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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DO DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANDRE LUIZ DE SOUZA COSTA, liberado nos autos em 16/02/2023 às 18:24 .
DECISÃO MONOCRÁTICA
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0239825-53.2022.8.06.0001 e código 2A80292.
1. RELATÓRIO.
Trata-se de Recurso de Apelação interposto por MARIA DOS SANTOS SALDANHA, nos autos
da Ação Revisional de Contrato, ajuizada em face do BANCO PAN S/A, objetivando a reforma da
sentença lavrada pelo Juízo da 16ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza que julgou improcedente a
demanda (fls. 203/224).
É o relatório. Decido.
2. FUNDAMENTAÇÃO.
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interpretação consolidada no julgamento efetuado pelo órgão colegiado.
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No caso dos autos, a matéria versada já foi objeto de reiterados julgamentos nesta Corte de
Justiça, situação que possibilita o julgamento unipessoal do recurso (Súmula nº 568 do STJ).
Nessa perspectiva, não pode haver imposição da operadora para contratação do referido
seguro (que representa uma garantia de pagamento do empréstimo em casos de infortúnio), ou
seja, não se deve ter uma vinculação da concessão do financiamento à aquisição do mencionado
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serviço, conforme a tese firmada pelo STJ, no Tema nº 972, em sede de recursos repetitivos.
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Ademais, do ajuste em estudo, observo a Proposta de Adesão ao Seguro (fls. 137/141),
devidamente assinada pela recorrente, demonstra que o consumidor estava ciente da sua
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contratação:
1. Cuida-se de Agravo Interno interposto pela parte autora, TELMA VERÔNICA GOMES GADELHA,
em face da decisão monocrática de fls. 179/187 dos autos principais, que, em julgamento do apelo
por ela interposto, negou provimento ao recurso e manteve a sentença de primeira instância, que
havia julgado improcedentes os pedidos da exordial.
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5. Nesse contexto, não se pode declarar nula a cláusula contratual que disciplina a cobrança do
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seguro de proteção financeira. A decisão agravada não merece reproche.
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6. Recurso conhecido e desprovido.
(TJCE. AgInt nº 0209593-73.2013.8.06.0001. Rel. Des. José Ricardo Vidal Patrocínio. 3ª Câmara
Direito Privado. DJe: 24/11/2021).
Portanto, neste caso, não se configurou venda casada, ou seja, inexistiu a imposição, pelo
banco, da contratação do referido serviço, razão pela qual a solução encaminhada pela sentença
deve ser mantida.
A cobrança de avaliação de bem encontra respaldo no art. 5º, VI, da Resolução nº 319/2010,
do Conselho Monetário Nacional (CMN), o qual permite a cobrança de tarifa pela prestação de
serviços diferenciados a pessoas naturais, com a condição de que sejam explicitadas ao cliente as
circunstâncias de utilização e de pagamento.
Dessa forma, não considero excessivo o valor atribuído a esta taxa, uma vez que a quantia
de R$ 408,00 (quatrocentos e oito reais) é razoável, legalmente permitida e está expressa no
contrato, bem como foi comprovada a efetivação do serviço prestado através do Termo de
Avaliação do Veículo (fls. 148/151), especificando o estado de conservação e a análise do bem em
negociação. Nesse sentido:
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CONTRATADA. ABUSIVIDADE. INEXISTÊNCIA. ORIENTAÇÃO FIRMADA NO RESP N.
1.061.530/RS. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. JUROS COMPOSTOS. REEXAME
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CONTRATUAL E FÁTICO DOS AUTOS. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. TARIFA DE CADASTRO.
TARIFA DE AVALIAÇÃO. TARIFA DE REGISTRO. CABIMENTO.
2. A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma
expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada" (REsp 973.827/RS, Rel. p/ acórdão Ministra Maria Isabel Gallotti, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe de 24.9.2012).
(STJ. AgInt no AREsp nº 1.772.547/RS. Rel. Min. Maria Isabel Gallotti. Quarta Turma. DJe:
24/6/2021)
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ADESÃO AOS PRODUTOS EM INSTRUMENTOS DISTINTOS E APARTADOS DO CONTRATO DE
FINANCIAMENTO, DEVIDAMENTE ASSINADAS PELO AUTOR. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
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NÃO PRESVISTA. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E NEGADO.
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Seguro Auto RCF e Capitalização Parcela Premiável, alegando a abusividade de tais cobranças. É
vedado ao fornecedor condicionar à venda de um produto ou serviço a outra obrigação
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(denominada de venda casada), conforme preconiza o Artigo 39, Inciso I, do Código de Defesa do
Consumidor.
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No presente caso, verifica-se que no contrato (fls. 107/109), consta o quadro 5 (fls.107), no qual
há cobrança de seguro: i) Seguro Prestamista; ii) Seguro Auto RCF e; iii) Capitalização Parcela
Premiável. Tendo sido contratados mediante proposta de adesão apartadas do contrato de
financiamento, devidamente assinadas pelo promovente, conforme verifica-se às fls. 111, 112 e
113, respectivamente, não havendo, portanto, que se falar em ilegalidade ou venda casada,
tampouco em restituição em de tais valores. Considerando-se que restou comprovado que o
apelante aderiu voluntariamente ao produto, em instrumento separado do contrato de
financiamento, há se falar em excesso ou em inexistência do serviço.
Quanto à Comissão de Permanência, vê-se que o contrato não prevê sua cobrança, sendo
impossível falar-se, portanto, em sua cumulação com outros encargos.
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julgamento dos recursos repetitivos na Segunda Seção do STJ, firmando-se o Tema 25, o qual
estabelece: (1) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios
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estipulada na Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) - Súmula 596/STF; (2) a estipulação de
juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; (3) são
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inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art.
591, c/c o art. 406 do CC/02; e, (4) é admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz
de colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente
demonstrada, antes às peculiaridades do julgamento em concreto.
Em outros termos, a taxa média de mercado serve como parâmetro para identificar
eventuais abusividades, não como limite máximo permitido para os juros avençados, admitindo-
se uma faixa razoável para variação dos juros.
Analisando-se o contrato firmado entre as partes (fls. 126/136), verifico que a taxa de juros
remuneratórios foi pactuada em 47,21% ao ano, enquanto a taxa média de mercado divulgada
pelo BACEN para época de celebração do pacto, em 04/02/2022, foi de 26,26% ao ano, ou seja, os
juros pactuados são 20,95% superiores à taxa média de mercado, sendo considerado, portanto,
abusivos, conforme a jurisprudência da 3ª Câmara de Direito Privado, a qual entende abusivos os
juros quando superiores a 5% (cinco por cento) ao ano à taxa média de mercado. Nesse diapasão:
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DE 20,10% A.A. JUROS REMUNERATÓRIOS CONTRATUAIS SUPERIORES A 5% (CINCO POR
CENTO) DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. RECURSO
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PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA EXTENSÃO CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO
APENAS PARA CORREÇÃO DOS PERCENTUAIS DE JUROS ESTIPULADOS NA SENTENÇA
REFERENTE À TAXA MÉDIA DE MERCADO.
[…]
4. Após consulta à taxa média de mercado vigente para o período contratado, vê-se que são
abusivos os juros contratados no patamar de 28,07% a.a., pois se mostram substancialmente
discrepantes da média praticada pelo mercado, uma vez que esta taxa média, de acordo com o
Sistema gerenciador de séries temporais do BACEN (Série 20749), no mês de agosto de 2019,
em que houve a celebração do contrato (fls. 53/55), era de 20,10% ao ano, ou seja, os juros
pactuados são quase 10% superior à taxa média de mercado, considerando-se, portanto,
abusivos, conforme a jurisprudência desta 3ª Câmara de Direito Privado, a qual entende
abusivos os juros a partir de 5% a.a. superiores à taxa média.
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Dessa forma, constatando-se que os juros remuneratórios pactuados entre as partes são
superiores a 5% (cinco por cento) da taxa média de mercado do BACEN, resta configurada a sua
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abusividade, de modo que devem ser redimensionados os referidos juros à taxa média de
mercado, razão pela qual a sentença merece reforma neste ponto.
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3. DISPOSITIVO.
Em face do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO a fim de, tão somente, redimensionar os
juros remuneratórios contratados à taxa média de mercado no período contratado.
Expedientes necessários.