Aquelas características que nós atribuímos ao renascimento de forma geral, e ao
humanismo em Portugal ou erasmismo, tem muito a ver com uma tentativa de uma reforma da igreja – uma espiritualidade mais íntima. Os abusos do clero e da igreja é uma explicação insuficiente. Lutero revoltou-se porque os bispos não estavam nas dioceses, em Roma só tinham luxos, aqueles que tinham obrigação de estar na paroquia e ensinar a doutrina não estavam presentes e entregavam esse serviço a outros. A impressão que a igreja dava era de caos, leva ao extremo com o “cisma do ocidente”. A igreja não estava preparada para o que Lutero vai criticar, embora já tivesse havido outro tipo de revoltas, mas quando este aparece o movimento tinha já outra força, sobretudo por causa da imprensa (difusão das ideias). No final da Idade Média, se por um lado a igreja não cumpria com as suas obrigações de cristianizar, por outro lado as populações precisavam cada vez mais de uma resposta religiosas às suas preocupações e ansiedades. Difundem-se os livros das “Artes de bem morrer”, imagens da morte, estando presente no dia-a-dia. A ideia de que o mal está presente e encarna nas bruxas, e por outro lado, toda uma devoção popular às associações de caridade mútua (confrarias). As cidades estavam a crescer e proporcionavam relações interpessoais. As críticas à igreja de Erasmo, não pretendiam um corte com a igreja, mas exaltava o individualismo. A resposta de Erasmo é que a resposta vem de nós mesmos (livre-arbítrio), não sendo uma proposta que atinja as populações, contudo Lutero apresenta a “justificação pela fé”. Como Calvino diz, as pessoas não nascem para ser salvas ou predestinadas. Lutero era profundamente religioso, e senti que era capaz de iludir a sua vontade com a vontade de deus, a salvação interna depois da morte estava sempre em causa. A igreja católica também deu uma resposta, que deus perdoava, o padre também e que juntando a prática das boas obras juntando com a graça dos sacramentos, as pessoas poderiam ser salvas. Com o índice, existe uma proibição dos livros que falam acerca da reforma e outros aspetos contra a igreja, a Inquisição estará muito dentro disto. Apesar de existe uma reforma com diversos movimentos, a igreja acaba por formar uma contrarreforma e reforma-se dentro de si mesma. Por um lado, as populações em geral, tinham uma má vontade contra a falta de gerência em Roma, acerca das indulgências, entre outras coisas. De uma forma geral, as monarquias estão a tentar sobrepor o seu próprio poder às interferências da igreja. Os bens da igreja são vendidos ou vão para os privados, daí advêm alguns interesses económicos. Nestes interesses políticos e económicos que entram em conflito, dão aso a estes movimentos de reforma religiosa, ganharem força e terem mais sucesso. O ideal de tolerância religiosa termina. Erasmo era visto como um ateu, tanto que os seus livros, constariam todos no índice. Na Alemanha, o sacro-império dividiu-se entre luteranos e católicos. A Dinamarca, Noruega e Suécia tornaram-se luteranos. Em França, houve guerras entre luteranistas e calvinistas. Calvino, foge para Genebra e aí organiza a igreja calvinista, difundem o Calvinismo pela França e pelos Países Baixos. Começam as guerras religiosas bastante duras. Os calvinistas franceses fogem para a Alemanha durante as guerras religiosas. De um lado, a impossibilidade da igreja de dar resposta a uma evolução cultural e religiosa (ex.: importância dos leigos), por outro lado, há uma devoção pessoal cada vez mais intensa e uma devoção popular, e o medo/pânico da morte. A acentuação da igreja católica na religiosidade e a figura de Jesus que vai ser importante nas religiões católicas, tal como a missionação por outros continentes, a criação de colégios e seminários vai ser fulcral na difusão do humanismo (ex.: ensino do latim). O ensino é fundamental para todos os movimentos, as taxas de alfabetização começam a subir na Europa (de modo consistente), e isso tem a ver com os catecismos e com a doutrina religiosa. No final do século XVII e início do século XVIII, como os protestantes eram obrigados a ler a bíblia, quem era protestante e não soubesse era muito mau visto (por isso, é um fator para o aumento da taxa de alfabetização). Os pequenos livros por onde se aprendia a ler a escrever, tinha uns rudimentos de aritmética, e algumas figuras que apontam para a religiosidade. Na França, nota-se que a influência protestante é mais alta no norte, e mais baixa no sul.
Bibliografia: Jean Delemeau, A Civilização do Renascimento, vol.1, pp. 121-147
Alfredo Floristan, História Moderna Universal, pp. 83-105