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Estado Gerencial 

A estrutura da Administração Pública Brasileira foi moldada pela


nova ordem constitucional e promulgada em 1988.

O Estado Gerencial Brasileiro foi instituído pelo governo Fernando


Henrique Cardoso, por ocasião da criação do Ministério da Administração
e Reforma do Estado – MARE, então chefiado pelo Ministro Bresser
Pereira.

A estrutura do Estado Gerencial Brasileiro é dividida em três setores.

O Primeiro Setor do Estado Gerencial Brasileiro é representado pela


“máquina administrativa” e se constitui da clássica estrutura da
Administração Pública.

Como exemplos, podemos citar, em âmbito federal, a Presidência da


República, os Ministérios, as Autarquias, as Empresas Estatais, entre
outros.

A estrutura da Organização Administrativa do 1º Setor encontra-se no DL
nº 200/1967, art. 4º, que assim dispõe:

Art. 4° A Administração Federal compreende:

I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços


integrados na

estrutura administrativa da Presidência da República e


dos Ministérios.

II - A Administração Indireta, que compreende as


seguintes categorias de

entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:

a) Autarquias;

b) Empresas Públicas;

c) Sociedades de Economia Mista.

d) fundações públicas

O Primeiro Setor é formado, tanto por pessoas jurídicas de direito público,


quanto por pessoas jurídicas de direito privado.

As pessoas jurídicas de direito público são representadas pela


Administração direta e autárquica e estão sujeitas ao regime do cargo

público, conhecido popularmente como regime estatutário, nas
contratações de servidores públicos para formação de seus quadros
permanentes.

As pessoas jurídicas de direito privado, especialmente representadas


pelas empresas estatais, utilizam o regime do emprego público, conhecido
popularmente como regime CeLeTista – CLT, na contratação de
empregados públicos para formação de seus quadros permanentes.

As fundações públicas são pessoas jurídicas de direito público (entidades


autárquicas), ou as pessoas jurídicas de direito privado (entidades
paraestatais).

As Fundações autárquicas utilizam o regime estatutário em suas


contratações de pessoal e as Fundações Públicas de direito privado
utilizam o regime da CLT.

Seja qual for a entidade da Administração Pública - Direta ou Indireta- a


forma de acesso aos seus quadros funcionais ocorre por meio de
concursos públicos, tanto para o regime estatutário, quanto para o regime
da CLT.

Neste sentido vale a transcrição do art. 37, inciso II da CRFB/1988:


Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)

........................................................................................................................

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de


aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei,

ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado


em lei de livre nomeação e exoneração.

O Segundo Setor do Estado Gerencial Brasileiro é formado por


empresas privadas que possuem fins lucrativos e se tornam parceiras do
Poder Público na realização de serviços públicos. São as conhecidas
empresas concessionárias de serviço público, previstas pelo art. 175 da
CRFB/1988:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente
ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de
licitação, a prestação de serviços públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de


serviços

públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua


prorrogação, bem como as condições de caducidade,
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;

II - os direitos dos usuários;

III - política tarifária;

IV - a obrigação de manter serviço adequado.

Estas parcerias do Poder Público são regulamentadas por duas grandes


normas infraconstitucionais: Lei nº 8987/1985, conhecida como o marco
legal das concessões; e Lei nº 11.079/2004, também conhecida como Lei
da Parceria Público Privada - PPP.

A escolha da empresa privada que se tornará uma concessionária de


serviço público ocorre por meio do processo de licitação pública, com
respeito ao Princípio da Impessoalidade e Moralidade.

As empresas concessionárias são pessoas jurídicas de direito privado e
encontram-se fora da estrutura da Administração Pública e se utilizam do
regime da CLT na contratação de seu pessoal, sem necessidade de
concurso público.

O Terceiro Setor do Estado Gerencial Brasileiro é formado por pessoas


jurídicas de direito privado sem fins lucrativos.

Estas entidades, muito conhecidas como Organizações Não


Governamentais – ONGs, formam parcerias com o Poder Público para a
realização das atividades de interesse público, em especial ligadas à
saúde, à educação e à assistência social.

O Terceiro Setor não é uma novidade criada pelo Estado Gerencial


Brasileiro.

Os convênios entre governos e fundações particulares sempre existiram


confirmando a presença do Terceiro Setor na gestão administrativa a
tempos.

A implementação do Estado Gerencial Brasileiro fomenta parcerias entre o


governo e as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, o
que fica bem claro com a criação das Organizações Sociais - OS, em

1998 e das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público –
OSCIP, em 1999.

Toda a estrutura do Estado Gerencial Brasileiro encontra-se na


CRFB/1998 e podemos encontrá-la no estudo de 4 artigos do Título VII
(da ordem econômica e financeira).

O primeiro artigo é o art 170 da CRFB:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização


do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante


tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de

elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de


pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre


exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos,
salvo nos casos previstos em lei. (grifo nosso).

Neste artigo constitucional percebemos uma total liberdade para


realização de atividade econômica ao citar a “livre iniciativa, livre
concorrência e livre exercício”.

Podemos concluir que a CRFB/1988 deseja que o agente econômico seja


o cidadão empreendedor, ou o empresário, com a expressa previsão do
livre exercício de qualquer atividade econômica assegurado a todos, ou
seja, o agente econômico será o cidadão empreendedor e não o
Governo.

Neste sentido, o art 173 da CRFB determina:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta


Constituição, a exploração direta de atividade

econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
(grifo nosso).

A CRFB não quer o Estado como “agente econômico”, permitindo-lhe o


exercício desta atividade apenas em grau de exceção.

Aliás, neste artigo encontra-se o fundamento constitucional da


desestatização, já que em 1988, ano da promulgação da CRFB, a União
possuía 503 estatais prestadoras de atividade econômica, porém a
maioria não se enquadrava nas exceções citadas neste artigo.

A primeira Lei de Desestatização do Governo Collor, Lei nº 8031, ocorreu


logo após a CRFB/1988, em abril de 1990.

Vale ressaltar, que atualmente a Lei de Desestatização é a Lei nº


9491/1997 criada no governo FHC que revogou a Lei nº 8031/1990.

A CRFB/1988, também em relação aos serviços públicos, determina a


retirada do Estado de sua execução, contudo sem a ênfase dada pelo seu
art. 173.

O art. 175 da CRFB, de fato, induz o Governo a deixar de ser o executor


de atividades no serviço público: Art. 175: “Incumbe ao Poder Público, na
forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.” (grifo
nosso).

Esclarecemos, entretanto, que o Governo pode prestar serviço público,


ele foi criado com este intuito, porém, poderá delegar esta realização à

iniciativa privada, conhecida como 2º Setor, como visto inicialmente.

Trata-se também de uma forma de desestatização, como confirma a art


2º, III da Lei nº 9491/1997: “Art. 2º Poderão ser objeto de desestatização,
nos termos desta Lei:
…………………………………………………………………………………………
III - serviços públicos objeto de concessão, permissão ou autorização.”

Sendo assim, podemos de fato concluir observando os arts 170, 173 e


175 que a CRFB não pretende o Estado executando na ordem
econômica, isto é, não deseja um Estado executor.

Resta então finalizarmos este pensamento indagando qual o propósito da


CRFB/1988 com relação a participação do Estado na ordem econômica.

Para responder esta indagação citamos o art 174 da CRFB:

Art. 174. Como agente normativo e regulador da


atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da
lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor
público e indicativo para o setor privado. (grifo nosso)

Na criação do Estado Gerencial Brasileiro chama-se atenção para um


Estado regulador.

Referências doutrinárias como Estado regulador, Estado gerente, Estado


subsidiário, Estado mínimo são denominações criadas pela doutrina para
evidenciar que a competência do Estado se deslocou da execução para o
controle com a CRFB/1988.

O marco desta transformação são as agências reguladoras, criadas no
governo FHC como a ANEEL, em 1996 e a ANATEL e ANP, em 1997, daí
o motivo de serem tratadas como Agências Reguladoras de 1º Geração.

Atividade Extra

Leitura da introdução feita por Luiz Roberto Barroso, no Livro de


MOREIRA NETO. Diogo de Figueiredo. Direito Regulatório. Editora
Renovar. Rio de Janeiro/São Paulo, 2003.

Referência Bibliográfica

Plano Diretor da Reforma do aparelho do Estado. Min. Bresser


Pereira. Brasília. 1995.

<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1977794/mod_resource/content/1/
planodiretor%20reforma%20do%20Estado%20Bresser.pdf >.

JUNGSTEDT, Luiz Oliveira Castro. Direito Administrativo. Estado


Gerencial Brasileiro. Niterói: Impetus, 2009, pág 8.

BRASIL, Emenda Constitucional. Lei nº 19 de 4 de Junho de 1998.
Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm
>.

BRASIL, Emenda Constitucional. Lei nº 6, de 15 de Agosto de 1995.


Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc06.htm#art
>.

BRASIL, Emenda Constitucional. Lei nº 42, de 19 de Dezembro de 2003.

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