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Direito Econômico do petróleo e dos recursos naturais


Economic Law for oil and natural resources

Submetido (submitted): 1 de fevereiro de 2011


Parecer (revised): 30 de abril de 2011
Itiberê de Oliveira Castellano Rodrigues*
Aceito (accepted): 5 de maio de 2011

RESENHA DO LIVRO:
Gilberto Bercovici. Direito Econômico do
petróleo e dos recursos minerais. São
Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2011.

Gilberto Bercovici é professor titular de Direito Econômico e Economia


Política da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tendo,
anteriormente, publicado e/ou organizado diversas obras no âmbito do
Direito Constitucional, tais como, entre outras, Direitos humanos,
Democracia e República: Homenagem a Fábio Konder Comparato (2009),
Soberania e Constituição: para uma crítica do Constitucionalismo (2008),
Constituição Econômica e desenvolvimento (2005), Dilemas do Estado
federal brasileiro (2004), Constituição e estado de exceção permanente
(2004), Desigualdades regionais, Estado e Constituição (2003) e Teoria da
Constituição (2003).
A obra, ora examinada, foi inicialmente a monografia com a qual o autor
obteve perante banca examinadora a cadeira de professor titular de Direito
Econômico e Economia Política no ano de 2003, e depois revista, atualizada
e publicada em 2011.
Como o próprio nome da cadeira da qual o autor é professor titular já
permite antever, trata-se de obra de caráter multidisciplinar, transitando, por
exemplo, pelos grandes marcos da Economia Política, da Política Jurídica,
do Direito Constitucional e do Direito Administrativo.
Está sistematicamente dividida em cinco capítulos, a saber: (i) A

* Doutor em Direito Público ("Promotion") e Magister Legum (LL.M) em Direito


Público pela Westfälische Wilhelms-Universität, Münster, Alemanha. Mestre em
Direito Público pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, da FMP -
Faculdade da Fundação Escola do Ministério Público do Rio Grande do Sul e da
Escola da Procuradoria do Município de Porto Alegre. Professor Colaborador do
Curso de Pós-Graduação em Direito da UFRGS - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul desde agosto de 2002.

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Economia Política do petróleo e dos recursos minerais; (ii) A nacionalização


do subsolo; (iii) Petróleo, recursos minerais e a industrialização brasileira;
(iv) A soberania econômica na Constituição de 1988 e o regime jurídico do
petróleo e dos recursos minerais; e (v) Petróleo, recursos minerais e o
conflito sobre a apropriação do excedente.
Desde uma perspectiva ideológica, a epígrafe, uma frase atribuída a
Getúlio Vargas, traduz a visão nacionalista do autor, inserindo-se, assim, na
já antiga tradição de uma literatura brasileira que, desde sempre, defendeu
que o tema petróleo (e demais recursos minerais) seja uma questão de
soberania nacional, e que uma política econômica e jurídica deve refletir
esse aspecto fundamental. Diz ,então, essa epígrafe: "Já o disse e repito
solenemente, que quem entrega o seu petróleo, aliena a sua própria
independência."
Orientado por esse mote, Gilberto Bercovici inicia sua análise, desde
uma perspectiva da Economia Política internacional, que cataloga ou
classifica os Estados, a partir do modo como suas economias políticas
tratam o petróleo enquanto bem de caráter econômico, e como e quanto
esses países dependem economicamente da exploração do petróleo. Essa
análise se diversifica ao se tratar das relações político-econômicas entre os
países do "centro-periferia", da questão da soberania estatal sobre seus
recursos naturais e do modo como os Estados concebem o bem econômico
petróleo: commodities ou recursos estratégicos?
No segundo capítulo, o autor apresenta a evolução histórica da política
jurídico-econômica de nacionalização do subsolo, com tônica nos recursos
minerais, desde a regulamentação da mineração pelo antigo direito colonial
português, o regime de propriedade destacada dos recursos minerais que aí
já vigorava (por meio da recepção do direito romano), passando pelas
discussões a respeito da manutenção ou não desse regime no direito
imperial brasileiro e nos albores da República, até atingir, por fim, a efetiva
nacionalização da questão do subsolo a partir da Revolução de 1930, cuja
regulamentação ordinária se reflete na edição do Código de Águas e do
Código de Minas, em 1934.
Essa mesma perspectiva de evolução histórica constitui o terceiro
capítulo, sobretudo, em relação ao petróleo, narrando desde a criação do
Conselho Nacional do Petróleo na década de 1930, a campanha do

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"Petróleo é nosso", a criação da Petrobrás e, mais recentemente, em direção


contrária a do passado, "o favorecimento ao capital estrangeiro e a
‘conglomeração’ das empresas estatais" (em especial a partição da Petrobrás
em empresas subsidiárias), em especial durante o período da ditadura
militar de 1964, com farta riqueza de leis e decretos-leis, dados e casos
concretos dessa época.
Os dois últimos capítulos da obra tendem mais ao Direito Econômico e,
por isso, mais próximos de temas caros aos juristas. Assim, o quarto
capítulo faz uma descrição, desde uma perspectiva constitucional dos temas
petróleo e recursos minerais, ali polemizando com certas correntes
doutrinárias hoje apregoadas e que, na visão do autor (e também em opinião
pessoal), não encontram recepção dogmático-constitucional, tais como o
conceito de princípio da subsidiariedade (para, com isso, afastar o Estado
da Constituição Econômica, tornando sua atuação subsidiária à da iniciativa
privada nessa esfera) ou, então, o que o autor denomina de intérpretes
fundamentalistas da livre iniciativa, que também partem do (equivocado)
pressuposto de que a Constituição de 1988 traduz, na sua Constituição
Econômica, um regime jurídico de caráter liberal (ou neoliberal).
Ainda nesse mesmo capítulo, o autor analisa os principais conceitos e
institutos vigentes na Constituição Econômica de 1988, tais como os
princípios básicos da Ordem Econômica e, a partir daí, a análise de tópicos
específicos, tais como os limites as relações entre a livre iniciativa e os
serviços públicos (com a chamada dicotomia das atividades econômicas em
sentido amplo); a participação do Estado na esfera econômica, por meio de
um regime de direito público da economia (refutando expressamente, com
isso, o vetusto jargão liberal-administrativo da intervenção do Estado na
economia); as atividades de planejamento e regulação estatal dos mercados
(art. 174), o regime de monopólio; o regime cooperativo (em especial na
mineração); etc. Para além disso, o texto é ainda enriquecido com a
remissão aos fundamentos básicos das principais leis ordinárias que
regulam a esfera econômica e conferem densidade ao regime da
Constituição de 1988.
Por fim, o quinto capítulo é aquele que, muito certamente, sofreu as
maiores atualizações de conteúdo desde a obra original em 2003. Bercovici
faz uma apresentação dos regimes fundamentais de exploração (sobretudo)

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do petróleo, já com vistas às grandes descobertas de jazidas do pré-sal e,


também, em vista da necessária definição ordinária do "modelo de
exploração das jazidas do pré-sal" (pág. 310), em especial para aquelas
áreas ainda não-licitadas e concedidas. Não por acaso, a última parte desse
último capítulo tem por título Soberania econômica e projeto nacional de
desenvolvimento, definindo, assim, não apenas por qual modelo de
exploração o autor milita, mas também a própria cosmovisão
(weltanschauung) do autor.
Assim brevemente resumida, cremos, agora encerrando com uma análise
crítica, que a obra serve perfeitamente como uma introdução de caráter
multidisciplinar ao tema do petróleo e dos recursos minerais, e então como
a lembrar a nós, juristas, que o direito ou regime jurídico relativo à
propriedade e ao uso e gozo desses bens públicos antes pressupõe uma clara
e firme definição do que se pretende política e economicamente
compreender como soberania nacional.

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