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Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul


Comarca de Coxim

Este documento é copia do original assinado digitalmente por TATIANA DIAS DE OLIVEIRA SAID. Liberado nos autos digitais por Tatiana Dias de Oliveira Said, em 20/08/2019 às 15:54.
Vara Criminal - Infância e Juventude

Para acessar os autos processuais, acesse o site https://esaj.tjms.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0000007-85.2019.8.12.0011 e o código
Autos 0000007-85.2019.8.12.0011
Autor: Ministério Público Estadual
Réu: Eleniza Barbosa Ferreira

Sentença

1. Relatório:

O Ministério Público Estadual ofereceu Denúncia


contra Eleniza Barbosa Ferreira, qualificada, imputando-lhe a
prática do crime de homicídio (artigo 121, caput, do Código Penal),
na forma tentada, em decorrência dos seguintes fatos:

"(...) Consta do incluso inquérito policial que na madrugada


de 15 de dezembro de 2018, por volta de 00h06min, no
estabelecimento comercial denominado "Bar da Monique",
localizado na Rua da COHAB, no bairro Senhor Divino, nesta
cidade e comarca, a denunciada tentou matar, DANIEL
PEREIRA, não consumando seu intento por circunstâncias
alheias à sua vontade (...)".

A Denúncia foi recebida em 16/01/2019 (fls. 55/56).


A acusada foi citada e apresentou resposta, às fls.
67/68.
Durante a instrução, foram ouvidas as testemunhas
arroladas, bem como interrogada a acusada.
Em Alegações Finais, o Ministério Público Estadual
sustentou estarem presentes provas da materialidade e de indícios
de autoria do crime, sendo que esta recai na pessoa da acusada,
requerendo a sua Pronúncia, como incursa no artigo 121, caput,
c/c artigo 14, II, do CP (fls. 145/153).
A Defesa, por sua vez, pugnou, preliminarmente, pela

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Fone: (67)3908-6084, Coxim-MS - E-mail: cox-vcrim@tjms.jus.br


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nulidade das provas produzidas na audiência de f. 97, por violação
ao devido processo legal, ampla defesa e contraditório. No mérito,
pugnou pela absolvição sumária da acusada, sustentando a tese de
legítima defesa.
Subsidiariamente, pugnou pela desclassificação do
delito de tentativa de homicídio para lesão corporal. Por fim,
pugnou pela revogação da prisão preventiva da acusada (fls.
155/174).
É o Relatório. Decide-se.

2. Fundamentação:
2.1 Quanto à alegação de cerceamento de defesa:

De igual sorte, não há falar em cerceamento de Defesa,


em razão da ausência da acusada presa à audiência de instrução e
julgamento.
Alega a Defesa que o fato de a acusada, presa na
Comarca de São Gabriel do Oeste/MS, não ter sido recambiada e
nem assistido o ato por meio de videoconferência, configurou
cerceamento de defesa, por violação ao devido processo legal, à
ampla defesa e ao contraditório.
De início, ressalte-se que em obediência ao disposto no
Provimento n° 184/2018, do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado
de Mato Grosso do Sul, as audiências para interrogatório, inquirição
e/ou depoimento pessoal de pessoa residente neste Estado, em
Comarca diversa, estão sendo realizadas por intermédio do sistema
de videoconferência.
No presente caso, em razão da transferência da
acusada para o Estabelecimento Penal de São Gabriel do Oeste/MS,

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o seu interrogatório foi realizado por meio do sistema de
videoconferência, sendo que a inquirição das testemunhas ocorreu
nesta Comarca.
No entanto, sobre o tema, é pacífico o entendimento do
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que, embora
recomendável, a presença do réu em audiência de inquirição de
testemunhas não é requisito de validade para o ato, devendo, para
a declaração de sua nulidade, a efetiva demonstração de prejuízo
para a sua decretação.
Assim, o direito de presença – como desdobramento da
autodefesa (que também comporta o direito de audiência) –
garante ao acusado a possibilidade de acompanhar os atos
processuais. No entanto, o não comparecimento do acusado à
audiência não pode ensejar, por si só, a declaração da nulidade
absoluta do ato, em razão da imprescindibilidade da comprovação
de prejuízo.
No presente caso, não restou demonstrado eventual
prejuízo, uma vez que a Defesa em suas alegações não indicou de
forma especifica qualquer prejuízo sofrido pela Acusada.
Além do mais, ressalte-se que o advogado, na época
constituído pela acusada, esteve presente em todos os atos
processuais, garantindo à acusado a sua defesa técnica.
Dessa forma, afasta-se a tese de nulidade por
cerceamento de Defesa.

2.2 Do Mérito:

Trata-se de Denúncia, em razão da suposta prática do


crime previsto no artigo 121, caput, c/c artigo 14, II, ambos do

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Código Penal, vale dizer, homicídio simples, na forma tentada.
No caso em análise, estão presentes os requisitos
mínimos, para que a acusada seja julgada pelo Tribunal Popular.
Isso porque, nesta fase processual, o juízo é de
probabilidade e não de certeza. Portanto, concorrendo a prova da
materialidade e indícios suficientes de autoria, deve a causa ser
submetida, a Julgamento, nos termos do artigo 413, do CPP.
A materialidade restou comprovada pelo Auto de Prisão
em Flagrante (fls. 07/08), Boletins de Ocorrência (fls. 25/27),
Prontuário Médico (fls. 16/17) e Laudo Pericial em instrumento (fls.
36/39).
Por outro lado, também estão presentes indícios de
autoria, pois a acusada confessou que foi ela que desferiu a facada
contra a vítima, sustentando que agiu dessa forma, para se
defender e defender sua genitora.
A vítima, em Juízo, afirmou que, na data dos fatos,
estava no "Bar da Monique", quando a acusada iniciou uma
discussão com a dona do bar, tendo apenas tentado apaziguar a
situação, momento em que a acusada desferiu-lhe uma facada,
dizendo: "vai você mesmo".
No mesmo sentido foi o depoimento da testemunha
Monique Erica Souza Santos, proprietária do bar, a qual afirmou
que Edite Pereira, genitora da acusada, chegou embriagada ao
local, tendo a testemunha se negado a vender bebida, em razão de
Edite já estar muito embriagada, momento em que se iniciou uma
confusão no local, envolvendo as testemunhas Monique, Edite e o
respectivo esposo de cada uma.
Em Juízo, a informante Edite Pereira Barbosa afirmou
que a acusada chegou ao bar, e a testemunha Monique jogou uma

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cadeira em cima dela, momento em que tentou defender sua filha,
tendo dado início a uma briga generalizada.
Assim, verifica-se que não restou demonstrada, de
modo inconteste, a existência de excludente de ilicitude ou a
ausência do dolo de matar, considerando que a versão da acusada,
neste momento, está isolada nos autos, não tendo sido confirmada
nem por sua genitora, que estava presente no local dos fatos, de
sorte que deverá ser analisada pelos jurados, no momento
oportuno.
Incabível, ainda, a desclassificação para o crime de
lesão corporal, vez que só pode ser realizada em casos
excepcionais, desde que fique demonstrado de forma cabal a
ausência do animus necandi e, também, que as circunstâncias que
qualificam o crime não ocorreram.
Isso porque, nesta fase, impera o Princípio “in dubio
pro societate”, que significa que, na dúvida, protege-se a
sociedade, encaminhando o acusado ao julgamento pelo Tribunal
do Júri.
Nesta fase, é vedado ao Juiz adentrar ao mérito do
delito, em comento, sob pena de invasão à competência
estabelecida, constitucionalmente, ao Corpo de Sentença.
Assim, havendo duas versões acerca do fato e, não
demonstrado, de forma inconteste, as teses arguidas pela Defesa,
tal questão deverá ser dirimida pelo Tribunal do Júri.
Nesse passo, presentes estão os pressupostos exigidos
pelo artigo 413, do Código de Processo Penal, para a sentença de
Pronúncia, no que tange ao delito de homicídio simples, na forma
tentada.

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3. Dispositivo:

Diante do exposto, pronuncio a acusada Eleniza


Barbosa, brasileira, nascida em 22/11/1980, em Rio Verde/GO, a
fim de que seja submetida, a julgamento, pelo Tribunal do Júri
desta Comarca, sob a acusação da prática do crime de homicídio
simples (artigo 121, caput, do Código Penal), na forma
tentada (artigo 14, II, do CP), contra a vítima Daniel Pereira,
com fulcro no artigo 413, do CPP.

4. Provimentos:

Em que pese o requerimento da Defesa, mantenho a


prisão preventiva da acusada, considerando que estão presentes os
requisitos para a segregação cautelar, art. 312, CPP.
Intime-se, nos termos do artigo 420, do Código de
Processo Penal.
Preclusas as vias recursais, dê-se vista dos autos, às
partes, para fins do artigo 422, do Código de Processo Penal.
Às providências necessárias.

Coxim, 12 de agosto de 2019.

Tatiana Dias de Oliveira Said


Juíza de Direito

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