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Prezado(a) Senhor(a),
Finalidade: Por meio deste, em cumprimento a ordem judicial do Exmo. Sr. Dr. Fernando Luís
Lopes Dantas, Juiz de Direito desta Comarca, proferida nos autos acima mencionados, que tramitam seus
termos pelo expediente do Cartório desta Vara, solicito que continue a promover para o incapaz os
atendimentos psicológicos e psiquiátricos necessários aos Requeridos MARINALVA DE JESUS SANTOS e
GILSON DOS SANTOS, residentes e domiciliados na Rua Nova, nº 306, Povoado Pastora, Laranjeiras/SE e à
incapaz MYLLENA VITÓRIA DE JESUS SANTOS.
Atenciosamente,
[TM4316, MD206]
É dever de todos proteger crianças e adolescentes contra a violência infantil - Disque 100 (Direitos
Humanos Nacional) ou Disque 181 (Polícia Civil). A Denúncia é anônima. A ligação é gratuita.
DECISÃO
I – RELATÓRIO
Em apertada síntese, o órgão ministerial alega ter instaurado procedimento extrajudicial de n.º
102.23.01.0092, por meio do Ofício n.º 158/2022, após ter recebido notícia de fato do
Conselho Tutelar do 1º Distrito de Laranjeiras com relato de que a incapaz interessada estaria
em situação de risco.
Por sua vez, sobre o Requerido/genitor, pontuou que a denúncia foi no sentido de que ele
abusaria da criança.
Ainda, salientou ter realizado audiência ministerial e que a rede de proteção informou não
haver família extensa que possa se responsabilizar pela incapaz, bem como que pontuou que
o acolhimento institucional seria a melhor alternativa para a infante no presente momento até
que o Requerido consiga se separar da Requerida.
Ao final, em sede liminar, pleiteou pela suspensão do poder familiar de ambos os Requeridos e
do acolhimento institucional da incapaz.
II – FUNDAMENTAÇÃO
Inicialmente, passo à análise da tutela provisória vindicada, à luz do art. 300, caput, do Código
de Processo Civil.
A tutela provisória de urgência (antecipada ou cautelar), nos termos do art. 300, “caput”, do
CPC/2015, tem cabimento quando presentes os seguintes requisitos: 1) a probabilidade do
direito, compreendida como a plausibilidade do direito alegado, em cognição superficial, a
partir dos elementos de prova apresentados; 2) perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo, caso a prestação jurisdicional não seja concedida de imediato.
Além disso, tem-se o requisito de caráter negativo previsto no §3.º do mesmo dispositivo, qual
seja, a reversibilidade da decisão, não devendo ser concedida a tutela caso exista o perigo da
irreversibilidade de fato (ressalte-se que, caso a irreversibilidade seja de direito, podendo ser
resolvida em perdas e danos, a medida poderá ser consentida).
II.2 – Caso concreto. Incapaz em situação de risco (art. 98, II, do ECA). Suspensão do
poder familiar dos Requeridos e deferimento do acolhimento institucional
O Poder Público, em conjunto com a Sociedade, tem o dever de assegurar, com prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, ao respeito e à convivência na família e na comunidade,
num verdadeiro exercício democrático em defesa da cidadania.
Consta, ainda, menção de que a denúncia encaminhada igualmente indicou que o Requerido
abusa da criança.
Assinado eletronicamente por FERNANDO LUÍS LOPES DANTAS, em 22/03/2024 às 12:24:34, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Esta comunicação judicial não possui anexos eletrônicos. A conferência de autenticidade do documento está disponível no endereço
www.tjse.jus.br/autenticador, mediante preenchimento do número de consulta pública 2024006008947-47. Fl: 3/7
De maneira conforme ao aludido relatório, como ponto relevante para este momento, tem-se
que o relatório “psicossocial” de pp. 40/42 concluiu que a interessada demonstrou indícios de
alienação parental; que o Requerido, mesmo aparentemente insatisfeito com a conduta da
companheira, não buscou nenhuma ação capaz de preservar seu bem-estar físico, psíquico e
social; que há uma relação conflitante e que ela “se transformou em um elo doentio”.
Foi, ainda, sugerido que a incapaz interessada fosse colocada em ambiente salubre (família
extensa ou acolhimento institucional).
Especificamente sobre a narrativa do Requerido em tal relatório, tem-se que ele disse que a
Requerida costuma fazer uso de agressões verbais e físicas contra ele e contra a incapaz
interessada.
Avista-se, ainda, que houve a realização de audiência ministerial em 01/02/2024 (pp. 58/60) e
a incapaz interessada foi ouvida e disse ser boa aluna, nunca ter reprovado e que sua mãe
quase todos os dias lhe bate, ainda que sem motivo e tanto quanto está bêbada, tanto quanto
está sóbria.
Também, disse que ela às vezes passa quatro dias fora de casa e que o genitor cuida bem
dela e preferir ficar com ele, inclusive em caso de separação dos pais, com a ressalva de que
ele somente lhe bate quando faz muita bagunça.
Sobre o genitor, a Conselheira Simone informou que o Requerido não consegue “se libertar”
da Requerida e que ela não tem controle algum quanto à bebida, bem como que o Requerido
já mudou de endereço cinco vezes desde o início do acompanhamento familiar, com destaque
que acredita que ele o faz na tentativa de se desvencilhar da Requerida, mas que não
consegue. Ressaltou, ainda, que não há família extensa para se responsabilizar pela infante e
acreditar que “o acolhimento institucional seja a melhor alternativa para M. no presente
momento”, no que foi corroborado pela Sra. Ana Lúcia.
Soma-se a isso o fato de que a Conselheira Simone e Ana Lúcia terem indicado a ausência de
família extensa que possa se responsabilizar pela interessada neste momento, especialmente
enquanto o Requerido possa estar sob acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico
(medidas que o CREAS já indicou como ter providenciado, conforme p. 60), ou tomar medidas
para que possa ter a guarda judicial da criança interessada (vide p. 60), tendo havido expressa
recomendação pelo relatório de pp. 40/42 pelo acolhimento institucional da criança e/ou
colocação em família extensa, sobre a qual não se tem notícia até o presente momento.
Assim, resta configurada uma das hipóteses do art. 98, notadamente a prevista no inciso II, da
Lei n.º 8.069/90, conforme abaixo transcrito:
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
Assinado eletronicamente por FERNANDO LUÍS LOPES DANTAS, em 22/03/2024 às 12:24:34, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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O art. 129 do ECA enumera medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis, dentre eles a
suspensão ou destituição do poder familiar (inciso X), hipótese em que devem ser observado o
art. 24 do mesmo diploma legal, que passo a transcrever:
O art. 22, do ECA, por sua vez, dispõe que “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir
e fazer cumprir as determinações judiciais”.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
III – responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos
assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos
casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3
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VI – intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo
que a situação de perigo seja conhecida;
VII – intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da
criança e do adolescente;
isso não for possível, que promovam a sua integração em família adotiva;
Note-se, da simples leitura do trecho legal colacionado acima, que o microssistema processual
instaurado pelo ECA estabelece que a intervenção das autoridades competentes deve ser
efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida e que esta deve ser a necessária e
adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento
em que a decisão é tomada, o que denota a preocupação com que o legislador pátrio tratou a
questão de crianças e adolescentes em situação de risco, exigindo a atuação célere e efetiva
por parte do Poder Judiciário.
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Somando-se a isso, o art. 101, da supracitada lei, enumerou uma série de medidas específicas
de proteção às crianças e aos adolescentes quando seus direitos se mostrarem ameaçados ou
violados. Todavia, o rol estabelecido é enumerativo, o que permite ao julgador a adoção de
outras medidas que melhor se adéquem à situação fática, norteado pela satisfação dos
interesses do menor.
Assim, pelas razões supramencionadas, entendo razoável a medida pleiteada pelo Ministério
Público, devendo ser encaminhada a pessoa em desenvolvimento para entidade de
acolhimento adequada à sua correta avaliação e cuidado, dirimindo os riscos constatados.
III – DISPOSITIVO
Diante do aduzido, com fundamento nos artigos 1.634 e 1.638, II, do Código Civil e dos artigos
98, 101, VII, e 157 do ECA DETERMINO LIMINARMENTE A SUSPENSÃO DO PODER
FAMILIAR de M. DE J. S. e G. DOS S., com relação a seu(a)(s) filho(a)(s) M.V. DE J.S., ao
tempo em que determino o seu acolhimento institucional a título provisório, até que seja
possível a reinserção familiar ou colocação em família substituta/extensa.
1) Que seja oficiado o Núcleo Psicossocial do TJSE, a fim de que realize, no prazo de 20
(vinte) dias e com a urgência que o caso requer, estudo social ou perícia por equipe
interprofissional ou multidisciplinar, a fim de que se verifique a presença ou não de alguma
causa de suspensão ou destituição do poder familiar, nos termos do art. 157, § 1.º, da Lei n.º
8.069/1990 (ECA);
3) que seja oficiada a Secretaria Municipal de Saúde para que continue a promover para
o incapaz os atendimentos psicológicos e psiquiátricos necessários ao Requerido e à
incapaz;
4) Não sendo contestado o pedido e não tendo a parte Demandada apresentada qualquer
manifestação no sentido da necessidade de assistência judiciária gratuita, aguarde-se a
apresentação dos estudos requisitados e, com a chegada dos relatórios, venham os autos
conclusos para apreciação, com fulcro no que determina o art. 161 do ECA;
Assinado eletronicamente por FERNANDO LUÍS LOPES DANTAS, em 22/03/2024 às 12:24:34, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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7) Em atenção ao disposto no art. 19, §3.º, do ECA, determino a expedição de ofício ao Abrigo
a fim de que o acompanhamento da situação da pessoa em desenvolvimento em apreço seja
contínuo, reavaliando-se o caso a cada três meses, devendo ser enviados relatórios
elaborados por equipe interprofissional ou multidisciplinar.
Atente a Secretaria para que, por meio de ato ordinatório e com antecedência de 10 (dez) dias
do vencimento do prazo, intimar as partes e conceder vista do processo ao Ministério Público,
a fim de que haja tempestiva manifestação quanto à manutenção do acolhimento e, após os
autos sigam conclusos para reavaliação da situação da pessoa em desenvolvimento.
Intimem-se.
Cumpra-se.