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All content following this page was uploaded by Mario Jorge Figueira Confort on 25 June 2021.
Endereço2: Av. Rio Branco, 65 – Centro – Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20090-004 – Brasil
Tel. +55 (21) 2112-8100. e-mail: mariojfc@anp.gov.br / mconfort@gmail.com
RESUMO
Palavras-chave: Gás. Gás Natural. Estocagem Subterrânea de Gás Natural. Estocagem de Gás
Natural. Subsolo. Recursos Minerais. Jazidas. Monopólio da União. Autorização. Concessão.
1
DSc., Engo Químico e Especialista em Regulação da ANP, mariojfc@anp.gov.br.
2
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP.
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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo discutir os regimes de outorga para a estocagem
subterrânea ou geológica de gás natural sob o ponto de vista técnico-jurídico. A estocagem de gás
natural é realizada em uma série de países e pode ser definida como uma atividade ou tecnologia
empregada para equilibrar a oferta de gás natural às demandas variáveis e, para tal, faz uso de
formações geológicas naturais do subsolo, capazes de armazenar volumes da ordem de 108-109
m³. São importantes em nações da América do Norte e Europa, ocorrendo principalmente em
reservatórios depletados de petróleo ou gás, em aquíferos e em cavidades salinas (INT, 2005;
MOTHÉ, CONFORT, 2013; TEK, 1996).
Apesar de o Brasil ainda não contar com sítios de estocagens operacionais, as principais
motivações para sua implantação residem na sazonalidade do consumo de gás para geração de
energia termoelétrica e no reforço à infraestrutura da indústria de gás. A literatura nacional sobre
o tema já vem apontando a importância da estocagem subterrânea e, de fato, desde o final do ano
de 2015, já existe um projeto autorizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) ainda a ser implantado na região de Camaçari/BA. No Brasil, a
estocagem geológica de gás natural é regida principalmente pela Lei nº 11.909/2009, a “Lei do
Gás” – que conferiu ao tema detalhamento inédito em nível legal, sendo que o exercício dessa
atividade pode se dar por meio de concessão ou autorização, conforme o caso.
Dado que o falta de clareza quanto à aplicação dos regimes de outorga de autorização e concessão,
cada qual com suas características próprias de relação entre o Estado e agentes econômicos, causa
incertezas tanto para agentes econômicos interessados em investir em estocagem como para
instituições públicas responsáveis pelas aprovações necessárias à sua implantação, o presente
trabalho reúne informações provenientes de textos legais, constitucionais e infraconstitucionais
que tratam do uso do subsolo no Brasil, além de informações técnicas relacionadas à filosofia de
funcionamento da estocagem de gás natural visando à minimização de conflitos de entendimento
existentes para a outorga e consequente implementação dessa infraestrutura, que demanda
vultosos investimentos.
Para o presente estudo, foram debatidas questões tais como: (i) se a formação geológica que
armazena gás se configura como jazida ou riqueza do subsolo; (ii) se a estocagem seria objeto do
Direito Minerário; (iii) se a atividade estaria incluída no monopólio da União, conforme art. 177
da CF; e (iv) como esses aspectos se relacionam ao regime de outorga da atividade de estocagem,
tendo em vista, inclusive, os marcos legais já vigentes para a indústria de petróleo e gás.
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2. METODOLOGIA
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Quando reservas e mercados são separados por distâncias intercontinentais, a ligação se dá por navios
metaneiros, que transportam o gás natural na sua forma liquefeita (GNL).
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distribuição por dutos, monopólios naturais clássicos da economia, são fortemente regulados de
forma a se buscar o uso destas infraestruturas pelo maior número possível de usuários e incentivar,
concomitantemente, o investimento em expansões. Ademais, devido à baixa densidade energética
do gás, há consideráveis dificuldades para sua movimentação e estocagem a custos razoáveis.
A estocagem de gás pode ocorrer em diversas localidades da cadeia, do upstream ao downstream,
e, diferentemente da movimentação, não é parte obrigatória da logística do gás, embora seja de
imperiosa relevância, podendo ser realizada, por exemplo, em tanques que o armazenam na forma
líquida (GNL). Porém, a categoria de estocagem que serve eminentemente à função de equilíbrio
da oferta com a demanda, devido às suas consideráveis capacidades, é a subterrânea ou geológica.
Neste caso, o gás é armazenado em formações geológicas naturalmente aptas à atividade, como
os reservatórios porosos – que podem ser campos exauridos ou depletados de petróleo/gás ou
aquíferos – ou em formações geológicas naturais salinas em que o espaço para confinamento é
construído pela lixiviação do sal. Enquanto reservatórios porosos são adequadas ao ajuste sazonal
de diferentes demandas ao longo das diversas estações do ano, as cavidades salinas são
empregadas no atendimento a picos de consumo. As estocagens podem ainda servir para atenuar
as variações dos campos de produção de gás ou óleo ou para evitar dimensionamento excessivo
de gasodutos e, quando desenvolvidas em campos em depleção, podem produzir óleo como
resultado da pressão fornecida ao reservatório ou do arraste de hidrocarbonetos nativos.
O investimento em um sítio de estocagem se inicia pela exploração ou pesquisa de estruturas
capazes de confinar volumes economicamente viáveis, o que inclui análises sísmicas e a
perfuração de poços exploratórios. Em seguida, o campo é desenvolvido por meio da injeção do
gás de base4 e da construção das instalações de superfície e subsuperfície (INT, 2005). Importante
mencionar que são etapas semelhantes às fases iniciais de exploração e desenvolvimento de
campos para produção. Por fim, a etapa principal da implantação de uma estocagem subterrânea
é a operação que, a princípio, possui duração indeterminada e agrega a um país uma capacidade
de estocagem que dificilmente retrocede (CONFORT, 2006, 2015).
Em sua fase operacional, a estocagem confere a um determinado sistema gasista flexibilidade e
maior capacidade de movimentação. Em comparação à indústria de petróleo e de combustíveis
líquidos, o armazenamento geológico e sua relação com as redes de gasodutos de transporte é
semelhante, por exemplo, aos terminais associados a oleodutos de transporte.
4
O gás de base ou cushion gas é o volume responsável por fornecer pressão ao reservatório de estocagem
para que se atinjam as pressões requeridas para uma determinada taxa de entrega requerida pelo mercado.
Ele pode ser constituído de gás nativo do reservatório ou pode ser adquirido. O volume efetivamente
movimentado é o gás útil ou gás de trabalho (working gas).
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4. AS CARTAS MAGNAS DO BRASIL E O SUBSOLO
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Definidas pela Lei Calógeras como “as massas mineraes ou fosseis existentes no interior ou na superfície
da terra, incluindo, entre elas, a hulha, o grafhito, os lignitos e os oleos mineraes”
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brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras6 (art. 176,§1º). Por fim, a CF de 1988
constitucionalizou o monopólio estatal das seguintes atividades que, nos termos da Lei nº
2.004/1953, já eram monopólio da União: (I) “a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás
natural e outros hidrocarbonetos fluidos”, (II) “a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro”;
(III) “a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades
previstas nos incisos anteriores”; e (IV) “o transporte marítimo do petróleo bruto de origem
nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por
meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem”7(BRASIL,
1946, 1953, 1967a, 1988).
As principais normas infraconstitucionais que regulamentam os artigos 176 e 177 da CF de 1988
são as do Direito Minerário e as do Direito do Petróleo e Gás, apresentadas na Seção 5.
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Antes da Emenda Constitucional nº 06/1995, a realização de pesquisa e lavra de recursos minerais era
permitida apenas a brasileiros e a empresas brasileiras de capital nacional.
7
A Emenda Constitucional nº 09/1995 permitiu à União contratar com empresas estatais ou privadas a
realização dessas atividades, flexibilizando o monopólio antes exercido somente pela Petrobras.
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A Medida Provisória nº 791, de 25 de julho de 2017 criou a Agência Nacional de Mineração (ANM) e
extinguiu o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A ANM herdou as funções e
competências do DNPM.
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obrigado a empreender as pesquisas em 60 dias e não pode interrompê-las injustificadamente por
mais de 3 meses consecutivos ou 120 dias, sob pena de sanção administrativa. Além disso, é
obrigatória a elaboração de relatório dos trabalhos realizados e seu envio ao DNPM que, após
conferi-lo, emite parecer de aprovação em caso de confirmação da jazida (arts. 29 e 30). O titular
de relatório aprovado tem até um ano para requerer a concessão de lavra (art.31), entendida como
o conjunto de operações coordenadas para aproveitamento da jazida (art. 36). O requerimento de
lavra deve ser encaminhado ao Ministro de Minas e Energia (MME) acompanhado, dentre outras
informações, de descrição da substância mineral a ser lavrada, plano de aproveitamento
econômico da jazida e comprovação da capacidade financeira da empresa (art. 38). O titular da
concessão é obrigado a iniciar os trabalhos previstos no plano de lavra dentro de 6 meses, contados
a partir da publicação do Decreto de Concessão no Diário Oficial da União, não podendo
interrompê-los por mais de 6 meses consecutivos e deve apresentar relatório anual das atividades
realizadas ao DNPM (arts. 49 e 50). Por fim, a não observância da obrigações decorrentes das
autorizações de pesquisa e das concessões de lavra prevê sanções, tais como multas9, suspensão
das atividades ou apreensão de equipamentos (art. 63) (BRASIL, 1967).
É nítido no Direito Minerário que a autorização nele contemplada não é mero ato administrativo
unilateral e precário, bem como a concessão não é ato que se materializa mediante contrato entre
as partes. À exceção dos seus objetos (pesquisa e lavra), não se observam diferenças notáveis
entre a autorização e a concessão. Ao contrário: ambas são outorgadas mediante atos do poder
outorgante e estabelecem uma série de obrigações, descritas ao longo do Decreto-Lei nº 227/1967.
9
As multas podem chegar a 30 milhões de reais, conforme redação dada pela MP 790/2017.
287
O Capítulo VI da “Lei do Petróleo” estabeleceu que a construção e a operação de refinarias,
unidades de processamento, de liquefação, de regaseificação e de estocagem de gás natural estava
sujeita a autorização da ANP (art. 53). Finalmente, a lei determinou, em seu Capítulo VII, que
empresas ou consórcio de empresas poderiam receber autorização da ANP para construir
instalações – tais como dutos e terminais – para efetuar qualquer modalidade de transporte10 para
suprimento interno, importação e exportação (BRASIL, 1997).
A Lei nº 9.478/1997, apesar de ter sido um dos mais importantes marcos legais da indústria de
petróleo e gás natural do Brasil, foi considerada insuficiente para lidar com as especificidades da
indústria de gás natural, especialmente as do setor de transporte. Desta forma, após debates no
Congresso Nacional, foi editada, em 04 de março de 2009, a Lei nº 11.909/2009, a “Lei do Gás”.
Dentre as principais inovações trazidas pelo novo marco legal, estavam a adoção do regime de
concessão, precedido de licitação, como regra geral para a construção e operação de gasodutos de
transporte e a definição das modalidades de serviços de transporte que poderiam ser oferecidas,
dentre outros dispositivos.
A Lei nº 11.909/2009 também inovou ao reservar um capítulo inteiro à atividade de estocagem
de gás. Nos termos do Capítulo IV da Lei, a estocagem em “reservatórios de hidrocarbonetos
devolvidos à União e em outras formações geológicas não produtoras de hidrocarboneto” passou
a ser objeto de “concessão de uso, precedida de licitação na modalidade de concorrência, nos
termos do §1º do art. 22 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993” (art. 38). Nesse contexto,
caberia ao MME ou, mediante delegação, à ANP a definição das formações geológicas a serem
objeto de licitação. A lei previu ainda período de uso exclusivo da estocagem por agentes cuja
contratação de capacidade viessem a viabilizar sua implementação, cabendo ao MME, ouvida a
ANP, fixar a duração deste período. Pesquisas exploratórias para a confirmação da adequação de
áreas com potencial para a estocagem passaram a depender de autorização da ANP (art.39, §1º)
e, por fim, o regime autorizativo também passou a ser aplicável a “estocagem de gás natural em
instalação diferente das previstas no art. 38”. A “Lei do Gás” não explicitou com clareza quais
instalações são objeto de autorização.
10
Nas décadas de 2000 e 2010, outras leis foram editadas e alteraram alguns pontos da “Lei do Petróleo”.
Por exemplo, a Lei 12.490/2011 incluiu o transporte de biocombustíveis, tais como etanol e biodiesel, no
arcabouço regulatório da ANP, que passou a ser responsável também pela autorização de dutos e terminais
de movimentação exclusiva desses produtos, além dos que já eram regulados, tais como petróleo, seus
derivados e gás natural.
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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A ESTOCAGEM, O SUBSOLO, O MONOPÓLIO E
OS REGIMES DE OUTORGA
Nesta Seção, foram consolidadas as relações entre a estocagem de gás e os aspectos técnicos e
legais apresentados nas seções anteriores referentes especialmente ao Direito Constitucional, ao
Direito Minerário e ao Direito do Petróleo e Gás para fins de melhor compreensão dos regimes
de outorga aplicáveis à atividade. Primeiramente, é importante entender sua relação com a questão
constitucional da propriedade do subsolo (Subseção 6.1) e com as atividades integrantes do
monopólio da União a que se referem o art. 177 (Subseção 6.2). Por fim, com base nas análises
efetuadas, são apresentadas considerações acerca dos regimes de outorga da estocagem (6.3).
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forma, é possível inferir que a “Lei do Petróleo” considerou que o “reservatório ou depósito” é a
“formação natural” à qual a definição de estocagem se refere, por possuir “configuração geológica
dotada de propriedades específicas, armazenadoras de gás”. No entanto, não são plenamente
sólidas as bases dessa linha de raciocínio, haja vista que o legislador que concebeu a Lei nº
9.478/1997 deixou claro que o foco da inovação legal eram as atividades de exploração e
produção, às quais foi dedicada a boa parte da Lei. À estocagem de gás, por outro lado, além da
definição já citada, foi dispensada apenas uma única menção relativa à necessidade de outorga de
autorização da ANP para sua implantação. Ao lado de refinarias de petróleo e unidades de
processamento de gás natural, instalações com praticamente nenhuma relação com a estocagem,
essa menção leva a crer que o legislador se referia ao armazenamento em tanques.
A edição da Lei nº 11.909 em 2009, no entanto, alterou substancialmente essa visão ao estabelecer
uma série de dispositivos para a estocagem que tornava indubitavelmente claro que o novo marco
legal para o gás contemplava a modalidade geológica ou subterrânea da atividade. A nova lei, ao
definir “estocagem de gás” como “armazenamento de gás natural em reservatórios naturais ou
artificiais”, trouxe ao arcabouço jurídico nacional elementos para conferir, ao “reservatório ou
depósito” da “Lei do Petróleo”, o papel de “estrutura armazenadora” como função principal
adicional alternativa à função principal de “estrutura produtora”.
A combinação do Decreto-Lei nº 227/1967, da Lei nº 9.478/1997 e da Lei nº 11.909/2009 permite
entender um “reservatório natural”, no qual pode ser exercida a estocagem, como uma categoria
de “recurso mineral” com “configuração geológica dotada de propriedades específicas,
armazenadora de gás”. Interessante observar que, se para a “Lei do Petróleo” a caracterização do
“reservatório ou depósito” como “armazenador de gás” é uma situação apenas do presente
(armazenador de gás nativo), após a edição da “Lei do Gás”, a caracterização do “reservatório ou
depósito” como “armazenador de gás” passou a ser também uma situação futura (armazenador de
gás a ser injetado na fase operacional da estocagem, quando ocorrerá o aproveitamento comercial
do reservatório).
Por fim, a leitura combinada dos marcos legais principais do Direito Minerário e do Direito do
Petróleo e Gás permitem considerar a formação ou reservatório tecnicamente apto à estocagem
de gás natural como “jazida” ou “massa individualizada de recursos minerais com valor
econômico” (art.4º do Decreto-Lei 227/1967), valor este provido não pelos recursos a serem
produzidos, mas pela capacidade de estocar gás desses recursos.
Dentre as atividades elencadas como monopólio da União no art. 177 da Constituição Federal,
não está explícita a estocagem subterrânea ou geológica de gás natural, o que se justifica pelo fato
290
de praticamente não ter havido, até o final da década de 1980, debates públicos que permitissem
ao legislador constituinte conhecê-la a ponto de redigir o termo ispi litteris na Carta Magna. A
ausência literal, no entanto, não necessariamente atesta que a estocagem está excluída do rol de
atividades ou instalações integrantes do monopólio da União, como se pode depreender a partir
do que ocorre com os terminais de armazenagem e movimentação de petróleo e derivados.
Embora não esteja mencionada no artigo que trata das atividades que constituem monopólio da
União, a atividade de operação de terminais realiza: (i) a movimentação ou armazenamento de
petróleo ou derivados provenientes de condutos ou com destino a esses conduto; a (ii) importação
ou (iii) exportação de petróleo ou derivados de origem estrangeira; e (iv) a cabotagem –
movimentação em modal aquaviário ao longo da costa brasileira – de navios com derivados de
petróleo. Como todas estas atividades – importação, exportação, transporte marítimo e transporte
por meio de conduto – estão explicitamente mencionadas nos incisos III e IV do art. 177, não
faria sentido em se considerar suprimidas do monopólio a construção e operação de terminais,
instalações que constituem elo fundamental entre as atividades integrantes do monopólio da
União ou meio sem o qual essas atividades não seriam realizadas. Não por coincidência, a
construção e operação de terminais, bem como o acesso de terceiros a essas instalações, estão
disciplinados na “Lei do Petróleo” no mesmo Capítulo VII (“Do Transporte de Petróleo, seus
Derivados e Gás Natural”) que trata da construção e operação, bem como do acesso, a oleodutos
de transporte.
A estocagem, por sua vez, dentre outras funções, serve como instrumento de fortalecimento às
redes de gasodutos de transporte nas nações onde estão consolidadas e, em diversas localidades
como a Espanha, são vistas como parte integrante do sistema gasista. Se existissem no Brasil e
também fossem consideradas como constituintes do sistema de transporte de gás por conduto, não
restariam dúvidas de que o monopólio da União sobre o exercício da atividade de estocagem
encontraria alicerce no inciso IV do art. 177, o qual estabelece como monopólio o “transporte,
por meio de conduto, de gás natural de qualquer origem”. No entanto, esse raciocínio por si só
talvez pudesse, por exemplo, lançar a estocagem na esfera de monopólio dos estados11 de que
trata o art. 25, §2º, caso ela viesse a se configurar como parte das redes de distribuição.
No entanto, aliada à possibilidade de sua operação servir a outras atividades integrantes do
monopólio federal da indústria de petróleo e gás natural, o que inseriria as estocagens subterrâneas
de gás natural brasileiras, de forma categórica, no elenco de atividades sob o monopólio da União,
seria o fato de toda estocagem subterrânea contemplar a etapa de pesquisa – atividade abarcada
explicitamente no inciso I do art. 177 da CF de 1988. Adicionalmente, corroboram para esse
11
CF de 1988, art. 25, § 2º. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços
locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.
291
entendimento a já mencionada possibilidade de haver produção de hidrocarbonetos em sítios de
estocagem, atividade também constante do art. 177, inc. I, e o aproveitamento de jazidas de gás
natural já existentes como gás de base.
292
estabelece uma série de obrigações ao autorizatário durante o período de vigência do ato
administrativo, semelhante à concessão para a fase de lavra.
No exercício da estocagem no Brasil, nos termos do art. 39 da “Lei do Gás”, além do disposto no
seu art. 40, a autorização é o regime que rege a realização de pesquisas não exclusivas necessárias
à confirmação da adequação das áreas com potencial para estocagem, sendo esta a única hipótese
em que não se exige nenhuma obrigação ou comprometimento do autorizatário ou do outorgante,
no caso a ANP, nem a existência de contrato de concessão já firmado. Já para a operação efetiva
da estocagem, conforme exposto, há sempre a presença do regime de concessão, mesma
denominação do meio pelo qual o Estado outorga a agentes econômicos a lavra de jazidas.
Em um primeiro momento, poder-se-ia imaginar analogia entre aplicação dos regimes de
autorização para pesquisas e de concessão para armazenamento/lavra estabelecidos para a
estocagem pela Lei nº 11.909/2009 (arts. 38 a 40) e para as jazidas pelo Decreto-Lei nº 227/1967.
No entanto, autorização e concessão no Direito Minerário, pelas numerosas obrigatoriedades e
pela dispensa de assinatura de contratos, não podem ser confundidas com os regimes de
autorização e concessão do Direito do Petróleo e Gás, cujos sentidos são os do Direito
Administrativo (FREIRE, 2007). Além disso, ao contrário do que ocorre no Direito Minerário,
todas as atividades da indústria de petróleo e gás sob o regime de concessão são precedidas de
licitação.
Por fim, o regime puramente autorizativo do Direito Administrativo, no qual o autorizatário não
é vinculado à obrigação de realizar o investimento, só é aplicável, além da realização de pesquisas
exploratórias não exclusivas, para a construção e operação de estocagens não subterrâneas ou
geológicas, tais como, por exemplo, tancagens.
7. CONCLUSÕES
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Lei nº 227/1967 não se sobrepôs aos regramentos estabelecidos para jazidas de petróleo e o gás
natural, monopólios legais desde a Lei nº 2.004/1953 e constitucionais desde 1988.
Constatou-se que a estocagem subterrânea de gás natural, atividade inédita no país, é integrante
do monopólio da União de que trata o art. 177 da CF. Mesmo não sendo explícita na Carta a
menção à atividade, ela reúne características ao longo de seu ciclo de vida, como por exemplo a
etapa de exploração, que a atrelam indubitavelmente às atividades do monopólio.
A estocagem subterrânea ou geológica é uma forma de aproveitamento econômico das estruturas
do subsolo, cujo recurso mineral adquire valor por meio do retorno financeiro do armazenamento
de gás, conferindo a essa massa de substâncias minerais a característica de jazida. Importante
destacar que a mais importante inovação trazida pela estocagem geológica ao conceito de jazida
é a inesgotabilidade, tendo em vista que a atividade é não extrativista.
Conclui-se ainda que as leis ordinárias que tratam ou trataram da atividade de estocagem não
admitiram à modalidade subterrânea o aproveitamento sob regime de ato puramente precário,
mantendo, dessa forma, uma longa tradição de relação baseada em obrigações e
comprometimentos mútuos entre o Estado brasileiro e os agentes econômicos para
aproveitamento do subsolo.
Por fim, constatou-se que, quando se trata de pesquisas e armazenamento/lavra, não há analogia
entre os regimes de autorização e concessão do Direito Minerário e da “Lei do Gás” para a
estocagem, pois apenas para este último, e para as demais atividades da indústria de petróleo e
gás, esses regimes admitem o sentido preconizado no Direito Administrativo.
REFERÊNCIAS
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Federativa do Brasil (DOU), Brasília, 07/08/1997. Seção 1, p. 16925-16932.
BRASIL (2009). Lei nº 11.909, de 04/03/2009. “Lei do Gás”. DOU, Brasília, 05/03/2009. Seção
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218, p. 102, Seção 1, de 16/11/2015, mediante o qual foi tornado público que a ANP aprovou
o Plano de Desenvolvimento e projeto de Estocagem Subterrânea de Gás Natural (Contrato de
Concessão nº 48000.003692/97-80), da Santana O&G.
CONFORT, M.J.F. (2006). Estocagem Geológica de Gás Natural e seus Aspectos Técnicos e
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MOTHÉ, C.G.; CONFORT, M.J.F. (2013). Panorama e Perspectivas da Estocagem Geológica
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