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06/12/2018 As catacumbas de Roma e a Igreja de Maria na Igreja Primitiva | Portal Conservador

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As catacumbas de Roma e a Igreja de Maria na Igreja Primitiva


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Faremos aqui uma pergunta que o leitor sem dúvida já se fez em relação ao culto dos santos.
Se o culto dos santos não é somente praticado, mas está liturgicamente organizado entre os
cristãos (primitivos), qual lugar eles concedem ao culto da Virgem Maria, a Rainha de todos os
santos? Ela ocupa um lugar que lhe convém na hierarquia celeste e na liturgia da Igreja
primitiva? Estariam eles fundamentados em razão das afirmações daqueles que pretendem que
o culto de hiperdulia e a representação simbólica da Virgem Maria, como Mãe de Deus, só
datam do concílio de Éfeso (431)?

Quanto às inscrições tumulares, elas não nos indicam nada sobre o culto de Maria, senão o
costume de colocar seu nome nos novos batizados. Fora isso, elas mantém um silêncio
completo sobre esse assunto. Não é difícil adivinhar a razão disso. O mistério da Encarnação
colocava necessariamente o culto da bem-aventurada Mãe de Deus no nível das doutrinas que
eram sabiamente subtraídas das blasfêmias dos pagãos, deixadas, consequentemente, no
santuário severamente envolto pela disciplina do segredo.

Portanto, não é nos monumentos inscritos que teremos que buscar o culto de Maria, mas nas
imagens simbólicas, tipos de hieróglifos dos quais somente os iniciados tinham a chave e o
sentido. Veremos neles a última evidência de que, mesmo sobre esse ponto, a Igreja atual é a
herdeira e a imitadora fiel da Igreja apostólica. As imagens da Virgem descobertas até hoje entre os monumentos da Igreja dos primeiros
séculos formam uma coleção considerável, e provam de forma evidente que Maria era objeto de um culto privilegiado e que lhe atribuíam
uma dignidade superior àquela dos demais santos.

Elas a representam de dois modos: Maria aparece ou sentada sobre um trono, carregando em seus braços o Infante divino, ou, de pé e na
atitude da oração, com as mãos elevadas para o céu; em outros termos, às vezes ela é representada como a gloriosa Mãe de Deus, às
vezes como a graciosa Mãe dos homens.

Entremos por um instante no cemitério de Priscila, que poderíamos chamar de a Catacumba de Maria, por causa das numerosas imagens e
pinturas que retraçam a vida da Santa Virgem. A construção das criptas mais antigas é devida à Santa Priscila, mãe do senador Pudens e
avó das santas virgens Praxedes e Pudentiana: elas datam consequentemente dos tempos apostólicos. Saindo da cripta central que se liga
à capela grega, percebe-se imediatamente, diante da entrada, no lugar de honra, na parte superior da abóbada, a Santa Virgem com o
Menino e os três reis que lhe trazem seus presentes.

Em uma câmara vizinha, também vemos, no centro da abóbada, uma nova cena: é a Anunciação mais antiga que se conhece até hoje. É,
sob mais de um ponto de vista, uma pintura de um valor inestimável. O Anjo aí é representado sem asas, como um rapaz. Ele fala com a
Virgem, que está sentada sobre uma cadeira: é por distinção que a representam assim. Em um terceiro cubiculum, entre outras cenas
simbólicas, aparece Maria sozinha com o Menino Jesus. Não longe desta escavação, um nicho tumular detém forçosamente o olhar. O mais
belo ornamento da abóbada é Maria e o Menino. A Santa Virgem está vestida com uma túnica que forma numerosas dobras e um manto;
ela tem a cabeça coberta por um véu, segundo o costume das noivas, ou das novas esposas, ou das virgens consagradas a Deus. Acima da
Virgem brilha a Estrela de Belém (esta estrela é reproduzida frequentemente nas imagens de Maria); diante dela aparece um jovem: ele é
Isaías, o profeta de Maria. Segundo o costume antigo, seu manto está arregaçado sobre o ombro; ele segura em sua mão esquerda um
manuscrito, enquanto que a direita mostra a Virgem Mãe de Deus, a grande luz que vai luzir por Israel (Isaías IX, 2; LX, 2, 19. Lc 1, 79). A
beleza da composição, uma nobreza e uma graça excepcionais espalhadas sobre as figuras, a liberdade de um pincel não menos vigoroso,
indicam uma pintura clássica e provam indubitavelmente, tanto pela topografia do cemitério e a simplicidade apostólica quanto pela forma
das inscrições, que este belo trabalho foi feito por volta dos anos 50 e 150 da era cristã, talvez mesmo sob os olhos dos Apóstolos.

Descrevemos, não obstante, apenas uma parte das pinturas em fresco que decoram essa cripta notável. Ao lado do grupo da Virgem, o
Bom Pastor conduz ao aprisco o cordeiro desgarrado; ele é seguido por uma ovelha e um bode. Essa é apenas metade do vão, a outra,
infelizmente, está destruída. Mas pinturas análogas em outras criptas permitem concluir que havia aí a imagem de Maria na atitude da
oração, e à qual o Bom Pastor vem presentear a ovelha encontrada. Esse grupo, frequentemente reproduzido nas Catacumbas, contém
essa profunda verdade católica: que Maria, Mãe de Deus, é ao mesmo tempo a Mãe dos homens, a nova Eva, o exemplo perfeito e a
elevada protetora da Igreja e da alma fiel.

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Enfim, em um terceiro grupo, que se divide entre os dois lados do arcosolium, aparece ainda uma vez, à direita, o profeta Isaías, indicando
com a mão os três personagens representados do outro lado: é a Santa Família, que se encontra no templo de Jerusalém, como indica a
idade do Menino Jesus. Maria e José estão mergulhados em um santo êxtase, na adoração e no arrebatamento diante do fato misterioso
que acaba de se cumprir, e mantém suas mãos elevadas. Uma pintura análoga, descoberta na Catacumba de Calisto, representando
também Jesus encontrado no templo, nos mostra, ao contrário, o divino Infante sozinho e na atitude mística do êxtase.

Pararemos aqui. De outra forma nos estenderíamos muito, se quiséssemos conduzir o leitor do mesmo modo aos demais cemitérios que
contém imagens da Santa Virgem. Repetimos que todas estas pinturas a representam ou como revestida da dignidade de Mãe de Deus ou
como investida do poder de intercessão. No primeiro caso, ela está ordinariamente cercada pelos três Magos, e esse número tradicional,
três, é digno de ser observado. Esse grupo deveria gerar, sobre os primeiros cristãos, uma impressão ainda mais profunda, visto que sua
vocação e os autores abençoados desta vocação, Jesus e Maria, eram representados de um modo mais vivo.

A ideia de intercessão é frequentemente anunciada por símbolos típicos. É assim que, nas Catacumbas dos Santos Pedro e Marcelino, a
Advogada celeste aparece acompanhada por dois homens, que sustentam seus braços estendidos para a oração, como outrora Arão e Hur
sustentaram os braços de Moisés sobre o monte Horeb. Eis o sentido desse belo paralelo alegórico: Sobre a montanha santa de Deus,
Maria eleva constantemente suas mãos em favor de Israel que combate sobre a terra; e, porque ela intercede, a vitória sobre Amalec,
sobre o paganismo perseguidor, se seguirá necessariamente. Há uma grande analogia entre essa pintura e um desenho gravado sobre um
fundo dourado que representa os príncipes dos Apóstolos, Pedro e Paulo, fazendo junto de Maria o serviço dos dois homens, ou seja, que
Maria permite que eles se juntem a ela enquanto ela intercede em favor da Igreja romana.

Não falaremos de uma pintura bem conhecida que representa a Virgem orando com o Menino, e que vemos na capela de Maria, no
cemitério de Santa Agnes. Mas não poderíamos deixar de falar sobre uma importante imagem que decora um antigo sarcófago cristão. À
esquerda, na parte superior, Deus, o Pai, está sentado sobre seu trono, enquanto que Deus, o Filho, Lhe apresenta o primeiro casal
humano novamente criado, e o Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, se apóia com a mão sobre o suporte do
trono: as três pessoas, perfeitamente semelhantes entre si, estão representadas como anciãos. Na parte inferior correspondente, a Mãe de
Deus está sentada sobre um trono no qual só falta um baldaquino para se parecer com o primeiro. O Espírito Santo, pela operação cujo a
Encarnação ocorreu, se apóia ainda no trono, enquanto que o Filho de Deus, sob a figura de uma criança, repousa sobre o seio de sua mãe
e recebe os presentes dos três Magos, que são as primícias da nova criação.

Somos forçados a nos privar da alegria de expor aqui os ricos detalhes contidos nessa cena, para dirigirmos nossa atenção para um tipo
especial de monumentos que são da maior importância na questão do culto de Maria: queremos falar dos cálices de ouro esmaltado, que
remontam ao terceiro e ao quarto séculos.

Com efeito, foram encontrados perto de quatrocentos fragmentos, ou de pequenos cálices cujo suporte é arredondado em um oval perfeito,
ou de crateras em ansas de uma dimensão maior: eles estavam na argamassa dos loculis. No fundo – e esta parte, graças à sua solidez, foi
conservada – o artista cristão adaptava uma folha de ouro e gravava nela suas inscrições, símbolos, cenas e figuras bíblicas; e, para
protegê-los, ele vertia sobre eles uma capa de vidro fundido. Eles se serviam destes cálices notáveis nos ágapes que ocorriam após as
solenidades do batismo, do casamento ou dos funerais, ou ainda nas festas públicas dos santos.

Daí provém seu elevado valor e sua importância para o assunto que nos ocupa.

Um grandiosíssimo número desses cálices contém a imagem da Santa Virgem em gesto de intercessão e com a inscrição MARIA. Por vezes
a Rainha do céu está ornada com o nimbo glorioso, distinção que deram inicialmente somente a Cristo, depois, no século terceiro, à Maria,
e nos séculos quinto e sexto, aos demais santos e aos anjos. De todos esses fatos o leitor julgará qual luz radiante é projetada sobre o
lugar privilegiado que foi reservado à Maria como Mãe de Deus e como Rainha dos anjos e dos santos, assim como sobre seu culto e sobre
a celebração de suas festas na Igreja primitiva.

Terminamos nossas pesquisas pela descrição de um cálice cuja pintura esmaltada nos fará entrar completamente na obscuridade
misteriosa da simbologia cristã dos primeiros séculos. No meio do fundo de ouro, percebe-se os dois príncipes dos apóstolos, Pedro e Paulo,
em torno dos quais se desenrolam as seguintes cenas: Vê-se o profeta de Maria, Isaías, reconhecível pelo sol que o resplandece e pelo
grande manuscrito onde ele inscreverá o misterioso nascimento do Emanuel. (Is. VII, 14; VIII, 7 e IX).

Ele considera com seu olhar profético e indica com o dedo a Santa Virgem, que, com os braços elevados para a oração, se mantém de pé
entre duas oliveiras, emblemas dos dois Testamentos, sempre verdes, ou seja, para sempre indestrutíveis. Ao lado da imagem de Maria se
posiciona uma representação mística da Crucificação de Jesus Cristo, sob a figura do profeta citado, que, nu, de pé e com os braços em
cruz, é dividido em duas partes por um serrote de madeira manejado por dois homens. Ora, “Isaías, diz Tertuliano, que profetizou Jesus
Cristo, morreu pela madeira”. Outros grupos se juntam ao próprio Salvador, seja para explicar, seja para completar a representação
simbólica.

Inicialmente, ele finca a estaca destinada à serpente de bronze deitada aos seus pés; depois, para simbolizar a fé, ele bate no rochedo de
onde jorra a água pura da doutrina; enfim, tocando-nos com sua vara, ele liberta os três rapazes da fornalha, figura da ressurreição Essas
três últimas cenas são a reprodução do texto evangélico de São João (III, 14-16). A cena inteira traça novamente todo o mistério da
Redenção, anunciado por Isaías, concluído por Maria, realizado por Jesus Cristo, enfim, pregado em toda verdade pelos príncipes dos
Apóstolos, ou seja, pela Igreja romana.

WOLTER, Dom Maurus. Les Catacombes de Rome et la doctrine catholique. Tradução de Robson Carvalho. Paris, G. Téqui, 1872.

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