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Símbolos Sagrados

O Crucifixo de São Damião,


e a iconografia cristã.
ICONOGRAFIA:
Bens culturais da Igreja de Jesus Cristo.
Diante das invasões bárbaras
dos primeiros séculos DC, o
império romano veio abaixo. A
única instituição que
permaneceu de pé foi a Igreja
Católica, que iniciou a árdua
tarefa de evangelizar uma
massa humana, analfabeta,
violenta e pagã. Não muito
diferente da realidade anterior,
mas agora com possibilidade
de efeitos mais devastadores.
As pregações do Evangelho foram a
principal fonte de conversão, com
efeito, desde logo a iconografia
ajudou a produzir o milagre de gerar
a cristandade e a civilização
ocidental num arco de tempo de mais
ou menos mil anos. As pessoas
ouviam a Palavra e viam a Palavra
nos ícones e nos vitrais das
Catedrais, Igrejas e Capelas.
Contemplavam a história da Salvação Catedral de Notre Dame – Paris - França.
diante de si. A Catedral de Notre
Dame, por exemplo, é considerada
um “Catecismo de pedra”; suas
esculturas, pinturas e seus vitrais
ensinam as verdades da doutrina
católica, especialmente para quem
não saiba ler e escrever. Como disse
Victor Hugo, é uma “Bíblia de
Pedra”. Essa realidade atinge todas as
Catedrais Medievais.
“Também a imagem
é pregação
evangélica. Os
artistas de todos os
tempos apresentaram
à contemplação e à
admiração dos fiéis
os fatos salientes do
mistério da salvação,
no esplendor da cor e
na perfeição da
beleza.
Indício de que, hoje mais do que nunca, na época da imagem, a imagem
sagrada pode exprimir muito mais que a palavra, pois é muito mais eficaz o
seu dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem evangélica”
Cardeal Ratzinger em Março de 2005 – Hoje Papa Emérito Bento XVI
“O ícone de Cristo Pantocrator (que,
em grego, significa “aquele que tem
poder sobre tudo”), de rara beleza
artística, traz à mente a palavra do
Salmista: “Tu és o mais belo dos
homens, nos teus lábios se espalha a
graça” (SI 45,3). São João
Crisóstomo, aplicando esse louvor
ao Senhor Jesus, escrevia: “O Cristo
estava na flor da idade, no vigor do
Espírito e nele resplandecia uma
dupla beleza, a da alma e a do
corpo” (PG 52, 479).

TEÓFANES DE CRETA (1546),


Ícone de Cristo, Mosteiro
Stavronikita (Monte Athos).
Com sua linguagem figurativa,
este ícone constitui a síntese dos
primeiros concílios ecumênicos,
conseguindo representar tanto o
esplendor da humanidade como o
fulgor da divindade de Jesus. O
Cristo está revestido de uma
túnica vermelha, coberta com um
manto azul escuro. As duas cores
recordam sua dupla natureza,
enquanto os reflexos dourados
remetem à pessoa divina do
Verbo. Do ombro direito desce
uma estola dourada, símbolo do
seu sacerdócio eterno.
O rosto, majestoso e sereno,
emoldurado por uma abundante
cabeleira e circundado por uma auréola
em forma de cruz, traz o trigrama “O
ON” (“Aquele que é”), que remete à
revelação do nome de Deus em Ex
3,14. No alto, aos lados do ícone, estão
os dois dígrafos: “IC – XC” (“lesus” –
“Christus”), que constituem o título da
imagem. A mão direita, com o polegar
e o anular dobrados a ponto de tocar-se
(a indicar a dupla natureza de Cristo na
unidade da pessoa), aparece no típico
gesto de bênção. A mão esquerda, ao
contrário, sustenta o livro do
Evangelho, ornamentado por três
fechos e por pérolas e pedras preciosas.
O Evangelho, símbolo e síntese da
Palavra de Deus, tem também um
significado litúrgico, dado que na
celebração eucarística se lê um de
seus trechos e se recitam as próprias
palavras de Jesus na consagração. A
imagem, síntese sublime de dados
naturais e simbólicos, é um convite à
contemplação e ao seguimento.
Ainda hoje Jesus, por meio da
Igreja, sua esposa e seu corpo
místico, continua a abençoar a
humanidade e a iluminá-la com seu
Evangelho, o autêntico livro da
verdade, da felicidade e da salvação
do homem.
Fonte: catecismobr.wordpress.com/2015/01/22/a-iconografia-crista-e-pregacao-evangelica/
O Crucifixo que falou
a São Francisco de Assis.
Foi deste crucifixo que o jovem
Francisco ouviu a frase:
“Francisco, vai e reconstrói a
minha Igreja.”
O fato aconteceu na igrejinha de
São Damião, que se encontrava
abandonada e em ruínas, desde
aquele momento Francisco
decide restaurá-la e contou com a
ajuda de seus amigos para isso.
Devido à sua fundamental
importância para a vida e
conversão de São Francisco de
Assis, o “Crucifixo de São
Damião” é considerado um dos
principais símbolos da família
Franciscana.

Claustro do convento de São Damião.


Assis – Itália.
O Crucifixo original de
São Damião está
guardado com grande
zelo pelas irmãs
Clarissas, na Basílica
de Santa Clara de
Imagens interior e exterior da Basílica
Assis, e é visitado por de Santa Clara em Assis.
estudiosos, devotos e
turistas do mundo todo.
É um monumento
histórico franciscano e
universal.
Sem o pedestal, o Crucifixo
original mede: 2,1 metros de
altura e 1,3 metro de largura.
A pintura foi feita em tela tosca,
colada sobre madeira de nogueira.
Naquele tempo, nas pequenas
igrejas, o Santíssimo não era
conservado, isto é, a Eucaristia
não era guardada mas, consumida
no dia. Por isso, supõe-se que
Crucifixo foi pendurado no ábside
sobre o altar da capela, no centro
da Igreja, representando a
presença de Jesus Cristo.
Provavelmente o Crucifixo permaneceu
na Igreja de São Damião até que as
Irmãs Pobres, em 1257, o levaram
consigo à nova Basílica de Santa Clara.
Guardaram-no no interior do coro
monástico por diversos séculos. No ano
de 1938, a artista Rosária Alliano
restaurou o Crucifixo com grande
perícia, protegendo-o inclusive contra
qualquer deterioração.
Desde 1958 ele está sobre o altar, ao
lado da capela do Santíssimo, na
Basílica de Santa Clara, protegido por
vidro.
Descrição detalhada da pintura

Descobre-se, à primeira vista, a


figura central do Cristo, que
domina o quadro pela sua
imponente dimensão e pela luz
que sua esplêndida figura difunde
sobre todas as pessoas que o
circundam e que estão todas
vivamente voltadas para Ele. Esta
luz vivificante que brota do
interior de sua Pessoa (Jo, 8,12)
fica ainda mais destacada pelas
fortes cores, especialmente o
vermelho e o preto.
Também impressiona este Cristo ereto sobre a cruz e não
pendurado nela, com os olhos abertos, olhando o mundo.
Apresenta ainda uma
auréola de glória com
a cruz triunfante
oriental em vez de
uma coroa de
espinhos, porque
tornou-se vitorioso na
paixão e na morte.
Aparecem os sinais de
crucificação e as
feridas sangrentas mas
o sangue redentor se
derrama sobre os anjos
e santos (sangue das
mãos e dos pés) e sobre
São João (sangue do
lado direito).
Cristo se apresenta
vivo, ressuscitado (Jo
12,32), de pé sobre o
sepulcro vazio e aberto
(indicado pela cor
preta), visível por trás.
Com as mãos
estendidas, Cristo está
para subir ao céu (Jo
12,32).
A inscrição acima da cabeça de
Cristo:
“Jesus Nazarenus Rex Judaeorum”
Jesus Nazareno Rei dos Judeus é
também própria do Evangelho de
João.

Sobre a inscrição, está a ascensão


em forma dinâmica, na figura do
Cristo ascendente, com o troféu da
cruz gloriosa na mão esquerda e
com a mão direita para a mão do
Pai, no céu.

Do alto, a mão direita do Pai acolhe


o seu Filho, circundado dos anjos
(e santos) na glória celeste.
As cores vermelha e
púrpura são símbolos do
divino;
o verde e o azul, do
terrestre.
Para “ver” bem o conjunto
da pintura, deve-se
realmente parar diante do
Crucifixo pois,
ordinariamente, olha-se a
imagem somente, de
longe, como “turistas”.
À direita do corpo de Cristo,
aparecem as figuras de Maria e
João, intimamente unidas,
enquanto Maria indica o discípulo
predileto com a mão direita (Jo
19,26). À esquerda, estão as duas
mulheres, Maria Madalena e
Maria de Cléofas, primeiras
testemunhas da ressurreição (Jo
19,25).

E, embora Maria, à direita e Maria


Madalena, à esquerda, ergam a
mão direita no rosto em sinal de
dor, nenhuma das outras pessoas
próximas, manifesta expressão de
sofrimento profundo mas uma
adesão cheia de fé ao Cristo
vitorioso, Salvador.
À direita das duas mulheres
vê-se o centurião com a mão
erguida, olhando para o
Crucifixo. Com esse gesto
está a dizer:
“Verdadeiramente este é o
Filho de Deus”.
Sobre os ombros do centurião
aparece a cabeça de uma
pessoa em miniatura, cuja
identidade se discute: poderia
ser o filho do centurião,
curado por Jesus (Jo 4,50) ou
um representante da multidão
ou ainda, o autor
desconhecido da pintura.
Aos pés de Maria e de
centurião, vê-se o soldado
chamado Longino que,
pela tradição, com a lança
traspassa o lado de Jesus e,
o portador da esponja,
chamado de Estepatão,
segundo a tradição (Jo
19,29). Ambos estão
voltados para o Crucifixo.
Debaixo das mãos de
Jesus, à direita e à
esquerda, encontram-
se dois anjos com as
mãos erguidas, em
intenso colóquio.
Parecem anunciar a
ressurreição e
ascensão do Senhor.
As duas pessoas, à
extrema direita e
esquerda, parecem
anjos ou talvez
mulheres que
acorrem ao
sepulcro vazio.
Aos pés de Jesus a pintura
original encontra-se muito
deteriorada. É provável que
seja: São Damião, São
Rufino, São João Batista, São
Pedro e São Paulo. Acima da
cabeça de São Pedro, está a
figura do galo (só visível na
pintura original), a lembrar a
negação de Pedro a Cristo (Jo
13,38; 18, 15-27).
As pessoas aos pés de Jesus
têm a cabeça erguida para o
alto, expressando a espera do
retorno glorioso do Senhor,
no juízo.
Deste Crucifixo
descrito em detalhes,
Francisco teve uma
inspiração “decisiva”
para a sua vida, diz
Caetano Esser.
Passamos a descrevê-la
porque é deste fato que
se originou a admiração
que hoje temos ao
Crucifixo de São
Damião.
O Crucifixo fala a Francisco.
O jovem Francisco encontrava-
se numa crise espiritual, cheio
de dúvidas e trevas. “Conduzido
pelo Espírito”, entra na
igrejinha de São Damião, onde
se prostra, súplice, diante do
Crucifixo. Tocado de modo
extraordinário pela graça divina,
encontra-se totalmente
transformado. É então que a
imagem de Cristo Crucificado
lhe fala: “Francisco, vai e repara
minha casa que está em ruína”.
Francisco fica cheio de
admiração e “quase perde os
sentidos diante destas
palavras”. Mas logo se dispõe a
cumprir esse “mandato” e se
entrega todo à obra,
reconstruindo a igrejinha.
Depois pede a um sacerdote,
dando-lhe dinheiro, que
providencie óleo e lamparina
para que a imagem do Crucifixo
não fique privada de luz, mas
em destaque naquele santuário.
A partir de então, nunca se
esqueceu de cuidar daquela
igrejinha e daquela imagem.
Francisco parecia intimamente
ferido de amor para o Cristo
Crucificado, participando da
paixão do Senhor, de quem já
trazia os estigmas no coração e
mais tarde, em 1224, receberia
as chagas do Cristo em seu
próprio corpo.
Segundo Santa Clara, esta visão
do Crucifixo foi um êxtase de
amor radiante e impulso
decisivo para a conversão de
Francisco.
Entre os estudiosos
ainda existe uma
dúvida a ser
esclarecida: ao ouvir o
Cristo do Crucifixo,
Francisco pensa na
igrejinha material de
São Damião. Mas nada
impede de se pensar
que se trata do “templo
de Cristo no coração de
Francisco e nos
corações dos homens”.
Oração a São Francisco de Assis diante do Crucifixo

Ó glorioso Deus altíssimo,


iluminai as trevas do meu
coração,
concedei-me uma fé
verdadeira,
uma esperança firme
e um amor perfeito.
Dai-me, Senhor,
o reto sentir e conhecer,
a fim de que possa cumprir
o sagrado encargo
que na verdade
acabais de dar-me.
Amém.

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