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As novas regras da CFEM


Introdução
Você sabe o que é CFEM? Se não, dá uma conferida neste link antes de ler o ebook ;)

Em 25 de julho de 2017, o Governo Federal apresentou à sociedade brasileira o Programa


de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira, que promoveu significativas alterações na
legislação mineral. Dentre as 3 Medidas Provisórias apresentadas ao Congresso Nacional, uma
foi exclusivamente dedicada à Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM).

Trata-se da Medida Provisória 789/2017, que alterava as leis federais 7.990/1989 e 8.001/1990.
Através dela, as hipóteses de incidência, as bases de cálculo, várias alíquotas, as
responsabilidades, as sanções e infrações administrativas, dentre outros aspectos da CFEM,
foram alterados.

Grande maioria dessas mudanças entraram em vigor já em 01.08.2017, enquanto as novas


alíquotas passaram a valer à partir de 01.11.2017 enquanto a nova base de cálculo para o
consumo em 01.01.2018.

Todavia, no processo legislativo para análise de respectiva Medida Provisória e conversão em


lei, algumas dessas alterações propostas pela MP foram modificadas pelo Congresso Nacional,

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tendo sido apresentado para sanção do Presidente da República o Projeto de Lei de Conversão
38/2017.

Em 19.12.2017 foi então publicada no Diário Oficial da União a Lei 13.540, com alguns poucos
vetos do Presidente da República, alterando definitivamente os dispositivos legais relacionados
à CFEM.

Sem a intenção de esgotar o assunto, e nem mesmo de enfrentar a duvidosa constitucionalidade


e/ou legalidade de diversos pontos alterados, o presente artigo tem a intenção de lhes apresentar
e destacar a nova sistemática aplicável à CFEM.

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1. Competência
Superando alguns debates, restou estabelecido categoricamente na Lei 13.540/2017 que
compete privativamente à União, por intermédio da entidade reguladora do setor de mineração,
regular, arrecadar, fiscalizar, cobrar e distribuir a CFEM.

Portanto, Estados e Municípios não tem competência


e nem legitimidade para legislar, fiscalizar e cobrar a
CFEM.

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2. Sujeito Passivo
Na nova sistemática, ficam obrigadas ao pagamento da CFEM as seguintes pessoas jurídicas
ou físicas:

1. O titular de direitos minerários que exerça a atividade de mineração;

2. O primeiro adquirente de bem mineral extraído sob o regime de permissão de lavra


garimpeira;

3. O adquirente de bens minerais arrematados em hasta pública; e

4. A que exerça, a título oneroso ou gratuito, a atividade de exploração de recursos minerais


com base nos direitos do titular original.

Além do estabelecimento de novos sujeitos passivos, a Lei 13.540/2017 passou a exigir que
todos eles deverão estar cadastrados e manterão seus dados atualizados perante a entidade
reguladora do setor de mineração, sob pena de multa, nos termos do regulamento.

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Ainda, a nova legislação estabeleceu que:
1. Na hipótese de arrendamento, o arrendante de direito minerário responde
subsidiariamente pela CFEM devida durante a vigência do contrato de arrendamento; e

2. Na cessão parcial ou total do direito minerário, o cessionário responde solidariamente


com o cedente por eventual débito da CFEM relativo a período anterior à averbação da
cessão.

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3. Hipótese de Incidência
Antes das alterações promovidas pela Lei 13.540/2017, a legislação previa a existência de 3
hipóteses de incidência para a CFEM: (i) saída por venda, (ii) primeira aquisição, na hipótese de
extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira e (iii) no consumo.

Com a nova sistemática, além de alterarem certos aspectos das hipóteses de incidência já
existentes, criou-se outra mais. Hoje, prevê-se a incidência da CFEM quando:

1. Da saída por venda de bem mineral,

2. Do ato de arrematação, nos casos de bem mineral adquirido em hasta pública,

3. Do ato da primeira aquisição de bem mineral extraído sob o regime de permissão de lavra
garimpeira, e

4. Do consumo do bem mineral, entendido como transformação, utilização, doação ou


bonificação do bem mineral.

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4. Base de cálculo
Anteriormente, existiam 2 possíveis bases de cálculo: (i) na hipótese de saída por venda, o
faturamento líquido, entendido como a receita bruta decorrente da operação de venda, deduzida
dos tributos incidentes sobre essa e as despesas de transporte e seguro e (ii) na hipótese de
consumo e de utilização, os custos de produção (diretos e indiretos).

Hoje, com a Lei 13.540/2017, referidas bases de cálculo sofreram significativas mudanças e
outras foram criadas, senão vejamos:

1. Na saída por venda, a nova base de cálculo passou a ser a receita bruta de venda, deduzida
apenas dos tributos incidentes sobre a comercialização.

Na hipótese de bem mineral remetido a outro estabelecimento do mesmo titular, para


comercialização posterior, ainda que sujeito a processo de beneficiamento, a base de cálculo
para aplicação da alíquota será o preço praticado na venda final, observadas as exclusões
autorizadas em lei.

Ainda, nas operações de transferência, no território nacional, entre estabelecimentos da mesma


empresa ou entre empresas coligadas ou do mesmo grupo econômico, caracterizadas como
venda, a base de cálculo da CFEM será, no mínimo, o preço corrente no mercado local, regional
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ou nacional e, no caso de essas operações não serem caracterizadas como venda, a CFEM
incidirá no consumo ou na comercialização efetiva do bem mineral, sendo a CFEM, em ambos
os casos, devida e distribuída aos Estados e aos Municípios onde ocorrer a sua produção.

2. No consumo, utilização, doação ou bonificação do bem mineral, a nova base de cálculo


passou a ser a receita bruta calculada, considerado o preço corrente do bem mineral, ou
de seu similar, no mercado local, regional, nacional ou internacional, conforme o caso, ou
o valor de referência, definido a partir do valor do produto final obtido após a conclusão do
respectivo processo de beneficiamento.

Nesse tocante, ato da entidade reguladora do setor de mineração, precedido de consulta pública,
estabelecerá, para cada bem mineral, se o critério será o preço corrente no mercado local,
regional, nacional ou internacional ou o valor de referência.

Por sua vez, os valores de referência serão definidos pela entidade reguladora do setor de
mineração à partir de metodologia estabelecida no Decreto 9.252, de 28.12.2017.

Importante registrar, nesse ponto, que a nova sistemática excluiu a apuração da CFEM os
bens minerais doados a entes públicos, bem como estabeleceu que o beneficiamento de bem
mineral em estabelecimento de terceiros, para efeitos de incidência da CFEM, será tratado como
consumo.

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3. Nas exportações, sobre a receita calculada, considerada como base de cálculo, no
mínimo, o preço parâmetro definido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério
da Fazenda, com fundamento no art. 19-A da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996,
e na legislação complementar, ou, na hipótese de inexistência do preço parâmetro, será
considerado o valor de referência, observado o disposto nos §§ 10 e 14 deste artigo;

4. Na hipótese de bem mineral adquirido em hasta pública, sobre o valor de arrematação.


Nesse caso, a Lei ainda estabeleceu que o bem mineral somente será entregue ao vencedor
da hasta pública somente mediante o pagamento prévio da CFEM; e

5. Na hipótese de extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira, sobre o valor da


primeira aquisição do bem mineral.

Em se tratando de água mineral, 2 bases de cálculo foram positivadas em lei:

a. No aproveitamento econômico de água, envasada ou não, para fins de consumo direto,


nos termos do Decreto-Lei n. 7.841, de 8 de agosto de 1945 (Código de Águas Minerais), a
base para cálculo da CFEM será a receita bruta de venda, deduzidos os tributos incidentes
sobre sua comercialização, pagos ou compensados, de acordo com os respectivos regimes
tributários; e

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b. No aproveitamento econômico de água mineral para fins balneários, a alíquota da CFEM
incidirá sobre o valor do banho, caso haja especificação do preço do banho, ou, na hipótese
de o preço do banho não estar especificado, sobre 8,91% (oito inteiros e noventa e um
centésimos por cento) da receita bruta mensal do estabelecimento do titular, deduzidos os
tributos incidentes sobre sua comercialização, pagos ou compensados, de acordo com os
respectivos regimes tributários.

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5. Alíquotas
As alíquotas, por sua vez, sofreram sucessivas alterações nesse processo legislativo, inclusive
sendo objeto de um dos vetos presidencial. Algumas foram majoradas, como é o caso de minério
de ferro e de ouro; outras reduzidas, como o caso de rochas ornamentais, agregados e outros; e
outras vetadas, como foi a alíquota fixada para os fertilizantes.

A alíquota máxima antes prevista de 3%, passou a ser de 4%, sendo prevista uma inovação
ao estabelecer que, no caso de rejeitos e estéreis de minerais associados utilizados em outras
cadeias produtivas, haverá uma redução de alíquota da CFEM de 50% (cinquenta por cento).

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As alíquotas definitivas e definidas na Lei 13.540/2017 são:

1% Rochas, areias, cascalhos, saibros e demais substâncias minerais quando


destinadas ao uso imediato na construção civil; rochas ornamentais; águas
minerais e termais

1,5%
Ouro

2%
Diamante e demais substâncias minerais

3%
Bauxita, manganês, nióbio e sal-gema

3,5%
Ferro, observados os critérios em lei

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Especialmente no tocante à alíquota de minério de ferro, restou estipulado que Decreto do
Presidente da República, a ser publicado em até noventa dias a partir da promulgação da Lei,
estabelecerá critérios para que a entidade reguladora do setor de mineração, mediante demanda
devidamente justificada, possa reduzir, excepcionalmente, a alíquota da CFEM do ferro de 3,5%
(três inteiros e cinco décimos por cento) para até 2% (dois por cento), com objetivo de não
prejudicar a viabilidade econômica de jazidas com baixos desempenho e rentabilidade em razão
do teor de ferro, da escala de produção, do pagamento de tributos e do número de empregados.

A decisão e o parecer técnico da entidade reguladora do setor de mineração relativos à redução


da alíquota da CFEM serão divulgados em seu sítio oficial na internet, e a redução somente
entrará em vigor sessenta dias a partir da divulgação.

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6. Receita da CFEM e respectivo rateio
A distribuição da receita da CFEM igualmente foi objeto de alteração, de acordo com os
seguintes percentuais e critérios:

7% 15% 60% 15%

1% 1,8% 0,2%

I - 7% (sete por cento) para a entidade reguladora do setor de mineração;


II - 1% (um por cento) para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), instituído
pelo Decreto-Lei no 719, de 31 de julho de 1969, e restabelecido pela Lei no 8.172, de 18 de janeiro de 1991,
destinado ao desenvolvimento científico e tecnológico do setor mineral;
III - 1,8% (um inteiro e oito décimos por cento) para o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), vinculado ao
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, criado pela Lei no 7.677, de 21 de outubro de
1988, para a realização de pesquisas, estudos e projetos de tratamento, beneficiamento e industrialização de
bens minerais;
IV - 0,2% (dois décimos por cento) para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), para atividades de proteção ambiental em regiões impactadas pela mineração;
V - 15% (quinze por cento) para o Distrito Federal e os Estados onde ocorrer a produção;
VI - 60% (sessenta por cento) para o Distrito Federal e os Municípios onde ocorrer a produção;
VII - 15% (quinze por cento) para o Distrito Federal e os Municípios, quando afetados pela atividade de
mineração e a produção não ocorrer em seus territórios, nas seguintes situações:

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a. cortados pelas infraestruturas utilizadas para o transporte ferroviário ou dutoviário de
substâncias minerais;

b. afetados pelas operações portuárias e de embarque e desembarque de substâncias


minerais;

c. onde se localizem as pilhas de estéril, as barragens de rejeitos e as instalações de


beneficiamento de substâncias minerais, bem como as demais instalações previstas no
plano de aproveitamento econômico.
Nesse último caso, se inexistente, a respectiva parcela será destinada ao Distrito Federal e
aos Estados onde ocorrer a produção.

A Lei 13.540/2017, ainda, estabeleceu que:

1. Pelo menos 20% (vinte por centro) das parcelas recebidas pelos Estados, Distrito Federal
e os Municípios serão destinadas, preferencialmente, para atividades relativas à diversificação
econômica, ao desenvolvimento mineral sustentável e ao desenvolvimento científico e tecnológico.

2. Anualmente, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios tornarão públicas as


informações relativas à aplicação das parcelas da CFEM a eles destinadas, na forma estabelecida
na Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011, de modo a se ter absoluta transparência na gestão
dos recursos da CFEM.
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7. Prescrição e decadência
Não obstante a natureza jurídica da CFEM permanece objeto de debate e incertezas, a Lei
13.540/2017 estabeleceu que para os novos fatos geradores os prazos decadencial e prescricional
são aqueles estabelecidos no art. 47 da Lei 9.636, de 15.05.1998, ou seja:

1. Decadencial de dez anos para sua constituição, mediante lançamento; e

2. Prescricional de cinco anos para sua exigência, contados do lançamento.

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8. Sanções pela inadimplência
Superando lacuna da antiga legislação, restou estabelecido na nova sistemática que o
inadimplemento do pagamento da CFEM no prazo devido ou o seu recolhimento em desacordo
com o disposto na legislação em vigor ensejará a incidência de atualização monetária, juros e
multa, calculados na forma estabelecida no art. 61 da Lei 9.430, de 27 de dezembro de 1996,
ou seja:

1. Multa de mora, calculada à taxa de 0,33%, por dia de atraso, limitado à 20%, contada à partir
do primeiro dia subsequente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento até o dia em
que ocorrer o seu pagamento;

2. Juros de mora equivalentes à taxa SELIC, a partir do primeiro dia do mês subsequente
ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento, e de um por cento no mês de
pagamento.

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Sobre a Autora
Advogada, Mestre em Direito Empresarial, possui
Executive MBA em Gestão Econômica de Recursos
Minerais, pós-graduação em Direito Tributário,
graduação em Direito e curso técnico em gestão. É
sócia fundadora do FERRARA BARBOSA Sociedade
de Advogados. Destaque nas 6 últimas edições
do Chambers and Partners (América Latina), em
“Energia e Recursos Minerais: Mineração”. Membro
da Comissão de Direito Minerário da OAB/MG. Autora
Dra. Marina Ferrara e coordenadora de obras especializadas em direito
minerário e ambiental, bem como colunista em sites
especializados em recursos naturais. Professora em
cursos de EMBA e de pós-graduação.

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