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Belo Horizonte – MG
Junho de 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS
Belo Horizonte – MG
Junho de 2019
Agradecimentos
Agradeço primeiro a Deus, pois sem ele não teria chegado até aqui. Ele é a força que me apoia
ao longo de toda a vida, е não somente nestes anos como universitária.
A toda minha família, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. São a base que me
proporciona segurança para trilhar meu caminho.
A minha orientadora professora Viviane Barbosa, pela confiança e apoio na elaboração deste
trabalho. Agradeço também por seu empenho e vontade de transmitir conhecimento aos alunos.
Suas aulas sempre me motivaram e tenho certeza que contribuirão para que eu seja uma
Engenheira de Minas melhor.
Aos servidores da ANM que convivi durante o período de estágio, em especial à Carla Martins
por sua amizade, suporte e contribuição para meu desenvolvimento profissional.
A todos os professores, funcionários e colegas que estiveram comigo durante esses anos na
UFMG.
Resumo
The improvement of the mining legislation is a longing for the mineral sector. In this context,
the Federal Government has been presenting a series of Provisional Measures, Decrees and
Laws, based on three pillars that were addressed in this work: alteration of calculation basis and
aliquots of Financial Compensation for the Exploration of Mineral Resources, extinction of the
National Department of Mineral Production and creation of the National Mining Agency and
amendment of the legislation through the publication of Decree No. 9,406 of June 12, 2018,
which became known as the New Regulation of the Mining Code. The main changes brought
by this Decree were analyzed and, from this analysis, the pros and cons of these changes were
established. This made it possible to conclude that in the long term, the implementation of the
new legislation will bring more security to the regulatory agency and benefits for the
restructuring of the sector, but in the short term, the absence of Resolutions to regulate the
application of the new devices implanted by the Decree generates doubts and insecurity for
miners.
Key-words: mining legislation, National Mining Agency, New Regulation of the Mining Code,
decree 9406.
Lista de figuras
Quadro 1: Alíquotas das substâncias minerais Lei nº 8.001 de 13 de março de 1990. ............ 17
Quadro 2: Alíquotas das substâncias minerais MP 789. ........................................................ 17
Quadro 3: Alíquotas do minério de ferro MP 789. ................................................................ 18
Quadro 4: Alíquotas das substâncias minerais Lei nº 13.540 de 18 de dezembro de 2017. .... 20
Quadro 5: Estrutura da NRM 20. .......................................................................................... 34
Quadro 6: Principais ações a serem executadas no fechamento de mina ............................... 41
Lista de gráficos
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11
2.2.1. MP 789............................................................................................................... 16
2.2.2. MP 790............................................................................................................... 21
2.2.3. MP 791............................................................................................................... 22
1. INTRODUÇÃO
O setor mineral possui uma grande importância na economia brasileira. Desde a colonização
voltada para extração de ouro e pedras preciosas até o cenário atual de grande produtor e
exportador de minério de ferro, a extração mineral é associada ao desenvolvimento econômico
do país. A mineração é uma atividade desenvolvida no país há muitos anos, porém devido à
grande extensão territorial, características geológicas propícias à formação de diversos minerais
e pouco conhecimento do subsolo, há ainda um grande potencial para a atividade em depósitos
até então desconhecidos e inexplorados.
A mudança na legislação com uma proposta de alteração do Código de Mineração com o que
foi chamado de “Marco Regulatório da Mineração” gerou uma grande insegurança jurídica e
instabilidade em relação a novos investimentos no setor mineral, e aliada a essa instabilidade,
houve também a necessidade de desburocratização de procedimentos e incorporação de avanços
tecnológicos, a fim de propiciar maior celeridade ao trâmite dos processos minerários (MME,
2017b).
1.1. Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é expor as alterações recentes da legislação mineral brasileira,
analisar criticamente as mudanças trazidas pelo Decreto nº 9.406 e os benefícios ou prejuízos
que podem ser gerados por essas mudanças para as empresas do setor mineral. Para atingir-se
o objetivo geral, pretende-se:
1. Fazer uma introdução sobre a legislação mineral brasileira, desde o Código de Minas de
1934 até o presente, aprofundando no Código de Mineração, Decreto-Lei 227 de 1967 e sua
operacionalização;
2. Apresentar brevemente o Programa de Revitalização do Setor Mineral proposto pelo
governo e as MPs 789/2017, 790/2017 e 791/2017;
3. Comparar as funções do extinto Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)
e da recém-criada Agência Nacional de Mineração (ANM), ressaltando as novas características
da agência reguladora;
4. Realizar uma análise detalhada do Decreto nº 9.406 de 2018, listando as principais
alterações em relação ao Decreto nº 62.934 de 1968;
5. Analisar criticamente os benefícios e prejuízos dessas alterações para as empresas;
6. Propor estudos futuros com base em Resoluções a serem definidas pela ANM.
13
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A existência de diversos depósitos minerais em toda extensão do território brasileiro fez com
que a economia nacional estivesse sempre ligada diretamente à mineração. Atualmente, a
indústria extrativa mineral tem participação fundamental no Produto Interno Bruto (PIB) e
representa 1,4% de todo o PIB brasileiro, empregando cerca de 180 mil trabalhadores
diretamente (IBRAM, 2018).
Desde então, a legislação minerária brasileira passou por diversas transformações ao longo da
história do país, refletindo as características predominantes do governo de cada época. Durante
o Período Colonial, o subsolo constituía propriedade distinta da propriedade do solo e pertencia
à Coroa Portuguesa. Já no período conhecido como República Velha, a Constituição de 1891
vinculou a propriedade do subsolo à do solo, assim, pertencia ao dono do solo todo o recurso
mineral contido em seu subsolo. Em 1934, a nova Constituição instaurou o modelo de
concessão, que vigora até hoje, separando as propriedades de solo e subsolo, ficando sua
extração condicionada à outorga de um título. Estando os bens minerais sujeitos ao controle da
União, foi necessária a criação de órgão que regulamentasse tais bens, e através do Decreto nº
23.919, de 08 de março de 1934, foi criado o DNPM.
No Brasil, a instabilidade jurídica provocada pela apresentação, pelo Poder Executivo Federal,
em 2013, da proposta de alteração do Código de Mineração, o chamado “Marco Regulatório da
Mineração”, foi um fator que afetou a atração de novos investimentos por parte das empresas
de mineração.
2.2.1. MP 789
A Medida Provisória nº 789 que alterou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e a Lei nº
8.001, de 13 de março de 1990, para dispor sobre a Compensação Financeira pela Exploração
de Recursos Minerais, introduziu alterações relevantes na CFEM, alterando substancialmente
as alíquotas e a base de cálculo.
A MP 789 trouxe uma redução da alíquota de algumas substâncias, como, por exemplo, aquelas
classificadas como de uso imediato na construção civil. Porém, a mudança na base de cálculo,
gerou um aumento na arrecadação do governo. No Quadro 1 são apresentados os valores de
alíquotas da CFEM anteriores a MP 789.
17
A redução das alíquotas para agregados para construção civil pode ser vista no Quadro 2, onde
são explicitadas as alíquotas para diversas substâncias minerais de acordo com a MP 789.
A MP 789 também trouxe uma inovação na alíquota do minério de ferro, onde a porcentagem
de incidência variava de acordo com a cotação internacional do minério, oscilando entre 2% e
4% de acordo com o valor da tonelada de ferro, como pode ser visto no Quadro 3.
18
3.036,0
3.000,0
2.376,0
2.500,0
2.000,0 1.834,9
1.703,5 1.797,4 1.837,0 1.829,8
1.544,6 1.518,6
1.500,0
1.083,1
857,8
1.000,0 742,2
465,9 547,2
500,0
0,0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano
Em 18 de dezembro de 2017, foi sancionada a Lei nº 13.540, que altera a legislação de regência
da CFEM, que corresponde aos royalties da mineração. A mudança teve o objetivo de
modernizar a sistemática de apuração e recolhimento de CFEM, de forma a conferir maior
previsibilidade e segurança jurídica para o desenvolvimento de atividades de mineração (MME,
2017a).
As alíquotas para as substâncias minerais atualmente vigentes para fins de incidência da CFEM
podem ser vistas a seguir no Quadro 4:
20
O Gráfico 2 mostra como é feita atualmente a distribuição da CFEM entre estados, munícipios
e União, de acordo com a Lei nº 13.540.
Distribuição da CFEM
1,8%
1,0% ANM
7% 0,2%
15% Fundo de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT)
60%
Municípios afetados pela atividade de
mineração
2.2.2. MP 790
O Código de Mineração, em vigor há mais de cinco décadas, está sendo alterado em 23 pontos
específicos, com a finalidade de destravar e estimular a atividade mineradora. O objetivo é a
melhoria imediata do ambiente de negócios e na atratividade do país para investimento em
pesquisa mineral e novas tecnologias de mineração (MME, 2017b).
Tais mudanças alteraram, em alguns casos, procedimentos relevantes na gestão dos Títulos
Minerários, como a restrição no conceito de áreas livres, a mudança na regra de disponibilidade
de áreas, alterações conceituais e procedimentais na fase de pesquisa, como a alteração de
prazos da autorização de pesquisa e a introdução de padrões internacionais de declaração de
resultados de exploração mineral. Houve a inclusão do fechamento de mina como atividade
abrangida pela mineração e definição expressa da obrigação do titular executar o plano de
fechamento de mina, antes da extinção do título.
Em relação ao Regime de Licenciamento, uma importante alteração trazida pela MP 790 foi a
exclusão das exigências legais de apresentação da Licença Específica Municipal e Autorização
do Superficiário, item que não foi mantido no Decreto nº 9.406 e seria de grande benefício,
visto que a dificuldade na obtenção dessas autorizações muitas vezes atrasa o andamento do
processo e a obtenção do título, além da fixação do prazo máximo de 20 anos para o
licenciamento, exigindo a redefinição de rotinas e decisões estratégicas.
A MP 790, que tinha como objetivo modernizar a legislação mineral do país, não foi votada
pelo Congresso no prazo estabelecido pela legislação, e o Projeto de Lei de Conversão não foi
aprovado, e após o período de vigência de 120 dias, a MP perdeu sua eficácia em 28 de
novembro de 2017, voltando a vigorar o Código de Mineração e a Lei nº 6.567/1978. Algumas
das alterações previstas em seu texto foram implantadas no Decreto nº 9.406/2018.
22
2.2.3. MP 791
Com a medida, a ANM assume as funções atualmente exercidas pelo DNPM, absorvendo as
atividades já desempenhadas pelo órgão e exercendo novas atribuições, com o objetivo de
oferecer um ambiente de estabilidade e previsibilidade quanto aos atos do Poder Público na
gestão dos direitos minerários. A gestão da ANM vai buscar maior transparência nas ações
reguladoras voltadas à atividade de mineração e garantir que a tomada de decisões ocorra
sempre fundamentada em preceitos técnicos e segundo as melhores práticas da indústria (MME,
2017c).
Também foi criada pela MP 791 no art. 24, a TFAM, a ser recolhida por todos os titulares de
direitos minerários sob os regimes de Autorização de Pesquisa, Concessão de Lavra,
Licenciamento e Permissão de Lavra Garimpeira, até o dia 30 de abril de cada exercício. A taxa
é devida pelo regular exercício do poder de fiscalização das atividades de mineração pela ANM,
entendendo-se por fiscalização não apenas as vistorias realizadas, mas também a análise e a
aprovação de Relatórios Finais e Parciais de Pesquisa, análise de Relatórios Anuais de Lavra
(RAL’s), apuração de regularidade de pagamentos da CFEM e outros encargos financeiros
devidos à ANM, entre outras atividades citadas no 1º parágrafo do referido artigo da MP.
Dentre os itens vetados, um deles foi a determinação de que a ANM tivesse uma unidade
administrativa em cada estado, resolução que seria de competência privativa do presidente da
República. Também foi vetada a criação de novos cargos comissionados para atuarem na
agência, assim como cinco artigos que tratavam da distribuição de cargos a servidores dentro
da instituição, sob o argumento de evitar aumento das despesas com cargos em comissão para
exercícios futuros
Foi vetado o inciso que permitia a ANM, como procedimentos de solução de conflitos, alterar
em caráter temporário ou mesmo revogar títulos minerários. A razão do veto presidencial foi
não haver previsão legal que permita a ANM alterar ou revogar esses títulos, o que poderia
causar insegurança jurídica. O presidente vetou, ainda, o trecho que determinava a comunicação
ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pela ANM, de fato que pudesse
indicar infração de ordem econômica, principalmente os relacionados a concentração de
mercado decorrente de cessão de direitos minerários.
Quase um ano após a criação da ANM, pela Lei nº 13.575, foi aprovada sua estrutura regimental
e instalada a Agência Nacional de Mineração pelo Decreto nº 9.587, de 27 de novembro de
2018. O Decreto nº 9.587 entrou em vigor em 5 de dezembro de 2018, mesma data do Decreto
nº 9.406, cuja vigência estava condicionada à instalação da ANM.
No Ministério de Minas e Energia (MME), o único setor que ainda não tinha uma agência
reguladora era a mineração. Caracterizadas por um regime jurídico especial, essas autarquias
são dotadas de autonomia em relação ao Poder Público, o que possibilita que sejam preservadas
de ingerências estranhas ao domínio técnico, em especial no processo de tomada de decisões e
nas atribuições de fiscalizar a ação dos particulares na prestação de serviços e na gestão de bens
públicos. Além disso, o poder normativo passa a ser exercido com transparência, tendo em vista
que suas propostas são submetidas a consultas públicas através das agências reguladoras
(MME, 2017 c). A realização de consultas públicas e avaliação de impactos pela ANM visam
garantir a transparência dos processos do setor. Na Figura 1 pode ser vista uma comparação
entre o extinto DNPM e a ANM, em relação aos aspectos de transparência, controle e
participação social nas ações.
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DNPM ANM
Participação do cidadão Ampla participação do
limitada cidadão
Decisões colegiadas
Decisões sem
abertas e com
participação pública
possibilidade de
obrigatória
participação pública
Normativos motivados e
Normativos editados sem editados após
consulta pública prévia consulta/audiência
pública
A ANM é dirigida por uma Diretoria Colegiada, composta por um Diretor Geral e quatro
Diretores. Os membros da diretoria exercem mandatos de quatro anos, não coincidentes, todos
nomeados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal. Uma disposição
muito importante foi a criação de requisitos para ocupação do cargo de Diretor da agência,
como experiência no exercício de atividade relacionada a agências reguladoras e formação
acadêmica compatível com o cargo.
Também foram criadas restrições para o cargo de Diretor, sendo vedada a indicação de pessoa
que tenha atuado nos últimos seis meses, como participante de estrutura decisória de partido
político, pessoa que tenha participação direta ou indireta com empresa ou entidade que atue no
setor mineral, e pessoa que tenha exercido cargo em organização sindical ligada ao setor
mineral. Ministro de Estado, Secretário de Estado, Secretário Municipal, dirigente estatutário
de partido político e titular de mandato no Poder Legislativo de qualquer ente federativo, ainda
que em período de licença de exercício do cargo, também são vetados de assumir a Diretoria
da ANM. A Figura 2 mostra uma comparação entre a autonomia administrativa, decisória e o
poder normativo do DNPM e da ANM.
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DNPM ANM
Dirigentes nomeados após
Dirigentes sem
aprovação do Senado
estabilidade (livre
Federal e com estabilidade
nomeação e exoneração
(mandato fixo e não
pelo presidente da
coicidentes e demissão em
República)
casos bastante restritos)
Decisões
Decisões colegiadas
centralizadas/Individuais
A ANM aplica a legislação relativa ao aproveitamento dos recursos minerais, regula, normatiza
e fiscaliza os procedimentos necessários. Todas as atividades relativas ao aproveitamento dos
recursos minerais estão sujeitas a fiscalização, seja pesquisa, lavra, beneficiamento, distribuição
e consumo ou industrialização. A ANM também deve gerenciar toda a documentação destinada
ao setor, pois de acordo com o artigo 13 do Código de Mineração, é dever do requerente (pessoa
física ou jurídica), fornecer informações sobre volume da produção e características qualitativas
dos produtos, condições técnicas e econômicas da execução dos serviços ou da exploração das
atividades acima mencionadas, mercados e preços de venda, quantidade e condições técnicas e
econômicas do consumo de produtos minerais, dentre outras.
Por meio das atualizações feitas na legislação e da instituição do modelo de agência reguladora
para o setor mineral, o governo busca oferecer um ambiente de maior estabilidade quanto aos
atos do Poder Público no gerenciamento dos direitos minerários, esperando uma melhoria da
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De acordo com o artigo 20 da Constituição Federal, são bens da União os recursos minerais,
inclusive os do subsolo. E conforme previsto no artigo 176 da Constituição, os recursos
minerais constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou
aproveitamento, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra. Ou seja,
significa que independentemente de quem for a propriedade do terreno, havendo ali recursos
minerais aptos a serem explorados, esses não pertencerão ao superficiário, pois seu único
proprietário e possuidor é a União.
Buscando o controle das atividades de explotação de recursos minerais por pessoas físicas ou
jurídicas, o Código de Mineração estabeleceu diferentes tipos de regimes de aproveitamento a
serem concedidos pela União, que foram separados de acordo com o grau de dificuldade de seu
aproveitamento, a variedade de substâncias minerais, o destino da produção obtida, além de
aspectos de caráter social.
Licenciamento pode ser aplicado para substâncias de emprego imediato na construção civil,
argila vermelha, e calcário para corretivo de solos, e facultado, exclusivamente, a quem possuir
licença específica municipal e for proprietário do solo ou a quem dele obtiver expressa
autorização.
Os regimes de aproveitamento têm como objetivo a obtenção de um título que credencie seu
possuidor ao aproveitamento correto do recurso mineral, documento esse emitido no caso do
regime de Autorização e Concessão na esfera do Ministério de Minas e Energia e nos demais
regimes pela própria Agência Nacional de Mineração.
O Decreto nº 9.406 foi publicado no DOU dia 13 de junho de 2018, estabelecendo o novo
Regulamento do Código de Mineração. Por meio desse decreto, o governo buscou dar
continuidade ao programa de reforma da legislação minerária, implantando algumas das
alterações previstas na MP nº 790/2017, apresentando alterações conceituais, estruturais e
procedimentais. As principais alterações serão detalhadas nas seções a seguir.
O art. 5 do novo Regulamento explicita que fazem parte da atividade de mineração “a pesquisa,
a lavra, o beneficiamento, a comercialização dos minérios, o aproveitamento de rejeitos e
estéreis e o fechamento da mina”. Ficando o titular expressamente obrigado a executar o plano
de fechamento de mina antes da extinção do Título Minerário.
Segundo o parágrafo 3º do referido artigo, o fechamento de mina pode incluir, entre outros
aspectos, a recuperação ambiental da área degradada pela atividade, a desmobilização das
instalações e dos equipamentos que componham a infraestrutura do empreendimento, a aptidão
e o propósito da área para usos futuros e o monitoramento e o acompanhamento dos sistemas
de disposição de rejeitos e estéreis, da estabilidade geotécnica das áreas mineradas e das áreas
de servidão, do comportamento do aquífero e da drenagem das águas.
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O art. 9 que trata da pesquisa mineral e da execução dos trabalhos necessários à definição da
jazida, estabelece, no 4º parágrafo, a classificação de uma reserva mineral em recursos inferido,
indicado e medido. Ainda, as reservas podem ser classificadas em provável e provada, conforme
será definido em Resolução porvindoura da ANM, necessariamente com base em padrões
internacionalmente aceitos de declaração de resultados.
O prazo de validade do Alvará de Pesquisa não será inferior a um ano, nem superior a três anos.
Sendo admitida uma única prorrogação por até igual período, exceto nas hipóteses de
impedimento de acesso à área de pesquisa ou de falta de assentimento ou de licença do órgão
ambiental competente, desde que o titular demonstre por meio de documentos comprobatórios
que:
Como condição para outorga da Concessão de Lavra, o requerente terá duas obrigações relativas
à comprovação do licenciamento ambiental do empreendimento:
(i) Poderá ser emitida apenas uma vez, até a Concessão de Lavra;
(ii) O prazo de validade será de 1 a 3 anos, a depender da substância mineral;
(iii) Será admitida apenas uma prorrogação, por até igual período.
Demais particularidades para emissão de GU ainda serão definidos nos termos de Resolução
porvindoura da ANM.
Foram criadas as sanções administrativas, até então inexistentes, relacionadas aos trabalhos de
pesquisa ou extração mineral sem título autorizativo ou em desacordo com o título obtido (multa
de R$ 3.293,90 e advertência).
O Decreto 9.406 conceitua a área livre em seu art. 8º, podendo resumir esse conceito como área
não onerada por um título minerário, requerimento prioritário ou não sujeita à declaração de
disponibilidade.
A apresentação intempestiva do Relatório Final de Pesquisa positivo não mais tornará a área
livre, a área continuará onerada até que seja colocada em disponibilidade pela ANM.
A área desonerada e aquela decorrente de qualquer forma de extinção do direito minerário será
disponibilizada a interessados, por meio de critérios objetivos de seleção e julgamento, a serem
definidos em Resolução porvindoura pela ANM.
Com vistas a avaliar o potencial de atratividade da área para leilão eletrônico, a ANM poderá
realizar oferta pública prévia. A identidade e quantidade dos interessados será sigilosa. Não
havendo interessados, a área ficará livre. Havendo apenas 1 interessado, ele será notificado para
transformar sua manifestação de interesse em requerimento de título minerário. Caso haja
vários interessados, a área será disponibilizada, dentro dos critérios definidos pela ANM.
A ANM ficou obrigada a definir, em até 180 dias após sua instalação, prazos para tramitação
dos processos minerários. É esperado que sejam criados mecanismos para a redução do tempo
de tramitação.
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A metodologia utilizada para realizar o presente estudo consistiu em realizar uma revisão
bibliográfica sobre os vários temas relacionados à mineração, em especial sobre a legislação
minerária brasileira e suas recentes atualizações. A segunda etapa caracterizou-se pela coleta
de dados, a qual foi realizada para obter números e estatísticas da ANM, extraídos do sistema
Cadastro Mineiro e relacionados ao setor mineral.
De acordo com a metodologia exposta, foi possível analisar as principais atualizações trazidas
pelo Decreto nº 9.406. Essas mudanças implicam em novos trâmites processuais, novos
conceitos, criação de novas sanções, taxas, dentre outros. E a partir dessa análise, foi estimado
um possível impacto no setor mineral.
O novo Regulamento inclui o fechamento de mina como uma etapa da atividade de mineração
e determina que o Plano de Aproveitamento Econômico (PAE) deverá comtemplar
necessariamente o plano de fechamento de mina, incluindo sua implantação, o gerenciamento
e o posterior monitoramento das ações implantadas.
A suspensão temporária da lavra é tratada no item 20.3 das NRMs, segundo o subitem 20.2.3
que trata de generalidades da suspensão, do fechamento de mina e da retomada das operações
mineiras. Ambas elas não podem ser efetivadas sem prévia comunicação e autorização do órgão
competente.
• A Transparência exige que o leitor de uma Declaração Pública seja provido com informações
suficientes, cuja apresentação deve ser clara e sem ambiguidades, para que compreenda o
relatório e não seja enganado.
• A Materialidade exige que uma Declaração Pública contenha todas as informações relevantes
que investidores e seus consultores possam vir a solicitar e que possam razoavelmente esperar
encontrar em uma Declaração Pública, para fazer um julgamento equilibrado e fundamentado
a respeito dos Resultados de Exploração, Recursos Minerais e Reservas Minerais declaradas.
37
Transparência
Apresentação clara
e sem
ambiguidades
Materialidade Competência
Todas as Baseado no
informações trabalho de um
razoáveis Profissional
esperadas Qualificado
A Consulta Pública nº 8/2018 foi publicada no dia 27 de novembro de 2018, com a minuta de
ato normativo para instituir e normatizar o Sistema Brasileiro de Certificação de Reservas e
Recursos Minerais, disciplinando a classificação de reservas minerais, de acordo com o
parágrafo 4º do art. 9º do Decreto 9.406, ficando disponível por um prazo de 30 dias para
receber contribuições e debater impactos gerados pelo novo dispositivo. Porém a ANM ainda
definirá em Resolução porvindoura como serão adotadas essas práticas internacionais
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Fato é que para se conseguir alcançar esses padrões internacionais, trabalhos de pesquisa
complexos são requeridos, devendo ser realizados por um Profissional Qualificado pelo comitê
internacional e, por isso, representam custo elevado. As grandes empresas de mineração já
adotam esse padrão de declaração de resultados para atrair a confiança de investidores, porém
a exigência de realização de trabalhos com alto custo pode inviabilizar a atividade para
empresas de pequeno e médio porte. Uma possibilidade pode ser a criação de exceções para
substâncias de cubagem mais simples e valor agregado menor como as de uso imediato na
construção civil, que, geralmente, são caracterizadas como empreendimentos de pequeno e
médio porte.
A inclusão da possibilidade de aprovação do Relatório Final de Pesquisa sem que seja realizada
vistoria in loco é um procedimento que irá diminuir o tempo de tramitação dos processos
minerários, visto que muitas vezes há ausência de servidores para realizar essas vistorias,
atrasando o andamento e gerando um passivo processual. Por outro lado, a realização da vistoria
é de extrema necessidade para que se possa comprovar a realização dos trabalhos de pesquisa,
evitando a possibilidade de fraude na elaboração do RFP, e critérios e procedimentos rígidos
para a verificação da exatidão das informações contidas no RFP devem ser adotados, para que
se possa aprová-lo sem vistoria in loco.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, o conceito de uma atividade de mineração mais
sustentável tem se tornado uma necessidade e um dos principais impactos associados à
atividade é a disposição adequada dos rejeitos gerados. O aproveitamento desses rejeitos pode
contribuir de forma significativa para a redução de material estocado, principalmente em
barragens de rejeito, contribuindo, assim, para a redução do passivo socioambiental.
Com o desenvolvimento de novas tecnologias, a explotação de material depositado em
barragens de rejeito pode se tornar economicamente viável, tendo o potencial de gerar
resultados econômicos para o minerador e trazer lucro para o Estado através de recolhimento
da CFEM e da redução do passivo socioambiental.
Muitas vezes, os trabalhos de pesquisa não são realizados dentro do tempo permitido pelo
Alvará, seja por complexidade da pesquisa para determinados minerais, principalmente
minerais metálicos, seja por impedimento de acesso à área pelo superficiário ou por falta de
assentimento ou de licença do órgão ambiental competente, necessitando assim de prorrogação
de prazo. O Gráfico 3 mostra a quantidade de Alvarás de Pesquisa publicados no DOU no
período de janeiro de 2002 a 31 de maio de 2019.
40
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano
A obrigação expressa do titular executar o plano de fechamento de mina para extinção do título
minerário é um grande avanço, principalmente do ponto de vista socioambiental, visto que
atualmente há um grande passivo decorrente da atividade de mineração em minas abandonadas
sem o correto fechamento.
O Requerimento de Lavra é a fase mais demorada durante o trâmite do processo minerário até
a Concessão de Lavra. Após a apresentação do PAE e quando feita sua análise, o requerente
tem o prazo de 60 dias para o cumprimento das exigências técnicas que podem ser feitas para
42
melhor instrução do requerimento e para comprovar o ingresso no órgão competente com vistas
ao licenciamento ambiental.
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Como a ANM ainda não disciplinou em Resolução qual será o prazo para trâmites de processos
minerários, uma possível alternativa para que o empreendimento não pare sua operação seria a
garantia de prioridade na análise do Requerimento de Lavra em casos que o requerente já opere
com a Guia de Utilização.
44
A ANM ainda estabelecerá em Resolução porvindoura os termos para que a lavra conduzida
fora do PAE aprovado seja considerada como ambiciosa. Porém, verificou-se a inclusão da
sanção de caducidade, fato que implica na extinção do título, no caso de reincidência da prática
de lavra ambiciosa, sendo dispensada a necessidade de advertência anterior.
O número de servidores nas gerências regionais da ANM é, certamente, insuficiente para que o
trabalho administrativo e de fiscalização em campo seja realizado dentro de um prazo aceitável,
e a morosidade dos procedimentos realizados pela agência é, atualmente, grande
4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Levando em conta que as atividades de mineração no país são regidas pelo disposto no Código
de Mineração de 1967 e que depois de mais de 50 anos após a publicação desse Decreto, havia
um descompasso tanto em relação ao novo modelo institucional de agência reguladora após a
criação da ANM, quanto do ponto de vista tecnológico. Com o passar dessas décadas, muitas
inovações foram incorporadas às atividades de mineração a fim de aprimorar seu desempenho,
aumentar a produtividade e proporcionar maior segurança aos trabalhadores, que não eram
contempladas pelo Código de 1967.
Ao longo das últimas décadas, a legislação já vinha sendo alterada por meio de Leis, Decretos,
Portarias e Instruções Normativas, porém essas transformações tornaram complexo o
acompanhamento dos dispositivos legais, e assim como a Constituição Federal, o Código de
Mineração se transformou em uma “colcha de retalhos”. Tornou-se necessário, então, a
definição de um instrumento que incorporasse o novo modelo da ANM, os avanços
tecnológicos disponíveis no setor e que unificasse a legislação mineral brasileira. Daí, em 13
de junho de 2018. foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto nº 9.406, estabelecendo
uma nova regulamentação e operacionalização do Código de Mineração. O referido Decreto
apresentou novos conceitos relativos à mineração e novos trâmites em relação aos processos
minerários, ora listados e analisados neste trabalho.
Uma importante alteração foi a introdução do fechamento de mina como parte da atividade
mineral, fato que expressa a obrigatoriedade de execução do plano de fechamento antes da
extinção do título. O correto fechamento de mina, e uso futuro adequado da área são de grande
importância, para a redução do passivo que é deixado após o fim da atividade de mineração
para o meio ambiente e para a sociedade.
O aproveitamento de rejeito, estéril e resíduos de mineração foi abordado pela primeira vez na
legislação no Decreto nº 9.406, e em um momento muito propício, visto que há uma grande
quantidade de barragens de rejeito de mineração com potencial para serem aproveitadas
economicamente. Essas estruturas que geram grande insegurança para a sociedade ao serem
lavradas, gerarão receita para empresas e para o Estado através do recolhimento da CFEM, além
de deixarem de ser um passivo ambiental de responsabilidade do minerador.
Um ponto muito importante do Decreto nº 9.406 é a definição de prazo para a tramitação dos
processos minerários na ANM. Os procedimentos relacionados à agência são conhecidos por
sua morosidade, e a fixação de prazo para tramitação de processos pode impactar num maior
número de títulos autorizativos emitidos, provocando assim um aquecimento da economia.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Decreto nº 9.406, de 12 de junho de 2018. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 13 jun 2018. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9406.htm>. Acesso em:
01 mai 2019.
BRASIL. Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 mar 1990. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8001.HTM#anexo>. Acesso em: 01 mai 2019.