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MARIA NA PATRÍSTICA – Aula V

Maria no Período Patrístico


PARTE I

O período patrístico inicia com a segunda metade do século I e se estende até o século VI, no
Ocidente, com Isidoro de Sevilha (c. 570-636), e o século VIII, no Oriente, com João Damasceno
(750). Os testemunhos, as cartas, os rituais, as doutrinas foram elaboradas, constituindo o tesouro
da fé cristã.

Os primeiros escritos patrísticos são contemporâneos a uma parte dos textos do Novo Testamento.
Eles mostram como a fé cristã foi plantada no coração dos discípulos de Jesus e transmitida aos seus
seguidores que assumiram seu projeto, difundiu-se até os confins do mundo.

No segundo período da Patrística o pensamento teológico sobre a Virgem Maria encontra-se


relacionado com a elaboração dos dogmas cristológicos. Seus protagonistas são Gregório de Nissa,
Gregório de Nazianzo, Basílio Magno, assim como: Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Cirilo
de Jerusalém.

No terceiro período da Patrística, a mariologia alcança seu auge com João Damasceno, Andréa de
Creta, Teodoro Estudita, Germano de Constantinopla e Epifânio, o Monge . Este último, inclusive
escreveu um tratado intitulado A Vida de Maria. Todos eles deram uma grande contribuição à
fundamentação dos quatro dogmas marianos.

1 Primeiro período da Patrística

1.1 Maria, Mãe de Jesus2

Na transição da tradição bíblica para a Patrística constata-se que nem o Novo Testamento nem os
escritos dos Padres da Igreja oferecem uma mariologia sistemática, mas apenas peças de mosaico
sobre pontos doutrinais individuais e sobre a figura de Maria, que o Evangelista Lucas delineara.

Nos primórdios do cristianismo, os testemunhos sobre a Virgem Maria no Novo Testamento e na


literatura apócrifa, como também a preeminência cristológica nas controvérsias teológicas tornaram
a figura de Maria um tema da Patrística. A posição dos Padres da Igreja expressou-se, sobretudo no
âmbito de outros temas, a serviço seja do ensinamento da fé (catequese), seja de sua defesa
(apologia) contra as várias heresias, principalmente contra o judaísmo e a gnose.

1.2 O surgimento das heresias

No século II, Valentin é o primeiro a adaptar as suas doutrinas tiradas da heresia gnóstica. Ele
afirmava que Cristo nasceu por meio de Maria e não de Maria. Na verdade os judeus inventaram
que a mãe de Jesus foi expulsa pelo carpinteiro por ter sido culpada de adultério com o soldado
chamado Pantera. A invenção desta lenda objetivou “negar a conceição milagrosa pelo Espírito
Santo”.
O primeiro livro do tratado de Ireneu de Lião, Contra as heresias mostra o contexto histórico e
religioso marcado por muitas controvérsias e proliferação das falsas doutrinas. Apesar de extensa, a
citação abaixo oferece uma ideia do desafio que os Padres da Igreja enfrentaram na elaboração da
cristologia e da mariologia da época.
As falsas doutrinas levaram a um gradual desenvolvimento da mariologia. Sobretudo os escritos dos
Padres Orientais oferecem uma ampla reflexão sobre a figura de Maria vista como Nova Eva. É
possível delinear a vida de Maria segundo três momentos: antes da encarnação do Verbo, a partir
da anunciação até a vida pública de seu Filho Jesus e durante o ministério público de Jesus Cristo.

Hipólito de Tebas, escritor grego, que viveu no final do século VII e inicio do século VIII, apresenta
uma cronologia exata sobre a vida de Maria, porém sem indicar as fontes. Assim relata:

A Santa Theotokos viveu, de fato, entre os homens, cinquenta e nove anos, que se dividem desta
forma: quatorze anos no templo, na casa de José quatro meses e no entanto foi evangelizada pelo
anjo; concebeu e deu a luz Nosso Senhor Jesus Cristo o dia 25 de dezembro, tinha em torno de
quinze anos; viveu trinta e três anos após a Encarnação de Nosso Senhor, e após a Assunção de
Nosso Senhor viveu com os discípulos na casa de João o Evangelista durante onze anos, total de
anos de sua vida foram cinquenta e nove anos.

No pensamento dos Padres Orientais, as temáticas abordadas sobre a figura da Virgem Maria tratam:
o paralelismo Eva-Maria, Maria é a nova Eva; a virgindade perpétua de Maria; a maternidade divina
de Maria; a santidade de Nossa Senhora e a morte e assunção de Maria.

Os escritos dos Padres Apostólicos e Apologistas, assim como os escritos apócrifos, colocam as bases
do pensamento mariologico.

1.3 Inácio de Antioquia (†110)

No início do segundo século, a primeira testemunha da inserção da doutrina mariológica no


patrimônio dogmático da Igreja é Inácio de Antioquia. Na sua viagem para Roma, onde ia ser
martirizado, escreveu sete cartas nas quais mostra como o evento salvífico de Cristo apoia-se na real
maternidade da Virgem Maria. A concepção virginal de Jesus, seu nascimento real e sua morte na
cruz são três mistérios que se realizam no silêncio de Deus.

No confronto dialético do humano e do divino em Jesus Cristo, Inácio preparou as posteriores


declarações do Concílio de Calcedônia (Aos Efésios 7,2), deu à virgindade de Maria, à sua concepção
e à morte do Senhor o nome de “três grandiosos mistérios” (Aos Efésios 19,1). Segundo Inácio, Cristo
é da Estirpe de Davi e de Maria; verdadeiramente nasceu, comeu e bebeu; verdadeiramente foi
crucificado e morreu. O evento salvífico de Cristo apoia-se na real maternidade de Maria. A
concepção virginal de Jesus, seu nascimento verdadeiro e a morte de cruz são três mistérios que se
realizaram no silêncio de Deus:

O nosso Deus, Jesus, Cristo, foi trazido no seio de Maria, segundo o plano de Deus, nascido da
descendência de David e do Espírito Santo, Nasceu e foi Batizado para purificar a água pela sua
paixão (Aos Efésios, 18). E permaneceram ocultos ao príncipe desse mundo a Virgindade de Maria
e seu parto, bem como a morte do Senhor: três mistérios de clamor, realizados no silêncio de Deus
(Aos Efésios, 19).
Para compreensão destes mistérios o cristão é desafiado entrar no silêncio de Deus. Os Padres da
Igreja ensinam que se Jesus nasceu da Virgem Maria, ninguém senão ela pode gerar Jesus. Assim
como no “sim” de Abraão foi selada a antiga aliança, pelo “sim” de Maria Deus instaurou uma nova
aliança. Ambos acreditaram e geraram a vida. Maria gerou Àquele que se identificou com o
“Caminho, a Verdade e a Vida”. Curioso é que nunca foi negado a Nossa Senhora a prerrogativa
de Mãe de Deus, seus contemporâneos nunca negaram que ela fosse a Mãe de Jesus (cf. Mc 6,1-3).
A crise partiu dos ebionitas e docetistas.

O docetismo afirmava que o Salvador não teve um verdadeiro corpo humano, a menos que passou
através do corpo da Virgem sem ser formado de sua substância. Há outra negação: os gnósticos
distinguiam entre Jesus nascido de Maria e Cristo descido em Jesus no momento do batismo; aqui
se nega implicitamente que o filho de Maria foi Deus.

A reação cristã dos primeiros três séculos foi categórica, mesmo que não se trata de atribuir o título
de Mãe de Deus a Nossa Senhora, pois ainda não se tinha certeza do título antes do século IV.
Contudo, os Padres Orientais se posicionaram com firmeza afirmando que Jesus verdadeiramente
nasceu de Maria e Jesus, nascido de Maria, é Deus.

Na sua Carta aos Tralianos, Inácio de Antioquia, refuta os hereges afirmando que Jesus Cristo é
descendente de Davi e Filho de Maria; verdadeiramente nasceu, comeu e bebeu. Mas ainda, Jesus
Cristo “nascido de Maria é Deus”. Como esta última expressão induzia a imaginar dois indivíduos
em Cristo, um humano (nascido de Maria) e outro divino (de Deus), Inácio afirma: “O nosso Deus
Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e
do Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado para purificar a água na sua paixão”.

Pápias, bispo de Hierápolis, (70 a 140 d. C.) teria sido discípulo de João e contemporâneo de Inácio
de Antioquia. Num trecho em que estabelece um paralelo entre os sete dias da criação e os sete dias
da atividade redentora, afirma que o “anjo trouxe a Maria a nova alegria num dia em que o dragão
seduziu a Eva”. Essa afirmação foi desenvolvida também por Justino e mais tarde no Concílio de
Éfeso. “É possível para ti alcançar a felicidade, reconhecendo o Cristo de Deus e iniciando-te em seus
mistérios”.

1.4 A Virgem Maria nos Padres Apologistas

O período pós-apostólico até o Concílio de Nicéia (325) é marcado pela evolução do pensamento
mariológico. Maria concebeu a Deus! Esta é a verdade que os Padres Apologistas defenderão em
contraposição ao paganismo, judaísmo e surgimento das inúmeras heresias.

Um precioso escrito da literatura apologética conhecido como Carta a Diogneto mostra a iniciativa
divina na obra da salvação e a superioridade do cristianismo em relação ao paganismo e ao
judaísmo.

Nenhum homem viu, nem conheceu, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé,
unicamente pela qual é concedido ver a Deus. [...] Quando, por meio de seu Filho amado, revelou
e manifestou o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas as coisas: não só
participar dos seus benefícios, mas ver e compreender coisa que nenhum de nós teria jamais
esperado.
A dimensão do mistério na vida de Maria permeia toda a Patrística. Percebe-se essa realidade nos
primeiros escritos da literatura cristã antiga, tanto dos Padres Apostólicos como dos Apologistas no
século II.

Na sua Apologia segundo os fragmentos Gregos, Aristides defende a verdadeira religião e a fé dos
cristãos em Cristo como Filho do Deus Altíssimo no Espírito Santo que nasceu de uma virgem santa,
sem germe de corrupção e apareceu aos homens, para afastá-los do erro do politeísmo.

No Discurso aos Gregos, Taciano, o Sírio, explica o mistério da geração do Verbo por participação:
“Da mesma forma que de uma só tocha se acendem muitos fogos, mas o fato de acender não diminui
a luz da primeira, assim também o Verbo, procedendo da potência do Pai, não deixou sem razão
aquele que o havia gerado”22.
São Justino de Roma († 165) defendeu a concepção virginal de Jesus, que, embora atestada nos
Evangelho, foi contestada pelos contemporâneos. Para Justino, entre Eva e Maria há um paralelo e
um contraste: nos dois casos, uma mulher tomou uma decisão que teve consequências para toda a
humanidade. Eva desconfiou de Deus e lhe desobedeceu, enquanto Maria acreditou e lhe obedeceu.
O resultado foi, de um lado, o pecado e a morte; de outro, a salvação e a vida (cf. PG 7, 958-960).

Deus se fez homem de Maria! Justino não mostra interesse em ressaltar o papel redentor da Virgem,
seu pensamento centra-se sobre Cristo. “Jesus Cristo é Filho e embaixador de Deus, e antes era
Verbo, que apareceu algumas vezes em forma de fogo, outras em imagem incorpórea e agora, feito
homem [...] nasceu de uma virgem por vontade do Pai”.

Além de defender a virgindade de Maria antes do parto, Justino foi o primeiro a introduzir o
paralelismo Eva-Maria:

De fato, quando ainda era virgem e incorrupta, Eva tendo concebido a palavra que a serpente lhe
disse, deu à luz a desobediência e a morte. A virgem Maria, porém, concebeu fé e alegria, quando
o anjo Gabriel lhe deu a boa notícia de que o Espírito Santo viria sobre ela e a força do Altíssimo a
cobriria com sua sombra”.

A intuição de Justino é mostrar que o caminho da redenção do ser humano caminha em paralelo
com sua queda. Em ambos interveio uma virgem. Maria deu à luz obediência e alegria. “Foi
demonstrado que tudo isso foi ordenado por causa da dureza de vosso coração, do mesmo modo,
por vontade do Pai, tudo teria terminado em Cristo, Filho de Deus, nascido da virgem da
descendência de Abraão, da tribo de Judá e de Davi.” Mais uma vez aparece a dimensão do mistério:
Justino, evocando as profecias do Antigo Testamento, deixa claro que a descendência de Cristo não
admite explicação humana.

“Quem cantará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. Pelas iniquidades do meu povo
ele foi conduzido à morte” (Is 53,8). O Espírito profético disse isso por ser inexplicável a
descendência daquele que morreria para curar a todos nós, homens pecadores, com as suas chagas.
[...] Vede que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado com o nome de Emanuel
(Is 7,10-16; 8,4; 7,16-17).

O Diálogo com Trifão representa a mais antiga controvérsia entre o cristianismo e judaísmo. Nele,
Justino mostra o universalismo do cristianismo, suplantando o judaísmo, realizando plenamente as
profecias do Antigo Testamento. Trata-se da derrogação da lei antiga e o advento da nova. Justino
defende que no Antigo Testamento quem falou a Moisés não foi o Pai, e sim Cristo, Filho de Deus,
o Verbo que “nasceu homem de uma virgem, conforme o designo do Pai”. Por fim, o esforço de
Justino é explicar que a encarnação só é compreendida a partir das Escrituras.

O paralelismo de Justino sobre Eva e Maria foi retomado e desenvolvido por Ireneu de Lião (†202)
a partir do qual foi possível esclarecer tanto a dimensão soteriologica quanto ética da Virgem Maria.

1.5 A Virgem Maria no pensamento de Ireneu de Lião

Ireneu de Lião é considerado protagonista chave da mariologia. Seu pensamento ressalta o caráter
soretiologico do consentimento de Maria no momento da anunciação: o objetivo não foi só a
encarnação, e sim a encarnação manifestamente redentora. O fato indica que a analogia Eva-Maria,
destinada a ser tema principal da mariologia bizantina na época posterior, surgiu na Ásia Menor, e
o centro principal foi a comunidade cristã de Éfeso e arredores. Sua teologia é fruto da
intimidade com a Palavra de Deus, donde tira profunda compreensão do mistério da redenção. As
temáticas centrais de sua teologia são:

Recapitulação (Adv. Haer. II, 22,4),

Maria como Advocata Evae (Adv. Haer. V, 19,1)

Maria Causa salutis (Adv. Haer. III, 22,4)

Introduziu o uso dos outros nomes (epitheta ornantia) que confluirão mais tarde nas ladainhas.

Abriu a via da inserção de Maria no Símbolo (Adv. Haer. I, 10,1).

Entre Eva e Maria há um paralelo e um contraste com profundas consequências para humanidade.
Eva desconfiou de Deus e lhe desobedeceu, enquanto Maria acreditou e lhe obedeceu. Eva trouxe
o pecado e a morte, Maria tornou-se causa de salvação e vida (cf. PG 7, 958-960)29.

O título “Mãe de Deus” ainda não aparece no pensamento de Ireneu. No entanto, existem aí os
dois componentes deste conceito: o reconhecimento da preexistente divindade de Cristo e a
realidade de seu nascimento terreno. Assim ele ressalta a vitória de Cristo e a economia da Virgem
Maria.

Quando o Senhor veio de modo visível ao que era seu, levado pela própria criação que ele sustenta,
tomou sobre si, por sua obediência, no lenho da cruz, a desobediência cometida por meio do lenho.
A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva destinada a varão, foi desfeita pela boa-
nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Virgem Maria, já desposada a varão.
Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua palavra,
Maria recebeu a boa-nova pela boca de anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra.
Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a
Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora
submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem; a desobediência de uma
virgem foi contrabalançada pela obediência de uma virgem; mais, o pecado do primeiro homem
foi curado pela correção de conduta do Primogênito e a prudência da serpente foi vencida pela
simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos que nos sujeitavam à morte.
Na teologia de Ireneu, Maria, como segunda Eva tem uma função determinada dentro do plano de
Deus para a redenção do homem. A cooperação da primeira Eva trouxe a morte espiritual do
homem, a cooperação de Maria com Deus repercutiu na obra da redenção e no retorno do homem
à vida. Sua cooperação implica uma atividade de ordem moral: deu ao anjo Gabriel e a Deus seu
livre consentimento determinante para a soteriologia.

Consequência da última transgressão do mandamento de Deus (Gn 2,17) foi a morte – moris carne
– da qual o Criador havia gratuitamente isentado o homem. Consequência da vitória do inimigo foi
a escravidão de Adão e de sua estirpe sob o poder do diabo.

Mais do que a relação da criatura para com seu Criador, Ireneu, no delito de Adão, sublinha a vitória
do inimigo: diretamente sobre a obra predileta de Deus e indiretamente sobre o próprio Criador.
Este não se contenta com apenas reabilitar o homem só diante de Deus; intenta reabilitá-lo também
com uma vitória justa e definitiva sobre o inimigo.
Ireneu, ao falar da gnose verdadeira e gnose falsa, destaca o perfil do verdadeiro discípulo espiritual
que saberá discernir as heresias e as falsas opiniões gnósticas, sobretudo os ebionitas. Adiantando-se
com oportuna prudência, pôs como eixo a palavra “fides” para o paralelismo Maria

– Igreja: “Mas como [os homens] irão abandonar o nascimento de morte, se, por meio da fé, não
forem regenerados por um novo nascimento, dado inopinadamente por Deus, como sinal de
salvação, aquele que se realizou pela Virgem?”.

Como podem os homens se salvarem, se Deus não é quem opera a salvação na terra? Ou como o
homem irá a Deus, se Deus não veio ao homem? Como poderão eles abandonar a geração da
morte, se não for por novo nascimento dado por Deus de maneira inesperada e maravilhosa em
sinal de salvação, aquele que aconteceu no seio da Virgem, e serem regenerados pela fé? [...] Por
isso, no fim, o próprio Filho de Deus mostrou esta semelhança, fazendo-se homem assumindo em
si a antiga criatura.

Ireneu cita o cumprimento das profecias a respeito do nascimento de Cristo como mistério inefável,
tendo uma origem inexprimível a linguagem humana: “o puro que abre de modo puro o seio puro
que regenera os homens em Deus, que ele fez puro; e tendo-se feito aquilo mesmo que nós somos,
é o Deus forte e possui origem inexprimível”. Sua afirmação de que Cristo veio à luz “purus purê
puram aperiens vulvam” (IV, 33,11) não evoca o sentido da virginitas in partu e post partum.

Em 333, o persa Afraates, lembrou por sua vez que por meio de uma mulher, o demônio teve acesso
sobre os homens. Por causa de Eva a terra foi amaldiçoada e produziu espinhos, mas “pela vinda
do Filho de Maria, os espinhos foram arrancados, a maldição foi pregada na cruz, a ponta da espada
foi atirada na arvore da vida, (a qual) deu-se como alimento aos fieis”.

Este escrito faz parte um trabalho de pesquisa da Profª.


Dra. Maria Rodica Tutas - Romena, monja eremita e
iconógrafa. Possui Doutorado em Ciências Eclesiásticas
Orientais pelo Pontifício Instituto Oriental de Roma. É
professora na Faculdade de Teologia da Arquidiocese de
Brasília, no Instituto São Boaventura de Brasília e
Professora de Patrística no Instituto Redemptoris Mater.

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