de uma
licitação baseada em lei municipal incompatível com o art. 37 da
Constituição Federal. O juiz ou Tribunal CF, art. 97 poderão declarar, no
caso concreto, a inconstitucionalidade da citada lei municipal, e anular a
licitação objeto da ação civil pública, sempre com efeitos somente para as
partes naquele caso concreto). Grifo nosso.

Ressalta-se que a jurisprudência esclareceu a possibilidade de


declaração incidental de inconstitucionalidade, em sede de Ação Civil Pública,
consoante precedente ora colacionado:

PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DECLARAÇÃO


INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE - POSSIBILIDADE -
EFEITOS. 1. É possível a declaração incidental de
inconstitucionalidade, na ação civil pública, de quaisquer leis ou atos
normativos do Poder Público, desde que a controvérsia constitucional
não figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou
simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio
principal, em torno da tutela do interesse público. 2. A declaração
incidental de inconstitucionalidade na ação civil pública não faz coisa julgada
material, pois se trata de controle difuso de constitucionalidade, sujeito ao
crivo do Supremo Tribunal Federal, via recurso extraordinário, sendo
insubsistente, portando, a tese de que tal sistemática teria os mesmos
efeitos da ação declaratória de inconstitucionalidade. 3. O efeito erga omnes
da coisa julgada material na ação civil pública será de âmbito nacional,
regional ou local conforme a extensão e a indivisibilidade do dano ou
ameaça de dano, atuando no plano dos fatos e litígios concretos, por meio,
principalmente, das tutelas condenatória, executiva e mandamental, que lhe
asseguram eficácia prática, diferentemente da ação declaratória de
inconstitucionalidade, que faz coisa julgada material erga omnes no âmbito
da vigência espacial da lei ou ato normativo impugnado. 4. Recurso especial

8
Direito Constitucional, 21ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 691-692.
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provido9. (grifou-se)

A Corte Catarinense, seguindo este entendimento, assim já decidiu:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE


INCONSTITUCIONALIDADE - CONTROLE DIFUSO - POSSIBILIDADE -
EFEITOS INTER PARTES - PROVIMENTO DO RECURSO - ANULAÇÃO
DA SENTENÇA. "É possível a declaração incidental de
inconstitucionalidade, na ação civil pública, de quaisquer leis ou atos
normativos do Poder Público, desde que a controvérsia constitucional não
figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou simples
questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal, em torno da
tutela do interesse público" (REsp n. 403355/DF, Min. Eliana Calmon)10.

Assim sendo, deverá ser declarada incidentalmente a


inconstitucionalidade parcial das Leis Ordinárias Municipais ns. 1.737, de 23 de maio
de 1997 e 2.148, de 20 de dezembro de 2002, inclusive suas posteriores alterações
(ex: 3.499/2017), por se tratar de normas flagrantemente inconstitucionais.
É que o primeiro diploma legal antes mencionado, que dispõe sobre
a contratação de pessoal por tempo determinado para atender necessidade de
excepcional interesse público, em seus artigos 2º e 3º, prevê que:

Artigo 2º. Considera-se necessidade temporária de excepcional interesse


público, segundo o que determinam os arts. 28, IX, da Lei Orgânica do
Município de Araranguá e 37, IX, da Constituição Federal:

I - combate a surtos endêmicos e campanhas de vacinação;

II - assistência a situações de calamidade pública;

III - admissão de professor substituto;

III - admissão de professor substituto, para vagas excedentes e para


localidades de difícil acesso. (Redação dada pela Lei nº 1866/1999)

IV - fornecimento de água;

V - abastecimento de alimentos;

VI - limpeza pública e coleta de lixo;

9
STJ. RESP 557.646/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon. 2ª T. Julgado em 13.4.2004, DJ 30.06.2004 p.
314.
10 TJSC. Apelação Cível n. 2002.027414-9, de Caçador. Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros. Julgado em

1º.9.2003.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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VII - segurança do munícipe e do turista.

VIII - Admissão de Auxiliar de Ensino substituto; (Acrescido pela Lei


nº 2205/2004)

IX - Admissão de Auxiliar de Serviços Gerais substituto nas áreas de


Educação e Saúde; (Acrescido pela Lei nº 2205/2004)

X. Admissão de 04 (quatro) monitores de estacionamento da Zona Azul


(Estacionamento Rotativo).11 (Redação dada pela Lei nº 2306/2005)

XII - situações técnicas e administrativas emergentes que coloquem em


risco o bom atendimento à comunidade. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 66/2006)

Parágrafo Único. A admissão temporária de Auxiliar de Ensino e de


Auxiliar de Serviços Gerais substitutos é a vaga destinada ao
suprimento de profissionais em licença de gestação, licença com ou
sem vencimentos a que se refere a Lei nº 2.311/2005, ou qualquer outro
afastamento previsto em lei, por mais de quinze dias do trabalho; para
preenchimento de vagas não ocupadas em concurso público; por
alteração da grade curricular; pelo aumento de matrículas no início do
ano letivo. (Redação dada pela Lei nº 2951/2011).

Artigo 3º. As contratações serão feitas por tempo determinado, observando


os seguintes prazos máximos: (Redação dada pela Lei nº 3504/2017)

I - um ano nos casos do inciso III do art. 2º; (Redação dada pela Lei
nº 2306/2005)

II - seis meses, nos casos dos incisos I e II do art. 2º; (Redação dada pela
Lei nº 2306/2005)

III - cinco meses, nos casos dos incisos IV, V, VI, do art. 2º, ou enquanto
durar o estado de necessidade declarado pelo Poder Executivo; (Redação
dada pela Lei nº 2306/2005)

IV - três meses, nos casos do inciso VII, do artigo 2º. (Acrescido pela Lei
nº 1866/1999) (Redação dada pela Lei nº 2306/2005)

V - Um ano, no caso do inciso X, do Art. 2º da Lei 1.737, alterado pelas


Leis 1866/99 e 2205/04. (Redação dada pela Lei nº 2306/2005)

Parágrafo único. Os prazos de contratação dos incisos anteriores poderão


ser prorrogados uma única vez por igual período. (Redação acrescida pela
Lei nº 3504/2017)

De plano, a contratação temporária de "auxiliar de ensino substituto


(inciso VIII) e auxiliar de serviços gerais substituto (inciso IX) não representam,
efetivamente, necessidades de excepcional interesse público que permitem o
11 Apresenta inconstitucionalidade, mas não será analisada neste momento, pois não está prevista a
função nos editais questionados.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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recrutamento via contratação temporária, uma vez que não demandam de
circunstâncias incomuns e urgentes.
Em relação a estas funções, o parágrafo único do artigo 2º da Lei n.
1.737/1997, que dispõe que a admissão de "substituto" serve, precipuamente, para
"suprimento de profissionais em licença de gestação, licença com ou sem
vencimentos [...] ou qualquer outro afastamento previsto em lei, por mais de 15 dias
do trabalho". Porém, o simples afastamento de servidor público não autoriza, por si
só, a utilização imediata da contratação temporária, pois essa ausência não implica
necessariamente na descontinuidade do serviço público e no surgimento de situação
temporária de excepcional interesse público. Registra-se que a concessão de
licenças é algo previsível e normal dentro da Administração Pública, já que se trata
de direito assegurado ao servidor por lei. Colhe-se do corpo do acórdão do Tribunal
de Justiça de Santa Catarina12:

A substituição de servidor efetivo afastado de suas funções por qualquer


motivo não configura situação de emergência, urgência ou calamidade. A
Administração Pública deve estar ciente de que seus funcionários
eventualmente têm direito a usufruir licença-prêmio, férias e licença-
maternidade. Haverá sempre servidores afastados, por diversos motivos, e
isso não autoriza a contratação sem concurso de novos funcionários.

Ainda, da análise dos referidos dispositivos, percebe-se que nas


hipóteses previstas nos incisos VIII e IX do artigo 2º da Lei Municipal n. 1.737/1997,
não há previsão legal acerca de qualquer prazo para contratação, em flagrante
afronta aos textos constitucionais federal e estadual. Ou seja, não existe prazo para
encerramento da função, ao contrário das outras hipóteses mencionadas. Registra-
se que o artigo 3º, parágrafo único, prevê a prorrogação do prazo por igual período,
mas não se sabe o tempo inicial de validade da função temporária. Sobre os
requisitos da contratação temporária, é da jurisprudência do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina13:

O colendo Supremo Tribunal Federal, em recente julgado envolvendo a

12
TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2010.040881-2, de Lages, rel. Des. Nelson Schaefer
Martins, j. 02-03-2011.
13 TJSC, Apelação Cível n. 2010.062227-8, de São Miguel do Oeste, rel. Des. Cid Goulart, j.

03-02-2015.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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quaestio, destacou: a "Prevalência da regra da obrigatoriedade do concurso
público (art. 37, inciso II, CF)"; que "As regras que restringem o cumprimento
desse dispositivo estão previstas na Constituição Federal e devem ser
interpretadas restritivamente"; e que "O conteúdo jurídico do art. 37, inciso
IX, da Constituição Federal pode ser resumido, ratificando-se, dessa forma,
o entendimento da Corte Suprema de que, para que se considere válida a
contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam
previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a
necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a
necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a contratação
para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob
o espectro das contingências normais da Administração." (RE 658026, rel.
Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 09/04/2014, DJe-214, div.
30-10-2014, pub. 31-10-2014).(grifo nosso)

De mais a mais, a função de auxiliar de serviços gerais substituto


nas áreas de Educação e Saúde exigem ensino fundamental incompleto –
conclusão da 4ª série do 1º grau ou 5º ano do ensino fundamental, o que demonstra
que não é uma função complexa que motiva a excepcionalidade constitucional. Na
mesma batida, a função de auxiliar de ensino substituto, que exige ensino médio
completo na modalidade Magistério.
Por sua vez, a Lei Municipal n. 2.148/2002, que autoriza a
contratação de pessoal em caráter temporário para execução de programas do
Governo Federal, cujos artigos 1º e 4º estabelecem que:

Artigo 1º. Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a contratar


pessoal por prazo determinado para atender à necessidade de
excepcional interesse público, previsto no art. 37, IX da Constituição
Federal, especificamente para execução dos programas temporários do
Governo Federal e Estadual, conveniados com o Município, tais como o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), Ações
Estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (AEPETI),
Serviço de Enfrentamento à violência, abuso e exploração sexual
contra crianças, adolescentes e suas famílias, Programa de Combate à
Dengue e a Febre Amarela, Centro Integrado de Atividades Recreativas
a Terceira Idade - CIARTI, Unidade de Pronto Atendimento (UPA),
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Serviço de Atenção
Domiciliar (SAD), Programa de Saúde da Escola (PSE), além de outros
que venham a ser conveniados. (Redação dada pela Lei nº 3499/2017)

Artigo 4º. São os seguintes os profissionais a serem contratados:

I - Agente Comunitário de Saúde;

II - Agente de Saúde;

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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III - Assistente Social;

IV - Técnico em Saúde Bucal/Técnico em Higiene Dental; (Redação dada


pela Lei nº 3499/2017)

V - Técnico de Enfermagem; (Redação dada pela Lei nº 2809/2009)

VI - Fonoaudiólogo; (Redação dada pela Lei nº 3499/2017)

VII - Enfermeiro;

VIII - Médico (Clínico geral);

IX - Odontólogo;

X - Psicólogo;

XI - Fisioterapeuta; (Redação dada pela Lei nº 2809/2009)

XII - Farmacêutico; (Redação dada pela Lei nº 3499/2017)

XIII - Coordenador de Programa. (Redação dada pela Lei nº 2809/2009)

XIV - Profissional de Abordagem Social; (Redação dada pela Lei


nº 3499/2017)

XV - Nutricionista; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XVI - Terapeuta Ocupacional; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XVII - Técnico em Radiologia; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XVIII - Atendente de Farmácia; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XIX - Auxiliar Administrativo; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XX - Auxiliar de Enfermagem; (Redação acrescida pela Lei Complementar


nº 3499/2017)

XXI - Auxiliar de Serviços Gerais; (Redação acrescida pela Lei


Complementar nº 3499/2017)

XXII - Vigia. (Redação acrescida pela Lei Complementar nº 3499/2017)

Na mesma linha do que foi relatado anteriormente, percebe-se que a


legislação municipal acima retrata diversas funções que, embora importantes, não
são de interesse público extraordinário, muitas delas, inclusive, funções
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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burocráticas, técnicas e auxiliares, que não interrompem a atividade fim. Relevante
se apontar que para as funções de auxiliar administrativo e vigia somente são
exigidos, respectivamente, ensino médio completo e ensino fundamental incompleto.
Sem contar que as funções tem características de permanência, não sendo de
necessidade esporádica.
Por esse motivo, as leis em análise, mostram-se, pelos aspectos
adiante destacados, verticalmente incompatíveis com algumas disposições da
Constituição do Estado de Santa Catarina, bem como da Constituição Federal.
De fato, a Constituição em vigor consagrou o Município como
entidade indispensável ao sistema federativo, integrando-o na organização político-
administrativa e garantindo-lhe plena autonomia, como se extrai dos artigos 1º, 18,
29, 30 e 34, VI, c, todos da Constituição Federal.
Apesar disso, a autonomia conferida ao Município é limitada pelas
regras Constitucionais Federais e/ou Estaduais, porquanto deve pautar-se nas
disposições gerais ditadas pelas normas de hierarquia superior.
Necessário dizer que, mesmo que se franqueie ao legislador
municipal a possibilidade de fixação de fatos geradores da contratação temporária,
as normas editadas pelos municípios não podem ofender os desideratos impostos
na Constituição Federal e na norma geral, qual seja o atendimento à necessidade
temporária de excepcional interesse público. Assim, embora os ditames da lei
municipal não estejam subordinados diretamente àqueles previstos na Lei n
8.745/93, é inegável que tal norma federal serve como uma espinha dorsal ao
estabelecer os limites da legislação municipal, de modo que a lei geral “deve servir
de norte para Estados e Municípios disporem sobre a matéria.”14
Tal entendimento é corroborado pelo Tribunal de Justiça
Catarinense, (Ap.Civ.M. n° 2002.007371-2, n° 2002.0001037-5; Ap.Civ. n°
2004.012017-6, etc.), conforme se extrai do acórdão proferido nos autos da
Apelação Cível em Mandado de Segurança n° 2002.001179-7, de Otacílio Costa, de
onde se extrai:
14 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 33ª ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2007.
p. 441.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
29
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REEXAME NECESSÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
ADMINISTRATIVO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA [...] "A validade da
contratação de servidores por tempo determinado, mesmo que pelo regime
de terceirização, está condicionada aos rígidos critérios elencados no
inc. IX do art. 37 da Constituição Federal e aos termos da Lei n.
8.745/93, acrescidos das disposições contidas na lei local. [...]” (27/03/2003)

Outrossim, deve-se destacar que a lei que vier a autorizar a


Administração Pública a efetuar contratação temporária de pessoal, não deve
somente estar em sintonia com os princípios dispostos no caput do artigo 37, mas
também com o princípio da razoabilidade, conforme ensina o professor Hely Lopes
Meirelles, que ao comentar o inciso IX, observa:

Obviamente essas leis deverão atender aos princípio da razoabilidade e da


moralidade. Não podem prever hipóteses abrangentes e genéricas, nem
deixar sem definição, ou em aberto, os casos de contratação (STF, RDA
239/457). Dessa forma, só podem prever casos que efetivamente justifiquem
a contratação.15

Nessa senda, não se constata razoabilidade na contratação de boa


parte das funções temporárias listadas nos editais. Portanto, verifica-se que a
contratação temporária não está condicionada ao poder discricionário do
administrador, visto que, para que seja legal, deverá observar as condições que a
lei autorizadora (desde que constitucional) vier a estabelecer, além das que já estão
dispostas no próprio inciso IX do artigo 37 da Constituição Federal.
Não se pode deixar de lembrar, que a Lei n. 3.499/2017, que alterou
a Lei n. 2.148/2002, tem na sua origem a motivação exclusiva de tentar regularizar o
processo seletivo n. 01/2017, conforme exposto na ação judicial n.
0900101-64.2017.8.24.0004. Em virtude de premissas equivocadas no processo
seletivo n. 01/2017, buscou-se apoio do Poder Legislativo para determinar que
situações passadas se encaixassem em necessidade temporária de excepcional
interesse público, no intuito de se esquivar da regra constitucional.
Afinal, editar uma lei apenas para encobrir uma ilegalidade é um
verdadeiro absurdo! É óbvio que, dentro da lógica do Direito Administrativo e,
particularmente, do princípio da legalidade, é sempre o ato administrativo que deve
15
DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO; 32ª edição; Editora Malheiros; pág. 438.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
30
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se adequar à lei e nunca o contrário.
Dito de outro modo: se toda vez que o Poder Público cometer uma
ilegalidade, uma legislação for criada e/ou alterada para convalidá-la, então os
princípios que regem a administração pública não possuem qualquer eficácia
jurídica.
Destarte, cumpre esclarecer o teor da contratação por tempo
determinado, prevista no inciso IX, do artigo 37 da Carta Magna, o qual dispõe que
“a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público”. Tal possibilidade
também foi albergada pela Constituição Estadual, que em seu artigo 21, §2°, dispõe:

Art. 21 - Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos


brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, observado o
seguinte:
(...)
§ 2º - A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público.

Assim, tal autorização é exceção à regra geral do concurso


público, disposta no II do mesmo artigo 37, e deve estar subordinada a certos
requisitos, conforme apropriadamente anotou o Ex-Ministro Paulo Brossard, em seu
relatório, na decisão que deferir medida cautelar nos autos da na ADI-MC 890 do
STF, verbis:

A regra é o concurso público, as duas exceções são para os cargos em


comissão referidos e as contratações de pessoal, mas estas são
subordinadas simultaneamente às seguintes condições: a) deve existir
previsão em lei dos casos possíveis; devem ter tempo determinado; c) deve
atender necessidade temporária; d) a necessidade temporária deve ser de
interesse público; e e) o interesse público deve ser excepcional”. (D.J. de
01/02/94)

Tal entendimento é corroborado pelo Tribunal de Contas do Estado,


que ao analisar lei do Município de Indaial, proferiu o Prejulgado n. 785, do qual se
extrai:

O acesso a cargo ou emprego público deve ser preenchido por concurso de


provas ou de provas e títulos, ressalvado, no entanto, os cargos em
comissão, de livre nomeação e exoneração.
Os casos de contratação por prazo determinado, exceção à regra do
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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concurso publico, serão estabelecidos em lei e deverão atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público.
Excepcionalmente, e mediante contrato de locação civil de serviços, poderá
haver contratação de pessoal, obedecidos os princípios contidos na Lei
Federal n° 8.666/93, sendo necessária autorização legislativa. (Decisão n°
062/00, de 21/02/00)

Nessa batida, com regras precisas que assegurem a


excepcionalidade da medida e do tempo determinado, a lei que vier a autorizar a
possibilidade de contratação temporária também deverá se ater aos conceitos de
“necessidade temporária de excepcional interesse público”.
Necessário, segundo o Dicionário Aurélio16, é o “que não se pode
dispensar; que se impõe; essencial, indispensável; Que não pode deixar de ser;
forçoso, inevitável, fatal”; Já temporário é o “que dura algum tempo; transitório,
provisório”.
Qualificando a necessidade exigida para se justificar contratações
por prazo determinado, o constitucionalista Celso Antônio Ribeiro Bastos ensina
que:

[...] para os fins Constitucionais, essa necessidade deve ser qualificada,


mesmo porque se necessidade não houver, não se poderá cogitar de
admissão de pessoal a qualquer título [...] Com efeito, não se pode conceber
que haja admissão de pessoal sem necessidade do serviço, seja temporária
ou permanente. A administração pública não pode se prestar a servir de
'cabide' de emprego. Singela necessidade de admissão de pessoal há
sempre que o adequado desenvolvimento das atividades rotineiras da
administração reclame mais servidores, em razão mesmo do natural e
paulatino aumento da demanda de serviços pela coletividade em geral, ou
em face da vacância de cargos em número e constância normais, previstos
por qualquer órgão. Não é essa a necessidade que enseja contratação de
pessoal temporário. Também não é essa a necessidade que se traduz em
mera conveniência do serviço, como aquela em que a contratação de
pessoal temporário, conquanto útil, não seja indispensável.17 ( grifo nosso)

Portanto, verifica-se que a necessidade delineada no inciso IX


tem de ser tão intensa, que não possa ser suprida por outros meios, como a
reorganização administrativa ou o deslocamento de pessoal de um departamento
para outro. Deve a necessidade ser tamanha que, para proteger o interesse
público, justifique abrir exceção a regra geral do concurso público.
16 Dicionário Aurélio Eletrônico; Versão V. 2.0; editora Nova Fronteira.
17
Comentários à Constituição do Brasil; 3º vol., Tomo III; Ed. Saraiva; pág. 101.
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Nesta linha de pensamento, Celso Antônio Bandeira de Mello,
comentando o inciso IX do artigo 37, observa que:

Trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal perante contingências que


desgarrem da normalidade das situações e presumam admissões
apenas provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo
atendimento reclama satisfação imediata e temporária (incompatível,
portanto, com o regime normal de concursos). A razão do dispositivo
constitucional em apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais ou
a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo
importantes, é temporária, eventual (não justificando a criação de cargo ou
emprego , pelo que não haveria cogitar concurso público), ou a atividade não
é temporária, mas o excepcional interesse público demanda que se faça
imediatamente o suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido,
“necessidade temporária”), por não haver tempo hábil para realizar
concurso, sem que suas delongas deixem insuprido o interesse incomum
que se tem de acobertar.18 (grifo nosso)

O interesse público a ser protegido pela contratação temporária


deve ser excepcional, mas não no sentido de exceção, e sim no sentido de
extraordinário, ou seja, fora do comum, inesperado, imprevisto. Assim, tem-se
que a Administração Pública pode admitir temporariamente em situações de
excepcionalidade ou emergenciais, tais como catástrofes, calamidades, surtos
endêmicos, e outras situações inesperadas ou incomuns. A própria Lei Federal n.
8.745/1993, que deveria servir de parâmetro para as leis municipais, considera como
necessidade temporária de excepcional interesse público, em seu artigo 2º, como
exemplo: assistência a situações de calamidade pública, realização de
recenseamentos e outras pesquisas de natureza estatística efetuadas pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE; admissão de
professor e pesquisador visitante estrangeiro, atividade específicas das forças
armadas; combate a emergências ambientais, entre outros.
Celso Antônio Bandeira de Mello, examinando a cláusula
"excepcional interesse público" e os demais requisitos da contratação, escreveu
que:

[...]desde logo, não se coadunaria com sua índole, contratar pessoal senão
para evitar o declínio do serviço ou para restaurar-lhe o padrão
indispensável mínimo seriamente deteriorado para falta de servidores. (...)
Em segundo lugar, cumpre que tal contratação seja indispensável; vale
18
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO;22ª edição; Editora Malheiros; pág. 271.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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dizer, induvidosamente não haja meios de supri-la com remanejamento de
pessoal ou redobrado esforço dos servidores já existentes. Em terceiro
lugar, sempre na mesma linha de raciocínio, não pode ser efetuada para a
instalação ou realização de serviços novos, salvo é óbvio, quando a irrupção
de situações emergentes os exigiria e já agora por motivos indeclináveis,
como os de evitar a periclitação da ordem, segurança ou saúde. Em quarto
lugar, descaberia contratar por esta via para cargo, função ou emprego de
confiança, que isto seria a porta aberta para desmandos de toda espécie. 19

No que tange à temporariedade da necessidade, deve-se entender


que se refere a uma situação transitória, alheia ao dia a dia da Administração e na
qual é possível imaginar o fim daquela exceção. No dizeres do Diógenes Gasparino:

Por necessidade temporária entende-se a qualificada por sua


transitoriedade; a que não é permanente; aquela que se sabe ter um fim
próximo. Em suma, a que é passageira. São exemplos de necessidades
temporárias cujo atendimento pode ser conseguido com esses contratados:
a restauração do sistema viário e dos serviços de comunicações
destruídos por uma inundação; a continuidade dos serviços de magistério
em razão do afastamento súbito e prolongado do professor titular; a
vacinação emergencial da população em razão de um surto epidêmico
imprevisível; o recenseamento e outros levantamentos estatísticos; a
melhoria do serviço público tornado de baixa qualidade pela falta de
servidores e a sua continuidade em razão de greve.20

Ou seja, a previsão da Carta Magna não se coaduna com a


possibilidade de contratações temporárias para o desempenho de funções
permanentes ou previsíveis da administração pública, já que estas não se
enquadrariam no conceito de “necessidade temporária de excepcional interesse
público”, intrínseco no permissivo constitucional, e devem ser exercidas por
servidores concursados. Comenta Adilson Abreu Dallari:

Está absolutamente claro que não mais se pode admitir pessoal por
tempo indeterminado, para exercer funções permanentes, pois o
trabalho a ser executado precisa ser, também, eventual ou temporário, além
do que a contratação somente se justifica para atender a um interesse
público qualificado como excepcional, ou seja, uma situação extremamente
importante, que não possa ser atendida de outra forma. 21

Ensina José dos Santos Carvalho Filho sobre o pressuposto da


temporariedade da função:
19Regime Const. dos Servidores da Administração Direta e Indireta; Editora RT; 2a edição, 1991,
págs. 82-83.
20Direito Administrativo; 8° edição; Editora Saraiva, 2003; pág. 150.
21 Regime Constitucional dos Servidores Públicos, 2 ed., RT: SP, 1992, p. 124.
ª
Carlos Eduardo Tremel de Faria
34
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 35

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
[...] necessidade desses serviços deve ser sempre temporária. Se a
necessidade é permanente, o Estado deve processar o recrutamento
através dos demais regimes. Está, por isso, descartada a admissão de
serviços temporários para o exercício de funções permanentes; se tal
ocorrer, porém, haverá indisfarçável simulação, e a admissão será
inteiramente inválida. Lamentavelmente, algumas Administrações,
insensíveis (para dizer o mínimo) ao citado pressuposto, tentam fazer
contratações temporárias para funções permanentes, em flagrante
tentativa de fraudar a regra constitucional. Tal conduta, além de
dissimular a ilegalidade do objetivo, não pode ter outro elemento
mobilizador senão o de favorecer a alguns apaniguados para
ingressarem no serviço público sem concurso, o que caracteriza
inegável desvio de finalidade.22

Em consonância com a doutrina majoritária, que impõe uma


interpretação mais restritiva ao inciso IX do artigo 37 da Constituição, o STF
corroborou nos acórdãos proferidos na ADI n° 890 (julg. em 11/09/03), ADI n° 2.229
(julg. em 09/06/04) e ADI n° 2.987 (julg. em 19/02/04), bem como na ADI-MC n°
2.125 (julg. em 06/04/00) e ADI-MC 2.380 (julg. em 20/06/01), (sendo que na ADI n°
2.987, foi declarado a inconstitucionalidade do artigo 1° da Lei n° 9.186/93 do
Estado de Santa Catarina), o entendimento de que o exercício de função
permanentes ou previsíveis da Administração Pública é vedado a servidores
contratados em caráter temporário. No julgamento da ADIN n° 890, do Distrito
Federal, que atacava a Lei n° 418/93, o Supremo Tribunal Federal consignou:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE [...] CONCURSO


PÚBLICO. ATIVIDADES PERMANENTES. OBRIGATORIEDADE.
SERVIÇO TEMPORÁRIO. PRORROGAÇÃO DO PRAZO. LIMITAÇÃO.
REGIME JURÍDICO APLICÁVEL.
1. [...]
3. Atividades permanentes. Concurso Público. As atividades relacionadas no
artigo 2° da norma impugnada, com exceção daquelas previstas nos incisos
II e VII, são permanentes ou previsíveis. Atribuições passíveis de serem
exercidas somente por servidores públicos admitidos pela via do concurso
público.
4. Serviço temporário. Prorrogação do contrato. Possibilidade limitada a uma
única extensão do prazo de vigência. Cláusula aberta, capaz de sugerir a
permissão de ser renovada sucessivamente a prestação de serviço.
Inadmissibilidade. [...] (relator Ministro Mauricio Corrêa; D.J. 06/02/2004)

Sendo que do respectivo voto, de lavra do Ministro Maurício Correia,


se extrai:

22
Manual de Direito Administrativo, 24º edição, Lumen Juris, 2011, p. 552-553.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
35
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“[...] 8. Com efeito, a cláusula constitucional autorizadora destina-se
exclusivamente e aqui a interpretação restritiva se impõe aos casos em
que comprovadamente haja necessidade temporária de pessoal. Tal
situação não abrange aqueles serviços permanentes que estão a cargo do
Estado nem aqueles de natureza previsível, para os quais a Administração
Pública de alocar, de forma planejada, os cargos públicos de forma
suficiente, a serem providos pela forma regular do concurso público, sob
pena de desídia e ineficiência administrativa.
[...]
10. Por isso mesmo, aquelas necessidades que não se enquadram
estritamente no conceito de excepcionalidade e transitoriedade são
insuficientes para legitimar a contratação a que de refere o inciso IX do artigo
37 da Constituição Federal. Assim se posicionou esta Corte no Julgamento
Cautelar da ADI 2125, de que sou Relator (DJ de 29/09/00). [...]”

Aliás, lembra-se que as contratações temporárias para diversas


funções previstas no processo seletivo em tela estão ocorrendo ano após ano,
conforme anexo, porém ninguém, no âmbito do Poder Executivo, pretende resolver
definitivamente o problema. Nessa batida, tratando de caso relacionado à programa
de estratégia na área da saúde e da família, é da jurisprudência do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina23:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER


E DE NÃO-FAZER. PRELIMINAR DE AFRONTA AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. REJEIÇÃO. PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. MATÉRIA QUE SE CONFUNDE COM O MÉRITO.
ANÁLISE CONJUNTA. QUESTÃO DE FUNDO: CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA DE SERVIDORES NO MUNICÍPIO DE COCAL DO SUL.
PROGRAMA DE ESTRATÉGIA NA ÁREA DE SAÚDE DA FAMÍLIA.
EXISTÊNCIA DE JULGADO DA SUPREMA CORTE, SOB O SINETE DA
REPERCUSSÃO GERAL (TEMA 612). NECESSIDADE DE CARÁTER
PERMANENTE PARA O MUNICÍPIO, DADO TRATAR-SE DA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ESSENCIAL (SAÚDE). SITUAÇÃO
MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À REGRA DO ART. 37, INC. IX, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, QUE ADMITE "CONTRATAÇÃO POR
TEMPO DETERMINADO PARA ATENDER A NECESSIDADE
TEMPORÁRIA". EXONERAÇÃO DOS SERVIDORES CONTRATADOS QUE
SE IMPÕE. OBRIGAÇÃO DE REALIZAR PROCESSO SELETIVO PÚBLICO
DE PROVAS OU DE PROVAS E TÍTULOS (CF, ART. 198 E LEI N.
11.350/2006, ART. 9º). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

Sobre a permanência de alguns serviços, característica diversa da


função temporária, cita-se brilhante passagem da decisão do Dr. Gustavo Santos
Mottola, em que suspendeu o processo seletivo de Araranguá em 2017: "o término
23 TJSC, Apelação Cível n. 0900030-05.2015.8.24.0078, de Urussanga, rel. Des. João Henrique Blasi,
j. 29-11-2016.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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do programa não fará desaparecer como mágica a necessidade daquele
médico ou professor. E continua, "o fato de o programa estar citado na Lei n.
2148/2002 não implica na aceitação do afastamento da regra do concurso
público"24.
Nessa linha, cita-se precedente do Supremo Tribunal Federal sobre
um dos requisitos da contratação temporária: "a necessidade de contratação seja
indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários
permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências
normais da Administração"25.
Ora, a existência de programas federais não exige que se faça
contratações em descompasso com a Constituição. Aliás, devem ser realizadas para
atividades finalísticas. Ou seja, o professor para uma escola (atividade fim é a
educação) e não um auxiliar de serviços gerais ou vigia para trabalharem em uma
creche/posto de saúde, por exemplo.
Outrossim, situação de afastamentos comuns, como as
mencionadas pelos demandados (saúde, licença, por exemplo), não atraem a
necessidade de processo seletivo, até porque se tratam de direitos dos servidores.
Ora, ao ser permitida a contratação temporária para suprir a
deficiência do quadro funcional em virtude de ausências de quaisquer servidores,
decorrentes de mero afastamento ou licença legalmente concedida pelo gozo de
férias ou, ainda, afastamento para exercício de cargo eletivo, não há, efetivamente,
configuração da ocorrência de necessidade de excepcional interesse público que
possa justificar o recrutamento temporário de pessoal na forma como autoriza o
artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, e o artigo 21 da Constituição do Estado
de Santa Catarina, por não caracterizar demandas de circunstâncias incomuns e
urgentes.
Como já foi frisado, a contratação temporária não é instrumento
para suprir necessidades ordinárias e previsíveis do regular desenvolvimento
24
Processo judicial n. 0900101-64.2017.8.24.0004.
25
RE 658026, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 09/04/2014, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-214 DIVULG 30-10-2014 PUBLIC
31-10-2014.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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da atividade administrativa, tal como ocorre nas hipóteses acima, as quais se
sucedem corriqueiramente no seio da administração.
Ademais, não é a ausência temporária de todo e qualquer servidor
efetivo, nessas situações de afastamentos legais e de gozo de licenças, por
exemplo, que implicará na descontinuidade de certo serviço público e no surgimento
de uma necessidade temporária e de excepcional interesse público nos moldes
requeridos pelo Texto Constitucional.
Há servidores que atuam em áreas cuja relevância é menor e que
possuem atribuições meramente administrativas, as quais, quando do surgimento de
eventual lacuna funcional, podem ser facilmente supridas por outros servidores
efetivos.
Diante dessas situações de lacunas funcionais, o ente estatal,
mediante planejamento adequado, pode formar um quadro de servidores
efetivos que possa suprir ausências e afastamentos, sem prejudicar a
continuidade da prestação do serviço público local.
E, uma vez constatado que o quadro de pessoal permanente é
insuficiente para a continuidade da prestação de serviços essenciais, a
municipalidade deve imediatamente tomar as providências para que seja realizado
um novo concurso público para suprir a falta de pessoal.
É da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina26:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR


MUNICIPAL DE BOMBINHAS N. 007/2002, ARTS. 237, INCS. VII E IX E
239, § 2º, QUANTO À REFERÊNCIA AOS INCS. VII E IX DO ART. 237.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE PESSOAL POR EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO. ATIVIDADES TODAVIA DE CARÁTER
PERMANENTE.
INDISPENSABILIDADE DE CONCURSO PÚBLICO PARA: REALIZAÇÃO,
GERENCIAMENTO E EXECUÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS (ART. 237,
INC. VII); SUBSTITUIÇÃO DE SERVIDOR POR AFASTAMENTO DE SUAS
FUNÇÕES POR MOTIVO DE TRATAMENTO DE SAÚDE, DOENÇA EM
PESSOA DA FAMÍLIA, AFASTAMENTO DO CÔNJUGE, LICENÇA
GESTANTE E ADOTANTE; LICENÇA PRÊMIO POR ASSIDUIDADE,
LICENÇA PARA ATIVIDADES POLÍTICAS, LICENÇA PARA O
DESEMPENHO DE MANDATO CLASSISTA E PARA O EXERCÍCIO DE
MANDATO ELETIVO, CARGO DE DIREÇÃO, ASSESSORAMENTO OU
26TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2010.067167-3, de Porto Belo, rel. Des. Nelson
Schaefer Martins, j. 15-02-2012.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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ASSISTÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL (ART. 237,
INC. IX). HIPÓTESE ABRANGENTE E GENÉRICA DE CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA.
INCONSTITUCIONALIDADE DA MENÇÃO AOS INCISOS "VII E IX" DO
ART. 237 E DO § 2º DO ART. 239 DA LEI ATACADA. VIOLAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA IMPESSOALIDADE, MORALIDADE E
OBRIGATORIEDADE DA REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO
PREVISTOS NOS ARTS. 37, CAPUT E INCS. II, IX E XXI, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E 16, CAPUT, 17, CAPUT, E 21, INC. I E
§ 2º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. (grifo nosso)

Considerando o precedente acima, fica também bastante clara a


inconstitucionalidade do artigo 2º, parágrafo único, da Lei n. 1.737/1997 e das
justificativas idênticas apresentadas pela municipalidade.
Ainda, no intuito de aprofundar mais o assunto, lembra-se que as
leis municipais de Araranguá, sobre contratações temporárias, tratam em algumas
hipóteses de forma abrangente, não havendo razoabilidade para sua existência. Não
se pode prever funções genéricas, como por exemplo no artigo 2º, XII, da Lei n.
1.37/1997 (XII - situações técnicas e administrativas emergentes que coloquem em
risco o bom atendimento à comunidade – Redação dada pela Lei Complementar n.
66/2006)27.
No mesmo norte, inclusive alertando que a função temporária não
se coaduna com atividades burocráticas e técnicas, colhe-se da jurisprudência
catarinense28:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL QUE


AUTORIZA A CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES EM CARÁTER
TEMPORÁRIO, POR MEIO DE PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO,
PELO PERÍODO DE DOZE MESES. FUNÇÕES BUROCRÁTICAS,
OPERACIONAIS E DE NATUREZA TÉCNICA EVIDENCIADAS. OFENSA
AO ART. 21, I, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE SANTA CATARINA.
HIPÓTESE QUE NÃO SE INCLUI NA EXCEÇÃO AO CONCURSO
PÚBLICO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. INCONSTITUCIONALIDADE
DECLARADA.
"A contratação só pode ser por tempo determinado e com a finalidade de
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público.
Ademais, a lei deve prever os casos de contratação temporária de forma
específica, não se admitindo hipóteses abrangentes ou genéricas. [...]

27
TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2011.033709-7, da Capital, rel. Des. Ricardo Fontes,
j. 18-03-2015.
28 TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2013.048900-0, de Içara, rel. Des. Moacyr de Moraes

Lima Filho, j. 18-03-2015.


Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Fora daí, tal contratação tende a contornar a exigência de concurso público,
caracterizando fraude à Constituição" (Hely Lopes Meirelles).
"Está-se diante de uma norma que carece das exigências elencadas,
porquanto, deixa de definir qual a contingência fática emergencial que lhe
teria conferido aptidão" (ADI n. 2011.014312-2, rel. Des. Raulino Jacó
Brüning, 1º/10/2013). (grifo nosso)

Cumpre salientar, por oportuno, que parte da legislação municipal


sobre o assunto é tão esdrúxula que prevê a contratação temporária para a
"admissão de 04 monitores de estacionamento da Zona Azul (estacionamento
rotativo)", segundo artigo 2º, X, da Lei 1.737/1997.
Por oportuno, cabe salientar que as funções de Orientador Social
e Pedagogo sequer estão previstas nas Lei Municipais ns. 2.148/2002 e
1.737/1997, que regulamentam as contratações temporárias no Município de
Araranguá.
Posto isso, não cabe ao Município fundamentar o processo seletivo
em leis inconstitucionais, burlando a regra prevista no artigo 37, IX, da Constituição
Federal, bem como o comando da Constituição Estadual que encampa o tema. Ou
ainda, abrir processos seletivos sem a previsão da função temporária em lei, ou
ainda que prevista legalmente não tenha marco inicial e final para encerramento.
Postula-se, assim, pela não aplicação do artigo 2º, VIII, IX, XII e
parágrafo único, da Lei n. 1.737/1997 (e alterações), bem como pela não incidência
dos artigos 1º e 4º, XIV, XVI, XVIII, XIX, XX, XXI e XXII, da Lei n. 2.148/2002 (e
alterações), em razão da inconstitucionalidade.

3.2 – DA NULIDADE DO PROCESSO DE DISPENSA DE


LICITAÇÃO E DO CONTRATO ADMINISTRATIVO:
Conforme já destacado, o Município de Araranguá, por ato do
Prefeito Mariano Mazzuco Neto, promoveu dispensa de licitação (Processo n.
41/2017), com fundamento no artigo 24, XIII, da Lei n. 8.666/1993, contratando a
Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e Ciências – FUNDATEC, para
serviços técnicos especializados de organização e realização de processo seletivo
simplificado (Contrato n. 90, de 12.4.2017).

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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O artigo 26, parágrafo único, da Lei n. 8.666/1993 prevê que:

Artigo 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e


seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25,
necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo
único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à
autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no
prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.

Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de


retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os
seguintes elementos:
I - caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
II - razão da escolha do fornecedor ou executante;
III - justificativa do preço.
IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens
serão alocados.

Sobre o tema, Hely Lopes Meirelles leciona:

A dispensa e a inexigibilidade de licitação devem ser necessariamente


justificadas e o respectivo processo deve ser instruído com elementos que
demonstrem a caracterização da situação emergencial ou calamitosa que
justifique a dispensa, quando for o caso; a razão da escolha do fornecedor
do bem ou executante da obra ou serviço; e a justificativa do preço. Com
esses elementos, a decisão da autoridade competente deverá ser submetida
ao superior hierárquico para ratificação e publicação na imprensa oficial, no
prazo de cinco dias, como condição de eficácia dos atos (art. 26 e
parágrafo único)29. Grifo nosso.

Percebe-se, pois, que referido dispositivo legal prevê expressamente


a necessidade de "justificativa do preço" para dispensa de licitação. Todavia, in
casu, as informações apresentadas pelo Município de Araranguá, demonstram que
a contratação da FUNDATEC se deu, em síntese, em razão da "vasta experiência"
ou, como disse o Secretário de Administração e Finanças, por sua "idoneidade",
sem haver qualquer cotação de preços com outras empresas que exploram a
mesma atividade.
Referida justificativa não basta para contratação por intermédio de
dispensa de licitação. Pelo contrário, a justificativa deve estar acompanhada de
cotação orçamentária realizada com outras empresas que prestam serviços
semelhantes, de modo a viabilizar o preço praticado pela empresa contratada. Sobre
29
Direito Administrativo Brasileiro. 29 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 279.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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o tema, J.U.Jacoby Fernandes ensina:

Esse conjunto de preceitos restaria vazio de significado se fosse inaplicável


aos casos de dispensa e inexigibilidade de licitação, vez que, como dito,
também os processos de contratação direta iniciam-se com a descrição
do objeto e estimativa, de custo para que, no seu desenvolvimento, numa
etapa posterior, seja declarada a desnecessidade ou impossibilidade de
adoção a estimativa de preços.
Assim, em regra de boa técnica administrativa, quando a autoridade vai
deliberar sobre a dispensa ou inexigibilidade de licitação, já consta dos autos
a estimativa de preços.
Essa estimativa pode até, dependendo das circunstâncias, ser um
documento singelo, informando sumariamente as lojas consultadas, o
vendedor contatado e o preço ofertado, podendo inclusive ser feita por
telefone ou fac-símile, com registro do número nesse documento,
seguindo-se uma apuração da média do valor, por exemplo.
O universo a ser pesquisado não precisa ser amplo, podendo-se
restringir a consulta a poucas empresas, de acordo com o mercado.
[...]30 Grifo nosso.

Inclusive, entende-se que o parâmetro a ser aferido não é o preço


de mercado, mas sim aquele praticado no âmbito da Administração Pública,
utilizando-se de raciocínio o artigo 15, V, da Lei n. 8.666/1993:
Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:
[...]
V - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da
Administração Pública.
§ 1o O registro de preços será precedido de ampla pesquisa de mercado.

Caso a situação se tratasse de inexigibilidade com hipótese de


monopólio de mercado, seria o caso de comparação com outros preços praticados
pelo próprio contratado, contudo não é esse o caso. Sabe-se que a situação deste
procedimento se trata de dispensa de licitação, em que é possível a realização de
licitação, pois a competição é plenamente viável, havendo inúmeras entidades aptas
para realizar as provas. Nessa linha, extrai-se do Boletim de Jurisprudência do
Tribunal de Contas da União (TCU) n. 088/201531:

A justificativa do preço em contratações diretas (art. 26, parágrafo


único, inciso III, da Lei 8.666/93) deve ser realizada, preferencialmente,
mediante: (i) no caso de dispensa, apresentação de, no mínimo, três
cotações válidas de empresas do ramo, ou justificativa circunstanciada
se não for possível obter essa quantidade mínima; (ii) no caso de
30 J.U.JacobyFernandes. Contratação Direta Sem Licitação. 9ed. Belo Horizento: Fórum, 2011. p. 672-673.
31
Acórdão n. 1565/2015 Plenário.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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inexigibilidade, comparação com os preços praticados pelo fornecedor junto
a outras instituições públicas ou privadas. (grifo nosso)

Ainda, colhe-se da jurisprudência do TCU: "A pesquisa de preços, o


orçamento detalhado e a demonstração de vantagem são requisitos de validade nas
contratações com a Administração Pública, mesmo se oriundas de dispensa ou
inexigibilidade de licitação".32
A propósito, há indícios de superfaturamento, pois os processos
seletivos anteriores foram muito mais baratos, ainda que não tenham os mesmos
números de vagas. Merecendo, ainda, o destaque que a contratação da Fundatec
se deu por preço determinável, uma vez que o valor final do pagamento dependerá
da quantidade de candidatos inscritos.
Assim, ausente um dos requisitos exigidos pela legislação aplicável
para contratação por intermédio de dispensa de licitação, impõe-se o
reconhecimento da nulidade do respectivo procedimento administrativo de dispensa
de licitação, assim como do contrato administrativo dele decorrente. Sobre o tema,
colhe-se da jurisprudência Catarinense:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONCURSO PÚBLICO - LICITAÇÃO - DISPENSA -


LEI N. 8.666/1993, ART. 24, INC. XIII - PROCEDIMENTO - AUSÊNCIA -
IRREGULARIDADE - ANULAÇÃO DO CERTAME "O processo de
dispensa ou de inexigibilidade deverá ser instruído com os seguintes
elementos: caracterização da situação emergencial ou calamitosa, quando
for o caso; razão da escolha do fornecedor ou do executante; e justificativa
do preço (art. 26, parágrafo único). Além desses, a Lei 9.468, de 1998,
introduziu o 'documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os
bens serão alocados' (art. 26, parágrafo único, IV). Sem esses elementos o
ato administrativo poderá ser anulado por ilegal, já que não foram
obedecidos os requisitos exigidos pela lei" (MEIRELLES, Hely Lopes.
Licitação e contrato administrativo. p. 111)33. Grifo nosso.

Portanto, considerando a ausência de justificativa de preço para


contratação da FUNDATEC para realização do processo seletivo simplificado no
Município de Araranguá, violando as disposições do artigo 26, parágrafo único, III,
da Lei n. 8.666/1993, tem-se por imperativo o reconhecimento da nulidade do

32TCU
01940120047, data de publicação n. 18.3.2009, extraído do
site:https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=da+justificativa+do+pre%C3%A7o.
33 TJSC. Reexame Necessário n. 2012.039745-0, de Curitibanos, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j.

09-07-2013.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
43
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 44

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CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
Processo n. 41/2017 e do Contrato n. 90/2017, impedindo-se que este produza
todos os efeitos dele decorrente, notadamente a execução de seu objeto e o
pagamento dos valores assumidos.

3.3 – DA NULIDADE DO PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO:


3.3.1 – Edital n. 02/017 da Secretaria de Educação:
No Edital n. 02/2017 da Secretaria de Educação, o Município de
Araranguá pretende a contratação temporária para os seguintes "cargos": Professor
Substituto – Artes; Ciências; Educação Física; Ensino Fundamental e Infantil; Ensino
Religioso; Geografia; História; Matemática; Português/Espanhol; Português/Inglês;
Auxiliar de Ensino Substituto; Auxiliar de Serviços Gerais Substituto – Centro
Urbano; e, Auxiliar de Serviços Gerais Substituto – Escolas do Campo/Interior nos
Localidades de Itoupaba, Lagoa do Caverá, Distrito Hercílio Luz e Sanga da Toca.
Primeiramente, é de se destacar que referidos cargos são de
natureza permanente e contínua.
Além disso, após pesquisas realizadas no site da Prefeitura de
Araranguá, é possível constatar que para as funções de professor, auxiliar de
ensino e de auxiliar de serviços gerais, há vários anos, realiza-se Processo
Seletivo, burlando a regra do Concurso Público. Ou seja, como os processos
seletivos estão sendo realizados anualmente, a necessidade do município é
permanente e não transitória. A título de ilustração, veja-se a tabela abaixo:

PROCESSOS SELETIVOS HOMOLOGADOS ENTRE


OS ANOS DE 2005 À 2016 PELO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
CARGO: Auxiliar de Serviços Gerais
Decretos ns. 7291/2016; 7519/2016; 6959/2015; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5396/2012; 5193/2011, 5080/2011; 4409/2009; 3907/2008; e, 2779/2005.
CARGO: Auxiliar de Ensino
Decretos n. 7291/2016; 7362/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5341/2012; 5317/2011; 4861/2010; 4514/2009; e, 4147/2009.
CARGO: Professor I de Ensino Fundamental e Infantil
Decretos ns. 7291/2016; 7362/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011;
4861/2010; 4514/2009; 4330/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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CARGO: Professor II de Português/Inglês

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Português/Espanhol

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Matemática


Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de História

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Geografia

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Artes

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4286/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Educação Física


Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;
4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.
CARGO: Professor II de Ciências

Decreto ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4146/2009; 3676/2007; 3278/2006; e, 2938/2006.

CARGO: Professor II de Religião

Decretos ns. 7291/2016; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013; 5341/2012; 5317/2011; 4861/2010;


4514/2009; 4206/2009; 4146/2009; 3860/2008; 3676/2007; e, 2938/2006.

Nessa batida, inexiste motivo para contratação temporária para as


referidas funções, pois não se tratam de necessidades transitórias no Município.
Muito pelo contrário, pela contínua e constante necessidade do Ente Municipal,
devem ser admitidos por meio de Concurso Público e não sucessivos Processos
Seletivos, em patente burla a regra constitucional. Sobre o tema, mutatio mutandis,

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
demonstrando-se que os sucessivos seletivos apagam a temporariedade, colhe-se
da jurisprudência catarinense:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - CONTRATO


PARA FUNÇÕES TEMPORÁRIAS - ABUSO E DESVIO - RECURSO
DESPROVIDO. "A contratação dos mesmos professores temporários
por diversos anos letivos, seguidamente, sem realização de concurso
público para preenchimento de vagas remanescentes, descaracteriza a
temporariedade e excepcionalidade do interesse público exigidos para
a exceção descrita no art. 37, IV, da Carta Magna. Dessa forma, os
agentes públicos responsáveis pelas contratações irregulares praticaram ato
de improbidade administrativa descrito no art. 11, I, da Lei n. 8.429/92, com
desvio da finalidade da lei, salientando-se que a desonestidade das
condutas provém da violação ao dever de eficiência na gestão da coisa
pública" (AC nº 2004.033878-1, Des. Volnei Carlin)34. Grifo nosso.

Ademais, para os cargos de Professor II de Educação Física,


Professor I de Ensino Fundamental, Professor I de Ensino Infantil, Professor II
de Matemática e Auxiliar de Ensino há candidatos aprovados no Concurso
Público n. 01/2016 (fls. 34-72). Todavia, mesmo diante da notícia de que falta
professores na rede municipal de ensino (conforme depoimentos citados alhures), o
atual Prefeito Municipal se apresenta resistente em nomear os aprovados no
referido Concurso Público.
De mais a mais, no caso específico do Professor de Religião, é
salutar destacar que o Brasil é oficialmente um Estado laico, na forma do artigo 5º,
VI, da Constituição Federal, in verbis:

Artigo 5º. (omissis):


VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal já decidiu: "ESTADO –


LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro
quanto às religiões. [...]"35. Ademais, a Constituição Federa, em seu artigo 210,
§1º, estabelece que a matricula no ensino religioso é facultativa, in verbis:

Artigo 210. (omissis):


§1º. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituíra disciplina dos
34 TJSC, Apelação Cível n. 2007.057348-7, de Itajaí, rel. Des. Newton Trisotto, j. 03-06-2008.
35
ADPF 54, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. Grifo nosso.

Previsão semelhante é encontrada na Lei n. 9343/1996, que


estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, em seu artigo 33, §§1º e 2º,
nos seguintes termos:

Artigo 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante


da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais
das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§1º. Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para
a habilitação e admissão dos professores.
§2º. Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas
diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do
ensino religioso. Grifo nosso.

Ou seja, inexiste a obrigatoriedade de haver a disciplina de


Religião nas escolas públicas e, portanto, inexiste necessidade temporária de
excepcional interesse público que justifique a contratação deste professor, assim
como para os demais cargos antes mencionados.

3.3.2 – Edital n. 03/2017 da Secretaria de Saúde:


No Edital n. 03/2017 da Secretaria de Saúde, o Município de
Araranguá pretende a contratação de servidores temporários para as funções de
Enfermeiro Emergência e Urgência; Especialista em Saúde Mental; Farmacêutico;
Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Odontólogo; Terapeuta Ocupacional; Técnico de
Enfermagem em Emergência e Urgência; Técnico em Enfermagem; Higiene
Dentária/Técnico em Saúde Bucal; Técnico em Radiologia; Atendente de Farmácia;
Auxiliar de Enfermagem; e, Auxiliar de Serviços Gerais Substituto.
Entretanto, referidas funções são de natureza constante e
permanente no serviço público. Soma-se a isso, a pesquisa realizada no site da
Prefeitura de Araranguá, em que foi possível constatar que, para algumas das
referidas funções, foram realizados diversos Processos Seletivos, ao invés de
Concurso Público, burlando regra constitucional relativa a admissão no
funcionalismo público. A título de ilustração, colhe-se da seguinte tabela:
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 48

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PROCESSOS SELETIVOS HOMOLOGADOS ENTRE
OS ANOS DE 2003 À 2016 PELO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
CARGO: Auxiliar de Serviços Gerais
Decretos ns. 7291/2016; 7519/2016; 6959/2015; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5396/2012; 5193/2011; 5080/2011; 4409/2009; 3907/2008; e, 2779/2005.

CARGO: Psicólogo
Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; 6044/2013; 5086/2011; 5085/2011;
4986/2011; 4985/2011; 4561/2010; 4560/2010; 4456/2009; 4214/2009; 3850/2008;
3749/2008; 2942/2006; 2127/2004; e, 1864/2003.

Ademais, percebe-se, como exemplo, que o "cargo" de Atendente


de Farmácia possui atribuições meramente burocráticas (vide Anexo I do Edital n.
03/2017 – fls. 189-190), de modo a inexistir situação emergencial que justifique a
contratação em caráter temporário. Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal:

Servidor público: contratação temporária excepcional (CF, art. 37, IX):


inconstitucionalidade de sua aplicação para a admissão de servidores
para funções burocráticas ordinárias e permanentes36. Grifo nosso.

Outras funções, na mesma linha, são técnicas, auxiliares e


complementares que não estão dentro da exceção constitucional, como por
exemplo: Auxiliar de Enfermagem, Técnico em Enfermagem, Terapeuta Ocupacional
e Auxiliar de Serviços Gerais Substituto. É da jurisprudência catarinense37:

[...] FUNÇÕES BUROCRÁTICAS, OPERACIONAIS E DE NATUREZA


TÉCNICA EVIDENCIADAS. OFENSA AO ART. 21, I, DA CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL DE SANTA CATARINA. HIPÓTESE QUE NÃO SE INCLUI NA
EXCEÇÃO AO CONCURSO PÚBLICO.

Portanto, inexiste motivo para contratação temporária para referidos


cargos.

3.3.3 – Edital n. 04/2017 da Secretaria de Assistência Social e

36
ADI 2987, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2004.
37TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2013.048900-0, de Içara, rel. Des. Moacyr de Moraes
Lima Filho, j. 18-03-2015.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Habitação:
No Edital n. 04/2017 da Secretaria de Assistência Social e
Habitação, o Município de Araranguá pretende a contratação de servidores para as
funções de Assistente Social; Pedagogo; Psicólogo; Orientador Social; Profissional
de Abordagem Social; e, Auxiliar de Serviços Gerais.
Todavia, entende-se que as funções dos referidos "cargos" são de
natureza permanente e contínua. Além disso, após pesquisa realizada no site da
Prefeitura de Araranguá, é possível constatar que para referidos "cargos" há vários
anos é realizado Processo Seletivo, burlando a regra do Concurso Público. A título
de ilustração, veja-se a tabela abaixo:

PROCESSOS SELETIVOS HOMOLOGADOS ENTRE


OS ANOS DE 2003 À 2016 PELO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
CARGO: Auxiliar de Serviços Gerais
Decretos ns. 7291/2016; 7519/2016; 6959/2015; 6817/2015; 6524/2014; 6086/2013;
5396/2012; 5193/2011; 5080/2011; 4409/2009; 3907/2008; e, 2779/2005.
CARGO: Orientador Social
Decretos ns. 7519/2016 e 6959/2015.
CARGO: Profissional de Abordagem Social
Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; e, 6044/2013.
CARGO: Assistente Social

Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; 6044/2013; 5086/2011; 5085/2011; 4986/2011;


4985/2011; 4734/2010; 4760/2010; 4561/2010; 4560/2010; 4391/2009; 4214/2009; 3749/2008;
2942/2006; 2127/2004; e, 1864/2003.

CARGO: Psicólogo
Decretos ns. 7519/2016; 6959/2015; 6516/2014; 6044/2013; 5086/2011; 5085/2011; 4986/2011;
4985/2011; 4561/2010; 4560/2010; 4456/2009; 4214/2009; 3850/2008; 3749/2008; 2942/2006;
2127/2004; e, 1864/2003.
CARGO: Pedagogo

Decretos ns. 7519/2016; 6516/2014; 6044/2013; 4985/2011; e, 2942/2006.

Percebe-se, pois, que o Ente Público Municipal realiza sucessivas


contratações temporárias por meio de Processos Seletivos. Assim, não há motivo
para a contratação temporária. Mais que isso as atribuições dos referidos cargos

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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não se amoldam ao conceito de "necessidade temporária de excepcional interesse
público". Pelo contrário, aludidas funções são próprias da atividade administrativa do
Ente Municipal e, como tais, tem natureza permanente e constante.
Outrossim, cabe frisar que as funções de Orientador Social e
Pedagogo sequer estão previstas nas Lei Municipais ns. 2.148/2002 e
1.737/1997, que regulamentam as contratações temporárias no Município de
Araranguá.
Ainda, tem-se que os cargos vinculadas à Secretaria do Bem
Estar Social, para atender no CREAS, CRAS e Centro Pop, como, por exemplo,
de Assistente Social, Pedagogo e Psicólogo, não são de caráter temporário.
Inclusive, o Município de Araranguá já tinha conhecimento da importância da
realização de concurso público para nomeação destes profissionais, conforme
Ação Civil Pública n. 0900350-49.2016.8.24.0004.
Aliás, lembra-se que as contratações temporárias para estas
funções estão ocorrendo ano após ano, porém ninguém, no âmbito do Poder
Executivo, parece querer resolver definitivamente o problema. Aliás, foi esta
conclusão dos Ilustres Promotores de Justiça Gabriel Ricardo Zanon Meyer e Márcio
Gai Veiga nos autos da Ação Civil Pública n. 0900350-49.2016.8.24.0004:

De fato, o CREAS foi criado no Município de Araranguá ainda em 2009


(fl. 100) e, desde então, nunca foi realizado concurso público para o
preenchimento de seus quadros, o que revela que as contratações por
tempo determinado estão sendo perpetuadas indefinidamente, tendo
se tornado regra, em clara desarmonia com os requisitos para sua
aplicabilidade.
Se não bastassem as irregularidades que assolam a contratação dos
profissionais do CREAS, constatou-se, na instrução do aludido Inquérito
Civil, que idêntica situação ocorre com o Centro de Referência de
Assistência Social CRAS, haja vista que, apesar de ter sido o referido
órgão instituído no Município em 2010 (fl. 94), jamais houve concurso
público para prover os cargos vinculados a ele, sendo os servidores,
ano a ano, contratados mediante processo seletivo simplificado.
Além disso, também no Centro de Referência Especializado para População
em Situação de Rua - Centro POP a mesma irregularidade se verifica, já
que, tendo sido instituído em julho de 2014, o órgão nunca contou, em
seus quadros, com servidores efetivos, sendo os cargos supridos
sempre mediante contratação por tempo determinado.
Para além disso, constatou-se que o Município tem se valido, para a
realização das contratações temporárias para atuação na Secretaria
Municipal de Assistência Social e Habitação, do permissivo constante no art.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
50
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 51

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1º da Lei Municipal nº 2.148/02, sob o fundamento equivocado, diga-se
de que CREAS, CRAS e Centro POP são "programas temporários do
Governo Federal".
É o que se lê dos editais de Processo Seletivo Simplificado acostados aos
autos do Inquérito Civil Edital nº 01/2015 (fls. 111-120) e Edital 002/2016
(fls. 120-A 127) , por meio dos quais o Município deflagrou processo de
seleção para a contratação em caráter temporário de assistentes sociais,
psicólogos, auxiliares administrativos, orientadores sociais, profissionais de
abordagem social, auxiliares de serviços gerais e pedagogos, para atuarem
nos órgãos da Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação leia-
se, CRAS, CREAS e Centro POP , invocando, como fundamento, a Lei
2.148/02, que "autoriza contratação de pessoal em caráter temporário para
execução de programas do governo federal".
É patente, contudo, que o Poder Público Municipal tem se utilizado de
forma irregular da exceção à forma de provimento dos cargos públicos,
em verdadeira burla à regra do concurso público, pois as contratações
temporárias em voga não são excepcionais e ocorrem de forma
constante, o que demonstra, de plano, a necessidade de contratação
permanente, porquanto se trata de serviço público contínuo e perene,
destinado à implementação das políticas públicas de assistência social
no âmbito municipal, e não de "programas temporários", não se
justificando a suposta excepcionalidade invocada como fundamento
para autorizar a contratação por tempo determinado. Grifo nosso.

Ou seja, não há motivo para contratação temporária, devendo o


assunto ser resolvido definitivamente na Ação Civil Pública n.
0900350-49.2016.8.24.0004, em que há pedido de tutela da evidência.

3.3.4 – Edital n. 05/2017 da Secretaria de Administração e


Finanças:
No Edital n. 05/2017 da Secretaria de Administração e Finanças, o
Município de Araranguá pretende a contratação de servidores temporários para
Auxiliar Administrativo e Vigia. Entretanto, referidas funções são de natureza
constante e permanente no serviço público.
Soma-se a isso, a pesquisa realizada no site da Prefeitura de
Araranguá, em que foi possível constatar que foram realizados sucessivos
Processos Seletivos para o cargo de Auxiliar Administrativo, ao invés de Concurso
Público, burlando regra constitucional relativa a admissão no funcionalismo público.
A título de ilustração, colhe-se da seguinte tabela:

PROCESSOS SELETIVOS HOMOLOGADOS ENTRE


OS ANOS DE 2015 À 2016 PELO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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CARGO: Auxiliar Administrativo
Decretos ns. 7519/2016 e 6959/2015.

Outrossim, cumpre destacar que existe 24 aprovados para o


cargo de Vigia e 292 aprovados para a função de Auxiliar Administrativo no
Concurso Público n. 06/2016 (fls. 34-72).
Além disso, percebe-se que suas funções não estão dentro do
conceito de "necessidade temporária de excepcional interesse público", uma vez
que as atribuições do cargo de Auxiliar Administrativo se refere a funções
burocráticas (vide Anexo I do Edital n. 05/2017 – fl. 254), de modo a inexistir
situação emergencial que justifique a contratação em caráter temporário. Sobre o
tema, colhe-se da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

Servidor público: contratação temporária excepcional (CF, art. 37, IX):


inconstitucionalidade de sua aplicação para a admissão de servidores
para funções burocráticas ordinárias e permanentes38. Grifo nosso.

Também, apurou-se que as funções temporárias de vigia e auxiliar


administrativo não estão atreladas a qualquer programa federal ou estadual (fls.
683-687), conforme exigência da Lei Municipal n. 2.148/2002.
Portanto, inexiste motivo para contratação temporária para os
cargos de Auxiliar Administrativo e Vigia, destinado à Secretaria de Administração e
Finanças.

3.3.5 – Descumprimento da Lei Municipal:


No ponto, cabe destacar que o Município de Araranguá, em alguns
casos, justifica a contratação de servidores temporários para atender ao Programa
Mais Educação, ao Programa Saúde na Escola, à Unidade de Pronto Atendimento
(UPA), ao Programa de Saúde da Família (ESF) e ao Programa POP.
Sobre o tema, o §2º do artigo 4º da Lei Municipal n. 2148/2012, que
autoriza contratação de pessoal em caráter temporário para execução de programas
do Governo Federal, com redação dada pela Lei n. 2809/2009, prevê que:

38
ADI 2987, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2004.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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fls. 53

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Artigo 4º. (omissis):
§2º. O número de profissionais a serem contratados, em cada área, ou
para cada programa, será determinado no edital, e dependerá sempre do
número de equipes e das atividades a serem desenvolvidas em toda a
comunidade, na forma em que for estabelecido no Termo de Adesão
firmado com o Governo Federal ou Estadual, através dos respectivos
Ministérios Federais ou Secretarias de Estado. Grifo nosso.

Instado a prestar informações sobre os Termos de Adesão referidos


na Lei Municipal, o Município de Araranguá encaminhou documentos relacionados
aos programas que justificam as contratações temporárias (fls. 810-833).
No caso específico do Programa Saúde na Escola (PSE), a Cláusula
Terceira do Termo de Compromisso Municipal n. 04201401083, há referência
genérica a participação de 15 equipes de atenção básica, sem especificar a
quantidade de pessoas a serem contratadas (fls. 811-816).
Nos demais documentos encaminhados pelo Ente Municipal
referentes à UPA (fls. 817-833), nada consta em relação ao quantidade de
servidores a serem contratados.
Note-se, outrossim, que não foram remetidos documentos
relacionados ao Programa POP, ao Programa Mais Educação e ao Programa de
Saúde da Família (ESF). As únicas referências aos aludidos programas consta às
fls. 652, 660 e 668, todavia, não há qualquer indicativo do número de profissionais
necessários.
Ao que se percebe, os documentos encaminhados pelo Ente
Municipal não se revestem de maiores formalidades legais, sequer há subscrição de
Autoridades Federais ou Estaduais nos documentos que formalizam dos programas
que o Município de Araranguá justifica a necessidade de contratação temporária.
A falta de previsão de número de profissionais a serem contratados
para atender aos referidos programas permite que o Ente Municipal, por seus
representantes, admita, de forma livre e de modo como bem entender, em que pese
a existência de determinadas vagas para alguns cargos no Processo Seletivo em
andamento, quantos profissionais julgar necessário, descumprindo a legislação
municipal de regulamenta o assunto.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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fls. 54

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3.3.6 – Concurso Público vigente: necessidade de nomeação
dos candidatos aprovados – Burla a regra do Concurso Público e sucessivos
Processos Seletivos: cargos permanentes, contínuos e constantes – Desvio de
Finalidade – Nulidade dos Editais:
Apurou-se que o Município de Araranguá não chamou candidatos já
aprovados em concurso público, ainda que fora no número inicial de vagas
previstas. Ora, tal prática caracteriza nítido ato de improbidade administrativa do
gestor público.
Excelência, a abertura de processo seletivo, principalmente para
serviços de caráter permanente, com candidatos previamente aprovados em
concurso público, trata-se de verdadeiro desrespeito aos candidatos e violação à
Constituição Federal e Estadual.
Ainda que a aprovação tenha sido fora do número de vagas, a partir
do momento que o Município indica que existe interesse público na função (abertura
de seletivo), deveria primeiramente chamar o próximo candidato aprovado no
concurso público.
Antes da realização do processo seletivo, poder-se-ia cogitar em
mera expectativa de direito para os candidatos aprovados fora do número de vagas
do concurso público. Porém, a partir do momento em que o município indica que
precisa prover estas vagas (com o processo seletivo), surge o direito dos candidatos
aprovados, em concurso público, a serem chamados. É irrelevante, in casu, que os
candidatos aprovados não estejam no número de vagas originalmente previsto no
edital.
Nessa senda, é da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina:
A questão relativa ao direito de nomeação decorrente de aprovação em
concurso público deve, atualmente, ser entendida no sentido de que
somente há direito subjetivo à nomeação do aprovado dentro do número de
vagas previstas no instrumento convocatório, enquanto que a aprovação fora
do número de vagas elencadas no edital do certame constitui mera
expectativa de direito à nomeação, de acordo com as vagas disponíveis e no
poder discricionário do administrador.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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"Todavia, se houve a necessidade de contratação temporária de função
equivalente, cujo cargo está previstos na estrutura administrativa do
Município, presume-se que há cargo a ser preenchido, devendo-se, por
isso, ser ocupado da forma legal prevista constitucionalmente, qual
seja, por intermédio de concurso público, conforme preceito estabelecido
no art. 37, II, da Constituição Federativa.
"Inexistem justificativas aptas a amparar uma contratação direta nesse caso,
pois, presente a necessidade do serviço, presume-se que há o cargo e,
existente este, deve obrigatoriamente ser preenchido por concurso
público. (grifo nosso)39

Ainda:

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o


candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas previstas
no Edital tem mera expectativa de direito. Tal expectativa se convola em
direito nos casos em que, durante a vigência do concurso, mesmo havendo
a criação de novas vagas ou a vacância do respectivo cargo em número que
alcance a classificação do candidato, a Administração Pública promove a
contratação temporária de servidores para exercer a função inerente àqueles
cargos." (AgRg no RMS 33.514/MA, Rel. Ministro ARI PARGENDLER,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 2-5-2013, DJe 8-5-2013)40.

Além disso, o atual obrar do atual Prefeito Mariano Mazzuco Neto,


que constantemente lança procedimentos ilegais, impede a prestação contínua dos
serviços públicos. Ou seja, ao invés de apenas chamar o candidato já aprovado,
prefere publicar processo seletivo viciado, acarretando ineficiência na gestão
pública.
Desse modo, não há como se realizar processo seletivo para
vagas em que já existem candidatos aprovados no concurso público válido
anterior, devendo a municipalidade se abster de tal conduta.
Cumpre destacar, ainda, que inicialmente havia 78 vagas para o
Edital n. 01/2017 (suspenso e, posteriormente, "revogado"). Todavia, com os novos
Editais, diminuiu-se o número de vagas para 62, aumentando-se as hipóteses de
cadastro reserva, notadamente nas Secretarias de Educação e de Administração e
Finanças, em que a totalidade dos cargos se encontra nesta situação.
Nesta toada, viola a Constituição Federal a divulgação de processo
seletivo, para o preenchimento de nenhuma vaga. Como se apenas fosse realizada
39
TJSC, Agravo de Instrumento n. 4016276-39.2016.8.24.0000, de Jaguaruna, rel. Des. Jorge Luiz de
Borba, j. 25-04-2017.
40 TJSC, Mandado de Segurança n. 2013.030360-7, da Capital, rel. Des. Cid Goulart, j. 13-11-2013.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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uma formalidade despropositada, por mera praxe. Segundo a lição de Diógenes
Gasparini, mudando o que deve ser mudado, a abertura de concurso público só é
justificada diante da existência de vagas, conquanto não se pode licitar o
preenchimento de uma vaga que não existe:

[…] o concurso somente pode ser aberto se existir cargo vago, pois só a
necessidade do preenchimento do cargo justifica esse certame. Se não
existir cargo vago e se se deseja ampliar o quadro em razão da necessidade
de serviço, deve-se criar os cargos e só depois instaurar o concurso […]41.

De mais a mais, a atividade administrativa exige comportamento


coerente por parte dos Agentes Públicos, aspecto não verificado no presente caso
por parte dos demandados. Pelo contrário, o Município e o atual Prefeito Mariano
apresentam comportamento absolutamente contraditório e incoerente, causando
inegável insegurança aos administrados. Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal:

DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO – A QUESTÃO DA


VINCULAÇÃO JURÍDICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA AO EDITAL –
PRECEDENTES – CLÁUSULA GERAL QUE CONSAGRA A PROIBIÇÃO
DO COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO – INCIDÊNCIA DESSA
CLÁUSULA (“NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM”)
NAS RELAÇÕES JURÍDICAS, INCLUSIVE NAS DE DIREITO PÚBLICO
QUE SE ESTABELECEM ENTRE OS ADMINISTRADOS E O PODER
PÚBLICO – PRETENSÃO MANDAMENTAL QUE SE AJUSTA À DIRETRIZ
JURISPRUDENCIAL FIRMADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO – INTERPOSIÇÃO DE
RECURSO DE AGRAVO – RECURSO IMPRÓVIDO42. Grifo nosso.

Ademais, conforme amplamente demonstrado, as contratações


temporárias pretendidas pelo Município de Araranguá padecem de flagrante
inconstitucionalidade. Mais que isso, resta evidente que o atual Prefeito não tem
interesse que os candidatos aprovados no Concurso Público anterior criem
qualquer vínculo efetivo com a Administração Pública Municipal.
Além disso, burlando a regra constitucional do Concurso Público,
pretende-se a realização de sucessivos Processos Seletivos, ano após ano,
impedindo que os candidatos aprovados e nomeados criem vínculo efetivo com o
41
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 12.ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 178.
42 STF - MS 31695 AgR, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
03/02/2015.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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serviço público municipal para funções que são permanentes, contínuas e
constantes na atividade administrativa.
Também com base nisso é que os Editais n. 02/2017, 03/2017,
04/2017 e 05/2017 caracterizam verdadeiro desvio de finalidade, uma vez que são
utilizados para admissão temporária de servidores públicos, quando, na verdade, a
necessidade do Ente Municipal é permanente, contínua e constante. Registra-se
que duas Secretárias já mencionaram a necessidade de servidores efetivos em
suas secretarias (fls. 798-799 e 800-801). Logo, entende-se que os Editais
publicados são nulos por desvio de finalidade, na forma do artigo 2º da Lei n.
4.717/1965, in verbis:

Artigo 2º. São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades


mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.

Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-


ão as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato
visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na
regra de competência. Grifo nosso.

Neste trilho, importante citar as lições de Celso Antonio Bandeira de


Melo, que bem sintetiza o significado de desvio de finalidade, tratado como
espécie de desvio de poder, ocorrendo: "[...] quando o agente busca uma
finalidade alheia ao interesse público. Isto sucede ao pretender usar de seus
poderes para prejudicar um inimigo ou para beneficiar a si próprio ou amigo"43.
Nesta toada, Hely Lopes Meirelles ensina: "O desvio de finalidade
43
Curso de Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 377.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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ou de poder se verifica quando a autoridade, embora atuando nos limites de
sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos
objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público"44.
Diante de todas as informações angariadas por este Órgão de
Execução, entende-se que é possível ao atual Prefeito resolver os assuntos
relacionados à admissão de servidores públicos, sem utilizar o instituto da
contratação temporária, por meio da nomeação dos aprovados no Concurso Público
n. 01/2016, ou, com a realização do novo Concurso Público para funções de caráter
permanente, contínuo e constante.
Todavia, utilizando indevidamente do legítimo instituto do Processo
Seletivo para contratação temporária em cargos de natureza efetiva, incorre o
demandado Mariano em desvio de finalidade. Sobre o tema, colhe-se da
jurisprudência:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PROFESSOR SUBSTITUTO.


PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO. CANDIDATO APROVADO EM
CONCURSO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE DO USO DA CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. 1. A necessidade temporária de excepcional interesse
público não se faz presente para a contratação provisória de professor
substituto, quando não há justificativa da Administração para a
urgência na deflagração do processo simplificado e existe candidato
habilitado em concurso público apto a ocupar o mesmo cargo. 2. O
propósito de cobrir a deficiência de vagas com servidores interinos,
dispondo a Administração de outro meio para solucionar o problema,
revela a existência de desvio de finalidade. 3. Apelação e remessa
oficial improvidas45. Grifo nosso.

Portanto, tendo em vista o absoluto desvio de finalidade na


realização do Processo Seletivo Simplificado – Editais ns. 02/2017, 03/2017,
04/2017 e 05/2017, cujo objetivo é burlar a regra constitucional do Concurso Público
(artigo 37, II, da Constituição Federal), impõe-se o reconhecimento da nulidade dos
atos e a punição da Autoridade responsável (artigo 37, §2º, da Magna Carta).
Colhe-se da redação dos referidos dispositivos Constitucionais:

Artigo 37. (omissis):


II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação
44
Direito Administrativo Brasileiro, 20ª edição, Malheiros Editores, São Paulo, 1995, p. 96.
45 TRF5. PROCESSO: 200183000072908, AC329531/PE, DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ
ALBERTO GURGEL DE FARIA, Segunda Turma, JULGAMENTO: 23/10/2007.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo
com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei
de livre nomeação e exoneração;
§2º. A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da
lei. Grifo nosso.

Por fim, uma vez mais, impossível não citar a seguinte lição: "se o
concurso está cercado de circunstâncias obscuras, coincidências intrigantes,
atos realizados a toque de caixa, há uma névoa de ilegalidade que recomenda
a declaração de nulidade"46.

3.3.7 – Do diagnóstico individualizado:


SEM APROVADO NÃO AUSÊNCIA
CARGOS PREVISTOS NOS FUNÇÃO
NECESSIDADE SUCESSIVOS JUSTIFICATI NO PREVISTO DE PRAZO Descumprimento
EDITAIS NS. 02/2017, 03/2017, BUROCRÁTICA
PERMANENTE SELETIVOS VA/INSUFICI CONCURSO NA LEI FINAL NA Lei n. 2148/2002
04/2017 E 05/2017 OU TÉCNICA
ENTE n. 01/2016 MUNICIPAL LEI

Professor II Substituto
X X
de Artes – 20 horas
Professor II Substituto
X X X
de Artes – 40 horas
Professor II Substituto
X X
de Ciências – 40 horas
Professor II Substituto
de Educação Física – X X X
20 horas
Professor II Substituto
de Educação Física – X X X
40 horas
Professor I Substituto
de Ensino
X X X Art. 4º, §2º
Fundamental e Infantil
– 20 horas
Professor I Substituto
de Ensino
X X X
Fundamental e Infantil
– 40 horas
Professor II Substituto
de Ensino Religioso – X X
40 horas
Professor II Substituto
de Geografia – 20 X X
horas
Professor II Substituto
de Geografia – 40 X X X
horas
Professor II Substituto
X X
de História – 20 horas
Professor II Substituto
X X X
de História – 40 horas

46
TJSC, AC n. 2007.032814-3, rel. Juiz Paulo Henrique Moritz Martins da Silva, j. 12.1.2010.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
59
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 60

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
Professor II Substituto
de Matemática – 40 X X X
horas
Professor II Substituto
de
X X
Português/Espanhol –
20 horas
Professor II Substituto
de
X X
Português/Espanhol -
40 horas
Professor II Substituto
de Português/Inglês – X X X
20 horas
Professor II Substituto
de Português/Inglês – X X
40 horas
Auxiliar de Ensino
X X X X X
Substituto
Auxiliar de Serviços
4 lista
Gerais Substituto – X X X aposentadorias esgotada
X
Centro Urbano
Auxiliar de Serviços
Gerais Substituto –
Escolas do
Campo/Interior nas
lista
Localidades de X X X
X esgotada
Itoupaba, Lagoa do
Caverá, Distrito
Hercílio Luz e Sanga
da Toca
Enfermeiro X Art. 4º, §2º
Enfermeiro em
Emergência e X Art. 4º, §2º
Urgência
Enfermeiro
Especialista em X Art. 4º, §2º
Saúde Mental
Farmacêutico X Art. 4º, §2º
Fisioterapeuta X Art. 4º, §2º
Fonoaudiólogo X Art. 4º, §2º
Nutricionista X Art. 4º, §2º
Odontólogo – 20 horas X Art. 4º, §2º
Odontólogo – 40 horas X Art. 4º, §2º
Aumento de
Psicologo X X serviço Art. 4º, §2º
Terapeuta
X X Art. 4º, §2º
Ocupacional
Técnico de
Enfermagem em
X X Art. 4º, §2º
Emergência e
Urgência
Técnico em
X X Art. 4º, §2º
Enfermagem
Técnico em Higiene
Dentária/Técnico em X Art. 4º, §2º
Saúde Bucal
Técnico em Radiologia X Art. 4º, §2º

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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Atendente de
X X Art. 4º, §2º
Farmácia
Auxiliar de
X X Art. 4º, §2º
Enfermagem
Auxiliar de Serviços
lista
Gerais Substituto X X X esgotada
X Art. 4º, §2º
(Saúde)
Eventual
Assistente Social X afastamento Art. 4º, §2º
Aumento de
Pedagogo X X serviço X
Aumento de
Orientador Social X X serviço X
Profissional de Possível
X X encerramento Art. 4º, §2º
Abordagem Social programa
Auxiliar de Serviços Possível
lista
Gerais (assistência X X x encerramento Art. 4º, §2º
programa esgotada
social)
Auxiliar Administrativo X X X X integral

Vigia X X integral

Deste diagnóstico, percebe-se que algumas situações são


gravíssimas, sendo a incidência de uma das circunstâncias previstas acima o
suficiente para exclusão do processo seletivo:
- Ausência de previsão da Lei Municipal para a função temporária:
Pedagogo e Orientador Social;
- Ausência de qualquer tipo de justificativa (fls. 648-650 do ICP):
Professor II Substituto Artes – 20 horas; Professor II Substituto Geografia – 40
horas; Professor II Substituto História – 40 horas; Professor II Substituto de
Português/Inglês – 20 horas;
- Ausência de prazo para a função temporária: Auxiliar de Ensino
Substituto e Auxiliar de Serviços Gerais Substituto (Saúde e Educação);
- Aprovados em concurso público vigente: Auxiliar Administrativo,
Auxiliar de Ensino, Professor I – Ensino Fundamental, Professor I – Ensino Infantil,
Professor II – Educação Física, Professor II – Matemática e Vigia.

4 – DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:


Todos os demandados, salvo o Município de Araranguá/SC, que
está presente no feito porque eventual procedência do pedido afetará sua esfera
jurídica, praticaram atos de improbidade administrativa.

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A Lei n. 8.429/92, denominada Lei de Improbidade Administrativa,
prevê inúmeras sanções aos autores de atos ímprobos que causem dano ao
patrimônio público ou contrariem os princípios da Administração, destacando-se o
que segue:

Art. 1° - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público,


servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou
de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
serão punidos na forma desta lei.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas
no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato
de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a
velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.
Art. 5° - Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa
ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do
dano.

De outro lado, a Lei n. 8.666/93 institui normas para licitações e


contratos da Administração Pública e vários procedimentos que devem ser seguidos
pelo Administrador e o Contratado. Constitui-se, ainda, em instrumento de
acatamento dos princípios elencados no artigo 3º da Lei n. 8.429/92, buscando
blindar a atividade administrativa de negócios desfavoráveis e obstando
favoritismos47.
No entanto, restou evidenciado que as determinações das
referidas leis, bem como os princípios basilares da administração foram
flagrantemente ignorados pelos requeridos, favorecendo à empresa demandada,
que obteve vantagem mediante dispensa indevida de licitação.
Aliás, ficou devidamente constatado que o réu Mariano Mazzuco
47
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. 3ed. São Paulo:
Malheiros, 1995. p. 180.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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Neto não justificou o preço (tal como determina o artigo 26, parágrafo único, III, da
Lei n. 8.666/1993) para celebração do contrato em questão com propósito: favorecer
a empresa FUNDATEC, uma vez que o valor estipulado pelos serviços não condiz
com aqueles praticados anteriormente por outras empresas pelo mesmo serviço.
Com isso, verifica-se que a conduta praticada se amolda
perfeitamente ao que preceitua o artigo 10, caput e VIII, da Lei n. 8.429/93, que de
qualquer forma, é punido na forma culposa também:

Artigo 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
[...]
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

A conduta incidente em referido dispositivo legal revela malversação


dos valores e bens, indicando uma gestão ruinosa que abrange a falta de cuidado
com a coisa pública, causando prejuízo.
Em razão disso, o agente público deve sempre observar o dever de
fidelidade para com a Administração Pública, agindo com diligência e boa-fé, sendo
inadmissível que permita ou colabore com a dilapidação do patrimônio público.
Nesse sentido, Hugo Nigro Mazzili arremata48:

[...] o art. 10 expressamente prevê a forma dolosa ou culposa para qualquer


ato de improbidade administrativa que cause prejuízo ao erário. Destarte, se
o administrador permite que um particular incorpore de forma indevida
valores municipais, por exemplo, e se ao fazer isso ele foi desidioso ou
negligente, ele faltou com o dever de honestidade, porque um
administrador honesto é zeloso isso faz parte da definição do
administrador. Ser honesto é pressuposto de quem exerça cargo público;
não é qualidade. (destacou-se)

Sobre o tema, ensina Flavia Cristina Moura de Andrade e Lucas dos


Santos Pavione:

[...] Frustrar a licitude: a expressão abrange quaisquer condutas que atentem


contra a rígida observância legal que deve seguir o procedimento licitatório,
dando ensejo a fraudes, enriquecimento ilícito e toda a sorte de
favorecimento de interesses particulares. Conforme leciona Wallace Paiva
Martins Júnior: “ a frustração da licitude de processo licitatório significa a
48
A Defesa dos interesses Difusos em Juízo. 15ed. São Paulo: Saraiva, p. 160.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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corrupção dos princípios, regras e fins do instituto da licitação, em prejuízo
real da isonomia entre os aspirantes e da seleção da obtenção da proposta
mais vantajosa para o Poder Público .49

Na mesma linha, ensina o Promotor de Justiça Pedro Roberto


Decomain50:

Nas situações do inciso VIII frustração da licitude de procedimento


licitatório ou sua dispensa (ou declaração de inexigibilidade) indevida -, esse
prejuízo sempre ocorre, eis que a Administração (lato senso) paga por algo
que adquiriu em condições irregulares e com inobservância de princípios
constitucionais. O prejuízo patrimonial é representado, no caso, pelo
pagamento daquilo que foi adquirido sem licitação ou com procedimento
licitatório viciado.

Conforme as lições de Celso Antonio Bandeira de Mello51, a licitação


atende três exigências impostergáveis:

Proteção aos interesses públicos e recursos governamentais ao se


procurar a oferta mais satisfatória; respeito aos princípios da isonomia e
impessoalidade (previstos nos arts. 5º e 37, caput) pela abertura de
disputa do certame; e, finalmente, obediência aos reclamos de probidade
administrativa, imposta pelos arts. 37, caput e 85, V, da Carta Magna
brasileira.

Ademais, consoante disposições do artigo 37, caput, da Constituição


Federal, a atuação administrativa deve estar pautada fielmente nos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Em vista de tais
matrizes e sempre primando pelo interesse público, estabeleceu o constituinte:

Artigo 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: […]

É imperativo que o administrador público norteie-se pelos citados


princípios em todas as suas atividades, o que inclui o preenchimento dos cargos e
funções públicas, devendo os concursos públicos e processos seletivos serem
norteados pelos mesmos princípios, realizando de maneira fundamentada.
Acerca dos princípios norteadores da administração pública, sempre

49 Improbidade Administrativa. Editora Jus Podivm, 2010, p. 114.


50 Improbidade Administrativa. Editora Dialética, 2007, p. 120.
51 Curso de Direito Administrativo. 21ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 503.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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bom lembrar a oportuna lição de Hely Lopes Meirelles52:

Os princípios básicos da administração pública estão consubstanciados em


quatro regras de observância permanente e obrigatória para o bom
administrador: legalidade, moralidade, impessoalidade e publicidade. Por
esses padrões é que se hão de pautar todos os atos administrativos.
Constituem, por assim dizer, os fundamentos da validade da ação
administrativa, ou, por outras palavras, os sustentáculos da atividade
pública. Relegá-los é desvirtuar a gestão dos negócios públicos e
olvidar o que há de mais elementar para a boa guarda e zelo dos
interesses sociais. Grifo nosso.

Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello53:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma


qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade,
conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Grifo
nosso.

O princípio da legalidade pode ser assim conceituado: "O


administrador público além de estar proibido de agir contra ou além da lei só poderá
atuar de acordo com ela. [...] a conduta dos agentes públicos deve estar pautada
não só na lei em sentido estrito, mas, sobretudo, nas normas-princípios"54. Vale
trazer a ponto a seguinte preleção de José dos Santos Carvalho Filho55:

O princípio da legalidade é talvez o princípio basilar de toda a


atividade administrativa. Significa que o administrador não pode
fazer prevalecer sua vontade pessoal; sua atuação tem que se cingir
ao que a lei impõe. Essa limitação do administrador é que, em última
instância, garante os indivíduos contra abusos de conduta e desvios de
objetivos. Grifo nosso.

Já o princípio da impessoalidade pauta-se no fato de que a


Administração Pública não pode levar em conta nos seus atos as compleições
físicas, genéticas ou culturais de seus administrados, imputando-lhes tratamento
desigual.
52
MEIRELLES. Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26ª ed., Malheiros, São Paulo: 2001, p. 81/82.
53
MELLO. Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. 16. ed. São Paulo: Malheiros. 2003. p. 818.
54 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 864.
55 CARVALHO FILHO. José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed., rev., ampl. e atual. até

31.12./2013. São Paulo: Atlas, 2014. p. 245-246.


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Sob outro prisma, a impessoalidade também apresenta ligação com
o princípio da finalidade, "o qual impõe ao administrador público que só pratique o
ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito
indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal"56.
Portanto, exige-se que o ato seja praticado com finalidade pública,
impedindo o administrador de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros. O
princípio da impessoalidade veda a edição de ato administrativo sem conveniência
para a Administração, visando apenas a satisfazer interesse privado.
O princípio da moralidade, por sua vez, fica atrelado à maneira de
se proceder no trato da coisa pública. Nesse diapasão, não é suficiente que o
agente público permaneça adstrito ao princípio da legalidade, sendo necessário que
obedeça à ética administrativa, estabelecendo uma relação de adequação entre seu
obrar e a consecução do interesse público.
A moral administrativa, por sua vez, é extraída do próprio ambiente
institucional, condicionando a utilização dos meios previstos em lei para o
cumprimento da função própria do Poder Público: a criação do bem comum. Nesta
toada, sobre o princípio da moralidade administrativa, colhe-se da doutrina:

Entendemos que a probidade é espécie do gênero "moralidade


administrativa" a que alude, v.g., o art. 37, caput e seu §4º da CF. O núcleo
da probidade está associado (deflui) ao princípio maior da moralidade
administrativa; verdadeiro norte à Administração em todas as suas
manifestações. [...] Existe, ratificamos, certa dificuldade doutrinária para
determinar o real sentido e alcance de cada um desses princípios... Não é
possível reduzir sua aplicação a casos determinados. O importante ser
verificar e detectar, na atuação dos órgãos administrativos, violações
ao Direto. Diante de um caso concreto deverá o juiz ou administrador
sindicar exaustivamente o comportamento da Administração. Caso
haja quebra da confiança, de lealdade, de ética, haverá maus tratos à
moralidade administrativa57. Grifo nosso.

Já a eficiência, princípio relativamente recente na Constituição


Federal, em relação aos demais, tem por pretensão fazer valer o modelo gerencial
de administração pública, visando ao aperfeiçoamento estrutural da máquina do
Estado e desburocratização dos seus serviços, mediante a redução de custos e
56
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 41. ed. Atual. São Paulo: Malheiros, 2015.
57 FIGUEIREDO, Marcelo. Probidade administrativa. 5.ed. - São Paulo: Malheiros, 2004, p. 41-42
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adoção das melhores técnicas de gestão.
Aliás, conforme demonstrando anteriormente, as sucessivas
contratações temporárias realizadas por processos seletivos para os mesmos
cargos, além de claro desvirtuamento do instituto da contratação temporária,
comprova a violação aos mais basilares princípios administrativos, notadamente a
eficiência que deve imperar no serviço público. Sobre o tema, o Tribunal de
Justiça de Santa Catarina já decidiu:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - CONTRATO


PARA FUNÇÕES TEMPORÁRIAS - ABUSO E DESVIO - RECURSO
DESPROVIDO. "A contratação dos mesmos professores temporários
por diversos anos letivos, seguidamente, sem realização de concurso
público para preenchimento de vagas remanescentes, descaracteriza a
temporariedade e excepcionalidade do interesse público exigidos para
a exceção descrita no art. 37, IV, da Carta Magna. Dessa forma, os
agentes públicos responsáveis pelas contratações irregulares
praticaram ato de improbidade administrativa descrito no art. 11, I, da
Lei n. 8.429/92, com desvio da finalidade da lei, salientando-se que a
desonestidade das condutas provém da violação ao dever de eficiência
na gestão da coisa pública" (AC nº 2004.033878-1, Des. Volnei Carlin)58.
Grifo nosso.

In casu, tem-se que o réu Mariano Mazzuco Neto, na condição de


Chefe do Poder Executivo, ao praticar ações contrárias ao ordenamento jurídico,
conforme fatos descrito alhures, uma vez mais, violou as regras da boa
administração e não agiu em conformidade com os princípios basilares da
legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência.
Conforme exposto nos autos da Ação Civil Pública n.
0900101-64.2017.8.24.0004, grande parte das funções a serem preenchidas em
razão do Processo Seletivo Simplificado n. 01/2017 não apresentavam nenhuma
necessidade imperativa e inadiável, nem mesmo visavam suprir carências
momentâneas de servidores efetivos. Na aludida ação, houve decisão para
suspender o certam e, posteriormente, houve indevida "revogação" ao invés de
anulação, circunstância que já demonstra a falta de interesse em adotar atitudes
condizentes com melhor prática Administrativa.
Todavia, por meio do Edital n. 06/2017, o demandado Mariano
58
TJSC, Apelação Cível n. 2007.057348-7, de Itajaí, rel. Des. Newton Trisotto, j. 03-06-2008.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Mazzuco Neto, demonstrando atitude não condizente com a decisão de suspensão
do Processo Seletivo, determinou a "continuidade" do certame. Além disso, com os
Editais ns. 02/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017 do Processo Seletivo, o alcaide
persiste em cometer atos inconstitucionais, ilegais e ímprobos, uma vez que as
contratações ora pretendidas carecem de necessidade temporária de excepcional
interesse público.
Mais que isso, nesta demanda, constatou-se que, no passado,
ocorreram sucessivos Processos Seletivos para contratação temporária, em
flagrante violação à regra constitucional do Concurso Público. O fato é que, no
Município de Araranguá, houve absoluta inversão de valores, transformando as
contratações temporárias em regra e a admissão em caráter efetivo em
exceção, circunstância que não se pode admitir.
Aliás, conforme Decretos ns. 5396/2012 (fls. 399-380), 5317/2011
(fls. 400-414), 5193/2011 (fls. 417-419), 5085/2011 (fls. 421-422), 5080/2011 (fls.
423-424), 4986/2011 (fl. 425-426), 4984/2011 (fls. 429-430), 4875/2011 (fls.
431-447), 4861/2010 (fls. 448-464), 4769/2010 (fls. 469-471), 4725/2010 (fl. 473),
4628/2010 (fls. 475-476), 4561/2010 (fls. 477-478), 4560/2010 (fls. 479-480),
4514/2009 (fls. 499-516), 4409/2009 (fls. 523-527), 4357/2009 (fls. 529-530),
4214/2014 (fls. 534-537), 4147/2009 (fls. 539-541), 3907/2008 (fls. 566-568),
3749/2008 (fls. 572-573), 3748/2008 (fls. 574-575), 2942/2006 (fls. 596-599) e
2779/2005 (fls. 611-613), enquanto o réu Mariano Mazzuco Neto exerceu a chefia
do Poder Executivo Municipal, foram homologados diversos Processos Seletivos
equivocados para contratações temporárias. Ou seja, não é a primeira fez que o
requerido se utiliza de instituto legítimo, todavia, para fins alheios ao interesse
público.
Em referidos decretos, todos subscritos pelo demandado Mariano
Mazzuco Neto, pode-se dizer que houve interesse na contratação de servidores
para as seguintes funções: Gari, Lixeiro, Auxiliar de Serviços Gerais, Operário
de Tubulação, Carpinteiro, Auxiliar de Ensino, Educador, Recreador de
Habilidades Múltiplas, Recreador de Artes Cênicas, Recreador de Música,

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
Educador, Recreador, Professor de Costura Industrial e Modelagem, Instrutor,
dentre outras, muitas delas de caráter permanente, que não demandam
excepcionalidade para contratação emergencial.
É preciso dar um ponto final à forma como são realizadas as
contratações de servidores no Município de Araranguá. Da forma como vem sendo
feito, ao arrepio das normas constitucionais e legais, inclusive com nítida má-fé pelo
Chefe do Poder Executivo Municipal, configuram flagrante ato de improbidade
administrativa. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu:

[...] "Existindo concurso vigente não pode o administrador


simplesmente efetuar a contratação de outros em face de lei que
permite a contratação emergencial. Vontade deliberada em frustrar a
ordem dos aprovados no concurso público. Improbidade caracterizada.
[...]." (TJRS, Apelação Cível n. 70046166104, de Gravataí, rel. Des. Eduardo
Kraemer, j. 24.10.2013) - Transborda a mera ilegalidade o agir do
administrador público que, ao seu alvedrio, ignora o resultado de
concurso público realizado com lisura e, durante seu prazo de validade,
promove a prorrogação dos contratados de servidores temporários59.
Grifo nosso.

O que se pretende deixar claro é que a utilização do instituto da


contratação temporária pela Administração Pública não é ato discricionário. O
comando Constitucional que regulamenta esta espécie de contratação prevê a
existência de necessidade temporária de excepcional interesse público como uma
das condições de sua validade.
Destarte, não serão critérios de conveniência e oportunidade que
permitirão à Administração a dispensa de concurso público para contratação de
servidores, mas sim a existência de um interesse público especial, o que não foi
observado pelo Prefeito Municipal de Araranguá, o demandado Mariano Mazzuco
Neto.
O interesse público – embora esteja presente no caso em tela, já
que se trata de profissionais que prestam serviços na área da saúde e educação –
não é excepcional. Tanto que o Município nem mesmo justifica de maneira
motivada a excepcionalidade em alguns casos. A saúde, a educação e a assistência
59TJSC, Apelação n. 0003322-18.2010.8.24.0007, de Biguaçu, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, j.
28-06-2016.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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social são, de fato, serviços públicos que devem ser prestados de forma
continuada, sendo esta uma das responsabilidades do Poder Público Municipal.
É evidente, então, que a contratação de servidores para o exercício
de atividades regulares e cotidianas como tais, mediante dispensa de concurso
público, implica ofensa à Constituição Federal e à Constituição do Estado de
Santa Catarina.
Nesse rumo, evidente que a intenção do requerido Mariano Mazzuco
Neto, novamente, é burlar a exigência Constitucional da realização de
concurso público. Nos dizeres de Alexandre de Morais, a burla constitucional
está caracterizada quando60:

[...] haverá flagrante desvio inconstitucional dessa exceção se a


contratação temporária tiver como finalidade o atendimento de
necessidade permanente da Administração Pública. Assim,
impossível a contratação temporária por tempo determinado – ou de
suas sucessivas renovações – para atender a necessidade
permanente, em face do evidente desrespeito ao preceito
constitucional que consagra a obrigatoriedade do concurso público;
admitindo-se, excepcionalmente essa contratação, em face da
urgência da hipótese e da imediata abertura de concurso público para
preenchimento dos cargos efetivos. Grifo nosso.

A jurisprudência pátria também não admite a burla ao concurso


público para exercício de funções permanentes:

Servidor público: contratação temporária excepcional (CF, art. 37, IX):


inconstitucionalidade de sua aplicação para a admissão de
servidores para funções burocráticas ordinárias e permanentes 61

Conforme extrai-se dos §§ 2º e 4º do artigo 37 da Constituição


Federal, as consequências da conduta de inobservância à obrigatoriedade de
concurso público acarretam a nulidade absoluta dos atos ilegais, bem como
possibilitam o sancionamento da autoridade responsável por ato de
improbidade administrativa, nos termos da Lei n. 8.429/92.
Nesse sentido, ensinam os doutrinadores Emerson Garcia

60
MORAIS, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 261.
61 Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.987. Pleno. DJ
02.04.2004.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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e Rogério Pacheco Alves 62:

De acordo com o art. 37, §2º, da Constituição, "a não observância


do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a
punição da autoridade responsável, nos termos da lei." O preceito
constitucional deve ser integrado com a Lei nº 8.429/1992, sujeitando
o agente, da administração direita ou indireta, à tipologia estatuída no
art. 11, caput, deste diploma legal, sempre que realizar contratações
para o preenchimento de cargos que exigem a provação prévia em
concurso público, sem a sua realização".

Nota-se que o Prefeito Municipal Mariano Mazzuco Neto, ora


demandado, em evidente simulação, uma vez mais, tenta fazer contratações
temporárias para funções permanentes, sem haver necessidade excepcional,
fraudando a regra constitucional.
Assim, resta clara a violação aos princípios norteadores da
administração pública. Não é crível admitir ou tolerar que os serviços
essenciais e permanentes sejam assumidos por profissionais que mantém
vínculo contratual precário com o Município.
Não bastasse isso, a contratação temporária, caso efetivada fora
dos casos legais, ofende o princípio da consagração da ampla acessibilidade aos
cargos públicos, bem como o princípio da isonomia, pois restringe o acesso aos
cargos que deveriam ser preenchidos por meio de concurso, procedimento este
assegurado pela Constituição Federal e que confere oportunidade a todos os
interessados.
Desta forma, o demandado merece agora, novamente, arcar com
os ônus de seus atos, suportando as sanções legalmente previstas para a
improbidade administrativa, incidindo na hipótese do artigo 11, caput e inciso V da
Lei da Moralidade Administrativa:

Artigo 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente: [...];

62GARCIA, Emerson e ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 6ª ed. Editora Lúmen
Juris, 2011, p. 432.
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V - frustrar a licitude de concurso público; Grifo nosso.

Sobre o tema, Waldo Fázzio Júnior63 comenta:

Desde logo, fique claro que a frustração da licitude de concurso público


está inserta na Lei de Improbidade Administrativa, porque sua
ocorrência investe contra os princípios constitucionais da moralidade e
da impessoalidade que devem reger a Administração Pública. [...]
Frustrar é reverter a finalidade do concurso público. Significa desviá-lo de
sua função constitucional, imprimindo-lhe interesse diverso do interesse
público. [...]
Tendo em vista assegurar a regularidade do concurso público, há que se
verificar se o procedimento de inscrição foi regular, se ocorreu discriminação
de candidatos, se houve regular publicação dos editais, se esses editais
são completos, se foi protegido o sigilo de provas, se estas ocorreram em
local público e, enfim, se foi observada a ampla publicidade dos resultados e
dos critérios de seleção. Nesses pontos se escondem os atos de
improbidade administrativa mais frequentes. Grifo nosso.

É da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça64:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO DE IMPROBIDADE –


EX-PREFEITO – CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES MUNICIPAIS SOB O
REGIME EXCEPCIONAL TEMPORÁRIO – INEXISTÊNCIA DE ATOS
TENDENTES À REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO DURANTE
TODO O MANDATO – OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA
MORALIDADE.
1. Por óbice da Súmula 282/STF, não pode ser conhecido recurso especial
sobre ponto que não foi objeto de prequestionamento pelo Tribunal a quo.
2. Para a configuração do ato de improbidade não se exige que tenha havido
dano ou prejuízo material, restando alcançados os danos imateriais.
3. O ato de improbidade é constatado de forma objetiva, independentemente
de dolo ou de culpa e é punido em outra esfera, diferentemente da via penal,
da via civil ou da via administrativa.
4. Diante das Leis de Improbidade e de Responsabilidade Fiscal,
inexiste espaço para o administrador "desorganizado" e
"despreparado", não se podendo conceber que um Prefeito assuma a
administração de um Município sem a observância das mais
comezinhas regras de direito público. Ainda que se cogite não tenha o
réu agido com má-fé, os fatos abstraídos configuram-se atos de
improbidade e não meras irregularidades, por inobservância do
princípio da legalidade.
5. Recurso especial conhecido em parte e, no mérito, impróvido. Grifo nosso.

Por fim, colhe-se da jurisprudência Catarinense:

Se houver abuso na "contratação temporária", ofensa ao princípio do

63 Improbidade Administrativa. Doutrina, Legislação e Jurisprudência. Editora Atlas, 2012, p. 334-338.


64
REsp 708.170/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2005.
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concurso público instituído no inc. II do art. 37 da Constituição da
República, o agente responsável pode ser punido até mesmo com a
perda da função pública (Lei n. 8.429/1992, art. 12, inc. III)65. Grifo nosso.

Assim, nos termos acima retratados, necessário se faz a


responsabilização do demandado Mariano Mazzuco Neto pela prática de atos de
improbidade administrativa, diante da dispensa indevida de licitação e da burla à
Constituição Federal, assim como da violação dos princípios que gerem a
Administração Público, nos termo dos artigos 10, VIII, e 11, caput e V, da Lei n.
8.429/1992, e da Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e Ciência –
FUNDATEC por ter se beneficiado do ato ímprobo de dispensa indevida de
licitação.

5 – DO DANO MORAL COLETIVO:


Uma vez julgada procedente a presente actio e reconhecido o dano
derivado da conduta do atual Prefeito, deve-se, ao lado da obrigação de restituir os
valores arrecadados com as inscrições, incidir o responsável principal, Mariano
Mazzuco Neto, no ressarcimento dos danos morais transindividuais.
Com efeito, o dano moral transindividual se constata na agressão a
bens e valores jurídicos que são inerentes a toda a coletividade de forma indivisível.
No caso em exame, sem dúvidas, a conduta irresponsável por parte
de Mariano Mazzuco Neto abalou o patrimônio moral da coletividade, pois, além do
prejuízo causado aos inscritos, boa parte da população restou ofendida, direta ou
indiretamente, com a lesão a que foram expostos.
Além disso, sabe-se que diversos candidatos se inscreveram no
presente certame, aproximadamente 2.589 pessoas segundo consulta ao site da
FUNDATEC, o que, por si só, num Município como o nosso, acaba gerando
repercussão social imensa. Obviamente, muitas pessoas que estudaram, pagaram
inscrições e cursinhos, bem como efetuaram outros gastos, sentem-se ultrajadas
com a falta de preparo ocasionada pelo Município de Araranguá, administrado pelo
atual Prefeito Mariano Mazzuco Neto.
65 TJSC, Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2011.033709-7, da Capital, rel. Des. Newton Trisotto,
j. 01-08-2012.
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Assim, não pode ser ignorado que as ações cometidas afetaram a
credibilidade da Cidade de Araranguá, causando distúrbios em toda a coletividade
residente nesta Comarca, bem como ao enorme grupo de candidatos que se
inscreveu no processo seletivo.
Infelizmente, por casos similares como este, o Brasil apresenta
diversos quadros negativos, os quais todos conhecem.
Não se pode negar que a sensação que atingiu a todos no caso
vertente foi a de que a Administração Pública, por intermédio de Mariano Mazzuco
Neto, não respeita os princípios constitucionais, pois, não se poderia conceber o
mais forte submetendo o mais fraco à tamanha situação de desrespeito,
evidenciando-se a presença dos elementos caracterizadores do dano moral coletivo
citados por Xisto Tiago de Medeiros Neto66, quais sejam: a conduta antijurídica do
agente; a ofensa significativa e intolerável a interesses extrapatrimoniais,
identificados no caso concreto, reconhecidos e inequivocamente compartilhados por
uma determinada coletividade; a percepção do dano causado, correspondente aos
efeitos que, ipso facto, emergem coletivamente, traduzidos pela sensação de
repulsa, de inferioridade, de descrédito, de desesperança, de aflição, de humilhação,
de angústia ou respeitante a qualquer outra consequência de apreciável conteúdo
negativo e, por fim, o nexo causal observado entra a conduta ofensiva e a lesão
socialmente apreendida e repudiada.
Considerando a Moralidade Administrativa como bem supremo a ser
resguardado, porque dela decorre o bem estar de todos, pertencente em igual
monta a toda sociedade, também deve ser imposto o pagamento de indenização
pelo dano moral causado à coletividade.
Por isso, os tribunais pátrios admitem a possibilidade de
condenação dos responsáveis por danos extrapatrimoniais coletivos67.
Desta forma já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE - IDOSOS - DANO


MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA DOR E

66 Dano Moral Coletivo. São Paulo, LTR, 2004, p. 137/138.


67
TRT 8ª Região - RO 5309/2002, 1ª T, Rel. Juiz Luis José de Jesus Ribeiro, j. 17.12.2002.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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DE SOFRIMENTO - APLICAÇÃO EXCLUSIVA AO DANO MORAL
INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE
DIREITO - ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DE
TRANSPORTE - ART. 39, § 1º DO ESTATUTO DO IDOSO - LEI
10741/2003. NÃO PREQUESTIONADO.
1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge
uma classe específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pela
presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto
síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma
mesma relação jurídica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo
prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo
psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, mas
inaplicável aos interesses difusos e coletivos. 3. Na espécie, o dano
coletivo apontado foi a submissão dos idosos a procedimento de
cadastramento para o gozo do benefício do passe livre, cujo deslocamento
foi custeado pelos interessados, quando o Estatuto do Idoso, art. 39, § 1º
exige apenas a apresentação de documento de identidade. 4. Conduta da
empresa de viação injurídica se considerado o sistema normativo. 5.
Afastada a sanção pecuniária pelo Tribunal que considerou as
circunstâncias fáticas e probatória e restando sem prequestionamento o
Estatuto do Idoso, mantém-se a decisão. 5. Recurso especial parcialmente
provido.68

José Rubens Morato Leite, em estudo acerca do assunto, colaciona


que:

[...] ainda que de forma bastante discreta, vem sendo admitida a


possibilidade de configuração de um dano moral afeto à coletividade como
um todo ou mesmo a um grupo de indivíduos determinados ou
determináveis. É o chamado dano moral coletivo, que, no entender de Carlos
Alberto Bittar Filho, "é a injusta lesão da esfera moral de uma dada
comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de
valores coletivos"69.
[...] E prossegue o ilustre jurista: "Quando se fala em dano moral coletivo,
está-se fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa
comunidade (maior ou menor), idealmente considerada, foi agredido de
maneira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso
dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu aspecto
material".
Assim como o dano moral individual, também o coletivo é passível de
reparação. Isto pode ser depreendido do próprio texto constitucional, no qual
não se faz qualquer espécie de restrição que leve à conclusão de que
somente a lesão ao patrimônio moral do indivíduo isoladamente considerado
é que seria passível de ser reparado. Além disso, a legislação ordinária vem
dando mostras de que a mens legislatoris do constituinte foi exatamente dar
ao disposto nos incs. V e X, do art. 5.º, da Lei Maior, a abrangência mais
ampla possível, alcançando, inclusive, o dano moral causado à coletividade

68
Superior Tribunal de Justiça. REsp 1057274/RS. Min. Rela. Eliana Calmon. Data do
julgamento:01/12/2009.
69 Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico brasileiro, in Direito do Consumidor, v, 12, p. 55.

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ou a certos grupos de indivíduos.70

De acordo com Wallace Paiva Martins Júnior, a Lei de Improbidade


Administrativa:

[...] não se preocupa apenas com o aspecto patrimonial do dano, tanto que
a aplicação das sanções nela previstas prescinde de sua efetividade,
atingindo sobretudo o dano moral causado à Administração Pública”71.

No mesmo norte, Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que:

[...] o ato de improbidade afeta, em grande parte, o patrimônio público


econômico-financeiro; afeta o patrimônio público moral; afeta o
interesse da coletividade em que a honestidade e a moralidade
prevaleçam no trato da coisa pública; afeta a disciplina interna da
Administração Pública72 (grifou-se).

Complementando o que foi dito, imperioso ressaltar que o artigo 12


da Lei de Improbidade Administrativa, ao estabelecer sanções para os três tipos de
atos ímprobos (que importem enriquecimento ilícito, que causem prejuízo ao erário
ou que atentem contra os princípios da administração pública), prevê o
ressarcimento integral do dano (se houver), sem distinguir o dano moral do
material. Especificamente sobre o parágrafo único do artigo em comento, assinala
Maria Sylvia que:
[...] a expressão extensão do dano causado tem que ser entendida em
sentido amplo, de modo que abranja não só o dano ao erário, ao patrimônio
público em sentido econômico, mas também ao patrimônio moral do Estado
e da sociedade73.

Ademais, “[...] deve-se observar que o patrimônio público, de


natureza moral ou patrimonial, em verdade, pertence à própria coletividade, o que,
ipso facto, demonstra que qualquer dano causado àquele erige-se como dano
causado a esta”74.
Fábio Medina Osório, também, entende que o artigo 12 da Lei n.
70Revista Direito Ambiental. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. pp. 61-71.
71Probidade administrativa. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 344.
72Direito administrativo. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 764.
73Op. cit. p. 765.
74GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 2ª ed. rev. e ampl. Rio
de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 472.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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8.429/92 trata de danos materiais e morais, e que estes últimos não são abrangidos
pela multa civil prevista naquele artigo. É do entendimento deste doutrinador:

Ressarcimento do dano abrange, por certo, dano moral, até porque a lei
fala, no art. 12, III, em ressarcimento do dano, se houver, nos casos em que
a improbidade traduz mera agressão aos princípios. Há quem sustente a
viabilidade do ressarcimento do dano moral, sublinhando, todavia, que
este estaria bem tutelado pela multa civil, veículo próprio e adequado
a esse ressarcimento, submetendo-se aos prazos prescricionais,
diferentemente do que ocorre com o dano material, que é imprescritível à
luz do art. 37, parágrafo 5º, da Carta Magna.
Ouso discordar do entendimento de que a multa civil basta para
reparar o dano moral. Multa civil é conseqüência jurídica certa da
improbidade, sancionamento autônomo que independe da
comprovação de dano moral ou material, prevista a toda e qualquer
modalidade de ato ímprobo, ao passo que o dano moral à entidade
lesada, se houver, deve ser reparado à luz dos critérios que têm
orientado os julgadores nessa seara, sem prejuízo da incidência
cumulativa com multa civil e, mais ainda, sem submissão ao prazo
prescricional, por força expressa do art. 37, parágrafo 5º, da Carta de 1988,
aí residindo importância fundamental da norma jurídica em comento, dado
que permite reparação de dano moral independentemente da multa civil.
Aqui, visão sistemática permite tal conclusão, na medida em que a
doutrina, de longa data, vem permitindo reparação de dano moral à
pessoa jurídica, o que pode ocorrer com gravidade em se tratando de
determinados atos de improbidade atentatórios aos princípios da
administração pública75. Grifou-se.

Assim, presente o dano extrapatrimonial consistente no abalo ao


gerenciamento da coisa pública e a relação de causalidade entre o dano e a conduta
de Mariano Mazzuco Neto, nasce o dever de repará-lo, cabendo indenização.
O quantum, todavia, deve levar em conta o desvalor da conduta, a
extensão do dano e o poder aquisitivo do requerido Mariano Mazzuco Neto. No
presente caso, entende-se que o dano moral pode ser especificado no valor das
inscrições feitas pelos candidatos.
Destarte, percebe-se que a coletividade pode ter seus valores
atingidos por atos ímprobos de agentes públicos e que tais atos podem macular a
imagem que a pessoa jurídica de direito público ostenta perante a sociedade.
Ressalta-se, por oportuno, que a possibilidade jurídica do pedido de
indenização por dano moral coletivo decorre do artigo 37, §4º, da Carta Magna, do

75OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade administrativa. 2ª ed. ampl. e atual. Porto Alegre: Síntese,
1998. p. 256 e 257.
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artigo 1º, caput, IV, da Lei 7.347/85, do artigo 6º, VI, da Lei 8078/90 e artigo 18 da
Lei 8.429/92, assim redigidos:

Art. 1º da Lei 7347/85. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo
da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados:
IV a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
[...]
Art. 6º da Lei 8078/90. São direitos básicos do consumidor:
[...]
VI a efetiva proteção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano
ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento
ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor de pessoa jurídica
prejudicada pelo ilícito.

Cabe destacar que as Leis supracitadas são complementares, ou


seja, a utilização de uma não exclui a outra. Nesse rumo, existe a possibilidade de
cumulação de pedidos, em ações de improbidade administrativa, sempre que a
solução for adequada e benéfica para a tutela do patrimônio público.
Não é demais lembrar, por exemplo, que o Código de Defesa do
Consumidor é considerado um microsistema jurídico por ser uma lei multi-disciplinar,
já que cuida de temas do Direito Constitucional, Civil, Penal, Processual Civil e
Penal, além do Direito Administrativo, daí a possibilidade de aplicação de suas
normas na presente demanda, especialmente em conjunto com a Lei da Ação Civil
Pública.
Assim, comentando o Código de Defesa do Consumidor, explica
Leonardo de Medeiros Garcia:

Ficou claro que no CDC, o ressarcimento integral deverá se dar tanto em


relação ao dano patrimonial e/ou moral, seja a título individual, seja a título
coletivo. Sobre o dano moral coletivo, nos reportamos à belíssima lição de
André de Carvalho Ramos: "As lesões aos interesses difusos e coletivos não
somente geram danos materiais, mas também podem gerar danos morais. O
ponto-chave para a aceitação do chamado dano moral coletivo está na
ampliação de seu conceito, deixando de ser o dano moral um equivalente da
dor psíquica, que seria exclusividade de pessoas físicas (...) Com isso, vê-se
que a coletividade é possível é passível de ser indenizada pelo abalo moral,
o qual, por sua vez, não necessita ser a dor subjetiva ou estado anímico,
que caracterizam o dano moral na pessoa física, podendo ser o desprestígio
do serviço público, do nome social, a boa-imagem de nossas leis, ou mesmo

Carlos Eduardo Tremel de Faria


78
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
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o desconforto da moral pública, que inexiste no meio social".76

Colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL AÇÃO CIVIL PÚBLICA


LEGITIMIDADE MINISTÉRIO PÚBLICO PEDIDO DE REPARAÇÃO DE
DANOS CAUSADOS AO ERÁRIO POSSIBILIDADE PROVA DE DANO
MATERIAL AO ERÁRIO DESNECESSIDADE. 1. Não se conhece do
recurso especial nos pontos em que não foram preenchidos os seus
pressupostos de admissibilidade. 2. É perfeitamente cabível na ação civil
pública, regulada pela Lei 7.347/85, pedido de reparação de danos
causados ao erário pelos atos de improbidade administrativa,
tipificados na Lei 8.429/92. Precedentes desta Corte. 3. Para a
configuração do ato de improbidade não se exige que tenha havido
dano ou prejuízo material, restando alcançados os danos imateriais. 4.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, impróvido77. Grifo
nosso.

Na mesma senda:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE. MINISTÉRIO PÚBLICO. LESÃO À


MORALIDADE PÚBLICA. 1. O Ministério público, por força do art. 129, III,
da CF/88, é legitimado a promover qualquer espécie de ação na defesa do
patrimônio público social, não se limitando à ação de reparação de danos.
Destarte, nas hipóteses em que não atua na condição de autor, deve intervir
como custos legis (LACP, art. 5º, § 1º; CDC, art. 92; ECA, art. 202 e LAP,
art. 9º). 2. A carta de 1988, ao evidenciar a importância da cidadania no
controle dos atos da administração, com a eleição dos valores imateriais do
art. 37 da CF como tuteláveis judicialmente, coadjuvados por uma série de
instrumentos processuais de defesa dos interesses transindividuais, criou
um microsistema de tutela de interesses difusos referentes à probidade
da administração pública, nele encartando-se a Ação Popular, a Ação
Civil Pública e o Mandado de Segurança Coletivo, como instrumentos
concorrentes na defesa desses direitos eclipsados por cláusulas pétreas. 3.
Em conseqüência, legitima-se o Ministério Público a toda e qualquer
demanda que vise à defesa do patrimônio público sob o ângulo material
(perdas e danos) ou imaterial (lesão à moralidade). 4. A nova ordem
constitucional erigiu um autêntico 'concurso de ações' entre os
instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori,
legitimou o Ministério Público para o manejo dos mesmos. 5.A lógica
jurídica sugere que legitimar-se o Ministério Público como o mais perfeito
órgão intermediário entre o Estado e a sociedade para todas as demandas
transindividuais e interditar-lhe a iniciativa da Ação Popular, revela
contraditio in terminis. 6. Interpretação histórica justifica a posição do MP
como legitimado subsidiário do autor na Ação Popular quando desistente o
cidadão, porquanto à época de sua edição, valorizava-se o parquet como
guardião da lei, entrevendo-se conflitante a posição de parte e de custos
legis. 7. Hodiernamente, após a constatação da importância e dos
inconvenientes da legitimação isolada do cidadão, não há mais lugar para o
76
Direito do Consumidor. Código Comentado e Jurisprudência. 3ª ed. Impetus, Niterói: 2007, p. 40.
77 STJ.Resp n. 541962.Relator(a) Eliana Calmon. DJ 14/03/2007.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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veto da legitimatio ad causam do MP para a Ação Popular, a Ação Civil
Pública ou o Mandado de Segurança coletivo. 8. Os interesses mencionados
na LACP acaso se encontrem sob iminência de lesão por ato abusivo da
autoridade podem ser tutelados pelo mandamus coletivo. 9. No mesmo
sentido, se a lesividade ou a ilegalidade do ato administrativo atingem o
interesse difuso, passível é a propositura da Ação Civil Pública fazendo
as vezes de uma Ação Popular multilegitimária. 10. As modernas leis de
tutela dos interesses difusos completam a definição dos interesses que
protegem. Assim é que a LAP define o patrimônio e a LACP dilargou-o,
abarcando áreas antes deixadas ao desabrigo, como o patrimônio
histórico, estético, moral, etc. 11. A moralidade administrativa e seus
desvios, com conseqüências patrimoniais para o erário público
enquadram-se na categoria dos interesses difusos, habilitando o
Ministério Público a demandar em juízo acerca dos mesmos. 12. Recurso
especial desprovido.78 Grifo nosso.

Sendo acolhido o pedido de indenização, como é natural em sede


de direitos difusos, deve ser revertido ao fundo de reconstituição de bens lesados
(artigo 13 da Lei n. 7.347/85).
Feitas as devidas considerações sobre a importância e possibilidade
de incidência de danos morais ao caso, passa-se ao próximo tópico.

6 – DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA:


No caso em tela, cabível a concessão da tutela antecipada, sem
justificação prévia, para assegurar: 1) a suspensão do Contrato n. 90/2017,
celebrado entre o Município de Araranguá e a FUNDATEC, notadamente a
execução de seu objeto e o pagamento dos valores assumidos; 2) a suspensão dos
Editais ns. 02/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017 do Processo Seletivo Simplificado,
principalmente porque as provas teórico-objetivas serão realizadas no dia 3 de
setembro de 2017 (data provável), conforme cronogramas expostos nos editais; 3) a
nomeação do candidatos aprovados no Concurso Público n. 01/2016; e, 4) que
novos processos seletivos inconstitucionais não sejam lançados.
Conforme sabido, o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor
prevê a antecipação dos efeitos da tutela nas ações que versem sobre obrigações
de fazer e de não fazer, utilizados na presente demanda por força do disposto no
artigo 21 da Lei n. 7.347/85, decorrente do artigo 117 do Código do Consumidor, in
verbis:
78
STJ. Resp n. 427140/RO. Relator(a) Ministro José Delgado.DJ 25.08.2003.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumprimento da ação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
adimplemento.
[...]
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia , citado o réu.

Art. 21- Aplicam-se à defesa dos direitos e interesse difusos, coletivos e


individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei 8.078, de
11 de setembro de 1990, que institui o Código de Defesa do Consumidor.

Do artigo 84 da Lei 8.078/90 adveio a redação do artigo 461 do


antigo Código de Processo Civil, que trata da antecipação da tutela juntamente com
o artigo 273 daquele mesmo Codex.
Atualmente, a previsão para concessão liminar da tutela jurisdicional
vem disposta no artigo 300, §2º, do Novo Código de Processo Civil - Lei número
13.105/15, in verbis:

Artigo 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos


que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
[...]
§2º. A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.

Na mesma toada, o artigo 12 da Lei da Ação Civil Pública prevê:


"Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo".
Aplicando-se o acima exposto e observado o disposto no artigo 19
da Lei da Ação Civil Pública79, somando-se a farta prova inequívoca instruída nos
autos, não há óbice legal à tutela antecipatória pretendida.
Destarte, impõe-se a concessão de tutela antecipada na forma
preconizada no § 3º do artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor, e também
pela aplicação subsidiária do artigo 300, §2º, do Novo Código de Processo Civil, em
virtude da aplicação do artigo 19 da Lei de Ação Civil Pública, inclusive com a

79Art. 19, LACP Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil,
aprovado pela Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1.973, naquilo em que não contrarie suas disposições.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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aplicação de multa cominatória.
Dito isso, cita-se as lições de Vicente Greco Filho80 sobre o
periculum in mora:

[...] é a probabilidade de dano a uma das partes de futura ou atual ação


principal, resultante da demora do ajuizamento ou processamento e
julgamento desta e até que seja possível medida definitiva e o fumus boni
iuris (fumaça do bom direito), que é a probabilidade ou possibilidade da
existência do direito invocado pelo autor da ação cautelar e que justifica sua
proteção, ainda que em caráter hipotético. Este pressuposto tem por fim
evitar a concessão de medidas quando nenhuma é a probabilidade ou
possibilidade de sucesso e, portanto, inútil a proteção cautelar. Para a
aferição dessa probabilidade não se examina o conflito de interesses em
profundidade, mas em cognição superficial e sumária, em razão mesmo da
provisoridade da medida. O fumus boni iuris não é um prognóstico de
resultado favorável no processo principal, nem uma antecipação do
julgamento, mas simplesmente um juízo de probabilidade, perspectiva essa
que basta para justificar o asseguramento do direito.

No caso em mesa, consoante se extrai do contexto fático-jurídico


lançado nos tópicos anteriores, o fundamento embasador da demanda é relevante,
porquanto consubstancia grave afronta aos princípios constitucionais.
Quanto ao justificado receio de ineficácia do provimento final, este
decorre do fato de que aguardar até o final do processo, com sentença de mérito,
permitir-se-á que o Município de Araranguá desembolse recurso público para
pagamento de empresa contratada por intermédio de processo de dispensa de
licitação flagrantemente ilegal. Ou seja, haverá evidente prejuízo ao Erário caso isso
ocorra.
Ademais, caso seja indeferido o pedido liminar de suspensão dos
Editais do Processo Seletivo Simplificado em questão, e, assim, ocorra o
prosseguimento do certame, consequentemente haverá grande prejuízo, não só ao
erário do Município de Araranguá/SC, com a possível contratação de servidores
temporários de forma irregular, mas também aos próprios candidatos e eventuais
aprovados, considerando suas expectativas, além do fato de que poderão deixar
outras atividades para dedicação do cargo conquistado, já que certeira a anulação
do certame impugnado, por estar eivado de graves irregularidades, causando perda
de tempo e dinheiro público.
80
Direito Processual Civil Brasileiro, 3 v., 12 ed., Saraiva,1997, p. 153-154.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Desta forma, manifesta é a plausibilidade para concessão de
antecipação dos efeitos da tutela, de forma liminar, já que a contratação da empresa
FUNDATEC e consequente realização do Processo Seletivo, em dissonância com
as regras que regem a matéria, é evidentemente maculada pela nulidade, conforme
exaustivamente declinado no corpo desta inicial.
Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência Catarinense:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - LIMINAR - SUSPENSÃO DE


CONCURSO PÚBLICO - EDITAL - VÍCIOS - FUMUS BONI IURIS E
PERICULUM IN MORA CARACTERIZADOS. Constatada a plausibilidade
jurídica da alegação de existência de vícios no edital do concurso público,
aliada ao inequívoco perigo de dano irreparável ou de difícil reparação,
impõe-se a concessão de medida liminar para suspender o certame antes da
nomeação e posse dos candidatos aprovados81.

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - SUSPENSÃO DO PROCESSO


SELETIVO SIMPLIFICADO PARA A CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES -
NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO
- INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES 1 Existentes os
requisitos autorizadores - fumus boni iuris e periculum in mora -, impõe-
se o deferimento do pedido de liminar para a suspensão de processo
seletivo que não atendeu a necessidade temporária de excepcional
interesse público. 2 Em sede de agravo de instrumento só se discute o
acerto ou desacerto do ato judicial hostilizado, não sendo viável o exame
aprofundado de temas relativos ao meritum causae (AI n. 99.017438-7, Des.
Eder Graf), sob pena de supressão de um grau de jurisdição82. (grifo nosso)

Outrossim, conforme exaustivamente demonstrado, há candidatos


aprovados no Concurso Público n. 01/2016, de modo que o Município de Araranguá,
com o fraudulento Processo Seletivo em andamento, demonstra a necessidade de
admissão de servidores públicos, apresentando-se recalcitrante em nomear os
candidatos aprovados. Ou seja, impõe-se o deferimento de medida liminar para os
aprovados no Concurso Público sejam nomeados para as vagas existentes, assim
como evitar a abertura de novos Processos Seletivos contaminados de
inconstitucionalidades e ilegalidades.
Não se olvida que vigora no processo civil o poder geral de cautela
do magistrado, a ser exercido, na forma e observados os requisitos expressos no
81
TJSC, Agravo de Instrumento n. 2007.000050-6, de Itapema, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j.
24-04-2007.
82 TJSC, Agravo de Instrumento n. 2012.042503-4, de Turvo, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j.

21-05-2013.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
83
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artigo 297 do Novo Código de Processo Civil, in verbis:

Artigo 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas


para efetivação da tutela provisória.
Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas
referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.

Nesta toada, o deferimento da tutela provisória antecipada do


vertente caso fundamenta-se na necessidade imediata de nomear e conferir posse
aos candidatos aprovados no concurso público em vigor, a fim de manter hígida,
contínua e ininterrupta a prestação dos serviços públicos de educação, saúde,
assistência social, dentre outros, assim como impedir que outros processos seletivos
ilegítimos sejam lançados, mediante tutela inibitória, disposta no artigo 497 do Novo
Código de Processo Civil:

Artigo 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a
prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é
irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa
ou dolo.

No ponto, diante da enorme probabilidade de que os demandados


(Município e Prefeito) incorram em novas ilegalidades (pois, recentemente, houve
um processo seletivo suspenso por vícios), não se vê outra opção senão o pedido
de tutela inibitória para, mediante a imposição de obrigações de não fazer, impedir
que o Município de Araranguá lance novos processos seletivos ilegítimos, inibindo-
se, com isso, a prática de condutas ilícitas. Aliás, importante citar a lição de Rodolfo
de Camargo Mancuso:

É preciso não esquecer que estamos em sede de proteção a interesses


difusos, não intersubjetivos: sendo assim, o que interessa é evitar o dano,
até porque o sucedâneo da reparação pecuniária não tem o condão de
restituir o “status quo ante”83. Grifo nosso.

Desse modo, extrai-se dos dispositivos legais supra que no exercício


do poder geral de cautela poderá o Magistrado determinar medidas provisórias, a fim
83
Ação Civil Pública. Revista dos Tribunais, 3. ed, p.116.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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de assegurar o resultado prático do processo e, neste caso, deve-se proceder à
suspensão do Contrato n. 90/2017, celebrado entre o Município de Araranguá e a
FUNDATEC, notadamente a execução de seu objeto e o pagamento dos valores
assumidos; a suspensão dos Editais n. 02/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017 do
Processo Seletivo Simplificado do Município de Araranguá, cujas provas estão
agendadas para o dia 3 de setembro de 2017 (data provável); a nomeação do
candidatos aprovados no Concurso Público n. 01/2016; e, por fim, impedir que
novos Processos Seletivos ilegítimos sejam lançados.
Arrematando, com o escopo de garantir o fiel cumprimento da ordem
antecipatória, este Órgão de Execução entende necessária e conveniente a
imposição de multa cominatória para caso de descumprimento da decisão liminar,
medida esta que encontra respaldo no artigo 84, §4º, da Lei n. 8.078/90 c/c artigo 12
da Lei n. 7.347/85.

7 – DOS PEDIDOS:
Ante o exposto, o Ministério Público requer:
a) a autuação da presente Ação Civil Pública com os documentos
que a acompanham;
b) em caráter liminar, o DEFERIMENTO da tutela de urgência
inaudita altera pars:

b.1) para determinar a SUSPENSÃO do Contrato n. 90/2017,


celebrado entre o Município de Araranguá e a FUNDATEC,
para que não produza qualquer efeito, notadamente a
execução de seu objeto e o pagamento dos valores assumidos,
até o final do julgamento da presente demanda, para evitar
maiores prejuízos ao erário do Município de Araranguá e a
população;

b.2) para determinar a SUSPENSÃO do Processo Seletivo


Simplificado – Editais ns. 02/2017, 03/2017, 04/2017 e
05/2017 e de todos seus atos administrativos, até o final do
julgamento da presente demanda, para evitar maiores
prejuízos ao erário do Município de Araranguá e a população;

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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fls. 86

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b.3) para determinar ao MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ e
MARIANO MAZZUCO NETO, no prazo de 30 (trinta) dias, a
OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente na nomeação e posse
de 1 servidor no cargo de Auxiliar Administrativo e de 2
servidores no cargo de Vigia84, aprovados no Concurso Público
n. 01/2016 (ainda que fora do número de vagas);

b.3.1) para o caso de descumprimento da decisão liminar,


objeto do item anterior, requer, desde logo, seja fixada
MULTA DIÁRIA E PESSOAL, a ser executada do
demandado MARIANO MAZZUCO NETO, no valor de R$
1.000,00, destinada ao Fundo de Reconstituição dos
Bens;

b.4) para determinar ao MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ e


MARIANO MAZZUCO NETO a OBRIGAÇÃO DE NÃO
FAZER, consistente em não realizar Processo Seletivo
Simplificado para as funções de Profissional de Abordagem
Social, Terapeuta Ocupacional, Atendente de Farmácia,
Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Enfermagem, Auxiliar de
Serviços Gerais e Vigia; quando existir candidato(s)
aprovado(s) em Concurso Público vigente; para funções não
previstas em lei; para funções sem prazo previsto em lei; e,
quando não houver justificativa ou, quando houver, a
justificativa se apresentar inadequada (tais como: professor
cedido a outro órgão; afastado para mestrado e similares;
aposentadoria; aumento temporário exponencial de
atendimento);

b.4.1) para o caso de descumprimento da decisão liminar,


objeto do item anterior, requer, desde logo, seja fixada
MULTA DIÁRIA E PESSOAL, a ser executada do
demandado MARIANO MAZZUCO NETO, no valor de R$
10.000,00, destinada ao Fundo de Reconstituição dos
Bens;

c) a notificação dos requeridos para a defesa preliminar, nos termos


do artigo 17, §7º, da Lei 8.429/92;
d) o recebimento da presente e a citação dos requeridos para,
querendo, contestarem o feito, sob pena de presunção de veracidade dos fatos
alegados, observando-se o procedimento previsto na Lei 8.429/92;
e) a citação das Pessoas Jurídicas de Direito Público interessadas,
84
Justifica-se a quantidade, pois no primeiro processo seletivo estava prevista duas vagas.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO TREMEL DE FARIA e Tribunal de Justica de Santa Catarina - 50105, protocolado em 24/08/2017 às 14:34 , sob o número 09001596720178240004.
fls. 87

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARARANGUÁ


CURADORIA DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsc.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0900159-67.2017.8.24.0004 e código B0E598A.
nos termos do artigo 17, §3º, da Lei 8.429/92;
f) a produção de todos os meios de prova admitidos em direito,
mormente a documental, depoimento pessoal, testemunhal, pericial e juntada de
outros documentos;
g) ao final, confirmando integralmente a tutela de urgência deferida,
requer-se a PROCEDÊNCIA da presente Ação Civil Pública, para fins de:

g.1) reconhecer e declarar, incidentalmente, a


INCONSTITUCIONALIDADE dos incisos VIII, IX, XII e
parágrafo único do artigo 2º da Lei Ordinária Municipal n.
1.737/1997 (e alterações) e do artigo 1º e dos incisos XIV, XVI,
XVIII, XIX, XX, XXI e XXII do artigo 4º da Lei Ordinária
Municipal n. 2.148/2002 (e alterações);

g.2) reconhecer e declarar a NULIDADE do Processo n.


41/2017 e do Contrato n. 90/2017, celebrado entre o Município
de Araranguá e a Fundação Universidade Empresa de
Tecnologia e Ciências - FUNDATEC, com efeito ex tunc,
determinando-se o retorno ao status quo ante, impedido-se a
concretização de todos os feitos dele decorrentes;

g.3) reconhecer e declarar a NULIDADE do Processo Seletivo


Simplificado – Editais ns. 02/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017
do Município de Araranguá e dos atos administrativos
relacionados, com efeito ex tunc, determinando-se o retorno ao
status quo ante, com o imediato ressarcimento aos candidatos
dos valores pagos, com juros e atualização monetária;

g.4) condenar o MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ e MARIANO


MAZZUCO NETO na OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente na
nomeação e posse de, no mínimo, 1 servidor no cargo de
Auxiliar Administrativo e de 2 servidores no cargo de Vigia85,
aprovados no Concurso Público n. 01/2016 (ainda que fora do
número de vagas), além de outros cuja necessidade surjam no
curso da demanda;

g.4.1) para o caso de descumprimento da decisão liminar,


objeto do item anterior, requer, desde logo, seja fixada
MULTA DIÁRIA E PESSOAL, a ser executada do
demandado MARIANO MAZZUCO NETO, no valor de R$
1.000,00, destinada ao Fundo de Reconstituição dos
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Justifica-se a quantidade, pois no primeiro processo seletivo estava prevista duas vagas.
Carlos Eduardo Tremel de Faria
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Bens;

b.5) condenar o MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ e MARIANO


MAZZUCO NETO na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER,
consistente em não realizar Processo Seletivo Simplificado
para os cargos de Profissional de Abordagem Social,
Terapeuta Ocupacional, Atendente de Farmácia, Auxiliar
Administrativo, Auxiliar de Enfermagem, Auxiliar de Serviços
Gerais e Vigia; quando existir candidato(s) aprovado(s) em
Concurso Público vigente; para funções não previstas em lei;
para funções sem prazo previsto em lei; e, quando não houver
justificativa ou, quando houver, a justificativa se apresentar
inadequada (tais como: professor cedido a outro órgão;
afastado para mestrado ou similares; aposentadoria; aumento
temporário exponencial de atendimento;

b.5.1) para o caso de descumprimento da decisão liminar,


objeto do item anterior, requer, desde logo, seja fixada
MULTA DIÁRIA E PESSOAL, a ser executada do
demandado MARIANO MAZZUCO NETO, no valor de R$
10.000,00, destinada ao Fundo de Reconstituição dos
Bens;

g.6) reconhecer e declarar que o demandado MARIANO


MAZZUCO NETO e a FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE
EMPRESA DE TECNOLOGIA E CIÊNCIA – FUNDATEC, ao
agir do modo narrado na inicial, praticaram atos de
improbidade administrativa que causaram dano ao Erário e que
atentaram contra os princípios da Administração Pública.

Em face dessa declaração mencionada, e com base nos


artigos 10, caput e VIII, e 11, caput e V e artigo 12, II e III,
ambos da Lei de Improbidade, seja imposto aos requeridos
MARIANO MAZZUCO NETO e a FUNDAÇÃO
UNIVERSIDADE EMPRESA DE TECNOLOGIA E CIÊNCIA –
FUNDATEC o ressarcimento integral do dano, em valor
corrigido; perda dos acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
perda da função pública, se for o caso; suspensão dos direitos
políticos por oito anos; pagamento de multa civil de até duas
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


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g.7) condenar o demandado MARIANO MAZZUCO NETO em
danos morais coletivos, no valor das inscrições feitas pelos
candidatos, a ser devidamente apurado;

g.8) condenar dos requeridos nas despesas processuais e


demais verbas de sucumbência, das quais o autor está
dispensado por força de Lei.

Dá-se à causa o valor estimado de R$ 150.000,00.


Araranguá, 24 de agosto de 2017.

Carlos Eduardo Tremel de Faria


Promotor de Justiça

ROL DE DOCUMENTOS:
Inquérito Civil n. 06.2017.00004606-3

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