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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2022.0000505870

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1007796-44.2018.8.26.0309 e código 1AADAD5F.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação Cível nº


1007796-44.2018.8.26.0309, da Comarca de Jundiaí, em que é apelante JOSE

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por THEMISTOCLES BARBOSA FERREIRA NETO, liberado nos autos em 30/06/2022 às 10:12 .
CARLOS QUEIROZ DE SENA, é apelado GUIMIL & SCALA
ESTACIONAMENTO LTDA. ME.

ACORDAM, em 29ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


SILVIA ROCHA (Presidente sem voto), CARLOS HENRIQUE MIGUEL
TREVISAN E MÁRIO DACCACHE.

São Paulo, 29 de junho de 2022

Themístocles NETO BARBOSA FERREIRA


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Comarca: Jundiaí – 2ª. Vara Cível

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APTE.: José Carlos Queiroz de Sena
APDS.: Guimil & Scala Estacionamento Ltda. ME
JUIZ : Daniella Aparecida Soriano Uccelli
29ª. Câmara de Direito Privado

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por THEMISTOCLES BARBOSA FERREIRA NETO, liberado nos autos em 30/06/2022 às 10:12 .
VOTO Nº 11.740

Ementa: Compra e venda de veículo Ação de rescisão


de contrato c.c. danos materiais e morais. Juízo a quo
extinguiu o feito com julgamento do mérito,
fundamentado no art. 487, inc. II, do CPC, por
reconhecida a decadência do direito do autor.
Irresignação do suplicante Dúvida não há de que a
relação havida entre as partes é de consumo. Destarte, de
rigor a análise da demanda à luz do CDC. Em
14/12/2017, teve início, in casu, a contagem do prazo
decadencial de 90 dias referido pelo art. 26, inc. II, § 3º.,
do CDC, para reclamação pelo vício até então oculto.
Esta ação, como se vê na função Propriedades do sistema,
foi ajuizada em 15/05/2018. Porém, não menos certo é
fato de que em 22/02/2018, o autor ajuizou reclamação
perante o CEJUSC. Dispõe o art. 26, § 2º., inc. I, do CDC
que obsta a decadência, “a reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor, perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca”. A Lei no. 13.140/2015 dispõe no § único, de
seu art. 17, que “enquanto transcorrer o procedimento de
mediação, ficará suspenso o prazo prescricional”.
Interpretando tal dispositivo legal, este Egrégio Tribunal
firmou entendimento no sentido de que ele (dispositivo
legal) também obsta a fluência do prazo de decadência
“até a resposta negativa do fornecedor, a qual deve se dar
de forma inequívoca, como previsto no art. 26, § 2º., I, do
Código de Defesa do Consumidor”. De rigor destacar que
se a lei diz que o prazo ficará suspenso, a conclusão que
se impõe é a de que a interposição da reclamação perante
o CEJUSC suspende o transcurso do prazo decadencial e
não o interrompe. Entre 14/12/2017 (data do
conhecimento do vício, segundo o que se tem nos autos)
até 22/02/2018, data da interposição da reclamação pré-
processual no CEJUSC de Cajamar, transcorreram 67
dias corridos. Não é demais lembrar que o prazo

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 2/7


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decadencial é de direito material. Logo sua contagem é

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contínua. Transcorridos 67 dias do prazo decadencial a
que se refere o art. 26, do CDC, a partir de 22/02/2018 ele
foi suspenso, situação que permaneceu até 16/04/2018,
data da audiência de conciliação, que restou infrutífera,
consignando-se que ambas as partes compareceram ao
ato. Portanto, em 16/04/2018, o autor teve ciência em
caráter inequívoco da negativa pela ré, fornecedora.

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Logo, a contagem do prazo decadencial retomou a partir
de 17/04/2018, tendo os 90 dias previstos em lei (art. 26,
do CDC), expirado em 09/05/2018, uma quarta-feira, dia
em que teve expediente forense na comarca de
Cajamar/SP. Todavia, esta ação só foi ajuizada em
15/05/2018, ocasião em que já havia transcorrido o prazo
decadencial de 90 dias, a que se refere o art. 26, do CDC.
Portanto, dúvida não há de que o autor quando do
ajuizamento da ação já havia decaído de seu direito, pelo
que a extinção do feito com julgamento do mérito, com
fundamento no art. 487, II, do CPC, é de rigor. Recurso
improvido.

Vistos.

O Juízo a quo pela r. sentença de fls. 223/225 julgou extinta, com


julgamento do mérito, fundamentado no art. 487, inc. II, do CPC (decadência), a
ação de rescisão de contrato de compra e venda de veículo c.c. danos materiais e
morais, ajuizada por José Carlos Queiroz de Sena em face de Guimil & Scala
Estacionamento Ltda. ME.

Destarte, condenou o autor ao pagamento de custas, despesas


processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.500,00.

Em síntese, asseverou o I. Julgador de Primeiro Grau que o “que se


extrai dos documentos trazidos com a inicial é que o autor adquiriu o veículo da ré
em 01.12.2016 (fls. 31/33), providenciou a formalização da transferência de
propriedade perante o órgão de trânsito em 22.12.2016 (fls. 37) e em 14.12.2017,
ou seja, mais de um ano após a celebração do negócio, deixou o veículo em oficina
de terceiro para a realização de reparos dos problemas descritos na petição inicial
(fls. 41/56).

Diante disso, é possível concluir que o prazo decadencial a que alude o


artigo 26, II e § 3º, do Código de Defesa do Consumidor, teve início em 14.12.2017,
quando consta ter sido formalizada a constatação do vício descrito pelo autor na
petição inicial, mas não houve interrupção do aludido prazo, porque ele não
comprovou ter formalizado a reclamação prevista no artigo 26, § 2º, do Código de
Defesa do Consumidor; contudo, esta demanda foi ajuizada somente em
15.05.2018, ou seja, depois de consumado o prazo decadencial” (sic fls. 225).

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 3/7


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Inconformado, apelou o autor (fls. 230/237).

Após fazer referência aos fatos e fundamentos da lide, asseverou que não
há que se cogitar de decadência na espécie.

Isso porque a situação dos autos não envolve “vício aparente e de fácil

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constatação” (sic fls. 233).

Nesse sentido, afirma que “diferentemente do que entendeu o juízo a


quo, o autor apenas teve conhecimento do vicio redibitório em 23.03.2018 AO
PERCEBER QUE O VEÍCULO ESTAVA IMPRESTÁVEL PARA
COMERCIALIZAÇÃO, ISSO PORQUE ATÉ ENTÃO NÃO TINHA O AUTOR
CIÊNCIA DO ESTADO DO BEM, O QUE APENAS OCORRERÁ QUANDO DA
REPROVAÇÃO CONFORME DCUMENTO JUNTADO COM A EXORDIAL AS
FLS. 70 DOS AUTOS” (sic fls. 234).

Como se não bastasse, antes do ajuizamento da ação, tentou solucionar o


impasse, junto ao CEJUSC de Cajamar, não tendo, todavia, logrado êxito a respeito.

De fato, ingressou com “reclamação pré-processual” (sic fls. 234),


junto ao CEJUSC na comarca de Cajamar.

Destarte, a ré foi, sim, notificada a respeito, sendo certo, outrossim, que


a documentação carreada aos autos dá conta de que o veículo está inapropriado para
uso, não sendo, via de consequência, aceito para negociação e tampouco pode ser
segurado.

Alega, ainda, que o contrato em que se funda a defesa “deve ser


declarado nulo de pleno direito” (sic fls. 233), porque não foi assinado por duas
testemunhas.

Finaliza, batendo-se pelo provimento do recurso, para que afastada a


decadência a r. sentença seja anulada, retornando os autos à origem, para regular
prosseguimento.

Recurso tempestivo e regularmente preparado.

Contrarrazões a fls. 240/245.

Oposição ao julgamento virtual a fls. 254.

É o relatório.

Preenchidos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade,


de rigor o conhecimento do recurso.

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 4/7


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Isso assentado, observo que a relação havida entre as partes, é de

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consumo, ex vi do que dispõem os arts. 2º. e 3º., do CDC.

Com efeito, a ré, é pessoa jurídica, que dentre outras atividades revende
veículos automotores.

Destarte, é fornecedora, nos exatos termos do art. 3º, da Lei nº 8.078/90.

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O autor, por sua vez, é pessoa física e destinatário final do produto que
lhe foi vendido pela suplicada.

Logo, é consumidor, tendo em conta o que dispõe o art. 2º., da


legislação consumerista.

Pois bem.

Amparado no dispositivo contido no art. 26, inc. II, § 3º., do Código de


Defesa do Consumidor, o Juízo a quo concluiu que o autor decaiu de seu direito,
pelo que extinguiu a ação, com julgamento do mérito, fundamentado no art. 487,
inc. II, do CPC.

Insurge-se o autor contra tal decisão, insistindo que não restou


configurada decadência na espécie.

Consta dos autos, que o autor adquiriu da ré, veículo marca Nissan,
modelo Versa Unique 1.6, modelo 2015/2016, em 01/12/2016 (fls. 31/33).

Outrossim, como se vê a fls. 37, a transferência do bem, para o nome do


autor, perante o Órgão de Trânsito, aconteceu em 22/12/2017.

Tais fatos são incontroversos.

Logo, a discussão armada acerca da nulidade do contrato em recurso não


tem razão de ser, lembrando que a compra e venda se aperfeiçoa com a tradição, o
que efetivamente ocorreu na espécie.

Prosseguindo, observo que o autor, segundo o que foi por ele mesmo
alegado, usou o carro por um ano, período após o qual identificou vícios no motor e
na parte elétrica do bem, encaminhando-o para reparos em oficina, aos 14 de
dezembro de 2017.

Asseverou o Juízo a quo que o autor teve ciência do vício (oculto)


havido no veículo em 14/12/2017.

Aliás, o autor também alega que teve ciência do vício em 14/12/2017


(fls. 03).

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 5/7


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Logo, seguindo a linha de raciocínio do I. Julgador de Primeiro Grau, a

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partir de tal data (14/12/2017) teve início a contagem do prazo decadencial de 90
dias referido pelo art. 26, inc. II, § 3º., do CDC, para reclamação pelo vício até então
oculto.

É verdade, como se vê na função Propriedades, que esta ação foi


ajuizada em 15/05/2018.

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Porém, não menos certo é fato de que em 22/02/2018, o autor, como se
vê a fls. 235, ajuizou reclamação perante o CEJUSC.

Dispõe o art. 26, § 2º., inc. I, do CDC que obsta a decadência, “a


reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor, perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca”.

A Lei no. 13.140/2015 dispõe no § único, de seu art. 17, que “enquanto
transcorrer o procedimento de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional”.

Interpretando tal dispositivo legal, este Egrégio Tribunal, em julgado


proferido pela C. 31ª. Câmara de Direito Privado, sob a relatoria do Em. Des. Carlos
Nunes (Apelação no. 1002475- 91.2017.8.26.0073 j. 08/02/2018), asseverou que
ele também obsta a fluência do prazo de decadência “até a resposta negativa do
fornecedor, a qual deve se dar de forma inequívoca, como previsto no art. 26, § 2º.,
I, do Código de Defesa do Consumidor”.

De rigor destacar que se a lei diz que o prazo ficará suspenso, a


conclusão que se impõe é a de que a interposição da reclamação perante o CEJUSC
suspende o transcurso do prazo decadencial e não o interrompe.

Isto posto, verifica-se que entre 14/12/2017 (data do conhecimento do


vício, segundo o que se tem nos autos) até 22/02/2018, data da interposição da
reclamação pré-processual no CEJUSC de Cajamar (fls. 235), transcorreram 67 dias
corridos.

Não é demais lembrar que o prazo decadencial é de direito material.


Logo sua contagem é contínua.

Outrossim, este relator, deu início à contagem a partir do dia


15/12/2017.

Pois bem.

Transcorridos 67 dias do prazo decadencial a que se refere o art. 26, do


CDC, a partir de 22/02/2018 ele foi suspenso situação que permaneceu até
16/04/2018, data da audiência de conciliação, que restou infrutífera, consignando-se
que ambas as partes compareceram ao ato.

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 6/7


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Portanto, em 16/04/2018, o autor teve ciência em caráter inequívoco da
negativa pela ré, fornecedora.

Logo, a contagem do prazo decadencial retomou a partir de 17/04/2018,


tendo os 90 dias previstos em lei (art. 26, do CDC), expirado em 09/05/2018, uma
quarta-feira, dia em que teve expediente forense na comarca de Cajamar/SP.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por THEMISTOCLES BARBOSA FERREIRA NETO, liberado nos autos em 30/06/2022 às 10:12 .
Todavia, esta ação só foi ajuizada em 15/05/2018, ocasião em que já
havia transcorrido o prazo decadencial de 90 dias, a que se refere o art. 26, do CDC.

Portanto e com a máxima vênia, inteira razão assiste ao Juízo a quo,


quando assevera que o autor havia decaído de seu direito, quando do ajuizamento da
ação, muito embora por motivo diverso, como acima asseverado.

Ante todo o exposto, de rigor o improvimento do recurso, mantida via de


consequência, a r. sentença que extinguiu o feito, com julgamento do mérito, ex vi
do que dispõe o art. 487, inc. II, do CPC.

Improvido o recurso, majoro os honorários devidos pelo autor/apelante


ao patrono da ré, com fundamento no art. 85, § 8º., do CPC, para R$ 1.600,00.

Com tais considerações, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

NETO BARBOSA FERREIRA


Relator

Apelação Cível nº 1007796-44.2018.8.26.0309 - Jundiaí -VOTO Nº - 7/7

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