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Ê A
CIVILIZAÇÃO
OBRAS COMPLETAS DO PADRE LEONEL FRANCA S.
lOMO
4.° O Div/ircio
8.° A Psicologia da Fé
li
A IGREJA, A REFORMA
EA
CIVILIZAÇÃO
5.® EDIÇÃO
RIO DE JANEIRO
1948
Copyright de
ARTES GRÁFICAS INDÚSTRIAS REUNIDAS S. A. ( A G I R )
Livraria A G IR Editora
Rio de Janeiro — Avenida Churchill, 182 C — Caixa Postal 3291
S. Paulo — Praça Ramos de Azevedo, 209, salas 211/12 —C. Postal 6040
Belo Horizonte — Avenida Afonso Pena, 919 — Caixa Postal 733
EN D EREÇO TE LE G R Á FIC O “ a GIRS a ”
PREFÁCIO DA l.a EDIÇÃO
ção dos nossos esforços na luta pela verdade — por essa verdade que
eleva as inteligências e enobrece os corações, que saneia, vivifica
e salva os indivíduos e os povos.
Mais tardiamente do que nos pedira a consciência saem à luz
estas observações críticas. Afastados momentâneamente do Brasil
e absorvidos por outras ocupações inadiáveis, só volvido um ano
da sua publicação, nos veio ao conhecimento a obra do ilustre gra
mático paulista. Serôdio, pois, virá o fruto dos nossos trabalhos,
mas, queremos crê-lo, nem por isso menos grato ou menos útü.
A dádiva de um coração amigo é sempre acolhida com benevo
lência; a luz da verdade nunca amanhece tarde nas almas.3
Roma, 1922.
P. L eon el F ran ca S. J.
3. Julgamos desnecessário chamar a atenção dos leitores sôbre a posição lógica em que
nos colocamos. Não fazemos um estudo com pleto de a p olog ética ; discutimos apenas questões
controvertidas entre católicos e protestantes. Nessa altura, supomos demonstradas e admitidas
as verdades fundamentais do cristianismo : a existência de Deus, a divindade ou pelo menos
a missão divina d c Cristo c a inspiração da Bíblia. Neste terreno com um aos nossos adversá
rios é que travamos o com bate. O materialista que rejeita um Deus pessoal c transcendente«
o racionalista que nega o sobrenatural cristão não são aqui diretamente visados pelos nosso9
argumentos. N ão querem os com isto dizer que a leitura destas páginas lhes seja de todo
inútil. O fato positivo da existência atual da Igreja, una e imutável, a continuar uma vida
duas vêzes milenária e maravilhosamente fecunda em frutos de civilização e santidade, cons
tituí, sem dúvida, uma prova majestosa da sua instituição divina.
A protestantes e incrédulos só peço que me leiam com o ânim o desprevenido de quem
deseja sinceramente. conhecer a verdade para abraçá-la com generosidade c amor.
PREFÁCIO DA 2.a E 3.a EDIÇÃO
L eonel F ranca S. J.
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
Lutero
Melanchthon
Calvino
Zwinglio
A IGREJA CATÓLICA
C a p ít u l o I
1. S. Pedro é nom eado no N ovo Testamento 171 vêzes; depois vem S. João, 46 vêzes.
A observação é de V l a d im ir o So l c v ie w , o m aior filósofo russo do século passado, convertido
ao catolicismo: “ Ceux de nos lecteurs orthodoxes qui, p ou r reconnaître le rôle exceptionnel
de Pierre dans l'histoire du N. T ., ne trouveraient pas suffisante l’ autorité des S. Pères tels
que Jean Chrysostôme, ni m ême celle des théologiens russes tels qu e MgT. Philarète, seront
peut-être accessibles à une preuve p ou r ainsi dire statistique. En considérant que parmi
les disciples immédiats de Jésus aucun n ’a autant de droits à une place marquée que Saint
Jean, l'apôtre bien-aim é, j'a i com pté combien de fois les Evangiles et les Actes font mention
de Jean et com bien de fois de Pierre. Il se trouve que le rapport est de 1 à 4, à peu
près. S. Pierre est nom m é 171 f o i s . .. (114 dans les Évangiles et 57 dans les Actes) et S.
Jean — 46 fois seulement (38 fois dans les Évangiles, y com pris les cas ou il parle de lui
même d ’ une manière indirecte et 8 fois dans les A ctes)’ '. L a Russie et VÉglise universelle,
Paris 1889, p . 154, nota 2 .
2. Joa n „ I, 42.
3. Três vêzes em tôda a Escritura m udou Deus o nom e dos hom ens e em tôdas tiês
se tratava de elevar um particular à dignidade de chefe dos eleitos. M u dou -o a Abraão,
"q u ia patrem multarum gentium constitui te” Gen., X V II, 5 ; m udou-o a Jacô : "appellavit
eum Israel dixitque e i . . . Gentes et populi nationum ex te eru n t" G en., X X X V , 10, M u-
dou -o finalmente a Pedro : “ tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam m eam ”
M a t t h X V I, 18.
4. Luc., V, 1-4.
5. M atth., V III, 1 4 ; M arc., I, 2 9 ; Luc., IV , 38.
6. M atth., X V II, 24-27.
7. M atth., X , 2 - 4 ; M arc., III, 16-19; Luc., V I, 14*16; A c t I, 13.
SÃO PEDRO, PRIMEIRO PAPA - 23
is. A c t., I , 7.
14. L u c., I X , 2 2 ; cfr. L u c., I X , 4 4 ; X V III, S1-S3.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 25
18. Luc., X X I I , 25-27. N a hipótese protestante, Cristo houvera pôsto m uito mais
simplesmente têrmo à contenda entre os discípulos, dizendo-lhes: sereis todos iguais. Em
vez. porém, de insinuar a paridade, insiste sôbre à prim azia: o que é m aior, E aduz a com*
paxação consigo m esmo.
19. A S. Pedro aproveitou a lição divina de Jesus. Vêde com o êle nos descreve e
múnus do superior eclesiástico : “ Apascentai o rebanho de Cristo que vos foi con fiado, tende
cuidado nele, não p or fôrça, mas espontâneamente segundo Deus, nem p o r am or do lucro
vergonhoso, mas de boa vontade, nem com o se quisésseis ter dom ínio sôbre a herança do
Senhor, mas fazendo-vos de boa vontade o m odelo do rebanho. E quando aparecer o
príncipe dos pastôres recebereis a coroa incorruptível da glória*', I Petr., V , 2-4.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 27
23. Essa identidade verbal conservaram as antigas traduções siríacas (cureton e peshitto),
a p e n a , a árabe, cujas línguas, com o o francês atual, permitem um a versão à letra. O tra-
dutor grego de S. Mateus preferiu no prim eiro membro o masculino Ilè rp o s que tem q
mesmo radical que irkrpa e significa também pedra, rocha, p orque a desinência masculina
m elhor se adaptava a um nom e de hom em . Os helenistas chamaram Pedro a C ephas; o
tradutor seguiu o uso corrente.
25. Fragmento de quê' ? Da confissão passada ? E que vem a ser fragmento de uma
confissão ? Da rocha Cristo ? E que significa Pedro, fragm ento de Cristo ? Do futuro
edifício da Igreja? Interpretação m enos ábsona, mas que nenhum a análise, lógica ou gra-
matical, logrará deduzir do texto pereiriano.
26. J o a n V III, 12.
26a. M a t t h V , 15.
SÃO PEDRO, PRIMEIRO PAPA - 31
quiteto, lançara-o com a sua pregação. Como se vê, são coisas mui
diversas : o fundamento de uma doutrina e o fundamento de um
organismo social. Aquêle é uma verdade capital, êste, uma auto-
ridade suprema. O texto, pois, não é ad rem.
Observação análoga se pode repetir a respeito do passo seguin-
te da epístola aos efésios : “Vós sois edificados sôbre o fundamento
dos apóstolos e profetas, sendo o mesmo Jesus Cristo a principal
pedra angular” . 30 Como acima, trata-se também de um funda-
mento doutrinal. Aliás, como poderiam os profetas ser fundamento
da vida cristã ? Cumpre ainda notar que não afirma necessària-
mente S. Paulo serem os apóstolos fundamentos, senão que os fiéis
devem edificar sôbre o 'fundamento lançado pelos profetas e
apóstolos.
Nenhum dêsses lugares ou de outros análogos, que talvez ainda
se pudessem aduzir, invalida, pois, a fôrça do nosso texto. Com
apaixonada sofreguidão folhearam os protestantes as sagradas Es-
crituras à cata de frases que dessem pega a um sofisma e onde quer
que encontraram a palavra “fundamento” ou outra semelhante jul-
garam descobrir uma clava invencível para convelir a rocha do pa-
pado. Baldadas diligências ! Não há uma só passagem do Novo
Testamento em que se dê o nome de pedra a qualquer apóstolo fora
de Simão. Não há uma só passagem da Sagrada Escritura em que,
tratando-se da organização social da Igreja de Cristo, se afirme co-
letivamente de todos os apóstolos ou singularmente de qualquer dê-
les a prerrogativa de fundamento.
E isto nos basta. Não há por que insistirmos mais na exegese
literal. É aliás tão esdrúxula, tão ábsona a interpretação dos velhos
protestantes a distinguirem entre Pedro e pedra, que hoje já a de-
sampararam quase todos os críticos heterodoxos. Henrique Mon-
nxeb qualifica-a “d’interprétation par trop alambiquée et tendancieu-
se” . 31 Os próprios protestantes conservadores perfilham já nma
hermenêutica mais racional. “Nous nous plaçons encore ici sur le
terrain qui leur est le plus favorable [aos católicos] parce qu’il est
30. A d Ephes., II, 20. Podem os ainda observar que tanto na epístola aos efésios com o
na primeira aos coríntioa, S. Paulo emprega não o têrmo Trérpa mas QenkXiov. GcjuéXiov,
diz-se do fundam ento form ado pelas pedras que constituem a substrutura do edifício, irèrpa
da rocha preexistente sôbre a qual se levanta a construção. Ilérpa só se encontra aplicad?
a Pedro e a Cristo, também aos apóstolos no sentido que deixamos declarado no
texto.
31. H . M on n ier, N otion de Vapostolat. p . 133.
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Mas eis que surde logo pela proa o Sr. Carlos Pereira apos-
tado a semear de parcéis a linha reta da nossa rota para não nos
deixar vogar um instante a pano cheio. Uma metáfora ? Mas “é
princípio comezinho de hermenêutica e do bom senso que textos fi-
gurados, linguagem metafórica, expressões tropológicas, susceptí-
veis de interpretações várias não podem servir de títulos válidos de
nomeação para cargo nenhum” , p. 214.
Confesso, não esperava esta dificuldade de um gramático, que
por obrigação de ofício é mestre diplomado na ciência da lingua-
gem. Quem ainda cuidou que expressão metafórica fôsse sinôni-
mo de expressão ambígua ? Abro um livro de história : “Por morte
de Eduardo VII passou o cetro de Inglaterra para as mãos de Jor-
ge V” , “A coroa de Áustria não resistiu ao choque da grande guer-
ra” , “Foi executado o delinqüente, cabeça da revolta” . Quem pu-
dera ver nestas e em mil outras usitadíssimas locuções um perigo
de anfibologia ? ' A linguagem metafórica, como a linguagem pró-
pria, pode exprimir com a mesma exatidão, com o mesmo rigor e,
não raro, com mais viveza, o conteúdo de um pensamento. Isto é
o que ensina “um princípio comezinho de hermenêutica e de bom
senso” . Isto é, sem dúvida, o que ensina o ilustre professor quan-
do não faz polêmica sectária mas, instruindo os seus discípulos, se
deixa levar pelos princípios do bom senso e pelas regras elemènta-
res da hermenêutica. Se a metáfora empregada é óbvia, se o ter-
tium comparationis que funda a analogia do tropo, estão ao alcance
dos leitores ou dos ouvintes, a expressão do pensamento é clara, não
há duplicidade de sentido nem risco de equivocação. 36 Estas con-
dições são preenchidas nas metáforas de Cristo ? A ver.
Pedro é a pedra fundamental da Igreja. Logo, Pedro será
para a sociedade cristã o que é o fundamento para o edifício. Ora,
o fundamento é essencial ao edifício, o fundamento dá-lhe firme-
za e estabilidade, o fundamento é indispensável à conservação de
tôda a superestrutura e de cada um de seus complementos, o funda-
mento, sustentando tôdas as articulações, consolida-lhe a travação,
reúne-lhe as diferentes partes na coerência robusta da unidade ar-
36. Cumpre ainda não esquecer que a linguagem metafórica era de uso corrente entre
os povos orientais, naturalmente poetas imaginosos. Jesus adaptou-se às exigências d o m eio
ju d aico. Seus ensinamentos revestiam quase sempre form a figurada. Não lhes ensinava
senão em parábolas, diz-nos o Evangelista. Para entendermos, pois, os ensinamentos do
D ivino Mestre devemo-nos reportar à época e aos usos d o tempo e do lugar cm que viv e u .
O simbolismo deve interpretar*sc liistòricamente.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 35
péennes. Car lorsqu'il est dit que les clefs d ’une ville on t été remises à quelqu'un par
son souverain, est-il jamais venu à la pensée d ’ entendre par là q u 'il lui ait été seulement
donné le pouvoir d'en ouvrir et ferm er les portes aux étrangers et aux nouveaux venus ?
Et quand on dit que les clefs d 'u n e forteresse on t été livrées à un conquérant, q u i ne com -
prend à l’ instant même que la possession de cette place forte lui est également tra nsférée?...
Q uand donc Pierre reçoit les clefs du royaume des d eu x , ou de PEglise, nous ne pouvons
le considérer autrement que com m e investi de l’ autorité souveraine à son ég a rd ". W iseman,
em M igne, Démonstrations évangeliques 1852, t. X V , pp. 918-919.
39. Por excm plo, T e u t u l i a n o : “ M em ento coeli claves, hic, dom inum Petro et, p er
eu m p Ecclesiae reliquisse". Adversus gnosticos 10 (M L , II, 142).
SÄO PEDRO, PRIMEIRO PAPA - 37
44. M attii., X V III, 15>18. Prevejo logo uma objeção na mente do leitor. Inútil dizer
q u e para Carlos Pereira avulta logo com o clava invencível contra o prim ado. D o c . X V III,
16 d c S. Mateus que acabamos de citar se infere que o poder de ligar e desligar, concedido
antes a Pedro, fo i depois estendido a todos os apóstolos. N ão é, portanto, um a prerrogativa
de P edro, mas uma jurisdição com um ao colégio dos D oze. “ L o go , conclui triunfante o
nosso gram ático, ruem p or terra as altas pretensões d o Papado, baseadas na absurda primazia
jurisdicional das chaves", p . 226. T riu n fo prem aturo ! É certo que o p od er das chaves
fo i outorgado no c . X V I só a Pedro : é certo que em tôda a sociedade bem constituída
não pode haver mais de um a autoridade suprema, ind ep end ente; é certo ainda que no
c . X V III falando Cristo ao Colégio apostólico com Pedro repetiu no plural as mesmas pala-
vras endereçadas antes singularm ente a Pedro. Haverá incom patibilidade entre estas duas
verdades? Nada m enos. Um soberano diz a um gen era l: "General, con fio-te todo o meu
exército. Tens plenos poderes para dirigir enèrgicamente a campanha e levar a pátria à
vitória. T u d o o que fizeres para defender a nação desde já o sanciono com o se p o r mim
fôra feito” . Dias depois fala o mesmo soberano ao estado m aior no meio do qual se acha
o generalíssimo escolhido : “ C onfio-vos o meu exercito. Tendes plenos poderes para dirigir
enèrgicamente a campanha e tc.” . Que hermeneuta sofista haverá aí que pretenda inferir
das últimas palavras d o soberano que já não há generalíssimo n o exército e qu e a pleni-
tude do com ando fo i estendida a cada um dos oficiais presentes ? Quem poderá sustentar
sensatamente haver incom patibilidade entre os poderes do Estado M aior e a chefia d c um
SÓ? N inguém . Ambas as expressões são não só conciliáveis mas apresentam juridicamente
tôda a exatidão desejável. Diz-se em rigor de direito que um corpo moral possui todos os
poderes de que se acha investido o seu ch efe. P or que esquecer esta regra de senso comum
q uando se trata de interpretar o Evangelho para fantasiar contradições que não existem ?
'O s 'dois textos indicam uma jurisdição com um a todos os apóstolos» a de ligar e desligar
com sentença eficaz, mas deixam subsistir em tôda a sua integridade a prerrogativa especial
de Pedro que cora o p oder de ligar e desligar foi constituído exclusivam ente pedra funda-
40 - A IGREJA CATÓLICA
4 5. Joan., X X I , 15-17.
42 - A IGREJA CATÓLICA
46. Poucas linhas acima escrevera: “ À própria imaginação vivíssima d o cardeal Belar-
m ino não teria ocorrido arvorar em título de nomeação ao Papado uma simples recomendação
feita a P e d r o ... de apascentar. as ovelhas e os cordeiros de Cristo ” , p . 212. N ão sei
realmente o que dizer desta imaginação vivíssima de B elarm ino. A cabo de ler-lhe a vida,
tendo*lhe entre mãos as obras. Em todos os seus atos e escritos revela-se o hom em mais
simples, mais pacato, mais m oderado dêste m u n d o. Poeta, não o f o i. N a sua obra m onu-
mental de controvérsia a lógica cerrada e a documentação positiva e segura enchem -lhe de
tal arte as páginas que não deixam o m enor vazio aos devaneios da fantasia. Mas enfim,
isto de imaginação, vê-a quem quer e onde q uer. O que, porém , não acabo de admirar
é com o o Sr. Carlos Pereira, que não tem imaginação vivíssima, tenha ousado adiantar a
afirmação acima. D a grande obra D e controversiis de Belarm ino, colha o t. I, Terceira
controvérsia, D e R om ano P ontifice, Livro I e aí encontrará nada menos de 3 capítulos m -
teiros (cc. 14, 15, 16) dedicados exclusivam ente ao exam e dêste argum ento. A í verá com o
o príncipe dos controversistas católicos afirma sem r o d e io s : “ at nobis difficile non erit ex
hac ipsa voce Pasce demonstrarc suiumam potestatem illi attribui, cu i d ic itu r : Pasce oves
measu (c. 15). A í poderá' admirar com que facilidade êle demonstra que " Lutheri ratiunculae
nihil efficiu n t” , Mas o Sr. Carlos Pereira possui uma habilidade singular, tôda sua, que
várias vêzes havemos de p ôr em evidência : a de citar e criticar autores católicos sem nunca
os haver lid o . H á p ou co, a vítim a foi M aldonado, agora é Belarmino, depois será Bossuet.
Será isto viveza de imaginação ?
47. L u c., X X IV , 34.
48. Jocin.f X X , 21-23.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 43
55. Entre os Santos Padres não há um só que n egue ter Cristo concedido a Pedro o
prim ado de jurisdição na Igreja universal. N em sempre, porém , insistem no sentido literal
de texto evangélico. Nas hom ílias e exortações ao p ovo, suposto sempre o sentido dogm ático,
desenvolvem muitas vêzes, com o costumam os pregadores, as aplicações morais, úteis à edifi-
cação doâ fiéis. NSo era mister fazer antecipadamente polêm ica antiprotestante em tôdas
aa práticas dominicais ou livros de ascética. Mas estas aplicações morais, ou ainda acom o-
dações remotas não com portam de m od o algum a exclusão do sentido ób vio e literal
d o texto. Já o notou o racionalista L o isy : “ Em verdade, não é necessário provar que as
palavras de Jesus se dirigem a Simão, filh o de Jonas, que deve ser c foi a pedra funda-
m ental da Igreja ; que elas não se referem exclusivamente à fé de Pedro ou dos que
poderão ter a mesma fé que ê l e ; menos ainda pode aqui " pedra” designar o próprio
Cristo. Semelhantes interpretações poderão ter sido propostas pelos antigos comentadores
em vista das aplicações morais, e reveladas pela exegese protestante com interêsse p olêm ico.
Mas se as quisermos transformar em sentido histórico do Evangelho não passam de distinções
nulas que fazem violência ao texto” . A . L o isy , L es êvangiles synoptiques, t. I I , p. 7. 8.
56. V er apêndice. Por não sobrecarregarmos o texto com citas inumeráveis, reunimos
neste apêndice as palavras textuais de tôdas as autoridades acima m encionadas. Assim poderá
p leitor verificá-las diretamente e, se fô r mister, confrontá-las.
SÃO VEDRO, PRIMEIRO PAPA — 47
59. Neste gênero é sobretudo notável o vaso de vidro descoberto no século passado
cm Podgoritza. Pedro, designado expressamente pelo p róp rio nom e, percute com um bastão,
não uma rocha, mas uma árvore da qual jorra um manancial de água viva. A alusão i\
Moisés é manifesta. C f r. G. B. de R ossi, B olletino di archeologia eristiana, V I, R om a,
1868, 1-6.
60, R elcia-sc êste período depois do apêndice.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 49
fci* Tais o argumento tirado de S. Mateus c. XVJ1I, 18 em que Jesus Cristo confere
a tòdó o colégio apostólico o p oder de ligar e desligar (ver p. 27) e o baseado na contro-
vérsia sôbre, a primazia debatida entre os apóstolos (ver p . 9 ). Ambos já ftfrate criticado»
<é‘ rebatidos.
50 - A IGREJA CATÓLICA
67, -.Entre os ça tá lico s : Knabeobauer, Bisping, A d - W*JeT< B-.eJschJ, .Schaefer; entre ,<■
piOtestaEtes : H . A . W . Meyer, Kling-Brauue, G . Schnedennann, Siegfr. Ç oebel.
68. Cal., II, 1-9.
89. Cal., II, 11.
no sentir de C a b l o s P e b e ir a , três dardos mortíferos vibrados contra
a primazia de Pedro.
Para a reta inteligência da linguagem de Paulo aos gálatas im-
porta, antes de tudo, reconstruir as circunstâncias históricas dos
fatos que motivaram a epístola paulina.
Como em Corinto, também na Galácia já evangelizada pela
apóstolo surdiram em sua ausência adversários e denigradores que
Ihe amesquinharam a missão evangelizadora.
Muitos dos judeus recém-convertidos não podiam afazer-se à
idéia de que o mosaísmo, com o seu prestígio secular, com as suas
promessas e milagres, com as suas gloriosas esperanças, fôsse defi-
nitivamente tramontado. Obstinavam-se' em salvar-lhe ao menos
a substância : a teocracia, a lei mosaica, o sacerdócio aaronítico. Daí
uma oposição pertinaz e irredutível à ação de Paulo, o grande após-
tolo do universalismo da nova Aliança. Na Galácia, a tática dos
judaizantes era insidiosa. Sem se oporem abertamente às decisões
do concílio de Jerusalém, que havia declarado caducos certos ritos
e prescrições de lei mosaica, espalhavam à sorrelfa ser esta apenas
uma concessão temporária às inovações de Paulo. O verdadeiro
Evangelho era o que pregavam “as colunas da Igreja” , Pedro, João
e Tiago que, desde o princípio, tinham sido as testemunhas presen-
ciais da vida do Mestre e os depositários autênticos dos seus ensi-
namentos. A fé em Cristo bastava sim para a salvação mas as ob-
servações mosaicas davam ao crente uma perfeição, um acabamento
que .nunca poderiam atingir os incircuncisos que não as praticavam.
Patolo era um inovador perigoso. Ontem ainda perseguidor faná-
tico de Cristo, hoje crente e pregador improvisado, na nova carreira
por êle iniciada reviam tôda a presunção e o orgulho do antigo ini-
migo do nome cristão. O evangelho que pregava era um Evange-
lho mutilado e incompleto; afeiçoara-o êle ao jeito de suas idéias
revolucionárias. Importava, pois, voltar aos ensinamentos das co-
lunas da Igreja, moldar-se sôbre a sua vida recebendo a circunci-
são e submetendo-se a tôdas as prescrições da Lei antiga. Só as-
sim era lícito aspirar às honras de verdadeiro filho de Abraão e her-
deiro de suas promessas.
Estas capciosas sugestões haviam, ao menos parcialmente, sur-
tido efeito. As novas cristandades da Galácia recém-vindas do pa-
ganismo debatiam-se na incerteza e na perplexidade. Um perigo
de cisma iminente ameaçava arrumar as conquistas do grande
Apóstolo. Conjurar êsse perigo justificando a sua doutrina, eis o
alvo de Paulo na sua epístola.
Postas essas premissas nada mais fácil que demonstrar a má-
quina de guerra levantada pela exegese protestante. Sxaminemo-
-la, peça por peça.
71. A ct., x v , 7.
72. Cfr. A ct., X I I I . 1 4 ; X IV , 1 ; X V II, 1; X V II, 10; X V III, 4: X IX , 8;
X X , 21 ; X X I , 21 ; X X V I, 20 ; X X V III, 1 7 ; I Côr., X , 19-21.
apóstolos quando praticavam entre os convertidos do judaísmo. Tia-
go, em Jerusalém, foi, até ao fim, fiel observante das tradições ju-
daicas. Paulo por igual motivo circuncidou a Timóteo e, em uma
das suas viagens a Jerusalém, foi ao templo, purificou-se e ofere-
ceu as oblações legais por quatro nazireus pobres. O retraimento
de Pedro, portanto, significava apenas um ato de caridade, uma
condescendência com a fraqueza dos neoconvertidos. Em Antjo-
quia, porém, as circunstâncias não eram idênticas às da metrópole
judaica. Paulo que apostolara quase sempre entre os gentios pre-
viu tôda a vantagem que do procedimento autorizado do príncipe
dos apóstolos poderiam tirar os seus adversários. Efetivamente,
muitos judeus e o próprio Barnabé já haviam cedido à influência
poderosa do exemplo de Pedro; êles também já não comiam com os
gentjos. Em tão grave contingência, como única via para atalhar
o perigo afigurou-se ao apóstolo das gentes mostrar públicamente
que a atitude de Pedro, justificável em Jerusalém, não era de todo
o ponto conforme com a verdade plena e definitiva do Evangelho
que havia para sempre libertado os cristãos das peias quase incom-
portáveis da lei mosaica. Um dia, provàvelmente num dos ágapes
dos irmãos, em presença de S. Pedro, advertiu-o públicamente : 73
“Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que
obrigas [conj o teu exemplo] os outros a judaizarem ?” 74 — Há nes-
ta admoestação pública uma negação implícita do primado ? De
modo nenhum- S. Paulo não desobedece a nenhuma ordem de São
Pedro, não se opõe à sua doutrina, não contesta a legitimidade da
sua primazia, não tem uma só palavra que ponha em dúvida os seus
direitos e títulos para exercer sôbre fiéis e pastores da comunidade
cristã tão poderoso e eficaz ascendente. Na dificuldade da emer-
gência, em que se achava, procura apenas reconduzir Pedro à sua
primeira atitude em relação aos convertidos do gentilismo. Era
o único mçio de defender o seu apostolado contra as acusações in-
sidiosas dos judaizantes. A sua não é, pois, uma repreensão auto-
■ritatica, de superior a inferior ; não na podem admitir os próprios
protestantes que defendem a paridade jurisdicional dos apóstolos.
|J, jsjxQj. ujna correção fraterna que em circunstâncias grayfts pode
e, até, deve fazer um igual ao seu igual, um inferior ao seu supe-
:73*. P hebraísmo restiti in faciem (y. 11) quer dizer resistir publicam ente, cor.am
,.ÇPWo <Uí po.uço abaixç o p ió p rlo Paulo (v. 14).
74. Oal.i II , 14.
rior. Ditou-a a caridade em cuja linha somos todos iguais, não a
autoridade que distingue hieràrquicamente os membros de um cor-
po social.
Fácil é agora de compreender por que S. Paulo na sua epístola
aos gálatas refere com todos os pormenores ò episódio de Antio-
quia, omitido por S. Lucas. Pedro, advertido pelo apóstolo das
gentes, não só não Ihe replicara, mas, anuindo, aprovara manifesta-
mente a sua doutrina. Que melhor argumento contra os que na
Galácia o acusavam de novidade do que a sanção suprema do prín-
cipe dos apóstolos !
Tal é a única e verdadeira significação dêste célebre passo da
epístola paulina que os protestantes procuram agora explorar con-
tra o primado de S. Pedro. Conheceu-o tôda a antiguidade cristã
e nunca Ihe enxergou o menor vislumbre de protesto antecipado "às
usurpações papais” que agora Ihe empresta a crítica do Sr. C a h l o s
P e b e ira . É até notável como por ocasião dêste incidente timbram
os antigos intérpretes em revelar a virtude e a autoridade de Pedro.
“Pedro, diz A g o s t i n h o , aceitou com santa e piedosa humildade a
observação que utilmente Ihe fizera Paulo inspirado pela Uberdade
do amor, deixando destarte aos pósteros o raro exemplo de se não
dedignarem em ser corrigidos pelos inferiores onde quer que se des-
viassem do reto caminho : exemplo mais raro e mais santo que o
deixado por Paulo aos inferiores que, por defender a verdade evan-
gélica, ousarem resistir confiadamente sem lesaT a fraterna cari-
dade . . . Em Paulo louvemos a justa liberdade, em Pedro a santa
humildade” . 75
Com efeito, a quem as considera mais de espaço, as circunstân-
cias do fato revelam manifestamente a superioridade de Pedro.
Paulo pregara expressamente que se não devia judaizar. Pedro
com o seu exemplo parecia ensinar o contrário. E a sugestão dêste
exemplo era tão forte que obrigava (coegebat) não só os outros
judeus, mas o próprio Barnabé, companheiro de Paulo,76 a judai-
76. “ Dès que S. Pierre eut cédé, Barnabé p l i a . .. A A ntioche en des circumstances
identiques à celles q u 'il avait une prem ière fois afrontées, cet hom m e si persévérant q u ’ il
semblerait quelquefois inflexible fait subitement volte-face. Est-ce à dire que rien n'est
changé que Barnabé lui m ê m e ? ... , une seule chose, c’ est que Pierre s'est pcrsonellement
remis à l’observance de la lo i. Barnabé se trouva alors placé entre tout ce q u 'il y a d’ auto*
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA — 59
zarem . C o m o e x p lic a r a p r e v a lê n c ia d o e x e m p l o t á c i t o d e P e d r o
s ô b r e a p r e g a ç ã o e x p l í c i t a d e P a u lo s e m a d m it ir a p e r s u a s ã o u n iv e r -
s a l d e q u e P e d r o s o b r e le v a v a e m d ig n i d a d e a P a u lo e a s u a e ra a
a u t o r id a d e s u p r e m a n a I g r e ja ?
A s s im q u e t o d o s o s a r g u m e n t o s c o l i g i d o s p e l o p a s t o r p r o t e s t a n -
t e c o n t r a o p r i m a d o d e P e d r o v ê m , e m ú lt im a a n á lis e , c o n fir m a r a
te s e c a t ó l ic a . S ó f a l s e a n d o in d ig n a m e n t e a s i g n i f i c a ç ã o d a s p a la -
v r a s e d o s fa t o s d a E s c r it u r a p ô d e o Sr. C a rlo s P ebfj ka a p r e s e n ta r
a o s s e u s le ito r e s n o p r o c e d i m e n t o d e P a u lo a a t it u d e d e u m “ c a m -
p e ã o a n t ip a p a l” , p . 2 4 2 . P a r a c o l o r i r a o s o l h o s dos- le it o r e s a l e g i -
t im id a d e d e t ã o d e s c a b e la d a c o n c lu s ã o e r a m is te r n ã o s ó ' r e c o r r e r
a o s a r t ifíc io s d e u m a e x e g e s e t e n d e n c io s a m a s a in d a p a s s a r e m in -
ju s t ific á v e l s ilê n c io t o d o s o s t r e c h o s e m q u e o g r a n d e a p ó s t o l o d a s
g e n t e s in s in u a i n e q u iv o c a m e n t e o a lt o c o n c e i t o e m q u e tin h a a d i g -
n id a d e e a p r im a z ia d e P e d r o . C h a m a -o q u a s e s e m p r e c o m o n o m e
h e b r a i c o C e fa s q u e Ih e im p u s e r a C r is t o c o m o q u e a r e le m b r a r a
a lta f u n ç ã o , q u e Ih e f ô r a c o n f ia d a , d e p e d r a fu n d a m e n t a l d a I g r e -
ja . T ô d a s as v ê z e s 77 q u e m e n c i o n a o s a p ó s t o lo s , a P e d r o c e d e s e m -
p r e o lu g a r d e h o n r a . “ C a d a u m d e v ós d iz : eu n a verd a d e sou
d e P a u lo e e u d e A p o i o e e u d e C e f a s e e u d e C r is t o ” . 76 O c lím a x
é e v i d e n t e : P a u lo , p o r m o d é s t ia , o c u p a o ú lt im o lu g a r , C r is t o o
p r im e ir o , im e d ia t a m e n t e a n te s d e C r is t o , P e d r o . X a l vez, os após-
t o lo s s ã o r e u n id o s s o b u m a e x p r e s s ã o c o le t iv a , s ó P e d r o é e x p lic it a -
m e n t e n o m e a d o n u m a s a liê n c ia s in g u la r m e n t e e n fá t ic a : “ A c a s o n ã o
rxté d a m 1‘ Église d 'u n e part [decreto d e Jerusalém» Judas c Silas q u e o prom ulgaram em
A n tíoq u ia, Pedro qu e o p ropôs. T ia g o qu e o aprovo u , Paulo] et de l*autre non pas l'a u to -
rité m ais la conduite de Pierre ; et com m e les A ntiochiens il suit P ierre”*. X . R o u o i),
Saint té m o in d e la p r im a u t é d e S a in t P ie r r e , nas R e c h e r c h e s de S cie n c e r e lig ie u s e ,
1 9 19, p p . 5 1 1 -5 1 3 .
temos nós 0 direito de levar uma mulher irmã assim como os outros
apóstolos e os irmãos do Senhor e Ceias?” . 79
Alhures na epístola aos gálatas diz que três anos depois de sua
conversão subiu a Jerusalém para ver a Pedro e com êle passar quin-
ze dias.80 Por que em Paulo esta solicitude de ver a Pedro e não
aos outros apóstolos ? Responde Crisóstomo : “Depois de tantas
e tão preclaras façanhas... foi visitar a Pedro como a superior e
mnic antigo” . E notai a energia intraduzível do original grego su-
blinhado pelo mesmo Crisóstomo : “Não disse í5eív senão íutopinai
que-se costuma empregar no sentido de quem vai visitar as gran-
des e esplêndidas metrópoles, dignas de ser admiradas e conheci-
das” .81
Sinceramente, tudo isto se concilia bem pouco com a quixo-
tesca postura de “campeão antipapal” em que o caricaturou irreve-
rentemente 0 Sr. C arlos Pereira.
S. Pedro e os papas. — Como chave de ouro desta série de ar-
gumentos do zeloso pastor aparece o testemunho do próprio S. Pe-
dro. A sua atitude humilde, diz o Sr. Carlos Pereira, bem mostra
que "êle ignorava inteiramente possuir a posição e os títulos pom-
posos que em seu nome os papas sacrilegamente assumem” , p. 242.
Nas. suas epístolas, continua o crítico, nada há que “se pareça com
um decreto do Vaticano” . Em palpável contraste com os anátemas
e o autoritarismo vanglorioso das bulas papais, escreve S. Pedro :
“Símão Pedro, servo e apóstolo de J. C.” ; “esta é a rogativa que eu
faço àos presbíteros, eu presbítero como êles”, p. 243.
Nugas e futilidades, tudo isto. S. Pedro não proclama o seu
primado ? Quid inde ? Mas “corria-lhe o sagrado dever... de apre-
79. A propósito da prim eira epístola aos coríntios citemos aqui a conclusão d ç R oin on %
"E m resumo, pela 1'.* aos coríntios sabemos que aos olhos da Igreja de Corinto, P edro,
airida que até então mão tivesse n en hum a relação com . ela, era o prim eiro dos apóstolos,
a ^ m aior depois d e Cristo. É aponto.êste tie q u e .e e não p od e duvidar* N em é m enos certo
que Paulo, p or m eio do-. qual conhecemps o estado de- espírito dos coríntios a êste respeito,
n ão teiJta d c m o d o . algam . íp od ífica r essa: idéia q u e formavam da •posição - superior de P edro,
na Igreja. P e lo con trá rio,- sua linguagem ;é vazada em m odo de confirm ar o s fiéis nesta
sua maneira de ver. Enfim- é, pelo menos, m uito provável que a penuasSo dos coríntios
não tenha outra origem senão o p r ó p r io . Paulo'*. X a vier , R oirq n , Saint-Paxil, témoin de lü
primauté de Pierre, nas -Reeherches de Sciencereligitiut, 1913, p p . 498-499.
80. Gal., I, 18.
81. “Post tanta ac tam praeclarc gesta... ascendit velut ad maiorem et seniorem".
— "Non dixit iSel» sed■l^TOfirja-at quomodo loqui solent qui magnas ac splendidas urbes
ftdeunt spectandi cognosceridique causa” . Commcnt, in epist. ad Gal., I; 11 (MG, LXI;
Wl). T D eo : M
oreto Apostolorum principi convcnicntem tribuit honorem" ( M O , LXXXII»
467).
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - fll
85. Não conhecemos o nom e do "distinto escritor” . O Sr. Carlos Pereira não qu ü
d a r aos seus leitores o prazer de avaliar os altos quilates da sua distinção.
86. M atth., X , 2.
64 - A IGREJA CATÓLICA
87. N otai : a Pedro revela o Espírito Santo de m odo particular a vocação dos gentios
(X I , 4); a Pedro nom eadam ente é enviado o eeiiturião Cornélio, pelo anjo, a fim de receber
dos seus lábios a doutrina da salvação.
8fc. Diz o Sr. Carlos Pereira : “ Pedro não assume nenhum a jurisdição papal. Apenas
lémbra êle a conveniência da escolha. Os irmãos propõem dois e a sorte d ecid e", p . . 243.
— O protestante truca de falso o texto sagrado. Pedro não lembra apenas a conveniência,
Impõe o dever oportet. São verbos êstes que traduzem necessidade m oral, obrigação.
Más por que Pédro não escolheu diretamente o substituto de J u d a s? 5. C r i s ó s t o m o : “ At
üon licebat ipsi Petro eligere ? Licebat et quidem m axirae; verum id non fecit ne cui
videretur grátificare” — H om . 3 in A ct. n. 3 (M G , L X , 35-6). N ão é só com ucasses que
te fflanifèátâ â a u tórld a d e; tnelhor a exerce quem invoca a colaboração espontânea e inteli-
gente dos . súditos. O procedim ento de Pedro não traduz falta de jurisdição, é suavidade
prudente d é g o v ê m o .
89. N ão, contesta ò nosso gram ático, Pedro “ não a [assembléia] preside, não fala
prim eiro, nem p o r últim o resolvendo a questão. A presidência parece ocu pá-la T ia go que
fala por últim o p rop on d o a solução aceita. A pós largo debate é que Pedro Se levanta para
falar’', p . 261. C om ò se adultera a Escritürâ 1 P edto não fala prfràeiro ? E p or que
não nos diz quem fo i o prim eiro orador ? — Pedro não toma a palavra senão “ após largo
debate” . — Mas é natural, nem podia deixar dfe ser assim. Os ehviados da igreja de
A ntioquia expuseram os seus pareceres. Alguns qüe haviam pertencido à seita dos fariseüs
opuseram-se-lhes p ropugnando a necessidade da circuncisão (v . 4 ). Eis a controvérsia, eis
a questão. Quem a julga? Quem a decide? Levanta-se então Pedro e im põe a sua sen-
tença : “ Sabeis, irmãos, qu e desde o í pHmeiroS dias ordenou Deus entre nòs que p or minha
bôea ouvissem os gentios a palavra de Deus” (v. 7). Em seguida d e fin e : “ Cremos que
somos salvos pela graça d o Senhor J. C. assim com o êles também o foram 0, X V , 11.
Ouvida a definição, omnis m ttltiiudo tacuit, v . 12.
Insiste ainda o crítico : Mas é T iago quem fala p o r últim o, quem resolveu a questão,
quem im põe a solução aceita. .Falso. T iago hão resolve coisa nenhum a. T iá g o não propfte
nenhuma solução nova. Fala depois de Pedro para aderir à sua sentença, para confirm á-la
SAU PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 65
«
# 1*
com a Escritura: “ Siraão tem contado com o Deus prim eiro visitou aos gentios a fim de fo r-
mar dêles um p ovo para o seu nom e. Com isto concordam as palavras dos profetas, e t."
dv. 14-15). Eis o que diz a Escritura. Mas que im portam as Escrituras contra o empenho
acirrado de mostrar que “ S. Pedro não ocu pa nessa assembléia eclesiástica nenhuma das
posições que o papa ou os seus legados reclamaram séculos depois’? , p . 261.
90. “ Quasi d u x circum ibat ordines suos considerans, quae D ars esset coadunata auae
sun praesentia egeret’' H om . 21, in A ct. n . 2 (M G . L X , 165).
91. T ã o evidente é a supremacia de Pedro sôbre os demais apóstolos que tôda a antigui-
dade cristã não hesitou um só instante em reconhecê-la expressamente. Principe dos após-
tolos, ch efe dos apóstolos, cabeça do colégio apostólico são expressões qu e nos deparam a
cada passo a leitura dos antigos Padres. Caput apostolorum cham am-no S. G r s c ó r i o N i s -
s e k Oj Or. 2 de St. Steph. 4 (M G , X L V I, 733), S. E f r é m , Comm ent, in epist. S. Pauli,
Venetiis, 1893, p . 128. Apostolorum princeps : O r í g e n e s , H om . 17 in L uc. (M G , X II I , 1845),
E u s é b i o d e C e s a r í i a , In Ps. 68, 8 (M G , X X I I I , 737), S. C r i s ó s t o m o , H om . de decem mill,
talent, in, S (M G , L I, 20), S. C i r i l o A l e x a n d r i n o , In Joan. Evang. I . 12 (H G , L X X IV ,
öö2), S. A f r a a t k s , Demonstratio 7 de poenitentibus, n. 15, ed. Paris 1904, t . I, p . 335, S.
E f r é m , H ym ni et sermones, ed. Lamy, Malines, 1882, t, I, p . L X X V , S. J e r ö n i m o , Adv. Pelag.,
t 1, n. 14 (M G , X X I I I , 506), S. A g o s t i n h o , S e r m 76, c. 2, n. 3; c. 3, n . 4 (M L , X X X V III,
481% 481). Outras citações dos Padres e das liturgias orientais podem ver-se n o A pêndice.
N âo se p od ia desejar consenso mais unânime, mais constante, mais universal. “ La tradi-
ziobe d i tutti i secoli delia Chiesa conferm a quella superiority [de P edro sôbre os apóstolos]
£oti tal consentimento ehe non si troverá Padre o scrittore ecclcsiastico autorevole il quale
,ion renda ad essa solenni e replicate testimoniaras” . B ó l c e n i , V ep isco p a lo , 1789, p. 20.
OO ---- A 1 V7 I ^ £ | J A U A A U J b lV jA
§ 3. — S. Pedro em Roma
92. "Factus est Cornelius episcopus, cum Fabiani locus, id est, locus Petri et gradus
cathedrae sacerdotalis vacaret” . Epist. X ad Antontanum (M L , I I I . 770, 773).
93. Comment, in Genes, t. 3 (M G , X II, 91). Cfr. Eus£b., Hist. Eccles., I l l , 1 (M G ,
XX, 216).
94. “ Cum Petrus in urbe R om a verbum Dei publice praedicasset et Spiritu Sancto affla-
tu s Evangelium promulgasset, m ulti qui aderant Marcum adhortati s u n t ... ut quae ab
ajiostolo praedicata erant conscribaret". A p. Eus£d., Hist. E c c l e s V I, 14 (M G , X X , 551).
üö — /V llr K J L jA L A iV U W l
e pouco abaixo :
Constabat pietate vigens Ecclesia Romae
Composita a Petro cujus successor et ipse
Jamque loco nono cathedram suscepti Hygynus 95.
95. M L , I I , 1077.
96. Philosophum ena, V I, 20 (M G , X V I, 3226).
97. “ Orientem fidcm R om ae prim us N ero cruentavit. T u n c Petrus ab altero cingitur,
cum cruci adstringitur.” Scorpiac., c . 15 (M L , I I , 151). “ Habes R o m a m .. . Ista quam
felix Ecclesia, cu i totam doctrinam apostoli cum sanguine suo p ro fu d c ru n t; u b i Petrus
pnssioni dom inicae adaequatur" D e Praescriptione, c. 36 (M L , I I , 49) — " N c c quidquam
refert inter cos quos Joannes in Jordano et Petrus in T ib eri tin xit” D e Baptismo, c . 4
(M L , I , 1203) — Clemente A lexandrino, o autor d o Carmen contra M arcionem e Tertuliano,
de fato, são autoridades que remontam ao segundo século, cm que floresceram. Só pela
data d e sua m orte os nomeamos entre os do século seguinte.
SÃO PEDRO, PRIMEIRO PAPA - f>9
98. "E g o vero, inquit, apostolorum trophaea possum ostendere. Nam sive in Vati-
cai^ura sive ad Ostiensem viam pergere libet, oceurrent tibi trophaea eorum qui Ecclesiam
illam fundaverunt” . A p . Euséb., Hist. Eccl., I I , c. 25 (M G , X X , 210).
99. Cfr. H , G r is a r , R om a alia fine dei m ondo antico (2 ), R om a, 1908, pp. 225-6.
70 - A IGREJA CATÓLICA
100. "M attlieus in hebraeis ipsoruin lingua Scripturam. edidit Evangelii cum Petrus et
Paulus R om ae cvangelizarent et fundarent Ecclesiam ". Adv. Haer. L . I l l , c. 1, n . 1 (M G ,
V II, 844). C£r. também L . III, c. 3, n. 2 (M G , V II, 848); Euséb., Hist. E c c l e s 1, V,
c . 6 (M G , X X , 446).
101. “ A m bo enim illi in urbem nostram Corinthum ingressi sparso evangelicae doctrinae
semine nos instituerunt et in Italiam profccti cum vos similiter instituissent codem tempore
martyrium pertulerunt” . A p. Euséb., H ist. E c c l e s I I , 25 (M G , X X , 210).
SÃO PEDRO, PRIMEIRO PAPA - 71
102. Pedro c Paulo são chamados fundadores da igreja de R om a porque ambos tra-
balharam na sua form ação, ambos nela selaram a fé com o m artírio. Cronològicamente,
porém , Pedro chegou antes a R om a : S. Paulo só mais tarde quando aí já medrava uma
florescente cristandade, com o êle p róp rio diz na sua epístola aos rom anos.
.103. Discutiu-se sôbre se se devera ler <poLTT)GctPT€s o u (pvrevaavTes. Com Pearson e
Stengleín se atêm os m odernos críticos à segunda versão que diz mais naturalmente com
o contexto c é a lição de todos os códigos gregos e da antiquíssima versão siríaca. Mas que
tem que ver esta questão de crítica textual com a substância do depoimento? E u s é b i o que,
parece, sabia grego e possuía a obra de D i o n í s i o , cita o seu testemunho sem a m enor hesi-
tação em apoio d o martírio dos dois apóstolos em R om a . A observação do Sr. Carlos
Pereira só 6e explica pelo intuito de lançar poeira nos olhos dos leitores ingênuos.
72 - A IGREJA CATÓLICA
106. Carlos Pereira substitui crrôneamente a verdadeira tradução p o r cata outra : “ não
sou vosso mestre com o Pedro e P a u lo ". A to r à a c o ^ a c não é ser mestre, mas exercer juris-
dição.
107. “ N on ut Petrus et Paulus vobis praecipio. Illi apostoll, ego condem natus; illl
liberi, ego usque nu nc servus. A d R om ., c. 4 ; F u n k , I (2) 219.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 75
114. "N u n c Babylonc haec [Seleucia] m ajor est. Ilia magna ex parte deserta, ut in-
trepide de ea usurpari possit q u o d d e M egalopoli Arcadiae quidam dixit com icus : “ Magna
urbs, magnum desertam ". S t r a b o , Geographic, I. X V III, c. 1. "Ipaius Babylonis exigua
quaedam portio nunc habitatur m axim aque inter muros pars agrorum cultui est exposita” *
D i o d o r o S í c u l o , 1. II, c. 9. “ Babylon chaldaicarum gentium caput diu summam claritatcm
obtinuit in toto o r b e .. . Coetero ad solitudinem rediit, exhausta vicinitate Seleuciae, o b id
conditae a Nicatorc intra nonagesimum lapidem in confluente Euphratis” . P l í n i o , Hist., Nat.
1. V I, c, 30 Cfr. L u c i a n o , Charonte, 23; Philopatris, 29, P a u s â n i a s , Arcadica, I , V III.
c . 23 : oò&kv iSrt fjv 4t p-q r tlx o s .
/o “ /i iV jr ü ij.T i \j /i i u ij I v^ a
316. ' lIIá<roíi, y& Pj i£a> /xépovs ápcrxjkos, B <x6v\G)v^ hc CI t Sjv âAXcop aoLTpccirti&v atl
ApertbiTCty ?xou<rca kv xbjcXto y fjv lo v õ a lo s ti-xovcriv o lx fiT o p u s ” . P b ilo , Opera»
BerolJrii 1915, t . V I , p . 2 0 7 . A outra citação, p . 4 . N a ediçSo de Leipzig, 1829, t . V I,
P . 151.
Passemos às razões intrínsecas.
Não deixam de ser interessantes as condições do nosso crí-
tico em abono de sua mal parada exegese. Numa carta, diz êle,
não está bem uma locução figurada. “Não é crível que no estilo
epistolar que se distingue pela simplicidade e singeleza didática,
empregasse Pedro uma fig u r a ...” , p. 267. — Não sei que ojeriza
Ihe veio ao ilustre gramático com as metáforas. Não se usam metá-
foras no estilo epistolar ? Mas é inaudito ! Aponte-me o Sr. Car-
lo s Pebeera qualquer epistolário, sagrado ou profano, de Paulo ou
de Cícero, de Mme. de Sevigné ou de Vieira, e eu lhas colherei a
mãos cheias. Mas nem é necessário sair da epístola que examina-
mos. Cinco versículos acima pinta-nos S. Pedro o demônio que
“tamquam leo rugiens circuit quaerens quem devoret” . Que bela
metáfora! Ademais, se o ensino de Pedro tem a forma de carta, o
seu estilo conserva-se sempre nas eminências de uma nobreza e dig-
nidade onde não só não descabem mas são até ornamento natural
as locuções figuradas. E que mais viva metáfora que chamar Babi-
lônia à cidade da qual mais tarde, na majestade tuliana do seu estilo,
dirá S. Leão Magno que : “cum penes omnibus dominaretur genti-
bus omnium gentium serviebat erroribus et magnam sibi videbatur
assumpsisse religionem quia nullam respuebat falsitatem ?” . 117 — E
não haveria perigo de êrro ou equívoco da parte dos leitores, como
parece temer o Sr. C arlos Pereira ? Não havia. Entre os judeus
era uso corrente apelidar Babilônia a cidade dos Césares. Entre
cristãos não o era menos.118 Qualquer dúvida que ainda pudesse
pairar no espírito dissipá-la-ia Silvano, portador da carta. ■
A segunda consideração do ilustre pastor é simplesmente digna
de lástima. “Só quarenta e tantos anos mais tarde é que a figura
recebeu a sanção do N .T. com a publicação do Apocalipse... Antes
do Apocalipse não consta, segundo observa Eliot, que escritor algum
chamasse Roma de Babilônia” , p. 267. — O que vale tanto como di-
zer : na epístola de S. Pedro não se deve encontrar a metáfora Roma-
-Babilônia porque só aparece pela primeira vez no Apocalipse. E a
metáfora aparece pela primeira vez no Apocalipse porque não a
pre, não é ainda hoje bispo de Roma e bispo de tôda a Igreja ? Por-
ventura por ser Pedro apóstolo ? Mas esqueceu o Sr. C a r l o s Pe-
r e i r a . que dez páginas antes (p. 262) havia chamado — e acertada-
130, Para a igreja de R om a, C fr. Irin eu , A dv. H a e r III, 3 (M G , V II, 8 49-51); H ece-
5V?o, ap. Euséb., Hist. Lcclcs., IV, 22 (M G , X X , 378); Euséb., Hist. Eccles., II, 24 (M G ,
XX, 2 0 6 ) ; IV , 4 ; V , 12 (M G , X X , 310, 45D).
. 131. L e i b n i z , System der T h eologie, Mainz 1825, p . 302. T ôd a cata obra pode consi-
derar-se com o a abjuração dêste grande gênio que só interêsse.* d c ordem material retiveram
no protestantism o.
Clém ent et Caius, s'accordent avec cette tradition romaine, si constante, si ancienne, si vrai-
semblable en elle-même, à laquelle on n 'op p ose que des légendes tardives» sans valeur et
portée, des gloses de fantaisie et des hypothèses sans consistance” . R evu e d'histoire et de
littéra ture religieuse, 1910, p . 238.
88 _ A IGREJA CATÓLICA
140. A d R om ., X V , 22-24.
141. A d R om ., 1, 8,
142. A d R om ., X V , 14.
143. A d R om ., X V I, 19.
SÃO PEDRO, PRIM EIRO PAPA - 91
Não Ihe peço provas históricas desta ficção poética, porque não
seria capaz de me aduzir uma só. Considero a hipótese em si mes-
ma. É admissível que os apóstolos, na sua pregação, houvessem até
então descurado Roma, a capital do império ? Não é infinitamente
mais provável que a cidade, cabeça do mundo, fôsse convertida e
cultivada na fé pelo príncipe dos apóstolos ? Haverá coisa mais in-
verossímil que um romano convertido por S. Pedro tivesse, de volta
à sua pátria, simples leigo e sem missão apostólica, não digo, persua-
dido um ou outro companheiro, mas fundado uma igreja que em
poucos anos subiu a universal nomeada ? A que extravagâncias leva
um preconceito ! Mais. Entre os ouvintes de S. Pedro em Jeru-
salém havia partos, medas, elamitas, frígios, egípcios, cretenses, ára-
bes, etc., etc. (Act., II, 9-11). Aplicai a teoria de Cajrlos Pereira
e tereis S. Pedro fundador indireto de todo êste muúdo de igrejas !
E, no entanto, a história, obstinada, só associa o nome de Pedro à
igreja de Roma. Que mau fado persegue os protestantes I Não
acham uma só vez o nome de Pedro separado do de Roma e ligado
exclusivamente a outra igreja!
3. "C e n ’ est pas sans cause que la tradition catholique a fondé sur ce texte le dogm e
de la primauté rom aine. La conscience de cette primauté inspire tout le développem ent
de Matthieu, q u i n*a pas eu seulement eu vue la personne historique de Simon, mais aussi
la succession traditionelle de Simon P ierre". A . L oisy, Les Evangiles Synoptiques, 1908,
t. II, p . 1S.
SAO PEDRO, PAPA IM O R TA L — 99
7. Depois dos tratados que se seguiram à guerra européia, Constantinopla, acom odan-
do-se às novas exigências territoriais, vendeu à Sérvia seis sedes metropolitanas p or um
milhão e m eio de francos 1
SÃO PEDRO, PAPA IM O R TA L - 103
9. "O s que não obedcccm ao que £le [Cristo] p o r nosso órgão diz, saibam que hão de
incorrer em falta e envolvcr-se em não pequeno perigo; nós seremos inocentes dêste pecado*’ .
Hpist. ad Corínth, c. £9 ( F . 12, 135). Abertamente declara S. C l e m e n t e : 1<> que Cristo fala
pelos seus lá b io s ; 2o que os renitentes serão réus de grave culpa. Haverá m odo de afirmar
menos ambiguamente a própria autoridade ? S. I r i n e u referindo-se a esta epístola chama-a
“ potentissimas litteras, ad pacem eos [coiíntios] congregans et reparans fidem eorum ” . Adv.
Uaeres, III, S, S, (M G , V II, 85U).
SÃO PEDRO, PAPA IM O R TAL - 105
10. "U n d o u b te lly .. . the first step towards papal d om in ation ". L ig h tfo o t. S. Clem ent.
o f R om e, L on d on , 1890, I, p . 70.
11. Papismo! C om o destoa num estudo “ liistórico-dogm ático" ouvir ainda estas deno-
minações pejorativas, filhas de velhos ód ios. A Igreja que obedece ao Papa não tem sobre-
nomes hu m anos; tôda a gente a conhece fom o nom e de Igreja Católica. As alcunhas de
papismo e romanismo, com que a quiseram ridicularizar os protestantes, não vingaram
contra o b om senso da humanidade. Êles serão sempre luteranos, calvinistas, zwinglianos,
etc., etc. A revoltosos bem está o nom e de um cabecilha revolucionário. Ela será sempre
a Igreja C atólica. O apelido de papismo “ est encore ce q u 'il fut toujours, une pure insulte
et une insulte de mauvais ton qui, chez les protestants m ême, ne sort plus d ’ une bouche
d istinguée". D e M à i s t r e , D u p a p e , 1. V I, c. 5. E d. 1819, p . 586.
106 — A IGREJA CATÓLICA
voti com pos fiat, digne casta et universo caritatis, coetui praesidens, Christi legem habens,
Patrig nom ine insignita, e tc.". Ad R om . (F . 1 (2 ), 213), “ Solus Jesus Christus illam [ecclesiam
Syriae] vice episcopi. reget atque vestra caritas". Ad R om ., I X , I (F , I(2)> 223 ). Fôra mister
1er tôda esta epístola, respirar êste sentimento de reverência que de tôda ela se exala para
formar uma idéia d o alto con ceito em q u e na idade apostólica era tida a prim azia da igreja
romana.
20. A d R o m ., I II, I , (F , 1 (2 ), 215).
21. “ A d hanc enim Ecclesiam p ropter potentiorem principalitatem necesse est om nem
convcnire ecclesiam ". Adv. H aer., III, 3 (M G , V II; 849). Eis na íntegra vertido o texto de
Irineu : "C om esta Igreja em razão de sua primazia de poder tôdas as outras igrejas, isto é,
os fiéis de todo o universo têm obrigação de se conformar : de fato, é nela que tôdas, em
tôda a parte e sempre, conservaram a tradição que vem dos a p óstolos". " I l est difficile
de trouver une expression plus nette : 1° de l’ unité doctrinale dans l'Eglise universelle ;
2° de Timportance souveraine, unique d e l’ Eglise romaine com m e témoin, gardienne» et
organe de la tradition apostolique ; B.° de sa prééminence supérieure dans l'ensem ble de*
chrétientés” . Duchesne, Eglises séparées, Paris 1905, p . 119.
22. Epist. 59, n . 14 (E d . Hartel, 683).
23. Epist. 48, n . 3 (H artel, 607).
24. Epist. 55, n. 1 (H artel, 624). T a l é o sentir de Cipriano, calmo e tranqüilo, ecoando
a grande voz da tradição católica. Q ue montam algumas expressões ressentidas pronunciada*
depois pelo grande bispo contra o papa S .'E stêv ã o no ardor de um a controvérsia religiosa
que agitou e perturbou os ânimos na Á frica e na Ásia ? Magnificamente D e M a istre :
u Lorsque les adversaires de la m onarchie pontificale nous citent tisque ad nauseam les viva-
cités de ce même S. Cyprien contre le pape Etienne, il nous peignent la pauvre huma-
nité au lieu de nous peindre la sainte tra d itio n ... Il faut de plus ne jamais perdre de
vue cette grande règle q u 'on néglige trop, en traitant ce sujet, q uoiqu’ elle soit de tous
les temps et de tous les lieux, que le témoignage d*un homme ne saurait être reçu, quelque
soit le mérite de celui, qu i le rend, dès que cet homme peut être seulement, soupçonné
d'être sous Vinfluence de quelque passion capable de le trom perM. D u Fape, 1, I , c . S,
Ed. 1819, p p . 70*68.
semper apostolicae cathedrae viguit principatus” ,2S A sede de Pe-
dro, pela sucessão ininterrupta de seus bispos, “culmen auctoritatis
oblinuit, cui nolle primas dare vel summae profecto impietatis est
vel praecipitis arrogantiae” .26
É Jebônimo (340-420) que das longínquas paragens do Orien-
te, ao ver que Melécio, Vital e Paulino pleiteavam a sede de An-
tioquia, se dirige ao Papa em demanda de luz e conselho : "estar
em comunhão com o romano Pontífice é estar unido à cátedra de
Pedro, é seguir a Cristo, que sôbre essa pedra edificou a sua Igreja.
Quem sair desta arca perecerá no naufrágio” .27
É, ainda O ptato de MilÉvio, Ambrósio, Ghegóhio de Nazian-
zo, M arcelo de Ancira, Vicente de Lerins, Pedho Crisólogo, Teo-
doho, Leôncio de Arles,28 é o côro universal da Igreja, do Oriente
e do Ocidente, a cantar harmoniosamente as glórias e prerrogativas
de Pedro sempre vivo nos seus sucessores.
Tal a voz dos Padres. Ouvi agora a dos Concílios. É a Igreja
tôda que fala nas suas assembléias ecumênicas.
Abre-se em 431 o concílio de Efeso. Filipe, legado do Sumo
Pontífice assim se apresenta ao venerável consenso : “Ninguém du-
vida, e todos os séculos o confessam, que S. Pedro, príncipe e chefe
dos apóstolos, coluna da fé e fundamento da Igreja católica, recebeu
de N. S. J. C., Salvador e Redentor do gênero humano, as chaves
do reino e o poder de ligar e desligar os pecados. Pedro vive e
julga até aos nossos dias e sempre viverá e julgará na pessoa de
seus sucessores. S. Celestino, seu sucessor e substituto legítimo,
nosso santo e bem-aventurado Papa, a êste sínodo me envia como
seu representante, etc.” .29 E todos os padres do concílio expres-
samente aprovaram as palavras do enviado pontifício.
Vinte anos depois, novo concílio ecumênico reune-se em Calce-
dônia. Logo na primeira sessão levanta-se o representante do So-
berano Pontífice e, sem que se ouvisse uma só voz de protesto, pro-
30. M a n s i, V I, 579-D .
31. M a n s i, X I , 6 5 9 -C ; X II, 1081 - D ; X V I, 325-2*.
32. É verdade tão sabida que qualquer insistência pode parecer supérflua. F ó cio re-
conheceu a primazia d o Papa enquanto êste não Ihe fo i à mão n o seu desmesurado desejo
de subir. Só então, irritado, entrou a com bater a supremacia de R om a sob o religiosíssimo
112 - A IGREJA CATÓLICA
pretexto de que a autoridade eclesiástica devia acom panhar a dignidade da capital d o im-
pério» transferida do T ib re para o B ósforo. N ote, pois, o Sr. C a r l o s P e r e i r a : F ócio não
negou o primado, am bicionou-o, não quis destruir a tiara, desejou cingi-la. — Em L u t e r o
é ainda mais evidente a influência d o ânim o apaixonadamente orgulhoso. Desde 1516 errara
o frade teólogo em exp or a doutrina católica da justificação. Im pugnado pelos defensores
da ortodoxia apelou para R o m a . Em 30 de m aio de 1518 envia ao Papa suas teses ou
resolutiones, que deviam ser acompanhadas com um a carta em que se lêem estas formais
palavras: “ Agora, qu e devo fazer? desdizer-me não posso, e vejo entretanto qu e excitei
grande ód io e inveja com publicar estas minhas teses.. . (e c o n c lu i:] P or isso, santíssimo
Padre, prostro-me aos pés de vossa Santidade, a quem entrego a rainha pessoa, tu d o o que
sou t tenho. Vossa Santidade fará o que bem a p rou v er: nas mãos d e V . S. está o repelir
ou defender a m inha causa, dar-m e ou negar-me razão, dar-m e a vida o u tirar-ma. N a voz
de Vossa santidade reconheço a v o i de Cristo, que cm vós fala e governa” . D e W e t t e , I,
121-122. Em 1519 diz ainda num a epístola ao Papa : “ plenissime con fiteor hujus Ecclesiae
(romanae) potestatem esse super om n ia " D e W e t t e ,, I , 234. O Papa, guarda infalível da
verdade, não podendo transigir com o êrro, con den ou -o. O frade soberbo não teve a h u -
m ildade de submeter o seu ju ízo à autoridade daquele a quem Cristo confiara a missão de
confirm ar os seus irmãos na fé. Inde irae !
33. Acenamos aqui m uito de corrida a uma m ultidão inumerável d e fatos. Referi-los
por m iúdo e docum entá-los copiosamente fôra escrever um tratado inteiro de história ecle-
siástica. Não adiantamos, porém , uma só proposição de que não possamos, se nos fô r con -
testada, ministrar tôdas as provas históricas.
34. M a n s i, V I, 582-B.
SÃO PEDRQ, PAPA IM O R TAL - I1S
d a nos devemos conservar apegados” . W cim ar, II, 72. Infelizmente a soberba m al d o -
m inada veio perturbar a serenidade do juízo que ditou estas linhas sensatas. A Igreja de
R o m a , regada pelo sangue de tantos mártires e tão manifestamente amparada pela vontade
<lc Deus, será mais tarde a apóstata, a grande prostituta de Babilônia, a sinagoga do
A nticristo.
42. A o estudarmos adiante a infalibilidade do Papa, aduziremos muitos outros fatos e
citações que provam , com não m enor evidência, a sua supremacia jurisdicional. O magis-
tério infalível na ordem da fé e a suprema jurisdição na ordem do govêm o são duas
<oroas» que cingem , inseparáveis, a fronte do sucessor de S. Pedro.
U6 - A IGREJA CATÓLICA
50. Eis o cânon 28 : “ Eadem considerations m oti 150 D ei amantissimi episcopi sane-
tissimo novae R om aç throno aequalia privilegia tribuerunt recte indicantes urbem , quae et
im pério et senatu hònorata sit et aequalibus cum antiquíssima regina R om a privilegiis
fruatur, etiam in rebus ecclesiasticis, non secus ac illam extoüi ac magnifieri secundam post
illam existentem ; ut et Ponticae et Thraciac et asianae Diocesis m e trop olita n !.. . a praedicto
throno sanct. Constantinopolitanae ord in en tu r". M a n s i, V II, 370. Os 150 bispos a que
alude o cânon no princípio são os Padres d o 1° concílio de Constantinopla, que já haviam
leito a mesma proposta. Convém ainda não esquecer que êste cânon não é conciliar. In -
troduziu-o subdolam ente a m inoria dos bispos — os dependentes do território de Constanti-
nopla reunidos em comissão particular — enquanto a m aioria — os legados de R om a, os
bispos da jurisdição de A ntioquia e de Jerusalém (os do Egito já haviam partido) e os
protetores imperiais d o con cílio, reunidos em outra comissão — se ocupava de com por o
dissídio de M áxim o A ntioquen o com o seu predecessor e Juvenal de Jerusalém.
5 l S& ü a is Üirití foraül os ífre&c» déíeritenraf êsse velho e inutilizado cânon para
Jlistififcár ás süàs miras ambiciosas de independência cismática. Â súa redação atual é, em
èàttfc, áèV iá i a maiiUMliãçãó S e fcóci».
64. Eis um tóp ico d a çaita de A n a t ó l i o a L e ã o : “ Constantinopolitanae cccHsiae reveren-
twsimus cierus est qul, h oc habuit studium , et istarum partiutn religiosissimi sacerdotes, q u i
In h oc fuere concordes et sibi partiam adiutores, cum et sic gestorum vis om nis e t confir-
matio auctoritate vestrae beaiitudinis fu erit reserm ta" . Epist. 132. (M L , L IV , 1084). E na
•éc. V "ain d a o bispo da velha R om a não tinha nenhuma supremacia jurisdicional sôbre
d dá novà R ó m à ", p . 400.
S5. P'elá história d o s ín o d o d e Calcedônia vê-se, d e fato, que o C oncilio Vaticano, ao
definir aindía uma vez o prim ado de jurjsdição d o Papá não Ihe atribuiu nenhum a prerro-
gativa qu e J i n o séc. V nã o tivesse e x e r c id o S. LeXò a p ro v a d o p e lo consenso universal da
Igreja, assim d o O cid e n te c o m o do Òriente, ainda n ã o separado p e lo cism a da grande unidade
católica. Q uem quiser sentir tôda a im pressão d a fôrça dêste argumento leia a reconstru-
ç ã o histórica dêste episódio feita diretamente sôbre as fontes p o r M . C H e k b ig n y , Thcologic«
de Ecclesia (2 ), Parisiis, B cau ch esn e, 1921, PP* 119-152.
premo jerarca do cristianismo porque nêle reconhece o legítimo su-
cessor de S. Pedro a quem Cristo confiou o govêmo universal de sua
Igreja. É o que dizem explicitamente todos os testemunhos. Esta
é a verdade histórica. Sair daí é arquitetar castelos aéreos, é subs-
titiiir o estudo positivo da realidade pelas construções cerebrinas da
imaginação apaixonada.
Ah nos indica as falsas decretais de Isidoro, aparecidas no sé-
culo IX como uma impostura que serviu “lárgamente aos intuitos
filauciosos dos papas” , p. 317. — Não adverte, porém, que no século
IX, por própria confissão dos protestantes já se achava plenamente
constituída e acatada a soberania dos Papas. Não nos ensina o pró-
prio Sr. C a b lo s Peheiha que L e ã o (440-461) e G ré g ó b io (590-604)
foram os primeiros papas ? Por que não observár aindâ que as gran-
des atribuições, adjudicadas aos papas pelas falsas decretais, já de
há muito eram por êles exercitadas antes que as pseudo-isidorianãs
viessem à luz ? 56
Mais além nos descrèVe como as dóações dos reis franebs fun-
daram e consolidaram o poder temporal dos Pàpas. Mas por qúe
balbudiar grosseiramente questões tão distintas ? Uma coisa é a
soberania política dos Pontífices, outra a sua supremacia religiosa,
tão distante da primeira como o céu da terra. O primado espiri-
tual é de direito divino, éStriba-se na constituição essencial da Igre-
56. Coino explicar, porém , essa falsificação d e decretais ? A crítica ainda não conse-
gu iu p rojetar plena luz sôbre a origem dêstes docum entos. Com certeza sabemos apen as o
tem po e o lugar em que forãm forjados. A Frànça ocidental é o seü berço. Entre 845 e
857 nasceram. Quem as co m p ilo u ? C òm que in t u it o s ? Só nos restam conjecturas mais o u
menos prováveis. Em qualquer hipótese, qu e culpa têm os papas qu e um particular, num
ângürá dá cristandade > falséie antigos d ecretos? Já M a r t i n h o I pun ia a fllsifícação de d o -
cum entos pontifícios em P a u l o , arcebispo de Tessalônica. O 8.° c o n c ílio ecum ênico renovoíi
em 869 os mesmos estatutos contra as falsificações de F ó cio . N o tempo dos ca rlo v ín g io s o
ábüso tòtnòu-áe irfais freqüente. Os papas intervieram com gravíssimas penas . I n o c ê n c io til
insurgiu-se Crtèrgicimente contrá estas corrupções condenáveis. O sínodo de T reviri e . â
B ula I n cotn a D om ini tratam esta culpa com o caso reservado, com inando aòs seus fautores
á pena de excom unhão. P or que requinte d e má fé, pois, responsabilizar os Papas p or
falsificações que desde o 7.° século êles foram os primeiros a reprovar e reprim ir com
tania severidade ? — Se as pseudo-isidorianas lograram larga acolhida na cristandade é só
p orq u e enunciavam doutrinas comums e preconizavam direitos pontifícios uriivérsálnierite
reconhecidos. — O que, além disso, nos assevera o Sr. C . P e r e i r a qu e só "e m tempos
m oderno« arf letras protestantes desvendaram êsse lôgro secular” , p . 817* é, de todo em
tddbí fàlsò. Já nb séc. X I I ; P ê d r o C o m e s t O r e E s t ê v ã o , bispo d e T o u m a i, suspeitaram a
genuinidade das decretais em questão. N o séc. X V , 0 Cardeal N i c o l a u , de Cusa, o Cardeal
T ò r q u e m À d a , G o b È lin e K a lt e r s e n propuseram mais abertamente as suas dúvidas. Os p ri-
xüieiròs átxflbgiátàs católicos contra a reform a luterana, A n t.® A g u s tín , bispò de Tarragóna,
B a r ô n io e B e ia r m i.n o refugaram-nas decididamente p o r espúrias. Alegar hoje contra o
Papado ás decretais pseüdo-isidorianas é anacronismo semelhante ao de quem pretendesse
expugnar unia praça forte m o d e rn a c o ih os a p roch es d e aríetes pesados e arqueológicas
catapultas.
ja estabelecida por Cristo, imutável, duradoura como os séculos.
Na huiiuldade;-das catacumbas os primeiros sucessores de S. Pedro
não a possuíam menos completa, menos perfeita, que G r e g ó r i o vn
ou iNOCÉaício m, entre os esplendores de sua realeza temporal. De-
pois de injustamente esbulhados dos seus domínios pela usurpação
piemôntesa não foram menos papas Pio ix ou L e ã o xm, ou Ben-
ííé xvv" A soberania político-territorial, essa é de origem humana.
Foi 'o grande meio de que se serviu a Providência para assegurar
ê£o. chefe da cristandade a independência necessária ao exercício de
stia missão espiritual. Baralhar as duas coisas para ver na realeza
temporal de Roma a causa e origem de sua primazia religiosa é des-
conhecer a história e cincar nos primeiros elementos que definem o
estado da questão. A êste escamotear sofístico chamavam os ve-
lhos lógicos “ignoratio elenchi” .
Todos êstes fatores do primado romano até aqui apresentados
não passam, no pensar dos nossos adversários, de simples instru-
mentos hàbilmente manejados pelas “ambições descomunais dos pa-
pas” , p. 317. É êste descomunal ambicionar, é esta febre de insa-
ciável crescer que constitui a mola central da poderosa máquina
política que elevou aos ares o grandioso edifício da hegemonia
romana.
Nada mais fútil, nada mais arbitrário, nada mais grotesco, nada
mais absurdo. Onde as provas desta suposta ambição ? Mostrai-
-me na história êstes monstros romanos devorados pela sêde de do-
minar. Não me comeceis, porém, por supor o que se deve demons-
trar, não me estatuais de antemão como princípio indiscutível, que
o primado é um poder ilegítimo para apontar-me logo em cada ato
pontifício em que o papa exerce ou reivindica os seus direitos, uma
tentativa de usurpação. L e ã o e G begóbio, dizem-nos, foram os gran-
des artífices da monarquia papal. A cristandade inteira venera-os
como santos, a história sagrou-lhes a grandeza com o sobrenome de
Magno, a graça enriqueceu-os das mais heróicas virtudes, Deus con-
firmou-lhes a santidade com os mais esplêndidos milagres. E êstes
seriam “os grandes ambiciosos” que transformaram a Igreja de Cris-
to em sinagoga de Satã!
Ambiciosos os pontífices romanos ? E por que a ambição só se
havia de assentar no trono de Roma ? Por que Alexandria e Éfeso,
Antioquia e Cesaréia, Jerusalém e Corinto não haveriam também de
erguer a cabeça altiva e à ambição do Ocidente opor as ambições
do Levante? Por que nos séculos de ouro da igreja oriental não viu
á história avultar em cada patriarca um papa em miniatura?
Impôsto pela ambição dos papas o poder de Roma ? “Mas tal-
vez um poder que se impõe pode resistir por mil e novecentos anos
ao espírito de orgulho e de revolta que agita a nossa miserável na-
tureza ? Talvez duzentos e sessenta e nove usurpadores tão dife-
rentes por gênio e por índole poderiam vingar na opressão da mais
santa das liberdades sem mudar o poder absoluto que se atribuíram?
Talvez Cristo cuja divindade a heresia reconhece deixaria gemer a
Igreja desonrada sob o pêso de tão longa iniqüidade ?” 57
Fôssem os Papas ambiciosos. E a Igreja? E os bispos de todo
o orbe oatólico ? Apraz-vos considerá-los como homens comuns
impelidos pela fôrça das paixões que fermentam no fundo da hu-
manidade ? Como então explicar a conivência do seu silêncio ? On-
tem superiores autônomos, independentes, iguais; hoje, súditos obe-
dientes, peados por uma fôrça mais alta no exercício de sua jurisdi-
ção, julgados, depostos, removidos a uma ordem do Papa, sem um
brado de protesto, sem um gesto de revolta I Não é possível, por-
que não é .humano.
Preferis encará-los como santos, homens de virtudes excepcio-
nais, pastores zelosos, atalaias sempre vigilantes pela integridade
da fé e moralidade dos costumes na Igreja ? Dizei-me então por
que se calaram ante esta adulteração sacrílega da obra de Cristo.
Registra a história memoráveis controvérsias suscitadas pela míni-
ma novidade na fé, pela mínima tentativa de falsear um dogma, de
introduzir na linguagem cristã uma só palavra que pudesse dar azo
a interpretações errôneas. Quem desconhece os tumultos e as agi-
tações provocadas em tôda a Igreja pelas heresias de Ábio, Nestóbio
e P elágxo , pelas discussões sôbre o batismo dos hereges, sôbre a
data da celebração da Páscoa ? Quantos livros publicados, quan-
tos concílios reunidos, quantos motins no povo, quanto zêlo nos bis-
pos, quantos anátemas fulminados ! E diante da ambição crescente
dêste patriarca ocidental, que não impugna um ou outro dogma mas
corrompe na sua essência a constituição social da Igreja, o mundo
católico emudece, curva a cabeça e genuflete! Nos quatro pri-
meiros séculos k de fé em tôda a Igreja que os bispos são iguais, que
Cristo instituiu uma federação de dioceses autônomas e indepen-
dentes ; no século V já é de fé que um é o monarca de tôda a cris-
tandade ao qual devem submissão e obediência todos os outros pas-
tôres. E esta mutação profunda, gravíssima, radical como as que
61. N ão m e dei ao trabalho de verificar Du Pin. O leitor já sabe que há dois escri-
toras dêsse n o m e ; ambos deixaram vária9 obras. O Sr. C a r l o s P e r e i r a , com o de costume,
dispensa-se de citações exatas. Alexandre 1 H á tantos Alexandres nesse m undo 1 Mas contra
o indefeso B e l a r m i n o é certo que ainda uma vez leyanta o S t . C a r l o s P e r e i r a aleive
inqualificável. B e l a r m i n o nos quatro prim eiros séculos não encontrou referência ou alusão
à dignidade pontifícia do bispo de R om a ? E on d e o leu o clarividente crítico ? T o m e a
obra D e Controversiis do grande C ard eal; abra o T o m o I , Controvérsia III» D e R om ano
P ontífice, caps. 14, 15» 16. A í verá qu e, em favor da dignidade pontifical d o bispo de
R om a, dentre os escritores dos quatro primeiros séculos, cita B e l a r m i n o 6 testemunhos au-
tênticos de pontífices (c . 14), 7 de escritores gregos (c . 15) e 5 de escritores latinos
( c . 1 6 ); ao todo, 18 preciosos docum entos (em com plexo cita B e l a r m i n o 58 testem unhoi
da antiguidade, mas os outros são posteriores ao séc. IV ). — Com o explicar tão audaciosa
falsificação ? N ão posso acabar com igo que o gramático levasse em ânimo adulterar acinte
as obras d o em inente apologista da Igreja, êle, todo zelo em assoalhar “ a fraude colossal
das Falsas Decretais" que sancionaram “ as ambições descomunais dos papas” , p . 817. Não
resta senão apelar para a prodigiosa faculdade psicológica, que já Ihe conhecemos, de citas
e confutar autores católicos sem nunca os haver lid o . Pena, que a crítica irreverente nem
sempre respeite estas portentosas intüições d o livre exam e.
C a p ít u l o I I I
O MAGISTÉRIO INFALÍVEL
2. Sôbre esta impotência ingênita d o livro para a regeneração espiritual da hum ani-
dade ouçam os protestantes estas considerações d a sabedoria antiga. O testemunho não pode
ser suspeito de parcialidade; é P l a t ã o quem f a l a : “ A palavra está para a escritura com o
um hom em para o seu retrato. As produções da pintura apresentam-se aos nossos olhos
com o vivas, m a s s e a s i n t e r r o g a is g u a r d a m s i l ê n c i 0 c o m d i g n i d a d e . . . O mesmo vale da escri-
tura que não sabe o q u e c o n v é m d iz e r a u m e o c u l t a r a o u t r o . Se a impugnam o u insultam
sem razão não se pode defender, p o r q u e o s e u n ã o e s tá p r e s e n t e p a r a d e f e n d ê - l a . Assim
quem ju lga p oder estabelecer s ó p e l a e s c r itu r a Uma doutrina clara e duradoura é um louco
rematado (à letra: transborda de necessidade, TroWrjs ãv €br\6das y èn o i), Se realmente
êle.possuíra os germes da verdade não houvera <ie crer que, com um p ou co d e líqu id o preto
e uma pena poderia fazê-los germinar no universo, defendê-los contra as inclemôncias das
estações, comunicar-lhes a necessária eficácia” . P la t ã o , P h ed ro. Opera, B iponte, 1787, t.
X . p . 381-2; Ed. de Lipsia 1819, t. I, p p . 242-4.
v/ m /w io x JLtS-LKJ liNlfAIilViliL — 135
3. Verdade tão evidente reconhecem h oje os mais sensatos dentre os próprios p ro-
testantes. “ Utna Igreja cuja doutrina c susceptível de Êrro na sua essência, pode transviar
e perder as almas. Igreja assim, que autoridade poderá exercer num espírito enamorado
da verdade e torturado pela d ú v id a ? ... N egar a infalibilidade é negar a própria Igre ja 1*.
K r o g h - T o n n in c , L e protestantisme contem poraine, R uine constitucionnelle, Paris, B loud, 1901,
p . 24. O autor é o mais abalizado teólogo m od em o d o luteranismo norueguês.
4. W eimar, X , 2 A b t. p . 217. C fr. t. X L , p . 236.
5. J á em 1 5 7 7 , C r i s t ó f o r o R a s p e r g e r , numa dissertação publicada em Ingolstadt recolhera
duzentos interpretações divenas, propostas pelos inovadores, das palavras : h oc est corpus
xneum. £ trata-se de um dogm a fundamental, da instituição de um sacramento, da pro-
m ulgação da lei sacrifical da Nova Aliança, do testamento de Cristo !
Mais adiante consagraremos um capítulo especial à análise da regra de fé estabelecida
pelos protestantes.
assegurar-lhe a integridade sobrenatural. De nada vale um livro
infalível em mão de homens falíveis no interpreta-lo.6
Uma religião divina exige uma autoridade infalível? Cristo
instituiu infalível a sua Igreja. Deus, que na ordem natural prodi-
galizou, com mãos largas, todos os dons necessários à conservação e
desenvolvimento da nossa vida física — a terra que nos sustenta com
os seus frutos, o ar que nos vivifica com o seu oxigênio, o sol que
nos ilumina com os seus raios — não será menos generoso em libe-
ralizar-nos, na ordem do espírito, o alimento necessário à nossa vida
sobrenatural. O divino Artista parece-se consigo mesmo em tôdas
as suas obras.
Ao Evangelho : “Ide, amestrai a todos os povos, batizando-os
em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a
observar tudo o que eu vos mandei; eu estarei convosco todos os
dias até a consumação dos séculos” , Matth., XXVIII, 19-20.
Os apóstolos e os seus continuadores devem evangelizar todos
os povos, devem ensinar-lhes tudo o que Cristo ensinou, omnia. E
como esta fôra emprêsa superior a simples fôrças humanas, o Salva-
dor promete-lhes o seu auxílio, a sua assistência divina : Cristo es-
tará com a sua Igreja não só nos seus primórdios, não só enquanto
viverem os doze escolhidos da Galiléia, mas sempre, todos os dias,
até à consumação dos séculos. Poderá haver promessa mais formal,
mais explícita, mais inequívoca ? Poderá crer-se que um magisté-
9. Act.f X V , 28.
10. 1 Tim . III, 15.
11. Gal. II, 8 .
12. A d A utolyc., I . 2, n . 14 (M G , V I, 1076).
13. Adv. Haercs., III, 24 (MG, V II, 966).
14. H om . 1 in Genes., n. 5, 7 (M G , X I I , 150 sgs.).
O MAGISTÉRIO INFALÍVEL - 139
18. “ Id co divina Providentia muitos diveisi erroris haereticos esse permittit, ut cum
insultant nobis et interrogant nos ea quae nescimus vel sic excutiamus pigritiam nostram
et divinas Scripturas nosse cupiam us." S. A g o s t i n h o , D e Genesi c, Manichaeos, I . 1, c. 1.
n . 2 (M L , X X X IV ), 173.
142 - A IGREJA CATÓLICA
§ 2. — Corolário fatal.
23. Bem dizia aquele filó s o fo : Se o Messias já veio, devemos scr católicos; se nã»
veio, ju d e u s ; eni nenhuma hipótese, protestantes.
146 - A IGREJA CATÓLICA
24. O p róp rio Sr. Pereira dá-nos a p . 404 uma lista de nada menos de 23 “ erro*
principais inoculados no Cristianismo latino e refugados pelo Protestantismo, p or sua In-
congruência original com o credo e práticas cristãs". O prim eiro destes erros é “ a falsa
concepção da Igreja” . C om o se vê, o catolicismo começa errando pela b a s e ; não sabe o
que é a Igreja. Que m uito ignore também “ as condições exclusivas de Salvação” , o número
dos sacramentos, a regra de interpretar a Bíblia, a necessidade d o sacrifício, etc., etc. ?
143 - A IGREJA CATÓLICA
§ 3. — Infalibilidade do Papa
27. D o seu dogm a da justificação, que êle considera com o a “ suninií chrijtianism iN.
W eimar, X X V , 328, cscrcve o p róp rio •L u t e r o : “ Nenhuma religião há, em tôda a terra
que ensine esta doutrina da justificação ; eu mesmo, ainda que a ensine publicamente, com
Grande dificuldade a creio em particular” . "Weimar, X X V , 330. Em argumento análogo
C4J.VIN0 : “ Pouco se m e dá do que acerca da satisfação se lê correntemente nos antigos autores.
Confesso que alguns dentre êles, ou para falar com sinceridade, t o d o s . . . neste ponto efra-
ram o u se exprim iram com demasiado rig or” , I n s t . , I, III, c. 4, n . 38, Operá, II, 489.
l 's í — A. I G K J i ) \ (JA I U L 1 U A
28. Esta última cláusula fo i inserida contra o êrro dos galicanos que admitiam a in-
falibilidade d a s definições pontifícias quando a elas s e unia o consentimento da Igreja.
Confundiam a causa com o efeito. N ão são infalíveis a s decisões do Papa p orque a elas
adere a Igreja, mas a Igreja presta-lhes o seu assentimento p orque são infalíveis.
29. Cone. V a t sess. IV , c . 4.
í j i — rv J iu iv ijj/ i v^n i
30. Ouvi os bispos suíços na sua Pastoral coletiva de 1871, francamente aprovada por
P io I X : “ O Papa não é infalível nem com o homem, nem com o sábio, nem com o sacerdote,
nem com o bispo, nem com o p ríncipe temporal, nem com o juiz, nem com o legislador. Não
é infalível nem im pecável na sua vida e procedimento, nas suas vírtos políticas, nas suas
relações com os príncipes, nem mesmo no govêrno da Igreja. É única e exclusivamente
infalível quando, com o D ou tor supremo da Igreja, pronuncia em matéria de fé o u d c cos-
tumes uma decisão qu e deve ser aceitada e tida com o obrigatória p or todos os fié is". O Car-
deal M a n n i n g , na sua H istória do Concílio Vaticano fala d o mesmo modo-»
O MAGISTÉRIO INFALÍVEL - 155
31. Do m esm o p a ra log ism o já se servira L utero para afirm ar q u e o hom em não é
liv re . “O livre a rb ítrio é nom e exclusivam ente d iv in o, qu e só à m ajestade de Deus se
p o d e a t r ib u ir .. . A p lic á -lo aos hom en s, fôra d iv in iz á -lo s : não há sacriltfgio m a io r " . W eiinar,
X V I I I , 636 . O sofism a é tara h ereditá ria na fam ília protestante.
138 - A IGREJA CATÓLICA
44. Ver todo êste docum ento em D en zin cer , Enchriàion symbolorum, etc., n . 171-2.
45. De quanto aí fica exposto se colige a resposta à afirmação do Sr. C . P e r e i r a :
WA Igreja Grega rejcita-a [a infalibilidade d o Papa] com o blasfem a” . CalOu o prudente
polemista que esta Igreja grega é a igreja cismática de F ó cio e de M i g u e l C e r u l A r i o , sepa-
rada da Igreja católica depois de 9 ou 10 séculos e desde então amortalhada na imobilidade
dos corpos sem v id a .. Os concílios de Éfeso, Calcedônia e Constantinopla, a subscrição un i-
versal da fórm ula de Horm idas patenteiam a fé ortodoxa d o Oriente nos áureos tempos de
sua juventude cristã. Q ue um a igreja cismática qualquer, grega ou protestante, rejeite
depois d e sua separação a infalibilidade d o Papa contra o qual se revoltou, não p od e valer
oom o testemunho da v e r d a d e : é uma conseqüência fatal d o crim e de apostasia, é uma nega-
ção psicològicamente necessária.
46. M ansi , X X IV , 70.
46a. Summ. T h eolog., 2~2ae, q. ] , a 10.
164 - A IGREJA CATÓLICA
54. “ Imediatamente após esta votação preliminar, quase todos os bispos da minoria
deixaram abruptamente R om a, depois de terem lavrado um protesto contra os processos
d o C oncílio. Determ inou a fuga o receio de sua segurança pessoal’ 1, p . 362. A que leitor
persuadirá o Sr. C a r l o s P e r e i r a que P io IX ameaçasse os bispos da minoria ?! E levantam-se
aleives desta gravidade sem um docum ento ! — Quanto ao protesto, o gramático brasileiro
prestaria relevante serviço à crítica se o trouxesse à luz da publicidade. É cousa até hoje
desconhecida. N a carta m ui respeitosa com que os bispos da m inoria se despediram do Papa«
o único m otivo da partida qu e alegam é a piedade e reverencia filial : “ Pietas enim fidelis
et leveren tia .. . non patiuntur nos in causa personam Sanctitatis vestrae adeo proxim e con -
cernente palam et in fa d e Patries dicere: N on placet” . Acta et D eer., p. 994. A pena venenosa
do apologista da R eform a perverte esta delicadeza cm protesto, esta ausência justificada dos
bispos em fuga, p o r temor de “ sua segurança pessoal1'.
O MAGISTÉRIO INFALÍVEL - 109
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» o
57. Assim no I V Concílio d e Latrão (1 2 1 5 ): Nos autem, sacro approbante C oncilio, cre-
dimus, etc., M ansi, X X I I , 990, 994. Assim no 2.° Concilio d e Lião (1274) : Nos, sacro appro-
bante C on cilio__ damnamus. Mansi, X X IV , 81. D . Assim no Concílio de Viena (1311-
-1 2 ) : N o s ... sacro approbante Concilio duxim us eligendam. Mansi, X X V , 411 D. Afirmar,
pois, que **o C oncílio do Vaticano corrige o êrro d o de T r e n to ” , p . 865, é apenas dar
mostra de que da história da Igreja só se conhecem os aleives levantados pela ignorância
e m á fé dos Iibelistas de profissão. A maravilha do gram ático revela apenas a sua inexpe-
riência nestes estudos em qu e é, d e todo em todo, p rofa n o.
O MAGISTÉRIO INFALÍVEL - 171
58. R eferindo-se a esta passagem de S. Lucas, diz o Sr. G. P e r e i r a , à pág. 212, que
é apenas subsidiária para a demonstração do prim ado de S. Pedro : “ Cristo anuncia apenai
a queda de S. Pedro, prom ete orar p o r êle para que não Ihe falte d e t o d o a sua fé ” ,
O d e t o d o vem relevado em versalete. Só é pena que não se ache no texto. O gramático
inventou*o d e raiz e para fazer mossa n o ânim o dos leitores pôs a sua invenção em versai.
Privilégios da exegese d o livre exam e. — M ais. Cristo anuncia apenas a queda de S. Pedro ?
N ã o ; faz m uito mais, ora p o r êle para que a .rua f é n5o desfaleça, im põe-lhe o dever de
confirmar os seus irm ãos. P or que m utilar o texto ? — Já não queremos insistir no ter-
ceiro falso testemunho levantado aqui a B ela rm in o: "À própria imaginação vivíssima do
Cardeal Belarm ino não teria ocorrido arvorar em titulo de nomeação d o Papado uma sim-
ples recom endação feita a Pedro, em Lucas, de confortar os seus irm ãos", p . 212. O leitor
já deve estar familiarizado com o inefável privilégio do gramático brasileiro. — Se o Sr.
C . P e re ira em vez de manusear S haaf, J a n u s o u L i t t l e d a u e versasse com m ão diurna e
noturna as fontes genuínas do ensinamento cristão, saberia que não só " a imaginação vivís-
sima” d o C ard. B e l a r m i n o (D e R om . P ontif. I . 4 , c . 3 ) seriSo também C u u lo A l e x a n -
d rino, L e ã o M agn o, G e l à s i o , A c a t X o , T e o d o r ô Studita, T e o f i l a c t ò , G r e g ó r i ò V II, A f c -
selm o, T o m á s d ’ A q u i n o , B o a ve n t u r a , S c o t o , T o m á s d e V i l a n õ v a , S u a r e z — p o r não lem -
brar senão os que m e ocorrem à m em ória, — viram no texto de S. Lucas a promessa de
infalibilidade feita p o r Cristo a S. Pedro e a todos os seus sucessores.
172 - A IGREJA CATÓLICA
59. B ibliografia relativa ao livro 1. Obras técnicas .* B ou ix, Tractatus dc Papa, 3 vols.,
Paria-Lyon, 1869-1870; M . D ’ H e r b i g n y , Theotogica d e E cclesia(2 ), 2 vols., Parisiis, Beau-
chesne, 192 0 -2 1; C . G u t b e r l e t , Lehrbuch der A p ologetik, 111(2), Muenster, 1899 ; P à t r .
M u r r a y , Tractatus de Ecclesia Christi, 3 vols., D ublinii, 1860-1866; O t t i c e r , T heologia
fundamentalis, t. I I , Freiburg. i. B ., 1911; P a l m i e r i , D e R om ano P o n tific e(3), Prati, 1902;
R o s k o v a n y , R om anus Pontifex tamquam primus Ecclesiae et princeps civilis et monumentis
om nium saeculorum demonstratus, 20 vols., Nitriae et Com arom ii, 1867-1890; S c h a n z , A p o -
logie des Christentums, 111(3), Freiburg i. B . ; 1906, S t r a u b , D e Ecclesia Christi, 2 vols. Oeni-
ponte, 1912 ; W i l m e r s , D e Ecclesia Christi, Ratisbonae, 1897 ; H . D i e c k m a n n , D e Ecclesia
tractatus historico-dogm atici, 2 vols., Freib. i. B. Herder, 1925; B a i n v e l , D e Ecclesia Christi,
Paris, Beauchesne, 1925 ; R . M . S c h u l t e s , D e Ecclesia catholica, P a r i s , Lethielleux, 1926.
Obras de vulgarização científica Para pessoas cultas : B a t t i f o l , L ’ Eglise naissante et le
catholicisme, Paris, 1909; La Paix constantienne et le catholicism e(2 ), Paris, 1914; L e catho-
licisme de Saint A u gu stin($), Paris, 1920; L e siège a p ostoliq u e(2 ), Paris, 1924; G. B o n o m e l l i ,
La Chiesai,3), M ilano, 1910; B o u g a u d , Le Christianisme et les temps présents, T . IV (7 ), Paris,
1907 ; L. D u c h e s n e , Eglises séparées(2 ), Paris, 1905, c. IV , p p . 113-163 ; D e M a i s t r e , D u Pape,
Paris, 1819 ; H. P errey v e, Entretiens sur l’ Eglise cath oliqu e(4 ), 2 vols., Paris, 1901 ; L . P ru -
n e l , L ’ Eglise(4 ), Paris, Beauchesne, 1919 ; W . S o l o v i e w , La Russie et VEglise universelle(2 ),
Paris, 1889, I . II ; a . 45 P ou lp iq u et, L ’ Eglise cath oliqu e(2 ), Paris, Ed, de la R evue de
Jeunes, 8. d. (1923).
LI VRO II
A REFORMA PROTESTANTE
C a p ít u l o I
4. D e W e ttk . II, 5 3 8 ; W e im a r , X V , 2 4 0 .
i . W e im a r , X V I I I , 9 6 -9 7 .
6. W eim ar, X X . 724.
7. E r]., X I I , 218-21 ; X L .V I, 2 0 5 .
*78 — A REFORMA PROTESTANT js
82. B ossuut, Hist. des variai., 1. II, n . 11. C£r. G xisar , L uther, II, 3 2 1 ; W eim a r.
,X V , 340.
33. D e abrogatione missne privatae (Von der W inkelm esse), W eim ar, X X X V III, 108.
184 - A REFORMA PROTESTANTE
34. Sôbre a dem onologia e dem onom ania d c Lutero, cfr. G r is a r , L uther, I I I , 231-257.
35. Era 1541 quando os turcos ameaçavam invadir a Alemanha, publicou L u t e r o a
seguinte oração : “ Sabeis, Senhor, que o diabo, o papa e o turco não têm razão nem direito
d e nos vexar, p orque nunca os ofendem os. Mas p orque confessamos que vós, Padre, vosso
F ilho, Jesus Cristo, e o Espírito Santo sois um só Deus eterno, nos odeiam e perseguem.
Se renunciarmos a esta fé( nada teríamos qu e recear dêles". ErL, X X X I I , 89. — Quanta
cegueira l quanta ca lú n ia ! O diabo, o papa e o turco no mesmo p la n o ! O papa que
persegue a L u t e r o pela sua fé na SS. T r in d a d e ! L u t e r o que se gloria de nunca haver
descontentado o dem ônio 11
36. D e W e t t e , II, 40, 41.
37. N o dia seguinte ao do casamento de L u t e r o escrevia J u s t o J o n a s a E s p a l a t i n o :
“ R ei insigniter novae nuncia tibi venit haec mea ep istola : Luthcrus noster duxit uxorem
Catbarinam de B ora. H cri adfui rei” .
ORIGEM E PROGRESSO DA REFORMA - 185
38. "M aligna fama id c ffecit ut D octor Martinus insperato fieret co n ju x ", escrevia
B lo ch jn g er a Esp a l a t in o . A p . M e n k e n u , Scriptores rerum Germanicarum, t. I I , G45.
39. D e W e t t e , II. 655.
40. D e W ette , III, 2, 3. A vida escandalosa de L utero já tinha com eçado havia mais
tem po, com o se p od e ver desta carta datada de 1522 ao amigo Espalatino , N ão me atre-
vendo a tirá-la em linguagem, aí vai ela sob os véus pouco transparentes, entre nós, do latim :
“ Ceterum , quod de meo con ju gío scribis n olo h oc mireris me non ducere q u i sic f am o sus
sum am alor. H oc magis m irum q u od qui roties de con jugio scribo et m isceor fem inis,
q u o d non jam dudum femina factus sum, ut taceam, quod non duxerim aliquam . Quam -
quam si exem plum m eum petis, habes eccc potcntissimum. Nam tres simul uxores habui
et tam fortiter amavi ut duas amiserim quae alios sponsos accepturae s u n t ... T u veio
segnis ille amator, ne unius quidem audes maritus fieri” . D e W ette , I I , 646. — A B er-
n ard o K o p p e , qu e raptara Catarina de Bora, escreve L utero : "Saiba que estou ligado à
cauda de minha K ette” . D e W ette , III, 9.
41. M e l a n c h t h o n , B rief an Cameraritis ü ber Luthers H eirat vom 16 Junii 1525, von
P . A . K i r c h , Mainz, 1900, p . 8, 11. Esta carta preciosa para a história foi escrita origioà-
rlamente em grego. C a m e r á r i o na sua edição das cartas d c M e l a n c h t h o n (1565) falsifi-
cou-a (com o outras epístolas) e o texto falsificado foi acolhido no Corpus reform atorum , 1,
774 (com a data dc 24 de ju lh o ). O autógrafo que se conserva atualmente na biblioteca do
príncipe Chigi (transferida, há p ou co, para a Vaticana), foi achado no ultimo quartel d o
século passado e p ublicado p o r W . M e y e r , no relatório da sessão da Academia de Munique
em 1876.
42. Como explicar tamanha decadência moral num religioso ? O fato não encerra
nenhum enigma para quem conhece os princípios da ascética cristã. O hábito não faz
o m onge. O religioso infiel aos deveres d e sua profissão e às inspirações da graça pode
Tesvalar nos mais profundos abismos da degradação. Corruptio optim i péssima. Quanto
nos é lícito conjeturar, pelas próprias confidências de L u t e r o , sôbre o drama interior que
186 - A REFORMA PROTESTANTE
se desenrolou na sua alma, foi esta infidelidade que arrastou o apóstata à ruína fatal.
E ra 1516 (26 de outubro), escrevendo a L ange cm E r f u r t , depois de enumerar as m il
ocupações que Ihe dissipavam o espírito, dizia o frade : "Raras vêzes me sobra tempo neces-
sário para rezar o breviário e celebrar; acrescentem-se minhas próprias tentações da carne,
do m undo e do d iab o” . D e W ette , I, 41. Já nesta época êle podia dizer oom verdade
o que confessava em 1520 : "sei que não vivo em conform idade com o que ensino” . D *
W e t t e , I , 402. MConfesso-te, escrevia ainda n o mesmo ano de 1516, que m inha vida mais
e mais se aproxima do in fe rn o ; de dia para dia me vou tornando p ior e mais m iserável".
E n d e r s , I , 16. Mais tarde em 1519 (20 fev.) escrevia a seu superior S t a u p i t z : “ Sou uò>
hòm em exposto e im plicado na sociedade, na crápula, nos movimentos camala, na negli?
gencia e em outras moléstias, a que se vém ajuntar as d o meu p róp rio o f í c i o " . D e W e t t e ,
I, 232. Excom ungado em W orm s (1521), retirou-se para W artburgo onde o eleitor Frederico
Ihe ofereceu um asilo. Longe de entrar em si e arrepender-se, o infeliz frade entregou-se
à ociosidade e à moleza. A 13 de ju lh o escrevia textualmente a M e i a n c h t h o n : “ E go hic
insensatus et induratus sedeo in otio, proh d o lo r I parum orans, nihil gemens p ro Ecclesia
Dei, quia camis meae indomitae uror magnis ignibus. S um m a: q u i fervere spiritu d ebeo,
feiveo carne, libidine, pigritia, otio, somnolentia” . D e W e t t e , I I , 22. NOrate p ro m e, quaeso
vos, peccatis enim immergo in hac solitudine” . Ibid. p . 26. N ão assim sc preparam moral»
mente os a quem Deus confia a missão de reform ar a sua Igreja. De negligência em
negligência, de queda em queda, de pecado em pecado, rolou o infeliz religioso até a
grande apostasia. Terrível exem plo I Lição terrível! C fr. G r is à r , JLuther, 1 (2 ), 222-227.
43. Tischreden, ed. Kroker, 1903, n. 318.
44. B urkardt, D r. M . Lu th . Briefwechsel, Leipzig, 1866, p . 357. Cit., p o r H , B süc^,
Lehrbuch der Kirchengeschichte(4 ), Mainz 1888, p . 614.
45. De W ette, IV , 553.
46. MEgo otiosus h ic et crapulosus sedeo tota d ie ” . De W ette, I I , 6.
47. Corpus reform atorum , I, 579.
ORIGEM E PROGRESSO DA REFORMA - 187
<2pía dos anjos rebeldes, em 4 ue Pese aos seus amigos, L utero ocupa
o degrau mais baixo, irais próximo do lôdo e do pântano” . 52
E; as; sombras morais_>fô homem projetam-se sôbre tôda a sua
$fera. -Ante; © espetáculo desta vida desregrada, temos o direita de
gwdir âos: nossos adversários que nos demonstrem com razões pe-
««Bnptórias. que: êste monje devasso, beberrão, grosseiro e insultador
Íg| © eleito de Deus para reconduzir à sua pureza primitiva a Igre-
f t de S. T omás e de S. Bernardo, de S. G begório e de S. L eão, de
St-Agostinho e de S. Irineu.
80. A p. AtiDiN, Vie de Calvin, II, 374 ; I, 270. A í vêm indicadas as fontes contem -
porâneas.
ORIGEM E PROGRESSO DA REFORM A - 195
63. Aos seus prelados quando se congratulavam de haver lucrado, com a apostasia de
algum sacerdote católico, “ um novo irm ão” , costumava dizer C a r l o s i i de Inglaterra: “ Se
ganhastes um novo irm ão, brevemente tereis também um a nova irm ã ". Narra o cronista
F r e i b e r g : " N o tempo em que o evangelho foi pela prim eira vez pregado entre nós (na
Prússia, em 1525) era um contínuo procurar m ulher e m arido e m uito buscados eram os
padres e m onjes. Porque no princípio possuíam ainda o dinheiro das fundações votivas
e a gente se lhes apinhava ao re d o r". Cit. p o r M e c k e l b u r c , D ie K önigsberger Chrontken,
1865, p . 165.
84. O verdadeiro fundam ento da R eform a foi " a pretence fo r making spoil o f the plate,
vestures and rich ornaments belonging to the altars” . H u m e 's H ist. o f Engl. Elisabeth,
c. X L , anno 1568, cit. p o r D e M a i s t r e , Du Pape} 1. I l l , c. 5, ed. de 1819, p . 517*
ORIGEM E PROGRESSO D A REFORMA - 197
85. “ N ão é porventura uma boa nova, dizia L utero , quando u m se acha afogado em
pecados e vem o Evangelho e d i z : “ Confia e c r ê ; os teua pecados te são, sem mais,
p erd oa d os?” . Erl., X V III, 260.
86. W eim ar, X X X I I I , 2 .
87. W eim ar, X X X I I I , 4.
88. Corp. R eform . V , 725. Eis o original de M e l a n c h t h o n : "Q u a re cum existimant
Evangelii doctrinam esse rectam et compendiariam viam ad obtinendam licentiam, quae om -
nia onera excutit» quodam caeco studio feruntur ad amorem Evangelii” . C fr. muitas outras
citações em D o k l l i n g e r , D ie R eform ation, t. I (2 ), PP- 289-359. F r e d e r i c o u da Prússia es-
creveu sem atenuações : “ Si d on c o n veut réduire les causes des progrès de la R éform e à
des principes simples, on verra qu'en Allemagne ce fut l'ouvrage de l'intérêt, en Angle-
terre, celui de l'am ou r, et en France, celui de la nouveauté, ou peut-êtTe, d’ une chanson.
M ém oires p o u r servir à l’ histoire de la maison de Brandeburg, Oeuvres primitives de Fré-
déric I I , Potsdam, 1805, t. 1 (6 ), p . 40.
198 - A REFORMA PROTESTAN TE
91. W eim ar, X I I , 189. C fr. D e n i f l e , Luther, etc., 1 (2 ), p . 300 ss.; B o s s u e t , Hist, des
variat., 1. 1» n . 5 3 ; 1. 6, n . 39. N o calão das badernas, com L u t e r o corre parelhas
C a lv in o . Q u e arrieiro desbocado, numa arremetida de cólera, encontraria estas facécias
para saudar os Padres d o Concílio Tridentino ? “ Salve tridentícolas, soldados de N etuno,
ignorantes, estúpidos, asnos, porcos, bêstas, legados d o Anticristo, ventres ociosos, cadáveres
pútridos, padres coinudos, monstros pestilenciais, padres auritos, filhos da fé romana, isto
é, da grande prostituta,,. V er o original latino ainda mais veemente em A u d i n , H istoire
d e la vie de Calvin, Paris, 1841, II, p . 376. O vocabulário é rico e sonoro, é digno d o
“ Paulo d o cristianismo restaurado'1.
92. Os contemporâneos reconhecem a linguagem descomposta e inconveniente do ex-
-frade. B u llin g e r, reform ador suíço, assim o julgava em 1545: “ E infelizmente inegável
e manifesto que ninguém , tratando da fé e de assuntos graves e importantes escreveu ja -
mais de m odo tão áspero, tão rude, inconveniente e contrário à moderação e bons costumes
cristãos com o L u tero” . D o e l u n g e r , D ie R eform ation, III, 263. T o m á s M o o r e , aliás t io
m oderado, pinta-lhe assim, num realismo cru o estilo obsceno : “ N ihil habet in ore CLu-
therus] praeter latrinas, m . . . , stercora, quibus foedius et spurcius quam ullus unquam
scurra scurratur.. . Si pergat scurlílitate ludere nec aliud in ore gestare quam sentinas,
cloacas, latrinas, m . . stercora, facient quod volunt alii, nos ex tempore capimus consilium,
velimusne sic b a cca n tem ... cura suis m . . . et stercoribus cacantem cacatumque relinquere“ .
R esponsio ad convitia L utheri 1523. Opera, Lovanii, 1566, p . 116. O apóstata tinha consciên-
cia desta mordacidade, mas eis corno se desculpa : “ N ão posso negar que sou mais violento
d o que convém ; mas os meus inimigos que o sabem não deviam atiçar o cã o ". “ Quase todos
m e condenam a m ordacidade0 . D e W e t t e . I , 479. Z w i n c l i o com o seu estilo descabelado
dizia : “ Quando leio os seus livros [de Lutero] parece-m e ver um animal im undo a grunhir
n u m jardim de perfumadas flo re s ; tão impuramente, tão p ouco teològicamente, com tanta
im propriedade fala L u t e r o de Deus e das cousas sagradas” . Opera3 II, 192,
200 - A REFORMA PROTESTANTE
v iv e n s , m o r ie n s e r o m o r s tu a Papa” . No d ia s e g u in t e ju lg a r a m po-
der tr a n s p o r t á -lo p a r a W it t e m b e r g a : L u tero não q u e r ia m orrer
n a c id a d e onde e n t ã o s e a c h a v a o le g a d o p o n t i f í c i o . No m om en to
d a p a r t id a , o e n fe rm o r e c e b e as d e s p e d id a s dos a m ig o s , e a o p ô r -s e
em m o v im e n t o o c a r r o tr a ç a c o m a m ã o u m a c r u z e d i z “Deus vos
e n c h a d e su as b ê n ç ã o s e d e ó d i o a o Papa” . M a t h e s iu s , s e u d is c í-
p ü íò ' e n t ã o p r e s e n t e , c o n t a -n o s q u e n o v e íc u lo L u t e r o d e c la r o u as
Súás ú ltim a s v o n t a d e s e f ê z o te s ta m e n to , d e ix a n d o a o s seu s a m ig o s ,
o s se u s s e r m õ e s e odiurn papae. 106
Eis a triste herança que o pai do protestantismo legou aos seus
filhos, pelos séculos afora I
Tôda esta grande máquina de guerra montada contra Roma,
apesar de tão bem manejada pelos seus construtores, ainda assim
não explicaria, só de per si, a rápida difusão da heresia, se o poder
civil não Ihe viesse bem cedo trazer o inestimável reforço da espa-
da. Com a promessa dos bens eclesiásticos, com oportunas conces-
sões morais,107 com a perspectiva da mais completa independência,
L u t e r o e os seus acólitos souberam aliciar reis e príncipes, que pu-
seram logo as suas armas a serviço da propaganda “evangélica” .
Foi a violência, que, quase em tôda a parte, oprimindo as consciên-
cias, implantou a reforma do “livre exame” . Com o advento do
protestantismo soçobrou a liberdade religiosa e política para ceder
lugar à revivescência pagã do cesarpapismo.
Na Inglaterra basta lembrar as páginas sanguinosas e as lou-
curas tirânicas e teológicas de H e n r iq u e vni, o rei adúltero, de
I s a b e l , a rainha “virgem” , e de C r o m w e l l , o désposta fanático. O
venerando bispo F i s h e r e o ex-chanceler T o m á s M o o r e foram as
mais ilustres das numerosas vítimas que pagaram com a vida a au-
dácia de não reconhecer a supremacia espiritual da coroa. Com a
introdução do protestantismo prevaleceu a doutrina que o rei era
“vigário de Deus na terra, o Papa do seu reino, o expositor nado da
verdade religiosa e o canal da graça” . 108 Ja i m e i trazia sempre
106. Para indicação de fontes e mais porm enores dêste episódio, c fr . G k is a r , Luther,
II , 861.
107. Compare-se o p roced er d e Lutero que autoriza a bigamia do landgrave Filipe
co m o de Clem ente V I I em face d o d ivórcio de Henrique V III.
108. T h e K ing was to b e the P op e o f this Kingdom , the vicar o f G od, the expositor
o f catholic verity, the channel o f sacramental graces. He arrogated to him self the right
o f deciding dogm atically what was orth od ox doctrine and what was heresy, o f drawing
u p and Im posing confessions o f f a it h .. . He proclaim ed that all jurisdiction, spiritual as
w ell as tem poral, was derived from h im a lo n e ". M a c a u l a y , T h e H istory o f England, L eip-
zig, 1849, I , 54.
ORIGEM E PROGRESSO DA REFORMA - 205
H elvetica posterior (1562), art. XXX; Confessio Scolica (1560), art. X X IV ; Confessio Un-
garica (1562), art. X X X I I ; W estm inster Confession (1647), cap. X X , n . 4 ; Confessio Sigis-
m undi (1 6 1 4 ); a p . E . F . K a r l M ü l l e r , D ie Bekenntnisschriften der reform ierten Kirche,
in authentischen T exte, mit geschichtlichen Einleitung und Register, Leipzig, 1903, respecti-
vamente p p . 220, 261-2, 447, 586-7, 835.
114. Cfr. J a n s s e n , G eschichte des deutschen Volkes, t. III, 57-70.
115. P f a n n e r i , H ist, pacis W estph. 1, ss. 42. A p . D o e l l i n g e r , K irche und Kirchen,
p . 55,
116. JuRiEtJ, cit. p o r A lzog , Universalgeschichte der christlichen K irche (7 ), Mainz, 1860,
p . 841. Quão justa é, pois, a observação de D oellíncer : '*Historicamente, nada é mais
falso que afirmar ter sido a R eform a um m ovim ento favorável à liberdade de consciência.
A verdade é precisamente o con trário. Para si, certamente, luteranos e calvinistas recla-
maram a liberdade de consciência com o todos os homens em todos os tem pos. Mas conce-
dê-la a outrem quando êles eram superiores em fôrça, foi o que nunca lhes passou pelo
pensam ento. T od os os reformadores tinham em mira a total supressão e exterm ínio da Igreja
católica, com o a cousa mais natural do m u n d o ” . D ie K irche und die K irchen, 1861, p . 68.
E dcard Q üinet : “ Onde quer que a liberdade de consciência não fo i oprim ida, o protestan-
tismo não tardou em desaparecer” .
208 - A REFORMA PROTESTANTE
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO
PROTESTANTISMO
*
* «
tual, todos os dias até à consumação dos séculos, para que os Após-
tolos, vivendo moralmente em seus sucessores, continuassem até ao
fim dos tempos a ensinar sempre tudo o que Êle nos mandou. Eis,
meus caros leitores, o que diz.a Bíblia” .
Assim devera falar o Sr. C. P e b e ir a , se desejasse ser sincero
e realmente Ihe interessasse o conhecimento exato e fiel das Escri-
turas. Mas é mais fácil repisar o estafadíssimo chavão : A Bíblia,
só a Bíblia. É mais cômodo passar a esponja na história e con-
tinuar a escrever : Roma fecha a Bíblia; só a Reforma abriu aos
povos o Livro da palavra de Deus.
«
* *
a que p oucos eram os que podiam recorrer ? O cristianismo não é para todos ? e para todos
os tempos ? A verdade, norma de fé, pode andar sujeita às vicissitudes do progresso mataria!
ou às desigualdades da fortu n a?
30. L e s s i n c , B eiträge zur Geschichte und der Litteratur, ap. Audin, H istoire de Cafefo,
Paris, 1841, t. II, p . 49.
226 - A REFORMA PROTESTANTE
31. Jacobc. (protestante) Q ue dois-je croire et espérer p our le repos de mon âme 7
1791, p p . 2,‘À 'j A p. A uc. N
Z c lie . Études philosophiques sur le christianisme, Paris,
ic o l a s ,
33. Um exem plo: cai nas mãos do leitor uma bíblia luterana. L ê na Epíst. aos R o -
manos que o hom em é justificado só pela fé (I I I , 28). E o pobrezinho que m u i provável-
mente ignora que aquêle só não é d o Espirito Santo, mas de L u t e r o , form ula o seu
dogm a : está escrito que basta a fé sem obras para m e salvar. A o u tro simples operário
im pingem -lhe coroo inspirada um a bíblia de Z w in g u o. O nde Cristo disse: "êste é o meu
co r p o ", o reform ador suíço traduziu : isto significa o meu corp o . E o infeliz a concluir
que Jesus Cristo não está realmente presente na Eucaristia 1
O Dr. H a r a i s o n , beneficiado protestante de Cantuária, dá também êle a sua edição da
B íblia, e, sem mais cerimônias, corta todos os trechos que se referem ao Inferno. Eis o
qu e valem as Bíblias protestantes t
36. Kroch T o n n i n g , o célebre teólogo que j á citamos várias vêzes, sintetiza admira-
velmente a insuficiência d o princípio protestante nestes térmos : “ La Bible ne peut pas
être le p rin d p e unique d e connaissance religieuse. Sa nature m êm e l'en em p êch e; aucun
de ses textes ne le prouve; plusieurs s'y contredisent; aussi haut q u ’on remonte, elle ne
l'a jamais été« aussi loin qu’ o n aille, elle ne le sera jam ais. Il faut à coté et à la portée
de tous, une garantie BÛre de son origine, de sa pureté, de son authenticité, de la sûreté
de son texte dans l'ensem ble et dans le détail, de la sûreté aussi de sa traduction, enfin
de la rectitude de son interprétation. Sans cela notre principe biblique n ’a pas plus de
consistance q u 'u n e phrase dans l'air” . L e Protestantisme C ontem porain, R uine Constitution
nelle, p . 16. Em outre volum e : "N otre principe exclusif, " L a B ible seule” ne vit que
par la force de p réjugés doctrinaires. On finira par ouvrir les y eu x. C e qui nous appelions
la parole de Dieu n ’est trop souvent que ce que nous avons mis nous même dans la Bible:.
Dans les affaires temporelles on n'a pas la naiveté de croire q u 'u n e société puisse subsister
sur un code de lois, sans un pouvoir q u i interprète et j u g e " . L e P rot. C o n t e t n p R uine
Doctrinale, p . 16,
C a p ít u l o III
sua doutrina cristã, ouve o pastor, crê e admite o que Ihe dizem
dever crer e admitir para salvar-se. A maior parte do povo não lê
a Bíblia e muito menos a interpreta; assiste no templo à sua leitu-
ra e abraça a explicação que Ihe entende dar o seu ministro. O
livre exame é para as classes intelectuais.® Aí é que êle produz
as suas ruinosas conseqüências. Para as massas, a autoridade im-
põe-se despòticamente. De quando em quando, dos próprios ar-
raiais do protestantismo levanta-se um brado de indignação e de
revolta das consciências oprimidas. “Não se pode imaginai-, escre-
ve H a bless , escravidão mais vergonhosa para as igrejas que obri-
gar os fiéis a curvarem o colo sob um jugo que lhes fabricam os
teólogos, hoje de um modo, amanhã de outro” . 7
A catolicização prática do protestantismo foi a primeira remora
que Ihe retardou a dissolução imediata. Para viver, a Reforma ab-
jurou o princípio que Ihe dera nascimento; comprou a existência
a preço da contradição. O poder civil foi a segunda fôrça de que
lançaram mão os reformadores para unir as partes do edifício que
estalava por tôdas as junturas. Um papa de papel era, de mani-
festo, insuficiente. Era mister um papa de carne e osso e, mais, es-
pada à cinta.
Já tivemos ensejo de ver a primeira função da fôrça na implan-
tação do protestantismo. Para separar-se de Roma, recorreu a Re-
forma à violência do ferro. Uma vez separada, apelou ainda para
a sua intervenção a fim de conservar ao menos um simulacro de
unidade que Ihe prolongasse a agonia.
Como é humilhante ver todos êstes orgulhosos revoltados, que
blasonavam de emancipadores da Uberdade espiritual, curvarem, ren-
didos, os joelhos ante os reis da terra e dizerem-lhes submissos :
“César, que és imperador, sê também pontífice : empunha numa das
mãos o cetro, na outra o báculo; sê nosso chefe espiritual; manda
e te obedeceremos, fala e te creremos. Ao arbítrio de tua vontade
8. "Antes de tudo, diz ainda Jurieu, esta piedosa eroprêsa [da un ião das igrejas) ®âo
se pode levar a têrmo sem o auxilio dos príncipes de um e de outro partido, porque tôdd
a R eform a fo i feita com a autoridade dêles” . Pouco adiante, a fim de resolver as etem u i
controvérsias dogmáticas entre as seitas, alvitra que “ os teólogos falem co m o advogado^, ;o.í
políticos ouçam e julguem sob a autoridade dos p r í n c i p e s A í está : a R eform a foi félta
pela autoridade dos p rín cip es; os príncipes são os árbitros soberanos em matéria essentíal
d c fé . Citações de B ossuet, H ist. des variations, aditamento ao liv . X I V . MELANonBDr*
ensinava que era lícito recorrer a castigos corporais contra os católicos e qu e os poder?»
civis tinham o dever de anunciar e defender a lei divina. Corp. R e f o r m t I X , 7 7 ; YI1,
666 ; X I , 328,
9. Ainda quase em nossos dias não vimos os bispos anglicanos ajoelhados diante dn
rainha V itória a prestar-lhe o juram ento que a reconhece soberana espiritual da Igreja do
H enrique V III ?
23« - A REFORMA PROTESTANTE
§ 2. — M ultiplicação de seitas.
12. Duas observações a p rop ósito. Prim eira. Se o frisar nos dogmas fundamentais
uuò tolhe, n o sentir de C . P e r e i r a , às m il seitas protestantes o seu caráter cristão p or que
6sfe em penho encanzinado em com bater a IgTeja ca tólica? N ão reconhece o nosso pastor
que ela, “ com o parte integrante da cristandade professa em seu credo e em suas práticas
CONSEQÜÊNCIAS DO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL - 239
n a, e s s e n c ia lm e n te v a c ila n te e m u tá v e l. O r a c io n a lis m o , c o m o já
o b s e r v o u S t b a u s s , é o p a r a d e ir o fa ta l d o p r o te s ta n tis m o .
Vêde ainda a que incoerências arrasta a defesa de uma posição
falsa. Tomai-me um dogma: a presença real de Cristo na Euca-
ristia. Admitiu-a L u t e b o , admitem-na algumas seitas protestantes;
rejeitou-a C a l v i n o , rejeitam-na algumas facções reformadas : logo
não é dogma fundamental. Conculcar aos pés a hóstia consagra-
da ou curvar diante dela os joelhos em humilde adoração serão atos
indiferentes, igualmente agradáveis a Deus e que não lesam a subs-
tância do cristianismo ! Na metáfora do nosso gramático, são be-
móis ou sustenidos insignificantes que, para os ouvidos duros do
protestantismo, não desafinam na harmonia fundamental. Mas, pro-
testante, que adoras Cristo na Eucaristia, se Cristo nela não está pre-
sente, já não és cristão, és idólatra. Protestante, que pisas a hóstia
consagrada, se Cristo nela está presente, como poderás agradar a
Deus se és sacrílego abominável ? Bagatelas, dirá o gramático teó-
logo, questões “de ordem secundária” , “idiossincrasias do espírito
humano na apreensão integral do cristianismo” , p. 65. A que ce-
gueira não leva a obstinação do partidarismo !
Vamos adiante. Há dogmas fundamentais e dogmas não fun-
damentais . E quem os discrimina ? Que autoridade fará a sepa-
ração delicada ? Os indivíduos ? Mas são falíveis e cada qual con-
serva a sua autonomia na interpretação das Escrituras.
As coletividades ? Os sínodos, provinciais ou nacionais ? Mas
as suas decisões não têm fôrça obrigatória, porque nem êles são in-
falíveis nem podem em caso algum atentar contra a soberania do
sentir individual. Nestes apuros, os teólogos patrocinadores da
cerebrina distinção de Ju r ie u deram tratos à fantasia para formu-
lar uma regra, um critério que lhes permitisse discernir os dogmas
que se devem crer dos dogmas de credulidade livre. E para logo
revelou-se a “harmonia fundamental” . Aí vai, colhida à pressa,
uma dezena de normas propostas.
São fundamentais todos os dogmas contidos na Escritura. —
São fundamentais só os dogmas contidos expressa e explicitamente
na Escritura. — São fundamentais os dogmas que a Escritura decla-
ra necessários à salvação. — São fundamentais os dogmas talmente
essenciais ao cristianismo que, sem êles, a religião de Cristo cessa-
ria de existir. — São fundamentais os dogmas que foram cridos sem-
pre, por todos e em todos os lugares. — São fundamentais os dog-
mas da Igreja primitiva. — L o c k e é mais explícito e menos exi
242 - A REFORMA PROTESTANTE
15. R enan, Vie de Jésit$( 18), Paris, 1833, p p . 475, 468, 474.
16. G . naturalmente indigna-se contra a obra prim a d o bispo d e M eaux. Só
P e r e ir a ,
as controvérsias sacramentárias, diz êle, “ ofereceram a Bossuet o assunto para triunfos vazios.
Não Ihe adviesse êsse tópico, p o r êle decantado em todos os tons, grande armazém de suas
variações e o bom do bispo ver-se-ia em lamentável em baraço” , p . 68. Evidentemente o Sr.
C. P k k e i r a não leu B o s s u e t ou não no entendeu. G i d b o n , protestante mais escrupuloso,
quis conhecer de vistt a obra depredada pelo nosso gram á tico; leu-a e declarou nestes lêr-
mos a impressão dessa leitura : “ N a H istória das variações, assalto tão vigoroso quão bem
dirigido, o autor, com binando com muita felicidade o raciocínio com a narração, percorre
os defeitos, os transvios, as incertezas e as contradições dos nossos prim eiros reformadores,
cujas variações, com o êle bàbilroente sustenta, trazem o sigilo do êrro, enquanto a unidade
244 - A REFORMA PROTESTANTE
nunca interrom pida da Igreja católica é sinal e testemunho da veidade in fa lív e l... Li, apro-
vei, acreditei". M em oirs o f my life and writings, nas M iscellaneous works o f E. Gibbon,
L ondon, 1837, p . 29. Quase um século depois de G ibb on , análoga é a impressão de ou iro
protestante ilustre : " L ’ H istoire des variations.. . est une oeuvre d 'u n e singulière puissance
au point de vue philosophique com m e au point de vue historique. Je n ’oublierai jamais
l’ impression que me fit il y a lon g te m p s... la première lecture de ce livre. Je l’ avais pris
avec une curiosité méfiante et malveillante. Je m ’ attendais a y trouver un pamphlet suranné,
plein d ’ erreurs et de préjugés ou la mauvaise fo i s’ enveloppait de rhétorique déclamatoire.
Quelle ne fu t ma surprise en y trouvant une oeuvre encore éclatante de vie et de je u -
nesse, de l'intérêt le plus attachant.. . ; d 'où les violences, la déclamation, le dénigrement
systématique sont également absents; où tous les faits sont accompagnés de leurs preuves;
où Luther et M élanchthon m ’apparaissaient p our la première fois dans la com plexité de leur
caractère et de leur activité! J'etais irrité et subjugué en même tem ps”. G. M onod , R evu e
H istorique, t. 49 (1892). p. 103. — Com o se vê, o livro de B ossuet não precisa do placet do
gramático brasileiro para ter entrada na galeria das obras imortais. M onum ento de bronze,
arrosta triunfante o vendaval dos séculos e os gilvazes e rabiscos de transeuntes obscuros.
CONSEQÜÊNCIAS DO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL - 245
17. Quão diferente d o nosso pastor julgava G rócio as infinitas confissões que via pulu-
larem sob os seus olhos : “ Confessiones factac sunt variis ín locis variae atque inter se
Pugncntes et non m odo quae factae erant partes non potuere unquam inter se coalescere,
sed et novae quotidie exortae sunt particulae, tôt ut nem o sit qui earum possit inire numerum.
Et ut fecunda est ista seges unoquoque sibi licere credcndi quod alius ante usuipavit, credi-
bile est novas, quotidie exstituras” . H . G rócio , Voíum pro pace Ecclesiact Opera theologica,
Basileae, 1732, t. IV , p. 654. Êste futuro que para nós já é passado confirm ou as pre-
visões do célebre jurista.
18. “ L'église de Genève n^a et ne doit avoir, comme réformée, aucune profession de
fo i précise et com m une â tous ses membres. Si l’o n voulait en avoir une en cela même
o n blesserait la liberté évangélique, on renoncerait au principe même de la réform ation. . .
Si ces églises et ces s y n od es ... on t pretendu prescrire aux fidèles ce qu’ ils devaient croire,
alors par de telles décisions ces assemblées n ’ont prouvé autre chose sinon qu'elles igno-
raient leur propre religion .” J . J . R ousseau, Lettres de la m ontagne, II lettre.
246 - A RJEFORMA PROTESTANTE
54. R o h n e r t , Was lehren die derzeitigen deutschen Professoren der eveng. T heologie
über die hl. Schrift und deren Inspiration, Leipzig, 1892, p p . 2-3.
55. A . S c h w e i t z e r , Geschichte der Leben-Jesu-Forschung, T ü b in g en , 1913, p . 339. Na
1.» edição, p . 305.
56. "E g o vero adversus dicta Patrum, hom inum , angelorum , daem onum p on o non an-
tiqum usuro, non mxiltitudinem hom inum sed unius maiestatis acternae verbura evangelV
c u m . .. H ic sto, h ic sedeo, h ic maneo, h ic glorior, h ic trium pho, h»c insulto papistla, tbo-
mistis, h en ricistis".. . Contra H enricum regem Angliae, W eimar, X , 2 A bt., p p . 215-16.
57. *'T u urgcs servum, h oc est Scripturam .. . hunc servum relinquo tibi, ego urgeo
D om inum q u i rex cst S cripturae.. . Hane solutionem neque diabolus neque ullus iustitiariua
tibi eripere aut evertere potest” . 'Weimar, X L , 1 A bt., p . 420.
58. “ Si prudens es longissiinc ableges Moysen balbum et blacsum cum sua le g e ..* H ic
simpliciter sit tibi suspectus ut haereticus excommunicatus, damnatus, deterior papa et <Ua«.
bok>, ideo proreus non a udiendus". W eimar, X L , 1 A bt., p . 558.
CONSEQÜÊNCIAS DO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL - 259
64. J J m it a , M ein R ech t auf lieb en , p . 419. Três paginas atrás escrevera: " a essência
vital d o cristianismo evangélico consiste em assimilar-se livremente o evangelho na m edida
das necessidades religiosas pessoais", p p . 415-16, Cit. p o r V . C a t h r e i n , Glauben und Wis-
sen (3 ), Freiburg i. B . # 1005, p . 216.
65. P a u i ^ e n , philosophia militans (3 ), Berlin, 1908; p p . 52-53. A í estál Começou-se
oom a magna carta da Bíblia para acabar na magna carta do racionalism o. Mas tudo é
lógico e o êrro nem sempre é livre na escolha dos seus descaminhos.
66. I d a d e H a h n - H a h n Orientalische B riefe, 1844, t. I , p. 310. É sabido com o mais tarde
a célebre escritora se converteu ao catolicism o.
67. R evu e historique, t. X L ÏX , m ai-août, 1892, p. 103.
6®. P a u l s e n , System der Ethik (8 ). Stuttgart u. Berlin, I, pp. 429-30.
69. T ftÜ M P E L M A N N , Op. Cit., p . 5 3 .
70. C£r. G . C h . B e r n h . P ü n i e r , Geschichte der christlichen R eligionsphilosophie seit
der R eform ation, Braunschwcig, 18B3, t. II, p p . 292 sgs.
.wi.*v£i>jL..'iv<i/\o rK ifS ^ ir iU FUNDAMENTAL — 261
5. Prova experimental dêste asserto temos nesta agitação que abala as sociedades m o-
dernas. Desenvolveu-se febrilmente a civilização material, mas não se estimulou com igual
solicitude o progresso m oral e religioso : os povos não são felizes. “ Plus l'hum anité voit
se m ultiplier les moyens d on t elle dispose pour se rendre l'existence agréable, plus elle se
convainc de l'im possibilité de surmonter, de cette manière, l’ angoisse de la vie et d'attein-
dre au bonheur o u même au contentem ent". H a r t m a n n , La R eligion de l*avenir{ 2 >
Paris, 1877, c . V III, p . 138.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 273
«
o o
9* “ Pela m aior riqueza dos seus sequazes, não é possível demonstrar a verdade de um a
religião. O nde judeus e protestantes exercem, lado a lado, a sua atividade, os judeus quase
sempre levam a palm a. N inguém inferirá dêste fato a verdade d a religião de Israel” . H .
P b s c h , N ationalekonom ie, Freiburg i . B ., 1909, t. I I , p . 720.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 281
* #
10. E n ríd . Im m ortale D ei, 1885.. O grande papa consagra aqui com a fhan<y1a da
sua autoridade, o pensamento de M o n t e s q u i e u : “ Chose admirable 1 La religion rhrfiti*nm»,
qui ne semble avoir d'autre ob ject que la félicité de l ’autre vie, fait encore notre bonheur
dans celle-ci. Esprit des lois, 1. 24, c. 3. Sôbre o mesmo pensam ento volta P io X I na
sua m emorável encíclica U bi arcano D ei : Quam quam enim , ea [Ecclesia] divino iussu>
recta spirítualibus nec perituris bonis intendit, tamen ut om nia sunt apta inter se ac
nexe cohaercnt, prosperitati ctiam , terrenae tum singulorum hom inum tum ipsius humanac
sodetatis sic favet u t plus favere m inime posset, si iisdem om nino piovehendis institut»
esse videretur.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 28S
d a d e ir a d o u tr in a r e lig io s a , é o u tr o s s im a v e r d a d e ir a d o u tr in a s o c ia l,
a d o u tr in a c iv iliz a d o r a p o r e x c e lê n c ia ” . A p r o p o s içã o d e L a fo b êt
te m a e v id ê n c ia d e u m a x io m a . A c o n fir m á -lo a í e s tã o , d e m ã o s d a -
da s, a f ilo s o f ia e a h is tó ria .
11. "C 'est l’église chrétienne [leia-se católica, a única que existia em face da barbárie
invasora] qui a sauvé le christianisme ; c’ est l’ Eglise avec ses instructions, ses magistrats,
son pouvoir, q u i s'est defendue vigoureusement contre la dissolution intérieure de l’Empire,
contre la barbarie» qui a conquis les barbares, q u i est devenue le bien, le moyen, le p rin -
cipe de civilisation entre le m onde romain et le m onde barba re". G u i z o t (protestante), H is-
toire de la civilisation en Europe, Paris, 1873, 2.e leçon, p . 51. C fr. 5e. e 6e. leçon, p p -'
123-189; e 3e. leçon, p . 83. L i t t r î : “ Le grand agent du salut social aux V , V I e V II
siècle fut l’ E glise". C fr. Etudes, 1868, p . 86 : L es études historiques d’ un positiviste
moyen-âge.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 285
tantismo é a causa da grandeza dos povos, onde quer que atue sem
peias produzirá necessariamente o seu efeito natural. E que nações
mais protestantes que as escandinavas ? Se o catolicismo é germe
de morte, por que algumas nações católicas marcham na vanguarda
dos povos cultos ?
Antes, pois, de buscar as causas do fato cumpre demonstrar-lhe
a universalidade. A proposição fundamental do argumento devera
basear-se numa indução completa de um e outro lado. Só depois
de assentar em alicerces indiscutíveis a superioridade de tôdas as
nações protestantes e a inferioridade de tôdas as nações católicas é que
se poderia, não digo concluir, mas ventilar a questão da causa desta
diferença. Digo ventilar a questão e não concluir a tese, porque pode-
ria muito bem dar-se a conjuntura de um momento histórico em que
as mesmas causas naturais que promoveram o progresso das nações
protestantes, empeceram o desenvolvimento das católicas. O fato
seria então verdadeiro, mas a conclusão falsa. Estaríamos em face
do conhecido sofisma : post hoc, ergo propter hoc.
Outra observação. Chamam-se protestantes os Estados Uni-
dos, a Alemanha e a Inglaterra; católicas a França, a Itália, Espa-
nha e Portugal. É possível, sem muitas ressalvas, fazer, hoje, no
ponto de vista religioso, esta divisão rigorosa ? É possível traçar
estas linhas geométricas e separar os povos segundo a sua religião,
como se separam as casas, num taboleiro de xadrez ? Não o cre-
mos. Na atmosfera espiritual em que respiram as sociedades mo-
dernas, de envolta com o oxigênio da verdade que vivifica as inteli-
gências, acham-se em suspensão os germes de mil erros, emana-
ções deletérias de quantos sistemas subversivos tem produzido a fi-
losofia transviada dos últimos séculos. Impossível tentar uma
discriminação exata de tantas e tão encontradas influências.
A coexistência de cidadãos pertencentes a diversos credos reli-
giosos num mesmo país torna ainda mais complicada a solução do
problema. Na Grã-Bretanha os católicos são cêrca de 7 milhões
e representam quase um quinto da população total. Nos Estados
Unidos, segundo as últimas estatísticas, vivem cêrca de 23 milhões
de católicos. Dos 110 milhões da população total, 60 se declaram
sem religião alguma. Entre os que se dão como aderentes de al-
guma confissão religiosa há, além dos católicos, cêrca de 2 milhões
de judeus e 20 a 22 milhões de protestantes, fragmentados em cente-
nas de seitas doutrinàriamente opostas, e sem outro vínculo de união
além do ódio comum à Igreja católica. A influência religioso-so-
cial destas igrejinhas não poderá deixar de ser diminuída, combateu-
288 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
18, HA história desta guerra, observa uma reylsta norte-americana, sc alguma vez sc
cscicver eom verdade, cobrirá os Estados Unidos de eterno op ró b rio ” . C fr. T h e R eview,
d e S. Luís, 27 de fcv., 6 e 13 de março de 1902.
294 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
22'. R estituindo a M . » ' H u l s t alguns docum entos que êste Ihe emprestara, TaInk
aíeiToriradò' pela decadência m oral de Paris, disse ao p rela d o: "Se a' Igreja pèlos milagres
d o seu zêlo não conseguir reconquistar estas massas pagSs para delas faier um p ovo dü
crentes, adeus civilização francesa'*. R eferido p or B a u n a r d , Un siàcle de- l*Rgtise- de F w i*
ce (4 ). Paris, 1906, p . 501. Sôbre a moralidade em Trança* voltaremos a £atar mafe ta*de>
298 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
29* O p róp rio R e n a n que tanto trabalhou na obra de descristianização, num dos seu«
m om entos d e b om senso, parece ter entrevisto a mesma verdade : " I l se peut que dans
notre ardeur révoluttonaire nous ayons poussé trop loin les amputations ; q u ’en croyant ne
retrancher qu e des superfluités maladives, nous ayons touché à quelque organe essentiel de
la vie si bien que TobstinatiOn à ne pas se bien porter tienne à quelque grosse lésion
faite dans les entrailles". C it. p o r B o u g a u d , L e christianisme et les tem ps présents, t. I V (7 ),
p . 327. Mais claramente L e P l a y : “ Imersos em sofismas guindados a axiomas, nosso espí-
rito fecha-se ante a evidência dos fatos que temos debaixo dos olhos e despreza as verdades
tradicionais q u e todos os povos prósperos continuam a respeitar.. . deslocamo-nos em es*
forços estéreis para criar uma sociedade nova, destruindo violentamente os usos e costumes
que fizeram a grandeza dos nossos avós para inspirar-nos em quimeras condenadas pela
própria natureza do hom em ". V organisation de la fam ille (S), T ours, 1884, pp. X V II-X V H I.
24: T a in e , Origines de la France con tem p ora ine(25), Paris, 1907, t. XX, p . 147.
Û&y P. B ou rg et, Préface de ses oeuvres, 1900.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES — 299
26. Antes, se alguma culpa há, é do lado dos protestantes. O grande arquiduque vitima
da tragédia de Serajevo, dcclarou um dia em Lermos enérgicos que oa verdadeiros culpados
das discórdias intestinas nas regiões cisleitãs, eram os que haviam apofttatado da fé e da
pátria* levantando a brado pangcrmanista e anticatólico : L os von R om .
300 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
31. A í já vSo dois erros em meia frase : escoceses e irlandeses nem são da mesma, raça
nem vivem sob o mesmo regime p olítico. Aliás o argumento teria o mesmo valor que
êste outro : Eacolhei dois estados da união brasileira, sensivelmente desiguais na prosperidade
e progresso econôm ico (deixo-os à escolha d o leitor) e depois aplicai o raciocínio d o nosso
g ra m á tico : Duas populações, lado a lado, da mesma raça, sob o mesmo regime político,
qu e outro fator p od e explicar o contraste senão os respectivos sistemas religiosos ? O pastor
sociólogo, apesar de form ado na escola de “ sapientíssimo” professor, não conhece outtos
coeficientes da prosperidade econôm ica senão a raça e o regime político l
42. Àuc. N ic o la s , Du protestantisme et de toutes les hérésies dans leur rapport avet
U socialisme{2), 1. II, c. 2.
308 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
47. M P hiuppson , D ie N ation, 1896, n. 24, p . 362. **É coisa conhecida qae, antes da
Reforma, durante os séculos XIV e XV, a vida civil na Alemanha atingiu uma prosperidade
’econômica, uma riqueza artística, uma independência política, a que mais ^ ar<^e» apòa
longa decadência, conseguiu gradualmente elevar-se no século X IX " . Joaa*H M aus ba ch ,
Heligion, Christentum, K irche, Kempten u. München, 1913, t. III, P- 206. Sôbre a pros-
peridade da Alemanha medieval, c fr . J. Jansskn, Geschichte des deutschen Volkes seit dem
Ausgang des Mittelalten, t. 1(16-18). Freiburg i. B., 1897; E. M ic h a e l, D ie Geschichte des
deutschen Volkes seit dem dreizehnten Jahrhundert bis zum Ausgang des Mittelaltere, t.
I-VI, Freiburg i. B ., 1897 ; R ic h a r d E h rjenbek c, H am burg und England im Zeitalter der
Koenigin Elisabeth, Iena, 1696.
p « — A A A tfU K M A ü. A U V IL I^ A V A U
48. Joh. -GusfrAv. D roysen , Geschichte der preussischen P olitik. Leipzig, 1859, t. II*
í. ' P f . M5-46.
49. Laurent, Etudes iur Vhistoire de l'humanité, V III, 453.
A o k a n d EZA ECONOMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - S15
54. “This reign (de Henrlque VII) may indeed by taken as marking the period,
when England began to be something o f a commercial power, and henceforth she mote -And
m ore asserts herself as su ch ". G ib b in s, H istory o f th e com m erce in E urop e, p . ST-
BS; MBy the time o f the gTeat discoveries o f the e xp lo re rs o f the N ew W orld , E n gla n d
was alm ost ready to take her place a m o n g the great co m m e rcia l nation* o f E urope” . Gibbiw*»
O p . C it., p . 9B.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 919
conclusion o f h is reign, England was ò f n o m ore account in Che political system o f the time
than Portugal o r Naples. Sovereign and p eop le w ere alike im proverished". J . E. D . T h o -
r o l d R o g e r s , O p . cit., p . S21. O protestante' M a c a u l a y assim nos descreve o reinado d o
soberano a q u em a Inglaterra deve a separação da Igreja católica : "U m rei que se não
p od e retratar senão dizendo que foi o despotismo personificado, ministros sem princípios-
aristocracia rapace, Parlamento servil — foram 03 instrumentos que libertaram a Inglaterra
d o ju g o de R o m a . A emprêsa encetada p or H enrique V I II , o assassino de suas mulheres,
foi continuada p o r Somerset, o assassino do p róp rio irm ão, e completada por Isabel, que
m andou executar a sua prim a. Nascida de um a paixão brutal, alimentada p or uma política
egoísta, a R efprm a na Inglaterra não apresenta nenhum dos caracteres que a distinguiram
nas outraa regiões (?) M a c a u l a y , R eview o f H ollam ’s Const. Hist. Cit. p or L o d i e l , N o s
r a is o n s d e croire, p. 489.
M- Cn. S. D cvas, The key to the W orld’s Progress ( 2 ) , London, 1908, p . 72.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 321
não raras vêzes experimentaram à sua custa que, nas revelações inter-
nacionais com a Inglaterra, nem sempre a fôrça serve ao direito.
A perda da armada invencível (1588), aniquilando o poder na-
val da Espanha pôs as suas colônias à discrição dos corsários inglê-
ses. O injusto tratado de Methuen (1703) entregou o comércio co-
lonial português nas mãos dos seus astutos negociadores. A queda
de Antuérpia, a primeira praça comercial do Ocidente, tomada duas
vêzes pelas tropas espanholas (1567-1585), permitiu a Londres con-
quistar a primazia sôbre a sua rival holandesa. O despôjo das co-
lônias bátavas começou então e prolongou-se pelos séculos XVII e
XVIII. A guerra dos sete anos (1756-1763) e as posteriores nos fins
do século XVIII transferiram para o domínio britânico as florescen-
tes colônias da coroa da França59 na América (Canadá) e nas ín-
dias. Tôdas estas regiões conquistadas, a trôco da proteção política
e da organização social que receberam da metrópole, cederam-lhe as
próprias riquezas. Seus portos fechados por muito tempo ao co-
mércio das outras nações (leis de 1650, 1660, 1663) asseguravam um
escoadouro seguro e rendoso aos produtos inglêses, que outras leis
proibiam se manipulassem ou fabricassem nas colônias (lei de 1719
para as manufaturas de lã e de 1750 para os objetos de ferro) .60
Não sabemos até que ponto pretende o protestantismo apropriar-
-se a prerrogativa de inspirador da política colonial da Inglaterra.
Nós, católicos, certamente Ihe não disputamos nem invejamos esta
glória. Em todo êste movimento açambarcador da diplomacia bri-
tânica só vejo a ação de causas naturais : vitórias de guerra, habili-
dade de manejos, opressão de fracos. Influxo moral e religioso, digno
de louvor, nenhum.
Outra causa da grandeza do Reino-Unido são incontestàvelmente
as suas admiráveis instituições políticas, inspiradas por um sôpro vi-
vificador de liberdade sadia. Sob êste regime altamente liberal, edu-
cou-se um povo empreendedor, desenvolveram-se as iniciativas in-
59. " T h e ostensible reason o f ou r declaration o f w a r wns the Invasion o f H olland, then
o u r ally, by France. T h e real reason o f it were th a t the capitalists and com m ercial party
in England were afraid that the conquests which the new French R epublic waa already be-
gin ning to make, m ight help France to secure again h e r hold position as the most fonnidal
rival o f English com m erce. I f n o the rival could be finally struk dow n, England was sure
o f the control o f the world's markets” . G i b b i n s , O p . cit., p. 175.
60. L ord C h a t h a m dizia ao parlamento : “ T h e B ritish colonies o f N orth America had
no right to manufacture even a nail for horseshoe". L o r d Sh e f f i e l d : " T h e only use o f
american colonies o r West Indian Islands is the m o n o p o ly o f their consum ption and the
carriage o f their p ro d u c e ". A p . G i b d i n s , O p. cit., p . 148. Foi esta política asfixiante que
determ inou em parte a insurreição e a independência dos Estados Unidos e a conseqüente
mudança de orientação da m etrópole em relação às ou tra s colônias.
322 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
69. C fr. M a c m a h o n ’ s H ist, view o f the governm ent o f Maryland, Baltim ore, 1851, p .
198-250 ; B a n c r o f t , History o f the U nited States, Boston, 1834. — *‘ In Maryland, escreve
um teólogo protestante, as the R om an Catholics claim, the rights o f conscience were first
fully recognised in this country. T h is is a fact. I never know disputed by good authority,
fcnd, though a Protestant w ith all m y heart, I accord them the fu ll praise o f it with the
frankest sincerity” . T h o m a s C o it, Puritanisme or a Churchman*s d efen ce, N ew -Y oik, 1855.
Cit. p o r D o e l l i n g e r , K irche und K irchen, pp, 72-3.
71. É d ifícil exagerar a im portância da hulha para o desenvolvimento econôm ico dum
país. Diretamente dela depende quase tôda a nossa ind ústria; indiretamente, mediante a
indústria e os m eios de transporte — linhas de navegação e estradas de ferro — o comércio
c a agricultura. Pode afirmar-se, sem perigo de êrro, que no estado atual das aplicações
•cientificas à utilização das fôrças naturais, o progresso material de um país é função de
*uas jazidas carboníferas. Ora, p o r uma singular coincidência, que nenhum apologista da
R eform a ousará, creio eu, atribuir à influênia dos prinípios religiosos de L u t e r o , os
326 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
países protestantes são os mais ricos em carvão fóssil. A í está uma estatística da extração
total do precioso combustível (1902) em diversos países:
Estados Unidos 2G6 m ilhões de ton . França 31 milhões de to n -
Inglaterra 230 n " " Bélgica 22 " " ”
Alemanha 150 " " ” Rússia 16 " ” ,p
Áustria 33 ” ” ” Espanha 2,700 " " "
Dos países licos em hulha só a Bélgica é católica. Quereis ver o seu progresso econ ô-
m ico ? Eis uma estatística do aumento da exportação (1906) :
Alemanha 16% Estados Unidos 21%
Inglaterra 18% Bélgica 27%
Se o catolicismo fôsse causa fatal de decadência, que exegese dar à maravilhosa pros-
peridade do reino de Alberto 1 ? — Esta só consideração, tão óbvia, da distribuição g e oló-
gica da hulha resolve em grande parte, e satísfatòriamente, a objeção tirada do desenvolvi-
m ento econômico e industrial dos povos protestantes. C fr. L e m o z i n , Questions actuelUsr
t. 95.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 327
lharem aqui 12, ali 16 horas por dia. Vêde-as ao sair : pálidas, anê-
micas, definhadas e abatidas pela fome, a procurarem no leito comum
de uma trapeira o esquecimento embrutecedor das mágoas da vida,
que tão cedo lhes amanheceu com o seu cortejo de dores e misérias.
Desmaiaram-lhes nas faces as rosas da saúde. Apagou-se-lhes dos
olhos o brilho da inocência. Já lhes não ilumina a fronte a luz do
ideal.
Eis uma menina de onze anos. Nunca na sua vida ouvira uma
palavra do céu e da outra vida. Um meninozinho perguntado quem
era Jesus Cristo, responde: um rei de Londres, antigo, antigo 7Z. Que
hão de ser um dia, adultas, as gerações que crescem assim ?7*
E o pauperismo ? Custa a crer nas testemunhas oculares que nos
revelam a extensão e a intensidade desta chaga hedionda que corrói
as entranhas da sociedade inglêsa. São multidões os miseráveis que
vivem na Inglaterra sem pão, sem casa, sem esperança. Dois mi-
lhões, acusavam as estatísticas de 1840, dois rajlhões repetem lúgu-
bremente as estatísticas de 1910. O flagelo não diminui.74
“Em um século, de 1748 a 1848, a população da Inglaterra quase
triplicou; neste mesmo tempo, o pauperismo oficialmente reconhe-
cido cresceu na razão de 1 para 8” .75 Tomai Londres. Em meados
do século passado, distribuiu-se a esmola oficial a 307.000 indigen-
tes, quase tantos, observa P a s h l e y , quantos eram os romanos ali-
mentados pela pátria sob Jú l i o C e sa b , segundo o testemunho de Sue-
t Ôn io e de D iô n io C Á s s i o . Os subsídios das corporações paroquiais
e das pessoas particulares distribuem-se a um número duplo de po-
bres, de modo que Londres conta atualmente um pobre por quatro
72. Fatos dolorosos com o este, poderá o leitor colhê-los em barda nas iofonnaç6et>
oficiais dos ministérios inglêses e nos inquéritos sociais que revelam os sintomas assustadores
desta crise de raça, dêste atentado aviltante contra a dignidade humana.
78. “ It may b e noticed that the practice o f setting children prematurely to w o r k ...
Prevailed in th e seventeenth century to an extent which, when com pared with the extent
o f manufacturing system, seems almost incredible. A t N orwich, the chief seat o f the clo -
thing trade, a little creature o f six years old was thought fit fo r la bou r” . M a c a u l a y ,
T h e history o f England, Leipzig, 1849, t . I . p . 412.
74. “ Notwithstanding o u r assumed moral and material progress and notwithstanding
the enormous annual expenditure am ounting the nearly sixty m illions a year u p on p o o r
relief, we still have a vaste army o f persons quartered upon as unable to support themselves,
an army which in numbers has really shown signs o f increase than o f decrease1*. Relação»
dos comissários Tégios sôbre a administração das leis dos pobres, d c 1909, d t . p o r H a -
velock E llis , T h e p roblem o f R ace R egeneration, 1911, p . 32. Sôbre a situação d o pau-
perismo em Londres cfr.: o Tim es de 26 de dez. de 1904: dados estatísticos numerosos e
conclusões alarmantes; J. E. N ève, L e paupérism e à Londres, nas Questions actuelles, t-
77 (11 mars 1905), PP- 313-318.
75. R oberto P ash ley, Pauperism and P oor Laws, London, 1852.
323 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
83. Uma fábrica, disse um Lord ilustre, é uma invenção para manufaturar dois p ro -
dutos : algodão e pobres : a contrivance for m anufacturing two articles : cotton and paupers.
A GRANDEZA ECONÔMICA E POLÍTICA DAS NAÇÕES - 331
84. Sidney Sk itii , cit. por C has. L ester, T h e glory and shame of England, 1876,
P re fá cio .
85. T h e Daily N ews, 16 Out. 1888.
86. Publicado em apêndice à obra de A ug. N icolas, D u protestantisme, etc.
87. Em 1842, Lum ely, depois de advertir que recolhe apenas as leis mais importantes
c ainda em vigor, cita nada menos d e 117, a começar dos célebres estatutos de Isabel.
Dez anos depois, em 1852 publicava um segundo volume de suplemento. De então para
cá não tem dim inuído nesta materia a fecundidade legislativa do parlamento inglês.
88. A c. C o c h in , loc. cit, A Inglaterra esqueceu que “ charity to soul is the soul o f
charity” .
89. Sermão para a dom inga da Septuagésima, ed. Vives. t. V III,
332 — A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
7. P aulsen, cit. por Schanz , A p olog ie des Christentum s( 3) ; trad. ital. de Pellegri-
neu i, Firenze, 1910, t. III, p . 187.
8. H urter , Geschichte Papst Innoc. III, H am burg, 1836. T rad. ital. de Ccsare R ovida
(M ilano, 1840, t. III, p . 496).
9. Ch. L o u a n d r e , Les études historiques en France depuis la g u a r e , na R evu e des
D eu x M ondes, 15 janv. 1877, pp. 452-3.
A CU LTURA INTELECTUAL - 347
(Inocên cio IV , 1244*45) c a Sapiência (B on ifácio V III, 1303), Pisa (C lem ente V I, 1343),
Ferrara (B onifácio IX , 1392) ; Alemanha $ : H eidelberg (U rbano V I, 1385), C olônia (U r-
bano V I, 1388), Erfurt (U rban o V I, 1 389); H ungria 2 : Pécs (U rban o V , 1367), Buda
(B onifácio I X , 1389-90) ; Inglaterra 1 : Cambridge (João X X I I , 1 318); Espanha 1 : Valla-
dolid (.Clemente V I, 1346), etc. D eniflf ., Op. cit., p p . 301-424.
15. As, mais conhecidas : Espanha 5 : ValOncia (A fonso V III, 1212-14), Salamanca (Fer-
nando I I I , 1243), Sevilha (A fon so o Sábio, 1254), Lérida (Jaim e I I , 1300), Huesca (P edro
IV , 1854) ; Itália 4 : Arezzo (Carlos IV , 1355), Siena (Carlos IV , 1357), Nápoles (Frederico
I I , 1224), Treviso (F rcdcrico o Belo, 1 3 1 8 ); França 1 : Orange (Carlos IV , im p. 1365).
D enifle , Op. cit., p p . 424-515.
4 6 . Eis as mais im portantes; Itália 4 : Perúgía (C om u ne d i Perugia, 1266, Clemente
V, 1308), Florença (Senhoria 1321, Clemente IV , 1349), Placêncía (João Galeazzo, 1398, In o -
têncio IV , 1248), Pavia (Carlos IV im p . 1361, B onifácio I X , 1 389); Áustria-Hungria 3 :
Praga (Carlos IV im p . 1348, Clemente V I, 1347), Viena (R o d o lfo IV , duque d'Austria,
1365, U rbano V , 1365), Cracóvia (Casim iro, 1364, U rbano V , 1364) ; Portugal I ; Lisboa*
-Coim bra (D . Dinis, 1288-1309, N icolau IV , 1290) ; Espanha 1 : Peipignan (P edro IV de
Aragão, 1349, Clemente V I, 1243) . C fr. D enifle , O p . cit., 515-630.
17. Das 4 universidades mais importantes da atual Escócia presbiteriana, só uma, a
de E dim burgo, parece ser de fundação protestante (Jaim e V I, 1562), as outras três,
Glasgow, Aberdeen e St. Andrews, são de origem católica. Digo parece, porque, segundo o
protestante Keith , o verdadeiro fundador da Universidade de Edim burgo fo i o bispo cató-
lico de Orkney, R oberto R eid (1558).
18, Mais p articularm ente: Alemanha, 1 1 : W urzburgo (1402, B onifácio I X ), Leipzig
(1409, Alexandre V ), Rostock (1419, M artinho V ), Greifswald (1456, Calixto II I ), Friburgo
in Baden (1455), T ü bingen (1477), Ingolstadt (1459, P io II), T reviri (1450), Mainz (1476,
Sixto IV ), W ittcm berga (1502), Francoforte a . O der (1506, Julio II) ; França 6 : A ix na
troven ça (1409), Poitiers (1431), Caen (1437, EugÊnio IV ), B ordaux (1441), Nantes (1463,
P io II), Bourges (1465, Paulo I I ) ; Itália 3 : T u rim (1412), Parma (1422), Catânia (1 4 4 5 );
Espanha 3 : Alcalá (1499), Barcelona (1450, N icolau V ), Valência (1 4 5 2 ); Escócia 3 i St.
Andrews (1411, bispo H . W ardlaw), Glascow (1453), Aberdeen (1 4 9 4 ); Bélgica 1 : Lovaina
(1426); Suíça 1 : Basiléia (1460, Pio I I); Suécia 1 : Upsala (1477); Dinamarca 1 : C open-
hague (1479, Sixto IV ).
A CU LTU RA INTELECTUAL - 349
22. Ainda em nossos dias, a Santa Sé adquiriu por 600.000 liras a riquíssima biblioteca
dos príncipes Barberini, com 50 mil volumes e uma preciosa coleção de 12.000 manuscritos.
L e ã o x n i franqueou aos d ouios de todo o m undo os salões da m agnífica biblioteca V ati-
caná que, uma das melhores d o m undo, conta atualmente cêrca de 60.000 códices e 8.000
incunúbulo.i. Quem viu no palácio dos Papas esta plêiade de sábios (mais de 250 que afluem
A CULTURA INTELECTUAL - S51
anualmente para estudos prolongados) a enriquecer a ciência com a investigação dos tesou-
ros da antiguidade, p or mais sectário» não Ihe sobra ânimo de acusar & Igreja católica de
hostil ao progresso científico.
23. Outro distinto historiador recente: “ Citer les noms de Pie II, de Nicolas V de
Jules II et de Léon X , c'est évoquer le souvenir de la plus puissante et de la plus efficace
protection que la vie intellectuelle du genre humain ait jamais reçue d ’ une autorité sou-
veraine” . G . K urth, JVEglise aux tournants de Vhistoire { 5), Bruxelles, 1913, p . 153.
24. Bibliografia. Sôbre a influência da Igreja na cultura intelectual podem consultar-se:
B almes, El protestantismo comparado con el catolicismo, Barcelona 1842-44, cc. 6 9-72: B ren-
n a n , W hat Catholics has done fo r science, N ew-York, 1898 ; C hateaubrîand , L e gén ie du
christianisme ; M . F rancis Egan , Glories o f the Catholic Church in A rt, Littérature and
H istory, Chicago, 1896; H ettinger, A p ologie des Christ en turns {$ ), Freiburg i. B ., 1908,
t . V , c . 21» p p . 176-291 î L odlel, N os raisons de croire, Paris (sem data) maison de la
Bonne Presse, cc. I l l , V I ; L . P runel, L'Eglise, Paris. Bcauchesne, 1919: Append. III,
L ’ Eglise et l'enseignement prim aire avant la R évolution, pp. 306-329: L . A . P aquet, L'Eglise
et l'éducation à la lum ière de Vhistoire et des principes chrétiens, Québec, 1909: I. Partie,
pp» 1 -5 6 ; Schanz, A pologie des Christentum s(3), Freiburg i. B. ï SlUii, t. III. 3 15 ; -
p p . 659-692: G . P . Sinopoli G iunta , Storia letteraria délia Chiesa, 2 vols., Torino-R om a.
Marietti, 1920-22; Z a h m , What th e Church has done for science, Notre Dame, Indiana, Trad
franc, de F lageolet. Science catholique et savants catholiques, Paris, 1895.
352 ~ A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
45. Dificilm ente ao leitor brasileiro será dado ter à mão estes docum entos contem porâ-
neos da origem da R eform a e que constituem os preciosos cimélios das bibliotecas da •velha
Europa. Poderá, porém , co n s u ltá -lo s nas obras clássicas de D oe llin ge r , D e Nif l e , J a NSSEN ‘ í
• G r i s a r q u e citaremos em b i b l i o g T a f i a no fim dêste capítulo e do seguinte.
A CU LTURA INTELECTUAL - 353
razão irradiar luz ? Sim irradia luz, como. . . (vá em alemão o res-
to) wie ein Dreck einer Laterne” . 31
Por vêzes o seu estilo intemperantemente cínico e descompos-
to encontra para vilipendiar a razão expressões tão baixas e obsce-
nas que só acham parelha nas suas invectivas contra Roma. Veda-
-nos o pudor traduzir aqui estas salacidades de bordel. Depois
de acabrunhar a nobilíssima entre as faculdades humanas com o ul-
traje ignominioso de prostituta, termina atirando-a ao lugar mais imun-
do da casa.*2 Assim falava o grande reformador nos seus sermões,
assim ultimava o seu curso de pregações em Wittemberga — como
se remata uma orgia.
Depois destas ignomínias, que maravilha que “os emancipado-
res da razão humana” se desmandassem contra os seus mais abali-
zados representantes e tentassem extinguir todos os focos donde ela
irradia a sua claridade P
Aos olhos de L utero , A ristóteles, não passa de um “comedian-
te que por muito tempo enganou a Igreja com as suas máscaras gre-
gas” ; é “um Proteu, o mais astuto enganador dos espíritos ; se não
fôra de carne, não deveríamos hesitar em ver nêle o diabo” . 33 “De
T om ás de A quino duvido se se salvou ou se condenou... T om ás es-
creveu muitas heresias e inaugurou o reino de A ristóteles, devas-
tador da santa doutrina” . 34
As universidades são “espeluncas de assassinos”, “templos de
Moloch” , “verdadeiras cidades do diabo na terra” . O ideal fôra
destruí-las tôdas. O estudo da literatura clássica é uma ciência ím-
pia, pagã, diabólica. “O deus Moloch, a que os hebreus sacrifi-
caram os seus filhos, é hoje representado pelas universidades às quais
imolamos a maior e melhor parte da nossa juventude... O que, po-
rém, nunca se poderá bastantemente deplorar é que a juventude é,
nelas, instruída nesta ciência ímpia e pagã que tende a corromper
39. Carta de Basiléia a W . Pirkheim er, 1528, Opera, E d . Clericus, L ugduni B&Uvorum,
1702-1706, I I I , coL 1139. C fr. D oe llin ce r , D ie R eform ation, I, 470-71.
40. N ote -s e : p o r obra do dem ônio e dos frades havia tantas escolas e tão freqüentada?
que era necessário um milagre de Deus para que um m enino não recebesse instrução. E o
Sr. Carlos Pereira a escrever mO analfabetismo é a vida cancerosa da Igreja R om ana” !
p . 126.
A CULTURA INTELECTUAL - 357
Tão geral era a desordem no país que “a não se começar logo uma
vigorosa organização com auxílio do govêrno, em breve não haveria
nem paróquias nem escolas nem alunos” . Em novembro do ano
seguinte em outra epístola : “Aqui já não há disciplina nem temor
de Deus, porque, perdido o mêdo ao Papa, cada qual faz o que bem
Ihe parece” . Para a educação dos meninos pobres “faltam sacer-
dotes e escolas” .
Com o passar dos anos, a crise da escola tomava-se cada vez
mais aguda. Em 1530 o reformador levanta a voz e dirige-se a
tôda a Alemanha : “Uma das maiores astúcias do malvado Satanás”
é enganar os homens do vulgo que não mandem os seus filhos à
escola nem os apliquem aos estudos. Não havendo já esperança
dos monges e das freiras e dos párocos, como até ao presente, per-
suadem-se que não havemos mister de nenhum homem erudito, nem
de estudar muito, mas só de descansar e fazer por bem comer e en-
riquecer. .. Caros amigos, vendo que os homens do vulgo se afas*■
tam das escolas e retiram de todo os seus filhos dos estudos para
os dedicarem só aos cuidados do bem viver... resolvi dirigir-vos
esta exortação... Quando gemíamos sob a tirania, do papado
abriam-se tôdas as bôlsas e não havia mãos a medir em dar para as
igrejas e as escolas. Então podiam levar-se os filhos aos mosteiros,
às fundações, às igrejas e às escolas. Agora que se deveriam fun-
dar boas escolas e igrejas, e não só fundá-las de qualquer modo,
mas sustentá-las depois de fundadas, cerram-se tôdas as bôlsas com
cadeados de ferro” J 1
Eis as benemerências de L utebo no ensino primário. Depois
de destruir as antigas escolas católicas, disseminadas pelo territó-
rio alemão em tão crescido número que só por milagre não as fre-
qüentaria uma criança, entra a fazer apelos a particulares, conse-
lheiros e príncipes para que fundem escolas. Mas as bôlsas dos
particulares fecham-se com cadeados de ferro, os conselheiros e prín-
cipes divertem-se em guerras e montarias, em torneios e banquetes.
A êstes clamores perdidos no vazio reduz-se tôda a ação prática do
reformador.
Contra esta realidade esmagadora, que monta o sediço paralo-
gismo mais uma vez repisado pelo gramático paulista : a Reforma
41. Os trechos citados e muitos outros não menos expressivos podem ler-se em Janssen,
Geschichte des deutschen Volkes, t- V II (13-14), p . 16, Freiburg i. Br. 1904. Naa obras
de Lutero, o manifesto " A n die Ratherren aller Staedte deuschen Landes, dass sie christliche
Schulen aufrichten und halten sollen*' acha-se na ed iç. W eim ar no t. X V . 27-5$ ; o ser-
m ão de 1530 "dass man Kinder zur Schule halten soll", W eimar, 2 A bt,, pp. 517-588.
3S8 - A IGREJA, A REFORM A E A CIVILIZAÇÃO
Inglaterra, E scó-
cia e Irlanda França ItOia
Juristas.............................................. 6 51 9
Matemáticos..................................... 17 52 15
Médicos e cirurgiões . . . . 13 72 21
Naturalistas........................................ 33 11
H istoriadores................................. 21 139 22
D ram atu rgos................................. 19 66 6
42 2
38 157 34
64 44
52. C ollier ' s, Eccles. H istory o f Great Britain, II, 480 e H a l l a m , Introduction to the
tittcrature o f E urope, Paris, I I , 39, cit. p o r D oellin ger , K irche und K irchen, p . 209.
53. W il l ia m C o b b et t , T h e Protestant R eform ation, letter I . V er aí expostos os critérios
objetivos que serviram de norm a ao autor na organização do quadro acima.
962 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
54. ÀLLATN, L'instruction prim aire en France avant la révolutiont p . 44. C it. por
A . P a q u e t , L ’ église et l’ éducation, etc., Québec, 1909, p . 93.
55. C it. p o r L . A . P aquet , ib id .
56. T hom m en, Geschichte der Universitaet Basel, 1532-1632, Basel, 1889, p . 305.
57. C o n r a d o C l a u s e r , D e educattone p uerorum , Basileae, 1544, p . 94. J . B . G a l i ï t S
assim r é s u m é a açâo de C a l v i n o sôbre o progresse» cientifico : “ Genève com prim ée et stérilisée
par son despotisme, n'a produit pendant des siècles que des th éolo g ie n s... Bien loin d 'a v o ir
accéléré la marche de son siècle, il le cloua si fermement à lui, q u 'il resta stationnaire
pendant plus de 100 ans et ne put se remettre en m ouvem ent qu'avec une peine et un *
lenteur inouies. Je crois avoir étudié l'histoire aussi profondém ent et aussi consciencieu-
sement que qui que ce soit, et très certainement je ne suis sous l'influence d'aucune par-
tialité personelle” . J . B . G a l i f f e , N otices généalogiques, etc., I I I , 107-08.
A CU LTURA INTELECTUAL - 363
a opinião dos que atribuem êste triste estado de coisas aos decretos
da Providência. Mas semelhante suposição é evidentemente uma
impiedade, como aliás o demonstra suficientemente a prosperidade
de algumas outras escolas em que vigem tôdas as boas usanças,
que asseguram a ordem e a disciplina. De fato, porque motivo po-
deriam os colégios dos jesuítas, não obstante as distâncias que os se-
param, assinalar-se pela boa ordem, pela disciplina, pelo zêlo de
todos no cumprimento dos próprios deveres, se o mau estado das nos-
sas universidades fôsse realmente efeito da vontade divina ? E por
que não poderemos nós, que caminhamos à viva luz do Evangelho,
fazer o que fazem os jesuítas que ainda vivem nas trevas ? 76 Não
nos é possível negar que somos responsáveis pelos malés que nos
afligem. Comparai o que se vê hoje com o zêlo e ardor pára o bem
que animavam os nossos antigos predecessores, Quem poderia ler
sem admiração êstes estatutos em que ainda respira a sua sabedoria ?
etc., etc.” 7Í
Se dos estudos literários e científicos passarmos à cultura das
belas artes, fàcilmente verificaremos que neste campo foram aindá
mais profundas as devastações da Reforma. O protestantismo nãó
compreendeu o pensamento sublime da Igreja de pôr ao ser-
viço da religião o que de mais fino e delicado produziu o espí-
rito humano no domínio do belo. O templo católico é o santuário
da beleza. A arquitetura, a escultura, a pintura, a decoração, a mú-
sica, a eloqüência aí se estreitam na mais harmoniosa aliança para
elevar a alma do crente à união com Deus que é eterna Verdade e
Beleza eterna.
Estéreis como a revolta e áridos como o êrro, os filhos de L u te-
e o não encontraram no coração gelado e ressequido pelo ódio a fibra
humana, que vibrasse em uníssono com estas harmonias divinas da
criação. O primeiro grito dos que protestaram foi um grito contra
a arte; seus primeiros atos, atos de vandalismo atroz. Precipita-
ram-se sôbre os nossos monumentos religiosos, os nossos altares, as
nossas estátuas e arrasaram tudo : “Imbuída do espírito do seu fun-
dador, monge invejoso e bárbaro, diz C h a t e a u b b i a n d , a Reforma de-
clarou-se aberta inimiga das artes. Riscando, por assim dizer, a ima-
ginação das faculdades humanas, cortou as asas ao gênio e tornou-
-se pedestre. . . Se a Reforma ao nascer fôsse coroada de pleno êxi-
* *
Seus m em bros n ã o foram nem são todos santos : são hom ens.
D esdobrai as páginas da sua história. Podereis apontar épocas fu -
nestas em q u e os vícios d o m undo contam inaram largam ente as suas
file ira s ; podereis indicar mosteiros ou instituições religiosas que, es-
quecidas da perfeiçã o evangélica, decaíram ao nível das paixões vul-
gares ; podereis num erar sacerdotes ou bispos q u e m ancharam o san-
tuário com o exem plo d e um a vida desregra d a ; podereis até contar
(s ã o raros 1) P ontífices suprem os q u e escandalizaram com os seus
desm andos a cátedra apostólica, on d e luziram as virtudes d e L e ã o
M agno, G regório V II e P io V . Cristo o havia p rofetiza d o. N a sea-
ra p o r Ê le plantada, ao la d o d o trigo havia d e crescer o jo io ; na
pesca divina das almas, entre as malhas da rêde, se haviam d e en-
contrar peixes bon s e m aus. A figueira estéril cresceria ao la d o da
árvore frutífera, as virgens loucas se irmanariam co m as prudentes,
Judas maquinaria o d e icíd io n o colégio apostólico. São essas as ta-
ras inevitáveis d e um a sociedade, divina na sua instituição mas hu-
mana nos seus m em bros.
A o lado, porém , destas obscuridades q u e form am a som bra d o
quadro, que luzes, q u e resplendores sobre-hum anos 1 Enum erai em
vinte séculos d e civilização os grandes heróis da virtude, os grandes
benfeitores da hum anidade, as grandes instituições q u e deram aa
m u n d o o mais belo espetáculo d a abnegação, d o sacrifício, d o zêlo e
d o am or : são frutos sazonados da seiva vivificadora da grande árvore
católica. A tradição d o heroísm o nunca se extinguiu na raça dos
seus filh o s. A cham a da caridade nunca se apagou n o seu s e io . As
árduas veredas da p erfeiçã o evangélica nunca deixaram d e ser tri-
lhadas pelas legiões dos seus soldados.
D e Estêvão aos negros d a Uganda contem porânea, os fastos d o
seu m artirológio ; d e Jerusalém a Lourdes, a crônica dos seus m ila-
gres : dos A póstolos às legiões dos nossos missionários, a história d o
zê lo ; dos diáconos da Palestina e dos anacoretas da T ebaida a V i-
cen te d e Paula, a D . B osco, às m ultidões das nossas virgens e dos
nossos virgens, os fatos da caridade, da abnegação, da pureza, fo -
ram continuam ente ilum inados p elo brilho d e novas páginas.
A m aternidade fecu n d a da Igreja nas gerações dos seus san-
tos n ã o con heceu nunca as intermitências d o exaurim ento ou a im -
potên cia da esterilidade.
M as desta árvore divina, nas tempestades de 20 séculos, desta-
caram -se dezenas de ram os outrora florescentes e carregados d e fru-
tos. O orgulho, revolta d o espírito, e a sensualidade, revolta da
carne, separaram-nos d o tron co com u m . Caíram, m uitos com gran-
IGREJA, REFORMA E M O R AL - 375
o
« «
2. D e servo arbítrio ad Erasmum (1525), Weimar, X VIII, 635, 709 ss. “ Foi o diabo
quem introduziu na ïgreja o nome de livre arbítrio” . Weimar, VII, 145.
S. C a l v i n u s , Inst. de la relig. chrét., 1. III, c . 24, n. 12 ; c. 23, n. 12, Opera , IV,
521* 500.. T odo o cap, 2 do livro II é consagrado a demonstrar “ que l’homme est main-
tenant dépouillé de franc-arbitre et misérablement assujetti à tout mal'*. Opera, III, 296.
4. Zw inguo, W erke) II, 73, 184.
M e l a n c h t h o n , Comment, in Epist, ad R om . V e r t o d o o
5. trech o em A lz o c , Universal-
geschichte der christlichen K irch e (7 ), M a l n z , 1 8 6 0 , p . 755. — Ê ste tre ch o e s c a n d a lo s o , con -
servad o por C h e m n it z , fo i e x p u n g id o das e d iç õ e s p o ste rio re s do c o m e n tá r io de M e la n c h -
th o n . — N os L oci theologici, obra que L u tero cham ou “ in v e n c ív e l, d ig n a não só da
im o r ta lid a d e sen ão a in d a de ser in s e r id a no cân on das sagradas E s c r itu r a s ” (W e im a r , X V III,
6 0 1 ), M e la n c h th o n d iz -n o s que a lib e rd a d e “ é um dogm a ím p io in filtr a d o no c r is tia n is m o
p e la filo s o fia ". Corp. R éf. X X I, 86. M a is ta rd e , d e s v in c u la d o da in flu ê n c ia do a n tig o
m estre e e n s in a d o p e la e x p e r iê n c ia , o r e fo r m a d o r h u m a n is t a a c o lh e u -s c a id é ia s m a is sen -
sa ta a . — As fó r m u la s s im b ó lic a s do p ro te sta n tism o r e s s e n te m -s e das o p in iõ e s in d iv id u a is dos
t e ó lo g o s que as e la b o r a r a m . P ara u m as, a lib e r d a d e é um fa to , para ou tra s, um nom e
• ô co , sem r e a lid a d e . N egação do liv r e a r b ítr io pode v e r - s e , p o r e x e m p l o , n a Solida Décla-
ration II, De ]ib . aTb. 3§ 5, 7, 3 0 , 4 4 ; n o s Artigos de Smalcaldat P a r t . I I I , A r t . I
§ 5« J• T . M ü h le r , D ie symbolischen Bûcher der evangelisch-lnterischen K irc h e ( 9 ) , G ü -
të r s lo lï, 1900, r e s p e c tiv a m e n te , pp. 588. 589. 596. 598. 311.
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 379
B. B a lm e s , El protestantismo, e t c ., c. 30.
IGREJA, REFORM A E M ORAL - 381
Deus te perdoou, que a sua justiça cobre os teus pecados, que a tua
fé é inamissível e, còm à fé, a graça. Se esta persuasão entrou na
alma é o descanso no pecado, o hábito do mal, o endurecimento; se
não, é o terror, o desespero. Compreendo agora em lábios protestan-
tes êstes gritos d’alma : “Oh 1 que não daria eu para ajoelhar-me
num confessionário católico!” (M. d e S t a e l ) . “Quem não lançou
olhos invejosos ao tribunal da penitência ? Quem não desejou nas
amarguras do remorso, nas incertezas do perdão divino, ouvir uns lá-
bios, que, com o poder de Cristo, Ihe d i s s e s s e m “Vai em paz, teus
pecados te são perdoados” ? 9
A confissão é o amor que perdoa e regenera. A eucaristia è o
amor que se imola, o amor que se comunica às almas nos amplexos
inefáveis de uma união divina. Quem não teve fé nó amor miseri-
cordioso, não pôde compreender o amor unitivo. Negada a confissão,
como afirmar a eucaristia ? . L t j t e r o também aqui deu o primeiro
passo na via das negações. A hóstia consagrada não é o corpo de
Cristo, contém-no apenas transitoriamente. C a l v c n o foi além é no
mistério dos nossos altares viu, não uma realidade consoladora, mas
apenas um símbolo, uma figura vazia de verdade. Daí à negação
completa a.distância era pequena e transpuseram-na logo os seus su-
cessores. A missa foi proscrita como rito idolátrico e os taberná-
culos ficaram vaziós na solidão dos templos protestantes.
Mas que vale um cristianismo sem eucaristia : sem a eucaristia-
-sacrifício, centro em tôrno do qual gravita tôda a vida litúrgica, sem
a eucaristia-sacramento, fonte donde mana, em torrentes, a graça,
vida sobrenatural dos crentes ? Extinguiram o fo g o ; o amor enti-
biou-se nos corações. Estancaram os mananciais ; as almas esteri-
lizaram-se. As flores mais belas, que no cristianismo haviam desa-
brochado ao sol de Jesus-Hóstia, feneceram à míngua de calor e de
luz. Murcharam os lírios, esmaeceram as rosas, secaram as viole-
tas. O sacerdócio casou-se, os mosteiros despovoaram-se, o aposto-
lado mercantilizou-se, a caridade exilada das almas buscou um re-
fúgio nas leis e passou do coração para a algibeira. O protestan-
tismo não tem Irmãzinhas dos pobres, Irmãos de S. Vicente, não tem
ordens religiosas, não tem ministros continentes, não tem legiões
de mártires nem de virgens. Onde quer que a virtude se eleva
«
» »
10. W eim ar, I» 105. N o com entário ao c . 40 de Isaías : "Esta. é nossa doutrina que
sabemos eficaz para consolar as consciências. Viveremos livres, sem lei, e nos persuadiremos
que os nossos pecados nos foram p erd oad os1', W eim ar, X X V , 249.
11. Sôbre a teoria da justificação em L utero e a sua dissolução gradual pelas diferentes
facções protestantes, c fr. J . A . M o e h l e r , Symbolik, od er Darstellung der dogmatischen
Gegensaetze der Katholiken und Protestanten nach ihren oeffentlichen Bekenntnisschriftea(9).
Mainz, 1884, 1. I, c . 3. p p . 99-253. Desta obra clássica escreveu G o y à u : “ La Symbolique
est le livre le plus p rofon d que, depuis Luther, une plum e catholique allemande ait
écrit sur la R é fon n e” G . G o y a u , M oeh ler, Paris, B lou d, 1905, p . 38. C fr. a in d a : J .
Sc h w a n e , H istoire des dogmes, trad. franc. de A . Degert, Paris, Beauchesne, 1904, t . V I,
205-239; H . G risar , L uther, Freib. i . B ., Herder, 1911, t. I I , p p . 737-781. Êste último
autor estuda a teoria d e L u te r o à luz das experiências religiosas e lutas internas de consciên-
cia desta alma devorada de escrúpulos e ralada de remorsos. N ão é a teologia, é a psico-
logia que explica a origem da justificação luterana.
12. L ivro da C on córd ia : “ Et quidem n e ç u e contrítio n equ e dilectio, neque ulla alia
virtus, sola fides tamquam medium et instrumentum quo gTatiam D ei, meritum Christi et
remissionem peccatorum apprehendere et accipcre possumus” . Solida Declaratio, I I I , De justí-
tia fidei. J. T . M ühler , D ie sym bolischen B ücher der evangelisch-lutheranischen K irch e(9),
Gütersloh, 1900, p . 616. N a A pologia da Confissão A u gu sta n a : “ Sola fid e in Christum,
n on per dilectionem, n on propter dilectionem aut opera consequim ur remissionem peccatorum,
etsi dilcctio sequitur fid em . Igitur sola fide justificam ur” . C orp . R e f o r m a t X X V II, 440.
Em J. T . M ühler, p . 100. L utero : “ Haec eat ardua et insignis dignitas veraque et om -
nipotens p o testas, spirituale imperium in quo nulla res tarn bona, nulla tarn mala quae
n on in bon u m m ih i cooperetur. N ulla tarnen m ihi opus est cum sola fides sufficiat ad
salutem u. W eimar, V II, 57.
384 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
13. “ Consequitur itaque om nia hom inum quantumvis laudabilia in spcciem o p e n plane
vitiosa et m orte digna peccata” . M e l a n c h t h o n , Carp. R e f o r m a t X X I , 106 C fr Ibid.,
p. a «».
14. "Ita vides quam dives sit hom o christianus sive baptizatus q u i etiam v oien t non
p otest p erdere salutem suam quantiscum que peccatis nisi n olit credere. N ulla enim peccata
eum possunt damnare, nisi sola Incredulitas : caetera om nia s i . . . stet fides in promissionem
divinam baptizato factam in m omento absorbentur per eandem fid em ” . L u tero , Weimar*
V I, 529. " Q u i credit idem et aeque m agnum peccatum habet ut incredulus, credendi tamen
condenatur et non im p u ta tu r.. . Itaque, [eredens] peccatum habens et peccans tamen manet
p i n s .. . ataque ea est vera piorum consolatio, q u od etiamsi peccata habeant et committant,
tamen sciant ea p ropter fidem in Christum non im putari sibi” . W eim ar, X L , 2, A bt., 96.
15. "Christus spectandus est, in qu o cum pcccata tua haererc videbis, secures eris a
peccatis, m orte et inferno. Dices enim peccata mea non sunt mea qui non sunt in me.
Bed sunt aliéna, Christi vid elicet; non ergo me laedere p oterunt” . W eimar, X X V , 330.
“ Si conscientia peccati te accusat, si ponat ob oculos iram D e i .. . non debes ei consentir«*
sed contra conscientiam et sensus tuos judicare D eum non esse iratura, te non esse damna-
turn**. W eimar, X X V , 330.
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 885
£6. Para eji tender-se o verdadeiro significado dêste passo cu m pre observar que nêle,
com o em tantos outros lugares de suas epístolas, com bate o A p óstolo aos Judeus que se
obstinavam em afirmar a necessidade da L ei antiga (Lei, T h orah, era o título com qu e in d i-
cavam os hebreus o Pentateuco em oposição aos Profetas, nom e com que se designavam os
outros livros inspirados). Contra êsse êrro assevera S. Paulo que não são os ritos mosaicos
q ue santificam o homem» mas a fé em Cristo, na sua R edenção, na sua justiça. D e um
lado, a incredulidade em Cristo e a confiança nas obras da Lei praticadas pelas simples
fôrça* naturais do hom em , d o ou tro a fé no R edentor e na sua justificação, com o d om gra-
tuito de Deus são Aqui os membros d a antítese, e não a fé no Salvador e as boas obra»
sobrenaturais inspiradas p o r esta fé . O A póstolo distingue sempre as obras da L ei % p y < * t o v
vòfiiov e as boas obras fyya àyotOà%x a X à . A necessidade destas últimas, isto é, das boas obras
informadas pela graça e p elo espírito do Cristo, professa-a claramente S. Paulo em m il )u*
gares das suas epístolas. Nesta mesma, aos R om anos, II, 7, 1$ escreve : “ Aos que const&nter
n o bem operar proclam am a glória, a honra, a imortalidade (dará o Senhor) a vida e te r n a ...
P orque não são justos diante de Deus os que ouvem a L ei, mas serão justificados os q u e
a p õ em em prática” . A os fiéis da Galácia, V , 6 : “ Em Jesus Cristo nada vale o circunciso
o u o indrcuDciso, mas a f é q u e opera pela caridade” . C om o se vê, acontece com 00 p r o -
testantes o que já dizia S. Pedro : “ In quibus [i. é. nas epístolas de S. Paulo] sunt quaedam
d iffld la Intellectu quae indocti et instabiles depravant, sicut et ceteras Scripturas ad suam
ipsoram p erd itionem ” . I I Petr., I I I , 16.
2 7. Carta a L ink, 1? set. 1530. W eim ar, X X X , 2 A bt., 635 e 643.
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 389
médio. “Desejo sair, com todos os meus, dêste inundo satânico ; ane-
lo pelo supremo dia que porá têrmo aos furores de Satã e dos seus” .44
Ao mesmo amigo J. P r o b s t escrevera dois anos antes, em 1542 : “O
mundo ameaça ruína; disto tenha certeza: tal é o furor de Satanás,
tal o embrutecimento geral. Só me resta como consolo a iminência
do dia derradeiro. . . a Alemanha foi e nunca voltará a ser o que
foi” .45 Já nos parece ouvir nestas expressões coloridas ainda de tin-
tas cristãs, o grito pessimista de H a h t m a n n apelando para “o suicí-
dio cósmico” como único têrmo aos males irremediáveis da vida.
Em M e l a n c h t h o n , discípulo predileto de L u t e e o , a mesma per-
suasão, sugerida pelos mesmos motivos. “Cresce de dia para dia o
desprêzo da religião, não só entre o povo a quem se pode perdoar,
mas entre os sábios que ou se fazem epicureus ou acadêmicos. A
corrupção dos homens, a tristeza dos tempos e a insânia dos príncipes
bem mostram àdiviv e tòv xóanov e que é iminente o advento de
Cristo” .46
Depois dos mestres os discípulos.
Andbé M u sk u ltjs , um dos mais fogosos campeões do luteranis-
mo, escrevia em 1561 : “Chegamos a tal extremo que já não há, en-
tre nós, quém não confesse claramènte que nunca, desde que o mun-
do é mundo, houve tanta corrupção na juventude. Não é possível
piorar... Se o mundo durar ainda algum tempo e se os nossós filhos,
já afogados na desordem e na dissolução, tiverem um dia descenden-
tes que nos sobrelevem no vício e na malícia, será preciso que os ho-
mens se transformem em verdadeiros demônios, porque realmente
não vejo como, conservando caráter humano, cheguem á ser piores
que nós” .47
44. De W e it e , V , 703.
45. D e W e t t e , V , 451. A idéia do fim iminente do m undo tom ou-se nos últimos-anos
uma verdadeira obsessão para o heresiarca, que ainda uma vez arriscou nela os seus créditos
de profeta. O m undo não duraria 100 anos, nem mesmo 50 I A corrupção era tão geral
e tão profunda que já não podia crescer e só o juízo final Ihe poderia p ô r têrm o. Sôbre
as idéias de L u te r o acerca d o fim p róx im o d o m undo, cfr. Grj&ar, Luther, I I I , 202-211.
46. Corpus Reformatorum , III, 895. O trecho citado é extraído de um a carta datada
d e 1540. Dez anos mais tarde, escrevendo a C a m e r á r i o , carrega ainda mais as côres do
quadro : " N o n est jam tantum Ô&ov xctxriyoplat ut Pindarus inquit, sed rabies qualis
nulla aetaU fuit, cujus praecipua causa est q u od homines barbari et jam assuefacti ad legum
et disciplinae contem ptum et odium m etuunt fraenari licentiam ; sed haec sunt fatalia mala
postremae aetatis". Corp. Reformat. V II, 580. Documentos com o êsses poderiam colhcr-se
às dezenaj nas obras assim de L u t e r o com o de M e l a n c h t i i o n .
47. A . M u s k u l u s , Von der Teufels Tyrannei, no Theatrum diabolorum f . 160. C fr.
etiam f . 128, 187 b .
394 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
48. B e l z i u s , Von Jam m er und Elenden m enschl. Lebens, K urzer U nterricht aus ' dem
90 Psalm, Upsiae» 1575, C . 6, D . 6.
49. A p . H e r m a n n , D ocum enta litteraria, A ld orfii, 1758, p . 59.
-5Q. B. R i g g e n b a c h , Jah. E berlin von Günzburg, 1876, p . 242. Se assim é , p o r confissão
dos p r ó p r i o s chefes da R eform a, quanto mais se esforçam os m odernos protestantes por
•pintai*- com tintas carregadas a época anterior a L u t e r o , tanto mais negro deverá a p a r e cèr
ò luteranísm o.
5,1. J acôb A ndreas , Erinnerung nach dem L auf der Planeten gestellt, T ü bingen, 1568,
p p .L 140 sa.
IGREJA, REFORM A E M O R A L - 395
63. Quem não dispuser de outros livros à mão poderá consultar os documentos autênticos
edificantíssimo episódio e m B o s s u e t , H istoire des Variations, em anexo ao 1. V I, ou
d ê s te
m elhor ainda e m Jàn ssen , Geschichte des deutschen Volkes, III (17-18), p p . 450-454, onde vêm
indicadas as fontes.
64. D e W ette , I I , 215.
65. W izel, Von den T od ten und ihrem Begraebnisse, Leipzig, 15S6, G. a b .
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 401
73. Jacobu s A ndreas, Erinnerung nach dem L auf der Planeten gestellt, T übingen, 1568,
p . 440.
74. Erl., V III, 293 ss. Leia-se todo êste lugar. P or êsse tem po chegou a formar-se
na Alem anha um a ordem de beberrões, provàvelmente em subsdtilição das antigas ordens
monásticas. Primeira condição para ser nela admitido era a capacidade de beber bem .
O resto seguia-se natu ra lm en te...
404 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
seriam como ela. Não há dúvida que tudo isso causa grande prejuí-
zo ao nosso evangelho” .75 Excelente, precioso evangelho!
“Lançai um olhar sôbre as transações cotidianas assim entre pas-
tôres como entre a gente do mundo. Que vêdes senão egoísmo, ava-
reza, rapacidade ? Hoje, reina o dinheiro. Combatem-se, dilaceram-
-$e, arruínam-se mútuamente os homens só por havê-lo. . . Refina-
ram com tanta subtileza os meios de ganhar e gozar que se chegou a
perder o sentimento da vergonha e do opróbrio. . . Não há mais
consciência, não há mais remorso desde que os homens se persuadi-
ram que as obras não valem e que só a fé basta para a salvação” .76
Infelizmente é-me necessário ter mão nas citações, que se pode-
riam ainda multiplicar sem outra dificuldade que a da escolha.77 Não
posso, porém, deixar de chamar a atenção dos leitores para as modifi-
cações introduzidas pela Reforma nas relações de caridade entre ri-
cos e pobres.
A introdução do protestantismo vibrou um golpe de morte contra
o espírito da fraternidade cristã. Desapareceram o amor e o res-
peito ao pobre. Aboliram-se, aos poucos, os santos costumes que
tanto contribuíam para estreitar os laços de simpatia entre os que
a Providência desigualou na fortuna. É impossível não ver nesta
ruptura com as tradições da genuína caridade cristã a primeira Ori-
gem das rivalidades e ódios de classes que, aumentando com a re-
volução francesa, vieram em nossos dias a desencadear-se como ver-
dadeiro cataclismo social, que ameaça a estabilidade da civilização
moderna.
Fiéis ao nosso programa, demos a palavra a testemunhas con-
temporâneas. “No passado havia cristãos que amavam os pobres ao
extremo de chamá-los seus senhores, seus filh os; lavavam-lhes os
p és; davam-lhes de comer, serviam-nos à mesa como nosso Senhor Je-
sus Cristo. Hoje, se lhes proibe a entrada nas cidades; expulsam-
-nos e fecham-lhes a porta no rosto como se foram réprobos e inimi-
gos públicos. . . Que purificação da Igreja I que Reforma ! que ele-
mentos de união e de concórdia !”78 Falando do pauperismo na In-
glaterra, tivemos ensejo de notar como entre os protestantes se perpe-
tuou semelhante maneira de tratar a pobreza desvalida.
e
• *
81. Algumas das idéias inc(jcadas e resumidas no texto, o leitor p oderá encontrar am-
plamente desenvolvidas em A ug. N ico las , D u protestantisme, etc., 1. III» c . 5»
82. “ É extremamente d ifícil, quase impossível, form ar uma idéia exata da moralidade
âe. Um p ovo bó com o auxilio das estatísticas. O que ordinàriamente é conhecido com o
nohae de estatística m oral, nSo passa d e uma estatística da imoralidade, ou» m elhor dito» - dè
úm ín d ice da im oralid ad e". A . Krose, em Stimmen aus Maria Laach, t . 71 (1906);* p . 290 .r
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 411
83. Para não dizermos senão um a palavra desta benemérita institüiçâo destinada a
arregimentar os leigos sob a bandeira da caridade, as conferências de S. Vicente, fundadas
p or O zanam em princípios d o século passado, contavam em 1900 para cim a de 5.000 centros
o u conferências com mais de 100.000 associados, que só na Europa, distribuíam aos pobres
uma média anual de 5 m ilhões de francos.
64. Não creio tão p ou co q u e os protestantes sinceros julguem p od er comparar o mis*
sionário católico com o predicante “ evangélico” . Os próprios selvagens das Montanhas R o -
chosas, com o critério d o b o m senso, sabem distinguir entre o "veste-negra” , casto, pobre,
hum ilde, que sacrifica a pátria, a família, a vida p o r suas almas, e o funcionário d e gravata
branca que, acom panhado d e m ulher e filhos, se instala num a confortável vivenda, zela os
interêsses próprios e dos seus e consagra o tempo que Ihe sobra a distribuir Bíblias. C f r.
T . W . M . M a r s h a l l , Christiart Missions (2 ), L ondon, 1865, t. I I , p p . 895-396; L a v e il l e ,
L e P èrc dó Sm et(2), Liège, 1913.
412 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
85. Evidentemente, a com paração não se p od e estabelecer entre indivíduo e ind ivíd uo.
H á m uito protestante que» pessoalmente» vale mais que m uito católico e vice-versa. As
mesmas razões, que viciam um a conclusão baseada em cotejos individuais, exigem Que os
grupos confrontados não sejam m uito exíguos.
86. Muitos vicios, o fu rto, p o r exem plo, grassam com mais freqüência nas regiões
pobres que nas abastadas. A s grandes agremiações fabris apresentam para a m oralidade à o
operário m il perigos qu e se nãò encontram na vida dispersa e pacífica dos cam pos.
IGREJA, REFORM A E M ORAL - 413
87. Assim, p o r exem plo, em França até fins do século passado contavam-se as condenações
in fligid a s; de então para cá, contam-se os con den ados; um delinqüente figura só uma
vez ainda que tenha com etido vários delitos durante o a n o. M udança em sentido inverso
se observa em 1835 na Inglaterra. C fr. L . F a u cher , Études sur VAngleterre, t . II, Paris«
1856, p . 321.
88. "D e r strafrechtliche B egriff des Mordes, z. B . ist ein anderer in Deutschland als
in Oesterreich; m eutre in Frankreich ist etwas anderes als m urther in E n gla n d ; das italie-
nische W ort om icidio ist eine gemeinsame Bezeichnung fuer M ord, T otschlag und fahrlaessige
T o e tu n g ” . H . A . K r o s e , R eligion und Moralstatistik, M ünchen, 1906, p p . 55-6. Cfr. C .
J a c q u a r t , L e divorce, Bruxelles, 1909, p . 71.
90. Para citar exem plos, na França o ministro Guyot-Dessaigne, num a relação concer-
nente ao ano de 1905 e publicada a 22 de março de 1907, se congratulava com a indulgência
da magistratura que poupara um a repressão efetiva a 92% dos menores denunciados. Quanto
à Itália, inform a-nos G a r o f a l o : "L a media percentuale delle assoluzioni nelle corti d'assise
è dei '25% nelle p rov in d e m eridional!, del 30% nel resto d ’ ltalia ed in una parte delia
Sicilià, e dei 55% nella Sardegna’ *. Criminologia(2 ), T orin o, 1891, p . 488.
91. O e t t in g e n , M oraíítaíwí*A(3), Erlangen, 1882, p. 442.
92. H . v o n S c h e e l , Kriminalstatistik, art. do Handw oerterbuch d er Staatswissenschaft( 3 ) /
J ^ a , .1910, t . V I, p . 247.
93. L o ria . V erso la giustizia sociale, Milano, 1904, p . 552.
IGREJA, REFORM A E M ORAL - 415
100. “ Poucos, diz L eroy-B jeaulieu, têm consciência d o suicídio que vai perpetrando a
nação francesa. Se não se adotarem meios de energia pronta e eficaz, ela desapareceri de
todo em pouquíssimas gerações. Trata-se de uma certeza absoluta” . N o Journal ie s D {-
bats, V id. La Croix, 17 juillet 1910.
418 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇAO
Para a Prússia :
Para a Baviera :
1 9 0 6 -1 9 1 0 ......................................................................... 3 ,5 6 4,40
104. " O aum ento da população na Alemanha, diz o professor W olf , principalmente na
Alemanha d o N orte, é h oje substancialmente devido à parte católica d o p o v o " . C it. por
H . R o s r , D ie K ulturkraft des Katholizism us(2 ), P a d e r b o r n , 1919, P - 138.
105. H . K r o s e , Kirchliches H andbuch, t . X , Freiburg i . B ., H erder 1922, p . 1Ô9.
4 g — A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
No qüinqüênio 1906-1910 :
106. Quem quiser ver os nomes e mais particularidades estatísticas destas cidades con-
sulte H . R o s t , D ie K ulturhraft des KathoIizizmus(2) Paderbom , 1919, p p . 520-530. Para
Berlim, capital do protestantismo temos esta queda precipitosa : sôbre 1.000 habitantes, filhos
legítimos em 1B76 : 204,3 ; em 1886 : 175,5 ; em 1896 ; 138,1 ; em 1906 : 111,91
424 - A IGREJA, A REFORM A E A CIVILIZAÇÃO
Em 25 anos
a população católica cresceu d e ............................... 2,32 %
a população protestante diminuiu de . . . 3,11 %
114. MA pena refuge de acenar sob qualquer metáfora a brutalidade inglêsa nas suas
formas mais bestiais expostas p o r H eitor France no seu Va-nu-Pieds de L ondres. Baste o
título de um capítulo : M arché aux enfants. O proprietário de um a com panhia d e acrobatas,
H a d ji A li Ben M oham ed, com prou em 1879, no m ercado de Londres, aberto às segundas e
terças-feiras, entre as 6 e as 7 da m anhã, 20 meninos inglêses de 4 a 12 anos à razão de 35
fr. p or cabeça. Diàriamente, pela m eia-noite, só numa rua que não m ede mais de S00
metros in Piccadily Circus e W aterloo Place expõem -se mais de 500 meninas entre os 12
e os 15 anos I” . P avissich , Fatti e criteri sociali, Treviso, 1903, p . 126.
115. V er cit. da nota da p á g . precedente. A . p . 188 escreve ainda O bttincen : “ V on
allen Staedten Europa’ s steht Hamburg* wie wir sehen werden, oben an in Betreff der Aus-
breitung der oeffentlichen Schande. N eben der übeigrossen Zahl von Bordellen hat sich auch
die vagirende Prostitution in einer solchen Masse durch die ganze Stadt auegebreitet, dass
sie der intem irten od er casemirten die erfolgreichste Concurrenz zu machen und die sitt-
lichen sowohl als die Sanitactsinteressen der Einwohner zu beeintraechtigen droht. Ja, dieser
Zustand wirkt inficirend a u f ganz Norddeutschland [isto é, a parte quase exclusivamente
protestante]. D er m it dem Bordelienwesen verknüpfte Menschenhandel florirt nirgends so
w ie hier” .
116. Korrespondenzblatt zur B ekaem pfu ng der oeffentlichen Sitienlosigkeit, 15 Dez. 1897.
117. K orrespondenzblatt, etc., 15 m ai 1898.
428 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
122. N eum ann, c it. por K rö se , D er Einfluss der Konfession auf die Sittlichkeit, p . 28.
123. V er mais porm enores em K rose, D er Einfluss, etc., p p . 28-32.
124. “ Rarely if ever d o I fin d the eldest child o f a family born o f a chasfe marriage” .
Cit. p or Graham , prosperity catholic and Protestant, L ondon , 1912» p . 26.
430 — A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
130. Jam m es A. F rou de, T h e English in Ireland in eighteenth Century, Iaondon, T872.
I» 5571
131. B e r n . L e s k e r , Irlands Leiden un d K äm pfe, Mainz, p. 135.
132. fesses dados, porém/ não são de todo ponto comparáveis. Em favor do Ulster
pTOtestante podç alegar-se ,a grande percentagem da população urbana e da ,profissão' indus-^
triôl. Em favor de Connaught está a grande pobrczà e as.cohdições de' párias sem exempli)
dificultam extraordjnàri&mente o matrimônio.' .Conservai ainda assim uma percentagem
ilç,;ilegítimos tãò insignificante é prova de moralidade.
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 435
«
* *.
UtS. Ap. B.. L e s k e r , O p. c i t p. 136. Que pena que o Sr. Napofeao Roussel, na.’ sua
çxcursSo . apologética, omitisse estas pequeninas observações, todo absorvido pela preocupação
de contar gansos e peruas 1,
134. J. W a p p a e ú s, Handbuch der Geographie vn d der Statistih, Leipzfe, 1885, t. I,
p ! -217. O e t t i n c e n e W e r N ic k e , mais recentemente exprimem-se do mesmo modo.
486 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
Na Baviera :
1908-1913 . . 15,4 21,0 39,2
Fora da Alemanha.
Na Áustria :
JDivórçiossõÒre XOO.OOO habits.' e titre' cônjuges
católicòs ;e
católicos aconfessionais
Na Hungria
Divórcios sôbre 1.000 matrimônios,entre cônjuges
nos seus ensinamentos, nas suas fórm ulas e cerimônias tanta consolação e esperança que não
deixa lugar algum ao p e s s im is m o ” . M à s a r y k , D e r Selbstmord ais soúale Massenerscheinung,
IVien*. 1881, p p . 160, 165."
• 147# . Com exceção de Portugal, os dados acima são tirados de Máyb., n o Handwoerter-
hiiCH.der Staatswissenschaft, I , vol, supl. Jena, 1895, pp. 698, 699.
148: , Esta elevada proporção de suicídios na França em nada depõe contra a ação m oral
catôliciamo. T ô d a a gente sabe a que poderosas influências anticatólicas está submfetidk
j»‘VF*CTÇa inoderna. Outrora não era assim. De 1836 a 1852 a proporção de suteidios não
de 8 ,3 2 ; em 1855-1870 atingiu a 12,3 para crescer desmesuradamente nos anos de
Íj3 íl-^ 9 , iios quais se elevou a 22,5. Em 50 anos (1842-1892) o número dos suicídios quase
tripliooü . jSscrifóres que não consideram os fatos sociais sob o prisma religioso e católico
concordam çin atribuí-lo à obra de dcscrístianização sistemàticamente empreendida pelas seitas
m açónicas.' A escola sem Deus é a. principal responsável da desmoralização d o pòvo francês.
|Ét na juventude .que sobretudo se manifestam as suas conseqüências mais assustadoras. Em
1,897 a criminalidade infantil era duas vêzes superior à dos adultos. Os suicídios dos me-
n ofes d ç '16 anos, outrora raríssimos, elevaram-se em 1887 a 55.
J á "em 1882 dizia o protestante O e t t i n g e n : “ Continue a França a aplicar a sentença de
Bprt í a religião é em tôda parte um obstáculo à moralidade e verá em poucos anos
fíW I? Á escola emancipada da religião será capaz de educar uma geração de suicidas” . M o-
8 -V p , 768.
A & b lv id o da m ofa} cristã, ao enfraquecimento do ideal religioso* na educação, à desor-
fám iiik,. à perversão das ruas, ao alcoolismo, às más leituras, à pornografia e
t França êsses tristíssimos resultados.
TOycasi^.altçràÇÕes se pod em aplicar alguns dêstes reparos à Áustria que também
quadro acima. As .estatísticas mais circunstanciadas demonstram que
IGREJA, REFORMA E M ORAL - 443
Especifiquemos.:
JNÍos principais estados dá Còtifederáção gefmâniça. por milhão
de habitantes ;.J5°
Para 1 suicida
: católico :
Ano Cat. Pr.ot. judeus Protestantes
3 /4 . doa suicídios se registram na Baixa Áustria (V ien a), na Boêm ia e na Silésia, js to é, nas
reg iões d o nordeste onde foraip mais profundos os estragos d o protestantismo e iJo liberalismo.
E . M o & s E ix i.'i i suicídio, M ilano, 1879, p p . 206-220. 'C o m os r e su lta o o s’ d e M or-
se lii1 c o in c id e m su bstancialm en te os d e W a cn er , O e ít in g e n e L^ c o y t , p o r ê le citad os a
p. 211.
.150. O quadro é tirado de G . von M a y « , Moralstatistih, Tübingen, 1917, p p . 345-346'.
444 — A I G R E J A , A R E F O R M A E A C IV IL IZ A Ç Ã O
1 suicida
ca tóX co
Ano Cat. P rot. Judeus Protestantes
E i-lo : 151
Un c . '..................................... 0 Schaffhausen p . . . . . 9
Ôbwalden c . . . . 1 Tessin c ..................................... 14
Nidwaldea c . . . . . 1 Lucema c ................................... 14
Zug c ........................................... 1 Appenzeü Rhod. ext. p. . 14
Appenzell Rhod. iût. c . 1 Waadt p ............................... ...... 113
Schwyz c ............................... 2 Zurich p .............................................. ...... 114
Wallis c ............................... ...... 8
Protestantes .Católicos
A.. GrupOs de .distritos'industriais . •. ... . .• . 289 208
alemães . . . . . . .' 2S7 105
jTan&ses . . . .■ : . . . .. •. . . . V . . 378 309
B. Grupos de distritos profissionais mistos . . 26 ílf-
alemães . . . . . . . . . ... . . . 228 116
franceses....................... ' ........................... ...... . . 429 151
C. .Grupos de distritos agrícolas............................................ 260 81
alemães '.......................................................................... 209 74
ffanpêses.................................................................. . . . 414 88
«
« #
les temps, pour toutes les races, notre décadence est due surtout à
la propagation de grandes erreurs” . 1 Por mais de. dois séculos os
princípios envenenados do materialismo sem coração e do raciona-
lismo sem fé fermentaram nas massas populares, empalidecendo-
-lhes no espírito a luz do sobrenatural e afrouxando-lhe na consciên-
cia os vínculos do dever. Sob a ação dissolvente dêstes terríveis
corrosivos, lenta mas progressivamente operou-se nas nossas socie-
dades o tríplice divórcio fatal: divórcio da Igreja, divórcio de Cris-
to, divórcio de Deus.
Pela natural repercussão dos erros filosóficos no domínio das
relações internas da consciência com Deus, às causas econômicas e
intelectuais da moderna questão social cumpre acrescentar os fatô-
res de ordem moral e religiosa. A êstes sobretudo — à obliteração
dos grandes princípios religiosos e sociais do catolicismo nas cons-
ciências de governantes e governados, de capitalistas e proletários —
é que se deve principalmente a agravação da crise que de decênio
para decênio se foi acentuando até tomar as proporções de um ca-
taclismo iminente. Construídos sem o cimento da caridade cristã
os muros do edifício social ameaçam ruína. Na exaltação do indi-
vidualismo imoderado, no egoísmo crescente e insaciável está a raiz
do mal.
Primeiro responsável dêste estado de coisas é 0 protestantismo.
A Reforma foi o desencadeamento do individualismo na Europa.
Contra a organização social da Igreja, corpo místico de Cristo, Lu-
t e r o levanta o individualismo de sua personalidade isolada. Ao
magistério eclesiástico, autêntico e tradicional, opõe o livre exame
do eu. À autoridade hierárquica preposta por Cristo à guarda da
moral e dos costumes, substitui a autonomia do indivíduo no govêr-
no da vida. O egocentrismo é a chave que explica a gênese e a
evolução espiritual do monge saxônio. Contra a Igreja católica, or-
gânica, hierárquica, social, o protestantismo arrolou sob os seus es-
tandartes todos os egoísmos morais, todos os individualismos teoló-
gicos, todos os subjetivismos filosóficos.
O desenvolvimento posterior do pensamento acatólico, no cam-
po filosófico, político, social, moral e religioso inspirou-se nos princí-
6. "L a condition essentielle de notre ordination sociale est la mise en accord de nos
intelligences et de nos volontés, et que, à défaut d'unité spirituelle en nous et entre nous,
il n ’y a pour nous aucune échappatoire à l'anarchie, au desordre, à la g u e r r e ... Le problèm e
foncier de notre ord re social humain se résout d on c en définitive, en un p roblèm e (Funité
spirituelle” . J. V i a l a t o u x , L e tém oignage de la vie sociale, na R evu e des jeunes, 25 janv.
1922, p p . 129-130.
7. J . D b M a i s t r e , L ettre à M . de Stourdia.
8. Daí a esterilidade social do protestantismo. Seu "p rin cíp io essencial é um princípio
dissolvente ; daí o incessante variar, daí a dissolução e o aniquilam ento. C om o religião
particular já não existe ; não possui nenhum dogm a p róp rio, nenhum distintivo real»
nenhum g ov êm o, num a palavra, coisa nenhuma das que são necessárias para constituir un*
ser-; é uma verdadeira negação. Quanto nêle há que se possa dizer real não passa de ves-
tígios e de ruínas, e tudo sem fôrça, sem ação, sem espírito de vida. Não pode mostrar um
« d ifíd o qu e tenha elevado com suas mãos ; não se p od e deter nas obras imensas entre as-
CONCLUSÃO - 455
[que sobrepõe o desejo do bem com um à intratabilidade cega e surda do egoísmo] que é
o da Igreja católica, e nomeadamente quanto à questão social, o dos ensinamentos de Leão
X III não triunfar na terra será vão esperar a paz entre as classes, a paz entre as nações".
C. M acalh Ães de A zeredo, O Vaticano e o Brasil, R io, 1922, pp. 91*2. E aplicando pouco
depois ao Brasil : “ T en h o a convicção mais firm e de que êle [o ideal da nossa grande civi-
lização futura] se realizará proporcionalm ente à preponderância do espírito cristão nas insti-
tuições e nos costumes das novas sociedades am erican as... Cristianismo para n ó s . . . quer
dizer catolicismo” , p . 98.
462 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
A) Igreja latina.
[Petro] propria auctoritate regnum dabat [Christus], hujus fidem firmare non
poterat ? Quem cum petram dixit, firmamentum Ecclesiae indicavit", D e
fide, 1, 4. c. 5 ., n. 56 (M L, XVI, 628).
S. Je r ô n im o (331 ou 340-420) : “ Inter duodecim unus eligitur, ut capi-
te constitute, schismatis tolleretur occasio" In Jovin., lib. I, n. 26 (M L, XXIII,
247). — “ Christus Petri largitus est nomen, ac secundum metaphoram petrae
recte dicitur ei : aedificaho Ecclesiam meam super te . In evang. Math-, c. 16
(M L, XXVI, 117). — “ Quid Platoni et Petro ? Ut ille enim princeps philoso-
phorum ita hic apostolorum fuit, super quem Ecclesia. . . fundata". Adv.
Pelag. I. I, n. 14 (M L, XXIII, 5 06).
B) Igreja grega.
C) Igreja siriaca.
Nos livros litúrgicos dos sírios, no ofício dos SS. Apóstolos : “ Simon, caput
apostolorum, rector, pastor et gubemator Ecclesiae” . — Na mesma liturgia si-
Haça • “ Beatus es, Simon Barjona, çui os vivens affirmavit dicens : beatus es
quia, super te aedificabo et stabiliam firmiter Ecclesiam sanctam” . E. G. Khay-
yath , Syri orientales, 4.
466 - A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO
D) Igreja eslavo-russa.
Nos Ucros litárgicos dos russos lêem-se estas palavras: “ [Pétrus] fun-
damentam Ecclesiae, pastor dominicus omnium apostolorum, dux apoítolcmim“ .
Num hino de quinta-feira na oitava da festa dos apóstolos canta a Igreja russa:
"Oh t S. Pedro, príncipe dos apóstolos I primado apostólico 1 pedra indmovítoél
da fé, em recompensa da tua confissão, fundamento eterno da Ig reja ... claví-
gero dos céus, eleito entre os apóstolos para ser depois de Jesus Cristo o pri-
meiro fundamento da Sáhta Igreja, alegra-te; alegra-te, coluna inabalável da
fé ortodoxa, chefe do colégio apostólico 1” . *■
O 2.° Concilio de Lião (1274, 14.° ecumênico) declara que a Igreja roma-
na recebeu “ in beato Petro, apostolorum príncipe sive vertice, primatum cum
potestatis plenitudine” M a n s i , XXIV, 70 A . sg.
1. SAbre a Igreja ruwa e (reg a dissidente ver m uitos outros docum entas colis!do« p o r
J . »■ M a Ut u e , D u P a p e, 1. I, c . 20, Paris, 1819, p p . 8 2 -9 9 : G aga M n , ‘Etudes, c, I I ,
1857 ; ID ., La prim auté d e S. P ierre et les livres liturgiques d e rS g lise russe, 1865.
ÍNDICE ANALÍTICO
PÁGINA
LIVRO I
A IGREJA CATÓLICA
C ap. I. S. PEDRO, PRIMEIRO PAPA ................................................... 17-95
LIVRO II
A REFORMA PROTESTANTE
C ap. I. ORIGEM E PROGRESSO DA REFORMA ..................... ... 175-208
LIVRO III
A B lochingbr, 185.
B loomfield, 33.
B6 lgeni, 65.
A fraates (S.), 65. BonifXcio I, 107,
A gatXo, 162. B onomelli, 172.
A gostinho (S.), 65, 82, 109, 110, B obsuet, 150, 182, 183, 199, 235,
141, 161, 162, 221, 270. 264, 331, 400.
A lfobd, 33. B ougaud, 232, 263, 298, 335, 337
A llain, 362. Bouix , 172.
A llen (N.), 416. B ouhget (P.), 298.
A lthamer, 402. Brennan, 351.
A lzog, 207, 378. B rudeks, 86.
A mbróbio (S.), 35. BRUNETliiRE (F.), 453.
A natólio, 120. B b u c k , 186.
A ndbade B ezebba, 460. B ucero, 194.
Andkí (J.X 394, 402, 403. B ullingeb, 199.
Abbiteh (Petbus), 395. B urkardt, 186.
A r x o l d i , 201. B utleb (C.), 164.
A tanI bio (S.), 106, 116.
A udin, 45, 194, 195, 199, 246.
c
B C a i o , 69, 82.
Calmet, 36, 37.
Bachmann, 201. Calvino, 113, 151, 180, 188, 189,
B ainvhl, 172, 194, 199, 201, 378, 387, 397.
B almes, 251, 336, 337, 351, 371, Camerabio, 358, 364, 365.
380, 405, 454, 455. Campana, 164.
B ancroft, 303, 325. Cantú, 304, 306.
B arthold, 310. Capecelatro, 324.
BAsiuo (S.), 2 2 1 . Caprara, 94.
B asnaqe, 85. Cablos II, 196.
B attetol, 8 6 , 172. Carmen adv. Marcionem, 6 8 .
B audrtllaht, 337, 405. Cathhein, 260.
B aunard, 297. Cecooni, 164.
B aub (F. C.), 81. Celestino (S.), 108.
B eaudoin, 194. Centuriadorea de Magdeburgo, 159,
B eaumont, 304, 305. Chateaubriand, 336, 351, 369.
B elahmino, 42. Chatam, 321.
B elziub, 394. Chattebton-H ill, 236, 457, 459, 460,
B ebnadakis, 113. Chavaux, 256.
B ersot, 286. Chemnitz, 201. 378, 405.
B krtxllon, 418. Cheyne (T. K.), 79.
B erulle, 314. Chytraeus, 368.
B eyschlag, 257. Cipriano (S.), 67, 73, 109, 139, 161.
B ichler, 195. Cibilo A lex . (S.), 65, 221.
B iedermann, 260. Clarendon, 205.
B ibpinq, 53. Clauber, 362.
472 ÍNDICE ONOMÁSTICO
C lemente A lex., 67, 69, 73, 81, 85. E gan (F.), 351.
C lemente R omano (S.), 75, 85, 104. E hrenberg, 313.
C o b b e t t , 45, 319, 361. E llis (H.), 327.
C ochin (A.), 330,331. E pifAnio (S.), 221.
C oit (Th.), 325. E rasmo, 177, 200, 356, 397.
Colliee, 360. E rtl, 429, 430.
C ordi, 359. Estrabão, 77
CoUSTANT, 107. E usébio de C e s a r é i a , 65, 67,
C r is ó st o m o (S.), 60, 64, 65, 221. 71, 72, 73, 83, 85, 217.
C r is t i a n i , 195. E wald, 81,
C ulmann, 365. E wer, 262.
C z e c a n o v i t js , 400, 401.
F
D
Faber, 194.
D ’A quesseau, 44. Facundo de H ermas, 58.
D ’A iis , 8 6 . F aucher (L.), 329, 332, 413.
D anin-B orkowski (von), 86. F ehling, 425.
D ante, 256. F essler, 164, 166.
D arboy, 167. Figueiredo (A. de), 460.
D ahemberg, 103. F ilipe (S.), 110.
D e Beaurepaire, 362. F illion, 254, 264.
D e B rogue , 377. F ilo, 79.
D e la B kiêre, 276, 302, 337. F itz (W.), 192.
D e Lagarde (G.), 337. F lamerion, 296, 337.
Da M aistbe, 100, 105, 109, 114, 144, F lash (Seb .), 193.
172, 178, 196, 198, 202, 251, 418, F lXvio (J.), 38, 79.
454. F ollet&te, 337.
D e M artin, 242. F ontenelle, 286.
D enifle, 195, 198, 199, 200, 203, F örster, 205.
ß. 347, 353, 354, 405. F ottabd, 81.
D e R ossi (J, B.), 48, 8 6 . F rank, 404.
D e Smedt, 82, 94. Fbederico II, 197.
D e Stael, 261. F reibbrg, 196.
D e V ogtte (E.), 459. Fbeppel, 350.
D evas, 320, 337, 453, 459. F roude (J. A.), 434.
D ’Herbigny, 93, 120, 172. F üller, 78.
D ieckmann, 172. F unk, 74.
D ietembebq, 201.
D ietrich, 404.,
D iodoro SfcuLO, 38, 77. G
D ionîsio de C obinto (S.), 70, 71,
72, 85.
Gauffe , 189, 190, 191, 206, 362
D ixon, 398.
D oellincieb, 149, 159, 182, 197, 310, G arofalo, 414.
324, 325, 336, 353, 354, 365, 367, Garbett, 294.
Gabbucci, 47.
371, 402, 405.
D hoysen (J. G.), 314. G abparin, 262.
D uchesne, 109, 172. GelXsio de Cizico, 116.
D udith, 368. Germanus, 195.
D umont, 302. Gibbins, 318, 321.
G i b b o n (E.), 139, 243, 244, 343
D upanlottp, 167.
G i e s e l e r , 93.
.Du P in, 36, 37.
D uplessy, 381. G labeano, 365, 366.
G oebel, 53.
G oehres, 428.
E G oergeb, 365.
G oury du R oslan, 291.
G oyau (G.), 264, 383.
E beblin de G ünzbukq, 394. G raham, 337, 429.
E colampXdio, 194, 362. G randerath, 164.
Efkém (S.), 65. G babsl, 446.
ÍNDICE ONOMÁSTICO 473
L anciani, 86.
I L ânsio, 358.
L aurent, 314.
I abger (P.), 253. L aveille, 411.
I cKEL&AMER, 392. X aveleye, 269.
I nX'cio de A ntioquia (S.), 74, 84. L eãò M agno (S.), 31, 80, 101, 162.
I mbart dé la T oub, 195. L eão X III, 282.
I nocêncio I, 107, 162. L eibnitz, 85, 101.
I rinetj (S.), 69, 73, 81, 82, 83, 85, L emoine, 276.
104, 109, 138, 161, 218. L émozin, 326, 337.
L eo (H.), 315.
J L e P lay, 298, 450, 451.
L eroy-B eauueu (A.), 334, 417, 453,
459
J acobi, 227. L bbkeb, 304, 305, 434, 435.
J acqtjabt, 413. Lessing, 225.
474 ÍNDICE ONOMÁSTICO
W ernle, 253.
V W iesinger, 81.
W ilmers, 172.
Vermeersch, 302. W iner, 366.
Veuillot (L.), 296. W iseman, 35, 36, 224.
Vialatoux, 454. W izel, 400, 404.
V icente de L erins (S.), 221. W olf (J.), 425.
Villebs (Ch.), 370. W örther, 364.
Vinjbt (A.), 136. W right, 44C.
W Y