Você está na página 1de 8

fls.

206

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

Primeira Câmara Criminal

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300


Apelante : João Marcos Pontes da Silva
Defensora : Dra. Thatiana David Borges
Pública
Apelado : Ministério Público do Estado do Amazonas

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
Relatora : Carla Maria S. dos Reis
Revisor : Des. José Hamilton Saraiva dos Santos
Procurador : Dr. Mauro Roberto Veras Bezerra
de Justiça

EMENTA: PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO


MAJORADO (ART. 157, §2º, II E §2º-A, I, DO CÓDIGO PENAL).
RECONHECIMENTO DE PESSOA REALIZADO NA FASE DO INQUÉRITO
POLICIAL. AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA AO PROCEDIMENTO
PREVISTO NO ART. 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
I – Como sabido, a Sexta Turma do Superior de Justiça, por ocasião do
julgamento do HC n. 598.886/SC (Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ),
realizado em 27/10/2020, propôs nova interpretação do art. 226 do CPP,
segundo a qual a inobservância do procedimento descrito no mencionado
dispositivo legal torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não
poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado
o reconhecimento em juízo.
II - In casu, verifica-se que a autoria delitiva foi estabelecida apenas
no reconhecimento do réu, que no momento da prisão não estava
acompanhado da res furtiva nem a arma de fogo utilizada para a prática da
conduta delitiva, ou seja, a condenação se deu tão somente,
em reconhecimento realizado pelas vítimas em total desconformidade com
o procedimento previsto no art. 226 do CPP, sem que nenhuma outra prova
(apreensão de bens em seu poder, confissão, relatos indiretos) autorizasse,
além de uma dúvida razoável, o juízo condenatório.
III - Nesse ínterim, insta frisar que o reconhecimento do acusado pelas
vítimas se deu após a guarnição chamada para averiguar a ocorrência
mostrar fotos de pessoas suspeitas de cometer crime, ocasião em que a
vítima afirmou ser o recorrente um dos criminosos, ou seja, não houve uma
descrição anterior com as características da pessoa a ser reconhecida (fls.
02 e 04).
IV - Do mesmo modo, nada consta a respeito da previsão contida no inciso
II do art. 226 do Código de Processo Penal, no sentido de ter sido o
acusado colocado ao lado de outras que com ela tiverem qualquer
semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
apontá-la, após a sua prisão no dia posterior.
V - Apelação conhecida e provida.

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 1/8


fls. 207

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal n.º


0600012-67.2021.8.04.7300, em que são partes as acima indicadas, ACORDAM os

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
Desembargadores que compõem a Primeira Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Amazonas, por unanimidade de votos e em dissonância com o
parecer do Graduado Órgão do Ministério Público Estadual, em conhecer do recurso
para provê-lo, nos termos do voto que acompanha a presente decisão, dela fazendo
parte integrante.

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 2/8


fls. 208

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

RELATÓRIO

Trata-se de apelação criminal interposta por João Marcos Pontes da


Silva, em face da sentença de fls. 135/140, em cujo bojo foi condenado à pena de 09
(nove) anos de reclusão e 21 (vinte e um) dias-multa, fixado o dia-multa em um

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
trigésimo do salário mínimo, pela prática dos delito tipificado no art. 157, § 2º-A, I,
do Código Penal.

Em suas razões às fls. 146/163, a defesa suscita a nulidade absoluta


do reconhecimento pessoal, tendo em vista que realizado sem observância ao
disposto no art. 226 do Código de Processo Penal. No mérito, pleiteia a absolvição e a
reforma da dosimetria da pena.

Em contrarrazões juntadas às fls. 167/172, o representante


ministerial de 1º grau opinou pelo não provimento da pretensão recursal.

O Graduado Órgão Ministerial, em parecer de fls. 182/194,


manifestou-se pelo conhecimento e não provimento do recurso de apelação, de modo
a ratificar a decisão atacada.

É o relatório.

VOTO

Pressupostos de admissibilidade recursal preenchidos, passa-se a análise


do recurso.

Consta da sentença o julgamento procedente da pretensão punitiva


estatal deduzida na denúncia, de modo que o denunciado João Marcos Pontes da Silva,
qualificado nos autos, foi condenado como incursos nas penas do art. 157, § 2°, II, e §
2º-A, I, do Código Penal.

É da exordial acusatória às fls. 82/85:

"Narram os autos que no dia 12/01//2021 por volta das 20h00min,


na Rua Marechal Deodoro, no Bairro Tancredo Neves, nesta cidade, o
denunciado acima qualificado, na companhia de outro sujeito
(desconhecido), subtraíram, mediante grave ameaça, 01 (um)

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 3/8


fls. 209

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

aparelho celular da marca SAMSUNG, modelo A20S, de cor azul,


avaliado no valor de R$ 890,00, vitimando SABRINA DE BRITO
HOLGUIM, CASSANDRA DE BRITO AHUAITE e ANNY SOPHIA
AHUAITE.
Conforme apurado, as vítimas estavam em frente de suas
residências, quando foram surpreendidas por dois sujeitos, os quais
anunciaram o assalto e ordenaram que entregassem seus aparelhos
telefônicos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
Destaca-se que o denunciado JOÃO MARCOS usou uma arma de
fogo, tipo revólver, de cor prateada, para realizar o assalto. Durante
a ação criminosa, foi subtraído 01 (um) aparelho celular da marca
SAMSUNG, modelo A20S, de cor azul, avaliado no valor de R$
890,00 (oitocentos e noventa).
Após a conduta criminosa, as vítimas acionaram a Polícia Militar, a
qual, imediatamente, capturou o denunciado.
Importa dizer, que a vítima SABRINA efetuou o termo de
reconhecimento pessoal, em que afirma reconhecer, sem dúvida,
JOÃO MARCOS PONTES DA SILVA, como sendo um dos autores do
crime em tela.(...)"

A conduta de roubo próprio, tipificada na primeira parte do art. 157 do


Código Penal, consiste em "subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa".

Trata-se de crime complexo, por contar com pluralidade de bens jurídicos:


de um lado o patrimônio, de outro a a liberdade individual e a integridade física/psicológica
da vítima.

A consumação do roubo próprio segue a mesma sorte do furto, ou seja,


acolhe-se a teoria da amotio ou apprehensio, consumando-se “com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada” (Súmula nº 582 do STJ).

As provas que dão conta da materialidade delitiva são a prova oral


colhida judicialmente.

No tocante à autoria do evento criminoso, importa analisar, inicialmente,


a alegativa de nulidade do reconhecimento do acusado mediante reconhecimento
fotográfico.

Como sabido, a Sexta Turma do Superior de Justiça, por ocasião do


Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 4/8
fls. 210

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

julgamento do HC n. 598.886/SC (Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ), realizado em


27/10/2020, propôs nova interpretação do art. 226 do CPP, segundo a qual a inobservância
do procedimento descrito no mencionado dispositivo legal torna inválido
o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação,
mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
Tal entendimento foi acolhido pela Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, no julgamento do Habeas Corpus n. 652.284/SC, da relatoria do Ministro Reynaldo
Soares da Fonseca, em sessão de julgamento realizada no dia 27/4/2021.

O Código de Processo Penal assim prevê o aludido dispositivo:

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento


de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será
colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não
diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
chamada para proceder ao reconhecimento e por duas
testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação
na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.

In casu, verifica-se que a autoria delitiva foi estabelecida apenas


no reconhecimento do réu, que no momento da prisão não estava acompanhado da res
furtiva nem com a arma de fogo supostamente utilizada para a prática da conduta delitiva,
ou seja, a condenação se deu tão somente, em reconhecimento realizado pelas vítimas em
total desconformidade com o procedimento previsto no art. 226 do CPP, sem que nenhuma
outra prova (apreensão de bens em seu poder, confissão, relatos indiretos) autorizasse,
além de uma dúvida razoável, o juízo condenatório.

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 5/8


fls. 211

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

Nesse ínterim, insta frisar que o reconhecimento do acusado pelas vítimas


se deu após a guarnição chamada para averiguar a ocorrência mostrar fotos de pessoas
suspeitas de cometer crime, ocasião em que a vítima afirmou ser o recorrente um dos
criminosos, ou seja, não houve uma descrição anterior com as características da pessoa a
ser reconhecida (fls. 02, 04), cujo termo de reconhecimento de fl. 06 não consta assinatura

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
de testemunhas.

Do mesmo modo, nada há a respeito da previsão contida no inciso II do


art. 226 do Código de Processo Penal, no sentido de ter sido o acusado colocado ao
lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem
tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la, após a sua prisão no dia posterior.

Ademais, além do reconhecimento fotográfico não ter seguido as regras


do citado dispositivo legal, não existem outros elementos probatórios para
reconhecer a autoria e consequentemente condenar o recorrente, o que torna
viável o pedido de absolvição por ausência de provas.

Em caso análogo decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL. ROUBO MAJORADO. NEGATIVA DE


AUTORIA. RECONHECIMENTO PESSOAL. INOBSERVÂNCIA DO
PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 226 DO CPP. SUPORTE
PROBATÓRIO INSUFICIENTE. CERTEZA NÃO DEMONSTRADA.
NULIDADE RECONHECIDA.
1. No julgamento do HC 598.886/SC, da relatoria do Min.
Rogério Schietti Cruz, decidiu a Sexta Turma, revendo anterior
interpretação, no sentido de que se "determine, doravante,
a invalidade de qualquer reconhecimento formal -
pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o que
determina o art. 226 do CPP, sob pena de continuar-se a
gerar uma instabilidade e insegurança de sentenças
judiciais que, sob o pretexto de que outras provas
produzidas em apoio a tal ato - todas, porém, derivadas
de um reconhecimento desconforme ao modelo
normativo - autorizariam a condenação, potencializando,
assim, o concreto risco de graves erros judiciários".
2. Na hipótese, o reconhecimento pessoal do recorrente
não obedeceu aos ditames do precedente mencionado
(HC 598.886/SC) e, mais grave ainda, da própria norma
processual em causa (art. 226 - CPP), porquanto a
vítima o reconheceu por meio de fotografia na fase
inquisitorial, sem a apresentação

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 6/8


fls. 212

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

de pessoas semelhantes e sem a indicação de


justificativa plausível acerca de impossibilidade de
realização do ato nos termos estabelecidos na norma
legal. Não constou do julgado a menção de outras
provas independentes aptas a evidenciar a autoria
delitiva.
3. Como observado no HC n. 598.886/SC, "[à] vista dos efeitos
e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
procedimento descrito na referida norma processual torna
inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá
servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado
o reconhecimento em juízo".
4. Apesar da gravidade do crime em causa, não se tem nos
autos a demonstração da autoria de forma pelo menos
razoável, não se podendo praticar uma jurisprudência apenas
de resultados, sem o abono da prova do fato, regular e
legitima.
5. Recurso especial provido. Reconhecimento da nulidade
ocorrida em relação ao reconhecimento fotográfico. Absolvição
do recorrente (art. 386, VII - CPP).
(REsp 1976825/MG, Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO,
julgado em 06/05/2022, grifos acrescidos).

Embora em juízo, as duas vítimas tenham relatado que reconheceram o


acusado na delegacia, por meio de fotografias, infere-se dos seus relatos a não observância
do cumprimento das formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal
(Termo de Audiência, fls. 135/140), frise-se, sem apresentação do indiciado ao lado de
outras pessoas que com ele tivessem qualquer semelhança.

Note-se que a afirmativa das vítimas em juízo (Termo de audiência, fls.


120/121) no sentido de que "não tem como ver o acusado, "mas se for o mesmo que vi na
foto, quando presente na delegacia", demonstra o perigo de contaminação da prova,
considerando o possível comprometimento da memória, tendo em vista que a ocorrência
passada resulta na influência de futuros reconhecimentos (presenciais ou fotográficos).

Nessa perspectiva, é didático o voto do Ministro Rogerio Schietti Cruz


sobre a psicologia do testemunho:

Estudos sobre a epistemologia jurídica e a psicologia do


testemunho alertam que é contraindicado o show-up
(conduta que consiste em exibir apenas a pessoa
suspeita, ou sua fotografia, e solicitar que a vítima ou a
testemunha reconheça se essa pessoa suspeita é, ou

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 7/8


fls. 213

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0600012-67.2021.8.04.7300 e código 1FDAE45.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
GABINETE DA DESEMBARGADORA CARLA MARIA S. DOS REIS

não, autora do crime), por incrementar o risco de falso


reconhecimento.
O maior problema dessa dinâmica adotada pela autoridade
policial está no seu efeito indutor, porquanto se estabelece
uma percepção precedente, ou seja, um pré-juízo acerca de
quem seria o autor do crime, que acaba por contaminar e
comprometer a memória.
Ademais, uma vez que a testemunha ou a vítima

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLA MARIA SANTOS DOS REIS, liberado nos autos em 18/07/2022 às 14:57 .
reconhece alguém como o autor do delito, há tendência,
por um viés de confirmação, a repetir a mesma resposta
em reconhecimentos futuros, pois sua memória estará
mais ativa e predisposta a tanto.
STJ. 6ª Turma.HC 712781-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 15/03/2022 (Info 730).

Não se pode olvidar que se trata de crime com alta carga de


reprovabilidade, contudo a gravidade do crime deve ser apurada mediante a observância a
legislação processual vigente, garantindo além do direito da vítima de ter uma solução para
a proteção do seu bem jurídico, mas especialmente garantindo-lhe que seja condenado o
real agressor da norma jurídica.

Ante o exposto, em dissonância com o parecer do Graduado Órgão do


Ministério Público Estadual, conhece-se do recurso de apelação para, no mérito, dar-
lhe provimento, no sentido de anulação do reconhecimento pessoal realizado
pelas vítimas e absolver o recorrente pelo crime de roubo majorado (art. 386, VII
- CPP).

É como voto.

CARLA MARIA S. DOS REIS


Relatora

Apelação Criminal nº 0600012-67.2021.8.04.7300 (7) 8/8

Você também pode gostar