Você está na página 1de 6

Mariologia

1. Mariologia é o estudo dos dogmas marianos, ou


seja, das verdades de fé referentes à Virgem Maria.
2. Normalmente, os dogmas da Igreja são definidos
como uma resposta a questionamentos: pessoas questionam algum ponto do
ensino da Igreja, começam a ensinar diferentemente, e a Igreja responde
“dogmatizando” a questão, isto é, definindo qual é a verdade a ser crida, obrigando
os fieis à adesão.
3. Noutras situações, a Igreja dogmatiza pontos que
sempre compuseram sua fé, ainda que não estejam sendo questionados, por
entender que é propício fazê-lo.
4. Os dogmas marianos são quatro, e nós vamos
estudá-los na ordem em que foram proclamados.

“Mãe de Deus”

5. Uma das primeiras heresias da história do


catolicismo foi o “arianismo”: crença segundo a qual Jesus não é Deus.
6. Logo, se Jesus não é Deus, a Virgem Maria, sua
mãe, não poderia ser “mãe de Deus”, mas apenas mãe de um homem.
7. A Igreja respondeu, no Concílio de Niceia, em 325
(EC), definindo como verdade de fé (dogma) que Jesus é Deus, assim como o Pai.1
8. Posteriormente, surgiu uma nova heresia, que
“reciclava” a primeira: o “nestorianismo”: crença segundo a qual Jesus, enquanto
esteve na terra, deixou de ser Deus, passando a ser apenas homem.2

1
Catecismo da Igreja Católica, n. 465.
2
Idem, n. 466.
9. Logo, se o “Jesus humano” era apenas humano, e
não Deus, a sua mãe, a Virgem Maria, era apenas a mãe de um humano, mas não
“mãe de Deus”.
10. A Igreja respondeu, no Concílio de Éfeso, em 431
(EC), definindo como verdade de fé (dogma) o seguinte:

○ que Jesus conserva, na sua única pessoa, as


duas naturezas (humana e divina) ao mesmo
tempo;

○ que, assim sendo, a Virgem Maria, sendo mãe de


Jesus, é, portanto, “theotokos” (“mãe de Deus”).

“Sempre virgem”

11. Mais à frente, ao longo da Revolução Protestante


(século XVI), alguns teólogos passaram a ensinar que Maria não teria permanecido
virgem após o nascimento de Jesus.
12. O principal argumento era o fato de que os
evangelhos de S. Mateus (13, 55-6) e S. Marcos (6,3) falam sobre “os irmãos de
Jesus”, que se chamariam “Tiago, José, Simão e Judas”, e que ele teria também
“irmãs”.3
13. Entretanto, no Concílio de Trento, em 1555 (EC), a
Igreja proclamou como verdade de fé (dogma) que Maria, a mãe de Jesus,
permaneceu sempre virgem, até o fim de sua vida.
14. Primeiro, porque as pessoas citadas não eram
irmãos carnais de Jesus, mas sim parentes próximos (primos), filhos de “Maria de
Cléofas” (Mt 27,56; Mc 15,40; Lc 6,16; Jo 19,25; Ju 1).4

3
Idem, n. 499-500.
4
A patrística, em obras como História Eclesiástica (livro III, cap. II), de Eusébio de Cesareia (século
III), descreve Simão como filho de Maria de Cléofas, e irmão carnal de Tiago, José e Judas.
15. Segundo, porque, ao morrer na cruz, Jesus
entregou os cuidados de sua mãe a S. João (Jo 19, 26-7), que era filho de outro
casal, Zebedeu e Salomé (Mt 20, 20-1; 27, 55-6; Mc 15,40), o que não faria nenhum
sentido se Maria tivesse outros quatro filhos homens (Tiago, José, Simão e Judas),
além de “filhas”, que lhe pudessem cuidar.
16. Há também outros argumentos, os quais não
teremos tempo de estudar a fundo.

A “Imaculada Conceição”

17. A Igreja Católica sempre ensinou que a Virgem


Maria foi concebida “imaculada”, ou seja, santa, sem estar marcada pelo pecado
original.5
18. Vemos isso através de várias referências, como,
por exemplo:

○ as obras do diácono e teólogo Efrém da Síria


(século IV);

○ a festa litúrgica da Natividade de Maria (século


VII);

○ a festa litúrgica da Imaculada Conceição de Maria,


que já era celebrada na Grã-Bretanha no século
X;

○ a inscrição desta mesma festa no calendário


litúrgico de toda a Igreja, pelas mãos do Papa
Sisto IV (século XV);

5
CCE, n. 490.
○ a doutrina dos papas Inocêncio VIII, Paulo V,
Gregório V, Alexandre VII e Inocêncio XI (séculos
XV, XVI e XVII).

19. Por fim, o Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, em


1854, proclamou solenemente esta doutrina como verdade de fé (dogma), através
de diversos elementos, dentro os quais citaremos três.6
20. Primeiro: ela foi saudada pelo Anjo Gabriel como
“kekaritomene” (Lc 1,28), palavra que, em grego, significa “preenchida”, ou seja,
“perfeita”, “completa”.
21. Mas, preenchida de quê? O anjo responde: “O
Senhor é convosco”. Ou seja, ela fora preenchida da graça divina. É por isso que a
Vulgata Latina utilizou a expressão gratia plena, que nós traduzimos como “cheia de
graça”.
22. Nenhuma pessoa marcada pelo pecado original
pode estar “cheia de graça”, se não for santa (perfeita): o “copo” poderá estar
“vazio” (cheio de pecado e sem nenhuma graça), “quase vazio” (com muito pecado
e pouca graça), “meio cheio” (com pouco pecado e muita graça), ou “quase cheio”
(com quase nenhum pecado), mas jamais cheio.
23. Ou seja, se a Virgem Maria estava “cheia de
graça”, “preenchida de graça”, “completa de graça”, significa que se encontrava
vazia de pecado.
24. Segundo: o sangue derramado por Jesus é
salvífico: “o sangue da nova e eterna aliança, derramado por todos para a remissão
dos pecados”.
25. Ora, Ele foi concebido no ventre da Virgem Maria,
e parido por ela ao final da gestação. Portanto, o sangue d’Ele era o sangue dela.
Se Ele não tinha o pecado original, é porque ela também não o tinha.
26. Terceiro: a Virgem Maria, no mistério da
Encarnação, relacionou-se direta e intimamente com toda a Santíssima Trindade:
“o Espírito Santo descerá sobre ti, e a sombra do Altíssimo te cobrirá, e é por isso
que o Santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus”.

6
CCE, n. 491.
27. Deus é “sumamente santo”, sem nenhuma
participação ou contato com o pecado, em qualquer nível, e tocou a Virgem Maria,
fisicamente, intimamente, fazendo-a conceber o Seu Filho “unigênito”, que também
é Deus.
28. Isso mostra que ela não tinha nada que fosse
incompatível com a divindade, sendo que o pecado seria a principal delas.
29. Não bastasse a garantia da infalibilidade de Igreja
no ensino da doutrina (Mt 16, 16-18; Lc 22,32; Jo 14,26), a própria Virgem Maria,
quatro anos depois, quando apareceu à jovem Bernadette Soubirous, em Lourdes,
na França, identificou-se da seguinte forma: “Eu sou a Imaculada Conceição.”

“Assunta aos céus, em corpo e alma”

30. Este é o último dogma mariano proclamado pela


Igreja, no ano de 1950, através da bula Munificentissimus Deus, do Papa Pio XII.
31. Além do fato de, assim como a Imaculada
Conceição, esta ser uma crença muito antiga dos católicos, parte da Tradição
(testemunho dos apóstolos), trata-se de uma decorrência natural, lógica e
inevitável dos três dogmas anteriores, em especial a Imaculada Conceição.7
32. Sendo verdade que a Virgem Maria foi concebida
sem pecado, e que permaneceu assim até o fim de sua vida, sua morte
simplesmente não poderia ser a morte comum da humanidade, compartilhada por
todos nós.
33. A morte comum da humanidade resulta na
separação da alma da pessoa, encaminhada a Deus para julgamento, em relação
ao seu corpo, o qual perece na terra.
34. “Esta” morte, enquanto mistério de separação,
decorre da mancha do pecado original: quem é preservado desta mácula não passa
por esta fragmentação, mas participa da morte enquanto mistério de união: sua vida

7
CCE, n. 966.
na terra termina, mas continua imediatamente no céu, quando a pessoa se une
totalmente a Deus, enquanto ser humano (corpo e alma).
35. Vemos isso no caso de Jesus: ao morrer, seu
corpo saiu do sepulcro juntamente com sua alma (o sepulcro ficou vazio). Ele foi
tocado, abraçado, beijado, e ainda tomou refeições com pessoas que viram e
tocaram as lesões da sua crucifixão. Tudo isso para, depois, ascender aos céus
com seu “corpo físico”.
36. Portanto, a Virgem Maria, que também não
participou do pecado original, também foi assunta aos céus em corpo e alma, o que
explica o fato de seu túmulo jamais ter sido encontrado, mesmo tendo ela morrido
num lugar e numa época em que já existia controle cartorial (censos, registros de
nascimento e casamentos etc).
37. Além disso, mais de 30 anos após a “morte” da
Virgem Maria, S. João, na revelação do Apocalipse, dada pelo próprio Jesus (1,1), a
vê nos céus, coroada e entronizada como rainha do céu e da terra (cap. 12).

Você também pode gostar