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Processo: 5327852-95.2022.8.09.

0112

Usuário: ANA CRISTINA BEZERRA PIMENTEL - Data: 31/01/2024 16:37:27


NERÓPOLIS - VARA CRIMINAL
PROCESSO CRIMINAL -> Procedimento Comum -> Ação Penal - Procedimento Ordinário
Valor: R$
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE GOIÁS

COMARCA DE NERÓPOLIS

2ª VARA JUDICIAL

Protocolo: 5327852-95.2022.8.09.0112

Natureza: PROCESSO CRIMINAL -> Procedimento Comum -> Ação Penal - Procedimento
Ordinário

Polo Ativo: Ministério Público do Estado de Goiás

Polo Passivo: Emanoel Oliveira Rocha

SENTENÇA

O Ministério Público do Estado de Goiás apresentou denúncia contra EMANOEL


OLIVEIRA ROCHA, qualificado nos autos, pela alegada prática dos atos previstos no art. 129, §
9º do Código Penal c/c a Lei n. 11.340/2006.

Consta da denúncia que, em 02 de junho de 2022, por volta das 01h, na Rua Natália
Vaz Lopes Costa, Qd. 34, Lt. 14, Setor Alto da Boa Vista, nesta cidade, o acusado, ciente da
ilicitude e da reprovabilidade de sua conduta, valendo-se de relação íntima de afeto, ofendeu a
integridade física de Claudiane Vitória Conceição da Silva, sua companheira, conforme
descrição em relatório médico anexado aos autos.

A denúncia foi recebida em 13 de julho de 2022 (evento n. 31).

Citado (evento n. 37), por meio de defensora nomeada, o acusado apresentou resposta
à acusação (evento n. 43).

Em razão da ausência de causas que pudessem dar ensejo à absolvição sumária do


processado, este juízo, no evento n. 45, determinou a instrução do feito.

Durante a fase de instrução, foram ouvidas 3 (três) testemunhas. A oitiva da vítima não
pôde ser realizada, visto que não foi possível localizá-la para a devida intimação da audiência de
instrução e julgamento. Paralelamente, observa-se que foi decretada a revelia do réu, conforme
evidenciado no termo de audiência anexado ao evento n. 88.

Em suas alegações finais sob a forma de memoriais, o Ministério Público requereu a


condenação do acusado, nos termos da denúncia (evento n. 97).

Na mesma fase do processo, a defesa solicitou o afastamento da decretação da revelia.


Subsidiariamente, pugnou para que, em caso de condenação, fosse aplicada a pena em seu
patamar mínimo (evento n. 99).

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 23/01/2024 12:10:46
Assinado por CAMILO SCHUBERT LIMA
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Processo: 5327852-95.2022.8.09.0112

Usuário: ANA CRISTINA BEZERRA PIMENTEL - Data: 31/01/2024 16:37:27


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Em seguida, vieram-me os autos conclusos.

É o relatório. DECIDO.

Prefacialmente, a defesa alega que a decretação da revelia deve ser afastada, ao


argumento de que, segundo seu entendimento, o não comparecimento do réu nos atos
processuais, quando devidamente intimado, por si só, não constitui uma situação passível de
decretação de revelia.

Ocorre que, nos termos do art. 367 do Código de Processo Penal, tal hipótese permite a
continuidade do feito na ausência do processado. Vejamos:

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de
mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Dessa forma, a manutenção da decretação da revelia é medida de rigor.

Em seguimento, não havendo questões de ordem formal a serem apreciadas, tampouco


nulidade a ser conhecida de ofício, passo ao conhecimento do mérito da causa.

Dispõe o art. 129, § 9º do Código Penal:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

[...]

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

[...]

O crime de lesão corporal constitui uma agressão física direcionada à integridade ou à


saúde do corpo humano. Para que ocorra a configuração desse delito, é necessário que a vítima
sofra algum tipo de dano, provocando alterações em seu organismo, seja interna ou
externamente, e podendo abranger qualquer modificação prejudicial à saúde relacionada a
qualquer função orgânica da vítima. Consiste em crime material.

Ao examinar as evidências presentes nos autos, constato a presença dos requisitos


indispensáveis para a condenação, a saber, a materialidade e a autoria, conforme passo a
demonstrar.

A materialidade está comprovada pelo auto de prisão em flagrante (evento n. 1, pág. 1-


16); relatório médico que atesta lesão perpetrada contra a ofendida – lesão em lábio superior
causada por isqueiro – (evento n. 1, pág. 17); registro de atendimento integrado n. 24990831
(evento n. 1, pág. 21-26); elementos consubstanciados no inquérito policial n. 40-2022 (evento n.
25); e pelos depoimentos colhidos em fase inquisitorial e judicial.

A autoria é inconteste.

Com efeito, Onofre Lourenço Alves França, conselheiro tutelar ouvido na qualidade
de testemunha, informou que foram solicitados pela Polícia Militar para receberem a vítima, a qual

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apresentava ferimentos no rosto. Mencionou que, devido ao desejo da ofendida de deixar a
cidade, o Conselho Tutelar providenciou passagens para que ela retornasse ao seu estado de
origem. Detalhou que a ofendida apresentava um corte no lábio superior causado por um isqueiro
que, segundo a ofendida, teria sido arremessado pelo acusado.

A testemunha Robson Alves Arriel, policial militar, asseverou que a Polícia Militar foi
acionada por meio do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) para atender a uma
ocorrência de violência doméstica. Ao chegarem ao local, a vítima relatou que Emanoel e ela
haviam discutido, e, após a discussão, seu companheiro teria arremessado um isqueiro em
direção ao seu rosto, o que causou lesão corporal.

Na mesma linha seguiu o depoimento do policial militar Cleiton Ferreira de Souza, o


qual acrescentou que, conforme narrativa da vítima, o acusado teria arremessado um isqueiro em
sua direção, atingindo a região do lábio e resultando nas lesões detalhadas em relatório médico.
Destacou que, devido à menoridade da ofendida, solicitaram a intervenção do Conselho Tutelar
para adoção das providências adequadas ao caso.

Conforme consta do relatório, a oitiva da vítima foi inviabilizada, pois não foi possível
localizá-la para a devida intimação acerca da audiência de instrução e julgamento. Da mesma
forma, o denunciado, embora intimado para comparecer ao referido ato, não se apresentou em
juízo, resultando na impossibilidade de realização de seu interrogatório e na subsequente
decretação de sua revelia (evento n. 89).

Entretanto, a prova testemunhal obtida em juízo corroborou com aquelas coletadas na


fase investigatória, o que confirma, sem indene de dúvidas, a hipótese acusatória. Dessa
maneira, restou comprovada a prática do crime de lesão corporal qualificada pela violência
doméstica perpetrada pelo acusado contra a vítima.

Assim, a condenação é medida de rigor.

DISPOSITIVO

Ao teor do exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão punitiva do Estado para


CONDENAR o acusado EMANOEL OLIVEIRA ROCHA, qualificado nos autos, na sanção
prevista no art. 129, § 9º do Código Penal c/c Lei n. 11.340/2006.

Passo adiante, nos termos do art. 68 do Código Penal, a fixação da pena.

CULPABILIDADE: A culpabilidade, enquanto juízo de reprovação pela infringência do


tipo penal violado – LESÃO CORPORAL – tem por escopo dimensionar o grau de censura do
comportamento do denunciado e por conseguinte estabelecer o nível de sua reprovação, razão
pela qual a reprovabilidade da conduta do processado há de ser graduada como LEVE, pois não
extrapolou o tipo penal.

ANTECEDENTES E CONDUTA SOCIAL E PERSONALIDADE: é primário e portador


de bons antecedentes (certidão de antecedentes criminais acostada ao evento n. 102). Conduta
social e personalidade não merecem valoração apartada.

MOTIVOS DO CRIME, CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS: Os motivos são os


próprios do tipo. As circunstâncias e consequências são inerentes ao próprio fato.

COMPORTAMENTO DA VÍTIMA: normal, em nada contribuiu para o delito, mas o fato


de a vítima não ter contribuído para o delito é circunstância judicial neutra e não deve levar ao
aumento da reprimenda.

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Analisadas tais circunstâncias, entendo que a pena-base deve ser fixada em 3 (três)
meses de detenção.

Na segunda fase de fixação da pena, não verifico a presença de circunstâncias


agravantes ou atenuantes. Destaco que a agravante prevista no art. 61, II, alínea “f”, do Código
Penal deve ser afastada, posto que sua aplicação violaria a regra do bis in idem, haja vista que já
se encontra previsto no tipo penal em apreço como elementar do tipo.

À míngua de causas especiais de diminuição ou aumento de pena, FIXO A PENA


DEFINITIVA EM 3 (TRÊS) MESES DE DETENÇÃO.

Do regime de cumprimento de pena: A pena deverá ser cumprida no regime


ABERTO, nos termos do artigo 33, § 2º, c, do Código Penal.

Do direito de Recorrer em Liberdade: Em razão do regime inicialmente fixado,


concedo ao réu o direito de recorrer em liberdade.

Da Substituição da Pena: Em razão da previsão do art. 44 do Código Penal e art. 17


da Lei n. 11.340/06, deixo de aplicar ao crime em apreço a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos.

Da Suspensão Condicional da Penal: O acusado preenche os requisitos previstos no


art. 77 do Código Penal, necessários à suspensão condicional da pena, assim, lhe concedo o
sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante o cumprimento de condições a serem fixadas pelo
juízo da execução penal.

Da detração penal: Não há dados suficientes para realização da detração da pena,


razão pela qual deixo de cumprir o disposto no art. 387, § 2º do Código de Processo Penal,
cabendo ao juízo da execução analisar eventual direito do réu.

Das custas processuais e honorários

Custas pelo sentenciado, que ficarão suspensas, por fazer jus à assistência judiciária.

À defensora nomeada, Dra. Ana Cristina Bezerra Pimentel, OAB/GO n. 65.782,


arbitro 6 UHD's, nos termos da certidão que segue.

Disposições finais:

Após o trânsito em julgado:

a) Certifique-se nos autos o trânsito em julgado e atualize-se o Banco de Dados


Informatizado;

b) Formem-se os competentes autos de Execução Penal;

c) Oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral encaminhando cópia desta sentença, bem


como da certidão informando o trânsito em julgado.

d) Cumpra-se o disposto no art. 809, § 3º do CPP, procedendo-se ao registro no


Sistema Nacional de Identificação Criminal – SINIC.

Publicada e registrada eletronicamente. Intimem-se, inclusive a vítima.

Oportunamente, arquivem-se os autos.

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Nerópolis, documento datado e assinado digitalmente.

CAMILO SCHUBERT LIMA

Juiz de Direito

IAMC

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