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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DO DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA

Processo: 0239825-53.2022.8.06.0001 - Apelação Cível


Apelante: Maria dos Santos Saldanha.
Apelado: Banco Pan S/A.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANDRE LUIZ DE SOUZA COSTA, liberado nos autos em 16/02/2023 às 18:24 .
DECISÃO MONOCRÁTICA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0239825-53.2022.8.06.0001 e código 2A80292.
1. RELATÓRIO.

Trata-se de Recurso de Apelação interposto por MARIA DOS SANTOS SALDANHA, nos autos
da Ação Revisional de Contrato, ajuizada em face do BANCO PAN S/A, objetivando a reforma da
sentença lavrada pelo Juízo da 16ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza que julgou improcedente a
demanda (fls. 203/224).

A apelante, em suas razões recursais, suscitou as seguintes questões (fls. 241/258):

a) exorbitância da taxa de juros remuneratórios;

b) ilegitimidade do seguro prestamista; e

c) cobrança indevida da tarifa de avaliação do bem.

O apelado, em suas contrarrazões ao recurso, defende a inexistência de qualquer ilegalidade,


postula a manutenção integral da sentença e o improvimento recursal (fls. 283/296).

É o relatório. Decido.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

2.1. Cabimento de decisão monocrática.

O art. 932, IV e V, do CPC, estabelece as possibilidades de apreciação monocrática de


recurso pelo relator. De igual modo, a legislação processual fixa o dever dos tribunais de manter
íntegra, uniforme, estável e coerente sua jurisprudência (art. 926 do CPC).
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Portanto, havendo orientação consolidada no Tribunal de Justiça sobre matéria a ser


apreciada pelo relator, este poderá decidir monocraticamente, mas deverá seguir a mesma

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interpretação consolidada no julgamento efetuado pelo órgão colegiado.

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No caso dos autos, a matéria versada já foi objeto de reiterados julgamentos nesta Corte de
Justiça, situação que possibilita o julgamento unipessoal do recurso (Súmula nº 568 do STJ).

2.2. Juízo de Admissibilidade.

Atendidos os pressupostos recursais intrínsecos (cabimento, interesse, legitimidade e


inexistência de fato extintivo do direito de recorrer) e os pressupostos recursais extrínsecos
(regularidade formal, tempestividade, preparo, inexistência de fato impeditivo do direito de
recorrer e capacidade processual do recorrente), o recurso deve ser admitido, o que impõe o seu
conhecimento e a sua apreciação.

2.3. Juízo do Mérito.

2.3.1. Seguro de proteção financeira.

O seguro tem como finalidade o pagamento do saldo devedor e das contraprestações


vincendas em caso de morte, invalidez, desemprego involuntário ou incapacidade física
temporária do financiado para o trabalho, regendo-se segundo as cláusulas e condições
estabelecidas na apólice e pactuadas entre a seguradora e a instituição financeira emitente da
cédula de crédito bancário, que optou por se responsabilizar pelo contrato.

Nessa perspectiva, não pode haver imposição da operadora para contratação do referido
seguro (que representa uma garantia de pagamento do empréstimo em casos de infortúnio), ou
seja, não se deve ter uma vinculação da concessão do financiamento à aquisição do mencionado
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serviço, conforme a tese firmada pelo STJ, no Tema nº 972, em sede de recursos repetitivos.

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Ademais, do ajuste em estudo, observo a Proposta de Adesão ao Seguro (fls. 137/141),
devidamente assinada pela recorrente, demonstra que o consumidor estava ciente da sua

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contratação:

Nesse sentido é a jurisprudência da 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal do TJCE:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO BANCÁRIO. IRRESIGNAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA. VENDA
CASADA NÃO CONFIGURADA. VALIDADE DA COBRANÇA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

1. Cuida-se de Agravo Interno interposto pela parte autora, TELMA VERÔNICA GOMES GADELHA,
em face da decisão monocrática de fls. 179/187 dos autos principais, que, em julgamento do apelo
por ela interposto, negou provimento ao recurso e manteve a sentença de primeira instância, que
havia julgado improcedentes os pedidos da exordial.

2. Na hipótese em exame, a agravante se insurge contra a decisão monocrática de minha lavra,


relativamente ao seguro de proteção financeira cobrado no contrato de financiamento de fls.
22/26.

3. O colendo Superior Tribunal de Justiça, através do Recurso Especial Repetitivo n. 1.639.320/SP,


afetado ao tema n. 972, tal como o REsp Repetitivo nº 1.639.259/SP, tratou de delimitar a
contratação do seguro de proteção financeira como uma cláusula optativa, isto é, não vinculada a
qualquer outro produto, de modo a repelir a venda casada.

4. De acordo com a cláusula contratual, a contratação ou não do seguro era opção da


consumidora, tendo sido observado, desse modo, a liberdade de contratar ou não o seguro. Além
disso, não se observa qualquer vício de consentimento na adesão ao produto, pois a consumidora
apôs sua assinatura na cédula de financiamento, sem ressalvas, demonstrando anuência aos seus
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termos, condições e valores.

5. Nesse contexto, não se pode declarar nula a cláusula contratual que disciplina a cobrança do

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seguro de proteção financeira. A decisão agravada não merece reproche.

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6. Recurso conhecido e desprovido.

(TJCE. AgInt nº 0209593-73.2013.8.06.0001. Rel. Des. José Ricardo Vidal Patrocínio. 3ª Câmara
Direito Privado. DJe: 24/11/2021).

Portanto, neste caso, não se configurou venda casada, ou seja, inexistiu a imposição, pelo
banco, da contratação do referido serviço, razão pela qual a solução encaminhada pela sentença
deve ser mantida.

2.3.2. Tarifa de avaliação de bem.

A cobrança de avaliação de bem encontra respaldo no art. 5º, VI, da Resolução nº 319/2010,
do Conselho Monetário Nacional (CMN), o qual permite a cobrança de tarifa pela prestação de
serviços diferenciados a pessoas naturais, com a condição de que sejam explicitadas ao cliente as
circunstâncias de utilização e de pagamento.

Dessa forma, não considero excessivo o valor atribuído a esta taxa, uma vez que a quantia
de R$ 408,00 (quatrocentos e oito reais) é razoável, legalmente permitida e está expressa no
contrato, bem como foi comprovada a efetivação do serviço prestado através do Termo de
Avaliação do Veículo (fls. 148/151), especificando o estado de conservação e a análise do bem em
negociação. Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO


BANCÁRIO. ALEGAÇÃO DE FALTA DE CIÊNCIA DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS
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SUPOSTAMENTE ASSUMIDAS NO CONTRATO DE MÚTUO. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 282 DO STF. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS

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CONTRATADA. ABUSIVIDADE. INEXISTÊNCIA. ORIENTAÇÃO FIRMADA NO RESP N.
1.061.530/RS. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. JUROS COMPOSTOS. REEXAME

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CONTRATUAL E FÁTICO DOS AUTOS. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. TARIFA DE CADASTRO.
TARIFA DE AVALIAÇÃO. TARIFA DE REGISTRO. CABIMENTO.

1. Ausente o prequestionamento, exigido inclusive para as matérias de ordem pública, incide o


óbice do enunciado n. 282 da Súmula do STF.

2. A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma
expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada" (REsp 973.827/RS, Rel. p/ acórdão Ministra Maria Isabel Gallotti, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe de 24.9.2012).

3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória e interpretar


cláusulas contratuais (Súmulas n. 5 e 7/STJ).

4. A jurisprudência do STJ entende que é permitida a cobrança das tarifas de cadastro, de


avaliação e de registro. Precedentes.

5. Agravo interno a que se nega provimento.

(STJ. AgInt no AREsp nº 1.772.547/RS. Rel. Min. Maria Isabel Gallotti. Quarta Turma. DJe:
24/6/2021)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. APLICABILIDADE DO


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS EXPRESSAMENTE
PACTUADA. SÚMULA 541 DO STJ. COBRANÇA DE TARIFA DE CADASTRO E TARIFA DE
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AVALIAÇÃO DO BEM. LEGALIDADE. SEGURO PRESTAMISTA, CAPITALIZAÇÃO PARCELA


PREMIÁVEL E SEGURO AUTO RCF. INOCORRÊNCIA DE VENDA CASADA. PROPOSTAS DE

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ADESÃO AOS PRODUTOS EM INSTRUMENTOS DISTINTOS E APARTADOS DO CONTRATO DE
FINANCIAMENTO, DEVIDAMENTE ASSINADAS PELO AUTOR. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

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NÃO PRESVISTA. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E NEGADO.

Cinge-se controvérsia na análise da legalidade ou não da capitalização de juros pactuada no


Contrato de financiamento do veículo marca/modelo Toyota Corolla, ano 2009/2009, cor PRETA,
placa NQX8892, chassi 9BRBB48E095058919.

Inicialmente, cumpre registrar a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso em


tela, nos termos da Súmula n.º 297 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual "o Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

No caso em tela, a capitalização de juros foi pactuada expressamente, consoante análise do


contrato firmado às fls. 107/109. Isso porque, na esteira da Súmula nº 541, do STJ, a previsão no
contrato bancário da taxa de juros anual [26,48%] é superior ao duodécuplo da mensal [1,98%],
sendo, portanto, suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada, porquanto
expressamente pactuada entre as partes.

Quanto à Tarifa de Avaliação de Bem, a cobrança encontra-se expressamente autorizada pela


Resolução do Banco Central do Brasil nº 3.919/2010 (art. 5º, inciso VI), não havendo de se falar
em ilegalidade.

No caso concreto, deve permanecer válida a estipulação da Tarifa de Cadastro expressamente


tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, cobrada no valor de R$
659,00 (seiscentos e cinquenta e nove reais), conforme se verifica no quadro 5, do contrato
objurgado (fls. 107), a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira, na forma como pactuado.

Pretende o recorrente que seja declarada a ilegalidade da contratação de Seguro Prestamista,


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Seguro Auto RCF e Capitalização Parcela Premiável, alegando a abusividade de tais cobranças. É
vedado ao fornecedor condicionar à venda de um produto ou serviço a outra obrigação

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(denominada de venda casada), conforme preconiza o Artigo 39, Inciso I, do Código de Defesa do
Consumidor.

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No presente caso, verifica-se que no contrato (fls. 107/109), consta o quadro 5 (fls.107), no qual
há cobrança de seguro: i) Seguro Prestamista; ii) Seguro Auto RCF e; iii) Capitalização Parcela
Premiável. Tendo sido contratados mediante proposta de adesão apartadas do contrato de
financiamento, devidamente assinadas pelo promovente, conforme verifica-se às fls. 111, 112 e
113, respectivamente, não havendo, portanto, que se falar em ilegalidade ou venda casada,
tampouco em restituição em de tais valores. Considerando-se que restou comprovado que o
apelante aderiu voluntariamente ao produto, em instrumento separado do contrato de
financiamento, há se falar em excesso ou em inexistência do serviço.

Quanto à Comissão de Permanência, vê-se que o contrato não prevê sua cobrança, sendo
impossível falar-se, portanto, em sua cumulação com outros encargos.

Recurso de apelação conhecido e negado.

(TJCE. AC nº 0030054-18.2019.8.06.0073, Rel. Desa. Lira Ramos de Oliveira. 3ª Câmara Direito


Privado. DJe: 02/09/2021).

Logo, ante a inexistência da abusividade quanto a tarifa de avaliação do bem e ausente


qualquer violação à norma da Resolução do CMN nº 319/2010, concluo que resta válida a sua
cobrança na contratação.

2.3.3. Juros remuneratórios.

Os juros remuneratórios foram objeto do REsp. 1.061.530/RS, submetido ao regime de


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julgamento dos recursos repetitivos na Segunda Seção do STJ, firmando-se o Tema 25, o qual
estabelece: (1) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios

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estipulada na Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) - Súmula 596/STF; (2) a estipulação de
juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; (3) são

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inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art.
591, c/c o art. 406 do CC/02; e, (4) é admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz
de colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente
demonstrada, antes às peculiaridades do julgamento em concreto.

A aferição de eventual abusividade dos juros remuneratórios previstos em contrato há de


ter por parâmetro a taxa média de mercado vigente para o período contratado, não se podendo
exigir, entretanto, que todos os empréstimos sejam feitos segundo essa taxa, sob pena de
descaracterizá-la como média, passando a ser um valor fixo.

Em outros termos, a taxa média de mercado serve como parâmetro para identificar
eventuais abusividades, não como limite máximo permitido para os juros avençados, admitindo-
se uma faixa razoável para variação dos juros.

Analisando-se o contrato firmado entre as partes (fls. 126/136), verifico que a taxa de juros
remuneratórios foi pactuada em 47,21% ao ano, enquanto a taxa média de mercado divulgada
pelo BACEN para época de celebração do pacto, em 04/02/2022, foi de 26,26% ao ano, ou seja, os
juros pactuados são 20,95% superiores à taxa média de mercado, sendo considerado, portanto,
abusivos, conforme a jurisprudência da 3ª Câmara de Direito Privado, a qual entende abusivos os
juros quando superiores a 5% (cinco por cento) ao ano à taxa média de mercado. Nesse diapasão:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CDC. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO


BANCÁRIO. PLEITO DE RESTABELECIMENTO DA TAXA DA AVALIAÇÃO DO BEM. MATÉRIA
NÃO VENTILADA NA ORIGEM. DIALETICIDADE. TÓPICO NÃO CONHECIDO. MÉRITO. JUROS
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REMUNERATÓRIOS PRATICADOS NO CONTRATO NO PATAMAR DE 28,07% A.A. SE


MOSTRAM SUBSTANCIALMENTE DISCREPANTES DA MÉDIA PRATICADA PELO MERCADO

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DE 20,10% A.A. JUROS REMUNERATÓRIOS CONTRATUAIS SUPERIORES A 5% (CINCO POR
CENTO) DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. RECURSO

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PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA EXTENSÃO CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO
APENAS PARA CORREÇÃO DOS PERCENTUAIS DE JUROS ESTIPULADOS NA SENTENÇA
REFERENTE À TAXA MÉDIA DE MERCADO.

[…]

4. Após consulta à taxa média de mercado vigente para o período contratado, vê-se que são
abusivos os juros contratados no patamar de 28,07% a.a., pois se mostram substancialmente
discrepantes da média praticada pelo mercado, uma vez que esta taxa média, de acordo com o
Sistema gerenciador de séries temporais do BACEN (Série 20749), no mês de agosto de 2019,
em que houve a celebração do contrato (fls. 53/55), era de 20,10% ao ano, ou seja, os juros
pactuados são quase 10% superior à taxa média de mercado, considerando-se, portanto,
abusivos, conforme a jurisprudência desta 3ª Câmara de Direito Privado, a qual entende
abusivos os juros a partir de 5% a.a. superiores à taxa média.

5. Cumpre concluir, portanto, que os juros remuneratórios contratados caracterizam


desequilíbrio contratual ou lucros excessivos, sendo correta a determinação de limitação dos
referidos juros à taxa média de mercado, razão pela qual a sentença não merece ampla
reforma, mas apenas ajuste no tocante ao percentual de juros atinente à taxa média do período
contratado.

6. Recurso parcialmente conhecido e, na extensão conhecida, parcialmente provido, apenas


para ajustar o percentual de juros referente à taxa média de mercado no período contratado.

(TJCE. AC nº 0013759-65.2019.8.06.0117. Rel. Desa. Lira Ramos de Oliveira. 3ª Câmara de Direito


Privado. DJe: 08/06/2022).
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Dessa forma, constatando-se que os juros remuneratórios pactuados entre as partes são
superiores a 5% (cinco por cento) da taxa média de mercado do BACEN, resta configurada a sua

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abusividade, de modo que devem ser redimensionados os referidos juros à taxa média de
mercado, razão pela qual a sentença merece reforma neste ponto.

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3. DISPOSITIVO.

Em face do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO a fim de, tão somente, redimensionar os
juros remuneratórios contratados à taxa média de mercado no período contratado.

Expedientes necessários.

Fortaleza, data e hora informadas pelo sistema.

DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA


Relator

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