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João, o Apóstolo

 Nota: Ver também João, o Evangelista e João de Patmos para outras tradições ligadas


a São João. Para outros significados, veja São João.

São João, o Apóstolo[1]

Detalhe de uma peça-de-altar do século XVI com São


João segurando um cálice envenenado (o veneno é
simbolizado pelo dragão), uma das muitas tradições
relacionadas a ele.

Apóstolo

Nascimento Betsaida, Judeia, Império Romano 


c. 6

Morte Éfeso, Ásia, Império Romano 


c. 100 (94 anos)

Festa litúrgica 27 de dezembro na Igreja Católica


26 de setembro na Igreja Ortodoxa
Atribuições Livro; serpente num cálice; caldeirão;
águia

Padroeiro Amor; lealdade; amizade; autores;


livreiros; queimados; envenenados;
comerciantes de obras de arte; editores;
fabricantes de papel; escribas;
acadêmicos; teólogos

 Portal dos Santos

João, o Apóstolo (em aramaico: ‫;ܝܘܚܢܢ ܫܠܝܚܐ‬ romaniz.: Yohanan Shliha;


em hebraico: ‫;יוחנן בן זבדי‬ romaniz.: Yohanan Ben Zavdai; latim e grego
koiné: Ioannes; c. 6 ─ c. 100[2]) foi um dos doze apóstolos de Jesus segundo o Novo
Testamento, filho de Zebedeu e Salomé e irmão de Tiago, outro apóstolo. A tradição cristã
acredita que ele teria sobrevivido aos demais apóstolos e teria sido o único a não sofrer
o martírio. Os Padres da Igreja consideram que ele era a mesma pessoa que João
Evangelista (autor do Evangelho de João), João de Patmos (autor do Apocalipse) e o
"discípulo amado" citado por Jesus, uma crença seguida ainda hoje por
diversas denominações cristãs, incluindo a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.

Evangelista
Ver artigo principal: João Evangelista

A tradição católica afirma que João é o autor do Evangelho de João e de quatro outros


livros do Novo Testamento — as três Epístolas de João e o Apocalipse. No Evangelho, a
autoria é internamente creditada ao "discípulo amado" (em grego clássico: ὁ μαθητὴς ὃν
ἠγάπα ὁ Ἰησοῦς; romaniz.: o mathētēs on ēgapa o Iēsous) em João 20:2[3] e João 21:24 afirma
que o Evangelho de João é baseado no testemunho escrito do "discípulo amado". A
autoria da literatura joanina tem sido debatida desde o ano 200[4][5] e sempre houve dúvidas
se o houve de fato um indivíduo de nome "João" que escreveu todos estes livros. Seja
como for, existe a noção de um "João Evangelista" e geralmente acredita-se que ele é o
apóstolo João.
Em sua "História Eclesiástica", Eusébio afirma que a Primeira Epístola de João e
o Evangelho de João são amplamente creditados a ele. Porém, ele menciona que o
consenso é que a segunda e a terceira epístolas de João não seriam dele e sim de um
outro João. Além disso, ele se esforça para firmar ao leitor de que não um consenso geral
sobre as "revelações de João", uma obra que, atualmente, acredita-se que só possa ser o
"Apocalipse" (também chamado de "Revelações").[6] O Evangelho de João é
consideravelmente diferente dos evangelhos sinóticos, provavelmente escritos muito antes
dele. Os bispos da Ásia Menor teriam supostamente pedido que João escrevesse seu
evangelho para enfrentarem os ebionitas, que defendiam que Cristo não teria
existido antes de Maria. João provavelmente conhecia e certamente aprovava os
evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, mas estes relatavam a vida de Jesus focando
primordialmente nos eventos posteriores à prisão e morte de João Batista.[7] Por volta de
600, porém, Sofrônio de Jerusalém percebeu que "duas epístolas atribuídas a ele... são
consideradas por alguns como sendo obra de um certo João, o Velho" e, depois de afirmar
que o Apocalipse é obra de João de Patmos, ele teria sido "posteriormente traduzido
por Justino Mártir e Ireneu",[8] supostamente numa tentativa de reconciliar a tradição com
as óbvias diferenças estilísticas no grego.
Até o século XIX, a autoria do Evangelho de João era universalmente atribuída ao apóstolo
João. Porém, a maior parte dos biblistas modernos tem dúvidas.[9][10] Alguns concordam em
datar a obra em algum momento entre 65 e 85.[11] John Robinson propõe uma primeira
edição entre 50 e 55 e uma outra, final, em 65, com base em similaridades com os escritos
de Paulo[12]:pp.284,307. Outros estudiosos afirmam que o Evangelho de João teria sido composto
em dois ou até três estágios[13]:p.43. Há ainda os que defendem que ele não teria sido escrito
até o terço final do século I, determinando a data mais antiga possível como algo entre 75
e 80.[14] Finalmente, há os que defendem uma data ainda mais tardia, talvez na última
década do século I ou mesmo o início do século seguinte. [15]
Ainda assim, atualmente, muitos teólogos continuam a aceitar a autoria tradicional. Colin
G. Kruse afirma que, como João Evangelista foi consistentemente citado nas obras dos
primeiros Padres da Igreja, "é difícil ignorar esta conclusão, apesar da ampla relutância em
aceitar [a autoria] por muitos, mas de forma alguma todos, os estudiosos modernos".[16]
A autoria anônima tem muitos defensores.[17][18][19][20][21][22][23][24][25] Segundo Paul N. Anderson,
ele "contém mais reivindicações diretas de testemunho direto do que qualquer outra
tradição evangélica".[26] F. F. Bruce argumenta que João 19:35 contém uma "enfática e
explícita reivindicação de autoridade testemunhal direta".[27] Bart D. Ehrman, porém, não
acredita que as reivindicações evangélicas tenham sido escritas por testemunhas diretas
dos eventos relatados.[19][28][29]
Porém, João 21 termina (no versículo 24) com uma declaração explícita que unifica o autor
("João Evangelista") e a testemunha ("João, o Apóstolo"), na forma de um artifício literário
de esconder ou adiar a descoberta do misterioso "outro discípulo", o "discípulo amado" e
"este homem", as primeiras duas formas utilizadas múltiplas vezes durante o relato:

“ «Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e


sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.» (João 21:24) ”
Apocalipse
João de Patmos escrevendo o Apocalipse. No alto à direita, a Besta. Muitas tradições cristãs
identificam este João como sendo o João Apóstolo e o João Evangelista.

Ver artigo principal: Autoria dos trabalhos de João

O autor do Apocalipse (chamado também de "Revelações") identifica-se como "João"


em Apocalipse 1.[30] O escritor do início do século II, Justino Mártir, foi o primeiro a afirmar
que ele seria a mesma pessoa que "João, o Apóstolo", [31] porém, alguns estudiosos
atualmente afirmam que os dois seriam pessoas distintas. [9][32]
João, o Presbítero, uma figura obscura do cristianismo primitivo, tem sido identificado
como sendo o receptor das visões do Apocalipse por autores como Eusébio[33] e São
Jerônimo.[34][35]
Acredita-se que João teria sido exilado para a ilha grega de Patmos durante
as perseguições do imperador Domiciano. O autor afirma ter escrito o livro ali: «Eu João,
vosso irmão e companheiro na tribulação, no reino e na paciência em Jesus, estive na ilha
que se chama Pátmos, por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de
Jesus.» (Apocalipse 1:9) Adela Yarbro Collins, uma biblista na Universidade de Teologia
de Yale, afirma que:

Tradições antigas afirmam que João foi banido para Patmos pelas autoridades
“ romanas. Esta tradição é crível por que o banimento era uma punição comum
durante o período imperial para diversas ofensas. Entre elas estavam a prática

da magia e da astrologia. Profecias eram vistas pelos romanos como sendo
todas de uma categoria só, pagãs, judaicas ou cristãs. Profecias com
implicações políticas, como as de João no Apocalipse, teriam sido percebidas
como ameaças à ordem e ao poderio romano. Três das ilhas
nas Espórades eram destinos comuns de ofensores banidos [36][37]

Alguns críticos levantaram a possibilidade que João, o Apóstolo, João, o Evangelista, e


João de Patmos sejam três pessoas diferentes.[38] Segundo eles, João de Patmos teria
escrito o Apocalipse apenas e não as epístolas e nem o Evangelho. Em primeiro lugar,
argumentam, o seu autor se identifica como sendo "João" diversas vezes, enquanto o
autor do Evangelho jamais o faz. Alguns estudiosos católicos afirmam
que "vocabulário, gramática e estilo fazem com que seja duvidoso que o livro tenha sido
apresentado na forma atual pela mesma pessoa responsável pelo quarto evangelho".[39]
Referências a João no Novo Testamento

Jesus chamando os "filhos do trovão", São João e São Tiago.


1510. Por Marco Basaiti, atualmente na Accademia de Veneza.

Cena do Calvário, com São João, Maria e Santa Maria Madalena aos pés da cruz, uma das imagens
mais conhecidas de João, o Apóstolo.
Séc. XIX. Por Joseph Ernst Tunner, na igreja de Sant'Antonio Nuovo, em Trieste, Itália.

Filhos do trovão
João, o Apóstolo, era filho de Zebedeu e irmão mais novo de Tiago, filho de
Zebedeu (tradicionalmente chamado de São Tiago Maior). Segundo a tradição, sua mãe
era Salomé, uma conclusão obtida ao se comparar Mateus 27:56 com Marcos 15:40.
Zebedeu e seus filhos eram pescadores do mar da Galileia e os irmãos foram primeiro
discípulos de João Batista. Jesus chamou então Pedro, André e os dois para segui-lo.
Jesus os chamava de "boanerges" ("filhos do trovão")[10] uma referência ao fato que, apesar
de ambos terem sido descritos como sendo calmos e gentis, os irmãos, quando levados ao
limite, tornavam-se selvagens e barulhentos, o que os fazia se defender como uma
tempestade: uma das histórias do evangelho conta como os irmãos queriam chamar o
fogo dos céus contra uma cidade samaritana, mas Jesus os admoestou (Lucas 9:51–56).
Ainda segundo a tradição, João teria vivido mais de meio século depois da morte de Tiago,
que teria sido o primeiro apóstolo a ser martirizado.

Outras referências
Pedro, Tiago e João foram as únicas testemunhas da ressurreição da filha de Jairo.[40] O
três foram também as testemunhas da Transfiguração e da Agonia no Horto.[41] João foi o
discípulo que relatou a Jesus que eles haviam proibido um não-discípulo de expulsar
demônios em nome de Jesus, o que resultou numa de suas mais famosas
frases: «[...]:Não lho proibais; pois quem não é contra vós, é por vós.» (João 9:50)
Jesus enviou apenas João e Pedro a Jerusalém para os preparativos finais para a ceia
pascal (a Última Ceia). Durante a ceia, o "discípulo amado" sentou-se perto de Jesus e,
como era o costume que as pessoas se deitassem em sofás durante as refeições, este
discípulo se apoiou em Jesus.[41] A tradição identifica-o como sendo São João (João 13:23–
25). Depois da prisão de Jesus, Pedro e "o outro discípulo" (segundo a Santa Tradição)
seguiram-no até a casa de Caifás, o sumo-sacerdote.[41]
Apenas João, entre todos os apóstolos, ficou aos pés de Jesus no Calvário, juntamente
com várias mulheres; seguindo uma instrução do próprio Jesus na cruz, João tomou Maria,
sua mãe, sob seus cuidados (João 19:25–27). Depois da Ascensão e da vinda do Espírito
Santo no Pentecostes, João, juntamente com Pedro, teve um papel fundamental na
fundação e no direcionamento da nascente igreja cristã. Ele estava com Pedro na cura do
aleijado no Pórtico de Salomão do Templo (Atos 3) e foi preso com ele (Atos 4). Em Atos
8:14, ambos foram visitar convertidos na Samaria.
Apesar de permanecer na Judeia e imediações, os outros apóstolos retornaram a
Jerusalém para o Concílio Apostólico (c. 51). Paulo, opondo-se explicitamente aos seus
inimigos na Galácia, relembrou que João, explicitamente, juntamente com Pedro e Tiago, o
Justo, eram chamados de "Pilares da Igreja" e fez referência ao reconhecimento de que
sua pregação apostólica de um evangelho livre da lei judaica foi recebida dos três, os mais
proeminentes membros da comunidade messiânica em Jerusalém. [40]

O discípulo que Jesus amava


Ver artigo principal: Discípulo amado

A frase "discípulo que Jesus amava" (em grego: ὁ μαθητὴς ὃν ἠγάπα ὁ


Ἰησοῦς; romaniz.: ho mathētēs hon ēgapā ho Iēsous) ou, em João 2:, o "discípulo amado"
(em grego: ὃν ἐφίλει ὁ Ἰησοῦς; romaniz.: hon ephilei ho Iēsous) foi utilizada cinco vezes no
Evangelho de João,[42] mas nenhuma outra vez em nenhum dos demais evangelhos do
Novo Testamento. Em Lucas 24:12, por exemplo, Pedro corre sozinho até o túmulo.
Marcos, Mateus e Lucas não mencionam nenhum apóstolo testemunhando a crucificação.

Tradições extra-bíblicas
A Bíblia não informa sobre a duração das atividades de João na Judeia. Segundo a
tradição, ele e outros apóstolos permaneceram por cerca de doze anos na região, até que
a perseguição de Herodes Agripa I levou à dispersão dos apóstolos por todas
as províncias romanas (Atos 12:1–17).
Uma comunidade messiânica existia em Éfeso antes das primeiras obras de Paulo na
região (Atos 18:27) junto com Priscila e Áquila. Esta comunidade era liderada por Apolo
(citado em I Coríntios 1:12), todos discípulos de João Batista convertidos por Áquila e
Priscila.[43] Segundo a tradição, depois da Assunção de Maria, João seguiu para Éfeso, de
onde escreveu as três epístolas atribuídas a si. Foi depois banido pelas autoridades
romanas para a ilha grega de Patmos, onde, segundo a tradição, escreveu o Apocalipse.
Segundo Tertuliano, João foi banido (supostamente para Patmos) depois de ter sido
lançado em óleo quente em Roma e ter escapado ileso (vide San Giovanni in Oleo), um
milagre que teria convertido todos os presentes no Coliseu.
Já em idade avançada, João treinou Policarpo, que depois tornar-se-ia bispo de Esmirna,
um evento muito importante pois ele levaria a mensagem de João para as gerações
futuras. Policarpo, por sua vez, ensinou Ireneu, passando para ele as histórias sobre João.
Em "Contra Heresias", Ireneu relata que Policarpo teria lhe contado o seguinte evento:

João, o discípulo do Senhor, foi banhar-se em Éfeso e, tendo


“ percebido Cerinto no local, correu para fora das termas sem se banhar
gritando "Fujamos antes que as termas desmoronem pois Cerinto, o inimigo da

verdade, está lá".[44]

Tradicionalmente também, acredita-se que João era o mais jovem dos apóstolos e teria
sobrevivido a todos eles, vivendo muitos anos até morrer em Éfeso por volta do ano 100
d.C., depois da ascensão do imperador romano Trajano ao trono em 98 d.C.[2][45]
Um relato alternativo da morte de João, atribuído por escritores cristãos posteriores ao
bispo do início do século II, Papias de Hierápolis, afirma que ele teria sido assassinado
pelos judeus[a][b]. A maior parte dos estudiosos de João duvidam da credibilidade desta
atribuição a Papias, mas uma minoria, incluindo B.W. Bacon, Martin Hengel e Henry
Barclay Swete, defende que estas referências são verdadeiras. [48][49] Zahn argumenta que
esta referência seria, na verdade, a João Batista.[45]
Ícone de São João com São Prócoro, um diácono que teria sido seu discípulo em Éfeso, ditando
o Evangelho de João, uma das tradições não-bíblicas sobre São João.
Estátua de São João segurando um cálice.
Por Adolphe-Victor Geoffroy-Dechaume, no Museu de Cluny, em Paris.

Acredita-se, também tradicionalmente, que o túmulo de João esteja localizado em Selçuk,


uma pequena cidade vizinha de Éfeso[50]
Na arte, João, o autor presumido do Evangelho, é geralmente representado com uma
águia, que simboliza a altura que ele atingiu com seu Evangelho. [10] Em ícones ortodoxos,
ele geralmente aparece olhando para o céu e ditando seu Evangelho (ou o Apocalipse)
para seu discípulo, tradicionalmente chamado de Prócoro.

Comemoração litúrgica
A festa litúrgica de São João na Igreja Católica, que o chama de de "São João, Apóstolo e
Evangelista", na Comunhão Anglicana e nos calendários luteranos, que o chamam de
"João, Apóstolo e Evangelista", é em 27 de dezembro. No Calendário Tridentino, ele era
comemorado também nos dias seguintes até (e incluindo) 3 de janeiro, a oitava da festa de
27 de dezembro, que foi abolida pelo papa Pio XII em 1955. Sua cor litúrgica tradicional é
branca.
Até 1960, outra festa aparecia no Calendário Geral Romano, a de "São João na Porta
Latina", em 6 de maio, celebrando uma tradição recontada por São Jerônimo segundo a
qual São João teria sido levado a Roma durante o reinado de Domiciano e atirado num
caldeirão de óleo fervente, do qual emergiu milagrosamente ileso. Uma igreja (San
Giovanni a Porta Latina e o oratório de San Giovanni in Oleo) foram construídos perto
da Porta Latina, o local tradicional deste evento. [51]
A Igreja Ortodoxa e as Igrejas Católicas Orientais de rito bizantino comemoram o
"Repouso do Santo Apóstolo e Evangelista João, o Teólogo" em 26 de setembro. Em 8 de
maio, celebra-se a festa do Santo Apóstolo e Evangelista João, o Teólogo".

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