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SEMINÁRIO PROVINCIAL SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Faculdade de Teologia
Mariologia – 2014/1
Con. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Álisson Alves de Almeida
20/03/2014

Maria e a Liturgia

Maria ocupa lugar de destaque na liturgia, tanto a romana quanto a oriental. As origens

do culto à Maria colocam em relevância a hinografia. Este já era um costume do povo hebreu

nas suas assembleias cultuais, o que conservou também Lucas em seu evangelho, por

exemplo, o Magnificat (1,46-55), o Benedictus (1,68-79) e o Nunc dimittis (2,29-32); verifica-

se ainda esta pratica no corpus paulinus, nas epístolas católicas e na revelação de João (Ap).

Uma primeira referência dos hinos compostos para celebrar Maria se faz às “Odes de

Salomão”, 42 hinos compostos como os Salmos que celebra hermeticamente a maternidade

virginal de Maria e ausência de dor no parto, diferente de Eva, bem como sua participação

ativa na encarnação do Verbo. Outra referência são os “Oráculos sibilinos”, uma paráfrase

livre e suave do anúncio de Gabriel a Maria (cf. Lc 1,26-38), com grande senso de veneração

para com a mãe de Jesus que, favorecida pela graça divina, conserva sua pureza e é capaz de

admirar-se, confundi-se, sorrir e decidir com coragem seu destino.

Outros fatores, além da hinografia, contribuem para entender as origens do culto a

Maria. Um deles é a “Homilia sobre a Páscoa” de Melitão que, segundo a tradição foi lida na

noite de 14 Nisã, quando se refletia sobre Ex 12 (instituição da páscoa judaica). Ele afirma de

Cristo que “se encarnou em uma virgem” para esclarecer o fato da encarnação sem a

intervenção viril. Este termo, no século II, toma, como especificidade, Maria, “a Virgem”,

diretamente a Mãe de Jesus com sentido de veneração e de admiração à mesma diante da

pródiga maternidade divina e virginal.


Também outro fator é a “Tradição apostólica” de Hipólito que menciona a virgem

por duas vezes na “anáfora eucarística”, mencionando o fato da encarnação de Cristo no seio

de uma virgem, tendo assim nascido do Espírito Santo e da Virgem. Este aspecto não tem

caráter apenas cultual, mas doutrinal, uma vez que Maria desempenha papel essencial na

economia da salvação e, por isso, é incluída no contexto de caráter cristológico. No “rito do

batismo”, Hipólito também refere-se ao nascimento de Cristo pelo Espírito e pela Virgem

Maria. Aqui podemos perceber que Maria não é inserida como mera referência, mas quer

indicar que a liturgia dominical e batismal são o espaço antigo e natural para a memória da

Virgem mãe, tanto no sentido eclesial como cristológico.

Seguem-se outros fatores como o “Protoevangelho de Tiago” ou “Natividade de

Maria” que, no seu todo, é uma resposta às calúnias sobre a concepção virginal de Jesus.

Também o Saltério em que, a igreja pré-nicena, lia alguns trecho sálmicos atribuindo-os à

Virgem. De grande importância é a tipologia mariana, tais como “Eva-Maria”, “Terra

virgem”, “Tálamo nupcial”, “Arca”, “Ramo de Jessé”, dentre outras. A arqueologia é, neste

sentido, outro fator para se entender o florescimento da piedade mariana; com suas

descobertas, de monumentos como catacumbas, igrejas, representações em geral, pode-se

perceber o conhecimento que os antigos tinham do papel de Maria na salvação. Enfim, a mais

antiga oração à Maria, “Sub tuum praesidium”. De grande relevância, mostra a maturidade da

fé pura da igreja egípcia.

Por fim, podemos entender que a existência de expressões de culto à bem-aventurada

Virgem Maria é dado incontestável. Contudo, não era intenção dos fiéis fazer dela uma deusa,

para eles, Maria de Nazaré, embora objeto dos favores divinos, é pura criatura, filha de

Abraão, simples mulher judia. Por isso, o culto cristão a ela é diferente do que se prestava às

deusas egípcias, porque as raízes são diferentes. É o Magnificat que nos mostra esta distinção,

uma vez que Maria celebra a vitória de Deus em sua vida.

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