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PROJUDI - Processo: 0008245-81.2016.8.16.0013 - Ref. mov. 230.

1 - Assinado digitalmente por Danielle Nogueira Mota Comar


12/05/2022: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: SENTENÇA

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
9ª VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DE CURITIBA
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJZ59 VW5ZX RMVW9 MM7LA


AUTOS Nº 0008245-81.2016.8.16.0013
PROCESSO-CRIME
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO
RÉU: CHAILON VAZ DA SILVA

SENTENÇA

“- Jean Valjean, meu irmão, lembre-se de que já não pertence ao mal, mas sim ao
bem. É sua alma que acabo de comprar; furto-a aos maus pensamentos e ao espírito de
perdição para entregá-la a Deus”
Os Miseráveis – Victor Hugo

I – RELATÓRIO
O Ministério Público denunciou CHAILON VAZ DA
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SILVA , qualificado no feito, dando-o como incurso na norma incriminadora do art. 157,
§2º, II do Código Penal, conforme denúncia de mov. 40.3, abaixo transcrita:

“No dia 21 de abril de 2016, por volta das 18hs, em via pública,
na Rua Valentim Pedro Zazon, bairro Tatuquara, nesta Cidade e
Foro Central, da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba/PR, os denunciados MARCOS GABRIEL NEVES e
CHAILON VAZ DA SILVA, mediante comum e prévio acordo
de vontades, unidos pelo mesmo vínculo psicológico e cada qual
cooperando de forma decisiva para a prática do ato delituoso,
livres e conscientes da ilicitude de suas condutas, agindo
dolosamente, ou seja, com intenção de assenhoramento
definitivo de coisa alheia móvel, mediante grave ameaça,
exercida com o emprego de um simulacro de pistola (apreendido
às fls. 14/15), subtraíram, para eles, 02 (dois) aparelhos celulares,
marca Motorola 3G, sendo um da cor branca e outro da cor preta,
avaliados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), posteriormente
recuperados e restituídos às vítimas Allana de Oliveira Siguel e
Aline de Oliveira Siguel (cf. auto de exibição e apreensão de fls.
12/15, auto de entrega de fls. 28/29, boletim de ocorrência de fls.
60/67 e auto de avaliação de fls. 69/70).

1
Na denúncia, também figura como réu MARCOS GABRIEL NEVES, o qual foi citado por edital (mov.
114.1) e como não compareceu nem constituiu defensor, na forma do art. 366 do CPP foi suspenso o
processo e o curso do prazo prescricional (mov. 122.1), desmembrando-se o feito (Autos nº 0016946-
26.2019.8.16.0013).
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DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
JUÍZA DE DIREITO
Autos nº 0008245-81.2016.8.16.0013
PROJUDI - Processo: 0008245-81.2016.8.16.0013 - Ref. mov. 230.1 - Assinado digitalmente por Danielle Nogueira Mota Comar
12/05/2022: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: SENTENÇA

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
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Consta dos autos que as vítimas, acompanhadas de sua genitora
Rosana de Oliveira Hortolan Siguel, foram abordadas pelos
denunciados, os quais estavam em uma motocicleta CB 300, de
cor azul, placas AOK-5510, e anunciaram o assalto, sendo que o
denunciado CHAILON VAZ era quem portava o simulacro de
pistola.”

A denúncia foi recebida em 31 de março de 2017 (mov.


49.1).

Citado (mov. 50.1), o denunciado apresentou resposta à


acusação (mov. 77.1).

Ausentes as hipóteses de absolvição sumária, designou-se


data para audiência (mov. 122.1).

Em 07 de novembro de 2019, em audiência, foram ouvidas


04 (quatro) testemunhas arroladas pelo Ministério Público e interrogado o acusado (mov.
150.1/150.5). Sem diligências na fase do art. 402 do CPP.

Sobreveio pedido do Ministério Público para submissão do


caso ao Núcleo de Prática e Incentivo à Autocomposição (NUPIA) (mov. 155.1), com a
possibilidade de procedimento restaurativo, o que foi levado a efeito no mov.
164.2/164.6.

Por meio da decisão de mov. 179.1, homologou-se


parcialmente o acordo restaurativo de mov. 176.3, afastando-se o pedido de aplicação de
multa em caso de eventual descumprimento, determinando-se a suspensão do processo
até seu cumprimento integral (mov. 179.1).

Em mov. 187.1/187.10, juntaram-se comprovantes de


cumprimento parcial do acordo, complementado em mov. 211.1/211.5, dando conta,
finalmente, do cumprimento integral do acordo restaurativo.
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DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
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Em memoriais, o parquet pretende a absolvição do acusado,
(mov. 223.1).

A Defesa, por sua vez, sustenta, preliminarmente, a


inconstitucionalidade do art. 385, do CPP. No mérito, defende a absolvição, pela
desnecessidade da pena. Pelo princípio da eventualidade, caso não seja esse o
entendimento do juízo, tece considerações sobre a confissão espontânea e sobre a
dosimetria da pena.

É o relatório. DECIDO.

II – FUNDAMENTAÇÃO
PRELIMINARES E PREJUDICIAIS
A alegada inconstitucionalidade do artigo 385 do Código de
Processo Penal não merece guarida a considerar a posição dos Tribunais de Vértice sobre
a questão:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. JÚRI.


TENTATIVA DE HOMICÍDIO DUPLAMENTE
QUALIFICADO. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PELA ABSOLVIÇÃO. ARTIGO 385 DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL, RECEPCIONADO PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE
VINCULAÇÃO DO JUIZ. PRECEDENTES. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 385 do Código de
Processo Penal, nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha
opinado pela absolvição. 2. O artigo 385 do Código de Processo
Penal foi recepcionado pela Constituição Federal. Precedentes
desta Corte. 3. Agravo regimental não provido2.

Portanto, ainda que o parquet tenha invocado a absolvição,


compete ao Juízo apresentar os motivos de seu convencimento quanto aos termos da

2
STJ, Quinta Turma, AgRg no REsp 1.612.551/RJ, Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 02/02/2017.
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DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
JUÍZA DE DIREITO
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causa, sobremaneira autorizado a discordar do Ministério Público quando o conjunto
probatório produzido acenar para a comprovação dos fatos imputados na peça acusatória.

MATERIALIDADE - AUTORIA
A existência do evento criminoso restou patente através do
exame acurado dos elementos de convicção adiante transcritos:

a. Auto de prisão em flagrante (mov. 38.2);


b. Auto de exibição e apreensão (mov. 38.5);
c. Boletim de ocorrência (mov. 38.25);
d. Auto de avaliação (mov. 38.27);
e. Auto de entrega (mov. 38.9);
f. Depoimentos orais.

Sem embargo, em termos materiais, a prática se confirmou.


Resta avaliar a prova oral produzida no feito.

A ofendida ROSANA DE OLIVEIRA HORTOLAN


SIGUEL (mov. 150.1) declarou em Juízo que estava saindo de casa quando, na metade
do caminho, percebeu que vinha um motoqueiro acompanhado de outro rapaz e deram
voz de assalto e o acusado CHAILON VAZ DA SILVA era o que estava na garupa com
uma arma. Que o réu pediu para que entregassem os celulares. A vítima e as filhas
permaneceram de cabeça baixa e entregaram os aparelhos, porém quando os réus
chegaram no semáforo, foram abordados pela Polícia Militar. Que a equipe policial
suspeitou dos acusados e os abordaram, tendo estes confessado a prática do delito e
indicado o local do roubo. Os aparelhos foram imediatamente devolvidos às vítimas.
Questionada pela defesa, informou que o réu as procurou para pedir desculpa pelo que
havia acontecido e, ainda, informou que sua vida teria mudado e que tinha sofrido
bastante. Questionada pelo Juízo, indicou que o sinaleiro onde o réu foi abordado pela
polícia fica aproximadamente duas quadras de distância. Que CHAILON a procurou para
pedir perdão há 01 (um) mês antes da data da audiência, dirigindo-se ao local do fato,
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onde conversou com a declarante e pediu-lhe perdão por tudo que aconteceu, justificando
que estava desesperado, pois tem 04 (quatro) filhos e acabou cometendo o delito
convidado por um amigo. Questionada se aceitava o perdão do réu, disse “quem sou eu
para não perdoar?”. Questionada como se sente em relação ao pedido de perdão, declarou
que sentia que o pedido do acusado era sincero e não para enrolar ou se furtar da Justiça,
e inclusive o réu havia dito que há tempos queria conversar com a vítima, mas não tinha
coragem, desconhecia qual seria a reação das vítimas. Questionada se gostaria de falar
algo para o réu, a vítima virou-se para o acuado e desejou que tenha sorte na vida, que ele
mudou e tenta seguir, sabe que não é fácil, porque tem um filho em situação semelhante
e sofre muito e espera que toda a situação aqui ocorrida sirva de lição ao acusado para
seguir a vida. Ao final, autorizou o uso da gravação para divulgação a acadêmicos sobre
a Justiça Restaurativa.

A vítima ALINE DE OLIVEIRA SIGUEL (mov. 150.2)


afirmou em audiência que estava indo pegar um ônibus quando foram abordadas por 02
(dois) indivíduos os quais chegaram em uma motocicleta, exigiram os aparelhos e
determinaram que ela e as outras vítimas continuassem andando. Que no dia que o réu
veio pedir desculpas, a ofendida estava tomando banho, mas não o ouviu na data. Relatou
que tinha 14 anos quando o fato ocorreu e que não teve mudança alguma em seu modo
de viver.

ALLANA DE OLIVEIRA SIGUEL (mov. 150.3)


declarou que se recordava dos fatos, pois estavam na rua indo em direção à sua avó. Que
dois rapazes as abordaram e uma delas com uma arma de brinquedo e anunciando o
assalto e pedindo os aparelhos celulares. Que os telefones foram recuperados logo depois
e que só conseguiu ver o que estava como piloto. Momentos depois já foi possível a
recuperação dos telefones. Questionada pela defesa, afirmou que o acusado foi procurá-
las para pedir perdão e que ele foi preso aproximadamente 02 (duas) quadras de casa. Que
ficou um pouco com medo de andar na rua e no dia que o acusado foi até sua casa, achou
que o réu foi sincero quando foi até sua casa.

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O policial militar ANDERSON APARECIDO DE
OLIVEIRA (mov. 150.4) declarou em Juízo que não se recordava dos fatos, apenas
vagamente da abordagem de uma moto.

Interrogado judicialmente, CHAILON VAZ DA SILVA


(mov. 150.5) relatou que tem 4 filhos, é pizzaiolo e trabalha com lavagem de carro. Tem
renda de aproximadamente R$ 1300,00 e mora em casa alugada. Nunca foi preso ou
processado antes. Que permaneceu 05 (cinco) dias presos nestes autos. Confessou ter
praticado o delito imputado nos autos e afirmou que foi convidado pelo corréu para
realizar a prática de roubo. Marcos conduzia a moto com o declarante na garupa e ambos
de capacete. Que o declarante estava com o simulacro de propriedade do corréu e foi o
acusado quem deu a voz de assalto e recolheu os celulares. Afirmou que iria vender os
aparelhos e comprar fraldas para os filhos. Indicou que foram abordados a 02 (duas)
quadras do local do roubo e os aparelhos foram devolvidos às vítimas. Questionado coo
se sente hoje em relação ao roubo, disse que não consegue serviço registrado, que hoje é
visto como “vagabundo” e quando é abordado a polícia o trata como “vagabundo”.
Procurou as vítimas por ter se convertido evangélico e sentiu que precisava, de coração,
fazer isso. Quando as procurou, ainda não tinha sido intimado da audiência. Resolveu
procurá-las porque “sentiu no coração na presença de Deus”, após ir à Igreja, sem
conseguir dormir, foi no dia seguinte pedir perdão às vítimas. Autoriza a divulgação do
vídeo para acadêmicos de Direito.

Pois bem.

Nos crimes patrimoniais, promovidos na clandestinidade,


impõe-se um relevante teor probatório nas declarações das vítimas3. Aqui, ao que se vê,
a vítima foi pontual quanto ao modus operandi da ação da dupla de agentes, os quais
foram abordados há poucas quadras do local do fato e de posse da res furtiva. Dúvidas,

3
A palavra da vítima, nos crimes patrimoniais ocorridos às escondidas, ganha relevo probatório, assim
como a dos agentes públicos responsáveis pela prisão em flagrante, quando não constatada qualquer
hipótese de rusga ou vendeta entre as partes. (TJPR. AC 1.274.980-5. 5ª Câmara Criminal. Rel. Rogério
Etzel. Julg. 29.01.2015).
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portanto, inexistem, tanto quanto à presença de mais de um agente e a respeito do emprego
de simulacro de arma de fogo.

O réu, ao seu turno, confessou o delito. Nesta medida calha


salientar:
Confessar, no âmbito do processo penal, é admitir contra si por
quem seja suspeito ou acusado de um crime, tendo pleno
discernimento, voluntária, expressa e pessoalmente, diante da
autoridade competente, em ato solene e público, reduzido a
termo, a prática de um fato criminoso4.

O fato reveste-se de tipicidade objetiva e subjetiva no que


se refere ao delito previsto no artigo 157, § 2º, inciso II, do Código Penal. Dispõe o artigo:
“Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: § 2º – A pena aumenta-se de um terço até metade: II – se há o concurso de
duas ou mais pessoas.”

O fato também é antijurídico e não visualizo nenhuma das


causas excludentes de antijuridicidade previstas no art. 23 do Código Penal: “Não há
crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”. Das
hipóteses elencadas legalmente, a única que poderia ser aventada à situação seria a de
estado de necessidade, conceituada no art. 24 do CP: “Considera-se em estado de
necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se”.

Com a devida venia, a despeito da fundamentação do


Ministério Público e mesmo não desconhecendo os problemas financeiros enfrentados
pelo acusado ao momento da prática delitiva, não ficou provado ao Juízo que o acusado,

4
NUCCI, Guilherme de Souza. O valor da confissão como meio de prova no processo penal, p. 76.
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para salvar direito próprio ou alheio, não poderia ter conduta outra para evitar perigo
atual. Fosse assim, a afirmação de dificuldades econômicas seria justificativa para
incontáveis casos de roubo que acontecem, infelizmente, neste País que não seriam
sancionados. O estado de necessidade há que se fazer provado de forma cabal. Nesse
sentido:

Estado de necessidade por furto famélico – alegação de


dificuldades financeiras – insuficiência para a exclusão da ilicitude. "3. Para que haja o
reconhecimento do estado de necessidade pelo furto famélico deve haver a comprovação
de condição extrema do agente, em que não há outra forma de agir para satisfazer a
necessidade, não sendo suficiente a mera alegação de dificuldades financeiras." Acórdão
1233690, 00002447220198070007, Relator: SEBASTIÃO COELHO, Terceira Turma
Criminal, data de julgamento: 27/2/2020, publicado no PJe: 17/3/2020.

“Deve ser diferenciado o estado de necessidade, como


causa de exclusão da ilicitude, da dificuldade econômica, relacionada à debilidade da
capacidade aquisitiva. Isso porque, no estado de necessidade, o agente é compelido a
praticar o fato típico, para afastar a situação de perigo atual ou iminente, involuntário e
inevitável, capaz de afetar bem jurídico próprio ou de terceiro, cujo sacrifício é inexigível.
Por sua vez, na dificuldade econômica supõe-se, ou que o indivíduo deva conformar-se
com a privação, porque não se cuida do suprimento de necessidade vital ou primária, ou,
ainda que disso se trate, que lhe seja possível satisfazer a carência por meio de atividade
lícita, em uma ou outra hipótese, não se justificando a lesão ao interesse de outrem5.

“Em casos excepcionais, admite-se a prática de um fato


típico como medida inevitável, ou seja, para satisfação de necessidade estritamente vital
que a pessoa, nada obstante seu empenho, não conseguiu superar de forma lícita. Portanto,

5
Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/a-doutrina-na-
pratica/causas-de-exclusao-da-ilicitude/estado-de-necessidade. Acesso em: 09 mai. 2022.
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se o agente podia laborar honestamente, ou então quando se apodera de bens supérfluos
ou em quantidade exagerada, afasta-se a justificativa."6

Observa-se que aqui os autores do fato não subtraíram


diretamente bens para satisfazer a demanda de fraldas do filho, mas sim aparelhos
celulares para, segundo relatado, com a sua venda, adquiri-las, o que afasta o estado de
necessidade alegado.

O réu também é culpável, à medida em que é maior de 18


anos, mentalmente são e tem pleno conhecimento do caráter ilícito da conduta perpetrada.

Mas o caso apresenta peculiaridade que impõe a absolvição


dada a evidente desnecessidade de uma sanção, seja para fins repressivos, seja para fins
preventivos.

Este caso penal apresentou sensíveis nuances perceptíveis


desde a audiência de instrução e julgamento. Naquela ocasião, o que parecia, ao início,
mais um caso rotineiro de roubo, mostrou-se diferenciado. Confesso que quando a vítima
declinou que o réu a havia procurado, minha primeira reação foi ponderar se houve algum
tipo de coação, mas qual foi a surpresa de que, em verdade, o réu a havia procurado para
pedir perdão. O réu, ao longo da audiência, expressou um choro sincero e profundo
arrependimento marcado pelas consequências da decisão de roubar.

Naquela audiência de instrução, embora nunca tivéssemos


experienciado a Justiça Restaurativa, era evidente a possibilidade de diálogo entre as
partes. O Ministério Público, felizmente, por meio de seu Núcleo de Prática e Incentivo
à Autocomposição (NUPIA), levou a efeito as tratativas do procedimento restaurativo,
que culminou com o acordo de mov. 176.3, destacando-se, aqui, as obrigações assumidas:

6
MASSON, Cléber. Direito Penal Esquematizado: Parte Geral: arts. 1.º a 120. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2013. v. 1. p. 401, 403-404, 406 e 408-410.
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A Justiça restaurativa é desconhecida por muitos


operadores jurídicos e tem aplicação ainda tímida em processos criminais, mormente
porque não encontra previsão legal no Código de Processo Penal, embora estimulada pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em que pese tenha já um histórico consolidado em
outros ordenamentos jurídicos, no Brasil é relativamente recente sua aplicação. Envolve
uma cultura de paz, por meio do diálogo e encontro entre a vítima, o infrator e demais
membros da comunidade atingidos com a prática ilícita. Visa à construção de um modelo
mais humanizado de distribuição de justiça, que assegura, além das garantias penais e
processuais, um processo de responsabilização pelo causador do dano, permitindo, de
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outra banda, compreender e avaliar as necessidades e direitos das vítimas.

A Justiça Restaurativa é uma maneira diferente de tratar o


conflito, procurando reparar o dano individual, social e as relações afetadas pelo delito
cometido. Para tanto, requer-se um processo de participação conjunta no qual o agressor,
a vítima e, conforme o caso, outros indivíduos e membros da comunidade, participem
juntos ativamente para resolver os problemas que se originam do delito. Assim, consiste
numa abordagem colaborativa e pacificadora para a resolução de conflitos que pode ser
empregada em uma variedade de situações, citando-se, à guisa de exemplo, ambientes
familiares, profissional, escolar e no sistema judicial. Na esfera penal, a justiça
restaurativa pode ser uma solução alternativa com resultados positivos. Por meio de
técnicas circulares, entre outras, foca-se na vítima e no ofensor, no processo de
aprendizado e capacidade de autorresponsabilização pelo dano causado e necessidades
dos envolvidos.

Em casos em que se mostra viável a prática restaurativa, o


diálogo permite que a vítima exponha sua necessidade e o ofensor reconheça a sua
responsabilidade, sem uma decisão impositiva e verticalizada vinda de um juiz.
Lembremo-nos que, em um determinado momento histórico, crime é definido como um
ato cometido contra a autoridade do Estado, o qual tomou para si a titularidade da resposta
aos conflitos sociais perturbadores da paz social, sendo o único legitimado a aplicação da
pena (jus puniendi) após um processo, em substituição à vingança privada. Ocorre que
nessa fase, o Estado tomou o lugar da vítima, que passou a ser relegada a uma fonte de
prova e sua oitiva, no processo judicial, como um meio de prova a subsidiar o julgador
na formação do seu livre convencimento7.

7
Segundo Howard Zehr, “Já que o Estado é definido como vítima, não é de se admirar que as vítimas sejam
sistematicamente deixadas de fora do processo e suas necessidades e desejos sejam tão pouco acatados. Por
que reconhecer suas necessidades? Elas não são sequer partes da equação criminosa. As vítimas são meras
notas de rodapé no processo penal, juridicamente necessárias apenas quando seu depoimento é imperativo”.
ZEHR, HOWARD. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. Tradução de Tônia Van
Acker. 4. ed. São Paulo: Palas Athenas, 2020, p. 87.
11
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12/05/2022: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: SENTENÇA

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
9ª VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DE CURITIBA
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJZ59 VW5ZX RMVW9 MM7LA


Anote-se que o uso das práticas restaurativas, como
alternativa ao penal, encontra amparo no preâmbulo da Constituição da República e nos
objetivos fundamentais do Estado Democrático de Direito Brasileiro:

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em


Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da
República Federativa do Brasil”.

Nessa linha:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO PENAL. TRABALHO EXTERNO. DIFICULDADE DE
FISCALIZAÇÃO. FUNDAMENTO INIDÔNEO. PRECEDENTE. RECURSO
DESPROVIDO. 1. "(...) 2. De outro lado, o princípio constitucional da fraternidade é um
macroprincípio dos Direitos Humanos e passa a ter uma nova leitura prática, diante do
constitucionalismo fraternal prometido na CF/88 (preâmbulo e art. 3º). Multicitado
princípio é possível de ser concretizado também no âmbito penal, através da chamada
Justiça restaurativa, do respeito aos direitos humanos e da humanização da aplicação do
próprio direito penal e do correspondente processo penal. (...). (STJ - AgRg no REsp:
1618322 DF 2016/0205195-0, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Data de Julgamento: 13/12/2016, T5 -QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
01/02/2017).

A Resolução nº 2002/2012 da ONU exorta a aplicação da


Justiça Restaurativa inclusive no âmbito criminal. No Brasil, a Resolução nº 225/2016 do
Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre a Política Nacional de Justiça
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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
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Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências, pretendeu
estabelecer um norte para implantação das práticas restaurativas, estabelecendo,
inclusive, como princípios: a) sigilo, confidencialidade e voluntariedade da sessão. Nem
a vítima nem o agressor devem ser obrigados a participar no processo restaurativo nem a
aceitar os resultados restaurativos; b) entendimento das causas que contribuíram para o
conflito; c) consequências que o conflito gerou e ainda poderá gerar; d) o valor social da
norma violada pelo conflito (art. 8º).

Ainda, a Resolução nº 288/2019 do CNJ8, ao prever, em seu


art. 1º, a adoção, como política institucional do Poder Judiciário, da promoção da
aplicação de alternativas penais, com enfoque restaurativo, em substituição à privação de
liberdade, bem como, em seu art. 3º, inciso VII e VIII, o fomento a mecanismos
horizontalizados e autocompositivos, a partir de soluções participativas e ajustadas às
realidades das partes; VIII - a restauração das relações sociais, a reparação dos danos e a
promoção da cultura da paz.

As práticas restaurativas também são recomendadas no


âmbito do Ministério Público, consoante artigos 13 e 14 da Resolução nº 118/2014 do
CNMP9, ao recomendar aos seus membros as práticas restaurativas com o objetivo de
restaurar o convívio social e a efetiva pacificação dos relacionamentos e, ainda, a
reparação ou minoração do dano, a reintegração do infrator e a harmonização social.

Como parâmetro legislativo, tem-se a Lei nº 12.594/2012


(SINASE) que estabelece em seu art. 35, que na execução das medidas socioeducativas
deve-se favorecer meios de autocomposição de conflitos e priorizar práticas restaurativas.
O próprio ECA, no art. 126, preceitua o instituto da remissão como mecanismo de
exclusão/evitação do processo (prévia à representação) ou, no curso do procedimento
judicial. A remissão, como forma de exclusão do processo, evita maior envolvimento do

8
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2957. Acesso em: 09 mai. 2022.
9
Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolucao-118-1.pdf; Acesso em: 09
mai. 2022.
13
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adolescente com o sistema de Justiça Juvenil, preservando a sua primariedade, nos termos
do artigo 127 do ECA.

Para além desse parâmetro legal, gradativamente a Justiça


Restaurativa vem sendo implantada em Tribunais de Justiça e tornou-se meta e objeto de
uma política pública nacional no âmbito do Poder Judiciário, via Conselho Nacional de
Justiça (Resoluções nº 225/2016 e nº 288/2019).

A Justiça Restaurativa lança um olhar diferenciado sobre a


Justiça Retributiva, permitindo que vítima e infrator possam, por meio do diálogo,
solucionar o conflito subjacente, atendendo às necessidades daquela e introjetando neste
a responsabilização pelo ato, podendo, outrossim, por meio dessa diferenciada feição,
servir de importante instrumento preventivo de novos atos delitivos.

É dar um enfoque diferente aos tradicionais


questionamentos (que leis foram infringidas? Quem praticou este dano? O que o ofensor
merece?) transmutando-os para questionamentos com outro foco, cujo olhar é mais
voltado aos envolvidos (quem sofreu os danos? Quais são suas necessidades? De quem é
a obrigação de suprir essas necessidades?10).

É uma experiência reparadora para todos os envolvidos,


embora complexa e trabalhosa, porque demanda paciência e sensibilidade frente a
dolorosas situações e vitimização traumática. Compreende que o dano de um é um dano
de toda a coletividade, muito embora muitas vezes ofensor e vítima sejam desconhecidos,
porque todo o tecido social é afetado. Apesar de haver uma visão amplamente adotada de
que a Justiça Restaurativa se limita a crimes relativamente menores, não violentos, as
pesquisas demonstram que tem maior impacto em casos violentos11.

10
ZEHR, HOWARD. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. Tradução de Tônia
Van Acker. 4. ed. São Paulo: Palas Athenas, 2020, p. 189.
11
ELLIOT, Elizabet M. Segurança e cuidado: justiça restaurativa e sociedade saudáveis. São Paulo: Palas
Athena; Brasília: ABRAMINJ, 2018, p. 107.
14
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No caso dos autos, houve acordo restaurativo para uma
situação de roubo majorado, com emprego de simulacro de arma de fogo e concurso
de agentes. Trata-se de um crime cometido com violência ou grave ameaça, restando
inviável a aplicação de institutos como a suspensão condicional do processo ou acordo de
não persecução penal.

A solução tradicional do caso seria uma resposta


retributiva, com atribuição de uma pena de prisão e multa como resposta penal. Dadas as
provas existentes no processo e a própria confissão do acusado, este seria condenado
possivelmente a uma pena de reclusão em regime semiaberto, poderia ter respondido o
processo integral ou parcialmente preso, teria os laços familiares seriamente afetados e
ostentaria antecedentes criminais.

Porém, neste caso concreto, surpreendentemente foi


possível a realização de um acordo restaurativo, mesmo se tratando de um crime cometido
com violência e grave ameaça.

A questão que se coloca, contudo, é a ausência de previsão


legal das consequências jurídicas para o processo penal e ponderar se a Resolução nº
225/2016 do CNJ prevê, com suficiência, a solução jurídica do caso.

Vemos de forma proveitosa a tentativa de positivação da


Justiça Restaurativa no Projeto de Lei nº 8045/2010, que trata do projeto de reforma
global do novo CPP12, com redação nitidamente orientada pela Resolução nº 225/2016
CNJ.

De lege ferenda, atribui-se, já ao Delegado de Polícia, um

12
BRASIL. Câmara dos Deputados. PL 8045/2010, redação dada pelo Substitutivo de 26/04/2021.
Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1998270&filename=SBT+1+P
L804510+%3D%3E+PL+8045/2010. Acesso em: 09 mai. 2022.
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possível primeiro filtro, com a representação pelo encaminhamento do conflito à prática
de justiça restaurativa13, como, aliás, já está previsto no art. 7º, parágrafo único, da
Resolução nº 225/2016 do CNJ. Poderá haver instauração da prática restaurativa,
também, pelo juiz, de ofício ou a pedido das partes, do Ministério Público, da Defensoria
Pública. O Projeto reserva um capítulo para a justiça restaurativa penal, tratando-a, no art.
114, como política pública destinada a reintegração social, com a participação da vítima,
do autor do fato e da comunidade, e que tem por objetivos: I - a redução dos índices de
reincidência; II - a reintegração social do autor do fato; III - a promoção da indenização
dos danos sofridos pela vítima.

O projeto do novo CPP, de maneira semelhante ao previsto


na Resolução nº 225/2016 CNJ, dispõe sobre os princípios que orientam a justiça
restaurativa, quais sejam, a corresponsabilidade, a reparação dos danos, o atendimento
das necessidades, o diálogo, a igualdade, a informalidade, a extrajudicialidade, a
voluntariedade, a participação, o sigilo e a confidencialidade.

O projeto dispõe, ainda, que para que o conflito seja


passível da prática restaurativa, é necessário que as partes reconheçam os fatos essenciais,
o que não implica admissão de culpa em eventual processo judicial (art. 115, § 1º) e que
o conteúdo da prática restaurativa é sigiloso e confidencial, não podendo ser relatado ou
utilizado como prova em processo penal, exceção feita apenas a alguma ressalva
expressamente acordada entre as partes ou a situações que possam colocar em risco a
integridade dos participantes (art. 115, § 6º).

Ainda, estabelece que, as práticas restaurativas serão


coordenadas por facilitadores restaurativos capacitados em técnicas autocompositivas e
consensuais de solução de conflitos próprias da Justiça Restaurativa, podendo ser servidor
do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por entidades parceiras.

13
Art. 27, I, do PL 8045/2010, redação dada pelo Substitutivo de 26/04/2021. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1998270&filename=SBT+1+P
L804510+%3D%3E+PL+8045/2010. Acesso em: 09 mai. 2022.
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Orienta ainda, tal qual já o faz a Resolução nº 225/2016
CNJ, que o acordo restaurativo será homologado pelo magistrado responsável,
preenchidos os requisitos legais. Ainda, que a prática restaurativa penal ocorre de forma
paralela ao processo judicial, devendo suas implicações ser consideradas, caso a caso,
objetivando sempre as melhores soluções para as partes envolvidas e a comunidade.

O Projeto estabelece que cumprido o acordo restaurativo


antes do recebimento da denúncia, nos casos de ação penal de iniciativa pública
condicionada à representação, será declarada extinta a punibilidade. Ademais, por
ocasião da sentença, o juiz valorará o acordo homologado, conferindo-lhe eventual
abrandamento da pena (art. 122). Porém, não alcançado o acordo restaurativo, será
vedada a utilização de dados obtidos na prática restaurativa como prova processual ou
sua utilização como causa para aumento de eventual sanção penal (art. 123).

O Projeto também prevê que, nas hipóteses de delitos que


admitam a suspensão condicional do processo, é possível a realização de acordo
restaurativo e que sua homologação acarretará os mesmos efeitos da suspensão
condicional do processo (art. 323, § 12), qual seja, cumpridas integralmente as condições
aceitas, haverá a extinção da punibilidade do agente.

Cite-se, ainda, que o Projeto inova ao dispor que na abertura


da audiência de instrução o juiz indagará se o acusado e a vítima foram informados sobre
a possibilidade de participar de prática restaurativa (art. 334, § 1º). É, assim, a positivação
da ideia fundamental de que antes de se recorrer ao direito penal é dever institucional
“esgotar todos os meios extrapenais para tanto e somente quando tais meios se mostrem
inadequados ou insuficientes estará então justificada a intervenção penal, que se inicia
com o processo”14.

14
BITENCOURT, Cezar Roberto. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 25.
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Com isso em mente, percebe-se a tentativa do legislador de
propiciar a Justiça Restaurativa, seja no início da persecução penal, seja ao longo do seu
desenvolvimento, devendo ainda o magistrado, antes de iniciar a instrução, questionar as
partes se foram informadas sobre a possibilidade de participar da prática restaurativa.

Mas, voltando ao caso ora tratado e ao estado da arte


normativo atual, observe-se que a Resolução nº 225/2016 do CNJ deixa ao prudente
arbítrio do julgador, caso a caso, a decisão judicial que deve ser aplicada (art. 1º, §
2º) caso haja o integral cumprimento do acordo restaurativo.

Ante a ausência de parâmetros legais, há necessidade de


se socorrer de apoio jurisprudencial e doutrinário que apresenta algumas soluções
para a situação enfrentada.

Para alguns, a positiva solução restaurativa pode sustentar


absolvição, com arrimo no art. 386, inciso III, do CPP, em casos nos quais se alcançou o
fim maior do processo (pacificação individual e social, nem sempre advinda do processo
penal tradicional) e a consequente desconfiguração da justa causa e da pretensão punitiva
e do caráter do ato como infração penal, ocorrendo a perda superveniente do interesse de
agir15.

Para outros, o acordo restaurativo, em nome do princípio da


individualização da pena, pode ter impactos na dosimetria da pena, implicando uma
atenuação da sanção, seja por força da atenuante genérica inominada do art. 66 do Código
Penal16, seja por conta da reparação de danos causados que implicaria uma minoração da

15
Nesse sentido: TJRS, Apelação Criminal:70080807134, Relator: Sérgio Miguel Achutti Blattes, Terceira
Câmara Criminal, Comarca de Origem: Rosário do Sul, Julgamento: 21/11/2019, Publicação: 22/01/2020;
TJRS, Embargos Infringentes nº 70081445579, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello; Terceiro Grupo
Criminal; Comarca de Porto Alegre, Julgamento: 16/08/2019; Publicação: 30/08/2019.
16
RIBEIRO, Marcelo Augusto. A participação do indiciado/réu em procedimento circular restaurativo
como circunstância atenuante inominada em respeito ao princípio constitucional da individualização da
pena. Disponível em:
https://escolasuperior.mppr.mp.br/arquivos/File/MP_Academia/Teses_2017/A_PARTICIPACAO_DO_I
NDICIADO-REU.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2021.
18
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condenação17. Essa segunda vertente, de atenuação da pena, com a devida venia, não nos
parece ser a mais acertada, sob pena do infrator receber um bis in idem, com uma
responsabilização na esfera restaurativa e uma culpabilização/punição na esfera penal.

Para justificar minha decisão, pondero que muito se tem


debatido sobre as possibilidades de saídas alternativas que, ao resolver o conflito penal
por outras vias consensuais, acabam por evitar que a solução desague em um julgamento
da matéria de fundo.

Com isso, tem-se institutos como a composição civil18 e a


transação penal19, a suspensão condicional do processo20 (os três previstos na Lei nº
9099/95, os dois primeiros aplicáveis apenas para infrações de menor potencial ofensivo)
e, mais recentemente o Acordo de Não Persecução Penal (art. 28-A e seguintes do Código

17
Esse parece ser o entendimento consolidado no Projeto do novo CPP, pois, conforme exposto acima, se
o acordo restaurativo for cumprido antes do recebimento da denúncia, nos casos de ação penal de iniciativa
pública condicionada à representação, será declarada extinta a punibilidade (art. 121). Porém, afora essa
situação, por ocasião da sentença, o juiz valorará o acordo homologado, conferindo-lhe eventual
abrandamento da pena (art. 122).
18
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a
vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não
privativa de liberdade.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença
irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Parágrafo único. Tratando-se
de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo
homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação. Art. 75. Não obtida a composição
dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação
verbal, que será reduzida a termo.
19
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo
caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos
ou multas, a ser especificada na proposta.
20
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não
por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois
a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal). § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia,
poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I -
reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de frequentar determinados lugares; III
- proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal
e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. § 2º O Juiz poderá especificar
outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do
acusado.
19
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de Processo Penal)21, cada qual com seus requisitos legais próprios. Em especial, a recente
previsão de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), embora passível de críticas22, não
se pode negar que pode ser um importante instrumento para aplicação da Justiça
Restaurativa23, possibilitando uma diálogo entre vítima e ofensor na discussão do acordo,
otimizando uma solução mais eficiente para ambos, inclusive no atendimento das
necessidades da vítima, do ofensor e do entorno deles.

São todos uma rica oportunidade para se trabalhar um novo


olhar sobre o conflito penal. Ao lado delas, a Justiça Restaurativa também pode ser
utilizada, trocando as lentes automáticas retributivas, com o devido acompanhamento por
facilitadores e uso de técnicas específicas, podendo ser aplicada em todo e qualquer tipo
de crime ou ofensa, ainda que graves ou praticados mediante violência ou grave ameaça
(como é o caso dos autos).

É nesse contexto de soluções alternativas presentes


gradualmente na esfera processual penal, na recuperação dos bens subtraídos, na
ressocialização alcançada, na escuta ativa das vítimas e do réu e na conciliação de seus
mais profundos interesses, que não vejo necessidade de imposição de uma pena.

Não posso deixar de fazer um paralelo entre a história dos


autos e a de Jean Valjean, da obra “Os Miseráveis” de Victor Hugo, em cuja narrativa

21
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior
a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário
e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa
e alternativamente
22
Diversos aspectos do novo art. 28-A do CPP tiveram sua constitucionalidade questionada perante o STF,
vide ADI 6304/2020. As principais críticas ao novel instituto se concentram na exigência de confissão e
aplicação de condições que, em verdade, trata-se de penas aplicadas sem processo. Vide também:
CARDOSO, Arthur Martins Andrade. Da confissão no acordo de não persecução penal. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/334134/da-confissao-no-acordo-de-nao-persecucao-penal. Acesso
em: 09 mai. 2022.
23
Cite-se a Central Interdisciplinar de Acordo de Não persecução Penal, atualmente em funcionamento no
CEJUSC de Ponta Grossa, intitulado “CEI DE COR”, Idealizada e desenvolvida pela Juíza Coordenadora
do CEJUSC de Ponta Grossa, Dra. Laryssa Angelica Copack Muniz. Disponível em:
https://www.tjpr.jus.br/noticias/-/asset_publisher/9jZB/content/id/51488865. Acesso em: 09 mai. 2022.
20
DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
JUÍZA DE DIREITO
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PROJUDI - Processo: 0008245-81.2016.8.16.0013 - Ref. mov. 230.1 - Assinado digitalmente por Danielle Nogueira Mota Comar
12/05/2022: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: SENTENÇA

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
9ª VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DE CURITIBA
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percebe-se como o conflito pode ser encarado como um ponto de transformação. A
história se passa na França, do século XIX. O protagonista Jean Valjean é condenado por
furtar um pão da vitrine de uma padaria para alimentar sua família faminta. Sem
antecedentes criminais, é condenado a cinco anos de prisão. Porque tenta fugir inúmeras
vezes da prisão e por ter um histórico de mau comportamento, Jean é condenado a
trabalhos forçados por quatorze anos, ficando, no total, quase vinte anos preso.
Finalmente é liberado, portanto um passaporte amarelo, que simboliza o etiquetamento,
o esteriótipo de condenado.

Como egresso do sistema penal, Jean é rejeitado por onde


passa, porém é acolhido pelo generoso Bispo Myriel que, apesar de ter sido furtado por
Valjean, não retribuiu o mal com o mal, e sim posicionou-se diante daquele episódio de
uma maneira totalmente imprevisível: perdoou a atitude de Jean, resgatou sua alma,
afirmando que doravante, ele não pertencia mais ao mal e sim ao bem. Jean poderia trilhar
o caminho do bem e ser um homem verdadeiramente livre, como de fato tentou ser
mudando de vida, de identidade, tornando-se um homem próspero e respeitado, porém
sempre perseguido pelo Policial Javert, quem personifica a lei e para quem Jean, uma vez
ladrão, sempre será ladrão.

Jean Valjean, mesmo após o perdão do Bispo, ainda subtrai


uma moeda de Gervais, uma criança de dez anos. Pratica o fato, quiçá, porque era aquilo
que sabia fazer, mas se sente profundamente arrependido e começa a repensar suas
atitudes, para ao final tornar-se um homem reabilitado:

Murmurou mais uma vez: “Gervais!”, mas com uma voz fraca,
quase inarticulada.
Foi seu último esforço; os joelhos curvaram-se bruscamente,
como se um poder invisível o oprimisse repentinamente com todo
o peso de sua consciência; caiu esgotado sobre uma pedra, os
punhos na cabeça e o rosto contra os joelhos, exclamando: “Sou
um miserável!”
Então, com o coração partido, desatou a chorar. Era a primeira
vez que chorava em dezenove anos!
(...)
Sentia confusamente que o perdão daquele padre era o maior
21
DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
JUÍZA DE DIREITO
Autos nº 0008245-81.2016.8.16.0013
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assalto e o mais pavoroso ataque que já o havia abalado; que
seu endurecimento seria definitivo se resistisse àquela
clemência; que se cedesse, teria que renunciar ao ódio, que o
agradava, e com o qual as ações dos outros homens vinham
saturando sua alma ao longo de muitos anos; que, desta vez, era
vencer ou ser vencido, e que uma luta, colossal e definitiva,
estava começando, entre a sua perversidade e a bondade daquele
homem.
(...)
O que era certo, e disso não duvidava, é que já não era mais o
mesmo homem; que tudo nele havia mudado, que não estava
mais em seu controle o fato de o bispo ter-lhe falado e ter-lhe
comovido.
(...)
Jean Valjean chorou por muito tempo. Chorou abundantemente,
chorou e soluçou, com fraqueza maior que a de uma mulher, com
pavor maior que o de uma criança.
Enquanto chorava, uma clareza cada vez maior se fazia em sua
cabeça, clareza a um só tempo deslumbrante e terrível. Sua vida
passada, seu primeiro erro, sua longa expiação, seu
embrutecimento exterior, seu endurecimento interior, sua
recondução à liberdade acompanhada por tantos planos de
vingança, o que lhe acontecera na casa do bispo, a última coisa
que fizera, esse roubo de quarenta soldos a uma criança, crime
tanto mais covarde e monstruoso, posto que o cometera após o
perdão do bispo, tudo isso lhe ocorreu claramente, mas com uma
clareza que até então nunca vira. Olhou para a sua vida e achou-
a horrível; olhou para sua alma e achou-a medonha. No entanto,
uma luz suave se refletia sobre aquela vida e aquela alma.
Parecia-lhe que via Satanás à luz do paraíso24.

Aqui, é possível questionar qual a motivação para a


mudança de comportamento de Jean. Houve uma motivação intrínseca (voltada a uma
profunda necessidade ou vontade de agir de maneira a não causar danos a outros) ou
extrínseca (o incentivo para a mudança é externo, centrado no reforço positivo
(recompensa) ou na dor (punição) dele próprio)25?

24
HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução e notas de Regina Célia de Oliveira. São Paulo: Editora
Martin Claret. 2014, p. 150-153.
25
Sobre motivação intrínseca e extrínseca e as vantagens da primeira: “A manutenção de uma motivação
intrínseca é claramente mais desejável por duas razões: primeiro, ela pressagia a vontade de a pessoa agir
pró-socialmente e de modo responsável sem necessidade de reforço, e segundo, ela alivia o Estado e outros
supervisores do fardo infinito de precisar sempre fornecer punição e recompensa. O lado negativo da
punição como motivação extrínseca é que ela não funciona para alcançar seu objetivo e, além disso,
exacerba o comportamento antissocial”. ELLIOTT, Elizabeth M. Justiça Restaurativa e sociedades
saudáveis. Tradução de Cristina Telles Assumpção. São Paulo: Palas Athena; Brasília: ABRAMINJ, 2018.
p. 70-71.
22
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De qualquer sorte, o ora réu e Jean Valjean possuem pontos
em comum: a vontade de mudar, a autorresponsabilização (qual a minha responsabilidade
comigo e com o outro), o autoconhecimento e o sofrimento causado pelo rótulo do
esteriótipo26 social. A ora vítima e o Bispo também possuem pontos em comum: a
necessidade de seguir em frente, de transformar o trauma em uma experiência de vida, de
virar a página e eventualmente de perdoar, calçando os sapatos alheios para tentar
compreender o ponto de vista e as necessidades do seu semelhante.

A Justiça Restaurativa pode ser um instrumento de


transformação social nas relações pessoais da convivência humana. O presente caso é um
exemplo vivo de como a Justiça Restaurativa pode ser instrumento de mudança não só
dos envolvidos diretamente no fato, como também da comunidade que os circunda e
também de todos os intervenientes do processo penal, revelando uma possibilidade de
resolver o conflito penal com outra abordagem diversa de uma saga punitivista que inflige
dor.

As justiças restaurativa e a tradicional podem coexistir, até


porque nem todos os casos poderão ter uma abordagem restaurativa. Não se prega aqui
abolicionismo penal e a Justiça Restaurativa não é uma panaceia, mas pode se mostrar
uma alternativa a mais ao sistema penal, integrante da chamada “Justiça multiportas”,
para aquelas pessoas que voluntariamente estejam abertas ao diálogo relacional e
institucional e dispostas a consertar um determinado conflito de uma forma diferente, para

26
No Tribunal de Justiça do Paraná, o sistema de antecedentes criminais é denominado de ORÁCULO. Na
mitologia grega, o oráculo era representado por uma divindade que proferia respostas, geralmente sobre o
futuro, a quem a consultava. Já o sistema de antecedentes criminais informa todo o passado do acusado
perante o sistema de justiça criminal. O magistrado deve consultá-lo para analisar pedidos concernentes ao
status libertatis do acusado e, em caso de condenação, sopesar eventual reincidência e maus antecedentes
criminais, que implicam consequências na fixação do regime inicial da pena, na dosimetria da pena e na
concessão de eventuais benefícios legais. Com o oráculo, volta-se o olhar para o passado (um passado que,
heuristicamente falando, condena) e determina-se o futuro do sentenciado, etiquetando-a com a pecha de
condenado e egresso do sistema criminal, em um ciclo que dificulta a tão esperada ressocialização. O
oráculo (antecedentes criminais) não deixa de ser uma espécie de “divindade jurídica”, à medida que um
juiz criminal, no sistema de justiça tradicional-retributiva, não poderá ignorar as informações apresentadas
pelo oráculo. Afinal, quem ousaria desafiar um Oráculo de Delfos? Será que a Justiça Restaurativa, com
um olhar prospectivo, assume esse papel de desafio do passado?
23
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que sejam protagonistas de sua própria história, com o auxílio de um facilitador.

O sistema penal tradicional revitimiza, é caro, moroso e, por


vezes, traumático, e pode não atender as necessidades de todos os envolvidos. Assim, a
Justiça Tradicional pode sempre oferecer essa solução alternativa, apresentando-a aos
envolvidos que se permitam essa nova abordagem diferente da adjudicada e que valoriza
o diálogo e a escuta entre todos os envolvidos, de forma horizontal e não vertical e
impositiva. Precisamos de várias lentes para enxergar diferentes aspectos de uma
realidade complexa.

Estamos vivendo uma crise como sociedade, temos medo e


o discurso repressivo é sedutor. A resposta tradicional do processo penal é custosa,
demorada e nem sempre sua faceta retributiva atende aos anseios dos envolvidos. Para
alguns casos seguirá sendo a única resposta que o sistema repressivo pode dar. Mas, para
outros, é uma solução altamente transformadora.

Convém observar que o ideograma chinês para a palavra


crise (危机) mescla as noções de perigo/caos e oportunidade/momento de mudança. É
preciso compreender que, nos casos em que se vislumbra uma possibilidade de
implementação da Justiça Restaurativa, urge mudar o foco de um processo burocrático de
linha de produção fordista para um processo de atenção plena, de escuta ativa e de
desaceleração. Um Poder Judiciário transformador, com um “tempero caseiro” e não fast
food, afinal, as pizzas entregues pelo réu às vítimas não foram um mero objeto do acordo
restaurativo, mas, não tenho dúvidas, que simbolizam muito mais, foram um alimento
para a alma, faminta de paz, dignidade e compreensão.

A Justiça Restaurativa envolve um maravilhamento, um


despertar e renascimento. A compreensão de que embora o conflito possa ser doloroso,
não é necessariamente negativo, mas pode ser visto como uma oportunidade para
trabalhar várias questões subjacentes.

24
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Termino esta sentença com as palavras da vítima, retratadas
abaixo, atestando o cumprimento do acordo.

Peço permissão aos que leem esta sentença, para desejar às


vítimas e ao réu que sigam suas vidas de cabeça erguida, olhando para frente, superando
traumas com resiliência. Somos feitos de experiências, mas sobremaneira como nos
portamos frente às nossas experiências e tenho certeza que todos os envolvidos neste
processo restaurativo cresceram, transformaram-se e se humanizaram.

Ao longo de dezoito anos de magistratura, esta experiência


marcou-me profundamente na alma. Nunca esquecerei. Levo a alegria de ter
experienciado transformações pessoais e oxalá possamos ter mais episódios de Justiça
Restaurativa. Este caso não só me emocionou muito como magistrada, como
verdadeiramente transformou meu olhar quanto à abertura para outras formas de solução
de um conflito penal.

Às vítimas, quero externar minha profunda admiração por


seus espíritos elevados e corajosos. Talvez uma das coisas mais difíceis da vida seja
perdoar, é dolorido, sofrido, mas as senhoras souberam superar, olhar com outras lentes.
Sejam felizes!

Ao réu, desejo sinceramente que essa experiência tenha


transformado a sua vida para melhor, proporcionado amadurecimento. Lembre-se deste
25
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renascimento que a vida lhe proporcionou. Nossa sociedade precisa de exemplos, como
o seu, de autorresponsabilização. Quando homologuei o acordo restaurativo e afastei o
pedido de multa feito pelo Ministério Público, acreditei sinceramente na sua
transformação, no seu profundo senso de responsabilidade e amadurecimento, mas acima
de tudo, no seu sentimento sincero de consertar um erro. Seja feliz, siga sua vida de forma
digna, sem rótulo algum!

Ao Ministério Público e à Defesa, manifesto minha


admiração pela atuação neste feito. Deixo aqui meus elogios à toda a equipe do Ministério
Público que dedicou carinho e atenção neste caso, mesmo em tempos de pandemia, não
se abalando com tal circunstância, seguindo na busca de uma solução pacífica ao caso.

O êxito do acordo muito se deve, também, ao trabalho de


equipe de todos os envolvidos, cada um com seu papel específico, mas todos voltados a
um objetivo comum de contribuir no processo restaurativo.

III – DISPOSITIVO

Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE a


pretensão estatal deduzida na peça acusatória e ABSOLVO CHAILON VAZ DA
SILVA, das sanções previstas pelo art. 157, §2º, II do Código Penal, o que faço com
fundamento no art. 386, III e VI, do CPP, dada a superveniente perda de justa causa, o
atingimento da pacificação entre os envolvidos e a desnecessidade de sanção penal.

Na forma do artigo 201, §2º, do Código de Processo Penal,


comuniquem-se as ofendidas.

Este Juízo agradece a atuação dativa do NPJ da


UNICURITIBA. Anote-se o substabelecimento de mov. 229.1.

26
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Procedam-se às demais diligências e comunicações
determinadas no Código de Normas da egrégia Corregedoria-Geral da Justiça do Estado
do Paraná.

Ciência ao Ministério Público.

Publique-se. Registre-se e Intimem-se.

Oportunamente, arquive-se.

Curitiba, datado eletronicamente.

DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR


JUÍZA DE DIREITO

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DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR
JUÍZA DE DIREITO
Autos nº 0008245-81.2016.8.16.0013

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