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Pontos importantes da distribuição de derivados de petróleo no Brasil.

O estudo da cadeia logística do petróleo no Brasil, um país de dimensão quase


continental, é uma atividade muito difícil e trabalhosa. A aventura envolve entender
questões geográficas, comerciais, financeiras, ambientais, políticas e diversas outras
que erguem um muro entre o entendimento da matéria e a aplicação das soluções no
terreno da realidade.

O objetivo de partida do artigo em referência é criar uma ferramenta, através de


um sistema de informação geográfica, que consiga dar suporte aos operadores de
logística para encontrar e direcionar as soluções na área para o transporte de petróleo
e seus derivados em todo o Brasil.

Ora, antes de elaborar uma solução, precisa-se levantar o diagnóstico. Os


alunos de Engenharia de Produção em Ouro Preto, Minas Gerais, tiveram a ideia de
fazer todo o mapeamento da cadeia de transporte logísticico do petróleo, tomando em
consideração, toda a atividade realizada no upstream e no downstream. Note-se que o
downstream engloba as atividades de exploração e produção do petróleo, enquanto o
upstream engloba as atividades de aquisição, armazenagem, comercialização e
distribuição. Portanto, o mapeamento dessa logística busca uma varredura em todas
os pontos estacionários e de transporte da cadeia. Estamos falando de mapear a
importação e produção das plataformas, como os pontos estacionários como os
terminais de armazenagem, refinarias, bases primárias e secundárias, indústrias
petroquímicas. Já os transportes da cadeia são as malhas rodoviárias, ferroviárias,
dutoviárias e rotas de cabotagem.

O mapeamento consistiu em registrar 14 refinarias, 72 terminais, 60 bases


primárias e secundárias para gás liquefeito de petróleo, 115 bases para gasolina,
diesel, querosene de aviação e óleo combustível, 1588 registros de malha rodoviárias,
718 registros de malhas ferroviárias, 54 registros de dutovias e 165 registros de
malhas de cabotagem e hidrovia.

A importância desse trabalho é apresentar, em um sistema, a totalidade de toda


a cadeia logística, para que o operador logístico, consiga ter uma noção aproximada
da malha estacionária e de transporte do petróleo no Brasil. Em tese, um operador na
posse desses dados, consegue entender e estudar todas as particularidades do
transporte do petróleo. Com esses dados, é possível adequar e escolher os melhores
modais para o transporte e configurar a cadeia logística com eficiência.
Um pequeno exemplo citado pelos estudantes, é a concentração de refinarias
na região sudeste e sul do Brasil. Quase todo o refino (cerca de 87%) é feito nessas
regiões, e o transporte para as outras regiões é operado via transporte rodoviário ou
por cabotagem. É evidente que refinarias localizadas além do Sudeste seria muito
adequado ao caso brasileiro, evitando grandes custos logísticos e facilitando o acesso
do produto acabado para essas regiões.

Outro ponto muito criticado, é a incipiente malha dutoviária brasileira. Em


comparação com grandes países movimentadores de petróleo como os EUA e a
Rússia, a malha brasileira é muito insuficiente. Enquanto os Estados Unidos possuem
uma malha de 322.000km e a Rússia de 62.000km, o Brasil possui apenas 5.000km.

Notar na imagem de 2005, muitos projetos estavam em estudo, entretanto,


praticamente nenhum deles saiu do papel, como podemos ver no mapa atual
dutoviário brasileiro:
Esses pontos destacados são os mais evidentes para uma análise superficial
da malha logística nacional. A falta de gasodutos, amplia o uso de modais mais caros
e com menor eficiência de transporte para longas distâncias como o rodoviário e o
ferroviário. O investimento em gasodutos é colossal e gera impacto ambiental, porém
o seu benefício é inestimável. Se o Brasil conseguir transportar grandes quantidades
de combustível para qualquer região do país de forma eficiente e barata, e
manufaturar produtos acabados nessas regiões, o ganho de desenvolvimento
econômico e social seria gigantesco em todo o território nacional.

O trabalho dos estudantes vai ainda além da falta de malha dutoviária. Outras
análises menos óbvias podem ser realizadas, como a verificação de quanto cada
modal representa em cada rota da cadeia. Eles perceberam problemas como a
quantidade excessiva de bases de distribuição e a falta de planejamento na escolha
dos modais para o transporte na distribuição. Estes problemas específicos geram
custos logísticos demasiados e uma evidente falta de eficácia.

A aplicação do modelo apresentado nesse trabalho trás muitos ganhos na


exploração do pré-sal. Os principais campos de exploração ficam a 300km de
distância da costa, o que exigirá uma competência ímpar na alocação de recursos, na
definição dos transportes do produto bruto para as plantas e refinarias e na engenharia
desenvolvida para garantir a tecnologia necessária para o deslocamento dos produtos.
Um grande exemplo é o gasoduto Lula-Mexilhão foi colocado em operação em 19 de
setembro de 2019 e tem 216km de extensão e é o gasoduto com maior profundidade
submarina já instalado no Brasil. O duto exigiu um avanço complexo de engenharia e
ciência de material, devido as altas pressões que está submetido.

Como a capacidade dutoviária não tem escala suficiente para transportar todo
o volume produzido nas plataformas, os navios petroleiros são essenciais para a
logística. Além deles, toda a configuração logística deve ser estudada e condicionada
para a melhor eficiência. Todo esse mapeamento deve ser feito, a fim de entender
quais os principais métodos logísticos, as características dos modais envolvidos e a
relação de transporte e disponibilidade, as questões de localização e escoamento do
petróleo em terra.

O volume produzido pelo pré-sal é gigante, e a possibilidade de encontrar-se


novas áreas e a aumentar a escala de produção é real. Então, toda a questão logística
deve ser tratada com a maior gravidade possível, utilizando-se dos melhores meios de
gestão disponíveis, incluindo o SIG. Além disso, os recursos necessários são
altíssimos e o risco envolvido também, por isso o conhecimento e mapeamento de
todas as informações da cadeia são fundamentais para se avançar nessa área.

DIEGO CARVALHO FLORENTINO

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